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II Simpósio Internacional sobre Cidades Médias

6 a 9 de novembro de 2006
Universidade Federal de Uberlândia

A IMPORTÂNCIA DAS CIDADES MÉDIAS PARA A REESTRUTURAÇÃO


URBANA NO BRASIL: UM ESTUDO DE CASO DA CIDADE DE PETRÓPOLIS

La importância de las ciudades medias para la reestructuración urbana en el


Brasil: un estudio del caso de la ciudad de Petrópolis

Gabriel de Souza Barbosa


gabrielsbarbosa@yahoo.com.br

Aramis Cotes de Araújo Jr.


Universidade Federal do Rio de Janeiro

RESUMO
Esse trabalho procura analisar o caso particular desempenhado por Petrópolis, uma
cidade que fica próxima a uma metrópole – no caso a do Rio de Janeiro – e região
metropolitana, quanto ao seu papel de nova área de atração populacional com base nos
estudos sobre a importância das cidades médias brasileiras. Entretanto, essa
proximidade não pode ser medida apenas em quilômetros, pois a Serra da Estela
traduz-se numa barreira geográfica de difícil alcance, que, por muito tempo, retardou a
superação dos, aproximadamente, sessenta quilômetros. O trabalho está centrado
numa discussão das mudanças das relações entre Petrópolis e a metrópole num
momento mais recente e identificação de formas de "segregação" numa escala
interurbana e regional, articulando o papel da cidade média como centro de gestão
tecnológica e empresarial. Como resultado das investigações serão apresentadas, no
final, algumas considerações e hipótese sobre estes processos que estão em pleno
andamento.
Palavras-chave: cidade média, rede urbana, tecnopólos.

RESUMEN
Ese trabajo busca analisar el caso particular desearrollado por Petrópolis, una ciudad
que se queda próxima a una metrópoli – en el caso a de Rio de Janeiro – en región
metropolitana, en lo que se refiere a su palel de nueva área de atracción populacional
con base en los estudios sobre la importancia de las ciudades medianas brasileras.
Entretanto, esa proximidade no pude ser medida solo en kilómetros, pues la Serra da
Estela se convierte en una barrera geográfica de difícil alcanze, que, por mucho tiempo,
retardo a la superación de los, aproximadamente, sesenta kilómetros. El trabajo está
centrado en una discusión de las mudanzas de las relaciones entre Petrópolis y la
metrópoli en un momento mas reciente e identificación de formas de "segregacion" en
una escala inter-urbana y regional, articulando el papel de la ciudad média como centro
de gestión tecnológica e empresarial. Como resultado de las investigaciones seran
presentadas, en el final, algunas consideraciones e hipótesis sobre estos procesos que
estan en plena tramitación.
Palabras-claves: ciudad media, red urbana, tecnopolos.

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Universidade Federal de Uberlândia

Introdução

Esse trabalho procura analisar e discutir o caso singular de uma cidade que fica próxima a
uma metrópole e região metropolitana o que levanta certos problemas e dificuldades para a
compreensão de seu surgimento e desenvolvimento, numa perspectiva de tentar dar conta da
totalidade desse processo. Remete-nos, irremediavelmente, a uma abordagem regional que precisa
dar conta das dinâmicas econômicas, sociais e políticas nessa escala.

Fala-se da cidade e do município de Petrópolis no estado do Rio de Janeiro que se


desenvolveu em relativa proximidade à, hoje, segunda maior metrópole do país, o município e a
Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Entretanto, essa proximidade não pode ser medida apenas
em quilômetros, pois há um acidente natural, a Serra da Estela, entre as duas cidades que dificultou,
por muito tempo, a superação daqueles aproximadamente sessenta quilômetros. O trabalho está
centrado numa discussão das mudanças das relações entre Petrópolis e a metrópole num momento
mais recente e identificação de formas de "segregação" numa escala interurbana e regional. Há o
momento decisivo da transformação dessa relação com a implantação de uma moderna infra-
estrutura de auto-estradas e, mais tarde, ligações via cabos óticos que vão melhorar o acesso ao
município; o que significa, vice versa, também um melhor acesso à metrópole. Já se percebem, hoje,
os primeiros resultados dessa mudança com o fortalecimento não apenas das atividades tradicionais
de turismo (em particular o de fim de semana e segunda residência), mas também de setores
modernos da indústria e dos serviços.

