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DIAGNÓSTICO
© Copyright 2006 André Alves, João Ivo Puhl e Jonia Fank (organizadores)
Impressão
ISBN 85-88421-37-2
Catalogação na Fonte do Departamento Nacional do Livro da Fundação Biblioteca Nacional.
MATO GROSSO SUSTENTÁVEL E DEMOCRÁTICO./ André Alves, João Ivo Puhl e Jonia
Fank (orgs.). – Cuiabá: Defanti, 2006
Autores: Amintas Nazareth Rossete, Andréa Ikeda, Cláudia Regina Sala de Pinho,
Claudinéia Lizieri dos Santos, Débora Pedrotti, Gustavo V. Irgang, Jane M. Vasconcellos,
Jonia Fank, Laurent Micol, Michèle Sato, Nataly Manrique Rocha, Nelci Eiete Longhi,
Roberta Roxilene dos Santos, Rodrigo Ferreira de Morais, Ronaldo Senra, Samuel B. de
Oliveira Jr., Silas Moraes, Solange Ikeda Castrillon, Vicente José Puhl.
CDU: 332.14
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem a permissão expressa do autor (Lei n. 5.988 de 14.12.1973).
SUMÁRIO
Apresentação...........................................................................................................11
Recursos Hídricos
Solange Ikeda Castrillon, Andréa Ikeda, Cláudia Regina Sala de Pinho,
Claudinéia Lizieri dos Santos, Nataly Manrique Rocha, Nelci Eliete Longhi e
Rodrigo Ferreira de Morais.....................................................................................46
Os Desmatamentos em Ucs
Roberta Roxilene dos Santos, Laurent Micol, Gustavo V. Irgang e Jane M.
Vasconcellos.............................................................................................................58
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Professor efetivo de História da América no Departamento de História da Universidade do Estado de Mato
Grosso, campus universitário Jane Vanini em Cáceres.
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O FORMAD foi criado em 1992 para articular os diversos segmentos e entidades mato-grossenses, para discutir e
realizar ações coletivas, públicas e privadas ante as situações que impliquem riscos ao meio ambiente e à vida
humana e, para propor alternativas de desenvolvimento sustentável para o estado de Mato Grosso.
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Relatório disponível no site:http://www.formad.org.br/arquivos/File/seminario_indicadores_09112005.pdf.
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que orientam a distribuição dos seus recursos ambientais. Portanto não há uma
sustentabilidade no horizonte, o único meio de nos aproximarmos dela é
considerarmos um processo. É por isso que a democracia está no centro, porque
o processo é ação social. Sustentabilidade como construção só é possível num
processo democrático”.
Os textos que se seguem ainda são apenas parte da etapa de diagnóstico da
realidade mato-grossense e há um longo caminho a ser percorrido para que se
internalizem as idéias e as práticas da democracia e da sustentabilidade em nós
mesmos, nas famílias, nas organizações sociais de base, nas empresas e nas
macro relações da economia política e da política econômica e social municipal,
estadual, nacional e global.
Os GTs e o FORMAD ainda não concretizaram todas as dimensões da
metodologia proposta pelo projeto que prevê uma dinamização dos movimentos
sociais levantando as bandeiras de um projeto alternativo de desenvolvimento
sustentável e democrático, fundamentado e entendido pelos cidadãos mais
simples e executável até na maior complexidade demandada.
O primeiro texto do caderno trata da situação das terras indígenas até o ano
de 2005. O GT Terras Indígenas aponta os problemas socioambientais que pairam
sobre as comunidades indígenas que não tiveram a regularização de seus
territórios tradicionais e continuam sob ameaças diversas como a invasão de seus
territórios por posseiros, grileiros, madeireiros, garimpeiros, pescadores,
fazendeiros, usinas hidroelétricas; ou pelas formas de ocupação do entorno com
intensos desmatamentos das matas ciliares, monoculturas, uso intensivo de
agrotóxicos que reduzem a disponibilidade de peixes, aves e animais de caça e
mesmo a água apropriada para o uso e o consumo das comunidades. Os dados
nos desafiam a pensar: como deveria ser o desenvolvimento de Mato Grosso para
que as populações indígenas fossem beneficiadas e usufruíssem, em condições
dignas, dos recursos naturais e econômicos tendo seu futuro assegurado?
O GT Mineração apresenta um texto que trata da exploração mineral no
Estado. A capitania colonial de Mato Grosso, surgiu para proteger a fronteira e as
ricas minas de ouro e diamantes encontradas. Ainda hoje a mineração continua
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TERRAS INDÍGENAS E O MATO GROSSO
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Membros do Grupo de Trabalho Terras Indígenas - GT TI. Colaboração de: Kátia Zorthea; Maristela Torres;
Sebastião Moreira e Solange Pereira.
2
Etnias presentes no Encontro: Apiaká, Arara, Bakairi, Bororo, Chiquitano, Cinta larga, Enawene Nawe, Guató,
Irantxe, Yudja/Juruna, Kaiabi, Kaiapó/Mebengokre, Karajá, Munduruku, Myky, Nambikwara, Paresi, Rikbaktsa,
Tapirapé, Terena, Umutina, Xavante e Zoró.
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Neste artigo, todas as citações de Encontro, irão se referir a este evento de novembro de 2005.
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Encontro “Movimento dos povos indígenas e questões fundiárias de MT”, novembro 2005.
“São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e
tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam,
competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”.
§ 1º - São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em
caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis
à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a
sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.
Uma lei complementar deveria especificar como este artigo 231 será
aplicado. No entanto, o Estatuto do Índio vigente ainda é o de 1973 e a não
atualização deste texto favorece que acordos para exploração de recursos
naturais sejam firmados de maneira individualizada.
O processo de regularização dos territórios indígenas inclui etapas de
identificação, demarcação física, homologação (pelo Presidente da República) e
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Madeireiros
Pescadores
Presença de posseiros em
suas terras
Sofrem invasões de
garimpeiros
Sofrem com caçadores e
outros
Turismo
Pecuária
Sojicultura
Exploração de palmito
Grileiros
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levado para São Marcos. “Depois que saímos, foi a perdição. Nunca mais encontramos
um lugar nosso, de verdade”.
