sobreviver à adversidade.

A escassa relaçom da nossa comarca

com o fenómeno guerrilheiro deu-se precisamente nestes anos Benigno Andrade Garcia
de vinculaçom de Foucelhas com a V Agrupaçom, numha zona,
recordemos, com escassos apoios organizados e om piores “Foucelhas”
condiçons geográficas. Em Maio de 1948 umha partida de
guerrilheiros uniformados -entre eles Foucelhas- dá um golpe (Cabrui, 1908-1952)
económico numha taberna no lugar da Silva, em Lampai (Teo) ;
nesse mesmo mês, convencida a gaurda civil de ue a partida
guerrilheira se está a mover no triángulo Compostela-Padrom-
Ponte Vea, organiza umha cilada com as companhias de
Membro da IV Agrupaçom e
Compostela e Ordes na aldeia de Loureiro, Luou (Teo). No chefe do destacamento
prolongado tiroteio caem quatro guerrilheiros e um guarda civil,
fugindo supreendentemente do cerco José Ramunhám Barreiro “Manolito Velho” da V
"Ricardito" e o próprio Benigno Andrade. O mito do fugido -que
segundo a lenda popular fugiu do lugar a olhos dos labregos
Agrupaçom do
berrando "que vem Foucelhas!"- chega ao seu zênite. Exército Guerrilheiro de Galiza
É esta a data do total desmantelamento da V Agrupaçom
e a pequena etapa em que Foucelhas tem algumha ligaçom com
as terras compostelanos. Em 1946 a polícia política desarticula a
estrutura do PCE na cidade e descobre-se a implicaçom de
Maria Peres, mulher de Benigno, nos importantes labores de
apoio, o que provoca o seu exílio e morte em Valhadolid.
Possivelmente seja em finais dos anos 40 -em 1948 som as
acçons no concelho de Teo- quando Foucelhas faga uso da cova
nas margens do rio Tambre, na paróquia compostelana de Sam
Joám de Fecha.
Os últimos anos de Benigno Andrade som de
sobrevivência à margem de qualquer estrutura e retorno -nom
por acaso- à sua comarca natal, onde poderia valer-se do seu
conhecimento do terreno e de velhos enlaces com que existiria
umha funda confiança. Mas o Regime nom perdoava ninguém
dos que o desafiaram, e menos umha lenda viva que
materializara no seu nome o conjunto da resistência armada a
Franco até a década de 50. Em Março de 1952 é abatido e
capturado vivo por umha contrapartida ao sair do seu refúgio de
Costa, Rodeiro (Oça dos Rios), sendo assassinado ao momento o
seu companheiro Manuel Vilar Arnoso "Manolito". Um guarda
morre também no tiroteio e Foucelhas é deslocado à Corunha. O
Conselho de Guerra, celebrado em Julho de 1952 no salom de
actos da Agrupaçom de Sanidade Militar, condena Benigno
Andrade a morte. Um carrasco espanhol chegado de Valhadolid
tem que executar a pena em 7 de Agosto desse ano na prisom
provincial corunhesa. A sua morte nom acabou com o mito dum
homem que passou à posteridade por inteligente, popular,
desconfiado, um bocado temerário e tremendamente habilidoso
para sobrelevar as contingências dumha vida de extrema dureza
como a que a guerrilha impom. Mas na memória de todos e
todas deve ficar, com todas as suas contradiçons, como umha
figura que encarna essa naçom anónima e trabalhadora que
enfrentou o fascismo após 1936.

Benigno Andrade Garcia, "Foucelhas", é quiçá o guerrilheiro

Escrito por: galego com maior projecçom popular desde que na década de 40
ganhara imensa referencialidade social graças à mistura de
admiraçom e temor que provocava em várias das comarcas do
Comissom de Memória Histórica da Gentalha do ocidente galego. Submetido a umha feroz campanha de
Pichel (Compostela) desprestígio por parte da comunicaçom social do fascismo, que
quijo fazer de um Foucelhas mítico a quinta-essência do mal
chamado "bandoleirismo", mas à vez possuidor de um grande
Edita: prestígio popular em funçom das suas qualidades naturais, a sua
simpatia e a sua valentia, Benigno Andrade converteu-se com o
passar do tempo na figura mítica do guerrilheiro galego. A
resistência armada ao fascismo que na década de 40 encheu os
montes da Galiza estivo -está ainda- desterrada dos livros
escolares no nome do "bom senso" que impujo a vontade de
amnésia da Reforma política, como também ficou de fora da
maioria dos meios de comunicaçom de massas. Fôrom as gentes
anónimas que mantivérom -com todas as contradiçons, mas
também com todos os acertos- a memória ou as memórias de
tantos centos de homens como Benigno Andrade. Na nossa
comarca, onde a guerrilha nom tivo praticamente presença, nom
era estranho ouvir as e os mais velhos até há nom muito
foucelhas.agal-gz.org lembranças dos "Foucelhas", ou as maes ameaçarem as crianças
info@gmail.com com a frase "vai-te levar o Foucelhas". Quem foi realmente este
guerrilheiro, qual o peso real que o levou a ficar no imaginário
colectivo como um autêntico mito?