Como resultado das investigações serão apresentadas, no final, algumas considerações e


hipótese sobre estes processos que estão em pleno andamento. Há, sim, indícios que essas
mudanças possam fortalecer a posição de Petrópolis dentro de uma rede - não hierárquica - de
relações entre cidades e metrópoles. Hoje, não necessariamente, essas relações ao longo das redes
obedecem àquela tradicional lógica (christalliana) de se dirigir de um lugar funcionalmente
subordinado para aquele superior que vai permitir a conexão com outros que estão ao mesmo
patamar como aquele maior; as redes atravessam essas hierarquias e permitam, então, novas formas
de "autonomias". Ao nível regional, a segregação aparecer, portanto, como uma diferenciação entre
diferentes lugares em diversos patamares; sejam ligados à economia e indústria, à habitação, à
educação e outros.

Observa-se, hoje, a busca pelos mais distintos grupos ou classes da população dos grandes
centros urbanos e metropolitanos por uma melhoria de sua qualidade de vida. O desejo de uma parte
dessa população de abandonar a cidade e seus subúrbios e migrar para lugares mais distantes está,
atualmente, ligado à fatores que evidenciam a condição de caos urbano, como, violência urbana,

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trânsito, à saturação do mercado de trabalho, à poluição, entre outros, elementos estes que
comprometem a idéia de qualidade de vida estimulada nos dias atuais.

Nossa linha de pesquisa, que confere um significado mais geral às partes apresentadas
nessa Jornada como recortes específicos, trabalha com a hipótese de que os movimentos migratórios
- sejam permanentes ou temporários (diários, semanais etc.) - poderão, futuramente, assumir maior
vulto e importância e até chegar a contribuir para uma nova "ordem sócio-espacial".

Em vista disso, buscou-se estudar de que forma a criação do pólo tecnológico do Município
de Petrópolis na Região Serrana do Rio de Janeiro pode contribuir para uma reorganização espacial
do lugar. Este novo pólo tecnológico pode criar uma "nova mobilidade", que porventura, fornecerá
ferramentas para uma nova configuração espacial.

Uma outra preocupação que este trabalho destina-se evidenciar é a classificação de


Petrópolis no âmbito da rede urbana fluminense, já que esta apresenta diversas especificidades que
se confundem com os padrões identificados nos dias atuais.

Primeiramente buscou-se efetuar um breve levantamento bibliográfico acerca dos estudos


que enfocam as transformações do espaço determinadas ou influenciadas pela instalação de um pólo
tecnológico. Além disso, buscou-se o conhecimento específico do próprio pólo tecnológico de
Petrópolis.

As informações foram conseguidas a partir de visitas à sede do pólo tecnológico, em


Petrópolis, através da internet, em sites informativos e em artigos publicados na mesma, e de jornais
locais.

Área de Estudo

A área de estudo se estende ao longo da rodovia BR-040 na altura do município de Petrópolis


com uma distância de cerca setenta quilômetros do centro do Município do Rio de Janeiro, ou seja,
relativamente próximo quando se utiliza transporte rodoviário (mapa 1). Uma outra característica de
escolha da área de estudo é o fato de Petrópolis estar na região serrana do estado do Rio de Janeiro,
que vem estimulando a venda de um pacote turístico recheado de atratividades ecológicas e
culturais, o que nos dias de hoje se identifica como fatores importantes para a condição de conforto
sócio-econômico.

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Figura 1: Mapa de Petrópolis em relação a metrópole carioca

Dentro da busca por uma definição adequada para a discussão em torno de cidades médias,
se torna necessária uma revisão, no primeiro momento do presente trabalho, sobre o papel
desempenhado pela cidade de Petrópolis dentro de uma classificação funcional de cidades médias
que possa contribuir, de maneira correta, aos anseios de alteração taxonômica na hierarquia da rede
de cidades do estado do Rio de Janeiro.

Assim, vem-se pensado que a princípio as cidades médias se tornaram importantes para o
Brasil, pois em um determinado momento de nossa dinâmica urbana, mais precisamente ao longo de
toda a década de 1970, quando começamos a ter a necessidade por parte tanto do setor produtivo
(industrial) como populacional (classes de elevado padrão financeiro) de uma desconcentração
espacial refletindo assim, primeiramente, em um entorno mais peri-metropolitano, onde os
protagonistas para tal dinâmica, no caso imobiliária, seriam a já citada classe média e suas
ramificações para cima.

