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NOTA-TÉCNICA/CSA/RJ/13-2009

EMENTA: Análise da Lei n.º 11.941, de 27 de Maio de 2009.


Algumas considerações.

1. Trata-se de análise da Lei n.º 11.941, de 27 de Maio de 2009,


decorrente da conversão da Medida Provisória n.º 446/2008, que altera a
legislação federal em diversos pontos, estabelecendo um novo regime de
parcelamentos, concedendo remissão de dívidas em casos específicos, dentre
outras providências.

I. D O P ARCELAMENTO

2. Diante da enorme carga tributária existente no Brasil, o governo


vem ao longo dos últimos anos, instituindo parcelamentos como forma de
permitir a regularização das dívidas fiscais dos contribuintes 1, motivo pelo
qual, o parcelamento institúido pela recente lei vem sendo chamado de REFIS
4, ou mesmo REFIS da crise.

3. Independentemente da nomenclatura, é certo que as condições


traçadas para esse novo parcelamento podem ser consideradas generosas para o
devedor (pessoa física ou jurídica), já que todos os débitos administrados pela
Receita Federal e Procuradoria da Fazenda 2 poderão ser parcelados em até 180
meses, incluindo-se eventuais saldos remanescentes de programas anteriores
(REFIS, PAES, PAEX e dos parcelamentos previstos no Art. 38 da Lei
8.212/91 e Art. 10 da Lei n.º 10.522/2002), mesmo que excluídos, além de
montantes relativos ao aproveitamento indevido de créditos de IPI 3.

1
Parcelamentos análogos: Refis (Lei 9.964/2000), PAES (Lei 10.684/2003) e PAEX (MP 303/2006).
2
A abrangência do parcelamento é significativa, podendo-se incluir além dos mencionados, débitos previdenciários,
inclusive relativos à apropriação indébita, além dos demais débitos administrados pela receita federal, inclusive àqueles
relativo à IR fonte e Cofins das sociedades civis de prestação de serviço de profissão regulamentada.
3
No caso dos débitos decorrentes do aproveitamento indevido de créditos do IPI, a parcela mínima não poderá ser inferior
a R$ 2.000,00.
4. Além do extenso prazo de abrangência deste novo programa, não
há necessidade de apresentação de qualquer garantia ou arrolamento de bens,
salvo quando já houver sido efetuada a penhora em execução fiscal distribuída
anteriomente ao pleito de parcelamento.

5. O parcelamento abrange dívidas vencidas até 30/11/2008, não


importando se estão suspensas, inscritas em dívida ativa ou ajuizadas,
salientando-se que os débitos que ainda não foram alvo de parcelamentos
anteriores 4 farão jus às seguintes percentagens de redução:

Paga mento Multa s de Mo ra e Multa s Juro s de En cargo s


Of ício I so lada s Mo ra Lega is

A v ista 100 % 40 % 45 % 100 %

30 Prestações 90 % 35 % 40 % 100 %

60 Prestações 80 % 30 % 35 % 100 %

120 Prestaçõ es 70 % 25 % 30 % 100 %

180 Prestaçõ es 60 % 20 % 25 % 100 %

6. Já na hipótese de débitos que tenha sido parcelados em


programas anteriores (REFIS, PAES, PAEX e dos parcelamentos previstos nas
Leis 8.212/91 e 10.522/2002 5), observar-se-á a seguinte tabela de reduções:

