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com

A
qüífero significa reserva de água subterrânea e, são formados e realimentados quando
a água da chuva infiltra-se no solo. A medida que a água vai penetrando no solo,
ela vai sendo filtrada, perde turbidez, cor e fica cada vez mais limpa; pode levar
décadas para caminhar algumas centenas de metros e, ao encontrar rochas impermeáveis
compactas que não consegue ultrapassar, a água forma o lençol freático. Quando a própria
pressão natural da água é capaz de levá-la até a superfície, temos um poço artesiano. Quando
a água não jorra, sendo necessário a instalação de aparelhos para sua captação, tem-se um
poço semi-artesiano.

DISTRIBUIÇÃO E DISPONIBILIDADE DE ÁGUA: Do volume total de água do planeta, 97,5% é


salgada, compondo os mares e oceanos e, apenas 2,5% é doce. Porém, da água doce existente

FIGURA 1: Distribuição da água na terra (Ilustração,Gustavo Oliveira e Cláudia Lima)


na Terra, 68,9% formam as calotas polares, geleiras e neves eternas que cobrem os cumes das
montanhas, 0,9% corresponde à umidade do solo e pântanos, 0,3% aos rios e lagos e, os
29,9% restantes são águas subterrâneas. Desta maneira, do total de água doce disponível
para consumo, descontando-se aquela presente nas calotas polares, geleiras e neves eternas,
as águas subterrâneas representam um total de 96%(cerca de 8 a 10 milhões de Km3), conforme
apresentado na Figura 1.

A
SITUAÇÃO GLOBAL DOS AQÜÍFEROS: Nos últimos 25 anos foram perfurados cerca
de 12 milhões de poços no mundo. Embora cerca de 1,5 bilhão de pessoas dependam
hoje das águas subterrâneas para abastecimento, ainda faltam políticas de
conservação capazes de garantir a necessária recarga e controle da contaminação dos
aqüíferos. Os casos mais graves são encontrados nos aqüíferos dos Estados Unidos, México,
Índia, China e Paquistão mas, também, há crise em algumas partes da Europa, África e Oriente
Médio. O problema não é amplamente visto porque ocorre no subsolo, afirmou Ismail
Serageldin, chefe da Comissão Mundial de Água para o Século 21 e vice presidente de
programas especiais do Banco Mundial. Serageldin afirmou que, em muitos locais, a situação
já chegou a limites críticos e,
pode ser economicamente FIGURA 2
irreversível. No México, a super
explotação do aqüífero
Hermosillo obrigou à edição de
uma lei, segundo a qual, cada
habitante tem uma cota de água
e, diante dos custos proibitivos,
agricultores acabaram com as
culturas irrigadas de alto
consumo de água e, passaram a
produzir culturas com maior
valor agregado por litro de água
consumida. Na África do Sul, a
disseminação de uma erva
daninha exótica muito agressiva foi identificada como a causa pelo aumento do consumo de
água. A erva, tomou o lugar de algumas plantas nativas em 10 milhões de hectares,
consumindo 7% a mais de água dos solos. Uma força tarefa de 42 mil homens foi mobilizada
para combater a erva invasora, num programa chamado “Working for Water” (Trabalhando
pela Água). Estima-se que eles tenham 20 anos de trabalho pela frente até erradicá-la.
Quando os aqüíferos são litorâneos, o excesso de uso provoca o rebaixamento do lençol das
águas subterrâneas, podendo levar a salinização pela contaminação da água do mar. É o que
vem acontecendo na Tailândia e em diversas ilhas da Indonésia onde, a contaminação por
água salgada, é praticamente irreversível, já atingindo quase todo o aqüífero em locais muito
longe do mar. A super explotação dos aqüíferos em áreas não litorâneas, favorecem a sua
contaminação por poluentes, principalmente nos principais países industrializados que, tem a
área de recarga de seus aqüíferos extremamente reduzidas, pelo fato de suas bacias
hidrográficas estarem extremamente impermeabilizadas por grandes metrópoles, estradas e
ruas asfaltadas.
A SITUAÇÃO NO BRASIL: Um quinto de toda água doce existente no planeta encontra-se no
Brasil e, as reservas brasileiras de água subterrânea totalizam mais de 112.000 km3, com um
volume de recarga de 3.500 km3 anuais (Rebouças, 1997), o suficiente para abastecer toda a
população brasileira atual por 370 anos, caso mantenha-se os atuais níveis de recarga e,
saibamos preservar a potabilidade desse precioso recurso. Além de sua importância para o
suprimento humano, as águas subterrâneas são responsáveis por 90% da perenização dos
rios, córregos, lagos e outros corpos d’água, representando uma contribuição média
multianual na ordem de 13.000 Km3/ano (Peixoto e Oort, 1990)