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É interessante destacar que este crescimento das cidades médias, que como colocam
SERRA e FILHO (2001) teria um papel importante dentro de uma nova necessidade do país, pois, a
partir de agora, elas funcionariam como verdadeiros “diques” que seriam constituídos pelas mesmas,
evitando, assim, a primazia existente na rede urbana brasileira até fins da década de 1960.

Além disso, há também fatores que proporcionam uma maior desconcentração espacial das
cidades brasileiras de maior dinamismo econômico e populacional até então por demais
concentradas em grande parte na região centro-sul do país a ponto de criar enormes desigualdades
regionais, que sempre perseguiram como verdadeiras “assombrações” a nossa hierarquia urbana,
gerando as conhecidas Superintendências de Desenvolvimento, como a nordestina. Estes fatores são
chamados de “externalidades negativas” ou “deseconomias de aglomeração”, pois como bem frisam
ANDRADE e SERRA (1998) estaria havendo “mudanças no padrão tecnológico para permitir a
produção em pequenas unidades, e um desenvolvimento suficiente das tecnologias de comunicação
e transporte para permitir uma decisão de moradia mais independente dos locais de produção”.

Mas, então, o que atrairia em uma cidade média os olhares atentos de setores da economia a
fim de explorar este espaço até então pouco utilizado? O primeiro aspecto a ser abordado é aquele
que mostra o quão subjetiva é a análise de tais cidades e, conseqüentemente, uma definição está
longe de ser consensual. Mesmo assim este trabalho procura definições que viriam a alçar esta
discussão e que proporcione a continuidade da discussão até que se consiga chegar à discussão das
características de Petrópolis enquanto nova posição na hierarquia fluminense.

As cidades médias, ainda utilizando o estudo de SERRA e FILHO (2001) mostrando que elas:

...podem ser valorizadas pela oferta de emprego... pela existência de infra-estrutura


básica, pelas oportunidades de acesso à informação, pelos melhores recursos
educacionais. Enfim, pela existência de bens e serviços essenciais à ascensão
material e intelectual de seus moradores. (SERRA E FILHO, 2001).

Esta passagem mostra uma característica importante da transformação que vem ocorrendo
no Brasil (dentro de um contexto maior ligado a uma dinâmica global) onde as cidades médias
passam a cada vez mais se desgarrar dos tentáculos da metrópole e adquirir status próprio e, muitas
vezes, dinâmica econômica livre das interferências da core área metropolitana. Ora, se pensarmos
que, até a década de 1970, os pólos atrativos da economia nacional estavam localizados nas duas
maiores cidades do país, São Paulo e Rio de Janeiro, não se observava uma saída para o cada vez
maior inchaço destas cidades anteriormente citadas, transformando o caso de primazia, ou seja, uma
grande importância econômica, política, administrativa, cultural em um caso de macrocefalia urbana,
isto é, um crescimento difuso e desordenado de cidades a ponto de gerar em um subseqüente
momento “deseconomias de aglomeração” (CORRÊA, 1989).

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Porém a pergunta posta anteriormente ainda não foi respondida: como classificar uma cidade
média? Esta pergunta poderia, caso fosse uma outra abordagem, ser respondida rapidamente
quando se propõe tal classificação em aspectos numérico-quantitativos, isto é, ao determinar que
cidades médias seriam facilmente classificadas de acordo com o número demográfico existente que
estabelecia um limite que estava entre 50 mil e 250 mil habitantes. Ou então SANTOS (1994) as
classifica que o limite por baixo seria de 100 mil habitantes, mostrando ainda que os bens e serviços
oferecidos por tais não poderiam se limitar as mais baixas posições na hierarquia das cidades,
exaltando assim a importância adquirida pelas cidades de porte médio na rede de cidades.