Pa r ce la me n t o Multa s de Mo ra e Multa s Juro s de En cargo s


Of ício I so lada s Mo ra Lega is

R EF IS 40 % 40 % 30 % 100 %

PA ES 70 % 40 % 30 % 100 %

PA EX 80 % 40 % 35 % 100 %

A rt. 38 8.212 /91 100 % 40 % 40 % 100 %

A rt. 10 10.522 /02 100 % 40 % 40 % 100 %

4
Parcela mínima para Pessoa Jurídica: R$ 100,00 e Pessoa Física: R$ 50,00.
5
Optando-se pelo reparcelamento de dívidas anteriormente inscritas em tais programas, o novo parcelamento implicará na
desistência definitida do REFIS, PAES, PAEX e demais programas, devendo a parcela corresponder à 85% da média dos
12 meses das últimas parcelas do REFIS, ou da média das parcelas devidas no programa antes da edição da MPV
449/2009, caso o devedor tenha sido excluído antes de completar um ano neste programa. No caso dos demais
parcelamentos, será observada a parcela mínima de 85% do valor da última parcela anterior a 03-12-08.
7. Tal como é praxe neste tipo de procedimento, a opção pelo
parcelamento acarretará confissão irrevogável e irretratável dos débitos,
motivo pelo qual, o requerimento de inscrição deverá ser precedido de estudos
tributários e contábeis que atestem este caminho como a melhor solução
possível para a empresa. Mesmo questionando-se legalmente a validade de tal
confissão, já que a obrigação tributária é ex lege 6, a existência de tal
instrumento aumenta em muito o grau de dificuldade de eventual pretensão de
desconstituição da dívida.

8. Há de se ressaltar, que este programa de parcelamento acarreta


consequências diretas também na esfera criminal, em especial com relação aos
crimes contra a ordem tributária e sonegação de contribuição previdenciária, na
medida que é prevista a suspensão da pretensão punitiva do Estado com relação
aos débitos acordados e se permite a inclusão dos débitos de apropriação no
escopo do parcelamento.

9. O Art. 69 da Lei prevê, inclusive, a extinção da punibilidade dos


crimes anteriormente mencionados na hipótese de pagamento integral dos
débitos oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive acessórios, que
tiverem sido objeto de concessão de parcelamento.

10. Com relação à inadimplência, a lei é taxativa ao dispor que a


manutenção de três parcelas em atraso por mais de 30 dias, sendo elas
consecutivas ou não, ou de uma parcela, estando todas as demais adimplidas,
implicará na rescisão do carcelamento, prosseguindo-se a cobrança de eventual
saldo remanescente.

11. A rescisão do parcelamento acarreta o cancelamento de todos os


benefícios e descontos concedidos, não sendo admitido qualquer tipo de
reparcelamento ou repactuação dos débitos envolvidos.

12. Condições adicionais e procedimentais do parcelamento serão


disponibilizadas pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional e Secretaria da

6
Por força de lei.
Receita Federal até 27/07/2009, ou seja, 60 dias após a publicação da Lei n.º
11.941/2009.

II. D A R EMISSÃO

13. Além do parcelamento analisado no tópico anterior, a Lei n.º


11.941/2009 prevê uma verdadeira anistia fiscal para débitos com valor
consolidado inferior à R$ 10.000,00 e que estejam vencidos há cinco anos ou
mais, contados à partir de 31/12/2007, na forma do disposto pelo Art. 14.

Art. 14. Ficam remitidos os débitos com a Fazenda Nacional,


inclusive aqueles com exigibilidade suspensa que, em 31 de
dezembro de 2007, estejam vencidos há 5 (cinco) anos ou mais e
cujo valor total consolidado, nessa mesma data, seja igual ou
inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais).

§ 1o O limite previsto no caput deste artigo deve ser


considerado por sujeito passivo e, separadamente, em relação:

I – aos débitos inscritos em Dívida Ativa da União, no âmbito da


Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, decorrentes das
contribuições sociais previstas nas alíneas a, b e c do parágrafo
único do art. 11 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, das
contribuições instituídas a título de substituição e das
contribuições devidas a terceiros, assim entendidas outras
entidades e fundos;

II – aos demais débitos inscritos em Dívida Ativa da União, no


âmbito da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional;

III – aos débitos decorrentes das contribuições sociais previstas


nas alíneas a, b e c do parágrafo único do art. 11 da Lei nº
8.212, de 24 de julho de 1991, das contribuições instituídas a
título de substituição e das contribuições devidas a terceiros,
assim entendidas outras entidades e fundos, administrados pela
Secretaria da Receita Federal do Brasil; e

IV – aos demais débitos administrados pela Secretaria da


Receita Federal do Brasil.

§ 2 o Na hipótese do IPI, o valor de que trata este artigo será


apurado considerando a totalidade dos estabelecimentos da
pessoa jurídica.

