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Manual Técnico:

Restauração e
Monitoramento da Mata Ciliar
e da Reserva Legal para a
Certificação Agrícola
C o n s e rva ç ã o da Biodiversidade na C a f e i C u lt u r a
O Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) incentiva e promove mudanças nos
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Ficha Catalográfica

Manual Técnico: Restauração e Monitoramento da Mata Ciliar e da reserva Legal para a Certificação
Agrícola - Conservação da Biodiversidade na Cafeicultura / Cláudia Mira Attanasio - Piracicaba, SP:
Imaflora, 2008.
60 p.

ISBN 978-85-98081-21-2

1. Conservação. 2. Brasil - Agricultura. 3. Biodiversidade. 4. Meio ambiente. 5. Café.


6. Cafeicultura. I. Título.

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Manual Técnico:
Restauração e
Monitoramento da Mata Ciliar
e da Reserva Legal para a
Certificação Agrícola
C o n s e rva ç ã o da Biodiversidade na C a f e i C u lt u r a
C O N S E RV A Ç Ã O DA B I O D I V E RS I D A D E NA C A FE I C U LT U RA

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IMAFLORA - Instituto de Manejo e Certificação Eduardo Trevisan Gonçalves
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(Global Environment Facility - GEF) e executado e Restauração Florestal - Esalq/USP, Imaflora,
pela Rainforest Alliance e membros da Rede de Flavio Levin Cremonesi e Rodrigo Cascalles
Agricultura Sustentável.
Como contribuição à nossa preocupação pela
conservação, selecionamos para esta publicação
papel Couché 120gr. certificado FSC.

Textos:
Cláudia Mira Attanasio

Compilação de Informações:
Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal
(Lerf)
Escola Superior de Agricultura Luis de Queiroz -
Universidade de São Paulo (Esalq/USP)
© 2008 IMAFLORA.
Edição: Todos os direitos reservados
Imaflora ISBN: 978-85-98081-21-2
Índice

Introdução:.............................................................................................................................................................................07

Como restaurar a mata ciliar de uma propriedade rural.................................................................................................08


Alguns conceitos importantes...............................................................................................................................................08
Etapas para o planejamento e a implementação das ações de restauração das matas ciliares e de estabelecimento das reser-
vas legais................................................................................................................................................................................08
1 - Caracterização e mapeamento das áreas protegidas pela legislação ambiental...........................................................09
A - Levantamento da vegetação........................................................................................................................................09
B - Zoneamento ambiental................................................................................................................................................10
C - A delimitação das áreas de preservação permanente de acordo com a legislação vigente....................................13
2 - Definição das áreas prioritárias para a restauração florestal.........................................................................................15
3 - Reconhecimento das situações encontradas em propriedades rurais e descrição das ações necessárias para a restau-
ração das áreas naturais degradadas.................................................................................................................................16
A - Isolamento e retirada dos fatores de degradação......................................................................................................16
B - Adequação do local a restaurar (recuperação do solo)............................................................................................17
C - Eliminação seletiva ou desbaste de competidores.....................................................................................................17
D - Indução do banco de sementes do local (autóctone).................................................................................................18
E - Indução e condução da regeneração natural.............................................................................................................19
F - Adensamento e enriquecimento de espécies...............................................................................................................21
G - Implantação de plantio total em áreas não-regeneradas ou sem potencial de regeneração...................................22
H - Transferência de serapilheira e banco de sementes alóctone...................................................................................24
I - Transplante de plântulas e/ou indivíduos jovens alóctones........................................................................................24
J - Implantação de mudas de espécies frutíferas para a atração de dispersores............................................................28
K - Introdução de espécies de interesse econômico.........................................................................................................28
L - Plantio de espécies agrícolas na entrelinha, como estratégia de manutenção da área restaurada.........................28
M - Conversão da floresta exótica (Eucalipto, Pinus, etc.) em floresta nativa...............................................................28

Procedimentos operacionais envolvidos no plantio de espécies arbóreas nativas em área total e na condução da rege-
neração natural......................................................................................................................................................................32
Seqüência operacional de implantação.................................................................................................................................32
1 - Controle de formigas cortadeiras...................................................................................................................................32
A - Controle químico........................................................................................................................................................32
B - Métodos de controle alternativos................................................................................................................................32
2 - Limpeza geral da área....................................................................................................................................................33
3 - Incorporação de resíduos...............................................................................................................................................33
4 - Aplicação de herbicida (glifosate).................................................................................................................................33
5 - Abertura de covas...........................................................................................................................................................35
A - Abertura de linhas de plantio por subsolagem...........................................................................................................35
B - Broca perfuratriz.........................................................................................................................................................36
C - Abertura manual de covas..........................................................................................................................................37
6 - Coroamento....................................................................................................................................................................37
A - Coroamento manual....................................................................................................................................................37
B - Coroamento químico...................................................................................................................................................38
7 - Calagem.........................................................................................................................................................................38
8 - Adubação de base (na cova)..........................................................................................................................................39
A - Química (exceto para Cerrado)..................................................................................................................................39
B - Orgânica......................................................................................................................................................................39

Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola 5
9 - Plantio............................................................................................................................................................................39
A - Plantio manual............................................................................................................................................................39
B - Plantio com plantadora manual.................................................................................................................................39
10 - Irrigação.......................................................................................................................................................................40
11 - Replantio......................................................................................................................................................................40
12 - Adubação de cobertura.................................................................................................................................................40
A - Química (exceto Cerrado)...........................................................................................................................................40
B - Orgânica......................................................................................................................................................................42
Manutenção da área restaurada.............................................................................................................................................43

Recomendações de equipamentos de proteção individual (EPIs) para as principais atividades propostas...............44

Monitoramento da área restaurada....................................................................................................................................45


1 - Amostragem...................................................................................................................................................................45
Monitoramento da regeneração natural (áreas abertas ou sub-bosque)........................................................................45
Monitoramento de reflorestamentos de espécies nativas.................................................................................................45
2 - Fases do monitoramento................................................................................................................................................45
Fase pré-implantação das ações de restauração.............................................................................................................45
Fase inicial pós-implantação das ações de restauração.................................................................................................46
Fase pré-fechamento da área...........................................................................................................................................46
Fase pós-fechamento da área...........................................................................................................................................46
3 - Procedimentos................................................................................................................................................................46
Riqueza..............................................................................................................................................................................46
Modelo de plantio..............................................................................................................................................................47
Espécies arbóreas exóticas...............................................................................................................................................47
Número de indivíduos........................................................................................................................................................48
Mortalidade.......................................................................................................................................................................48
Infestação por gramíneas invasoras.................................................................................................................................48
Ataque de formigas cortadeiras........................................................................................................................................48
Sintomas de deficiência nutricional...................................................................................................................................48
Cobertura da área por espécies arbustivo-arbóreas.......................................................................................................48
Regeneração natural no sub-bosque................................................................................................................................49
Acréscimo de outras formas de vida.................................................................................................................................50
4 - Análise dos resultados....................................................................................................................................................51

Produção de mudas de espécies nativas em propriedades rurais ou viveiros comerciais.......................................53


Localização do viveiro........................................................................................................................................................53
Obtenção de sementes ou plântulas....................................................................................................................................53
Semeadura...........................................................................................................................................................................53
Semeadura em canteiros ou sementeiras..........................................................................................................................54
Semeadura direta..............................................................................................................................................................54
Encanteiramento das mudas................................................................................................................................................54
Escolha do substrato............................................................................................................................................................54
Irrigação...............................................................................................................................................................................56
Fertilização para a produção de mudas florestais nativas..................................................................................................56
Rustificação e expedição.....................................................................................................................................................56
Evitando doenças, pragas e ervas daninhas........................................................................................................................57

Referências Bibliográficas....................................................................................................................................................59

6 Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola
Introdução:

Esse manual foi criado para apoiar os pro- propriedade possa ser certificada e usar o
fissionais interessados nos processos de selo Rainforest Allience certified.
restauração e conservação de áreas, em pro- O apoio econômico do Fundo Mundial
priedades rurais com o foco nas áreas de Pre- para a Biodiversidade e do Programa das
servação Permanente e Reservas Legais. Nações Unidas para o Desenvolvimento,
Obtiveram-se as informações aqui conti- tornou possível a produção deste Manual.
das a partir da compilação das experiên- É importante citar que para todas as ativi-
cias práticas e nas pesquisas científicas em dades aqui descritas, recomenda-se con-
universidades, especialmente pelo Labora- sultar o órgão ambiental local, buscando
tório de Ecologia e Restauração Florestal informações a respeito da necessidade
da ESAL/USP além de uma ampla revisão da legalização das atividades, como por
bibliográfica no assunto. exemplo, transito de máquinas e aplicação
Acreditamos, mesmo, que as informações de herbicidas em áreas de preservação per-
contidas nesse manual podem auxiliar aque- manente. As exigências legais quanto estas
les empreendimentos agrícolas interessados atividades podem variar de acordo ao Es-
na certificação agrícola e na adequação am- tado da Federação.
biental exigida pela Norma da Agricultura
Sustentável (documento editado pela Rede Eduardo Trevisan Gonçalves
de Agricultura Sustentável), documento Coordenador do Projeto Conservação da
este que rege os regulamentos para que uma Biodiversidade na Cafeicultura

O Imaflora

O Imaflora faz parte da Rede de Agricultu- e o apoio ao desenvolvimento de mercados


ra Sustentável e é a instituição responsável para empreendimentos certificados.
pelos processos de auditoria para certificação Para mais informações consulte:
Rainforest Alliance no Brasil.
A missão do Imaflora é promover o desen- IMAFLORA
volvimento sustentável, incentivando o ma- Instituto de Manejo e Certificação
nejo florestal e a agrícola, ambientalmente Florestal e Agrícola.
adequados, socialmente benéficos e econo- Caixa Postal 411. Piracicaba- SP
micamente viáveis. Para isso, utiliza como CEP: 13.400-970
ferramentas a certificação, o treinamento e a Telefone/Fax: (19) 3414-4015.
capacitação, o estímulo à políticas públicas imaflora@imaflora.org // www.maflora.org

Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola 7
Como restaurar a mata ciliar de uma propriedade rural

Para que um processo de sucessão se de-


Alguns conceitos importantes senvolva, é necessário que exista uma área
aberta (clareiras), onde espécies vegetais
As matas ciliares desempenham papéis eco- nativas possam se estabelecer e sobreviver;
lógicos vitais, principalmente em relação à que novas espécies possam chegar ao longo
qualidade e à quantidade da água dos rios, do tempo, ou que sementes pré-existentes
dos córregos e dos ribeirões que compõem no solo germinem, introduzindo novas es-
as bacias hidrográficas. pécies nessa área, e também que as espécies
Restaurar matas ciliares é restaurar a integri- que vão ocupando a área tenham compor-
dade ecológica desse ecossistema, sua bio- tamentos ecológicos distintos, promovendo
diversidade e sua estabilidade, no longo pra- uma gradual substituição de espécies na
zo, enfatizando e promovendo a capacidade área, aspecto que caracteriza a sucessão.
natural de mudança ao longo do tempo. Esses mecanismos ocorrem em florestas na-
A tendência mundial é adotar o termo res- tivas e é possível imitá-los no planejamento
tauração, definindo seu propósito, seus de- e no desenvolvimento das ações de restau-
safios e suas limitações ecológicas, econô- ração de áreas degradadas.
micas, sociais e técnicas. O agrupamento das espécies em conjuntos
Os programas de recuperação de sucessionais (Tabela 1), conforme seu com-
matas ciliares não podem mais ser portamento ecológico, facilita a pesquisa e os
representados por meros plan- trabalhos de restauração de matas ciliares.
tios, que buscam apenas a re- Os animais, insetos, morcegos e aves, têm
introdução de espécies arbóreas uma participação muito importante na res-
numa dada área, de onde elas haviam tauração das matas ciliares, pois são os prin-
desaparecido, mas devem assumir a difícil cipais responsáveis pela polinização e pela
tarefa de reconstruir as complexas intera- dispersão de sementes. Os animais são res-
ções existentes numa comunidade florestal, ponsáveis por cerca de 95% da polinização
de maneira a permitir a sua auto-perpetuação e por 75 a 95% da dispersão das espécies de
local (Rodrigues & Gandolfi, 2004). árvores nativas tropicais. Por isso, não há
O sucesso das propostas de restauração das florestas sem animais (Ferretti, 2004).
matas ciliares está baseado no restabeleci- Pela íntima interação da mata ciliar com os
mento dos processos ecológicos responsá- recursos hídricos, o ideal é considerar a mi-
veis pela reconstrução gradual da floresta e crobacia hidrográfica como a unidade bá-
esse restabelecimento depende da presença sica para a caracterização, a quantificação,
de elevada diversidade de espécies regio- a análise e o gerenciamento dos recursos e
nais, envolvendo não só as árvores, mas dos processos naturais, incluindo a proteção
também as demais formas de vida vegetal, e a restauração das matas ciliares. Na mi-
os diferentes grupos da fauna e suas intera- crobacia, a água representa o componente
ções com a flora. Essa diversidade pode ser unificador de integração no manejo, devido
implantada diretamente nas ações de restau- à sua estreita relação com os outros recur-
ração e/ou garantida ao longo do tempo, pela sos ambientais, especialmente com a flores-
própria restauração da dinâmica florestal. ta ciliar (Lima, 1996).
Os projetos de restauração de áreas degrada-
das, portanto, devem basear-se no desencade- Etapas para o planejamento
amento ou na aceleração do processo de su-
cessão ecológica, que é a dinâmica através da
e a implementação das ações
qual uma comunidade vegetal evolui no tem- de restauração das matas
po, tendendo a tornar-se, progressivamente, ciliares e de estabelecimento
mais complexa, diversificada e estável. das reservas legais

8 Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola
Tabela 1 – Características dos diferentes grupos sucessionais das
espécies arbóreas das florestas nativas.

Grupos Sucessionais
Secundárias Secundárias
Pioneiras
iniciais tardias
Crescem a pleno sol
Crescem a pleno sol Crescem na sombra
ou na sombra
Crescem mais ou
Crescem rápido Crescem lentamente
menos rápido
(5 m em 2 anos) (2,5 m em 2 anos)
(3,5 m em 2 anos)
Vida curta Vida média Vida longa
(5 a 15 anos) (25 a 35 anos) (80 a 150 anos)
Sementes permanecem no
Sementes permanecem Sementes permanecem
solo por muito tempo
pouco tempo no solo muito pouco tempo no solo
(anos ou décadas)
Sementes não Sementes germinam na Sementes germinam
germinam na sombra sombra ou na luz na sombra

1 - Caracterização e mapeamento agrícola de suas propriedades.


das áreas protegidas pela legislação Para a elaboração do planejamento das
ambiental ações de restauração, os seguintes levanta-
mentos são importantes:
Nesse diagnóstico, as Áreas de Preservação
Permanente ou outras áreas que, por suas A - Levantamento da vegetação
características ambientais (áreas ripárias,
solos rasos, áreas de interligação de corre- No que diz respeito à vegetação, aspecto
dores ecológicos, etc.), são indicadas para fundamental, já que o objetivo do trabalho
ocupar com vegetação natural, assim como é a adequação ambiental, são realizados o
áreas com potencial para averbar como levantamento florístico e o fisionômico, es-
Reservas Legais, são delimitadas, quan- tudos de quais espécies vegetais ocorrem
tificadas e caracterizadas quanto aos tipos em um determinado local, considerando as
de ocupação atual e às potencialidades de diferentes formas de vida (árvores, arbus-
recuperação. São identificadas as áreas que tos, herbáceas, epífitas e outras). Esses da-
não estiverem em conformidade com a le- dos são utilizados para caracterizar o tipo
gislação ambiental e elaboradas propostas de formação vegetal (ex: Cerrado, Floresta
para sua adequação. Estacional Semidecidual, Floresta de Brejo,
Um primeiro passo é conhecer as carac- etc.) e para elaborar uma lista de espécies
terísticas do solo, a topografia, o clima, a regionais de cada tipo de vegetação, para
fauna e a flora do local, de preferência da usar na restauração das áreas degradadas.
microbacia onde estão localizadas as pro- Essa amostragem das espécies da flora é re-
priedades. Essas informações podem ser alizada através de visitas aos remanescentes
obtidas em universidades, ONGs, institu- florestais da propriedade, visando à coleta
tos de pesquisa etc, situados na região, ou de espécies arbustivo-arbóreas nativas de
através de levantamentos realizados pelas cada formação florestal, sempre dando pre-
organizações que estiverem apoiando os ferência à coleta de materiais dos indivíduos
produtores rurais que buscam a certificação que se apresentam em estado reprodutivo.

Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola 9
Para ajudar na identificação das espécies, vento, que influenciam diretamente a fauna
os produtores rurais locais podem partici
partici- e a flora presentes naquele fragmento. Ge-
par com seu conhecimento da região. ralmente, essa situação caracteriza-se pela
levan-
Uma pesquisa bibliográfica de outros levan invasão de gramíneas exóticas e pelo domí-
tamentos realizados na região ou parcerias nio desequilibrado de algumas populações
com universidades, institutos de pesquisas de lianas ou arvoretas, que dificultam o es-
e ONGs podem contribuir bastante nessa tabelecimento de indivíduos arbóreos.Tais
fase do trabalho. efeitos apresentam-se em maior ou menor
É preciso caracterizar o estado de conserva- grau, conforme a intensidade, os intervalos
ção e a distância dos fragmentos da vegeta-
vegeta de ocorrência, a duração e o tipo do fator de
ção natural da paisagem local que servirão degradação (Triquet et al., 1990).
de fontes de propágulos para a área em pro-
pro A Tabela 02 apresenta os critérios utiliza-
cesso de restauração. dos para classificar as formações florestais
Os critérios para definir o estado de conser
conser- naturais conservadas, passíveis de restau-
vação dos remanescentes naturais conside
conside- ração e com necessidade de restauração,
ram o número de estratos, as características através da avaliação dos estratos e do
do dossel, a presença de epífitas, a presença efeito de borda nos fragmentos florestais
de lianas em desequilíbrio na bor
bor- remanescentes.
da dos fragmentos e a presença Avaliações dessa natureza, para sub-forma-
de gramíneas exóticas, como ções não florestais do Cerrado, inexistem na
indicadores da intensidade de literatura científica. Não se aplicam a esses
degradação dos fragmentos. tipos de vegetação, por exemplo, a análise de
Os estratos de uma floresta são os di di- lianas e de epífitas, ou mesmo a classificação
versos níveis de altura em que as copas de das espécies em grupos sucessionais, como
indivíduos de porte equivalente se tocam, tem sido realizado em florestas. Dessa ma-
podendo ocorrer desde um único estrato neira, sugere-se que, ao avaliar-se a degra-
a vários estratos, sendo eles contínuos ou dação do Cerrado sensu stricto, sejam con-
não. Uma floresta com estratos contínuos siderados, por exemplo, a florística local, a
tem as copas dos indivíduos tocando-se em densidade das espécies mais comuns, os im-
diversas alturas, sem níveis predominantes pactos de alguma atividade antrópica, o grau
definidos (Rodrigues & Gandolfi, 2004). de isolamento, a invasão por espécies exóti-
A presença de uma ampla diversidade de cas, a freqüência de incêndios, entre outros
epífitas, como orquídeas, bromélias e cactá
cactá- fatores que possam auxiliar nessa avaliação.
ceas, caracteriza uma floresta pouco degra-
degra Vale lembrar que outros fatores, além dos de
dada, pois essas formas de vida necessitam natureza botânica, podem ser utilizados, des-
de condições muito específicas de microcli-
microcli de que a partir de uma análise comparativa
ma e de estrutura da vegetação para estabe
estabe- com áreas conservadas, como a presença ou
lecer-se e desenvolver-se, além de apresen
apresen- a ausência de alguns elementos da fauna.
tarem crescimento lento.
O efeito de borda é conseqüência da frag- B - Zoneamento ambiental
mentação florestal e está associado a mu mu-
danças ecológicas e microclimáticas da O zoneamento ambiental das propriedades
região de contato entre essa fisionomia rurais, que pode ser realizado simultanea-
florestal e outras fisionomias não florestais mente ao levantamento florístico, inicia-
do entorno. Seu efeito é bastante diverso, se com a elaboração de mapas ou croquis,
dependendo do organismo considerado, e contendo as áreas naturais e agrícolas de
inclui fortes variações de temperatura e de cada propriedade rural, procedimento a re-
umidade, maior incidência de luz e fluxo de alizar, se possível, com o auxílio das foto-

10 Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola
grafias aéreas coloridas recentes, por meio elaborar mapas bastante detalhados e úteis,
das quais cada um dos tipos de vegetação usando apenas as fotografias aéreas mais
é delimitado e diferenciado (tipo vegetacio- recentes ou até mesmo simples croquis. As-
nal, tamanho, grau de isolamento, condição sim, visualizam-se previamente, nas foto-
e histórico de degradação, etc.). grafias aéreas, as situações a encontrar em
A fotointerpretação, isto é, a análise das fo- campo, como fragmentos florestais, áreas
tografias aéreas, assim como o mapeamen- com edificações, pastos, culturas anuais,
to, podem ser realizados com o auxilio de áreas abandonadas, plantios comerciais e o
softwares compatíveis (Sistema de Infor- traçado da rede hidrográfica*.
mações Geográficas - SIG), por meio dos Através desse estudo, pode-se diagnosticar,
quais é possível gerar bancos de dados com mapear e quantificar as áreas legalmente
nomes das situações, área, características regulares e as que apresentam alguma des-
específicas ou quaisquer outras informa- conformidade com a legislação ambiental
ções. Entretanto, se não houver a disponibi- vigente e/ou com as condições ambientais
lidade desse recurso ou de pessoal treinado e propor alternativas para a sua adequação
para manipulá-lo, ainda assim é possível legal e/ou ambiental.

Tabela 02 - Critérios utilizados para classificar o estádio de degradação


dos fragmentos florestais.
Presença de Invasão de
Tipo de N° de Dossel lianas em gramíneas
Estádio de Presença
Formação estra- desequilíbrio exóticas
conservação de epífitas
Florestal tos Altura Continuidade
(m) Borda Interior Borda Interior
Contínuo com
Floresta conservada

Cerradão >2 12-25 indivíduos Freqüente Raro Raro Ocasional Raro


regenerantes
(sem ações de

Floresta Contínuo com


restauração)

Estacional >2 12-25 indivíduos Freqüente Raro Raro Ocasional Raro


Semidecidual regenerantes
Contínuo com
Floresta
>2 9 – 20 indivíduos Freqüente Raro Raro Raro Raro
Paludícula
regenerantes
Floresta Contínuo com
Estacional >2 9 – 20 indivíduos Freqüente Raro Raro Raro Raro
Decidual regenerantes
Contínuo com
Florestas (passíveis de ações de restauração)

Cerradão >2 7 – 15 indivíduos Ocasional Freqüente Ocasional Freqüente Ocasional


Floresta passível de

regenerantes
Floresta Contínuo com
restauração

Estacional >2 7 – 15 indivíduos Ocasional Freqüente Ocasional Freqüente Ocasional


Semidecidual regenerantes
Contínuo com
Floresta
Outras formas de

>2 6 – 12 indivíduos Freqüente Raro Raro Raro Raro


Paludícula
regenerantes
Floresta Contínuo com
Estacional >2 8 – 12 indivíduos Ocasional Raro Raro Raro Raro
Decidual regenerantes
Cerradão 1a2 2–7 Descontínuo Raro Freqüente Freqüente Freqüente Freqüente
necessidade de

Floresta
Floresta com

restauração

Estacional 1a2 2–7 Descontínuo Raro Freqüente Freqüente Freqüente Freqüente


Semidecidual
Floresta
1a2 2–6 Descontínuo Ocasional Raro Raro Raro Raro
Paludícula
Floresta
Estacional 1a2 3-8 Contínuo Raro Freqüente Freqüente Freqüente Freqüente
Decidual

* Pode ser feito também o georeferenciamento através de levantamento topográfico que tem custos mais baixos.

Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola 11
É interessante realizar esse tipo de trabalho manente e as áreas de interesse ambiental
tendo, como unidade de análise, a microba- (corredores ecológicos, áreas de baixa apti-
cia (Figura 1) onde as propriedades rurais dão agrícola, zonas ripárias, etc.).
trabalhadas e interessadas na certificação se A última etapa do zoneamento ambiental
inserem, de modo que as ações tomadas se é a efetiva edição do mapa de adequação
possam integrar. ambiental (Figura 2). Nessa etapa, todas

Limite da
propriedade

Limite das classes


de uso do solo

Hidrografia
Limite da Área de
Preservação Permanente

Figura 02 - Ilustração do processo de fotointer-


pretação de parte de uma propriedade rural,
Figura 1 - Exemplo do traçado dos divisores de utilizando fotografia aérea em escala 1:30.000.
águas de uma microbacia, unidade geográfica
ideal para o planejamento da restauração das
matas ciliares e a implementação das reservas as informações e os detalhamentos obtidos
legais (Attanasio et al. 2004). pela foto-interpretação e pela checagem de
campo são repassados ao mapa. Um dos
últimos processos dessa fase é a identifica-
Posteriormente, realiza-se a checagem de ção das Áreas de Preservação Permanente
campo, quando as propriedades são per-
corridas pelo técnico responsável, acompa-
nhado, se possível, dos proprietários rurais,
parceiros imprescindíveis nesse processo,
que têm muito a colaborar com seu conhe-
cimento do local, do histórico de ocupação
e de degradação, dos aspectos culturais e
educacionais da comunidade, etc.
A checagem de campo consiste em visita
à área de trabalho, tendo em mãos cópia
do mapa, preferencialmente já foto-inter-
pretado, para confirmar as situações iden-
tificadas, detalhá-las com mais precisão e
corrigir eventuais falhas ocorridas durante
a análise das imagens. Essas imperfeições
podem ocorrer devido às alterações de uso
da área posteriores à data das imagens, ou
mesmo a erros de interpretação no momen-
to da análise da foto. Figura 03 – Exemplo de mapa contendo as Áreas
Na checagem de campo, são delimitados e de Preservação Permanente e fragmentos de ve-
avaliados todos os fragmentos florestais re- getação nativa e suas características importantes
para determinar as ações de restauração.
manescentes, as áreas de preservação per-

12 Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola
(Figura 3) e das áreas potenciais para aver- São Áreas de Preservação Permanente, con-
bação como Reserva Legal, bem como os forme a Lei federal nº 4.771, as situadas:
eventuais corredores ecológicos. Para isso, — no topo de morros e montanhas, em áre-
deve-se obedecer aos termos definidos na as delimitadas a partir da curva de nível cor-
legislação ambiental. respondente a dois terços da altura mínima
da elevação em relação à base;
C - A delimitação das Áreas de Pre- — nas linhas de cumeada, em área delimita-
servação Permanente de acordo com a da a partir da curva de nível correspondente
legislação vigente a dois terços da altura, em relação à base, do
pico mais baixo da cumeada, fixando-se a
A definição das Áreas de Preservação Per- curva de nível para cada segmento da linha
manente deve estar de acordo com a legis- de cumeada equivalente a mil metros;
lação ambiental federal e estadual vigentes. — em encosta ou parte desta, com declivi-
Segue abaixo a compilação de trechos da dade superior a cem por cento ou quarenta e
legislação ambiental referentes às APPs. cinco graus na linha de maior declive.
A Figura 4 ilustra de forma simplificada as Demais situações: ver Lei Federal nº 4.771,
situações citadas na Legislação Ambiental. art. 2º.

Figura 4 – Ilustrações e descrições de situações citadas na legislação florestal.

Nascente perene • Nascente perene (quase nunca seca) - a área de


preservação permanente gerada corresponde a um
Córrego perene círculo de 50 metros de raio em relação à nascente.

m • Córrego perene (quase nunca seca) e ribeirões


50
com menos de 10 metros de largura – a área de
preservação permanente gerada corresponde a
uma faixa de 30 metros de largura em cada mar-
gem e ao longo de seu curso.
30m

Lei federal nº 4.771, art.2º

Nascente intemitente • Nascente intermitente (pode secar em algum pe-


ríodo do ano) - a área de preservação permanente
Córrego intemitente gerada corresponde a um círculo de 50 metros de
raio em relação à nascente intermitente.
m
50
• Córrego intermitente (pode secar em alguns perí-
odos do ano) – a área de preservação permanente
gerada corresponde a uma faixa de 30 metros de
largura em cada margem e ao longo de seu curso.
30m

Lei federal nº 4.771, art.2º

Ribeirão
(largura entre • Rio com largura entre 10 e 50 metros - a Área de
50m

Preservação Permanente gerada corresponde a


10 e 50m) uma faixa de 50 metros em cada margem ao longo
de seu curso.
16m

Lei federal nº 4.771, art.2º

Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola 13
• Rio com largura entre 50 e 100 metros - a Área
de Preservação Permanente gerada correspon-

100m
de a uma faixa de 100 metros em cada margem
ao longo de seu curso.

65m
Rio (largura entre
50 e 100m) Lei federal nº 4.771, art.2º

100m
Campo úmido • Nas cabeceiras do campo úmido onde se con-
Limites da figuram várias nascentes dispersas no terreno,
50m cota úmida
a largura da Área de Preservação Permanente
passa a ser de 50 metros.
Cabeceira do
campo úmido Lei federal nº 4.771, art.2º

• Campos úmidos e Florestas Paludícolas – a


Área de Preservação Permanente gerada cor-
responde a uma faixa de 30 m a partir do início
30m da cota seca do terreno.

Represa (área < 20 ha 15m


de espelho d’água)
30m
• Represas com área de espelho d’água inferior a
20 ha – a Área de Preservação Permanente gera-
da é de 15 metros de largura em seu entorno.

Resolução CONAMA nº 302, art. 3º

Represa (área < 20 ha


de espelho d’água - Rios
Paraná e Paranapanema) 100m
• Represas com área de espelho d’água superior
a 20 ha – a Área de Preservação Permanente ge-
rada é de 100 metros de largura em seu entorno.

Resolução CONAMA nº 302, art. 3º

Lagoa de afloramento
de lençol freático • Lagoa de afloramento do lençol freático – la-
goa natural, formada pelo afloramento do lençol
50m

freático em pontos em que o terreno possui uma


cota interior à cota do lençol freático. Esse tipo
de lagoa freqüentemente não possui ligação com
nenhum curso d’água superficial. A Área de Pre-
servação Permanente gerada constitui-se numa
faixa de 50 metros de largura em seu entorno.

Lei federal nº 4.771, art.2º

14 Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola
100m • Nas bordas dos tabuleiros e das chapadas, a
partir da linha de ruptura do relevo – a Área de
Preservação Permanente é em faixa nunca infe-
rior a 100m (cem metros) em projeção horizontal.

Lei federal nº 4.771, art.2º

• Vereda - espaço brejoso ou encharcado, que


m

contém nascentes ou cabeceiras de cursos


100

d´água, onde há ocorrência de solos hidromór-


ficos, caracterizado predominantemente por
renques de buritis do brejo (Mauritia flexuosa) e
outras formas de vegetação típica. A Área de Pre-
servação Permanente gerada constitui-se numa
faixa de 50 metros de largura em seu entorno.

Lei federal nº 4.771, art.2º

2 - Definição das áreas prioritárias que realizam.


para a restauração florestal Dentro dos ambientes ciliares, devem ser
priorizadas, para a restauração, as nascen-
As áreas prioritárias para a restauração são tes dos cursos fluviais, visando a manter a
as Áreas de Preservação Permanente (Figu- quantidade e a qualidade da água na micro-
ra 5), já que são protegidas por lei e, conse- bacia. Além dessas áreas, devem também

Figura 5 - (1) Placa indicando a APP de uma propriedade rural com certificação agrícola em Minas
Gerais. (2) APP de uma propriedade rural de café com certificação agrícola, de MG. Bananeiras ser-
vem como quebra-vento.