Portanto, enquanto tentativa de resolução da problemática desta primeira parte em responder


o que são cidades médias, busca-se ainda pontos encontrados que seriam explicativos para um
encerramento adequado, utilizando-se as definições de SERRA E FILHO (2001) para a uma tentativa
de argüição em relação às cidades médias que venha a atender os interesses práticos do trabalho:

− “interações constantes e duradouras tanto com seu espaço regional subordinado quanto com
aglomerações urbanas de hierarquia superior”;

− “tamanho demográfico e funcional suficiente para que possam oferecer um leque bastante
largo de bens e serviços ao espaço microrregional a elas ligado; suficientes, sob outro ponto,
para desempenharem o papel de centros de crescimento econômico e regional e
engendrarem economias urbanas necessárias ao desempenho eficiente de atividades
produtivas”;

− “capacidade de receber e fixar os migrantes de cidades menores ou da zona rural, por meio
do oferecimento de trabalho, funcionando, assim, como ponto de interrupção do movimento
migratório na direção das grandes cidades, já saturadas”;

Por isso esta primeira explanação é importante para a definição dos parâmetros que serão
utilizados para a conceituação de cidades médias e com isso estar incorporando o caso a ser
relatado, que aqui seria Petrópolis, dentro da análise

Enfim, tem-se até o presente momento tentado mostrar algumas abordagens sobre o
tratamento de classificações levando em conta a problemática das cidades médias enquanto
mediadoras importantes entre as grandes cidades (metrópoles) e os pequenos centros ou local, ou
regional, aumentando assim a integração entre as diferentes áreas de um lugar onde quanto menor a
discrepância entre seus pólos extremos (grandes e pequenas cidades) ter-se-á uma cidade média
que se torna elo de ligação entre elas. Isso será mais bem tratado no próximo momento quando se
discute a rede urbana fluminense a sua recente modelação.

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II- A rede urbana fluminense e a sua reorganização funcional: o que há de novo?

É indiscutível o papel apresentado pela metrópole no contexto do desenvolvimento industrial


e urbano em cidades latino-americanas, uma vez que o incremento demográfico existente nelas é
necessário para um projeto mais amplo que visa a mudança e o início do uso destes espaços
nacionais até então explorados apenas como grandes reservas de recursos naturais consumidos
pelos países centrais do sistema-mundo.

Alguns antecedentes do caso urbano no Brasil devem ser citados como forma de apreender a
importância da inversão entre os meios rural e urbano. É sabido que, até a década de 1950 o Brasil
era um país tipicamente rural onde as cidades passavam a iniciar um importante papel no
desenvolvimento nacional. Neste marco tem-se um intenso êxodo rural que ocasiona o inchaço das
cidades até então pouco crescidas o que traz a necessidade de se iniciar a reflexão sobre os
problemas urbanos que começam a surgir no Brasil neste período.

E o Rio de Janeiro terá uma transformação abrupta no que confere ao tema já que desde o
momento em que este estado perde a sede do poder federal de seu território (com a construção de
Brasília e a transferência da capital para o centro-oeste do país) a sua dinâmica produtiva necessita
de antídotos adequados para conter sua crise econômica e política. Esta crise irá refletir
profundamente na sua organização espacial em relação à rede de cidades e sua importância em
momentos posteriores, com cidades até então consideradas pequenas vindo à tona no ganho
financeiro, como por exemplo, cidades como Porto Real (fora da região metropolitana) e Duque de
Caxias (interna a região metropolitana).

A rede urbana fluminense passa então a assumir um papel diferenciado do existente até a
década de 1990. Esta rede urbana irá refletir todo um processo de concentração espacial tanto das
atividades produtivas quanto da população do estado na sua cidade-sede, a metrópole Rio de
Janeiro, quanto no seu entorno, a região metropolitana. Neste cenário, o interior fluminense estava
fadado a ser um mero auxiliar no crescimento cada vez maior do núcleo metropolitano, excetuando-
se algumas cidades que possuíam crescimento econômico como Volta Redonda, Campos, e cidades
da região serrana como Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo (SANTOS, 2003).

Isso forma uma rede bem atrofiada de cidades no estado que cada vez mais ampliam a
distância entre os núcleos menores e as cidades maiores, sem a intermediação das cidades médias
para uma menor deformação deste sistema urbano. Mas como bem frisou NATAL em entrevista ao
jornal O GLOBO passa a haver um maior dinamismo no interior fluminense a partir de meados da
década de 1990, o que ele chama de “inflexão positiva”, onde explica que “Hoje o estado do Rio de
Janeiro tem uma rede urbana como nunca tivemos no passado... Há muito mais municípios

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funcionando como pólos regionais. A dependência em relação ao Rio e a Niterói é menor...” (NATAL,
2006).

