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MESTRADO EM SUPERVISÃO PEDAGÓGICA

“TRABALHO INDIVIDUAL”

Disciplina: Metodologia da Investigação Educacional II

Docente: Maria Luísa Branco

Carlos Alberto Maricoto Silva

Covilhã
Junho / 2009

INDICE

1. Introdução
2. Papel Institucional do Professor de Educação Física.
3. Problemática.
4. Metodologia.
5. Sujeitos da Investigação.
6. Instrumentos de Recolha de Dados.
7. Elaboração do Guião da Entrevista.
8. Procedimentos Seguidos Durante a Entrevista.
9. Transcrição das Entrevistas.
10. Técnicas de Tratamento da Informação.
11. Conclusão.
12. Referências Bibliográficas.

1. Introdução.
Neste trabalho que me proponho realizar, irei tentar delinear um plano de
investigação sobre uma questão que me parece pertinente. Sou professor de educação
física há vinte e três anos e sei perfeitamente qual é o meu papel como docente, não só na
actividade lectiva com os alunos, mas também na participação nas estruturas pedagógicas
da escola (Coordenador do Departamento de Expressões com assento no Conselho
Pedagógico). Em todos os períodos a que fui chamado para coordenar um Departamento ou
a representar a Disciplina de Educação Física nos Conselhos Pedagógicos das escolas
onde leccionei, sempre tive a percepção que os docentes das outras áreas curriculares não
tinham uma noção bem clara do papel do Professor de Educação Física (adiante designado
por PEF) na escola. Em conversas informais, todos sabiam que animavam festas de fim de
período ou de ano, que punham os alunos a correr, a saltar e a jogar à bola. Era o rapaz ou
a rapariga que aparecia de fato de treino no intervalo sempre de cara jovial e vendendo
saúde. Era “proibido” afirmar que se estava cansado ou doente porque nenhum docente
vislumbrava a possibilidade do PEF se cansar. A resposta era imediata: nem parece de ti!
Um PEF cansado! Quando era apelidado de PEF, tinha a noção que o meu colega já tinha
algum entendimento sobre o meu papel na escola e o que representa a disciplina de
Educação Física em termos curriculares e de desenvolvimento humano. Na maioria das
vezes, não era PEF, mas sim “O Professor de Ginástica”. Na Escola do Século XXI, é ainda
com muita frequência que os docentes das outras áreas curriculares se referem ao PEF
como o “Professor de Ginástica”. Mais frequente ainda, é essa referência por parte dos
Encarregados de Educação e da Comunidade em geral, mas esta preocupação não cabe
neste trabalho.

2. Papel Institucional do Professor de Educação Física.


As orientações emanadas pelo Ministério da Educação vão no sentido vão no sentido
de fazer convergir o processo educativo para a formação integral dos alunos, sendo
assinalado um papel nuclear ao desenvolvimento de atitudes e à consciencialização de
valores e subordinando-se a aquisição de conhecimentos ao domínio de aptidões e
capacidades.
No plano psicopedagógico, importa ter em conta que os alunos se encontram numa
fase de construção da sua autonomia pessoal, devendo-lhes ser proporcionado experiências
mobilizadoras de um pleno domínio de competências intelectuais e de uma segurança de
atitudes no plano socioafectivo.
Refiro três dimensões a serem desenvolvidas na actividade docente pelo PEF.
• A dimensão pessoal.
O PEF deve favorecer o desenvolvimento da autonomia pessoal, dentro dos
princípios da liberdade, da responsabilidade e da solidariedade. Estimular o
desenvolvimento de atitudes de reflexão metódica, de abertura de espírito, de
tolerância e respeito pela diferença. Fomentar o desenvolvimento de atitudes
e capacidades de relacionamento interpessoal, com base num espírito de
confiança e cooperação. Desenvolver atitudes de iniciativa e criatividade
conducentes a uma adaptação crítica à mudança. Desenvolver a
sensibilidade para as criações culturais, artísticas e literárias e incentivar o
reconhecimento pelos valores da autodisciplina, da persistência e do trabalho.

• A dimensão das aquisições fundamentais.