Área de Preservação
Permanente

Café Café

Bananeiras

Café

1) 2)

qüentemente, constituem espaços onde po- ser priorizados os locais com elevado po-
dem ocorrer autuações por irregularidades tencial de erosão, que está diretamente re-
ambientais. Do ponto de vista ecológico e lacionado ao tipo de solo e à declividade,
social, o motivo mais importante, porém, sendo potencialmente mais erodíveis os so-
está relacionado ao serviço ambiental vital los com maiores porcentagens de areia em

Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola 15
sua composição e em terrenos com maior
declividade.
Também é necessário realizar ações de res-
tauração para perfazer o percentual mínimo
necessário para compor a Reserva Legal
(20 % da área da propriedade rural)* (Figu-
ra 6). Sugerem-se, para tal fim, a proteção
de remanescentes naturais já existentes e a
restauração de áreas abandonadas, de bai-

Figura 7 – a Reserva Legal pode interligar frag-


Café
mentos florestais próximos, formando corredores
ecológicos. Área localizada em Minas Gerais.
Pastagem

Normalmente, em propriedades onde há


Reserva Legal
rebanhos, deve-se retirar o gado da área e
isolá-la com a construção de cercas (Figu-
ras 8 e 9), evitando-se usar muitos fios de

Quebra-vento

Figura 6 – paisagem típica de MG, mostran-


Cafezal
do uma área agrícola (café e pastagem) e a
Reserva Legal.
Cerca

xa aptidão agrícola, bem como de trechos Reflorestamento

estreitos localizados entre APPs que não


sejam interessantes para o plantio, seja Lago

pela pequena área, seja pelas condições


ambientais. É interessante também alargar
as APPs para a proteção das zonas ripárias Figura 8 – proteção com cerca do plantio para a
das microbacias que, muitas vezes, não es- restauração da APP em uma propriedade rural
de café com certificação agrícola, em MG.
tão protegidas dentro dos limites que a lei
determina. Essa estratégia é recomendável
também sob o ponto de vista da paisagem,
uma vez que auxiliará na formação de cor- 1
redores ecológicos (Figura 7) para o trânsi-
to da biota local.

3 - Reconhecimento das situações


encontradas em propriedades rurais
e descrição das Ações Necessárias 2
para a Restauração das Áreas Natu-
rais Degradadas 3

A - Isolamento e retirada dos fatores de Figura 9 - (1) Reserva Legal de uma proprieda-
degradação de em MG; (2) Cerca garantindo o isolamento e
a proteção da reserva (3) Pastagem.
* Aplicável à região sudeste do Brasil.

16 Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola
arame farpado, para não isolar a fauna sil- recuperação inicial do solo seja realizada
vestre. A presença do gado nas APPs pro- com o plantio de espécies de adubação
move sua degradação, através da dispersão verde, em área adequadamente preparada
de sementes de espécies de gramíneas em para isso (preparo do solo, adubação, con-
seu interior (cuja presença pode favorecer a trole de competidores, etc). Depois dessa
ocorrência de incêndios nos períodos secos primeira ocupação, será realizado o plan-
do ano), da compactação do solo da floresta tio de mudas de espécies arbóreas com a
e da destruição do banco de plântulas. diversidade necessária para a restauração.
Outro fator de impacto bastante dissemina- Normalmente, utilizam-se espécies de
do no Cerrado é o fogo. É conhecido o fato maior rusticidade, tais como o feijão-de-
de que a supressão do fogo em áreas de Cer- porco (Canavalia ensiformis), o nabo-for-
rado favorece o desenvolvimento de espé- rageiro (Raphanus sativus) e a crotalária
cies arbóreas. Nesses casos, acredita-se que (Crotalaria spp.), entre outras.
possa existir uma sucessão do tipo Campo Nas áreas com ravina (erosão linear), onde
sujo – Cerrado sensu stricto – Cerradão. não foi possível a regularização do solo, de-
O fogo “acidental” e recorrente é oriundo verá ser criada uma faixa de proteção, com
da queima como prática agrícola (ex: a co- o plantio de espécies nativas sobre terraços,
lheita de cana-de-açúcar) e devido à seca do com largura mínima de 30m, a partir da bor-
capim das pastagens em época de estiagem. da da ravina (nível regular do solo no entor-
Uma das possibilidades, para o isolamento no). Dessa forma, minimiza-se ou evita-se a
e a retirada desse fator de degradação, é a entrada de água superficial no sistema. Toda
implantação de cinturões de proteção con- a área da faixa de proteção e do interior da
tra incêndios, que consistem em faixas de ravina poderá ser contabilizada como Re-
50m ao redor dos fragmentos. serva Legal, desde que não seja constatado
No entorno desses fragmentos, outros fa- o afloramento do lençol freático, pois, nesta
tores de degradação, que devem ser elimi- condição, o processo erosivo não mais se
nados, são a descarga de águas da chuva, a caracteriza como ravina, e sim como vo-
passagem de canais de resíduos de descas- çoroca. Caso isso ocorra, será criada uma
camento do café no interior das formações nova APP, conforme a legislação vigente.
naturais, a retirada de madeira para lenha ou Deve-se sempre realizar a análise química
cerca, a drenagem de áreas alagadas para do solo, de forma que as deficiências nu-
ocupação agrícola, entre outros. tricionais dele possam ser corrigidas, por
meio da adubação.
B - Adequação do local a restaurar (Re-
cuperação do solo) C - Eliminação seletiva ou desbaste de
competidores
A recuperação do solo pode envolver ações
de natureza física e/ou química. Para isso, Em certas situações, convivem espécies
são necessários estudos quanto à declivi- competidoras altamente agressivas, como
dade, ao grau de erosão, à suscetibilidade as braquiárias (B. decumbens e B. brizan-
à inundação, à pedregosidade, à textura, à tha) — que apresentam processo alelopáti-
presença de lençol freático subsuperficial, co, inibindo a germinação e o crescimento
à produtividade, entre outros aspectos. Nos de outras espécies — e o colonião (Panicum
casos das estradas, por exemplo, devem ser sp.). Nesse caso torna-se necessário o con-
reavaliados os traçados, adequando-as a trole dessas competidoras, como ação com-
curvas de nível e à cota mais próxima ao plementar ao isolamento da área.
limite dos divisores de água. A ação dessas gramíneas pode inibir o de-
Sugere-se que, como método auxiliar, a senvolvimento de regenerantes nas áreas

Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola 17
em que há possibilidade de auto-recupera- de conservação de cada
ção. Um controle inicial dessas gramíneas fragmento, normalmente
pode ser feito com o uso de herbicidas de variando entre 10 e 30m.
baixa toxicidade, como o glifosate (ações Dentro do conceito genérico de
em APP, como a aplicação de herbicida e “competidores”, podem também in-
a sulcagem mecanizada, são proibidas na cluir-se as espécies exóticas arbóreas
legislação e requerem autorizações pré- com ocorrência isolada, como a Santa-
vias do órgão ambiental competente para Bárbara (Melia azedarach) e a Leucena
serem realizadas). (Leucaena leucocephala) (de caráter in-
Normalmente, observam-se, nas bordas de vasor), e mesmo os eucaliptos e os Pinus
remanescentes florestais isolados e bastan- sp. Recomenda-se, nesse caso, a eliminação
te degradados, extensas áreas invadidas por gradual desses indivíduos e sua substituição
gramíneas, na maioria de espécies exóticas, por espécies nativas.
e verdadeiros maciços de trepadeiras que Em áreas de preservação permanente (APP)
recobrem algumas árvores. ocupadas com eucaliptais, o manejo mais
No caso da existência dessas gramíneas adequado, visando à restauração florestal,
nos fragmentos, em geral, favorece-se a é o anelamento gradual dos eucaliptos pre-
ocorrência de incêndios, principalmente sentes na área. Após algum tempo, esses
nos períodos mais secos do ano. Assim, o indivíduos morrem e caem, desencadeando
seu desbaste e a sua eliminação, através de o processo de regeneração natural. O anela-
roçadas periódicas, diminuem a possibili- mento deverá ser realizado apenas em situ-
dade de incêndio e auxiliam na recupera- ações com sub-bosque de espécies nativas
ção desses trechos. bem constituído, que compense aproveitá-
Já as lianas (cipós) são um componente lo na restauração da área, o que é comum
natural das florestas e, em muitos casos, em eucaliptais com mais de 2 anos de idade,
podem apresentar uma riqueza de espécies onde não houve o controle do sub-bosque
ainda maior do que aquela encontrada para por tratos culturais.
o componente arbustivo-arbóreo (Morella-
to, 1991). D - Indução do banco de sementes do
Quando se pensa na preservação e na recu- local (autóctone)
peração de florestas, não se pode restringir
a visão apenas ao estrato arbustivo-arbóreo, Considera-se banco de sementes autóctone
pois todos os componentes da floresta estão aquele estoque de sementes que existe no
intimamente ligados e apresentam variado solo do próprio local a recuperar, a preser-
grau de interdependência. Assim, a prescri- var, a manejar e a incrementar. Determina-
ção pura e simples da eliminação das lia- dos processos de degradação podem elimi-
nas em fragmentos florestais perturbados nar a floresta, sem destruir o potencial de
pode, de um lado, representar a eliminação germinação das espécies que estão estoca-
de grande parte da diversidade vegetal, a das, na forma de sementes, na camada su-
principal característica que se quer preser- perficial do solo.
var, e, do outro, pode comprometer a fau- No processo de sucessão florestal, as espé-
na de polinizadores e a própria reprodução cies que compõem o banco de sementes são,
do componente arbustivo-arbóreo. Deve-se principalmente, aquelas das fases iniciais da
propor o manejo apenas para essas espécies sucessão, que ficam no solo aguardando al-
em desequilíbrio, com a máxima cautela e guma perturbação, que altere as característi-
em pequena escala, apenas no trecho onde cas do ambiente (luz, temperatura e umida-
o desequilíbrio é mais acentuado. A faixa de de), para germinarem e ocuparem aquela
borda a ser manejada dependerá do estado área, de modo a promover a recuperação

18 Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola
da área e a cata- é definido (em função da densidade que se
lisar os processos obteve na germinação do banco), para en-
ecológicos. riquecimento apenas ou para adensamento
Dessa forma, a fim de nas falhas e enriquecimento, ou ainda para
induzir o banco de se- implantação total, nos casos de insucesso da
mentes das espécies que germinação do banco (Figura 10).
interessam para a restaura- É importante lembrar que, para as áreas de
ção da área, basta o revolvi- solo mais arenoso ou de declividade mais
mento e a exposição à luz da acentuada, os riscos de ocorrência da erosão
camada superficial do solo (0 - 5 podem ser muito grandes, após a gradagem
cm). Após algum tempo, pode-se do solo para a indução do banco de semen-
realizar a contagem das plântu- tes. Nessa situação, a prática da indução
las germinadas numa área-piloto e deve ser evitada, já que o prejuízo ambien-
extrapolá-la para toda a área que se tal pode ser maior que o benefício.
pretende recuperar, a fim de verificar Para áreas de Savana Florestada (Cerradão)
a eficiência do método empregado. O e de Floresta Estacional Decidual, também
ideal é preencher a área com mais de não se recomenda a indução, devido à in-
1.000 ind/ha de pioneiras e secundárias certeza da constituição de bancos de se-
iniciais, com espaçamento médio de 3 x 3 mentes na dinâmica dessas formações e à
m ou menor. Quando se obtém uma den- importância da regeneração natural presen-
sidade inferior à desejada, recomenda-se te nessas áreas.
o adensamento dessa área, com o plantio
de espécies pioneiras, nos trechos onde E - Indução e condução da regeneração
não ocorreu a germinação do banco. natural
A prática da indução do banco de semen-
tes das espécies nativas geralmente reduz Conduzir a regeneração natural é um impor-
significativamente o custo da restauração, tante método de restaurar a vegetação nati-
já que cada indivíduo germinado do banco va, devido a seu custo reduzido e à garantia
representa um indivíduo a menos a plan- de preservação do patrimônio genético e de
tar. Em certas áreas, onde existem espé- uma elevada diversidade de espécies no lo-
cies competidoras muito agressivas, como cal restaurado, já que, para a maioria dessas
as braquiárias (Brachiaria spp), a ação de espécies, não há mudas disponíveis. Além
indução do banco de sementes geralmente disso, esse método permite que espécies ar-
é descartada, mesmo quando se dispõe, no bustivas, lianas e herbáceas nativas sejam
banco de sementes, de espécies nativas, incorporadas à área, aumentando a repre-
pois essa ação induziria também a germi- sentatividade florística e genética das for-
nação da competidora, sendo, então, pre- mações vegetais em restauração e garantin-
ferível a prática da implantação total. do, assim, maior probabilidade de sucesso.
Uma prática recomendada é a indução do Conduzir a regeneração natural é um dos
banco de todas as áreas a restaurar. Isso métodos mais indicados para o Cerrado,
pode ser feito como prática de plantio, onde se sabe que existe alto potencial de
apenas revolvendo o solo da área a re- regeneração através de brotação vegetativa.
cuperar com uma gradagem leve, dois Recomenda-se essa ação para as áreas de-
ou três meses antes do plantio, como, gradadas que serão objeto de restauração e
por exemplo, no início de novembro, que expressaram o potencial de regeneração
já nas chuvas. Previamente ao plan- natural, com a ocorrência de indivíduos re-
tio, no final de janeiro, a germina- generantes, após algum tempo de isolamen-
ção do banco é avaliada e o plantio to e da retirada dos fatores de degradação,

Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola 19
Figura 10 – Exemplo de uma APP em que se observa a presença de um banco de
sementes de espécies pioneiras no solo, devido à chegada de sementes vindas de
remanescente florestal próximo. Nessa APP, apesar da existência do banco de pionei-
ras, essas sementes não germinam, por causa do rápido crescimento de capins que,
sombreando o solo, impedem a quebra da dormência das sementes pioneiras. Nessa
situação, uma gradagem leve, expõe as sementes à luz e permite a germinação das
pioneiras (indução do banco).

Pioneiras

Indução do Banco de Sementes alóctone

(gradagem leve)

Trechos sem Regeneração


de gramíneas agressivas

Chuva de Sementes

VEGETAÇÃO
Banco de Sementes
REMANESCENTE

ressaltando que geralmente 6 – 12 meses Na prática, conduz-se a regeneração natural


são suficientes para a expressão — ou não (Figura 11) por meio do controle periódico
— da regeneração natural. Essa expressão de competidores, como plantas invasoras
da regeneração natural é muito comum após (colonião, braquiária, entre outros) e/ou tre-
o isolamento e a retirada do fator de degra- padeiras, em desequilíbrio. Uma ação que
dação em áreas de pastagem, de agricultura tem melhorado o desenvolvimento da rege-
de subsistência, de florestas degradadas por neração natural é a adubação (exceto para
fogo ou por exploração madeireira, ou mes- o Cerrado, onde a condução se restringe ao
mo em áreas agrícolas mais tecnificadas, coroamento dos indivíduos, pois as espécies
vizinhas de fragmentos florestais remanes- dessas formações aparentam não tolerar a
centes, que podem fornecer os propágulos adubação ou não responder a ela), decidi-
para essa regeneração natural, dependendo da com base em parâmetros técnicos. Dessa
da qualidade desse fragmento e da sua posi- forma, fica claro que a regeneração deve ser
ção no relevo em relação à área a restaurar. tratada como se fosse um plantio de mudas,

20 Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola
por semeadura direta de espécies pioneiras
e/ou secundárias iniciais também deve ser
aplicado a casos, em que a germinação do
banco não recobriu a área de modo satisfa-
tório, com vistas a um rápido recobrimento,
para a proteção do solo, como em áreas ins-
táveis, sujeitas à erosão.
Nesse caso, pode ser usado o espaçamen-
to 3 x 2 ou 2 x 2 m entre os indivíduos de
espécies pioneiras e/ou secundárias iniciais,
proporcionando um maior adensamento das
Figura 11- Condução da regeneração natural em plantas (Figura 12).
área isolada, para que se restaure a mata ciliar Já o enriquecimento é usado nas áreas
ocupadas com vegetação nativa, mas que
mas com custo bem inferior. apresentam baixa diversidade florística. Tal
Importante ressaltar que a regeneração situação de baixa diversidade das plantas,
se expressa de modos diferentes nas for- nativas ou restauradas, pode ter várias ori-
mações florestais e nas subformações do gens, como áreas de regeneração natural em
Cerrado. Nas formações florestais, a rege- estádio inicial, ou que se desenvolveram a
neração é predominantemente formada por partir de propágulos de baixa diversidade,
espécies arbustivo-arbóreas, enquanto, no a degradação da vegetação natural pelo
Cerrado, devem ser consideradas desde as extrativismo seletivo, por incêndios, pela
espécies herbáceas até as arbóreas, depen- presença de gado, e por reflorestamentos
dendo da subformação estudada. O fato é com espécies nativas, mas em que se utili-
que, no Cerrado, a regeneração é bem mais zou uma baixa diversidade de espécies no
expressiva que nas formações florestais. O plantio, entre outros fatores. Dessa forma, o
reconhecimento das espécies no processo enriquecimento representa a introdução de
de regeneração auxilia a escolha das mais novas espécies na área, espécies dos está-
adequadas a eventuais adensamentos ou en- dios mais finais de sucessão e/ou das diver-
riquecimentos. sas formas de vida que ocorrem nas forma-
ções vegetacionais, tais como os arbustos,
F - Adensamento e enriquecimento de as lianas, as herbáceas e as epífitas. Essa
espécies prática do enriquecimento pode também ter
o objetivo de contemplar o resgate da diver-
Considera-se adensamento com mudas ou sidade genética, o que pode ser realizado
por semeadura direta, a introdução, na área pela introdução de indivíduos das espécies
a recuperar, de novos indivíduos das espé- já presentes na área, produzidos a partir de
cies pioneiras/secundárias iniciais já exis- propágulos de outros fragmentos de mesmo
tentes no local e cuja densidade se encontra tipo florestal.
abaixo do esperado, em função de poucos O enriquecimento pode ser realizado atra-
indivíduos remanescentes ou da germina- vés do plantio de mudas, da introdução de
ção espacialmente irregular do banco. banco de sementes alóctone (transporte e
Como conseqüência, esse procedimento é distribuição da camada superficial do solo
recomendado para suprir eventuais falhas de uma área nativa a ser alterada por algum
da regeneração natural, ou para realizar o motivo, como mineração, alagamento de
plantio, em áreas de borda ou grandes cla- reservatórios de hidrelétricas, etc.) ou da
reiras, dos fragmentos no estádio inicial de semeadura direta de enriquecimento (méto-
sucessão. O adensamento com mudas ou do ainda em desenvolvimento). Para a in-

Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola 21
Figura 12 - Desenho esquemático do plantio de adensamento com espécies pioneiras e secundárias
iniciais, usando espaçamento 2x2 m e com posterior plantio de enriquecimento com espécies tardias
e clímax, usando espaçamento 6x6 m.