§ 3 o O disposto neste artigo não implica restituição de quantias


pagas.

§ 4 o Aplica-se o disposto neste artigo aos débitos originários de


operações de crédito rural e do Programa Especial de Crédito
para a Reforma Agrária – PROCERA transferidas ao Tesouro
Nacional, renegociadas ou não com amparo em legislação
específica, inscritas na dívida ativa da União, inclusive aquelas
adquiridas ou desoneradas de risco pela União por força da
Medida Provisória n o 2.196-3, de 24 de agosto de 2001.

14. Importantíssimo resslatar, que o cálculo do teto da remissão (R$


10.000,00), deverá ser realizado e atualizado com base na data limite
estipulada, ou seja, 31/12/2007, e não se tomando como referência os valores
posteriormente consultados junto à PGFN ou RFB.

III. D O R EGIME T RIBUTÁRIO DE T RANSIÇÃO

15. A maior parte do texto legal do diploma aqui analisado, é


dedicado à instituição do chamado Regime Tributário de Transição – RTT de
apuração do lucro real. Tais alterações correspondem aos ajustes tributários
decorrentes dos métodos contábeis introduzidos pela Lei n.º 11.638, de 28 de
Dezembro de 2007 e pelos Artigos 37 e 38 da própria Lei n.º 11.941/2009.
16. A própria exposição de motivos da MP 449/08, origem da lei em
debate, informava que o maior objetivo da Lei n.º 11.638/2007 era a adequação
das normas contábeis brasileiras aos padrões internacionais de contabilidade.
17. Ocorre que tal transição foi iniciada sem que fossem feitos os
inerentes ajustes na legislação tributária, algo que propagou considerável
insegurança jurídica. Desta feita, adoção do chamado RTT visa controlar os
efeitos fiscais e tributários desta transição, até que advenha ulterior regulação
definitiva da questão e formação de consenso no próprio Conselho Federal de
Contabilidade que ainda tem muitas divergências sobre a abrangência de tal
padrão, como por exemplo a respeito da necessidade de sua adoção às
associações civis sem fins lucrativos.
18. Sobre os novos padrões contábeis em breve o escritório Covac
advogados divulgará parecer específico ao tema, analisando detalhadamente
todas as suas nunaces.

IV. D A REVOGAÇÃO DO ARTIGO 13 DA LEI Nº 8.620/93

19. Historicamente, a receita previdenciária vinha incluindo os


diretores de empresas e instituições (inclusive associações civis),
independentemente da demonstração de dolo específico, à revelia da garantia
de defesa da Lei nº 9.784/99, com base no artigo 13 da Lei nº 8.620/93.
20. O procedimento descrito vinha sendo rechaçado pela
jurisprudência, não só em função da inconstitucionalidade formal do
dispositivo e desrespeito as regras do processo administrativo federal, mas
também devido a presução de legitimidade advinda da inscrição em dívida
ativa. Tal condição só era devidamente reparada após o competente processo
judicial.
21. O cenário foi modificado com a revogação do disposto no artigo
13 da Lei nº 8.620/93 pelo artigo 79, inciso VII da Lei nº 11.941, de 27 de
maio de 2009, reforçando a idéia já aplicada na doutrina e jurisprudência de
que a responsabilidade dos diretores, sócios e associados de instituições e
empresas só se daria nos termos do artigo 135, III do CTN, ou seja em casos
que os sócios, diretores e associados (conforme o caso) agirem com excesso de
poderes, infração à lei, contrato social ou estatuto.
22. A conseqüência direta da revogação do dispositivo em comento
é o reforço na pretensão das pessoas físicas de serem excluída das execuções
fiscais contra as pessoas jurídicas que são ou foram sócias, associadas ou
diretoras, inclusive pela incidência artigo 112 do CTN que garante a aplicação
da Lei mais benéfica aos contribuintes..
23. Estamos à disposição para dúvidas adicionais.

Brasília, 25 de Junho de 2009.

Thiago Graça Couto


OAB/RJ nº. 150.279

Kildare Araújo Meira


OAB/DF n.º 15.889

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