Depois do fracasso do projeto agropecuário inicial de Riva, as terras da Suiá-
Missu em mãos da família Ometto, passaram ao controle da corporação italiana
Agip Petroli (holding da estatal Ente Nazionali Idrocarburi – ENI). Em 1992, em
meio às várias discussões que marcaram a Conferência Mundial do Meio
Ambiente (ECO 92), no Rio de Janeiro, representantes da empresa se comprome-
teram verbalmente a devolver a área original aos Xavantes.
Diante disto, grupos políticos do Estado e fazendeiros da região contrários à
idéia organizaram um processo de ocupação da área por posseiros e grileiros,
mesmo sabendo que fora oficialmente identificada, demarcada e homologada
como terra indígena, uma extensão de 168 mil hectares. Ao longo desses anos os
Xavante tentaram retomar Marãiwatséde, sendo sistematicamente impedidos de
voltar a construir suas aldeias nessa área. Mesmo assim, retornam a estas terras
para coletarem matérias primas utilizadas na confecção de artesanato, arcos e
flechas, e para cultuarem seus antepassados nos antigos cemitérios.
Em 2003, os anciãos do povo Xavante manifestaram o desejo de voltar à terra
de seus ancestrais antes de morrerem. Os jovens guerreiros sentiram a obrigação
de propiciar este retorno. No mesmo ano, 280 (duzentos e oitenta) pessoas
(crianças, jovens, adultos e velhos) retornaram às suas terras, mas foram impedi-
dos pelos invasores de entrarem na sua terra indígena. Então, ficaram acampados
à beira da BR 158, entre novembro de 2003 e agosto de 2004, aguardando a
decisão do Juiz da 5ª Vara da Justiça Federal de MT.
Durante o período muitos adoeceram em decorrência da má qualidade da
alimentação, da água e por falta de saneamento básico, três crianças morreram.
Atualmente os Xavantes ocupam cerca de 20 mil hectares de suas terras. Vivem
em clima de tensão e há o risco de acirramento do conflito com os posseiros a
qualquer momento.
A permanência dos posseiros na área Xavante está amparada em decisão do
Tribunal Regional Federal - TRF, que determinou que uma eventual extrusão
fosse iniciada apenas após o julgamento do mérito da ação civil pública – proces-
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Pequenas Centrais Hidrelétricas.
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Aregião do rio Preto, que fica fora da Terra Indígena é uma importante fonte
de peixes para esse povo. O ritmo intenso de ocupação, os desmatamentos
ilegais e o uso de agrotóxicos nas lavouras de monocultura ameaçam seriamente
esses recursos. Agravando a situação estão planejadas pelo consórcio Juruena
(empreendedoras Maggi, MCA e Linear) nove Pequenas Centrais Hidrelétricas
(PCHs) e duas hidroelétricas maiores nas proximidades do território.
Mesmo após o contato, em 1974, os Enawene Nawe mantêm o seu modo
tradicional de vida, diretamente ligado a um calendário de festas e rituais. Esses
eventos que dão sustentação à organização social coincidem com o calendário
produtivo desse povo. A pesca, a agricultura e as atividades extrativistas
mantêm estreita ligação com o universo mítico, o cumprimento de obrigações e o
pagamento de dádivas aos espíritos.
Monolíngües e pertencentes à família Aruak, os Enawene Nawe realizam a
pesca para o seu ritual mais importante - o Yãkwa. Pescam com armadilhas
colocadas em barragens, armadas no leito dos pequenos rios de sua área, da
mesma forma como faziam seus antepassados. Atualmente, a barragem de
maior produção para o ritual encontra-se no rio Preto, fora dos limites da Terra
Indígena homologada. Este ritual se estende por um período de sete meses.
A maioria dos povos indígenas do Brasil sofreu forte decréscimo populacio-
nal no período posterior ao contato. No entanto, a população Enawene Nawe
apresentou um considerável aumento populacional. Em 1974, eram 97 indíge-
nas, hoje são 445 pessoas5. Na mesma proporção, cresce a necessidade de uma
maior obtenção de alimentos. Por conta disso, a preservação das nascentes dos
rios, das matas-ciliares e da floresta são fundamentais para a manutenção do
equilíbrio físico e cultural desse povo.
Cientes desse fato, os Enawene Nawe vêm buscando através de diferentes
instâncias governamentais o reconhecimento dos seus direitos sobre terras da
região do rio Preto. Em 2003 a FUNAI chegou a informar sobre a instauração de
5
Dados da OPAN - março de 2006.
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um Grupo de Trabalho (GT) para estudo dessa área. O GT acabou sendo cancela-
do em 2004 por causa de uma moratória que atingiu outras áreas indígenas em
situação semelhante.
A partir daí os Enawene Nawe iniciaram seus contatos com o Ministério
Público e a própria FUNAI para garantir a instalação do GT. Na tentativa de
conter as ações predatórias em seu território tradicional, também foram encami-
nhadas denúncias ao IBAMA sobre derrubadas irregulares. Nenhuma das
tentativas teve resultados concretos.
A dúvida dos Enawene Nawe é, quando finalmente se iniciarem os traba-
lhos de reconhecimento, não será tarde demais? Um dos representantes do povo,
Marikerosene, manifesta que a questão é urgente: “Tem que ser rápido. Nossa terra
está ficando feia, estão derrubando todas as árvores, vão jogar veneno na água, logo os
peixes vão embora e não terá mais nada. Vou sentir saudades”.
A construção de um complexo hidroelétrico no rio Juruena, próximo de sua
área tem preocupado os Enawene Nawe. No curso do rio Juruena, estão previs-
tas a construção de 9 (nove) PCHs e duas hidroelétricas. Cinco das PCHs
atingirão de forma direta essa população. A primeira estará apenas há 20 km do
limite sul da Terra Indígena. Os empreendimentos já possuem licença prévia e de
implantação. O site da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) disponibi-
liza um cronograma para a realização das obras. Até o momento os Enawene
Nawe não foram ouvidos sobre o tema.