1. Área agrícola abandonada ou pastagem 2. Plantio de adensamento com espécies de


apresentando regeneração natural de espé- rápido crescimento no espaçamento 2x2 m, vi-
cies arbóreas (situação inicial), após ou não sando a garantir o rápido recobrimento do solo;
a indução do banco autóctone.

Legenda:
6m
6m

Gramíneas

Pioneira + sec. inicial + frutíferas atra-


6m

tivas de fauna
6m
6m Indivíduos remanescentes ou germinados
do banco

Secundária inicial + secundárias tardias


6m
+ clímax + diversidade

3. Plantio de eriquecimento, utilizando espécies secundárias iniciais, secundárias tardias e climáceas


ou de diferentes procedências das espécies já existentes, no espaçamento 6x 6m, para aumentar a
diversidade florística

trodução de espécies arbóreas com mudas, as não-regeneradas ou sem potencial de


sugere-se utilizar o espaçamento 6 x 6 m. A regeneração
ação de enriquecimento por semeadura di-
reta em Cerrado não é recomendada, dadas Esse método é normalmente usado nas re-
as particularidades da dinâmica dessa for- giões muito degradadas, com poucos frag-
mação, onde existe, naturalmente, elevada mentos naturais remanescentes na paisa-
formação de indivíduos regenerantes. gem, e nas áreas cujo ecossistema original
É importante ressaltar, que, para o enrique- foi substituído, há muito tempo, por ativi-
cimento, é fundamental a escolha de espé- dades produtivas e/ou ações que utilizam
cies atrativas para a fauna, visando à manu- técnicas de exploração agrícola altamente
tenção e à introdução de polinizadores e de tecnificadas. Nessa situação, elimina-se o
dispersores. Essa escolha pode ser feita com potencial banco de sementes e/ou de plân-
base na Tabela 3 (vide pág. 29), escolhendo- tulas de espécies nativas e, em função do
se espécies sem asterisco. elevado grau de fragmentação da paisa-
gem, reduz-se também a possível chegada
G - Implantação de plantio total em áre- de propágulos das formações vegetacionais

22 Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola
próximas, comprometendo o potencial de
auto-recuperação local.
Antes de intervir-se, no sentido de restau-
rar a vegetação, é essencial buscar conhe- Espécies de
preenchimento
cer qual formação originalmente ocupava
o local, evitando equívocos na escolha das
espécies a usar.
A partir de experiências registradas em li-
teratura, constatou-se que a semeadura e o Espécies de
diversidade
plantio de mudas não apresentaram resulta-
dos satisfatórios para as sub-formações do
Cerrado. Muito da fisiologia de sementes Figura 13 - Diferença de crescimento e de co-
e de mudas e da própria auto-ecologia das bertura de copa entre as linhas de preenchi-
mento (lado esquerdo e lado direito) e a de
espécies desses ecossistemas permanece diversidade (centro).
uma incógnita. Para essas formações, reco-
menda-se, sempre que possível, conduzir, Secundárias Iniciais também fazem parte
inicialmente, a regeneração natural. Dessa desse grupo. Com o rápido recobrimento da
forma, as recomendações desse item devem área, essas espécies criam um ambiente fa-
ser consideradas para as formações flores- vorável ao desenvolvimento dos indivíduos
tais. Para o Cerrado strictu sensu, é impor- do grupo de diversidade e desfavorecem o
tante lembrar que as árvores e os arbustos desenvolvimento de espécies competidoras,
são exigentes em luz e têm crescimento len- como gramíneas e lianas agressivas, através
to, não sendo necessário, portanto, que se do sombreamento da área em processo de
forneça sombra para seu desenvolvimento. recuperação. Outra característica desejável
No plantio em área total, são realizadas das espécies do grupo de preenchimento é
combinações das espécies em módulos ou que elas possuam florescimento e produ-
em grupos de plantio, visando à implanta- ção precoce de sementes. Na Floresta Esta-
ção das espécies dos estádios mais finais cional Semidecidual, para a qual se dispõe
de sucessão (secundárias tardias e clímax), de maiores informações sobre os grupos
conjuntamente com espécies dos estádios ecológicos, o grupo de preenchimento é
mais iniciais de sucessão (pioneiras e se- representado pelas espécies Açoita-cavalo
cundárias iniciais). Assim, compõem-se (Luehea divaricata e L. grandiflora), Al-
unidades sucessionais que resultam em uma godoeiro (Heliocarpus americanus), Ca-
gradual substituição de espécies dos dife- pixingui (Croton floribundus), Crindiúva
rentes grupos ecológicos no tempo, caracte- (Trema micrantha), Fumo-bravo (Solanum
rizando o processo de sucessão (Figura 13). erianthum), Gravitinga (Solanum granulo-
Para a combinação das espécies de diferen- so-leprosum), Ingás (Inga sp.), Manduirana
tes comportamentos (pioneiras, secundárias (Senna macranthera), Monjoleiro (Acacia
e/ou climácicas) ou de diferentes grupos polyphylla), Mutambo (Guazuma ulmifo-
ecológicos, sugere-se a utilização de dois lia), Paineira (Chorisia speciosa), Pata-
grupos funcionais: grupo de preenchimento de-vaca (Bauhinia forficata), Pau-cigarra
e grupo de diversidade. (Senna multijuga), Saguaraji-vermelho
O grupo de preenchimento é constituído por (Colubrina glandulosa), Sangra-d’água
espécies que possuem bom crescimento “e” (Croton urucurana), Tapiá (Alchornea tri-
boa cobertura de copa, proporcionando o rá- plinervia), Timboril (Enterolobium contor-
pido fechamento da área plantada. A maioria tisiliquum e E. timbouva), entre outras.
dessas espécies é classificada como iniciais No grupo de diversidade, incluem-se as
da sucessão (Pioneiras), mas as espécies espécies que não possuem bom crescimen-

Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola 23
to “e/ou” boa cobertura de copa, mas são de Cerrado, constituindo fator complicador
fundamentais para garantir a perpetuação o desconhecimento das formas de obten-
da área plantada, já que as espécies desse ção e de beneficiamento de sementes e de
grupo irão, gradualmente, substituir as do produção de mudas dessa formação natural.
grupo de preenchimento, quando estas en- Propõe-se que haja um fomento regional
trarem em senescência (morte), ocupando na construção de viveiros provisórios, por
definitivamente a área. Incluem-se, nesse meio de organizações sociais dos próprios
grupo, todas as demais espécies regionais produtores rurais, com mudas produzidas a
não pertencentes ao grupo de preenchimen- partir de sementes coletadas nos fragmentos
to, inclusive espécies consideradas pionei- de vegetação, encontrados na própria pro-
ras, mas que não promovem bom sombrea- priedade e/ou na de vizinhos próximos, ou
mento (como as embaúbas) e outras formas ainda compradas de terceiros.
de vida que não as arbóreas, como as ar- O plantio deve ser realizado preferencial-
voretas, os arbustos, as lianas, as epífitas, mente na época chuvosa.
entre outras. Eis, na Figura 14, os modelos de plantio que
É importante monitorar, constantemente, o podem ser utilizados.
desenvolvimento das mudas nas áreas plan- Existem, ainda, vários outros métodos de
tadas, para que ocorra a adequada classifi- combinação de espécies de diferentes gru-
cação das espécies regionais nos grupos de pos sucessionais no campo, que podem ser
preenchimento e de diversidade. usados na restauração dessas áreas. No en-
Com relação ao número de mudas por es- tanto, para que um método de implantação
pécie e à proporção de espécies entre os seja adequado, é necessário que se embase
grupos, considera-se que metade das mudas em princípios que garantam a substituição
utilizadas no plantio deve conter entre 10 gradual de espécies. Isso deve ocorrer com
e 15 espécies do grupo de preenchimento, elevada diversidade de espécies nativas re-
enquanto a outra metade, o máximo pos- gionais, passíveis de implantar no campo,
sível de espécies do grupo da diversidade em pequenas e grandes escalas, e capazes
(no mínimo 70, para o caso da Floresta Es- de promover a mais rápida e eficiente co-
tacional Semidecidual). Em cada um desses bertura da área em processo de restauração,
dois grupos, o número de mudas por espé- reduzindo assim, os custos de manutenção.
cie deve ser o mais igualmente distribuído
possível, evitando-se o plantio de muitas H - Transferência de serapilheira e banco
mudas de poucas espécies. As espécies den- de sementes alóctone
tro de cada grupo devem ser plantadas de
forma misturada, evitando-se colocar indi- Essa ação tem sido muito testada atualmen-
víduos da mesma espécie muito próximos te, em especial em áreas de restauração,
uns dos outros. cujo fator de degradação tenha sido a mine-
ração, e tem se mostrado muito promissora
Exemplo: para ocupar áreas onde o substrato foi muito
alterado, apesar de seu custo elevado.
- Plantio de 10.000 mudas:
5.000 mudas (Preenchimento) → 15 es- I - Transplante de plântulas e/ou indiví-
pécies → 333 mudas por espécie duos jovens alóctones
5.000 mudas (Diversidade) → 75 espé-
cies → 67 mudas por espécie. O transplante de plântulas e/ou indivíduos
Normalmente, encontram-se poucos vivei- jovens alóctones, isto é, o resgate e a trans-
ros com grande riqueza de espécies, espe- ferência de mudas nativas, consiste em
cialmente os que trabalham com espécies retirar as plântulas que germinam natural-

24 Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola
Figura 14 – modelos de plantio que podem ser utilizados para restaurar a APP, considerando os gru-
pos das linhas de preenchimento e de diversidade

Grupo de Preenchimento (P)

----------------------------------------------------------------------

Grupo de Densidade (D)


----------------------------------------------------------------------

A vantagem do modelo A; A operacionaliza-----------------------------------------------------------------------


ção é mais fácil e com menor probabilidade ----------------------------------------------------------------------
de erro. ----------------------------------------------------------------------
3m
----------------------------------------------------------------------
Vantagens dos modelos B e C: menor compe- 2m
--------------------------------------------------------------------
tição entre as espécies de preenchimento e ----------------------------------------------------------------------
curso d’água
de diversidade, já que as mudas estão sepa-
----------------------------------------------------------------------
radas por, no mínimo, 3m de distância umas ----------------------------------------------------------------------
3m
das outras, o que resulta no sombreamento A - 2x3 Em linhas de P e D ou P e NP
3m
mais rápido da área e consequentemente re---------------------------------------------------------------------
2m
2m
duz os custos da manutenção do plantio. curso d’água
--------------------------------------------------------------------
---------------------------------------------------------------------- curso d’água
----------------------------------------------------------------------

---------------------------------------------------------------------- ----------------------------------------------------------------------

---------------------------------------------------------------------- ----------------------------------------------------------------------
---------------------------------------------------------------------- ----------------------------------------------------------------------
---------------------------------------------------------------------- ----------------------------------------------------------------------

3m 3m

----------------------------------------------------------------------
2m ----------------------------------------------------------------------
----------------------------------------------------------------------
----------------------------------------------------------------------
2m
----------------------------------------------------------------------
----------------------------------------------------------------------
curso d’água curso d’água

---------------------------------------------------------------------- ----------------------------------------------------------------------
---------------------------------------------------------------------- ----------------------------------------------------------------------

3m 3m 3m 3m

2m 2m 2m 2m
----------------------------------------------------------------------
---------------------------------------------------------------------- ----------------------------------------------------------------------
----------------------------------------------------------------------
curso d’água curso d’água curso d’água curso d’água

B - 2x3 Simples C - 2x3 Alternado

mente, dentro ou no entorno de fragmen- de sementes e com bastante cautela, espe-


tos florestais, ou ainda dentro de talhões de cialmente quando as mudas se encontram
eucalipto ou outras áreas, e levá-las para dentro de fragmentos naturais, para evitar
adaptarem-se em viveiro para posterior uti- qualquer degradação.
lização em áreas a restaurar (Figura 15). O Na prática, é recomendado que se traba-
ambiente onde as mudas são encontradas lhem desde plântulas até indivíduos juvenis
funciona como uma grande sementeira, ou com 40 cm de altura. Indivíduos com mais
canteiro de semeadura natural, no qual a de 40 cm de altura exigem grande esforço
natureza se encarrega de criar as condições para a sua retirada, poda drástica de suas
necessárias para a germinação e a manu- raízes, maiores custos de transporte e reci-
tenção dessas plantas. pientes grandes no viveiro, inviabilizando
A utilização dessa técnica pode elevar a di- a sua utilização para recuperar áreas que
versidade florística das mudas produzidas exigem um grande número de mudas. Tra-
no viveiro, principalmente para as espécies balhos atuais mostram que a porcentagem
de difícil coleta de sementes e/ou produção média de pegamento das espécies fica em
de mudas; porém esse método deve ser usa- torno de 80%, podendo variar de acordo
do apenas como complementação da coleta com a espécie, o tamanho do indivíduo e as

Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola 25
Figura 15 – Desenho esquemático da transferência de mudas.

