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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO PLANALTO DE ARAXÁ

NÚCLEO DE PESQUISAS ECONÔMICAS E SOCIAIS

INFORMATIVO
ANO III – Nº II – SETEMBRO 2009

AVANÇOS E RETROCESSOS NO SETOR DE


PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE ARAXÁ

Prof. Dr. Vitor Alberto Matos


ARAXÁ – MG
1 - Introdução

Neste informativo pretendemos aprofundar de forma mais enfática nossas análises sobre
a Microrregião Geográfica Araxá, mas agora dando ênfase ao estudo de uma de suas
cidades e de um setor de produção específico. Para a realização desta proposta vamos
estudar e identificar alguns indicadores do desempenho do setor da prestação de serviços
na cidade de Araxá – MG.

O setor Serviços, tanto na economia brasileira como na história do desenvolvimento desta


região, tem apresentado expressivos índices de desempenho, embora também tenha sido
alvo preferencial de mudanças perversas decorrentes de inovações organizacionais e
tecnológicas ocorridas mundialmente. No Brasil estas alterações iniciam-se durante a
década de 1980, principalmente nos setores industrial e de serviços, seguindo a mesma
trajetória mundial, e se materializam com a adoção de novos padrões organizacionais e
tecnológicos resultantes da difusão das tecnologias de base microeletrônica, juntamente
com a descentralização da produção e as novas formas de gestão do trabalho.

A literatura acadêmica fala da transição do modelo de produção fordista para o de


acumulação flexível, entendendo esta flexibilidade tanto na perspectiva da organização do
processo produtivo como na deterioração das relações de trabalho. Em linhas gerais esta
transição dá seus primeiros passos a partir da década de 1980, através da implantação
de um processo de reengenharia industrial e organizacional que reunia informatização
dos métodos de produção, sistema just-in-time, qualidade total e envolvimento
participativo de todos os trabalhadores nos objetivos empresariais.

Durante os anos 90, este processo se intensifica e se desenvolve mais intensamente


através da introdução das formas de subcontratação e terceirização da força de trabalho e
de transferências de plantas e unidades produtivas que, visando a menores custos,
promoviam mudanças de localização geográfica em busca de regiões cujos níveis de
remuneração eram menores do que aqueles vigentes nos principais centros produtivos
nacionais. Atualmente, estes movimentos do capital visando a obter maior competitividade
internacional foram além dos vários segmentos tradicionais da produção, e atingiram mais
intensamente o setor da prestação de serviços onde as novas formas de relações
Metodologicamente, a análise do número de estabelecimentos produtivos em atividade e
a de suas modificações anuais representam a disposição dos empreendedores para o
investimento em resposta às suas expectativas sobre os diversos cenários relacionados a
determinado momento conjuntural da economia. Neste sentido, esta análise buscará
também identificar os principais componentes do emprego neste setor e, ao mesmo
tempo, as transformações ocorridas na capacidade produtiva local, ambos resultantes das
transformações organizacionais e tecnológicas2 ocorridas principalmente no processo
produtivo e de serviços desta cidade.

Este estudo pretende desenvolver a análise dos componentes do emprego e se resume


na identificação do comportamento e das diversas especificidades presentes no segmento
trabalhador. Nela pretendemos verificar o nível do emprego existente e suas diversas
características e transformações focalizando aspectos como: a faixa etária dos
trabalhadores, a sua distribuição de acordo com o gênero e o grau de conhecimento
formal adquirido, a massa de rendimentos e o rendimento médio recebidos. Avaliadas em
conjunto, estas informações permitem a construção do perfil do mercado de trabalho
formal dos serviços na cidade de Araxá e, mais especificamente, contribuem para um
melhor conhecimento tanto do setor produtivo quanto do setor trabalhador.

Sendo assim, nossa proposta neste informativo é a de realizar uma análise preliminar da
composição setorial do mercado de trabalho de Araxá observando-o inicialmente a partir
dos principais setores da classificação nacional das atividades econômicas – CNAE.
Posteriormente, nosso foco deslocar-se-á para o setor de serviços através da utilização
de algumas desagregações nas informações originárias do Ministério do Trabalho e
Emprego – MTE, sempre orientado pelo interesse de obtermos um melhor entendimento
dos avanços e retrocessos provocados pelo movimento de reestruturação produtiva na
economia local. As informações aqui apresentadas abrangem o intervalo entre os anos
1995 e 2008 e foram tabuladas pelo NUPES/UNIARAXÁ a partir da base de dados
RAIS/CAGED3 do Ministério do Trabalho e Emprego – http://www.mte.gov.br e estão
disponíveis em www.uniaraxa.edu.br/pesquisa.