Conforme o administrador da FUNAI em Juína, Antônio Carlos de Aquino,
as hidroelétricas estão sendo pleiteadas por grandes produtores da região e os
processos tramitam na Coordenação Geral de Patrimônio Indígena e Meio
Ambiente da FUNAI, em Brasília.
Caso se concretize a construção destas usinas, o modo de vida Enawene
Nawe será, sem dúvida, fortemente afetado, considerando que o peixe é um
recurso natural e simbólico vital à ordem, manutenção e reprodução da sua
organização social e se constitui no primeiro ponto mais vulnerável deste
processo. É principalmente a partir das evidências do impacto sobre os peixes e
sobre as atividades pesqueiras tão fundamentais à vida social Enawene Nawe,
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5. Documentos consultados:
BRASIL. Constituição Federal. 1988. Disponível em www.planalto.gov.br.
MATO GROSSO. SEPLAN. Anuário Estatístico de Mato Grosso 2004. Vol.26. Cuiabá: SEPLAN-MT:
Central de texto. 2005.
MENDES, Artur Nobre. Terras Indígenas de MT. Setor Fundiário da FUNAI em Brasília-DF.
Documento enviado (e-mail) em junho de 2005.
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A MINERAÇÃO EM MATO GROSSO
Introdução
A “explosão demográfica” (DEMENY, 1987) verificada principalmente no
século XX e a melhoria das condições gerais de infra-estrutura de uma parte da
humanidade ocasionaram o aumento vertiginoso da demanda por bens minera-
is. Isto pode ser notado ao se observar as estatísticas de produção de metais.
Segundo Spoel (1990), a produção de metais foi de 25 milhões de toneladas do
início da civilização até 1750; 10 milhões de toneladas de 1750 a 1800; 100 milhões
de 1800-50; 900 milhões de 1850 a 1900; 4 bilhões de 1900 a 1950; e de 5,8 bilhões
de 1950-80.
De acordo com McDivitt e Manners apud Suslick (1992), cada indivíduo
consome em média, 20 toneladas anuais de matérias-primas minerais. Este
consumo deve-se em grande parte à crescente industrialização, notadamente
nos países do Hemisfério Norte, fenômeno este que teve seus primórdios com a
Revolução Industrial do século XVIII (SUNKEL e PAZ, 1988), implicando numa
explosão desenfreada da pesquisa e lavra dos bens minerais.
Atuando como base de sustentação para a maioria dos segmentos industria-
is, a extração mineral desempenha hoje um papel fundamental na economia de
diversos países, principalmente dos países em desenvolvimento que tem a
mineração como uma importante fonte de geração de divisas, via exportação de
minério, além de ser uma atividade geradora de empregos e impostos, represen-
tando, assim, um fator determinante para o desenvolvimento de um grande
número de cidades e micro-regiões (MARQUES, 1993).
No Brasil a atividade de extração mineral como um todo corresponde a US$
28,0 bilhões, o que representa aproximadamente 4,20% do Produto Interno Bruto
1
Deptº de Ciências Biológicas Campus Universitário de Nova Xavantina Universidade do Estado de Mato
Grosso – UNEMAT. Membro do GT Mineração.
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(PIB) - brasileiro. Este valor do PIB, no entanto, não reflete a real importância do
setor dentro da economia brasileira, já que ao se considerar as etapas de transfor-
mação do bem mineral (fases onde o produto é beneficiado para posterior
aproveitamento industrial), esse valor sobe para aproximadamente 10,5% do PIB
(SUMÁRIO, 2005).
A mineração funciona como atividade matriz para setores como siderurgia,
metalurgia, indústria cerâmica, cimenteira, química e de fertilizantes, dentre
outros.
Para efeito de comparação mais de 80% de toda a produção mineral da
França é de agregados para a construção civil, (ARNOULD, 1989), enquanto no
Brasil a produção dos minerais utilizados na construção civil é estimada em
aproximadamente 15% (BRANDT, 1994). Este valor representa a somatória da
participação em porcentagem na Produção Mineral Bruta (PMB) das substâncias
Pedras Britadas e Ornamentais, Calcário, Argila e Areia.
De acordo com Brandt, op. cit., deve-se ressaltar que a clandestinidade no
setor de areia para construção no Brasil é da ordem de 90% em média, segundo
estudos que levam em conta os índices de produção oficiais e o consumo teórico
de areia.
Dentro do conjunto dos minerais industriais que participam de todos os
ramos da atividade humana merecem destaque aqueles utilizados na indústria
da construção civil (pedra britada e ornamental, areia, calcário [cimento] e argila)
que consome mais de 70% do total da produção mineral nacional em termos de
valor. Para Dinelli (1988), pode-se afirmar a supremacia da construção civil no
consumo de minérios e produtos de minérios industriais, pois além de deman-
dar produtos apenas beneficiados ou “in natura”, caso da areia, requer também,
um leque de produtos transformados.
A significativa demanda por bens minerais ditos de uso imediato na constru-
ção civil deve-se tanto à crescente urbanização que ocorreu principalmente a
partir da segunda metade do século XX, como também ao forte crescimento
econômico ocorrido no mundo, particularmente nos países desenvolvidos.
Mato Grosso que historicamente teve suas origens no ciclo de mineração do
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Esfera econômica
* Maximizar o bem estar da humanidade;
* Assegurar o uso eficiente de todos os recursos, naturais ou outros, através da
maximização de rendas;
* Procurar identificar e assimilar custos ambientais e sociais;
* Manter e melhorar as condições para a existência de empresas viáveis.