O PEF deve favorecer a língua portuguesa com correcção e fluência nos
diversos modos de comunicação. Promover o desenvolvimento, consolidação
e aprofundamento de formas rigorosas e científicas de raciocínio. Facultar
conhecimentos necessários à compreensão de manifestações estéticas e
culturais e possibilitar o aperfeiçoamento da sua expressão artística.
Desenvolver as capacidades de integração, elaboração e assimilação de
informações e mensagens. Assegurar a compreensão dos elementos
fundamentais da metodologia científica e a utilização das técnicas principais
do trabalho intelectual e proporcionar as bases teóricas necessárias para os
alunos se familiarizarem com alguns grandes sistemas de interpretação da
realidade.

• A dimensão para a cidadania.


O PEF deve favorecer a compreensão dos mecanismos de organização e
funcionamento dos diferentes grupos nos quais o aluno está inserido.
Proporcionar o aprofundamento da capacidade de analisar criticamente
informações e situações do quotidiano, o domínio de capacidades, hábitos e
técnicas de trabalho pessoal e em equipa, a assunção efectiva de
responsabilidades de âmbito escolar e cívico. A formação de jovens
interessados e sensibilizados para a resolução dos problemas da
comunidade.
O PEF, a par com as três dimensões atrás referidas, tem de desenvolver um
currículo específico, assente num Programa Nacional, com incidência no desenvolvimento
dos domínios psicomotor, socioafectivo e cognitivo. Programa esse que apresenta a forma
de listas de objectivos, na estrutura das áreas e matérias indicadas num quadro de extensão
curricular. Também inclui nas orientações metodológicas, princípios e regras a observar na
estratégia pedagógica e organização da actividade educativa.
As orientações metodológicas baseiam-se numa concepção de participação dos
alunos definida por quatro princípios fundamentais:
• A garantia da actividade física correctamente motivada, qualitativamente
adequada e em quantidade suficiente, indicada pelo tempo de prática nas
situações de aprendizagem, isto é, no treino e descoberta das possibilidades
de aperfeiçoamento pessoal e dos companheiros.
• A promoção da autonomia, pela atribuição, reconhecimento e exigência das
responsabilidades que podem ser assumidas pelos alunos, na resolução dos
problemas de organização das actividades e de tratamento das matérias.
• A valorização da criatividade, pela promoção e aceitação da iniciativa dos
alunos, orientando-os para a elevação da qualidade do seu empenho e dos
efeitos positivos da actividade.
• A orientação da sociabilidade no sentido de uma cooperação efectiva entre os
alunos, associando-a à melhoria da qualidade das prestações, especialmente
nas situações de competição entre equipas, e também ao clima relacional
favorável ao aperfeiçoamento pessoal e ao prazer proporcionado pelas
actividades.

3. Problemática.
Tendo enquadrado no ponto anterior o papel do PEF na Escola, surgem as seguintes
dúvidas: será que os professores das outras áreas curriculares têm uma noção aproximada
ou exacta das funções do PEF, como poderão eles caracterizá-lo e enquadrá-lo quanto às
suas funções educativas, vê-lo-ão como um “entertainer”, ou alguém com profundas
responsabilidades pedagógicas, terão eles a noção de que alguns preconceitos em relação
à sua função podem afectar emocionalmente o PEF?
Estas dúvidas motivaram-me para a realização deste trabalho, que não será mais do
que uma pequena abordagem ao tema que me proponho investigar de um modo
evidentemente residual.
Da revisão que fiz da literatura, não encontrei nenhum trabalho publicado sobre esta
matéria, pelo que parto “virgem” e inexperiente nestas questões de investigação.
Resumo o problema a investigar a esta questão:
Qual é a percepção que os docentes das outras áreas disciplinares têm do professor
de educação física na Escola?

4. Metodologia.
De acordo com a especificidade da nossa problemática, podemos recorrer a várias
ferramentas metodológicas. Mas sendo este trabalho, mais uma preparação para a
investigação, inserido numa cadeira de mestrado, do que uma investigação a ser validada
cientificamente, este aproximar-se-à porventura de um estudo exploratório. Utilizarei uma
metodologia de investigação qualitativa, e proponho-me descrever os factos, e se possível
explica-los e compreendê-los através do seu relacionamento, comparação e classificação.