2
Segundo Antunes (2006), estas alterações ocorreram em um momento de intensa “mundialização,
transnacionalização e financeirização dos capitais e certamente provocaram forte reconfiguração no
universo produtivo, industrial e de serviços no Brasil contemporâneo”.
3
A base de dados RAIS permite obtermos informações de caráter sócio-demográfico e profissional a partir
de movimentos de agregação/desagregação segundo os seguintes eixos: temporal (com informações do
período 1985 – 2006), espacial (para os espaços nacional, regional, estadual, mesorregional, microrregional
e municipal) e econômico (com dados sobre a natureza jurídica e o porte dos estabelecimentos
empregadores).
Destaque-se que uma expressiva parcela desta produção regional é gerada em Araxá4,
município que por contribuir com elevados índices de desempenho na dinâmica evolutiva
regional é considerada o pólo dinâmico deste espaço geográfico. Ao nos concentrarmos
exclusivamente sobre o setor de serviços e sua relevância para a cidade de Araxá iremos
inicialmente avaliar os estabelecimentos produtivos e, posteriormente o quantitativo dos
vínculos empregatícios formais existentes.

De acordo com o banco de dados RAIS/CAGED – MTE, a dinâmica evolutiva do número


de estabelecimentos do setor produtivo da cidade de Araxá apresenta distribuição setorial
bastante diferenciada, porém revelando crescimento generalizado. Em números totais,
entre 1995 e 2008, identificamos uma expansão de aproximadamente 53% o que revela
um crescimento anual médio igual a 3,59% (Tabela 2).

TABELA 2 – ARAXÁ: Distribuição setorial dos estabelecimentos produtivos segundo


grandes setores do IBGE.
1995, 1996, 1997, 1998, 1999, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008.
Setores
Anos Construção
Indústria Comércio Serviços Agropecuária Ignorado Total
Civil
1995 136 129 581 442 327 18 1633
1996 153 119 571 469 344 11 1667
1997 152 129 588 486 370 1 1726
1998 169 118 650 514 399 1 1851
1999 176 142 659 547 437 0 1961
2000 178 147 688 601 460 0 2074
2001 174 174 729 600 376 0 2053
2002 179 275 804 644 389 0 2191
2003 176 132 848 740 362 0 2258
2004 186 134 897 722 362 0 2301
2005 171 151 937 741 364 0 2364
2006 219 138 926 742 349 0 2375
2007 203 147 939 749 455 0 2493
2008 206 177 958 781 371 0 2493
FONTE: Relação Anual de Informações Sociais – RAIS / Ministério do Trabalho e Emprego – MTE / Fundo
de Amparo ao Trabalhador – FAT. Tabulação NUPES/UNIARAXÁ.

Embora sejam evidentes os diversos movimentos em cada um dos setores, deve ser
ressaltado que esta diversidade resulta de comportamentos estratégicos assimétricos por
parte dos empresários, fruto de suas diferentes formas de avaliação dos reflexos da
conjuntura econômica vigente sobre o ambiente dos negócios. Entretanto, mesmo
considerando uma conjuntura econômica bastante desfavorável ao investimento produtivo
neste período, principalmente em decorrência da política restritiva desenvolvida pela

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A participação da cidade de Araxá na constituição do PIB desta microrregião no intervalo entre 1999 e
2004 eleva-se de 36,0% para 45%, números que correspondem a uma taxa média anual de crescimento
igual a 2,9%. Em outras palavras, a cidade de Araxá era responsável por aproximadamente 50% da
atividade produtiva regional.
partir de 2003 o comportamento evolutivo dos serviços sofreu uma queda no seu
desempenho cujo resultado a partir deste ano foi a acentuada diferença de desempenho
destes dois setores (Gráfico 1). Os demais, agropecuária, indústria e construção civil não
mostraram esta mesma similaridade. Na agropecuária identificamos o período mais longo
de desempenho decrescente (2000 – 2006) representado por quedas em suas taxas
anuais de crescimento médio (– 4,49%).