Esfera social
* Garantir uma distribuição justa dos custos e benefícios do desenvolvimento para
todas as pessoas que vivem no planeta;
* Respeitar e reforçar os direitos fundamentais dos seres humanos, incluindo
liberdades civis e políticas, autonomia cultural, liberdades sociais e econômicas e
segurança pessoal e procurar sustentar as melhorias no tempo;
* Assegurar que a diminuição dos 55 recursos naturais não irá privar as gerações
futuras, através da sua substituição por outras formas de capital”.
Esfera Ambiental
* Promover o manejo responsável dos recursos naturais e do meio ambiente,
incluindo a reparação de danos anteriores;
* Minimizar a quantidade de resíduos e danos ambientais em toda a cadeia de
abastecimento;
* Ser prudente nos locais em que os impactos são desconhecidos ou incertos e operar
dentro dos limites ecológicos e proteger o capital natural crítico”.
Esfera de governança:
* Apoiar a democracia representativa, incluindo a tomada de decisões participadoras;
* Estimular a livre empresa dentro de um sistema de normas claras e justas e
incentivos;
* Evitar concentração excessiva de poder, através de controles e contrapesos
apropriados; Assegurar a transparência, proporcionando acesso aos atores e
informações relevantes e corretas;
* Garantir a responsabilidade por todas as decisões e ações que estão baseadas em
análises amplas e confiáveis;
* Estimular a cooperação, para gerar confiança e compartilhar objetivos e valores
comuns e assegurar que as decisões são tomadas no nível apropriado, aderindo ao
princípio da subsidiariedade quando possível”.
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Considerações finais
Cada vez mais se fazem necessários estudos que possam dar subsídios e
compreender a dinâmica das atividades humanas em prol de um desenvolvi-
mento que busque o uso sustentável dos recursos naturais.
A mineração por suas características e especificidades assume um papel
relevante nas discussões sobre a manutenção dos estoques de recursos naturais
para as gerações futuras, fazendo com que seja de fundamental importância a
compreensão das interações socioambientais dentro do Estado de Mato Grosso a
fim de que possamos implementar um modelo de utilização destes recursos o
mais conservacionista possível.
Bibliografia
ARNOULD, M. Estudo do impacto da mineração sobre o meio ambiente na França: Legislação,
Reabilitação de áreas, Balanço de 10 anos de experiência. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL
SOBRE MINERAÇÃO EM ÁREAS URBANAS, São Paulo.Anais... São Paulo, Prominério/DNPM,
out. 1989. p 21-24.
BUCK, W.K.; ELVER, R.B. An Approach to Mineral Policy Formulation. Mineral Information
Bulletin, Ottawa. 15p. 1970. (MR 108, Mineral Resources Branon, Departament of Energy, Mines and
Resources, Ottawa, Canadá).
DEMENY, P. Population Change: Global Trends and Implications. In: McLaren, D.J.; Skinner, B.J.
(eds), Resources and Word Development. New York: John Wiley & Sons, 1987. p. 29-48.
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o
DINELLI, H. M. - Mercado potencial para minérios industriais. Brasil Mineral, São Paulo. n . 55, p. 38-
45. Junho/1988.
MARQUES, M. - A importância da mineração para a economia do Brasil. Brasil Mineral, São Paulo,
Ed. Especial . Set./ 1993.
MARTINS, L.A.M. Materiais de construção e outras matérias brutas. Campinas: Unicamp, 1994.
98p.(Bloco 2).
MARTINS, L.A.M. O ambiente urbano e a produção de agregados minerais. In: ENCONTRO
NACIONAL DE ESTUDOS SOBRE O MEIO AMBIENTE, 3, 1991, Londrina. Anais... Londrina,
Universidade Estadual do Paraná, 1991. p. 697-706. Vol. 1 Comunicações.
SÁ, T.D. Conceitos Básicos: Mineração X Meio Ambiente, importância do Estudo Ambiental. In:
Curso de Meio Ambiente, Campina Grande: UFP, 1991. 40p. (Módulo 1 - 1a e 2a partes).
SPOEL, H., The current status of scrap metal recycling: Journal of Metals, Vol. 42, no 4, p. 38-41, 1990.
SUNKEL, O; PAZ, P. El subdesarrolo latino americano e la Teoria del desarollo. 22a ed.. México:
Siglo XXI, 1988. 385p.
45
RECURSOS HÍDRICOS EM MATO GROSSO:
O DESAFIO DA DEMOCRACIA E DA SUSTENTABILIDADE
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Membros do GT Recursos Hídricos, no projeto MTSD
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2. 1. Barragens e Hidrelétricas
Uma deliberação da Conferência Nacional do Meio Ambiente de 2005,
determinou a “suspensão imediata de todos os empreendimentos para aproveitamento
hidrelétrico, inclusive as PCHs, ainda não iniciadas, até que o EIA/RIMA seja realizado,
bem como a proibição destas instalações em unidades de conservação, áreas indígenas e
comunidades tradicionais, garantindo a efetiva participação popular, principalmente, das
populações ameaçadas e/ou atingidas pelas barragens.”
Apesar da ilegalidade destas obras e da ratificação do movimento ambien-
talista e demais segmentos que participaram da Conferência, na mesma época,
índios de várias etnias do Parque Nacional do Xingu ameaçavam entrar em
guerra se continuassem as obras de uma hidrelétrica no rio Culuene, um dos
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Muito pouco foi analisado para verificar a relação entre os interesses em conflito
envolvendo a população local, regional e o Estado, isto é, não foram considerados os
elementos relacionados ao uso das cachoeiras e dos recursos naturais a ela
associados.
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freático principalmente no planalto da Bacia do Alto Paraguai. Estes por sua vez
chegam até a planície pantaneira causando danos ao ambiente e à saúde.
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3. Desafios
Coordenar o debate deste tema, em um Estado tão grande como nosso, é um
desafio e uma necessidade do GT Recursos Hídricos do projeto como o Mato
Grosso Sustentável de Democrático. Não faremos este diálogo e debate conside-
rando a água apenas como um recurso. Ao lembrar da sensação que tivemos no
Araguaia junto com Dom Pedro Casaldáliga, Carlos Walter, Roberto Malvezzi,
Marcelo Barros, Severiá, Samuel Karajá e tantos outros companheiros, sabemos
que as nossas águas são realmente as nossas vidas, de todas as formas, em todos
os lugares.