Apesar da região Amazônica possuir a maior disponibilidade hídrica superficial do planeta, o


planejamento público não tem conseguido levar à população, água em quantidade e qualidade
suficientes. Até porque, o aproveitamento de águas superficiais exige altos investimentos para
captação e tratamento, além de um longo tempo necessário para implantação. Outro
agravante é que, os recursos hídricos superficiais são facilmente contaminados por atividades
antrópicas. Dessa forma, o aproveitamento das águas subterrâneas passou a ser
imprescindível e, seu uso intensificado, graças as características de acessibilidade, qualidade,
e, requerer pouco investimento, ÁREA DE RECARGA DOS AQÜÍFEROS NA
além do fato de, determos a maior
reserva de água subterrânea do REGIÃO AMAZÔNICA TABELA 1
país. A região Amazônica detém a
AQÜÍFEROS ÁREA DE RECARGA
localização dos seguintes
aqüíferos: Parecis, Boa Vista, Parecis 88.157 Km2
Solimões e Alter do Chão (figura
2), totalizando 873.283 Km2 de Boa Vista 14.888 Km2
área de recarga ( tabela 1).
Solimões 457.664 Km2

A formação Alter do Chão faz Alter do Chão 312.574 Km2


parte da Bacia Sedimentar
Amazônica e, se constitui no TOTAL 873.283 Km2
mais importante sistema
hidrogeológico da região. Em geral, Alter do Chão é um aqüífero do tipo livre ou seja, localiza-
se próximo a superfície e, aflora na região Centro Norte do Pará e Leste do Amazonas, sendo
subjacente a três Estados; Pará, Amazonas e Amapá. Suas águas subterrâneas abastecem
quase todas as cidades do Oeste do Pará e do estado do Amazonas inclusive sua capital
Manaus e, também, participa do abastecimento de Belém, juntamente com o aqüífero
Barreiras. Sua vazão explotável total é de 249,5 m³/s (ANA, 2007b). Logo, deve-se promover
a integração dos órgãos federais e estaduais para o compartilhamento da responsabilidade de
gestão dessas águas. Ações desarticuladas poderão ser inexpressivas em relação a seriedade
dos danos e, aos impactos gerados nessa dimensão interestadual que, já começam a serem
sentidos. Entretanto, o risco de contaminação das águas subterrâneas é função direta da carga
de elementos agressivos que, pode ser introduzida no subsolo como resultante de atividades
antrópicas. Devido a lenta circulação das águas subterrâneas, a grande capacidade de
absorção dos solos e, o pequeno tamanho dos canalículos, a contaminação de um aqüífero
pode levar algum tempo até manifestar-se claramente.
Estudos realizados sobre o Aqüífero Alter do Chão, atestam que, a qualidade da água é
classificada como hipotermais minerais, apresentando pH de 4,8 e sólidos totais dissolvidos
inferiores a 100 mg/L. Porém, as concentrações de ferro alcançam algumas vezes 15 mg/L
(FGV; MMA; ANEEL, 1998). Em relação à dureza, são classificadas como moles, com valores
entre 0,36 e 28,03 mg/L de CaCO3 (Silva & Bonotto, 2000; in ANA e MMA, 2005b). Contudo,
por se tratar de um aqüífero livre, apresenta considerável risco de contaminação de suas
águas. De forma geral, os terrenos sedimentares apresentam os melhores aqüíferos (caso de
Alter do Chão) e, ocupam cerca de 4.130.000 km2 , ou seja, aproximadamente 48% do
território nacional. Os terrenos
cristalinos constituem os aqüíferos
cárstico-fraturados e fraturados, que
ocupam cerca de 4.380.000 km2, ou 52%
do território nacional (Figura 4).