Este comportamento certamente contribuiu muito para a pouca expressividade de sua


participação no crescimento médio do total dos estabelecimentos (2,79%). No segmento
industrial, os valores encontrados para estes indicadores, apesar de menores, estão bem
próximos dos valores médios (3,39%). A contribuição da construção civil para o
crescimento médio do total dos estabelecimentos produtivos foi a de menor intensidade
(1,09%), apesar de sua evolução ocorrer de forma semelhante à da indústria. Entre 2002
e 2004 observou-se que o desempenho deste setor apresentou valor negativo em seu
crescimento médio (– 1,04%), fator que, somado ao desempenho da agropecuária, teve
forte influência no crescimento médio do setor produtivo araxaense. Apesar destes
resultados locais, é importante relatar que, este setor oferece uma histórica contribuição
para o desempenho do emprego nacional sendo considerado setor dinamizador da
expansão dos negócios e do investimento em qualquer país.

Por fim nosso quadro descritivo da relevância do setor de serviços na cidade de Araxá se
completa com a análise da dinâmica setorial do emprego de mão-de-obra neste mercado
de trabalho. Esta parte está apoiada teoricamente em vários trabalhos que destacaram os
diversos reflexos causados pela reestruturação produtiva sobre o mercado de trabalho em
muitas economias. De forma resumida os autores mostram que as modificações de
caráter institucional e organizacional realizadas em grande parte das atividades
econômicas, principalmente a descentralização da produção e as novas formas de
gerenciamento do trabalho, ambas materializadas nos movimentos de subcontratação e
terceirização, possibilitaram o surgimento de novas atividades empresariais5 prestadoras
de serviços, de forma complementar às grandes empresas (LIMA 1999; 2002; RAMALHO
1998), mas que provocaram alterações na quantidade destas unidades e no volume de
emprego da mão-de-obra trabalhadora.

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Uma análise mais bem justificada e qualificada desta afirmação será realizada no momento em que
analisarmos a dinâmica expansiva dos estabelecimentos empresariais de acordo com o seu porte avaliado
pelo número de empregados.
Em resumo, o setor de prestação de serviços mostra-se como aquele que apresenta os
maiores índices de absorção da mão-de-obra local disponível. Dentro de nosso período
de análise o setor sempre apresentou taxas de participação setorial acima de 38,00%. A
partir de 2001 estes números estiveram sempre acima de 43,00% chegando até a
aproximadamente 47,00% em 2002. Posteriormente a 2006 este setor revela uma
possível trajetória descendente em sua presença setorial, embora ainda responsável por
grande parcela de participação na economia local.

3 – Análise da evolução dos estabelecimentos produtivos no setor de serviços.

Esta seção analisa inicialmente o número de estabelecimentos existentes no setor de


serviços da cidade de Araxá observando sua distribuição de acordo com duas variáveis
fundamentais para este estudo. A primeira avalia sua natureza jurídica procurando
destacar não somente a presença dos setores público e privado em sua composição, mas
também os quantitativos de cada uma de suas classes destacando aquelas de maior
presença neste setor. A segunda segmenta o número de estabelecimentos de acordo
com o tamanho de suas plantas de produção medido pelo número de empregados
formais existentes. O estudo desta forma de distribuição procura identificar a composição
e a capacidade que esta estrutura produtiva tem para responder com rapidez e eficiência
às demandas provenientes dos vários mercados de suas firmas.

O total de estabelecimentos existentes no setor de serviços da cidade de Araxá seguiu


uma dinâmica continuamente crescente passando de 442 em 1995 para 781 em 2008. No
entanto, se considerarmos a forma jurídica da constituição de cada um deles6, notaremos
que as Sociedades por Quotas de Responsabilidade Limitada e as Firmas mercantis
individuais com ou sem empregados sempre representaram mais de 50% do total dos
estabelecimentos prestadores de serviços existentes no município.

Desta forma, enquanto o crescimento médio do total dos estabelecimentos prestadores de


serviço ocorreu a uma taxa de 4,47%, o crescimento médio destas formas jurídicas de
constituição das empresas se deu a uma taxa de 6,62%. Esta diferença corresponde a

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De acordo com as informações do banco de dados RAIS/CAGED do Ministério do Trabalho e Emprego – TEM, o elenco das formas
jurídicas sofreu algumas variações de nomes durante este período. Em razão da diversidade de nomes optamos por apresentar
unicamente aqueles que não sofreram nenhuma alteração ou, quando isto ocorreu, sempre a explicação não deixava dúvidas sobre
sua forma idêntica à anterior.
organização da propriedade. A presença pública limitou-se às atividades de
administração, defesa e seguridade social, à intermediação financeira, às
telecomunicações e correio e às associações.
Para finalizar este desenho estrutural procuramos identificar tanto sua composição quanto
o seu porte operacional avaliando sua capacidade de resposta às necessidades oriundas
de seus mercados. Neste sentido, analisamos o tamanho dos estabelecimentos tendo
como medida de avaliação o número de empregados formais existentes (Tabela 3).