Ao caminhar pelo Estado sabemos também de diversas iniciativas que estão
contribuindo com a conservação das nossas águas, projetos como: Aquabio, “Y
Ikatu Xingu”, revitalização dos rios Araguaia – Tocantins, iniciativas de comitês
de bacias, reorganização da Reserva da Biosfera do Pantanal e muitas outras que
contribuem para uma sociedade Democrática e Sustentável.
4. Referencias Bibliográficas
ACSELRAD, Henri. As práticas espaciais e o campo dos conflitos ambientais. In: Acselrad, Henri
(org.). Conflitos ambientais no Brasil. Rio de Janeiro: Relume Dumará: Fundação Heinrich Böll, 2004.
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ALENCAR, Ane. Desmatamento na Amazônia: indo além da Emergência Crônica. Belém: Instituto
de Pesquisa Ambiental da Amazônia, 2004.
ÂNGELO, Cláudio e ARINI Juliana. Usina polêmica vai à leilão em setembro. Disponível em <
www.folha.com.br > acessado em 15/10/2006
ARINI, Juliana. Manso opera sem licença ambiental. Disponível em < www.ecoagencia.com.br >
acessado em 15/12/2006.
Carta do II Festival Ecológico Cultural das Águas de Mato Grosso – Águas do Araguaia, 21 de agosto
de 2004.
PAIM, Elizangela S. IIRSA: É esta a integração que nós queremos? Núcleo Amigos da Terra/ Brasil.
Dezembro de 2003. <http://www.riosvivos.org.br/ arquivos/2118962134.pdf>.
PETRELLA, Ricardo. A água. Desfio do bem comum. In: Neutzling Inácio (org) Água: Bem público
Universal. São Leopoldo – RS: Unisinos – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2004.
SILVEIRA, Jane Simoni. Percepção das mudanças Naturais e Antrópicas, por uma comunidade
ribeirinha no sistema hídrico do rio Cuiabá, Mato Grosso. 2004. Dissertação (Mestrado em Ecologia
e conservação da Biodiversidade), Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá.
VAINER, Carlos. Águas para a vida não para a morte. Notas para uma história do movimento de
atingidos por barragens no Brasil. In: Acselrad, Henri, Herculano Selene Pádua José Augusto. Justiça
ambiental e cidadania. Rio de Janeiro: Relume Dumará: Fundação Ford, 2004.
VIANA, Gilney. (org). A polêmica sobre a hidrovia Paraguai – Paraná e o porto de morrinhos. Mato
Grosso – Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso, 2001.
WWF-BRASIL / Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas. Bezerra –Silva. F.C., Barreto, S.
R & Nabinger. (org). Reflexões e dicas: para acompanhar a implementação dos sistemas de gestão
de recursos hídricos no Brasil. Brasília, 2005.
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ANÁLISE DO DESMATAMENTO NAS UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO NO ESTADO DO MATO GROSSO
1
Roberta Roxilene dos Santos
Laurent Micol
Gustavo V. Irgang
Jane M. Vasconcellos
O Estado de Mato Grosso, com uma área total de 905 mil km², possui alta
biodiversidade, com a presença de três grandes tipologias vegetais: Floresta
Amazônica (423 mil km²), Cerrado (331 mil km²) e Floresta de Transição (145 mil
km²).
O desmatamento acumulado até 2005 atingiu 32,4% da área de Floresta,
40,0% da área de Cerrado e 34,5% da área de Transição.
Do total de 585 mil km² de cobertura vegetal original remanescente, 6,5%
encontram-se protegidos pelas 42 Unidades de Conservação (UCs) existentes no
Estado (), que somam 41 mil km², cobrindo 4,6% do território estadual. Desta
extensão, 30,8 mil km² representam categorias de manejo de Proteção Integral e
apenas 10,2 mil km², são de Uso Sustentável.
O governo estadual criou e administra 35 destas UCs (29 de Proteção
Integral e 6 de Uso Sustentável), enquanto 7 unidades (6 de Proteção Integral e 1
de Uso Sustentável) são federais.
As Unidades de Conservação são instrumentos legais de conservação da
natureza, amplamente adotados pela maior parte dos países, constituindo-se na
mais importante estratégia mundial para a proteção da biodiversidade.
Segundo a Lei que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SNUC), as Unidades de Conservação são espaços territoriais e
seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características
naturais relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Público, com objetivos de
1
Roberta Roxilene dos Santos é Geógrafa e Analista de SIG do ICV; Gustavo Irgang é Geógrafo, e Coordenador
Programa Conservação - ICV; Jane M Vasconcellos é Bióloga, Consultora sobre Conservação e conselheira do
ICV; Laurent Micol é coordenador adjunto ICV.
58
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14.000
Acre
12.000
Amapá
Desmatamento (km²)
10.000 Amazonas
8.000 Maranhão
Mato Grosso
6.000
Pará
4.000
Rondônia
2.000 Roraima
Tocantins
0
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Ano
59
Mato Grosso - Sustentável e Democrático
Objetivo Geral
Identificar a eficácia das Unidades de Conservação do Estado de Mato
Grosso como barreiras ao avanço do desmatamento local.
Objetivos Específicos
• Analisar a dinâmica do desmatamento nas Unidades de Conservação e
seu entorno, num raio de 10 km.
• Quantificar, de forma comparativa, os desmatamentos ocorridos no
interior das Unidades e no seu entorno, antes e depois da sua criação.
• Identificar a situação das Unidades de Conservação e categorias de
manejo quanto a sua eficácia na proteção da cobertura vegetal nativa.
2
Método e Fontes de Dados
Para análise do desmatamento nas Unidades de Conservação (UCs) do
Estado de Mato Grosso, utilizou-se as bases de dados cartográficos digital de
2006, fornecidas pela Secretaria de Estadual do Meio Ambiente (SEMA-MT).
