You are on page 1of 18

3.

CÁLCULO INTEGRAL EM IR

A importância do cálculo integral em IR reside nas suas inúmeras


aplicações em vários domínios da engenharia, mas também em
física, em teoria das probabilidades, em economia, em gestão…

3.1. Partição de um intervalo. Soma de Riemann


Para motivar o conceito de integral, vamos recorrer à noção
intuitiva de área.

Consideremos uma função contínua f : [a, b] → IR que toma


valores positivos. O nosso objectivo é de determinar a área A f da

região R, limitada pelo gráfico de f, pelo eixo dos xx e pelas rectas


x = a e x = b.

Decompomos o intervalo [a, b] em n subintervalos [a, x1 ],


[x1 , x2 ], ..., [xn −1 , b] , com a = x0 < x1 < x2 < ... < xn −1 < xn = b ,
não necessariamente de mesmo comprimento, e consideramos em
cada intervalo [xi −1 , xi ], com i=1,...,n um ponto qualquer ωi .

1
Então um valor aproximado da área A f é
n
A f ≈ ∑ f (ωi )( xi − xi −1 ),
i =1

em que cada uma das parcelas representa a área de um rectângulo


de base xi − xi −1 e de altura f (ωi ) .

Definição 1.1: Chama-se partição P do intervalo [a, b] a


qualquer decomposição de [a, b] em subintervalos da forma
[x0 , x1 ], [x1 , x2 ],..., [xn −1 , xn ] , onde n ∈ IN e os números xi são
tais que a = x0 < x1 < x2 < ... < xn −1 < xn = b .

Definição 1.2: O comprimento do maior subintervalo da partição


P, designa-se por amplitude de P e representa-se por P , ou seja,

P = máx {xi − xi −1} = máx ∆xi .


i =1,",n i =1,",n

Nota: Se os n subintervalos da partição P têm o mesmo


b−a
comprimento, a amplitude de P é igual à .
n

2
Definição 1.3: Sejam f uma função contínua num intervalo
fechado [a, b] e P uma partição de [a, b] . Chama-se soma de
Riemann de f, associada à partição P, a qualquer expressão S p da
n
forma S p = ∑ f (ωi )(xi − xi −1 ) , onde ωi ∈ [xi −1 , xi ] , i = 1,", n .
i =1

Nota: Para uma dada partição, existe uma infinidade de somas de


Riemann.

É intuitivo, que se tivermos um maior número de subintervalos


[xi −1 , xi ] pertencentes a uma partição de [a, b] , menores serão as
amplitudes desses intervalos e menor será o erro cometido ao
aproximarmos a área A f pela soma das áreas dos rectângulos

considerados.

Portanto, dada uma função f contínua, positiva e limitada no


intervalo [a, b] , podemos considerar uma sucessão de partições
(Pn )n∈IN tais que a sucessão das respectivas amplitudes tenha
limite zero. Assim, a correspondente sucessão de somas de
Riemann (S P,n )n∈IN fornece valores tão próximos quanto

queiramos do valor da área da região R. Ou seja,

n
A f = lim S P , n = lim
P →0
∑ f (ωi )(xi − xi −1 ).
P → 0 i =1

3
3.2. Definição do integral de Riemann
Definição 2.1: Se existir o limite das somas S p quando a

amplitude dos subintervalos [xi −1 , xi ], i = 1,", n do intervalo


[a, b] tende para zero, e esse limite for finito, então diz-se,
segundo Riemann, que a função f é integrável no intervalo [a, b] .

Este limite chama-se integral definido ou integral de Riemann


b
de f em [a, b] e denota-se por ∫ f (x )dx , ou seja,
a

b n
∫ f (x )dx = Plim
→0
∑ f (ωi )(xi − xi −1 ) .
a i =1

Nota: O valor numérico do integral não se altera se mudarmos a


letra que representa a variável de integração por qualquer outra
variável, ou seja,
b b b

∫ f (x )dx = ∫ f ( y )dy = ∫ f (t )dt ,


a a a

por isso, a variável de integração é dita “muda”.

Esta definição de integral tem um valor prático muito limitado.


Por isso, se nada for dito em contrário, vamos considerar que os
subintervalos têm a mesma amplitude e escolher como ponto ωi ,
xi −1 ou xi . Depois, exprimimos as somas de Riemann S p em

termos do número natural n.