TABELA 3 – ARAXÁ: Número de estabelecimentos do setor de serviços segundo o


tamanho medido pelo número de empregados.
1995,1996, 1997, 1998, 1999, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008.
Tamanho do estabelecimento de acordo com o números de empregados
Anos Ate >5 >10 > 20 > 50 > 100 > 250 > 500
Nenhum > 1000
4 até 9 até 19 até 49 até 99 até 249 até 499 até 999
1995 55 263 48 41 24 8 2 0 0 1 442
1996 61 280 54 38 24 8 3 0 0 1 469
1997 72 272 66 42 21 8 3 0 0 1 486
1998 74 292 69 44 21 10 3 0 0 1 514
1999 69 317 82 44 19 13 2 0 0 1 547
2000 93 352 71 50 23 7 4 0 0 1 601
2001 91 342 74 53 24 7 7 1 0 1 600
2002 72 393 82 54 25 9 6 2 0 1 644
2003 138 402 100 51 33 6 7 2 0 1 740
2004 79 432 97 61 36 6 6 3 1 1 722
2005 87 427 105 70 33 10 6 2 0 1 741
2006 99 400 129 68 35 7 6 4 0 1 742
2007 86 418 123 68 35 9 4 5 0 1 749
2008 95 434 125 69 43 4 4 6 0 1 781
FONTE: Relação Anual de Informações Sociais – RAIS / Ministério do Trabalho e Emprego – MTE / Fundo
de Amparo ao Trabalhador – FAT. Tabulação NUPES/UNIARAXÁ.

Procurando melhor entender e analisar com maior profundidade os resultados obtidos


para este estudo dividimos esta tabela em três segmentos empresariais distintos: o grupo
dos pequenos estabelecimentos – negócios individuais sem nenhum vínculo empregatício
e aqueles com até 19 empregados; o grupo daqueles que possuíam entre 20 e 99
empregados, denominados empreendimentos médios e o grupo das empresas que
tinham entre 100 e mais empregados, denominado grupo das grandes empresas ou as
que provavelmente exercem algum tipo de domínio em seus mercados.

A análise anterior sobre o comportamento das empresas do setor de serviços (Tabela 2)


revelou uma dinâmica evolutiva crescente com média anual de expansão de 4,47%. A
desagregação deste conjunto em estratos de tamanho (Tabela 3) seguida da opção por
reagrupá-los em três grupos específicos mostra com nitidez que o grupo dos pequenos
estabelecimentos é predominante. Em 1995 este segmento compreendia 92,10% das
empresas prestadoras de serviços de Araxá, participação que pouco variou em 2008
passando 92,57%. No entanto, analisando a dinâmica deste crescimento verificamos que
Nesta parte iremos analisar a evolução dos empregos no setor de serviços de Araxá
procurando, ao mesmo tempo realizar um contraponto analítico desta dinâmica com
aquela apresentada para as unidades empresariais. A literatura relacionada ao tema dos
reflexos da reestruturação produtiva e de seus rebatimentos sobre o segmento
trabalhador, tomada como referência para nossos argumentos, salienta o surgimento de
formas alternativas de ocupação da mão-de-obra, todas causadoras de generalizada
precarização das condições de trabalho.

Segundo Pochmann (2006), “a maioria das vagas abertas no mercado de trabalho não
tem sido de assalariados, mas de ocupações sem remuneração, por conta própria,
autônomo, trabalho independente, de cooperativa, entre outras”. Na cidade de Araxá, o
aumento verificado no quantitativo das firmas organizadas juridicamente sob a forma de
“firmas mercantis individuais” de aproximadamente 130%, e o aumento de 72,7% no
quantitativo de “firmas individuais sem nenhum vínculo empregatício” são sinais
inequívocos das transformações ocupacionais ocorridas no setor de serviços da cidade.