2
Agradecemos à Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Mato Grosso pela presteza na cessão dos dados
espaciais. Ao Ibama pelas informações e à Dra. Jane Maria de Oliveira Vasconcellos pelo apoio à elaboração deste
estudo.
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61
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Resultados
• Análise quantitativa do desmatamento no interior das Unidades de
Conservação do Estado.
Das 42 Unidades de Conservação do Estado de Mato Grosso, 38 foram
analisadas de acordo com o método anteriormente descrito.
A análise comparativa das taxas de desmatamento ocorrido no interior das
UCS, até 2005, incluindo os períodos anteriores e posteriores a criação da
Unidade, permitiu classificá-las em 3 grupos distintos:
Grupo 1: Unidades com até 5% de área desmatada
Grupo 2: Unidades com 5% à 20% de área desmatada
Grupo 3: Unidades com mais de 20% de área desmatada
Estes resultados estão expressos na apresentada a seguir:
3
SNUC, Lei n 9.985, Capítulo VII – Art. 49.
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4
O PN Juruena se sobrepõe totalmente à Reserva Ecológica Apiacás e parcialmente ao Parque Estadual Igarapés
do Juruena.
5
Ambas unidades possuem Plano de Manejo.
6
É uma das Unidades de Conservação mais antigas do Estado, foi criada em 1982 e não tem Plano de Manejo.
63
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Esta análise foi feita para o entorno de 327 unidades. No Grupo 1 estão
incluídos os entornos de 17 Unidades, sendo 16 entornos de áreas de Proteção
Integral e 1 entorno de área de Uso Sustentável. São 5 entornos de Estações
Ecológicas, 2 de Parques Nacionais, e 7 de Parques Estaduais, 2 entornos de
Refúgio da Vida Silvestre e 1 de Reserva Extrativista. A EE Taiamã e o PN do
Pantanal Mato-grossense, que não apresentaram áreas desmatadas em seu
interior, também não apresentam desmatamentos em seus entornos. O PN
Pantanal Mato-grossense tem 3% do seu entorno sobreposto ao PE Guirá,
também incluído no Grupo 1. A Resex Guariba Roosevelt e o PE Cristalino I,
ambos com 9% de seu entorno desmatado, também fazem parte do Grupo 1. No
caso do PE Cristalino I, o seu entorno está sobreposto em 34% com o PE do
Cristalino II. Deste grupo a unidade que apresenta seu entorno mais desmatado
é o RVS Quelônios do Araguaia, com 16%.
No Grupo 2 estão o entorno de 9 unidades, todas de Proteção Integral. São 6
Parques Estaduais, 1 Parque Nacional e 2 Estações Ecológicas. Com 20% de seus
entornos desmatados estão a EE do Rio Ronuro e o PE Cristalino II, que tem 20%
7
Não foram consideradas na análise o entorno das Áreas de Proteção Ambiental
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Comentários Finais
Até 2005, cerca de 10% do território total das Unidades de Conservação do
Estado havia sido desmatado, bem como 15% das áreas do entorno dessas
Unidades, num raio de 10 km. Ao compararmos estes dados com as taxas
cumulativas do desmatamento ocorrido no Estado de Mato Grosso, que foi
35,3%, no mesmo período analisado, é possível constatar que, de um modo geral,
as UCs têm sido instrumentos eficazes na conservação do patrimônio natural,
contendo o avanço do desmatamento local. Como sugerem estudos recentes,
mesmo as UCs com deficiências administrativas e de manejo, demonstram-se
mais eficientes na conservação do que áreas não legalmente protegidas
(BRUNER, 2001).
Porém, estes 10% de áreas desmatadas no interior das UCs representa um
dado ainda expressivo, visto tratar-se de áreas protegidas por lei. Nas Terras
Indígenas foram registrados apenas 3,3% de desmatamento.
O mesmo ocorre com os 15% constatados nas áreas de entorno, consideran-
do ainda que, em muitos casos, o entorno de uma UC localiza-se no interior de
uma outra área protegida (UC ou TI), reduzindo desta forma a pressão do
desmatamento.
As categorias de manejo de Proteção Integral são as mais eficazes para
conter o avanço dos desmatamentos, porém é fundamental reforçar a necessida-
de de elaboração e implantação dos Planos de Manejo, passo muito importante
69
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Referências Bibliográficas:
ALENCAR, A.[et al], 2004. Desmatamento na Amazônia: indo além da Emergência Crônica.Belém:
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia.
BRASIL. 2000 Lei n0 9.985, de 18 de julho de 2000 Institui o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza – SNUC, e estabelece critérios e normas para criação, implantação e gestão
das Unidades de Conservação.
BRUNER, A.G., GULLISON, R.R., RICE, R.E.E FONSECA, G.A.B. 2001. Effectiveness of parks in
protecting tropical biodiversity. Science 291(125–128).
DOUROJEANNI, M. J., 1997 Áreas Protegidas: problemas antiguos y nuevos, nuevos rumbros. In:
Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação. Curitiba: IAP/Unilivre/RNPUCs. Anais, vol. I, p:
69 – 109.
70
DE UMA AGRICULTURA SUSTENTADA À SUSTENTÁVEL
1
Vicente José Puhl
1
Mestre em Educação Pública e Meio Ambiente – UFMT; Coordenador Regional FASE-MT; membro do GT-
Agricultura do Projeto MTSD.
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1. A agropecuária mato-grossense
6.000
Algodão
5.000
Arroz
4.000 cana
Mil ha
3.000 Feijão
2.000 Mandioca
milho
1.000
soja
0
1978 1981 1985 1990 1995 2000 2004
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quatro principais grãos produzidos no país: arroz, feijão, milho e trigo. O total da
área plantada destes, mais visíveis na mesa do brasileiro médio, reduziu-se entre
1991 e 2004, enquanto área destinada à soja mais do que triplicou.