 Benigno Andrade nom foi um dirigente político,
tampouco um destacado guerrilheiro implicado nos mais
conhecidos episódios militares do antifascismo armado nos
escuros anos 40. Foi, antes do mais, um trabalhador dos tantos
milhares que tenhem algum tipo de vínculo com as
organizaçons de massas esquerdistas na década de 30 e que
pega nas armas espontánea e maciçamente para evitar que o
fascismo destrua a legalidade republicana, vendo-se forçado a
umha fugida que concluirá na guerrilha. Nasce em Outubro de
1908 no lugar das Foucelhas, paróquia de Cabrui, concelho de
Mesia, na parte mais montanhosa da comarca de Ordes, onde
esta limita com o interior das Marinhas. Por acasos da história,
o nome do seu lugar natal tem as suas origens numha partida de
carlistas ou "facciosos" que escolheram a aldeia como lugar de
refúgio; por evoluçom da palavra, o lugar acaba chamando-se
"Foucelhas". O ofício que é adjudicado a Benigno Andrade é o
de jornaleiro, um labrego sem terras que ganha a sua vida a
trabalhar as alheias, mas o certo é que desenvolve diferentes
trabalhos ao longo da sua vida legal. Podemos considerá-lo mais
um membro desse proletariado rural -um "caseteiro"- carente
de posses e que sobrevive graças ao trabalho agrícola, à cestaria,
a umha leitaria, ao trabalho nas minas, (está umha temporada
nas de carvom de Faveiro, no Berzo) ou às serrarias próximas
(trabalhava na de Cúrtis justo antes do golpe de 1936). Casa na
década de 30 com Maria Peres, emigrante retornada, com quem
tem duas crianças, Pepita e Sérgio. A sua mulher, que morrerá
mui nova no exílio em Valhadolid, jogaria um papel relevante
como enlace guerrilheiro e ponto de apoio constante para as
actividades do Foucelhas.
Ao abrigo do crescente obreirismo organizado em todo o
território do Estado espanhol, em 1934 constitui-se a primeira
célula do Partido Comunista de Espanha em Cúrtis, depois
transformada em Rádio Comunista, a iniciativa do doutor
Manuel Calvelo (fusilado no cemitério de Boisaca em 1936) e a
sua mulher, Isabel Rios. Foucelhas mantém, como
mínimo, umha relaçom de colaboraçom com
esta estrutura, onde deveu
adquirir os rudimentos da sua
formaçom política. É possivelmente
através do seu contacto com o
comunismo como chega a fazer parte
do Sindicato de Ofícios Vários na
mesma vila.
Em 1936, com 28 anos,
integra-se nos grupos de
esquerdistas que se
responsabilizam pola procura de
dinamita e armamento e saem
como coluna para evitarem a
tomada da Corunha polos
fascistas; a tentativa frustrada de
chegarem à cidade herculina (os
trabalhadores tornam ao
chegarem à ponte de Passagem,
devido ao avançado da sublevaçom)
leva-o a voltar à sua terra natal e
refugiar-se ante o temor das retaliaçons.
Será entom um dos membros mais
conhecidos do primeiro núcleo de fugidos das
comarcas ordense e marinhá, partilhando
desventuras com os que haviam de ser no futuro os seus
companheiros nas fileiras do Exército Guerrilheiro da Galiza:
Emílio Peres Vilarinho "O Emílio", Manuel Pena Camino "O
Flores" e Jesus Lavandeira Peres, que fora secretário-geral da
CNT em Betanços. De 1936 a 1944-45 a vida de Benigno
Andrade decorre numha situaçom de semiclandestinidade,
vivendo a maior parte do tempo em casas, o que é facilitado pola
sua grande popularidade, e trabalhando como cesteiro ou
jornaleiro. No próprio Conselho de Guerra em que é julgado
nega a sua implicaçom guerilheira nestes primeiros anos, pois
"se encontró ausente del monte desde el 23 de Julio de 1936
hasta primeros de 1945 o últimos de 1944, en cuyo espacio de
tiempo se dedicó a trabajar como cestero y jornalero".