Transplante de plântulas do sub- Primeiro trnasferência para o


bosque de florestas que serão viveiro e depois para o campo
cortadas ou talhões de eucalipto
para áreas degradadas

A) B)

C) D)

técnicas utilizadas. Poda das folhas: devido ao desequilíbrio


Da mesma forma que na coleta de sementes, hídrico da planta, causado pelo trauma da
o procedimento adequado é resgatar as mu- raiz, ao ser retirada do solo, é recomendado
das em um mínimo de 12 locais diferentes que se corte 50% de cada folha. O corte das
e em fragmentos relativamente bem conser- folhas também é muito útil para acompa-
vados. Com isso, espera-se que a coleta seja nhar o desenvolvimento das mudas no vi-
representativa de 48 indivíduos (tamanho veiro, ficando fácil a visualização das novas
efetivo = 48), o que garantirá uma amostra folhas emitidas pela planta;
significativa da população.
Para executar-se, com sucesso, essa ativi- Transporte para o viveiro: assim que
dade, seguem algumas recomendações bá- retiradas do solo, as mudas devem ser
sicas, que garantem maior porcentagem de acondicionadas em recipientes com água
pegamento das mudas transplantadas: ou com grande umidade, como sacos plás-
ticos fechados com um pouco de água. As
Retirada do local de origem: retirada mudas devem ser levadas sem muita de-
da muda com bastante cuidado, evitando mora ao viveiro, onde serão separadas por
a quebra de raízes. Isso pode ser feito com espécie e, em seguida, repicadas em reci-
o auxílio de uma pá de jardinagem ou uma pientes definitivos;
faca. Em seguida, deve-se realizar o destor-
roamento, até a planta ficar com a raiz nua; Repicagem das mudas: chama-se repi-

26 Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola
cagem a atividade de passar as mudas para emissão de folhagem nova e, dependendo da
o recipiente definitivo no viveiro. Ela deve espécie e da época do ano, pode estar pronta
ser realizada sempre sob sombrite. Nessa para ser levada para o campo em menos de
etapa, devem-se tomar alguns cuidados, um mês; geralmente, todavia, leva de dois a
porque muitas raízes, no caso das mais três meses para estar prontas. A rustificação
compridas, crescem tortas em ambiente na- é etapa necessária para aumentar a porcen-
tural e devem ser podadas para se acomodar tagem de pegamento na área de plantio e é
nos saquinhos. Na acomodação da raiz no realizada apenas com a retirada do sombrite
saquinho, deve-se cuidar para que a raiz não e a diminuição gradativa das regas e da adu-
fique dobrada, nem forme bolsas de ar entre bação nitrogenada.
si e o substrato usado;
A (Figura 16) mostra uma seqüência ilustra-
Tratos culturais: os tratos, realizados no tiva da atividade de resgate de plântulas.
viveiro, para as mudas resgatadas são os Esse método é de grande importância, por-
mesmos utilizados para as mudas comuns, que garante o resgate do material genético
como regas freqüentes, controle de dani- regional, recomendando-se, principalmen-
nhas, adubação, etc; te, em empreendimentos com áreas que se-
rão desmatadas e cuja compensação se fará
Desenvolvimento e rustificação: o de- em áreas adjacentes, como as áreas a serem
senvolvimento pode ser observado pela mineradas, construções de estradas, etc.

Figura 16 - Seqüência de etapas do resgate de plântulas

A) retirada da plântula com o auxilio da pá B) separação por espécie

C) armazenamento em baldes com água D) repicagem em viveiro

Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola 27
Outra vantagem desse método, em relação Para as áreas de restauração no ambiente
à tradicional coleta de sementes, é a faci- ciliar, dadas a importância ambiental dessa
lidade de obter-se uma grande diversida- unidade da paisagem e sua restrição legal,
de de espécies. Em trabalho realizado por defendemos, neste livro, que o possível
Nave (2005), encontraram-se cerca de 100 aproveitamento econômico desse ambiente
espécies arbustivo-arbóreas, num período ciliar se restrinja apenas aos pequenos agri-
de três dias, em área amostrada de um frag- cultores familiares, permitindo-se somente
mento em Ribeirão Grande-SP. A maioria o manejo de baixo impacto, em comunida-
dessas espécies apresenta sementes difíceis de de alta diversidade, voltado para espécies
de colher, seja pela baixa produção natural, vegetais de interesse medicinal e/ou melífe-
seja pela localização, entre outros fatores. ro e para frutíferas nativas.
O método possibilita, ainda, obter mudas
de espécies cuja produção de sementes é L - Plantio de espécies agrícolas na entre-
bianual, ou de espécies cuja época de pro- linha, como estratégia de manutenção da
dução de sementes já ocorreu, no momento área restaurada
da demanda.
Em comparação ao método tradicional de Essa ocupação das entrelinhas deve ser
coleta de sementes, o transplante de mudas fundamentada nos princípios da agroeco-
pula uma fase complicada e onerosa,porque logia, ou seja, que visem ao equilíbrio dos
a falta de informações básicas, como ponto ecossistemas, da biodiversidade e a justas
de maturação, beneficiamento, armazena- condições sociais (Figura 17). Além da
mento e quebra de dormência, dificultam produção de alimentos pelos pequenos pro-
demais a produção de mudas. Isso faz com dutores, esses plantios podem ter a função
que a diversidade de espécies encontradas de diminuir a capina de plantas invasoras
na maioria dos viveiros de nativas ainda es- em grandes áreas de restauração e de con-
teja muito abaixo do desejado. servação da biodiversidade crioula, que in-
clui variedades rústicas de milho, feijão e
J - Implantação de mudas de espécies de outras plantas.
frutíferas para atrair dispersores
M - Conversão da floresta exótica (Euca-
Uma importante forma de acelerar o pro- lipto, Pinus, etc.) em floresta nativa
cesso de recuperação num dado local,
quando existe nas proximidades da área Em APPs ocupadas com maciços de espécies
de recuperação um remanescente florestal, florestais exóticas (pinus, eucaliptos, etc.),
é a implantação de fontes de alimentação o manejo mais adequado para a restauração
que atraiam animais dispersores, princi- florestal é a retirada total ou gradual dos in-
palmente aves e morcegos, da floresta vi- divíduos de espécies exóticas (condução da
zinha para a própria área de recuperação, regeneração natural, geralmente abundante
trazendo, assim, sementes e propágulos de no sub-bosque dessas plantações, dadas as
outras espécies e, como decorrência, incre- características dessa cultura: baixo uso de
mentando a diversidade. herbicidas e ciclo longo, 7 anos ou mais). A
A Tabela 3 apresenta uma listagem de es- retirada gradual dos indivíduos de espécies
pécies frutíferas que podem ser usadas para exóticas pode ser feita através, por exem-
atrair dispersores. plo, do anelamento gradual dos indivíduos
de eucaliptos em APP, que consiste na reti-
K - Introdução de espécies de interesse rada de uma parte da seção transversal onde
econômico se encontra o floema (casca), impedindo,
assim, a condução, para as raízes da plan-

28 Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola
ta, de seiva elaborada. Após algum tempo, O anelamento deve ser realizado em três
o indivíduo morre, desencadeando o pro- ou quatro anos, aplicando-se, a cada ano, o
cesso de regeneração natural sob o local. procedimento a 1/3 ou a 1/4 dos indivídu-
Tabela 03 - Listagem de espécies atrativas de dispersores.

Família Nome Científico Nome vulgar Tipo Nativa consumidores

Anacardiaceae Tapirira guianensis Peito-de-pomba frutos sim aves

Annonaceae Rollinia sylvatica Araticum frutos sim aves, macacos


Pindaíba,
Annonaceae Xylopia spp. frutos sim aves
Pimenta-de-macaco
Dendropanax
Araliaceae Maria-mole frutos sim aves
cuneatum
Araliaceae Shefflera morototoni Mandioqueira frutos sim aves
Syagrus
Arecaceae Jerivá frutos sim aves
romanzofianum
Burseraceae Protium almecega Almíscar frutos sim aves
Crindiúva,
Cannabaceae Trema micrantha* frutos sim aves
Pau-pólvora
Callophylum
Clusiaceae Guanandi frutos sim morcegos
brasiliensis
Euphorbiaceae Pera glabrata Tamanqueira sim aves
Fabaceae Andira spp. Morcegueira frutos Sim morcegos
Fabaceae Copaifera langsdorffii Pau-de-óleo, Copaíba sementes (arilo) sim aves
Fabaceae Erythrina spp. Mulungu flores sim aves (beija- flores)
Fabaceae Hymenaea courbaril Jatobá frutos sim macacos, roedores
Fabaceae Inga spp.* Ingá frutos sim aves
Flacourtiaceae Casearia spp. Espeteiros frutos sim aves
Flacourtiaceae Casearia sylvestris* Guaçatonga frutos sim aves
Lauraceae Ocotea spp. Canelas frutos sim aves
Magnoliaceae Magnolia ovata Pinha-do-brejo sim aves
Miristicaceae Virola sebifera Bicuíba frutos sim aves
Moraceae Ficus spp. Figueira frutos sim aves
Moraceae Maclura tinctoria Taiúva frutos sim aves
Myrsinaceae Myrsine spp. Capororoca frutos sim aves
Myrtaceae Eugenia spp. frutos sim aves, peixes
Myrtaceae Marlierea edulis Cambucá frutos sim aves, peixes
Myrtaceae Myrcia spp. Cambuci frutos sim aves
Rhamnaceae Colubrina glandulosa* Saguaragi-vermelho frutos sim aves
Rhamnidium
Rhamnaceae Saguaragi-amarelo frutos sim aves
elaeocarpum*
Rubiaceae Alibertia sessilis Marmelo-do-cerrado frutos sim mamíferos
Rubiaceae Genipa americana* Jenipapo frutos sim peixes
Rutaceae Zanthoxyllum spp. Mamica-de-porca frutos sim aves
Chal-chal, Fruta-de-
Sapindaceae Allophylus edulis frutos sim aves
faraó
Solanaceae Solanum lycocarpum Lobeira frutos Sim mamíferos
Cecropia
Urticaceae Embaúba-branca frutos sim aves, macacos
pachystachya*
Verbenaceae Aegiphila lhotzkiana* Pau-de-papagaio frutos sim aves
Verbenaceae Vitex spp. Tarumãs frutos sim aves

* Espécies de rápido crescimento, recomendadas para a ação de adensamento.

Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola 29
espécies nativas bem constituído, as quais
compense aproveitar na restauração da área,
o que é comum, principalmente em eucalip-
tais com mais de dois anos de idade, onde
não houve o controle desse sub-bosque por
tratos culturais. Em eucaliptais mais velhos,
onde não haja regeneração abundante, o que
é raro, os eucaliptos devem ser retirados, a
madeira pode ser aproveitada e, então, im-
plantam-se as espécies arbóreas nativas.
A retirada dos eucaliptos em faixas consiste
no corte de um terço das linhas de plantio
por ano, tomando-se o cuidado de concen-
Figura 17 - Plantio de espécies nativas para a
trar o impacto da queda dessas árvores sobre
recuperação da Área de Preservação Perma-
nente: abóboras plantadas nas entrelinhas a linha que está sendo retirada (Figura 18).
Como medida complementar à morte em pé
os, escolhidos aleatoriamente ou de forma de árvores exóticas, nas situações de regene-
regular, por toda a área a manejar. Cabe res- ração natural intensa, ou nos casos em que
saltar que o anelamento deverá ser realiza- não interesse a manutenção dessas árvores
do apenas em situações com sub-bosque de na área em recuperação, será adotado o corte

Figura 18 – Processo de retirada de 1/3 dos indivíduos comerciais (plantios de eucalipto ou pinus) a
cada ano.

A) B) C)

D) E)

30 Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola
de baixo impacto do eucalipto (Figura 19).

Figura 19 – Esquema de corte de baixo impacto. As setas indicam o sentido da queda dos eucaliptos.

Entrelinhas para queda de eucalipto


Entrelinhas sem queda de eucalipto
(com regeneração natural conservada)

Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola 31
Procedimentos operacionais envolvidos no plantio de espécies
arbóreas nativas em área total e na condução da regeneração natural

A aplicação não deve ser realizada em dias


Seqüência operacional de chuvosos e as iscas não devem ser distribu-
implantação ídas sobre o solo úmido.
— Controle inicial de pré-plantio: deve ser
realizado 30 dias antes do plantio e de qual-
1 - Controle de formigas cortadeiras quer intervenção na área (controle do mato,
preparo do solo, abertura de covas, etc),
A - Controle químico operando-se a aplicação de forma sistemá-
tica (10 gramas a cada 3m x 10m) pela área
É realizado com iscas granuladas, à base e diretamente junto aos olheiros (20 gramas
de Sulfluramida ou Fipronil, que devem ser por olheiro e 10 gramas por m2 de terra sol-
distribuídas pela área, para que as próprias ta em volta dos formigueiros);
formigas as levem ao interior do formiguei- — Controle de plantio: deve ser realizado
ro. Trata-se do método mais utilizado atual- de 5 a 7 dias antes do plantio e com um re-
mente em florestas, devido à facilidade de passe logo após a implantação das mudas;
aplicação, à baixa toxicidade e, principal- — Repasses de manutenção (pós-plantio): de-
mente, aos bons resultados de controle ob- vem ser realizados periodicamente, até o se-
tidos. A utilização dos MIPs apresenta um gundo ano após o plantio das mudas. Nos pri-
rendimento operacional maior e uma melhor meiros 2 meses, deve-se realizar esse controle
ergonomia, devido à forma de distribuição a cada 15 dias e, após esse período, a cada 2
das iscas pela área (Figuras 20 e 21). meses. Nessa fase, o controle deve ser feito de
forma sistemática, somente nas vizinhanças
das mudas cortadas e próximo aos olheiros e
de acordo com o nível de infestações.

B - Métodos de controle alternativos

Caso sejam utilizados tais métodos, aten-


ção especial deve ser dada à verificação da
eficiência de controle do método escolhido,
já que essas técnicas costumam ser menos
agressivas contra as formigas.
Figura 20 - Controle de formigas cortadeiras — Destruição do ninho: dentre as formigas
pela distribuição de MIPs pela área. cortadeiras, as quenquéns são as de mais
fácil controle, bastando localizar-lhes o ni-
nho, desenterrá-lo (o ninho é superficial)
e destruir seu interior, o qual contém uma
massa branca constituída de ovos. No caso
das saúvas, pode-se cavar e destruir a co-
lônia no início de seu estabelecimento, em
sauveiros com até um ano de idade;
— Injeção de gases ou de água: pode-se
viabilizar o controle por meio da injeção,
nos olheiros, de grande volume de água, de
gás de cozinha ou de gás de escapamento
de trator;
Figura 21 - Controle de formigas cortadeiras — Utilização de matérias-primas vegetais:
pela distribuição de MIPs pela área.
por exemplo, o uso de folhas de mamona ou

32 Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola
de gergelim, que são prejudiciais ao fungo equipado com roçadeira central de trans-
do qual a formiga se alimenta, já existindo missão direta). Em todos esses casos, deve-
no mercado produtos comerciais fabricados se ter especial cuidado para não danificar a
com base nessas plantas; regeneração natural, já que cada indivíduo
— Formicidas não-químicos: por exemplo, regenerante preservado representa uma
os formicidas à base de rotenona (timbó) e muda a menos a ser plantada.
a isca granulada Macex®, a qual é produzi- É preciso atentar, também, para as subforma-
da com extratos naturais da flora brasileira ções campestres nativas do Cerrado, no qual
e polpa de maçã. ocorrem espécies herbáceas nativas (como
gramíneas e ciperáceas). Nessas áreas, não
2- Limpeza geral da área se deve realizar o controle das herbáceas,
visto representarem o principal componente
Essa atividade deve ser realizada, de prefe- vegetal desses tipos de vegetação.
rência, 15 dias antes do plantio, visando a
diminuir a altura e o volume das espécies 3 - Incorporação de resíduos
competidoras (principalmente das gramí-
neas exóticas invasoras agressivas), o que Nas situações em que a camada de resídu-
torna mais eficientes a aplicação do herbi- os não é muito espessa, deve-se promover
cida (normalmente glifosate) e a utilização a incorporação da palhada pela gradagem
de outros métodos de controle de competi- leve; já nas situações de muita massa vege-
dores. Essa atividade diz respeito ao contro- tal (restos de cana-de-açúcar, restos de ca-
le de gramíneas, principalmente nos casos pim-colonião, por exemplo), recomenda-se
de plantio em área total, mas também aos o emprego de grade pesada, devendo-se dar
casos de controle de cipós em florestas de- tantas passadas quantas forem necessárias
gradadas e à condução da regeneração na- para a completa incorporação. (Figura 23).
tural. Pode ser realizada de forma manual
(com foice – Figura 22), semi-mecanizada 4 - Aplicação de herbicida (glifosate)

Figura 22 - Controle de cipós em desequilíbrio, com o uso de foice (A) durante a limpeza da área.
Após a morte dessas plantas (B), a execução das demais atividades de restauração é facilitada.