O Brasil foi, em 2003 e 2004, o maior exportador mundial de soja e vem
mantendo a posição de segundo maior produtor, após os Estados Unidos. Os
três principais produtos do chamado complexo da soja – grão, farelo e óleo -
representaram, em 2004, 12% das exportações do país, cerca de 10 bilhões de
dólares. Corresponderam, também, a mais de um terço de toda a soja comerciali-
zada no mercado internacional.
74
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2
O Tesouro Nacional equaliza os juros dessas dívidas num valor anual superior a R$ 3,38 bilhões, pagando assim
parte dos juros que os fazendeiros não querem pagar. O cálculo por baixo é de que seus beneficiários não
ultrapassam a vinte mil grandes proprietários. Feitas as contas, isto representa uma transferência a cada um deles
de R$ 15 mil mensais.
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"No Mato Grosso, vi famílias que já não têm ônibus passando perto de suas casas,
porque tudo em volta é soja. Com isso, as crianças não podem mais ir à escola. O que
acontece? Afamília tem que se mudar".
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4. Referências bibliográficas
FERNÁNDEZ, Antonio J.C. Estudo De Caso Sobre A Soja No Estado De Mato Grosso Município
De Sorriso. Cuiabá, 2005, relatório pesquisa soja FASE, 46p.
GÖRGEN, Sérgio A. e STEDILE, João Pedro. O mensalão dos ruralistas. Jornal O Globo, 21/06/05,
p.7.
OLIVEIRA, Ariovaldo U. Notas Para Entender A Crise Agrícola E As Falsas Saídas. São Paulo: USP,
2006.
PUHL, Vicente J. Plantio Direto: Risco direto para Segurança Alimentar. Anais do VIII Congresso
Brasileiro de Plantio Direto. Tangará da Serra - MT: 2005.
SCHLESINGER, Sérgio. O grão que cresceu demais: A soja e seus impactos sobre a sociedade e o
meio ambiente. Rio de Janeiro: FASE, 2006. 76p.
83
1
SINFONIAS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL MATO-GROSSENSE
2
Michèle Sato
Débora Pedrotti
Samuel B. de Oliveira-Jr
Ronaldo Senra
Prelúdio
A dimensão ambiental era ignorada pela civilização, passou a ser considera-
da na década de 1960, possivelmente com o grito ecológico de Rachel Carson,
com a publicação do livro “Primavera Silenciosa” (2002). A preocupação com a
dimensão ambiental ultrapassou os danos dos pesticidas e já é uma constatação
notória aos habitantes deste planeta Terra. Embora a Educação Ambiental (EA)
do plano internacional seja muito relacionada com a dimensão ecológica, no
Brasil ela se reveste de enorme envergadura social. Reconhecemos desta
maneira, que ela não é um mero instrumento de gestão ambiental e que nossa
luta está longe de ser finalizada. Ela é uma modalidade educativa que incorpora
a rebeldia da contracultura, recebe herança da Antropofagia da Semana da Arte
Moderna, incorpora o legado da Tropicália, ou espelha-se na corajosa e teimosa
luta de sujeitos como Chico Mendes. Queremos forjar um mundo com mais
justiça social e ambiental, através de táticas revolucionárias que possam promo-
ver a práxis de transformação contra os modelos insustentáveis de consumo e
simultaneamente, incluindo a maioria que ainda vive sem condições dignas de
sobrevivência.
No Brasil, orientada pela Lei 9795-99 de Educação Ambiental (PNEA), e
amparada no Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA), o cenário
rico testemunha um caldo vigoroso de originalidade, criatividade e preocupação
social, ao lado da ambiental (BRASIL, 2005). Os estados se organizam em redes e
comissões colegiadas, traçando diretrizes, metas, proposições e utopias em
1
Agradecemos a Edinéia (Tangará da Serra, UNEMAT) e Lucileide (Cuiabá, GERA), parcerias do mesmo sonho.
2
Membros do GT Educação do Projeto MTSD.
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3
www.ufmt.br/remtea.
85
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2006), e convém sublinhar o papel relevante destes jovens que em suas irreverên-
cias, possuem compromissos que podem dar sustentabilidade aos chamados
“dinossauros” da EAda década de 1960, ainda em plena liderança no Estado.
A Lei Estadual da Educação Ambiental (7888/00) deve ser revisitada, com a
coragem de permitir que o Programa Mato-Grossense de Educação Ambiental
(ProMEA), acene sua dinâmica de mutação. Novos projetos em parcerias, redes,
comissões e coletivos educadores formam uma grande comunidade de aprendi-
zagem nos setores escolarizados e também em territórios não escolarizados,
construindo a escola e seu entorno, através de Organizações Não
Governamentais, instituições governamentais, empresas, escolas, artistas e
sujeitos. Cumpre ressaltar que no ano 2005, a REMTEA e o FORMAD realizaram
conjuntamente uma audiência pública com o Ministério do Meio Ambiente,
reforçando o papel da sociedade civil na participação democrática da construção
e formulação de políticas públicas.
Na contemporaneidade dos compromissos e agendas da EA, o Coletivo
Educador vem sendo construído no Programa de Formação em Educação
Ambiental no Pantanal (ProFEAP), que em aliança com o estado de Mato Grosso
do Sul, busca oferecer uma variedade de pratos no rico cardápio de variedades e
exuberâncias dos pantanais mato-grossenses. Ultrapassando a rigidez e enges-
samento das tradicionais disciplinas, cursos ou palestras, o cardápio pode ser
uma variação gastronômica da antropofagia oswaldiana, em comer o feio para
que o belo floresça. Na meta de promover o empoderamento comunitário,
basicamente através da agitação e barulho da educação popular, o coletivo
educador se arranja na composição de tons e semitons que matizam Mato Grosso
e seus Municípios Educadores Sustentáveis (MES). A proposta dos MES descen-
traliza as políticas, permitindo que as políticas sejam desenhadas conforme
necessidades e limites das biorregiões. A ordem na desordem pode ser percebida
na exuberante e bela natureza, mas ameaçada em seus impactos; ou no sabor das
expressões culturais, ameaçadas pelo efeito globalização que padroniza as
identidades.