O seu compromisso com a resistência armada data, como
ele mesmo afirmou, de meados da década de 40, coincidindo
com a organizaçom, fundamentalmente na parte ocidental da
naçom, do "Exército Guerrilheiro da Galiza". Esta estrutura
militar alimenta-se do esforço reorganizativo do Partido
Comunista de Espanha, que desenha naquela altura umha
acabada estratégia político-militar contra a ditadura. A
combinaçom das vontades de importantes quadros comunistas
chegados do estrangeiro
para alimentar o Exército -entre os quais destacam
Gaioso e Seoane com as achegas de fugidos decididos a se
implicarem a fundo no combate armado contra Franco darám
lugar ao que foi sem dúvidas o ferro e o fogo do movimento
guerrilheiro galego: a IV Agrupaçom do EGG, que delimitou o
seu ámbito de actuaçom na província da Corunha. É Manuel
Ponte Pedreira "Miracielos", um alfaiate socialista com grande
capacidade de liderança, natural de Fontao (Frades), quem
enquadra Foucelhas na disciplina guerrilheira. Começa assim
um acidentado périplo caracterizado pola recorrente indisciplina
do de Messia, polas suas dificuldades com os responsáveis da
estrutura militar, e por umha proverbial intuiçom e habilidade
que o levou a sobreviver no monte a todos os seus dirigentes.
Para Francisco Rei Balbis "O Moncho", um dos últimos
dirigentes da IV Agrupaçom, e que pudo sobreviver para contá-
lo,
"Foucelhas era um franco-atirador. Actuava por sua
conta e era muito daninho para nós. Nunca encontrávamos.
Era muito indisciplinado".
Em Março de 1945 fere-se acidentalmente com a sua
arma numha perna, o que o leva a ficar inactivo durante
aproximadamente um ano, refugiado num andar da Corunha.
Converte-se numha pesada carga para a guerrilha e tem-se
afirmado que no ano 1946 o responsável da IV Agrupaçom,
Marcelino Rodrigues Fernandes, "Marrofer", tinha condenado
Benigno Andrade a morte pola sua recorrente indisciplina e a
sua negativa a cumprir as execuçons decididas polo Exército. A
morte do dirigente guerrilheiro numha palheira durante umha
cilada da guarda civil em Fervenças (Aranga), com Lisardo
Freixo "Tenente Freixo" e José Doldám, pareceu evitar esta
possibilidade.
A seguir, e com motivo da desarticulaçom
parcial desta partida, Ponte Pedreira destina
Foucelhas ao Destacamento "Manuel del Rio
Botana", actuando nas zonas de Ordes, Frades
e Cúrtis e aproveitando assim o seu óptimo
conhecimento do terreno. Além de
participar na acçom contra dous vizinhos
de Messia ligados ao Regime, pouca
trajectória lhe resta a Foucelhas nesta
fase. A queda de Manuel Ponte no seu
Frades natal em 1947 volta a
desmoronar o seu Destacamento
numha etapa em que se intui a
decadência do EGG. Absolutamente
cercada a IV Agrupaçom por umha
guarda civil exercitada na repressom
imisericordiosa do PCE, na activaçom
dum forte aparelho de informaçom e
na extensom das contrapartidas
guerrilheiras, a direcçom envia Foucelhas
ao sul com o intuito de relaxar a pressom
policial. Na província de Ponte Vedra, com
escassa e fraca tradiçom armada, o Exército fará
por activar umha precária V Agrupaçom e porá
Benigno Andrade à frente do destacamento "Manolito
Velho". Nessa altura Foucelhas protagoniza algumha das acçons
mais badaladas e que, mitificadas polo povo, haviam de
proporcionar-lhe grande fama.
O destacamento de Foucelhas destaca-se pola realizaçom
de vários confiscos e a execuçom de conhecidos falangistas e
colaboradores do Regime. Este é um dos textos que a guerrilha
deixou depois de actuar contra colaboracionistas:
"Los chivatos son unos animales dañinos que la salud
pública exige barramos sin contemplaciones. (...) Decir:
falangista, es decir, Ladrón! Asesino! Por eso ajusticiamos a los
perros del yugo y las flechas que negocian con el hambre del
campesino. Mueran los verdugos del pueblo español! Viva la
República! Ejército Guerrillero de Galicia. IV Agrupación. La
Coruña".
É precisamente entom, nessa etapa de declive irreversível
do Exército (em 1948 som executados os máximos dirigentes,
Galhoso e Seoane) quando Benigno Andrade parece fazer valer
com maior prumo os seus grandes dotes naturais para