A) B)

(por um operador equipado com uma moto- Deve ser realizada de 15 a 30 dias após a
roçadeira costal) e mecanizada (utilizando- roçada, quando o mato já tiver rebrotado.
se um trator de 50HP ou de maior potência, A dosagem de herbicida precisa ser maior,

Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola 33
Figura 23 - Incorporação de resíduos com gradagem leve (A) e pesada (B).

A) B)

quando se pretende controlar a braquiária regenerantes do contato com o herbicida:


(glifosate - 3,5 litros/ha), enquanto, para — Costal: recomenda-se essa modalidade
as outras espécies invasoras, precisa con- de aplicação de herbicida (Figuras 24 e 25)
formar-se às indicações do fabricante do para locais com restrição à aplicação me-
herbicida para cada espécie em particular. canizada, como áreas com declive muito
No caso de APPs, devem-se consultar os ór- acentuado, ou com elevada densidade de in-
gãos ambientais responsáveis, para definir divíduos regenerantes de espécies nativas;
os produtos de uso permitido, evitando-se — Tratorizada com barra de pulverização:
o risco de autuações. Novamente é preciso recomenda-se essa modalidade de aplica-
ressaltar que, em formações originalmente ção para áreas planas, que não possuam

Figuras 24 e 25- Aplicação de herbicida com pulverizador costal.

Figuras 24 Figuras 25

ocupadas por vegetação nativa herbácea, regeneração natural (Figura 26), ou que a
esse controle não deve ser realizado. possuam escassa;
A aplicação pode ser operada das seguintes — Tratorizada com mangueiras de pulve-
formas, sempre protegendo os indivíduos rização: recomenda-se essa forma de apli-

34 Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola
Figura 26 - Área 15 dias depois de roçada, apresentando grande rebrota de gramíneas (A), e a mes-
ma área 15 dias após a aplicação de herbicida (B).

A) B)

cação para áreas com declividade superior, to favorecido por um eventual revolvimento
mas que apresentem acessos por onde o do solo. Sempre que possível, sugere-se ado-
trator se possa deslocar, chegando até de- tar o sistema de cultivo mínimo. Em áreas de
terminado ponto em que solte as manguei- Cerrado, é recomendável o mínimo revolvi-
ras para os aplicadores. Também é reco- mento do solo, dada sua fragilidade.
mendada no controle de competidores em
áreas de condução da regeneração natural A - Abertura de linhas de plantio por sub-
(Figuras 27 e 28). solagem

Figuras 27 e 28 - Aplicação de herbicida com a utilização de mangueiras.

Figuras 27 Figuras 28

5 - Abertura de covas
O método mais recomendado para abrir li-
Essa atividade preparatória para o plantio nhas de plantio é usar o subsolador. A sub-
deve ser feita apenas após o combate inicial a solagem tem, como objetivo principal, pro-
plantas daninhas e/ou invasoras, pois muitas mover o rompimento de eventuais camadas
dessas espécies podem ter o desenvolvimen- compactadas do solo, na profundidade mí-

Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola 35
nima de 30 cm em solos arenosos e de 40 essa função.
cm em solos argilosos. O sulco resultante é, Para evitar o espelhamento do solo e a
portanto, a linha de plantio. É a principal in- formação de torrões, deve-se evitar a sub-
dicação para plantios de mudas em tubete. solagem em períodos extremamente chu-
Nos casos de mudas em saquinho, eventual- vosos ou secos, principalmente em solos
mente, complementa-se a abertura da cova mais argilosos.
com enxadão. Recomenda-se a utilização de Outra opção para a abertura de linhas de
subsolador de uma única haste (Figura 29). plantio é a utilização do arado de aiveca

Figura 29 - Área com o mato já seco, após a aplicação do herbicida, sendo preparada para o plantio
com um subsolador florestal (A) e técnico medindo a profundidade de subsolagem com uma haste
de ferro (B).

A) B)

A subsolagem deve ser feita sempre no ní- (Figura 31). Esse implemento inverte a lei-
vel do terreno (Figura 30 A). O subsolador va do solo, retirando, da linha de plantio, o
deve ser equipado com um disco dianteiro banco de sementes de plantas daninhas, o
para o corte de resíduos (Figura 30 B) e que diminui a infestação futura desse local.
também, se possível, com um rolo destorro-
ador ou com discos de grade adaptados para B - Broca perfuratriz

Figura 30 - Uso de um pedaço de madeira com uma corrente em sua extremidade para a orientação
da subsolagem em relação à linha adjacente (A) e disco de corte do subsolador cortando a palhada
já seca (B).

A) B)

36 Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola
netração das raízes. Para diminuir o espe-
lhamento, recomenda-se a escarificação nas
paredes das covas, com o uso de ferramenta
tipo “vanga”.

C - Abertura manual de covas

Indicada para áreas inclinadas ou com


grande quantidade de indivíduos regene-
rantes que impedem a mecanização. Pode
Figura 31 - Utilização do arado de aiveca para ser realizada com enxadão (Figura 33) ou
a abertura de linhas de plantio. cavadeira, embora o uso de enxadão apre-
sente melhor rendimento. As covas devem
ter dimensões mínimas de 40 cm x 40 cm x
Essa técnica só deve ser utilizada no caso da 40 cm, mas, em caso de solo compactado,
impossibilidade de sulcagem com o subso- devem-se aumentar as dimensões mínimas
lador. É realizada com um trator 80HP, ou para 50 cm.
de maior potência, equipado com uma broca
perfuratriz (o mesmo implemento empre- 6 - Coroamento
gado na abertura de covas para mourões de
cerca, porém com brocas de diâmetro supe- O coroamento consiste na remoção (ma-
rior a trinta centímetros e com perfuração do nual) ou no controle (químico) de toda e
solo no mínimo de quarenta centímetros). qualquer vegetação, em um raio de, no mí-
Também há a possibilidade de utilizar-se nimo, 50 cm ao redor da muda ou do indi-
uma moto-coveadora (Figura 32). Todavia víduo regenerante.

Figura 32 - Aspecto de uma motocoveadora (A) e abertura de cova com motocoveadora (B).

A) B)

não se recomenda a utilização desses equi- A - Coroamento manual


pamentos em solos pedregosos.
O principal cuidado nesse tipo de abertura O coroamento manual deve ser realizado
de covas refere-se ao possível espelhamen- com enxada, removendo-se o mato a uma
to (formação de uma camada compactada profundidade de cerca de 5 cm no solo, a
nas paredes da cova), que não permite a pe- fim de diminuir a rebrota (Figura 34).

Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola 37
Figura 33 - Abertura de covas com enxadão (A) e aspecto da cova aberta (B).

A) B)

B - Coroamento químico bico especial para essa atividade (esses bi-


cos geralmente distribuem a calda em go-
O coroamento químico consiste na aplica- tas maiores e em jato dirigido, reduzindo a
ção de herbicida (glifosate), diluído a 1% deriva do produto).

Figura 34 - Coroamento de um indivíduo regenerante com enxada (A) e indivíduo coroado (B) em
áreas de condução da regeneração natural.

A) B)

e com a utilização de pulverizador costal, 7 - Calagem


em um raio de cinqüenta a cem centímetros
ao redor da planta. É recomendado para in- A aplicação de calcário constitui prática
divíduos regenerantes ou para mudas com fundamental, quando os teores de Ca e Mg
porte maior (acima de 50 cm de altura), de trocáveis no solo forem muito baixos. No
forma a evitar o contato do herbicida com caso de reflorestamentos, o objetivo prin-
os mesmos. Preferencialmente, devem-se cipal da calagem não é elevar o pH, mas,
utilizar métodos antideriva, como o cha- sim, aumentar as disponibilidades de Ca e
péu de Napoleão (estrutura plástica que Mg para as mudas. Dessa forma, pode-se
envolve o bico do pulverizador) ou um determinar a dosagem de calcário a aplicar,

38 Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola
em função dos teores desses nutrientes, ve- de 200 gramas/cova de fertilizante N:P:K
rificados a partir de análises do solo. 06:30:06, ou outro equivalente, com eleva-
O cálculo da dose de calcário a aplicar deve do teor de fósforo (P) (Figura 35).
ter, como base, o teor médio de Ca trocável,
na camada de 0-20 cm de solo, sendo ideais B - Orgânica

Figura 35 - Utilização de um copo dosador para medir a quantidade de adubo a aplicar (A) e as-
pecto do adubo no fundo da cova (B).

A) B)

os valores iguais ou superiores a 7mmol/ Recomenda-se a utilização de 5 a 10 litros


dm3. Para cada 1 mmol/dm3 de Ca que se de esterco de curral bem curtido, que deve
deseja elevar, devem-se aplicar 250 kg/ha ser misturado à terra que vai preencher a
de calcário (30% de CaO). A aplicação de- cova. No caso da utilização de esterco de
verá ser feita a lanço, em área total ou em granja (frango), essa dosagem deve ser
faixas, nas linhas ou entre as linhas de plan- reduzida a 1/3 desse volume. É o tipo de
tio, de preferência antes do plantio ou nos adubação recomendado para o Cerrado.
primeiros seis meses pós-plantio. Nas áreas
com baixos teores de Ca e Mg trocáveis e 9 - Plantio
que não permitem a mecanização (possuem
elevada regeneração natural ou estão loca- A - Plantio manual
lizadas em áreas de maior declividade), a
aplicação de calcário poderá ser realizada Conforme já discutido, diferentes modelos de
diretamente no fundo, ou ao redor, da cova plantio podem ser adotados para a implanta-
de plantio das mudas, utilizando-se de 200 ção de mudas em área total (Figura 36).
a 300 gramas por cova. A muda deve ser colocada no centro da
cova, mantendo-se o colo um pouco abai-
8 - Adubação de base (na cova) xo do solo, o qual deve ser levemente com-
pactado (para tanto, o plantador usa seu
A - Química (exceto para o Cerrado) pé). A construção de uma pequena bacia
ao redor da muda auxilia muito a retenção
Vários trabalhos têm demonstrado que as de água no local, principalmente nos casos
espécies florestais nativas respondem bem que demandam irrigação.
à adubação. O fertilizante a utilizar deverá
ser misturado previamente ao solo, pouco B - Plantio com plantadora manual
antes do plantio. Sugere-se a utilização Para as áreas de plantio total, cujo solo foi

Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola 39
Figura 36 - Plantio de mudas em linhas de preenchimento e de diversidade (A), e com distribuição
aleatória das espécies (B).

A) B)

preparado por meio da subsolagem da linha bém, mais 3 irrigações até o estabelecimen-
de plantio e no qual serão utilizadas mu- to das mudas e sempre que se detectar o
das em tubetes, há a opção de utilizar-se a murchamento das espécies mais sensíveis.
plantadora manual. Esse equipamento é O planejamento da irrigação é imprescin-
constituído por um tubo de inox com pon- dível, quando se realiza o plantio no final
ta cônica, o qual se abre, quando acionado do período chuvoso ou durante a estação
por um gatilho. Esse equipamento propor- seca. Nesses casos, pode-se optar pela uti-
ciona uma melhor ergonomia de trabalho lização de hidrogel (Figura 40), substância
e um melhor rendimento da operação de que retém a umidade ao redor das mudas
plantio, já que o plantador não necessita se por um tempo maior.
agachar para efetuar o plantio. Trabalhando
em pé, a pessoa introduz, no solo, a ponta 11 - Replantio
cônica do tubo e depois coloca a muda, já
fora do tubete, dentro desse tubo. Quando O replantio consiste na reposição, aos 60
a planta chega ao final do tubo, é acionado dias depois do plantio, das mudas que mor-
o gatilho que abrirá a ponta cônica, deixan- reram, devendo ser realizado sempre que a
do a muda cair, já na profundidade ideal de mortalidade for superior a 5%. A muda a
plantio. Em seguida, com o pé, o plantador ser replantada deve exercer a mesma fun-
deve compactar levemente a terra ao redor ção, no processo de restauração, daquela
da muda (Figura 37). que morreu. A irrigação dessas mudas deve
usar de 4 a 5 litros de água por cova.
10 - Irrigação
12 - Adubação de cobertura
As mudas devem ser irrigadas com 4 ou 5
litros de água por cova, logo após o plan- A - Química (exceto Cerrado)
tio, caso o solo não esteja úmido. Para
isso, pode-se utilizar um regador, em áreas O número de adubações será definido con-
pequenas (Figura 38), ou um tanque pipa, forme determinado em cada projeto, de
acoplado a um trator com mangueiras para acordo com as necessidades do solo do lo-
a irrigação (Figura 39), em áreas maiores. cal, devendo a primeira adubação de cober-
Quando se tem acesso à água próximo ao tura ser realizada aos 30 dias pós-plantio.
reflorestamento, pode-se também utilizar As adubações seguintes devem ser realiza-
uma moto-bomba. Devem ser feitas, tam- das com intervalos de um a dois meses, com

40 Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola
Figura 37 - Mudas já fora do tubete (A), colocação da muda dentro do tubo da plantadora (B), inserção
da ponta do tubo no fundo da linha, liberando a muda (C), e compactação do solo ao redor da muda
com o pé (D).

A) B)

C) D)

50 g da fórmula NPK 20:05:20, ou equiva- cação do adubo devera ser realizada após a
lente, em semi-coroa, durante a estação das capina ou sob condições de baixa infestação
chuvas. Para que a adubação não favoreça de mato (Figura 41).
o crescimento de plantas invasoras, a apli-

Figura 38 - Irrigação de muda com irrigador (A) e muda após a irrigação (B).

A) B)

Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola 41
B - Orgânica

Da mesma forma como descrito para a adu-


bação de base, pode-se utilizar, na aduba-
ção de cobertura, de 5 a 10 litros de esterco
de curral curtido por muda e, no caso da
utilização de esterco de granja (frango),
essa dosagem deve ser reduzida a 1/3 desse
volume. Nesses casos, o esterco deve ser
incorporado ao solo, preferencialmente du-
rante a estação das chuvas, para sua melhor
Figura 39 - Irrigação das mudas com absorção. A aplicação do esterco devera ser
caminhão-pipa. realizada após a capina ou sob condições
de baixa infestação de plantas invasoras.

Figura 40 - Tanque modificado, contendo o hidrogel já diluído (A), e tubo de fornecimento de hidrogel,
ligado à plantadora manual (B), permitindo sua aplicação já no plantio da muda.

A) B)

Figura 41 - Adubação de cobertura de uma muda plantada (A) e de indivíduo regenerante (B).

C) D)

42 Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola
insucesso da atividade nessas áreas. Em
Manutenção da área geral, são necessárias de 8 a 10 ações de
restaurada manutenção (com destaque para o con-
trole de competidores), geralmente con-
A manutenção das áreas de restauração centradas no período chuvoso.
deve ser realizada até o total recobrimento Basicamente, a manutenção consiste na
do solo pela sombra da copa das árvores, limpeza das coroas (que deve ser reali-
eliminando-se os indivíduos competido- zada como descrito no item “coroamen-
res das áreas, a partir de avaliação técni- to”), no controle periódico de formigas
ca. Vale destacar que a falta de manuten- cortadeiras e na adubação de cobertura,
ção adequada das áreas em processo de também de acordo com as recomenda-
restauração tem sido a principal causa de ções já apresentadas.

Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola 43
Recomendações de equipamentos de proteção individual (EPIs)
para as principais atividades propostas

Na Tabela 04, é apresentada uma rela- cada tipo e cada forma de aplicação de
ção dos EPIs que devem ser usados para produtos químicos.

Tabela 04 - Relação de EPIs que devem ser usados nas diferentes operações
de restauração que envolvem o manuseio de produtos químicos.