Uma outra frente em EA veio no Projeto “Mato Grosso Sustentável e
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Partituras
Através dos relatórios entregues pelas 27 secretarias de educação de cada
estado brasileiro, o Ministério da Educação (MEC), em conjunto com o Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), lançou
um amplo diagnóstico acerca do estado da arte da EA nas escolas (VEIGA,
AMORIM & BLANCO, 2005). A análise documental, que não contou com uma
pesquisa empírica, revela que a EA acompanha a evolução do número de escolas
do ensino fundamental, apontando um aumento na promoção da EA de,
aproximadamente, 72% no ano 2001 para 95% em 2005. Em Mato Grosso, este
número sobe de 57% para 94%, em sintonia com o cenário nacional.
Comparando regiões urbanas e rurais, o saneamento aparece como proposta da
EA, sem referência à saúde, ambas dimensões transversais nos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN). Inscreve-se nesta proposta da Agenda Marrom, o
tema mais popular da EA no cenário internacional: os resíduos sólidos, com
ênfase exagerada na Pedagogia da Reciclagem, que favorece a coleta seletiva do
lixo sem reflexão da inadequação do modelo desenvolvimentista da sociedade
global. A coleta seletiva, geralmente em latas coloridas que indicam as caracterís-
ticas dos resíduos sólidos, aponta a preocupação do destino final do lixo, e isso
não pode ser encarado como meta da EA, uma vez que o consumo já foi realizado
e o resíduo representa um problema que não foi evitado.
Se conseguirmos transcender da “Pedagogia da Reciclagem” à “Pedagogia
dos 3 R (Redução, Reutilização e Reciclagem)”, alertaríamos sobre importância
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Figura 1: Olhares da EA
90
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tarefa com louvor, desde que sua formação possibilitará lançar um olhar
aguçado às tendências, ideologias ou erros conceituais de qualquer LD. Por
outro lado, um bom livro jamais fará um bom professor, pois o valor e a aceitação
da EA vão depender da capacidade emancipatória da formação intelectual do
educador. É fundamental, portanto, que as políticas públicas incorporem o
processo de formação permanente na práxis educativa.
Para além dos recursos pedagógicos e processos formativos, entretanto, há
que considerar a importância de um desenho dos Projetos Políticos Pedagógicos
(PPP), perspectivando a dimensão ambiental nos currículos escolares, e não
apenas nas paixões movidas pela militância da luta ecológica. A institucionaliza-
ção da EA não representa seu engessamento, desde que a causa ambiental
transcenda os espaços escolares e solicite um currículo fenomenológico mais
amplo (PASSOS & SATO, 2002), que se inscreva na produção e reprodução de
culturas das diversas sociedades sustentáveis. “Educar, na perspectiva libertária
e demais tendências pedagógicas que dialogam no campo crítico, é emancipar-
se, exercer ativamente a cidadania, construir democraticamente as alternativas
possíveis e desejadas” (LOUREIRO, 2004, p. 35). Assim, é preciso fortalecer as
políticas públicas que favoreçam a construção dos Projetos Ambientais Escolares
Comunitários (PAEC), que aliem a dimensão escolarizada ao saber popular, e
que sobremaneira, resgatem a função revolucionária do processo pedagógico à
capacidade de mobilização, para que a democracia seja participativa e não
meramente representativa.
Clausura
A morfologia da EA não é austera, mas sua fisiologia é legítima e dinâmica, e
muitas vezes, assemelha-se à teia de aranha, na metáfora weberiana da cultura
que é tecida por dentro, externaliza-se e sustenta a sobrevivência humana. Se um
fio se solta do emaranhado de fios e novelos da teia, a aranha então comanda a
operação de resgate, buscando táticas que possam fiar novos tecidos na trama
flexível da EA. A teia construída sofre intempéries de chuva, ventania e poeira.
Entretanto, superando o caos, busca em seus labirintos, seu caminhar ao hori-
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Instrumentos musicais
BRASIL, Ministério do Meio Ambiente; Ministério da Educação. Articular, fortalecer e enraizar a
Educação Ambiental para um Brasil de todos. Brasília: Órgão Gestor da Política Nacional de
Educação Ambiental - MMA/MEC, 2005.
CARSON, Rachel. Silent spring. Boston: Houghton Mifflin Company, 2002 (40ªed).
DIEGUES, Carlos. O mito moderno da natureza intocada. São Paulo: Hucitec, 1994.
97
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FIELD, Sean. Developing dialogues: the value of oral history. In: Encyclopedia of Life Support
Systems (EOLSS). Oxford: UNESCO, Eolss Publishers, [http://www.eolss.net] [Retrieved February
6, 2006].
PASSOS, Luiz Augusto; SATO, Michèle. Educação Ambiental: O currículo nas sendas da fenomeno-
logia Merleau-pontyana. In SAUVÉ, L.; ORELLANA, I. et SATO, M. (Dir.) Sujets choisis en
éducation relative à l'environnement - D'une Amérique à l'autre. Montréal: ERE-UQAM, 2002,
Tome I: p. 129-135.
SATO, Michèle. How the environment is written - a study of utilisation of environmental education
textbooks in Brazil and England. Norwich: 1992, 211p. M.Phil. Thesis, School of Environmental
Sciences, University of East Anglia.
SATO, Michèle; PASSOS, Luiz Augusto; MALDONADO, Carlos. Mato Grosso Writes Its Earth
Charter. CORCORAN, P.; VILELA, M.; ROERINK, A. (Eds.) Toward a sustainable world: The Earth
Charter in action. Amsterdam: Kit Publishers, 2005, 85-95.
SATO, Michèle. Jovens transbordantes em mundos suspensos. In: GHEDIN, E.; GONZAGA, A.;
BORGES, H. (Orgs.) Currículo e práticas pedagógicas. Rio de Janeiro: Memvavmem, 2006, p.26-38.
98
Apoio
ISBN85-88421-37-2
9 788588 421370