F
ORMAS DE USO: A água
subterrânea é intensamente
explotada no Brasil. Newton
Azevedo, vice-presidente da ABDIB,
denuncia a existência de cerca de um
milhão de poços irregulares no Brasil. A
água de poços e fontes vem sendo
utilizada para diversos fins, tais como; o
abastecimento humano, irrigação,
indústria e lazer. No Brasil, 15,6 % dos
Figura 4: Principais domínios sedimentares em
domicílios utilizam exclusivamente água
verde e cristalinos em amarelo. Fonte: Petrobras.
subterrânea, 77,8 % usam rede de
abastecimento de água e 6,6 % usam outras formas de abastecimento (IBGE, 2002a).
Importante destacar que, entre os domicílios que possuem rede de abastecimento de água,
uma parte significativa usa água subterrânea de forma complementar, sendo este o caso de
Belém, onde a maior parte das necessidades são supridas por águas superficiais, cerca de
340.000 m3/dia e, as águas subterrâneas complementam com 96.000 m3/dia. Em muitas
regiões do país, a água subterrânea representa o principal manancial hídrico, sendo o caso de
Santarém onde, 100% de suas necessidades são supridas pelas águas do Aqüífero Alter do
Chão.

Outra forma muito comum de consumo de águas subterrâneas, principalmente nos centros
urbanos do país, é através de águas engarrafadas, denominadas genericamente de “águas
minerais”. Esta atividade envolve um mercado que movimenta em torno de U$ 450
milhões/ano, com crescimento anual de 20% desde 1995 e, com grande possibilidade de
expansão já que, o per capita de consumo nacional, é cerca de 8 vezes inferior ao da Europa e
América do Norte (Queiroz, 2004). No Brasil, são 672 concessões de lavra de água mineral e
potável de mesa distribuídas em 156 distritos hidrominerais, com uma produção na ordem de
5,0 bilhões de litros/ano, relacionada à uma rede de 732 poços e fontes naturais, com vazões
que vão desde 700 L/h até mais de 450.000 L/h. A distribuição destas concessões é
apresentada na Figura 5. Dos
pontos de água cadastrados, 56%
correspondem a fontes e, 44% a
poços e, mais de 50% estão
concentrados na região Sudeste
(Queiroz, 2004).

F
ATORES PREOCUPANTES:
As principais fontes de
contaminação dos
aqüíferos são de origem antrópica
difusa, O notável poder de
depuração dos aqüíferos, em
relação a muitos contaminantes e,
o grande volume de água que
armazenam, faz com que as
maiores contaminações se
manifestem muito lentamente e,
Figura 5: . Províncias hidrogeológicas e áreas de
aquelas localizadas, apareçam
concessão de lavra de águas minerais.
apenas após algum tempo e,
mesmo assim, quando deslocadas para as áreas de explotação. Significa dizer que, os
aqüíferos são muito menos vulneráveis à poluição do que as águas superficiais. Mas, uma vez
produzida a contaminação, a recuperação dependendo do tipo de contaminantes, pode levar
muitos anos e, até mesmo tornar-se economicamente inviável (Manoel Filho 1997).

De um modo geral pode-se afirmar que, as águas subterrâneas podem sofrer contaminação
direta (sem diluição), quando o poluente atinge o aqüífero por meio de poços abandonados
e/ou com deficiências construtivas e, a contaminação indireta (com diluição), quando o
poluente atinge o aqüífero depois de passar por alterações a partir da origem. (...) estudos
publicados pela (CETESB, 2004a; in ANA e MMA, 2005b), as formas usuais de contaminação
das águas subterrâneas são:
• Deposição de resíduos sólidos em lixões, com presença de resíduos hospitalares e
industriais;
• Lançamentos de esgotos e águas servidas ao meio ambiente sem qualquer tipo de
tratamento.;
• Fugicidas, inseticidas e adubações químicas por Atividades agrícolas;
• Vazamento de petróleo e seus derivados por atividades petroquímicas e postos de
combustíveis;
• Poços com deficiência construtiva em grande quantidade e abandonados sem as
devidas precauções;
• Fossas residenciais sem o menor critério de construção;
• Cemitérios e
• Explotação além da capacidade de recarga.
E
XEMPLIFICANDO A GRAVIDADE: O reconhecimento do potencial poluidor dos
tanques de armazenamento subterrâneo levou à criação da Resolução no 273 do
CONAMA. Em Belém, verificou-se que 34% dos tanques de armazenamento de
combustíveis em postos de combustíveis possuíam mais de 15 anos e, que 90% deles estavam
situados sobre o aqüífero Pós- Barreira que, apresenta elevada vulnerabilidade natural
(Siqueira et al., 2002). Dados de isótopos de oxigênio-18 e estrôncio-86/estrôncio-87
indicaram que, na região de Fortaleza, 30% da recarga do aqüífero provém da infiltração
de água de fossas (Frischkorn et al., 2002).