Relação Operação X EPI X Exposição

Manuseio/Dosagem de Aplicação tratorizada


Operações Aplicação manual de produtos
produtos de produtos
Carga e descarga em armazéns

Varreção dos armazéns

Pó molhável/Grânulos WG

Embalagem hidro-solúvel
Sementes tratadas

Granulado de solo

Costal motorizado
Isca granulada

Polvilhadeira
Granuladeira
Mangueira

Granulado

Sementes
Pó seco
Líquido

Líquido
Costal

Turbo
Capacete

Boné Árabe X X X X X X X X X

Protetor de
X X X X X
ouvido

Viseira facial X X X X X X X X X

Respirador X X X X X X X X X X X X X

Calça
X X X X X X X X X X X X X X X
hidro-repelente

Jaleco
X X X X X X X X X X X X X X X
hidro-repelente

Avental
X X X X X
impermeável

Botas
X X X X X X X X X X X X X X X X X
impermeáveis

Luvas
X X X X X X X X X X X X X X X
impermeáveis

Atenção: Esta tabela não deve ser considerada como único critério para a utilização dos EPIs. As condições
do ambiente de trabalho poderão exigir o uso de mais itens, ou dispensar outros, para aumentar a segurança
e o conforto do aplicador. Leia as recomendações do rótulo e da bula. Observe a legislação pertinente.
* Informações obtidas no Manual de uso correto de Equipamentos de Proteção Individual, produzido e dispo-
nibilizado pela ANDEF (Associação Nacional de Defesa Vegetal) no site: www.andef.com.br/epi

44 Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola
Monitoramento da área restaurada

Nas diferentes etapas do processo de res- podem ser encaradas como áreas de plantio
tauração, devem-se obter parâmetros de em que as mudas já foram plantadas.
avaliação e de monitoramento, que permi- Importante ressaltar que a base metodológi-
tam confirmar se as ações implantadas em ca para esses monitoramentos foi construí-
uma determinada área estão efetivamente da para formações florestais.
recuperando a vegetação, não apenas na fi-
sionomia, mas também nos seus processos 1 - Amostragem
mantenedores, de modo a garantir a perpe-
tuação da área restaurada. Essa confirma- Monitoramento da regeneração natural
ção ocorrerá por meio da análise de indica- (áreas abertas ou sub-bosque)
dores, que permitam constatar a ocupação
gradual e crescente da área por diversas Para avaliar a regeneração natural de espé-
espécies nativas, considerando-se a inten- cies arbustivo-arbóreas, devem ser instala-
sidade com que o processo está ocorrendo das dez parcelas de 4 m2 / hectare (2 x 2 m),
no tempo, a cobertura que ele está promo- distribuídas aleatoriamente em situações
vendo na área e a alteração da fisionomia e que apresentem regeneração natural. Essa
da diversidade locais. aleatoriedade é importante, dadas a elevada
A avaliação e o monitoramento de áreas em heterogeneidade espacial da expressão do
processo de restauração devem considerar, processo de regeneração natural e a eleva-
portanto, aspectos mais amplos do que ape- da heterogeneidade ambiental dos diferen-
nas os fisionômicos, normalmente exigidos tes ecossistemas manejados. Devem-se re-
pelos órgãos fiscalizadores e pelas certifi- alizar avaliações anuais da área, a partir do
cadoras. Os indicadores devem, além da tempo 0 (zero), o momento da implantação
recuperação visual da paisagem, garantir a das ações de restauração.
reconstrução dos processos ecológicos man-
tenedores da dinâmica vegetal, efetivando a Monitoramento de reflorestamentos de es-
sustentabilidade desta e seu efetivo papel na pécies nativas
conservação da biodiversidade local.
Os indicadores devem apontar a necessida- Com o objetivo de monitorar o estrato ar-
de de novas ações e o sucesso das ações já bóreo desses reflorestamentos, devem ser
implantadas, visando a corrigir e/ou a garan- alocadas parcelas de amostragem, de 9 x
tir que processos críticos ocorram para de- 18 m, contendo 40 indivíduos plantados
sencadear a sucessão ecológica local. Nesse em cada parcela (4 linhas x 10 indivídu-
sentido, tanto a fisionomia, quanto a com- os por linha). Devem ser instaladas 4 par-
posição e a estrutura da comunidade restau- celas/ha, de forma sistemática, visando a
rada, considerando-se os vários estratos de abranger toda a área de plantio de cada ta-
uma formação florestal (com destaque para lhão (Figura 42).
o estrato regenerante) e as diferentes formas A fim de evitar variações decorrentes do
de vida, devem ser usadas como indicadores efeito de borda, as parcelas devem ser
para avaliar e monitorar a vegetação, pois montadas sempre após a terceira linha de
expressam a efetiva restauração dos proces- plantio, a partir do carreador.
sos ecológicos e a possibilidade de perpetu-
ação da área. 2 - Fases do monitoramento
O monitoramento dos locais onde se reali-
zou o plantio em área total, ou onde se con- Fase de pré-implantação das ações de res-
duziu a regeneração natural, pode ser con- tauração
duzido de forma semelhante. Isso é possível
porque as áreas com regeneração natural Refere-se à avaliação inicial da área a res-

Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola 45
---------------------------------------------------------
2m
-------

------------
3m

9m

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
18m
Legenda
Indivíduos de espécies nativas presentes no reflorestamento.

Figura 42 - Desenho esquemático da parcela a ser utilizada no monitoramento dos reflorestamentos


com espécies nativas.

taurar e corresponde ao tempo 0 do moni- Fase que se inicia após o fechamento total
toramento. Essa avaliação somente é ne- da área por espécies arbóreas nativas e se
cessária nos casos em que há potencial de estende indefinidamente, em função das ne-
aproveitamento da regeneração natural. cessidades de cada situação e do interesse
em se acompanhar a evolução das espécies
Fase inicial pós-implantação das ações de vegetais. As avaliações devem ser realiza-
restauração das anualmente, podendo ser mais espaça-
das, à medida que a vegetação se estrutura.
Abrange os seis primeiros meses após im-
plantadas as ações de restauração e corres- 3 - Procedimentos
ponde ao estádio inicial de desenvolvimen-
to das mudas, no caso de plantios. Nesses Riqueza
casos, as avaliações devem ser realizadas
mensalmente, já que essa é uma fase crítica É o número de espécies arbustivo-arbóreas
e que exige rápida tomada de decisão. regionais presentes na área. Nas situações
de plantio em área total, a riqueza refere-se
Fase pré-fechamento da área ao número de espécies utilizadas no plan-
tio, o que pode ser conferido por meio da
Período que vai dos primeiros seis meses relação de mudas plantadas ou de levanta-
após implantadas as ações de restauração mentos de campo. Nas situações de regene-
até o fechamento total da área, o que nor- ração natural em estádio inicial, a riqueza
malmente ocorre em três anos. As avalia- pode ser avaliada pelo número de morfo-
ções devem ser realizadas a cada seis me- espécies, já que é mais difícil identificar as
ses, preferencialmente no final do período espécies na fase juvenil. Nesses casos, bas-
chuvoso (abril – maio). ta saber quantas espécies estão presentes na
área, o que é possível por meio da compa-
Fase pós-fechamento da área ração das características morfológicas entre
os indivíduos regenerantes, agrupando-os

46 Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola
por semelhança (mesma morfo-espécie) e representado por 50% dos indivíduos). Se
separando-os por diferenças (outras morfo- essa proporção não for respeitada e plan-
espécies). Nos casos em que a regeneração tarem-se mais indivíduos do grupo de pre-
natural é complementada pelo plantio de enchimento, o plantio entrará em declínio,
mudas, a riqueza total refere-se à soma do quando as espécies desse grupo atingirem
número de espécies plantadas ao de espé- a senescência (morte), pois não há a reno-
cies presentes na regeneração. vação da floresta (Figura 43).
A riqueza necessária pode ser variável em Caso se plantem mais indivíduos do grupo
função da formação florestal a restaurar. de diversidade, será necessário mais tempo
Sugere-se que, em áreas de ocorrência das para o fechamento da área, favorecendo a
formações de Floresta Estacional Semide- proliferação de gramíneas e a redução do de-
cidual e de Savana Florestada (Cerradão), senvolvimento das espécies de diversidade,
a restauração florestal atinja, no período já que as mesmas preferem ambientes som-
previsto em projeto, o mínimo de 80 espé- breados e com maior umidade (Figura 44.
cies florestais nativas de ocorrência regio- Não se utilizar o modelo sucessional, nos
nal. Em outras formações florestais, essa casos de plantio em área total, pode tam-
diversidade pode ser menor, como para a bém produzir a menor homogeneidade na
Floresta Paludícola (Mata de Brejo), ou cobertura da área. A presença de “falhas”
maior, como para as Florestas de Tabuleiro no fechamento da área normalmente ocor-
no sul da Bahia. re, quando as espécies de diversidade são
plantadas próximas umas das outras, sem
Modelo de plantio a presença do número adequado das espé-
cies de preenchimento entre elas.
Nos plantios em área total, as espécies es-
colhidas devem contemplar o grupo eco- Espécies arbóreas exóticas
lógico das pioneiras, ou de preenchimento
(espécies pioneiras e secundárias iniciais), As espécies não-regionais, principalmente
e o das não-pioneiras, ou de diversidade as exóticas invasoras, devem ser eliminadas,
(espécies secundárias tardias e climácicas), o quanto antes, dos plantios e das áreas em
em proporções iguais (cada grupo deve ser regeneração, já que a presença delas inibe

Figura 43 - Aspecto de um reflorestamento em declínio (A), resultante da morte das espécies pionei-
ras, as quais constituíam a maioria dos indivíduos plantados. A utilização de proporção adequada de
espécies de preenchimento e de diversidade (B) permite que o reflorestamento se renove, resultando
na formação de uma floresta que se auto-perpetua.

A) B)

Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola 47
tar a resolução do problema.

Infestação por gramíneas invasoras

Avaliada visualmente, a partir das classes 0


a 25, 25 a 50, 50 a 75 e 75 a 100% de cober-
tura da área por gramíneas. Cabe ressaltar
que essas classes referem-se ao estádio em
que as gramíneas estão na fase crítica de
competição com as mudas, e não à simples
presença dessas invasoras em fase inicial
Figura 44 - O plantio de poucos indivíduos das de desenvolvimento. É importante a iden-
espécies de preenchimento resulta no atraso tificação da espécie invasora, de forma a
da cobertura do solo, aumentando os custos da
manutenção do reflorestamento e reduzindo o estabelecer a melhor estratégia de manejo
desenvolvimento das espécies de diversidade. da mesma.

o desenvolvimento da vegetação nativa. De Ataque de formigas cortadeiras


preferência, devem-se eliminá-las antes da
dispersão de suas sementes na área. Avaliado por meio da contagem do número
de mudas que apresentam sinais de ataque
Número de indivíduos por formigas. Além da avaliação das mu-
das, deve-se também monitorar o entorno
Diz respeito à contagem do número de in- do plantio, localizando os ninhos e provi-
divíduos de espécies nativas de árvores e denciando seu controle.
arbustos presentes na área. Nos casos de
plantio em área total, esse número está Sintomas de deficiência nutricional
diretamente relacionado ao espaçamento
utilizado na implantação. Se o espaçamen- Essa análise permite identificar-se a defici-
to for maior do que o recomendado (3 x 2 ência nutricional em estado avançado nas
m), o fechamento da área será prejudicado mudas, o que certamente irá comprometer o
e, se for menor, haverá maior competição desenvolvimento delas. Quando são notados
entre as plantas, principalmente entre as do esses sintomas, variáveis em função do nu-
grupo de preenchimento. triente em falta na planta, deve-se identificar
qual é esse nutriente, por meio da análise vi-
Mortalidade sual dos sintomas (Figura 45) e da análise
foliar laboratorial. Com base no diagnósti-
Obtida através da avaliação do número de co, deve-se providenciar a correção dessa
mudas mortas, informação essencial para se deficiência através da adubação. Problemas
programarem as atividades de replantio. As desse tipo podem ser evitados com a análise
causas da mortalidade podem ser as mais di- do solo antes do plantio, identificando-lhe as
versas, como, por exemplo, a utilização de deficiências e corrigindo-as, antes mesmo da
mudas de qualidade inferior, problemas no implantação, através da adubação de base.
plantio das mudas, ataques de formigas cor-
tadeiras, a competição com o mato, a falta Cobertura da área por espécies arbustivo-
de água, o consumo pelo gado, a fitotoxidez arbóreas
causada por herbicida, entre outras. Deve-
se identificar a principal causa de morte das É obtida através da medição, com trena, do
mudas o quanto antes, de forma a possibili- diâmetro das copas dos indivíduos (distân-

48 Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola
Figura 45 - Deficiência nutricional em capixingui (Croton floribundus – A) e em sangra-d’água (Croton
urucurana – B), expressas, respectivamente, pela presença de amarelecimento generalizado em
folhas velhas e pela presença de clorose internerval em folhas novas.

A) B)

cia de uma extremidade da copa à outra – ações de restauração, no sentido de re-


Figura 46) ou da projeção da copa (Figura construir os processos ecológicos. A pre-
47). Considerando que as copas são circu- sença de regenerantes de espécies planta-
lares, é possível calcular a área ocupada por das na área restaurada reflete a atuação de
cada copa (π x diâmetro2 / 4) e, somando- uma complexidade enorme de processos
se a o valor obtido para cada indivíduo, é inerentes à dinâmica florestal. Entre eles,
possível saber qual é a área total ocupada estão a floração e a frutificação dos indiví-
na parcela. A partir desse valor, e conside- duos plantados, a dispersão de sementes, a
rando-se a área da parcela, pode-se saber composição do banco de sementes do solo
qual a porcentagem da parcela coberta por (permanente e temporário), a germinação
vegetação nativa. das sementes do banco, o recrutamento de
plântulas e de indivíduos jovens e a in-
Regeneração natural no sub-bosque teração desses processos com seus vários
fatores reguladores. Já a regeneração de
Nos plantios de espécies nativas em área espécies que não foram plantadas no local
total, avaliar a regeneração natural pode indica que os fragmentos florestais do en-
ser importante para estimar o sucesso das torno são os fornecedores de propágulos.

Figura 46- Medição do diâmetro da copa de um indivíduo em um reflorestamento com espécies nati-
vas (A) e na regeneração natural (B).

A) B)

Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola 49
E

--------------------------------
------------------------------------

--------------------------------
-------------------------------------
D

--------------------------------------
F

--------------------
B C

----------------------------
A

--------------------------------
----------------------------------
----------------------------------------
P. F₂
P. E₂
P. F₁
P. E₁ P. D₂
P. D₁ P. C₂
P. B₂ e C₁ Posição da trena (linha de plantio)
P. A₂ e B₁
P. A₁ --------------- Linhas de projeção

P. Projeção da copa

Figura 47 - Avaliação do diâmetro da copa através de sua projeção.

Esses dados refletem a atuação da fauna das árvores e arbustos, pois todos os compo-
de dispersores, atraídos para a área restau- nentes da floresta estão intimamente ligados
rada por algum motivo (abrigo, alimento, e apresentam variado grau de interdepen-
corredores, etc.), oriundos de áreas natu- dência. Nos projetos de restauração, além de
rais do entorno, dando uma boa indicação árvores e arbustos, o recrutamento de outras
do papel da restauração vegetal no resgate formas de vida vegetal, como lianas, peque-
da fauna local e da atuação dessas áreas nos arbustos, herbáceas e epífitas, é essencial
restauradas como corredores ecológicos para a criação de uma estrutura semelhante à
na paisagem regional (Figura 48). encontrada nas florestas tropicais.
Essa avaliação possibilita identificar se as
Acréscimo de outras formas de vida condições, criadas pelo plantio de espécies
arbóreas e arbustivas, criaram um ambien-
Quando se pensa na restauração florestal, não te favorável à ocupação do reflorestamen-
se pode restringir a visão apenas ao estrato to por outras formas de vida ocorrentes na

Figura 48: A presença de densa e diversificada regeneração natural sob plantios de espécies arbó-
reas nativas (A) indica que os processos formadores e mantenedores das florestas estão em ação.
Já a ausência de regeneração natural (B) indica que a floresta plantada não está “funcionando”,
ou seja, ela não está se renovando e evoluindo com o tempo, estando em um lento e contínuo
processo de declínio.