5. Sujeitos da investigação
O critério de escolha dos sujeitos assenta no facto de serem professores do Ensino
Básico e Secundário, em efectividade de funções e pertencerem a qualquer grupo disciplinar
que não seja o de Educação Física. Procurei que fossem de áreas diferentes e optei por um
professor de língua portuguesa e um professor que exerce funções de Presidente de um
Conselho Executivo. Esta escolha permite-me ter o ponto de vista de um professor que
exerce a docência e de um professor com responsabilidade máxima na gestão pedagógica
de um estabelecimento de ensino.
6. Instrumentos de recolha de dados.
Foi utilizado um único instrumento para a recolha da informação pretendida, a
entrevista. A entrevista é do tipo semi-estruturada com as questões previamente definidas. O
questionário é aberto com formulação e ordem das perguntas fixas e o entrevistado pode
dar uma resposta longa ou curta, como queira.
A fundamentação da escolha deste instrumento é de que a entrevista é um meio
precioso no âmbito duma investigação deste tipo, pois, com ela o investigador pretende
aceder à compreensão de como os sujeitos percepcionam e representam um dado
fenómeno e que significado lhe atribuem. Este processo ajuda à emergência do íntimo, do
pensado, até então desconhecido. Pretende-se desvendar as crenças, os significados, as
ideias, as interpretações e os sentimentos de cada sujeito. A entrevista fornece-nos o vivido,
o subjectivo, o individual e, através dele, o social e o cultural (Michelat, citado em
Benavente, 1999). A opção pela entrevista semi-estruturada advém do facto de facilitar a
introdução dos tópicos de interesse. Sendo este tipo de entrevista por natureza mais flexível,
permitirá melhor respeitar o modo como cada entrevistado sentirá necessidade de organizar
o seu discurso, dando maior liberdade de resposta ao sujeito dentro de alguns parâmetros
temáticos.

7. Elaboração do guião da entrevista.


O guião da entrevista foi elaborado respeitando o “protocolo” que se exige à
utilização deste instrumento dentro do paradigma da investigação qualitativa. O guião é
constituído por um conjunto de questões abertas, inclui uma indicação do sujeito, um texto
inicial que apresenta os objectivos da entrevista, que será lido ao entrevistado.
A elaboração do guião seguiu os passos que passo a descrever:
• Selecção da amostra dos sujeitos a entrevistar (professores em efectividade
de funções de qualquer grupo disciplinar excepto de Educação Física).
• Descrição do perfil dos sujeitos (área disciplinar, habilitações académicas,
idade, tempo de serviço).
• Definição do propósito da entrevista (trabalho de mestrado).
• Estabelecimento do meio de comunicação (oral).
• Elaborar as perguntas de acordo com a problemática a investigar:
➢ Pergunta nº1: De que maneira o Professor de Educação física pode
contribuir para a mudança na Escola?
➢ Pergunta nº2: Qual é o espaço por excelência do Professor de
Educação Física na Escola?
➢ Pergunta nº3: Quais são os preconceitos sofridos pelo Professor de
Educação Física na Escola?
➢ Pergunta nº4: De que maneira o Professor de Educação Física pode
contribuir para a formação dos alunos?
➢ Pergunta nº5: como caracteriza a atitude do Professor de Educação
Física na Escola?
➢ Pergunta nº6: De que maneira o Professor de Educação Física é visto
pelos outros professores na Escola?

8. Procedimentos seguidos durante a entrevista.
Teve-se em conta todo o protocolo utilizado nestas situações. O entrevistado é
esclarecido sobre o que se pretende e quais os objectivos. São comunicados os direitos
garantidos nestas situações. Tenta-se criar um clima agradável com condições de
privacidade e regista-se tudo o que se diz.