Na região de Manaus existem aproximadamente 7.000 poços, cujas profundidades variam entre 10 a
220 metros, dos quais, uma parcela representativa apresentam deficiência construtiva e, sem proteção
necessária contra poluentes. A carência de saneamento básico na área urbana, tem favorecido a
proliferação de habitações com grande quantidade de fossas e poços construídos sem
requisitos mínimos de proteção sanitária, favorecendo a contaminação do aqüífero Alter do
Chão. Foi avaliada a qualidade da água subterrânea em 120 poços selecionados em 6 bairros
na zona urbana de Manaus. Deste total,
61% apresentavam profundidades entre 5 e Poço Amazonas (abandonado sem tamponamento)
40 m. A análise bacteriológica realizada
revelou que, 60,5% apresentaram água
inadequada para o consumo, devido à
presença de coliformes termotolerantes e,
em 75% das amostras foi detectada a
presença de coliformes totais.
Concentrações fora dos padrões de
potabilidade foram obtidas para ferro,
amônia e nitrato. Os problemas de qualidade
da água na região estudada, foram
relacionados à falta de saneamento (na área
estudada apenas 21,4% das residências
estava ligada à rede de esgoto), proximidade
poço-fossa inferior a 20 m e má construção dos poços (Costa et al., 2004).Um outro agravante
não menos importante, diz respeito a poços desativados, muitos ainda abertos e sem o devido
tamponamento.

A cidade de Monte Alegre encontra-se assentada sobre a formação aqüífera Alter do Chão.
Análises físico-químicas realizadas pelo PRIMAZ em 14 poços tubulares rasos, revelaram em
9, a presença de nitrato, com teores bem acima do valor máximo permissível (VMP) que é de
10 mg/L. Este fato está relacionado à falta de saneamento básico e/ou proximidades de
fossas, podendo causar na população consumidora, principalmente em crianças, o estado
mórbido denominado cianose ou methemoglobinemia (redução na oxigenação do sangue ).
Três pontos coletados ao longo do paraná de Gurupatuba, revelaram um aumento no número
de coliformes totais e coliformes fecais, à medida que se aproxima da área de influência da
cidade.
Os córregos, igarapés, rios e lagos, participam diretamente da recarga dos aqüíferos, sendo,
por eles, também perenizados. Em Santarém é bastante conhecido a situação de assoreamento
e contaminação dos igarapés e, o rio Tapajós que banha a cidade, está sofrendo descarga
permanente da rede de esgotos e, águas servidas, sem qualquer tipo de tratamento. Uma
equipe do Laboratório de Microbiologia Exemplo de poluição em corpos d’água
Ambiental, da Seção de Meio Ambiente do
Instituto Evandro Chagas (IEC), coordenada
por Lena Lílian Canto de Sá, coletou
amostras em cinco pontos diferentes do rio
Tapajós: praias do Ariará, Ponta de Pedras,
Carapanari, furo do Sururu e leito do rio sob
influência do rio Arapiuns. As análises
mostraram que, as águas do Tapajós
possuem grande presença de
microrganismos do gênero Anabaena sp,
produtoras de cianotoxina, substância que
pode provocar até câncer em seres
humanos. Para Dilaelson Rego Tapajós,
técnico ambiental do Ministério Público, o lançamento de matéria orgânica favorece o
aumento da quantidade de microrganismos decompositores livres na água e, nos sedimentos
que, acabam consumindo o oxigênio dissolvido na água, favorecendo, com isto, a atividade
fotossintética das cianobactérias. Além disto, nos meios anaeróbicos, a disponibilidade das
formas inorgânicas de nitrogênio e fósforo aumentam, facilitando as grandes infestações. Ao
que se sabe, até o presente, nada foi feito para conter a contaminação. Ao contrário, a situação
agravou-se na última cheia, com inundação de galerias e transbordamento de fossas sépticas.
Já os impactos da mineração sobre os recursos hídricos subterrâneos ainda são pouco
estudados no Brasil.