Esta colocação mostra uma dinamização do interior fluminense e com isso uma
reestruturação produtiva do Estado do Rio de Janeiro, pois, a princípio, os novos investimentos
industriais existentes neste último período, caracterizado por NATAL como “inflexão positiva” a partir
dos anos 1990, vêm sendo fixados em cidades médias, como Porto Real, Macaé, Itaboraí entre
outras. Nesta linha, SANTOS em trabalho de 2003 ressalta que “várias dessas cidades médias
possam tornar-se importantes pólos regionais intra-estaduais, considerados instrumentos de uma
distribuição dos benefícios do crescimento econômico de modo mais progressivo e sustentável”
(SANTOS, 2003).

Ou seja, NATAL e SANTOS tentam ampliar a realidade fluminense e mostrar a nova dinâmica
de sua rede urbana que passa a contar com um fortalecimento muito maior das cidades de porte
médio, forçando dessa forma a uma desconcentração espacial também demográfica, por fatores que
em alguns pontos se destoam das indústrias, porém em outros se entrelaçam: violência, problemas
ambientais, congestionamentos, elevados preços imobiliários, elevado custo de vida nos centros
urbanos, novas tecnologias de informação e comunicação que vieram para ajudar na decisão de sair
das áreas centrais sem perder sua capacidade de integração telemática como na metrópole.

É aqui neste ponto que se especifica mais intensamente o caso a ser estudado após esta
rápida introdução sobre a tentativa de classificação de cidades médias e a rede urbana fluminense.
Petrópolis para este trabalho será um caso paradigmático que deve ser compreendido enquanto uma
cidade média que possui uma relação específica entre as demais cidades de igual porte dentro do
estado.

Para melhor entendimento neste momento, é necessária a explicação de que o rumo a ser
seguido a partir de agora será relacionar Petrópolis a uma classificação que não traz o simplismo de
uma definição da importância de uma cidade na hierarquia urbana apenas pelo seu tamanho
demográfico. Aqui será utilizada a tecnologia como a grande receita do sucesso que está por trás do
crescimento econômico e desenvolvimento de Petrópolis enquanto pólo regional para toda a região
serrana.

O caso de Petrópolis-Técnópolis

As tecnópolis são cidades pólo de uma região, cujo desenvolvimento está alicerçado nos
ativos de ciência e tecnologia. Um tecnopólo tem como ponto positivo o alto valor agregado de

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produtos e processos, geração de postos de trabalho de alto nível e índice elevado do padrão de
qualidade de vida. Existem dois tipos de tecnópolis:

a) Tecnópolis planejadas:

As tecnópolis planejadas são cidades cuja fundação é fruto de planejamento estratégico de


política governamental. Os investimentos são altos, e os riscos também. Como exemplo pode–se citar
uma das tecnópolis japonesas cujo investimento em apenas um laboratório foi de mais de 01 (um)
bilhão de dólares, sem falar nas demais infra-estruturas, tais como: Universidade tecnológica, escolas
em todos os níveis para os filhos pesquisadores, serviço de saúde, entre outros. Este valor é quase
três vezes o montante de recursos previstos de todos os fundos setoriais juntos para o ano de 2002.

b) Tecnópolis espontâneas:

São cidades que por indutores nem sempre explícitos, adquiriram ativos tecnológicos que se
tornaram em diferenciais, possibilitando através de intervenções planejadas, elevar as competências
científicas e tecnológicas ao nível de tecnópolis.

As tecnópolis espontâneas têm como ponto positivo, o baixo investimento em relação às


planejadas e a minimização dos riscos do projeto, uma vez que, parte dos ativos tecnológicos foi
sendo adquiridos espontaneamente desde a fundação. Uma análise dos ativos tecnológicos de
Londrina no ano de 1998 fez com que originasse o projeto Londrina Tecnópolis.