9. Transcrição das entrevistas.


Entrevista ao Professor A
O professor A é licenciado em filologia germânica, é Professor Titular, docente no
grupo 220 de português e inglês, tem 53 anos e exerce a docência há 29 anos.
Foi-lhe garantido:
• O direito à autodeterminação (poder de decisão de optar ou não em participar
no trabalho e garantia de não utilização de nenhum meio coercivo, podendo-
se retirar sem justificação).
• O direito à intimidade (liberdade para decidir sobre a extensão da informação
fornecida, e liberdade para partilhar informações íntimas ou privadas).
• O direito ao anonimato e à confidencialidade (os dados pessoais não são
divulgados sem autorização expressa e os resultados serão apresentados de
forma a que não seja reconhecido, não se podendo associar as respostas
individuais à identidade).
• O direito à protecção contra o desconforto e o prejuízo (protecção contra
inconvenientes susceptíveis de fazerem mal ou prejudicarem).
• O direito a um tratamento justo e equitativo (ser informado sobre a natureza, o
fim e a duração da investigação para o qual é solicitado, assim como os
métodos utilizados na pesquisa).
Pergunta 1. De que maneira o Professor de educação Física pode contribuir para a
mudança na Escola?
Resposta: O papel do professor de Educação Física na Escola é tão importante
como o de qualquer outro docente de outra qualquer disciplina. Contudo, pensando-
se numamudança, este revestirá um outro sentido, pois pode, dependendo do
objectivo, ser mais activo e interveniente em actividades que pela sua própria
natureza darão mais visibilidade pela actuação dos alunos.

Pergunta 2. Qual é o espaço por excelência do Professor de Educação física na


Escola?
Resposta: O professor de Educação Física não tem um papel assim tão diferente
dos seus pares, mesmo tendo em conta a especificidade da disciplina em si mesma.
No conjunto dos docentes que compõem um conselho de turma, todos trabalham no
sentido do desenvolvimento integral dos alunos tanto na componente de
conhecimentos, como na sua formação como indivíduos e futuros cidadãos. Certo é
que, devido a essa mesma especificidade, o professor de Educação Física, poderá
estar mais sensível para a forma e actividade física dos alunos e ao mesmo tempo,
para a detecção de eventuais problemas de saúde ( de postura, de dificuldade de
respiração, por exemplo).

Pergunta 3. Quais são os preconceitos sofridos pelo Professor de Educação Física


na Escola?
Resposta: Actualmente já se não sente, segundo a minha opinião, qualquer tipo
de preconceito em relação ao professor de Educação Física, em grande parte,
devido à sua própria actuação.
Há tempos idos, sim. Em grande parte das situações, ele erao professor que levava
os meninos para a rua e os punha a correr à volta do campo quando estava bom
tempo, ou lhes passava uma bola para os pés (ou mãos, mas menos
frequentemente) e os deixava “ao Deus dará”, para grande sofrimento e desgosto da
maior parte das meninas ou dos rapazes mais tímidos ou desajeitados.
A imagem do “professor de Ginástica” tem, felizmente, vindo a afastar-se do antigo
conceito que apenas o ligava aos saltos, cambalhotas e torneios no último dia de
aulas de cada período.

Pergunta 4. De que maneira o Professor de Educação Física pode contribuir para a


formação dos alunos?
Resposta: Sendo certo que a actuação conjunta dos professores terá
necessariamente reflexo no futuro dos alunos, é ao professor de Educação Física
que cabe, em primeira instância, o treino e desenvolvimento das suas apetências e
capacidades físicas, mais do que das intelectuais. Assim, é nesta perspectiva que se
aplica com maior acuidade e apropriação a máxima latina “ mens sana in corpore
sanum” (mente sã em corpo são).
O seu papel é também preponderante sempre que um aluno ou apenas gosta da
actividade física e se alheia do restante ou da maioria das outras disciplinas (mais
ligadas ao aspecto cognitivo), ou tem a atitude oposta e hostiliza tudo o que não diz
respeito a livros e cadernos.
Além disso, o respeito pelas regras e a importância do colectivo sobre o individual
pode e deve ser desenvolvido com a prática dos desportos colectivos, sob a
orientação do professor de Educação Física.

Pergunta 5. Como caracteriza a atitude do Professor de Educação Física na Escola?


Resposta: Cada vez mais se nota o envolvimento e participação do professor de
Educação Física na vida escolar, vista comoum todo. Longe vai o tempo em que o
seu espaço se confinava ao pavilhão gimnodesportivo ou aos campos no exterior,
logo que o tempo assim o permitisse. Também o facto de muitas vezes o professor
de Educação Física ter a seu cargo uma direcção de turma, lhe veio conferir um
outro papel e função na vida escolar das crianças.