CONTAMINAÇÃO POR RESÍDUOS SÓLIDOS: Os critérios de avaliação da vulnerabilidade por


lixões têm, por base, as características da permeabilidade, porosidade, arcabouço geológico e, os fluxos
subterrâneos. Estes aspectos, associados à profundidade, são determinantes para vulnerabilidade das águas
subterrâneas. O crescimento desordenado das cidades que situam-se sobre o aqüífero Alter do Chão e,
em particular Santarém, tem levado a disposição
inadequada dos resíduos sólidos que, provocam Exemplo de Lixão nas cidades da Amazônia
alterações na qualidade do solo, do ar e dos
corpos aquáticos, além de representar um risco
para a saúde pública. A responsabilidade pela
disposição final dos resíduos sólidos urbanos é
das prefeituras e, os resíduos sólidos industriais,
de serviços de saúde e agrícola, são do próprio
gerador. No entanto, a grande maioria dos
resíduos sólidos, são lançados em lixões com
presença de resíduos hospitalares e
industriais. Estima-se que Santarém
produza cerca de 48.000/t. ano de resíduos sólidos urbanos, com uma produção anual de
13.383 m3 de percolado e 584.852m3 de gás metano, não existindo, até o momento, qualquer
medida com o objetivo de determinar o impacto e, a extensão da pluma de contaminação
resultante da decomposição e infiltração do chorume proveniente do lixo acumulado sobre o
aqüífero, seja em Santarém, ou nas demais cidades em toda sua extensão.
O RISCO DA SUPER EXPLOTAÇÃO: Outro fato grave, é a total ausência de controle e
monitoramento da explotação. O aqüífero Alter do Chão é explotado em uma vasta área,
abastece dezenas de cidades e as duas maiores metrópoles da Amazônia. Estudos apontam
para uma super explotação em alguns setores da cidade de Manaus, muito superior a
capacidade restauradora do aqüífero, provocando rebaixamento significativo do lençol
freático, modificação da hidrodinâmica local e, maior dificuldade na dispersão de poluentes.

O que mais aflige é, que tal situação, sequer é fiscalizada ou monitorada pelos órgãos
ambientais dos municípios que estão sobre o aqüífero e, portanto, não agem com o rigor que
a importância e o caso requer. Santarém, como os demais municípios, não possuem
esgotamento sanitário. Esgotos domésticos escorrem a céu aberto e, são lançados
diretamente nos córregos, igarapés, rios e lagos. Igual processo ocorre com águas servidas
pelas populações, pelos processos industriais e pelos lava-jatos que, são devolvidas ao meio
ambiente sem qualquer tipo de tratamento e, contaminando o lençol freático. Esta situação é
agravada com o uso de agrotóxicos, aplicação de fertilizantes e insumos nitrogenados por
atividades agrícolas que, por acidente ou imprevidência, acabam contaminando corpos
hídricos. Outro fator contributivo e não fiscalizado, são vazamentos de produtos químicos
dos tanques dos postos de combustíveis. Em sua imensa maioria, os resíduos sólidos são
lançados em lixões. Em suas áreas urbanas, proliferam de forma indiscriminada, habitações
com fossas sem um mínimo critério de construção, grande parte, situadas em quintais sem um
distanciamento mínimo poço-fossa. Aliás, Milhares de poços tipo Amazonas foram perfurados
nas áreas urbanas por iniciativa própria de seus moradores, sem o menor conhecimento dos
pré-requisitos básicos de proteção e, sem qualquer tipo de licenciamento prévio, não
havendo, portanto, distinção entre um poço ou um buraco que dá água e, certamente, grande
parte desses poços, como já demonstrado, estão impróprios ao consumo humano.

No último seminário Águas subterrâneas em regiões metropolitanas realizada em Belém, o


diretor de Recursos Hídricos da Sema, Manoel Imbiriba Jr., destacou o compromisso da
governadora Ana Júlia Carepa com os recursos hídricos do estado. Destacou a aprovação do
Plano Estadual de Recursos Hídricos e a liberação de R$ 1,3 milhão para o setor. Em face do
volumes dos recursos disponibilizados, se faz desnecessário comentar sobre o alegado
compromisso.

Esta é a dramática situação que o aqüífero Alter do Chão está sendo submetido por dezenas de
cidades e, grandes metrópoles em toda sua extensão. Se esta conduta persistir, seja quais
forem as razões e, se políticas públicas para proteger e fazer a gestão integrada desses
recursos não forem estabelecidas em parceria entre os Estados, os Municípios e o Governo
Federal, o desastre será iminente e, salvo melhor juízo, será o maior desastre ambiental
ocorrido na Amazônia e no país. O desmatamento da Amazônia, constantemente denunciado,
será insignificante diante do desastre iminente do aqüífero Alter do Chão.

Inácio Régis é pesquisador ambiental e pós-graduando


em Mudanças Climáticas pela Universidade Gama Filho.

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