A) B)

50 Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola
floresta (Figura 49). Essas formas de vida, propostos para a restauração daquele local
geralmente, representam, juntas, 50% da foram atingidos.
riqueza de espécies vegetais das florestas Para avaliar novas formas de vida, deve-se
tropicais, sendo imprescindíveis na dinâ- realizar um levantamento florístico (registro
mica florestal. da presença) das espécies não-arbóreas na-
Entretanto, não basta apenas que as condi- tivas, ocorrentes em cada parcela de avalia-
ções sejam favoráveis ao estabelecimento ção, usando espécies e morfo-espécies, dada
dessas espécies. Para que tais formas de a complexidade taxonômica desses grupos.
vida venham a desenvolver-se efetivamen- Além de formas biológicas vegetais, é im-
te na floresta restaurada, os propágulos portante monitorar o retorno da fauna na-
que as portam devem chegar à área, o que tiva ao local (Figura 50). À medida que a
é possível apenas se o entorno do plantio vegetação se desenvolve, cresce a oferta de
for constituído de formações naturais bem recursos, como alimentos e refúgio, à fau-
conservadas, apresentando comunidades na. Por outro lado, a fauna também favo-
bem constituídas dessas espécies. Confor- rece a polinização e a dispersão de várias
me a floresta restaurada evolui, espera-se espécies vegetais, auxiliando o restabele-
que essas outras formas de vida venham a cimento da dinâmica ecológica local.
desenvolver-se na área, um excelente in-
dicativo de que os objetivos inicialmente 4 - Análise dos resultados

Figura 49 - Exemplos de outras formas de vida presentes na floresta - epífitas (bromélia – A e orquídea
- B), herbáceas (begônia – C e orquídea terrestre – D)

A) B)

C) D)

Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola 51
Figura 50– fotos mostrando a presença da fauna: pata de veado mateiro (1) e casal de aves num
amanhecer mineiro (2).

A) B)

A Tabela 05 foi elaborada apenas para auxi- florestal. Contudo, não se devem encarar
liar na interpretação dos resultados obtidos tais valores de forma muito rigorosa, já
pelo monitoramento de formações flores- que a realidade de cada projeto pode pro-
tais, apresentando-se os valores sugeridos duzir a necessidade de novos parâmetros e
por diversos especialistas em restauração de níveis-padrão diferentes dos sugeridos.

Tabela 05 - Parâmetros e diagnósticos sugeridos para o monitoramento


de reflorestamentos e de áreas de condução da regeneração natural de
espécies florestais nativas.

diagnóstico
parâmetro demanda ações
aceitável preocupante
imediatas
diversidade/ha acima de 80 espécies 50 a 80 espécies abaixo de 50 espécies

modelo de plantio sucessional - sem modelo

espécies exóticas ausência - presença

número de indivíduos/ha 1500 a 1800 1200 a 1500 abaixo de 1200

mortalidade 0 a 5% 5 a 10% acima de 10%

infestação por gramíneas invasoras 0 a 25% 25 a 50% acima de 50%

ataque de formigas cortadeiras 0 a 5% 5 a 15% acima de 15%s

sintomas de deficiência nutricional ausência - presença

cobertura da área após 1 ano 40 a 60% 20 a 40% abaixo de 20%

cobertura da área após 2 anos 60 a 100% 40 a 60% abaixo de 40%

cobertura da área após 3 anos 100% 70 a 100% abaixo de 70%


regeneração no sub-bosque, aos 5
acima de 20 espécies 10 a 20 espécies menos do que 10 espécies
anos diversidade/ha
número de indivíduos/ha acima de 5000 2500 a 5000 menos do que 2500

52 Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola
Produção de Mudas de Espécies Nativas em Propriedades Rurais
ou Viveiros Comerciais

Localização do Viveiro Para evitá-los, devem ser coletadas semen-


tes de vários indivíduos de cada espécie
O viveiro (Figura 51) deve estar em local es- produzida, de preferência nas matas rema-
nescentes, tentando-se sempre coletar um
mínimo de 12 indivíduos por espécie, para
garantir o vigor dos seus descendentes.
Outra maneira eficiente para se consegui-
rem mudas de várias espécies florestais é a
identificação de plântulas em áreas com re-
generação natural (Figura 52). Essas plân-

Figura 51 - viveiro de mudas de árvores de espé-


cies nativas em uma propriedade agrícola de MG.

tratégico, para que se evitem alguns problemas


futuros. O local de implantação deve conter,
necessariamente, água limpa e abundante, re-
levo com baixa declividade, com boa drena-
gem e com energia elétrica, caso se necessite
de bomba para a irrigação. A face do viveiro
deve ser orientada, preferencialmente, para o
norte e o solo, preferencialmente arenoso e
livre de ervas daninhas. Animais domésticos
podem causar danos às mudas e devem, por
isso, permanecer longe do viveiro, que deve
estar protegido com tela.
Figura 52 – obtenção de plântulas de espécies
Obtenção de sementes ou plântulas arbóreas em áreas com regeneração natural

A obtenção de sementes é a etapa essencial tulas podem ser levadas diretamente para
no processo de produção de mudas nativas. os saquinhos, devendo ser colocadas em
Quando efetuada com seriedade, buscando recipientes com água, assim que retiradas
o maior número possível de espécies, torna- do solo; suas folhas, cortadas pela metade,
se um dos processos mais difíceis. Muitas devem ser colocadas, depois da repicagem,
vezes, exige o esforço de procurar matrizes embaixo de sombrite ou de uma árvore,
(árvores fornecedoras de sementes) em pe- para não receberem luz direta nas primei-
ríodos curtos (quinzenais) e equipamentos ras semanas.
especializados para a coleta.
É muito comum o uso de sementes originá- Semeadura
rias de poucas árvores matrizes (às vezes
uma só), ou de arborização urbana, e sem A semeadura, geralmente, pode ser reali-
origem conhecida. Isso acarreta problemas zada de duas formas: em canteiros, tam-
genéticos, que podem afetar a sustentabili- bém chamados de sementeiras, quando as
dade da futura plantação. sementes são muito pequenas e com baixa

Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola 53
taxa de germinação, ou diretamente em A série de fotos abaixo (Figura 53) mostra
saquinhos, quando as sementes são gran- os principais passos da repicagem.
des e com taxa de germinação alta.
De maneira geral, as sementeiras são cons- Semeadura direta
truídas com 1 metro de largura e possuem,
como substrato, areia média com uma cama- A semeadura direta (Figura 54) nada mais
da de aproximadamente 10 cm de altura. Po- é do que a colocação das sementes direta-
dem ser construídas diretamente sobre o solo mente nos recipientes (sacos plásticos ou
ou suspensas sobre mesas ou bancadas. outros). Isso é possível quando as semen-
tes possuem um tamanho relativamente
Semeadura em canteiros ou sementeiras grande e alta taxa de germinação, ofere-
cendo algumas vantagens, como a redução
Nas sementeiras, a semeadura é feita a lan- do trabalho de produção, devido à simpli-
ço e as sementes são cobertas com uma fina ficação das operações e ao menor tempo de
camada de areia média peneirada, ou uma produção de mudas.
mistura de areia com material orgânico (ba-
gacilho, torta de filtro, serragem, etc.). É re- Encanteiramento das mudas
comendado que se cubram as sementes com
uma espessura do substrato, equivalente ao As mudas devem ser colocadas em canteiros
tamanho das sementes. Deve-se ficar atento com cerca de 1 metro de largura, para facili-
para que as sementes não sejam descobertas tar a limpeza de ervas daninhas ou as aduba-
durante a irrigação. ções. A distância entre os canteiros deve ser
Após a germinação, as plântulas devem ser de, aproximadamente, 40 cm, para facilitar a
mantidas na sementeira até atingirem de 5 a passagem de carriolas. As mudas colocadas
7 cm de altura. Após atingir esse tamanho, diretamente no chão podem ter problemas
devem ser repicadas para os saquinhos. A de enraizamento, devendo ser movimenta-
seqüência de operações na repicagem, apre- das freqüentemente. Isso pode ser evitado
sentada abaixo, deve ser obedecida para ga- com a colocação de lonas, ou de telas plás-
rantir o pegamento da muda: ticas entre os saquinhos e o chão do viveiro,
— As plântulas devem ser retiradas deli- funcionando como uma barreira física para
cadamente da sementeira recém-molhada; evitar a penetração das raízes no solo.
— Em seguida, devem ser colocadas em
recipiente com água; Escolha do substrato
— Os saquinhos que receberão as plântu-
las devem estar úmidos e com um orifício Os substratos mais usados para sacos plás-
com profundidade suficiente para acomo- ticos são a terra de subsolo (70 a 80%)
dar as raízes; mais composto orgânico e o esterco cur-
— As raízes das plântulas devem ser po- tido (20 a 30%). A terra usada é retirada
dadas, se estiverem com tamanho excessi- do subsolo, para evitar inóculos de patóge-
vo, e colocadas no orifício do saquinho; nos ou sementes de ervas daninhas; porém
— A terra ao redor do orifício deve ser deve-se tomar cuidado com as escavações,
pressionada, de forma a evitar a formação para evitar a degradação ambiental.
de bolsas de ar; Um bom substrato deve apresentar:
— Após essas operações, a muda deverá — boa porosidade, de modo a permitir
ficar em local abrigado da luz direta, sob pronta drenagem do excesso de água du-
sombrite ou copa de árvore, e ser manti- rante as irrigações e as chuvas;
da ali por 7 a 15 dias com regas suaves e — boa capacidade de retenção de água, de
freqüentes. modo a evitar as irrigações muito freqüentes;

54 Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola
Figura 53 – Retirada da plântula pelo colo, plântulas em recipiente com água para repicagem, abertura
de orifício para acomodar as raízes, repicagem de plântulas nos saquinhos

A) B)

C) D)

— isenção de substâncias tóxicas, de A matéria orgânica pode ser representada


inóculos de doenças e de sementes de por produtos amplamente disponíveis na re-
plantas invasoras. gião, como esterco de gado ou galinha, torta

Figura 54 – Semeadura direta de uma semente de Jatobá

A) B)

Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola 55
de filtro e/ou o bagacilho, pó de serra, etc. Freqüentemente, os níveis de cálcio (Ca) e
de magnésio (Mg) nas terras de subsolo são
Irrigação baixos. Por essa razão, recomenda-se fazer
a calagem. Com isso, deve-se adicionar 1
A disponibilidade de água é essencial para kg de calcário dolomítico por metro cúbico
o bom funcionamento do viveiro. Um de terra de subsolo, o que garante o supri-
viveiro consome, em média, de 1,5 a 2 li li- mento de Ca e Mg para as mudas.
tros de água por dia, para cada 10 mudas, A aplicação dos fertilizantes deve ser par-
ou seja, um viveiro que produzirá 10.000 celada. Ou seja, após a incorporação do
aproximada-
mudas por ano necessitará de, aproximada calcário, a maior parte das doses de fósfo-
mente, 1.500 a 2.000 litros de água por dia, ro (P2O5) é misturada à terra de subsolo,
nos períodos mais quentes. geralmente na forma de Superfosfato Sim-
Os viveiros de pequeno porte podem ser ples, antes do enchimento dos recipientes,
irrigados por mangueiras ou por asper asper- na chamada adubação de base. O nitrogênio
sores, ligados manualmente ou por meio (N) e o potássio (K) são aplicados parcela-
de sistemas automatizados. Os regadores damente na adubação de cobertura, geral-
de mão são essenciais e muito usados em mente dissolvidos em água (tabela 1).
locais onde a rega por aspersão A fertilização de cobertura pode ser iniciada
não for eficiente. de 15 a 30 dias após a emergência das plân-
A irrigação das sementeiras e tulas, durante o verão. Repetir a fertilização
das mudas em estágio inicial de de cobertura, em intervalos de 7 a 10 dias,
desenvolvimento deve ser freqüente e para as espécies de rápido crescimento (pio-
realizada 2 ou 3 vezes por dia. Os meme- neiras e secundárias iniciais), e de 30 a 45
lhores horários para a atividade de irrigação dias, para as espécies de crescimento len-
são o início da manhã ou o final da tarde. to (secundárias tardias e clímax), como é o
freqüên-
Caso o terreno se encharque com freqüên caso das madeiras de lei.
cia, devido à baixa drenagem do solo sob
cons-
as instalações do viveiro, devem ser cons Rustificação e expedição
truídos drenos para que a água escoe com
maior facilidade. Assim que as áreas definidas para a restaura-
ção florestal estiverem prontas para o plantio,
Fertilização para produzir mudas as mudas acima de 30 cm de altura devem
florestais nativas ser preparadas para o plantio, num processo
conhecido como rustificação. A rustificação
Devido à grande variedade de espécies flo flo- é realizada por meio do corte das adubações
respos-
restais produzidas em viveiros e suas respos nitrogenadas e da diminuição gradativa das
tas diferenciadas a adubações, é impossível irrigações, tanto em freqüência como em
a definição de parâmetros de adubações que volume de água. Se as mudas estiverem em
espé-
tenham grande eficiência para todas as espé ambiente sombreado, deverão também ser
cies. No geral, o composto usado no viveiro, expostas gradativamente a uma maior lumi-
que é resultante da simples mistura de terra nosidade solar, transformando o ambiente
com matéria orgânica, na maioria das vezes, do viveiro em algo semelhante ao ambiente
desenvol-
funciona muito bem para o bom desenvol que as mudas encontrarão no campo.
vimento das mudas, sem a necessidade de Para a expedição das mudas, recomenda-se
maiores adubações. No entanto, existem al al- enviá-las com pouca umidade no substra-
gumas medidas de fertilização que podem to, de modo a evitar o esboroamento dos
ser adotadas para o melhor desenvolvimento mesmos, mas deve-se pulverizar água para
das mudas florestais (Tabela 6). manter a turgescência. Outro cuidado im-

56 Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola
Tabela 6 - Exemplo de fertilização usada no viveiro da ESALQ e em alguns
viveiros da CESP.

Dose de
Fertilização nutriente / Fertilizante Observação
fertilizante

SACO PLÁSTICO

Sulfato de amônio
150g de N
De base Superfosfato
700g de P2O5 Usar fertilizantes em pó, devido
(dose por metro simples
100g de K2O à facilidade de homogeneização
cúbico de Cloreto de potássio
200g de “fritas”(1) no substrato.
substrato) “Fritas”
Calagem
Calcário dolomítico

Dissolver os fertilizantes em 100


litros de água. Com a solução
obtida, regar 10.000 mudas.
O K não deve ser usado em
200g de N Sulfato de amônio
De cobertura (2) todas as fertilizações: a
150g de K2O Cloreto de potássio
primeira deve ser feita com N e
K; a segunda, só com N; a
terceira, com N e K, e assim
consecutivamente.

Fonte: Gonçalves et al., 2000

portante na expedição é fazer a poda das ra- usar terra de subsolo ou outro substra-
ízes que eventualmente cresceram para fora to livre de patógenos;
dos saquinhos.
trocar o substrato das sementeiras,
Evitando doenças, pragas e ervas quando ocorrer doença;
daninhas
reduzir o sombreamento e a irrigação
As doenças e as pragas em viveiros de es- ao mínimo;
sências nativas geralmente são raras, mas
podem ocorrer. A doença que mais afeta fazer pulverização com fungicidas,
os viveiros florestais é o “tombamento”, no início da ocorrência de doenças e sob
causado por fungos do solo. Pode ocorrer orientação profissional.
na fase de pré-emergência das sementes,
quando os fungos atacam a radícula, des- Devido à baixa incidência de pragas em
truindo as sementes, ou depois da emer- viveiros de espécies florestais nativas, o
gência das sementes, atacando as raízes controle químico deve ser realizado so-
e o colo. mente após o início do ataque e sempre
As medidas para a prevenção e o controle sob orientação profissional.
são as seguintes: O controle de ervas daninhas é de gran-

Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola 57
de importância no viveiro, para que o volta devem ser mantidos limpos, por
substrato dos saquinhos não se conta
conta- meio de capinas ou do controle com
mine com sementes das espécies invainva- herbicidas, sempre sob a orientação de
soras. Para isso, o viveiro e toda a sua um profissional.

58 Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola
Referências Bibliográficas

ATTANASIO, C. M. 2004. Planos de manejo LIMA, W. P. Hidrologia Florestal Aplicada


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– Escola Superior de Agricultura “Luiz de RODRIGUES, R.R. & GANDOLFI,
Queiroz”, Universidade de São Paulo. S. 2004. Conceitos, tendências e ações
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FERRETTI, A. R. 2006. Recomposição flo- res. In Rodrigues, R.R. & Leitão Fi-
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SP). p. 1-22. TRIQUET, A.M.; MCPEEK, G.A. &
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Manual técnico para a restauração e o monitoramento da mata ciliar e da reserva legal para a certificação agrícola 59
M anual técnico para a restauração e o
MonitoraMento da Mata ciliar e da reserva
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