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Errar é proibido

por Sila Monteiro

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Imagem: Fabio Tadeu


“Faço o possível e o impossível para ser a melhor”,
admite a professora Rita de Cássia, 24 anos. “Na
faculdade, estudava como uma louca e, assim,
conseguia me destacar como uma aluna modelo.”
No entanto, quando Rita se inscreveu num curso de
especialização particularmente difícil, seu mundo à
prova de falhas desmoronou. “Como não consegui
notas exemplares na primeira prova, fiquei em
pânico com a possibilidade de errar novamente”,
conta. “De tão apavorada não cheguei a fazer a
prova final.” Mas que medo de errar é esse que fez
com que Rita agisse assim? Ela é uma
perfeccionista.

Está certo que a maioria de nós está sempre em busca dos melhores resultados, seja tocando
um projeto importante de trabalho, seja organizando uma festa de aniversário. Mas isso é
bem diferente de ter um controle interno que exige de si mesma o máximo, sempre, em
qualquer circunstância. Levar o desejo de acertar a ferro e fogo poderá fazer o seu projeto -
e você – implodir! “Por trás disso, se esconde a não-aceitação da condição humana: nós
somos seres imperfeitos. O perfeccionismo não existe e, em algum momento, a pessoa vai
falhar”, explica Jezebel Queiroz, psicóloga e analista da Better Recursos Humanos. “A
única forma de acabar com o perfeccionismo é procurar um terapeuta ou fazer um estudo
direcionado à filosofia de vida”, aconselha.

A psicóloga Mônica Ramirez Basco, autora do livro Nunca Satisfeito, afirma que embora o
perfeccionismo atinja ambos os sexos, as mulheres são mais propensas a sofrer os efeitos
colaterais, como depressão e desordens alimentares. Mas nem sempre dá para perceber que
o perfeccionismo está por trás dessas doenças. “Funciona assim: o perfeccionista estabelece
padrões excessivamente altos, verdadeiras missões. Culpa-se quando não consegue alcançá-
las e acaba perdendo a auto-estima”, explica ela.

Como saber se você faz parte desse time? Pergunte a si mesma: “Perco prazos porque gasto
muito tempo fazendo ajustes em projetos?”; “Sou capaz de me lembrar de todos os meus
erros do passado, mas bem pouco dos meus sucessos?”; “Sinto uma necessidade enorme de
monitorar tudo o que digo e detalhes do meu visual?”. A secretária Karina Rodrigues, 32
anos, admite que é supercrítica com a sua aparência. “Não ponho o pé fora de casa
enquanto não estiver impecável”, conta. “Provo várias roupas e fico me olhando no
espelho. Para que eu não me atrase, uma amiga que mora comigo precisa dizer: ‘você está
ótima!’ Mas não adianta, nunca considero o meu visual suficientemente bom”, confessa.

É claro que é bom ter olho clínico e conferir o visual, mas fazer exigências e apostas
demais pode atrapalhar sua carreira e sua vida. “Como temem ficar abaixo da média, as
maníacas por perfeição freqüentemente evitam correr riscos e empacam diante do novo”,
explica Mônica. A ânsia de estar no topo provoca a ruína.

Assim como o perfeccionista pode ficar paralisado com a possibilidade de cometer erros,
ele também é capaz de atrasar um trabalho porque precisa checar e rever tudo várias vezes.
A designer Cristina Lopes, 31 anos, é assim. “Prolongo demais a finalização de cada
projeto de trabalho. Sempre tenho que conferir cada item pela última vez. Meu chefe disse
que, tecnicamente, sou a ‘top’ da equipe, mas não acredito. Acho sempre que ainda posso
melhorar”, comenta. Segundo o psiquiatra Cyro Masci, quando este hábito se torna
progressivo, é sinal de que o indivíduo pode estar com um transtorno obsessivo
compulsivo. “Ele tem a compulsão de listar números e repetir ações, como contar e rever
um documento várias vezes. Neste caso, ele precisa de um tratamento”, alerta ele.

O que fazer para superar o medo de fracassar?

O primeiro passo é questionar se suas expectativas são ou não irreais e se o que você deseja
é alguma missão impossível. Quem disse que você não pode errar no trabalho? Gente que
se cobra demais costuma ficar surpresa quando descobre que outras pessoas não
compartilham os mesmos altos padrões. Isso aconteceu com Ana Flávia, 27 anos, que
cometeu um grave engano na sua primeira semana empregada numa empresa de telefonia.
“Fui à sala do meu chefe implorar para não ser demitida e me espantei quando ele disse:
‘OK, acho normal que funcionários novos errem’. Agora entendo que nem sempre se espera
uma performance perfeita e isso tem em ajudado muito”.

Outra sugestão é impor limites. Se você não está feliz com os resultados de um projeto,
limite-se a três tentativas para melhorá-lo. Certamente a centésima tentativa não será mais
satisfatória e não valerá a pena gastar tanto tempo com ela.

Se a síndrome do isso-nunca-está-bom-o-suficiente domina a sua vida e atrapalha o seu


sucesso profissional, é hora de tentar manter a autocrítica sob controle e se preocupar
menos com o que os outros pensam. Tenha a certeza de que os outros não estão tão
preocupados em ficar tomando nota dos seus erros quanto você.

Agradecimentos:

Dra. Jezebel Queiroz


Psicóloga e Analista da Better Recursos Humanos

Dr. Cyro Masci


www.masci.com.br

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