4
Assim, para calcular o integral definido basta determinar o limite
quando n tende para infinito de S p .

Ou seja,
b n
∫ f (x ) dx = nlim
→ +∞
∑ f (ωi )(xi − xi −1 )
a i =1

1
Exemplo 2.2: Calcule ∫ x dx .
0

Sugestão: 1. dividir [0,1] em n subintervalos [xi −1 , xi ] de igual


amplitude.
2. considerar ωi = xi −1 , para todo o i = 1,", n .

Recordar: Se a sucessão (u n ) é uma progressão aritmética, então


(u1 + un )n
u1 + u 2 + u3 + " + u n = .
2

Assim 0 + 1 + 2 + " + (n − 1) =
(n − 1)n .
2

Teorema 2.3: Consequências imediatas


b b
1. ∫ dx = ∫1dx = b − a .
a a

b
2. Seja k ∈ IR . ∫ k dx = k (b − a ) .
a

5
3. Seja f uma função integrável no intervalo [a, b] . Então f
a b
também é integrável em [b, a ] e ∫ f (x )dx = − ∫ f (x )dx .
b a

a
4. Seja f uma função definida no ponto a. Então, ∫ f (x )dx = 0 .
a

3.3. Propriedades do integral definido e critérios de


integrabilidade
3.3.1. Propriedades do integral definido
Teorema 3.1: Sejam f e g duas funções integráveis no intervalo
[a, b] e c um ponto de [a, b] . Então:
1. Linearidade: a função α f ± β g também é integrável e
b b b

∫ [α f (x ) ± β g (x )] dx = α ∫ f (x ) dx ± β ∫ g (x ) dx , α , β ∈ IR .
a a a

2. f também é integrável em qualquer subintervalo de [a, b] .

b c b
3. Regra de Chasles: ∫ f (x )dx = ∫ f (x )dx + ∫ f (x )dx .
a a c

b
4. Se f ( x ) ≥ 0 , ∀x ∈ [a, b], então ∫ f (x ) dx ≥ 0 .
a

b b
5. Se f ( x ) ≤ g ( x ), ∀x ∈ [a, b], então ∫ f (x ) dx ≤ ∫ g (x ) dx.
a a

6
6. Se m ≤ f ( x ) ≤ M , ∀x ∈ [a, b], então
b
m(b − a ) ≤ ∫ f ( x ) dx ≤ M (b − a ) .
a

b b
7. f também é integrável em [a, b] e ∫ f (x ) dx ≤ ∫ f (x ) dx .
a a

a a
8. Se f é uma função par, então ∫ f (x ) dx = 2∫ f (x ) dx .
−a 0

a
9. Se f é uma função ímpar, então ∫ f (x ) dx = 0 .
−a

Nota: A propriedade 5 é uma consequência imediata da


propriedade 4.

3.3.2. Critérios de integrabilidade


Esta secção tem como objectivo indicar algumas condições que
permitam decidir se uma função é ou não integrável.

Teorema 3.2: Se f é uma função contínua em [a, b] então f é


integrável em [a, b] .

7
Teorema 3.3: Se f é limitada em [a, b] e é descontínua apenas
num número finito de pontos de [a, b] , então f é integrável em
[a, b] .

Teorema 3.4: Se f é monótona em [a, b] , então f é integrável em


[a, b] .

Teorema 3.5: Se f : [a, b] → IR é integrável em [a, b] então f é


limitada em [a, b] .

Corolário 3.6 (contra-recíproco): Se f não é limitada em [a, b]


então f não é integrável em [a, b] .

Teorema 3.7: Se f é integrável em [a, b] e g apenas difere de f


num número finito de pontos de [a, b] , então g é integrável em
b b
[a, b] e ∫ g (x )dx = ∫ f (x )dx .
a a

⎧e x −1
⎪ se x ≠ 0 é contínua em
Exemplo 3.8: A função f ( x ) = ⎨ x
⎪⎩ 1 se x = 0
IR, logo f é integrável em qualquer intervalo [a, b] ⊂ IR .