Verificou-se nessa época, que a cidade de Londrina possuía excelentes instituições de ensino
e pesquisas em fase de crescimento, aliada a uma boa matriz industrial emergente, voltada para a
inovação tecnológica, empresas demandantes de tecnologia e outras usuárias intensivas de
conhecimento científico e tecnológico na elaboração de produtos e processos. Esta performance de
ativos tecnológicos, aliada a uma localização estratégica do ponto de vista mercadológico, com
ótimas vias de acesso, ligação aérea com as principais cidades brasileiras, excelente estrutura de
telecomunicações e de serviços de saúde, entre outros. Fazia de Londrina um diferencial em relação
a muitas cidades brasileiras de mesmo porte e outras mais antigas de fundação. O projeto, Londrina
Tecnópolis, tem como objetivo estratégico, a partir de estudos e diagnósticos, fundamentados em
análise de tendências tecnológicas, mercadológicas e econômicas, nos níveis nacionais e
internacionais, construir no horizonte de dez a quinze anos, novas competências científicas e
tecnológicas que elevem Londrina à categoria de tecnópolis.

O ativo mais importante de uma tecnópolis é a competência científica, considerando que a


pesquisa e a produção de novos conhecimentos, aplicados na geração de produtos e processos,
conduz à inovação tecnológica de alto valor agregado. Por isso, um dos índices críticos de uma
tecnópolis é a massa crítica per capta de pesquisadores, principalmente nas áreas de tecnologia e

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correlatos. A construção deste ativo é demorada e exige altos investimentos, principalmente quando
não se têm programas de pós-graduação strictu senso na própria cidade. Um outro ativo fundamental
para uma tecnópolis é a cultura empreendedora, considerando que a mesma é motora do
desenvolvimento empresarial e da inovação tecnológica.

A competência tecnológica, constituída de laboratórios de desenvolvimento, ensaios e de


verificação e certificação da conformidade, constitui a base da atividade econômica de uma
tecnópolis, elevando o padrão de qualidade e competitividade dos empreendimentos. Destarte, se faz
necessário à construção de instrumentos indutores e facilitadores, que permitam a geração e
transferência de tecnologia em todos os níveis, tais como: Sementeiras Tecnológicas, Hotéis
Tecnológicos, Disque Tecnologia, Incubadoras Tecnológicas, Parques tecnológicos, Escritórios de
Transferência e Comercialização de Tecnologia, entre outros.

Em vista disso, o projeto Petrópolis-Tecnópolis é uma iniciativa do governo para tornar a


Região Serrana do Rio de Janeiro um pólo de alto desenvolvimento tecnológico. A Petrópolis-
Tecnópolis foi dividida em cinco áreas, batizadas de Tecnopólos, cada uma direcionada a um
determinado setor da tecnologia. A intenção é que empresas de mesmos setores estejam próximas,
promovendo intercâmbio de conhecimentos e negócios entre si. Os empreendimentos também
podem compartilhar despesas e reduzir custos. A criação deste pólo, por sua vez, busca atrair
investimentos de empresas dos setores de software, biotecnologia e comunicação para a área. As
primeiras iniciativas para a implantação do projeto Petrópolis-Tecnópolis se iniciaram em 1984. No
entanto, somente em 2000 foi elaborado o primeiro Plano Diretor para o projeto.

Histórico:
1984 - Primeiras iniciativas para a criação de um pólo de tecnologia.
15/06/1984 - Criado o Curso de Ciência da Computação na Universidade Católica de Petrópolis
1987 - Criação da Funpat (Fundação Parque de Alta Tecnologia de Petrópolis)
1988 - Instalação oficial da Fundação Cultural Dom Manoel Pedro da Cunha Cintra.
1991 - Reconhecimento do Curso de Ciência da Computação - Portaria Nº 184591.
1997 - Estudo coordenado por Dr. Eliezer Batista - "Infraestrutura de Longo Alcance para o
Desenvolvimento Sustentado do Estado do Rio de Janeiro - O Rio no Século XXI".
1998 - A Fundação Getúlio Vargas divulga estudo sobre as principais potencialidades econômicas das
Regiões do Estado do Rio de Janeiro.
1999 - Inauguração da nova sede do LNCC (Laboratório Nacional de Computação Científica) em
Petrópolis, um dos mais importantes centros de pesquisa do MCT.
Assinatura de termo de compromisso entre o MCT, o Governo do Estado do Rio de Janeiro, a
Prefeitura de Petrópolis, a Firjan e a Funpat.
A Funpat e a Prefeitura são designadas como as instituições responsáveis pela coordenação do
Projeto.
2000 - Elaborado o primeiro Plano Diretor para o Projeto Petrópolis-Tecnópolis.