Pergunta 6. De que maneira o Professor de Educação física é visto pelos outros


Professores na Escola?
Resposta: Neste momento o professor de Educação Física é, a meu ver, um dos
professores do conselho de turma que tem, como cada um dos outros membros, a
seu cargo a leccionação de uma disciplina e, por tal, a orientação e
acompanhamento dos alunos no sentido do seu desenvolvimento integral.
A sua atitude, procurando uma maior interdisciplinaridade, também tem vindo a
modificar e condicionar de forma muito positiva a forma de ser encarado pelos
outros professores dos outros grupos disciplinares.

Entrevista ao Professor B
O professor B é licenciado em Administração Escolar, é Professor Titular, docente no
grupo 110 de 1º CEB, tem 45 anos, exerce a docência há 23 anos e é Presidente de um
Conselho Executivo.
Foi-lhe garantido:
• O direito à autodeterminação (poder de decisão de optar ou não em participar
no trabalho e garantia de não utilização de nenhum meio coercivo, podendo-
se retirar sem justificação).
• O direito à intimidade (liberdade para decidir sobre a extensão da informação
fornecida, e liberdade para partilhar informações íntimas ou privadas).
• O direito ao anonimato e à confidencialidade (os dados pessoais não são
divulgados sem autorização expressa e os resultados serão apresentados de
forma a que não seja reconhecido, não se podendo associar as respostas
individuais à identidade).
• O direito à protecção contra o desconforto e o prejuízo (protecção contra
inconvenientes susceptíveis de fazerem mal ou prejudicarem).
• O direito a um tratamento justo e equitativo (ser informado sobre a natureza, o
fim e a duração da investigação para o qual é solicitado, assim como os
métodos utilizados na pesquisa).

Pergunta 1. De que maneira o Professor de educação Física pode contribuir para a


mudança na Escola?
Resposta: O grupo de Educação Física é um grupo que face às actividades que
desenvolve consegue criar um bom clima quer nos alunos quer no pessoal docente e não
docente e em geral na comunidade. Desta forma consegue criar motivação, consegue
auxiliar no sucesso das outras disciplinas. Em minha opinião, ainda é um dos grupos
privilegiados que por exemplo podia ser opção de matrícula num estabelecimento de ensino.

Pergunta 2. Qual é o espaço por excelência do Professor de Educação física na


Escola?
Resposta: O espaço por excelência é o campo. Contudo não se pode esquecer que
a sala de aula em determinados momentos é prioritária ao campo de jogos, nomeadamente
na aquisição da regra.

Pergunta 3. Quais são os preconceitos sofridos pelo Professor de Educação Física


na Escola?
Resposta: É visto na Escola pelos colegas, por vezes e na minha opinião
erradamente, como um docente que lecciona uma disciplina menor.

Pergunta 4. De que maneira o Professor de Educação Física pode contribuir para a


formação dos alunos?
Resposta: O viver em sociedade implica o cumprimento da regra. Tendo em conta
os jogos colectivos e mesmo os individuais mais concretamente no respeito pelos espaços.
É um grupo disciplinar nuclear para os alunos viverem em sociedade.
Pergunta 5. Como caracteriza a atitude do Professor de Educação Física na Escola?
Resposta: Disponível, cooperativo, criativo, em suma, profissional.

Pergunta 6. De que maneira o Professor de Educação física é visto pelos outros


Professores na Escola?
Resposta: Em dois momentos completamente diferentes: no decurso normal da
Escola, como alguém que lecciona uma disciplina menor. Aquando da necessidade de
actividades da Escola toda, como o grupo que melhor o faz.

10.Técnicas de tratamento da informação.


Considerando o objecto e os objectivos deste estudo, a análise crítica do discurso do
entrevistado é uma forma adequada para revelar as suas perspectivas e convicções. A
opção pela análise de conteúdo deve-se ao facto de ter escolhido a entrevista como
instrumento de recolha de dados, pois é muito útil no tratamento das questões abertas dos
questionários.
Abordou-se a construção interpretativa numa abordagem estrutural conceptual
(Anselm e Corbin, 1998, citado em Afonso 2005), no sentido em que esta é entendida como
a organização dos dados em categorias específicas (…) de acordo com as suas
propriedades e dimensões, usando a descrição para elucidar estas categorias.
Desta forma elaborou-se um quadro descritivo de categorias e sub-categorias, com a
respectiva definição.
Quadro descritivo das Categorias e Sub – Categorias.