8
3.4. Teorema Fundamental do Cálculo Integral
Teorema 4.1: Fórmula Fundamental do Cálculo Integral ou
fórmula de Barrow
Sejam f uma função contínua em [a, b] e F uma primitiva de f.
b

∫ f (x ) dx = [F ( x )]a = F (b ) − F (a ).
b
Então,
a

∫ (6 x )
1
Exemplo 4.2: Calcule 2
− 5 dx .
0

1
Exemplo 4.3: Calcule ∫ x dx .
−2

ln 2

∫e e x − 1 dx .
x
Exemplo 4.4: Calcule
0

Teorema 4.5: Fórmula de integração por partes


Sejam f e g duas funções contínuas em [a, b] e F uma primitiva de
f em [a, b] , então
b b

∫ f (x )g (x )dx = [F (x )g (x )] − ∫ F ( x )g ′( x ) dx .
b
a
a a

1
Exemplo 4.6: Calcule ∫ xe − x dx .
0

9
Teorema 4.7: Fórmula de diferenciação de integrais com
limites de integração variáveis ou Regra de Leibniz
Seja f uma função contínua e, u ( x ) e v( x ) duas funções
diferenciáveis num dado intervalo I. Então,

⎛ v( x ) ⎞
⎜ f (t ) dt ⎟ = f (v( x )).v′( x ) − f (u ( x )).u ′( x ) .
⎜ ∫ ⎟
⎝ u(x) ⎠

x2
1
Exemplo 4.8: Sendo F ( x ) = ∫ 2 t − 4 dt , determine F ′(x ).
−x

2
⎛ x t +1 ⎞
2

⎜ e dt ⎟
⎜∫ ⎟
Exemplo 4.9: Prove que lim ⎝ 1 ⎠ = 0.
x →1 x2 −1
⎞ 2⎛
x
x ⎜ ∫ e −t dt ⎟⎟ ⎜
Exemplo 4.10: Mostre que lim ⎝ 0 3 ⎠ = 1.
x →0 ex −1

3.5. Mudança de variável no integral definido


Teorema 5.1: Teorema da mudança de variável
Seja f uma função integrável no intervalo I ⊆ IR e a, b ∈ I . Seja
ainda, g : [c, d ] → I uma função com derivada contínua tal que
g (t ) = x com g (c ) = a e g (d ) = b , então
b d

∫ f (x ) dx = ∫ f (g (t )) ⋅ g ′(t ) dt .
a c

10
ln ( 3) ex
Exemplo 5.2: Calcule ∫ 1 + e2 x
dx , usando a mudança de
0

variável t = e x .

3.6. Aplicações geométricas do integral ao cálculo de


áreas de regiões planas
Definição 6.1: Seja f uma função contínua e não negativa no
intervalo [a, b] . A área da região R definida por

{
R = ( x, y ) ∈ IR 2 : a ≤ x ≤ b ∧ 0 ≤ y ≤ f ( x ) é dada por }
b
A(R ) = ∫ f ( x ) dx .
a

Definição 6.2: Sejam f e g duas funções contínuas no intervalo


[a, b] tais que g ( x ) ≤ f ( x ), ∀x ∈ [a, b], e seja R a região definida

{ }
por R = ( x, y ) ∈ IR 2 : a ≤ x ≤ b ∧ g ( x ) ≤ y ≤ f ( x ) . A área da
região R é dada por
b
A(R ) = ∫ [ f ( x ) − g ( x )]dx .
a

11
Exemplo 6.3: Determine a área da região limitada pelos gráficos
de y + x 2 = 6 e y + 2 x − 3 = 0 .

Por vezes, o cálculo de áreas de regiões planas torna-se mais


simples se efectuarmos a integração em relação à variável y, ou
seja, considerando que y é a variável independente e que x é uma
função de y.

12
Definição 6.4: Sejam x = f ( y ) e x = g ( y ) duas funções
contínuas tais que f ( y ) ≥ g ( y ), ∀y ∈ [c, d ]. A área da região R
limitada pelos gráficos de f, g e pelas rectas y = c e y = d é dada
por
d
A(R ) = ∫ [ f ( y ) − g ( y )]dy .
c

Exemplo 6.5: Calcule a área da região limitada pelos gráficos das


curvas definidas pelas equações 2 y 2 = x + 4 e x = y 2 .

13
3.7. Integrais impróprios

Nesta secção, vamos proceder ao alargamento do conceito de


integral. Além dos integrais definidos, vamos considerar os
integrais em que o intervalo de integração é ilimitado ou/e a
função integranda não é limitada.

Estes novos integrais são designados por integrais impróprios.

Se a função integranda é positiva, o integral impróprio, de f


poderá corresponder à área de uma região plana ilimitada.

3.7.1. Integrais impróprios de 1ª espécie


Os integrais impróprios de 1ª espécie são aqueles em que o
intervalo de integração é ilimitado, isto é, são da forma:
+∞ b +∞

∫ f (x ) dx ; ∫ f (x ) dx ; ∫ f (x )dx .
a −∞ −∞

+∞ +∞

∫x ∫ (x + 3)
2 2
Por exemplo os integrais dx e dx são impróprios
1 −∞

de 1ª espécie.