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2003 - 1ª revisão do Plano Diretor do Projeto Petrópolis-Tecnópolis, gerando o planejamento estratégico


atual. Elaboração e implantação do novo Modelo de Gestão para o Projeto.

Objetivos principais do projeto:

− Fazer com que o alto escalão, composto por empresários e trabalhadores de ponta, venham
a se estabelecer em Petrópolis como sendo esta sua cidade-moradia.

− Ampliar o número de empresas intensivas em conhecimento, contribuindo para um PIB


regional crescente.

− Desenvolver uma identidade regional de empresas de software.

− Estimular a geração, a difusão e a transferência de conhecimento das instituições de ensino e


pesquisa e de desenvolvimento e inovação para o setor produtivo.

− Capacitar as pessoas e as empresas da região, tecnológica e gerencialmente, com o apoio


de centros de competência e das instituições produtoras e difusoras de conhecimento
existentes.

− Engajar o Projeto na vida da região, inclusive no seu processo de planejamento. Viabilizar o


projeto e implantação da infra-estrutura de apoio necessária ao Projeto.

Analizando-se estes objetivos principais, retirados do Plano Estratégico para implantação de


Petrópolis-Tecnópolis de junho de 2003, pôde-se perceber o grande interesse da incorporação da
população local com o projeto.

A organização das empresas e instituições ligadas ao projeto torna claros os objetivos de


uma tecnópolis, que é de criar um modelo administrativo e produtivo semelhante a todas as empresas
participantes.

Os setores visados - biotecnologia, construção de softwares e comunicação - são


empregadores de uma mão-de-obra altamente qualificada, o que pode fazer com que esses
trabalhadores venham a residir na própria cidade. A presença desta população de renda mais alta na
cidade pode determinar uma nova forma de urbanização a curto prazo e a longo prazo.

As susceptíveis transformações que podem ocorrer no espaço a partir da implantação de uma


Tecnópolis, em específico o caso Petrópolis-Tecnópolis, a curto e longo prazo são pontos
fundamentais de nosso estudo. Primeiro, torna-se imprescindível a reorganização do transporte em
Petrópolis. Atualmente, a malha rodoviária, mais importante meio de locomoção, se encontra em
absoluto caos, o que inviabilizaria a dinâmica dos fluxos produtivos. Em seguida, é importantíssimo
também que toda a legislação ambiental seja respeitada na implantação de Petrópolis-Tecnópolis.
Em terceiro lugar, e talvez mais importante objeto de estudo é o processo migratório de chegada de

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pessoas, de diferentes classes, que Petrópolis pode enfrentar com a implantação deste novo padrão
de desenvolvimento na área. Segundo Ana Hofmann, gerente do projeto Petrópolis-Tecnópolis, 90%
das pessoas que buscam o projeto Petrópolis-Tecnópolis possuem casa no município. Sabe-se, no
entanto, que para absorver toda esta população é necessário uma determinada infra-estrutura.
Setores de transporte, saúde, educação e habitação podem ser os mais prejudicados pelo
crescimento populacional.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, T. A., SERRA, R. V. O recente desempenho das cidades médias no


crescimento populacional urbano brasileiro. In: Crescimento econômico e
desenvolvimento urbano. IPEA. Rio de Janeiro, 1998. Disponível em: <www.ipea.gov.br>
CORRÊA, R. L. A rede urbana. Ed. Ática, São Paulo, 1989.
NATAL, J. A fusão foi levada a termo. O Globo, Rio de Janeiro, 7 maio 2006. economia,
p. 44.
Petrópolis - Tecnópolis (2003) Petrópolis-Tecnópolis: Planos Estratégicos 2003 - 2007,
junho de 2003.
SANTOS, M. A urbanização brasileira. São Paulo. Hucitec. 3ª ed, 1994.
SERRA, R., V. FILHO, O. A. Evolução e perspectivas do papel das cidades médias no
planejamento urbano e regional. In: ANDRADE, T. A., SERRA, R. V. (org.) Cidades
Médias Brasileiras. Rio de Janeiro: IPEA, 2001.

REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS
www.ipea.gov.br
www.petropolis-tecnopolis.com.br

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