Categorias Definição
Categoria A: Contribuição que o PEF pode dar para a mudança
Papel do PEF na mudança na na Escola.
Escola
Categoria B: Aprendizagens consideradas fundamentais para o
Formação dos alunos progresso dos alunos.
Categoria C: Imagem que os outros docentes têm do PEF.
Entendimento da profissão de
PEF ----------------------------------------------------------
------------------------------------- Local considerado adequado à prática lectiva.
Sub – Categoria 1:
Espaço do PEF Comportamento esperado do PEF.
Sub – Categoria 2:
Atitudes do PEF Percepção por parte do PEF, da imagem que os
Sub – Categoria 3: outros docentes têm dele.
Preconceitos do PEF

Noutra fase deste processo de análise de dados, utilizaram-se os estudos sobre


gestão operacional dos dados qualitativos (Marshall e Rossman, 1999, citado em Afonso,
2005), que identificam seis fases nos procedimentos analíticos do material de campo: a
organização dos dados, a produção de categorias, temas e padrões, a codificação dos
dados, a testagem das interpretações que vão imergindo, a busca de explicações
alternativas e a produção do texto final.
O processo de codificação dos dados do material empírico é segmentado em
unidades de sentido, cada uma das quais referenciada a uma dada categoria, donde resulta
a grelha de codificação.
Grelha de codificação ( unidades de análise/conteúdo/sentido )

Categorias Unidades de análise


Categoria A: Papel do PEF na A – É tão importante como o de qualquer outro
mudança da Escola docente de outra qualquer disciplina.
B – Ser mais activo e interveniente em
actividades que pela sua natureza darão mais
visibilidade pela actuação dos alunos.
C – Consegue criar um bom clima quer nos
alunos quer no pessoal docente e em geral na
comunidade.
D – Consegue criar motivação, consegue auxiliar
no papel das outras disciplinas.
E – Podia ser opção de matrícula num
estabelecimento de ensino.
Categoria B: Formação dos A – O treino e desenvolvimento das suas
alunos. apetências e capacidades físicas, mais do que as
intelectuais.
B – O respeito pelas regras e a importância do
colectivo sobre o individual.
C – O cumprimento da regra.
D – O respeito pelos espaços.
E – Para os alunos viverem em sociedade.
Categoria C: Entendimento da
profissão.
-------------------------------------- A – Longe vai o tempo em que o seu espaço se
Sub – Categoria 1: Espaço do confinava ao pavilhão gimnodesportivo ou aos
PEF. campos do exterior.
B – O espaço por excelência é o campo.
C – A sala de aula em determinados momentos é
prioritária ao campo de jogos.

A – Envolvimento e participação na vida escolar


Sub – Categoria 2: Atitudes do vista como um todo.
PEF. B – Disponível, cooperativo, criativo, em suma,
profissional.

A – Actualmente já não se sente, segundo a


Sub – Categoria 3: preconceitos minha opinião, qualquer tipo de preconceito.
do PEF. B – Em tempos idos, sim. Ele era o professor que
levava os meninos para a rua e os punha a correr
à volta do campo.
C – A imagem do “professor de ginástica” tem,
felizmente, vindo a afastar-se do antigo conceito
que apenas o ligava aos saltos, cambalhotas e
torneios do último dia de aulas.
D – Neste momento, é um dos professores do
Conselho de Turma que tem a seu cargo a
leccionação de uma disciplina e por tal, a
orientação e acompanhamento dos alunos no
sentido do seu desenvolvimento integral.
D – É visto na escola pelos colegas, por vezes e
na minha opinião erradamente, como um docente
que lecciona uma disciplina menor. Aquando da
necessidade de actividades da Escola toda, como
o grupo que melhor o faz.