14
3.7.1.1. Integral de uma função contínua em [a,+∞[ ,
a ∈ IR (respectivamente em ]− ∞, b], b ∈ IR ).
Definição 7.1: Se f é uma função contínua em [a,+∞[ , (resp. em
]− ∞, b] ), então
+∞ t b b

∫ f (x ) dx = t lim
→+∞
∫ f (x )dx , (resp. ∫ f (x )dx = t →lim−∞ ∫ f (x )dx ),
a a −∞ t

desde que o limite exista.

Definição 7.2: Se, na definição 1.1, o limite existir e for finito,


diz-se que o integral é convergente. Se o limite não existir ou for
infinito, diz-se que o integral é divergente.

Exemplo 7.3: Analise a convergência dos seguintes integrais:


+∞ 0

∫ sen x dx ; (2) ∫ xe − x dx .
2
(1)
0 −∞

3.7.1.1. Integral de uma função contínua em ] − ∞,+∞[ .


+∞
Para analisar a natureza do integral impróprio ∫ f (x ) dx , onde f é
−∞

uma função contínua em IR, escreve-se


+∞ c +∞

∫ f (x )dx = ∫ f (x )dx + ∫ f (x )dx , com c ∈ IR ,


−∞ −∞ c

c +∞
e estuda-se os integrais impróprios ∫ f (x )dx e ∫ f (x )dx .
−∞ c

15
O teorema seguinte permite tirar conclusões acerca da natureza do
+∞

∫ f (x )dx .
−∞

Teorema 7.4:
(i) A soma de dois integrais convergentes é convergente.
(ii) A soma de um integral convergente e de um integral
divergente é divergente.

+∞
−a x
Exemplo 7.5: Determine a natureza ∫e dx , com a>0.
−∞

3.7.2. Integrais impróprios de 2ª espécie


Os integrais impróprios de 2ª espécie são aqueles em que a
função integranda é ilimitada.

3.7.2.1. Integral de uma função contínua em [a, b[ ,


(respectivamente em ]a, b] ), a, b ∈ IR
Definição 7.6:
(i) Se f é contínua em [a, b[ e lim− f ( x ) = ±∞ , então
x →b

b t

∫ f (x )dx = tlim

→b
∫ f (x )dx , desde que o limite exista.
a a

16
(ii) Se f é contínua em ]a, b] e lim+ f ( x ) = ±∞ , então
x →a

b b

∫ f (x )dx = tlim
→a
∫ f (x )dx , desde que o limite exista.
+
a t

Se os limites anteriores existirem e forem finitos, diz-se que o


b
integral impróprio de 2ª espécie ∫ f (x )dx é convergente, caso
a

contrário diz-se que o integral é divergente.

Exemplo 7.7: Analise a convergência dos seguintes integrais:


1 2
dx 3x
(1) ∫ 1− x
; (2) ∫ x 2 − 4 dx .
0 0

3.7.2.2. Integral de uma função contínua em ]a, b[ , (resp.


[a, b] \ {c}), a, b, c ∈ IR .
Definição 7.8:
(i) Se f é contínua em ]a, b[ e, lim f ( x ) = ±∞ e
x →a +

lim f ( x ) = ±∞ , então
x →b −

b c b c t

∫ f (x )dx = ∫ f (x )dx + ∫ f (x )dx = tlim


→a
∫ f (x )dx + tlim
+
→b
∫ f (x )dx , −
a a c t c
desde que os limites existam.

(ii) Se f é contínua em [a, b] \ {c} e lim± f ( x ) = ±∞ , então


x →c

17
b c b

∫ f (x )dx = ∫ f (x )dx + ∫ f (x )dx


a a c

t b
= lim ∫ f ( x )dx + lim ∫ f ( x )dx ,
− +
t →c t →c
a t

desde que os limites existam.

b
Se os limites anteriores existirem e forem finitos, diz-se ∫ f (x )dx
a

é convergente, caso contrário diz-se que o integral é divergente.

2
1
Exemplo 7.9: Analise a convergência do integral ∫ dx .
−2
x

Definição 7.10: Ao integral impróprio que pode ser decomposto


numa soma finita de integrais impróprios de 1ª e 2ª espécie,
chama-se integral impróprio misto ou integrais de 3ª espécie.

O integral misto será convergente se e só se, nesta decomposição


todos os integrais são convergentes e será divergente se pelo
menos um integral é divergente.

+∞
1
Por exemplo o integral ∫ x2
dx é impróprio misto.
−1

18

You might also like