11. Conclusão.
Segundo Marshall e Rossman, (1999), (citado em Afonso 2005), à medida que a
informação se reestrutura por categorias e unidades de sentido, vai-se ensaiando a
identificação de relações lógicas entre os aspectos substantivos do material empírico,
avaliando a coerência da lógica interpretativa em construção e a pertinência e relevância
dos dados disponíveis em relação às diversas pistas interpretativas. Esta fase da testagem
das interpretações, deve ligar-se a outra fase que podemos apelidar de confronto em que se
deve desafiar a coerência da construção interpretativa com a procura de novos dados que
possam enfraquecê-la ou contradizê-la.
Sendo este trabalho, de índole mais simples, pois interpreto-o como uma preparação
à investigação no paradigma qualitativo, sem descurar, mas também não aplicando em
profundidade todas as fases do processo de investigação, tentarei delinear uma construção
interpretativa da problemática inicialmente definida, sem procurar validade científica que se
me afigura desmesurada para um trabalho deste calibre.
Situando a problemática definida: Qual é a percepção que os docentes das outras
áreas disciplinares têm do professor de educação física na Escola?
Verifica-se que os docentes das outras áreas disciplinares vêem o Professor de
educação física, quanto ao seu papel na mudança da Escola, como um docente igual aos
outros, que motiva os alunos e a comunidade educativa e que através da
interdisciplinaridade consegue dar visibilidade à Escola para o exterior. É referido que pode
até ser motivo para escolha de Escola, por opção dos encarregados de educação
considerarem o desporto importante na formação dos seus educandos. É realçado o papel
de visibilidade que pode oferecer, mas nenhum dos entrevistados se refere a mudanças de
metodologias pedagógicas que podem induzir na procura da auto-regulação das
aprendizagens e do desenvolvimento de competências metacognitivas, que são as bases
dos seus pressupostos metodológicos.
Quanto ao seu papel na formação dos alunos, os docentes apontam a socialização
e a educação ambiental e para a cidadania como metas. Referem sempre o cumprimento da
regra, o respeito pelos espaços e viverem em sociedade. Também é referido o
desenvolvimento das capacidades físicas. Este entendimento aproxima-se do que realmente
é o papel do Professor de Educação Física no seu aspecto institucional e didáctico-
pedagógico. Os docentes têm a noção de duas dimensões citadas no início deste trabalho:
a dimensão pessoal, a dimensão para a cidadania, mas não é referida a dimensão das
aquisições fundamentais, que é imprescindível na construção de competências
metacognitivas.
Em relação ao entendimento da profissão, os docentes referem que o professor de
educação física ainda sofre do preconceito de que a sua disciplina é vista por vezes com
uma dimensão menor em relação às outras. Pela distribuição de cargos pedagógicos, tem-
se vindo a entender que a sua função pedagógica é específica e complementar às outras
disciplinas para a formação integral dos alunos. Os docentes referem que o espaço que
ocupa já não é somente os campos de jogos ou o pavilhão gimnodesportivo, mas também a
sala de aula, o que faz supor a visão de uma “nova imagem”, mais condizente com a
profissão docente. Os docentes caracterizam as atitudes como um profissional disponível,
cooperativo e criativo que se envolve na participação da vida escolar.
Em resumo, os docentes de outras áreas disciplinares têm neste momento, uma
percepção do Professor de Educação Física mais condizente com a função docente. Como
um docente que contribui para a mudança (pelo menos a percepção do exterior), e por isso
pode elevar a consideração da Escola. É visto como tendo um papel importante para a
socialização, educação ambiental e para a cidadania. Mas ainda não é considerado como
tendo relevância nas aquisições intelectuais e científicas dos alunos. É mais visto como um
promotor de bons hábitos físicos e de saúde, a par do desenvolvimento cívico e cooperativo,
mas pouco relevante nas aquisições cognitivas.

12. Referências bibliográficas.


AFONSO, N. (2005). Investigação naturalista em educação: Um guia prático e crítico. Porto:
Edições Asa.
BENAVENTE, A. (1999). Escola, professores e processos de mudança. Lisboa: Livros
Horizonte.
FODDY, W. (1996). Como perguntar: Teoria e prática da construção de perguntas em
entrevistas e questionários. Oeiras; Celta.
HILL, M. & HILL, A. (2005). Investigação por questionário. Lisboa: Edições Silabo.
Programas de Educação Física para o Ensino Básico e Secundário. Lisboa: Editorial do
Ministério da Educação.

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