De acordo com os dados é possível afirmar que a expansão dos empreendimentos sob
forma individual sinaliza a possibilidade de que tais empreendedores, em razão do
desemprego, tenham alterado sua posição ocupacional de assalariados em determinada
empresa e passado a ocupar a de “empresário” ou “trabalho por conta própria”. Desta
forma, a convergência entre fatos e afirmações teóricas nos leva a concluir que a análise
do número de empregos no setor de serviços não pode excluir estas transformações, uma
vez que muitos indicadores agregados podem ocultar transformações internas muito
relevantes ao serem desagregados.

TABELA 4 – ARAXÁ: Número de empresas e distribuição do emprego formal no setor de


serviços de acordo com o tamanho medido pelo número de empregados.
1995, 1996, 1997, 1998, 1999, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008.
Número de Empresas e de Empregos
Número Tamanho das empresas de acordo com o número de empregados Total de
Anos
de Até De 5 De 10 a De 20 a De 50 a De 100 De 250 De 500 !000 e Empregos
Empresas 4 a9 19 49 99 a 249 a 499 a 999 mais
1995 442 508 325 544 732 562 374 0 0 1511 4556
1996 469 508 336 486 770 607 555 0 0 1493 4755
1997 486 502 425 566 642 672 528 0 0 1359 4694
1998 514 556 437 589 643 731 513 0 0 1418 4887
1999 547 582 530 602 600 920 379 0 0 2076 5689
2000 601 610 449 699 758 527 587 0 0 1632 5262
2001 600 642 465 713 784 488 1146 255 0 2131 6624
2002 644 685 535 735 805 585 1010 582 0 2492 7429
2003 740 747 651 722 1029 399 1181 702 0 2435 7866
2004 722 810 619 806 1143 384 964 940 531 2436 8633
2005 741 784 670 938 1010 709 1160 633 0 2543 8447
segmento anterior e bem maior do que aquela verificada para o setor como um todo. A
empregabilidade cresceu em números absolutos cerca de 151,38% e a média do
crescimento anual foi de 7,34%. No entanto, observando a trajetória individual deste
crescimento verificamos a ocorrência de momentos de avanços e retrocessos nesta
dinâmica, principalmente nos intervalos 1995/1999; 1999/2003; 2003/2006 e 2006/2008.

GRÁFICO 5 – ARAXÁ: Distribuição dos empregos formais e das unidades empresariais


do setor de serviços avaliadas de acordo com o tamanho medido pelo número de
empregados.

FONTE: Tabela 4 e Relação Anual de Informações Sociais – RAIS / Ministério do Trabalho e Emprego –
MTE / Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT. Tabulação NUPES/UNIARAXÁ.

No estrato superior, cujas empresas possuem entre 10 e 19 empregados, também foi


constatado crescimento dos empregos formais, porém com trajetória que reúne pequenas
e grandes alterações. Neste estrato de tamanho a variação absoluta dos empregos
formais expandiu-se em 60,34%, valor que corresponde a uma taxa média de crescimento
anual igual a 4,09%. Aqui também verificamos períodos de maior tranquilidade expansiva
ou de flutuações de menor intensidade, principalmente entre 1997 e 2004 e de certa
instabilidade ou de maior intensidade nas flutuações, entre 2005 e 2007.

Uma característica comum, a partir do segmento anterior e que se repetirá neste cuja
empregabilidade situa-se entre 20 e 49 empregados e nos demais que ainda
analisaremos, é a queda do número de empresas presentes, valor que aumenta
positivamente com o crescimento do tamanho, revelando maior concentração empresarial
nos estratos finais. Neste caso, a expansão da empregabilidade foi de 74,45%
correspondendo a uma média anual de crescimento equivalente a 4,37%. Em outras
palavras, embora ocorresse aumento no volume de empregos, a instabilidade na
aos reflexos das estratégias empresariais adotadas em cada um dos segmentos deste
setor.

A reestruturação produtiva do capital, nos mais diversos setores da economia brasileira,


ocorreu através de movimentos de reorganização das formas de trabalho e dos sistemas
operacionais das atividades exercidas em cada um de seus segmentos. Estas estratégias,
ao mesmo tempo em que produziam avanços sobre a lucratividade e melhorias de
desempenho, também provocavam retrocessos profundos sobre seus agentes diretos –
os trabalhadores – contingente que sofre dramaticamente o desemprego e as
modificações nas condições de trabalho decorrentes das políticas de ajuste adotadas. Em
maior escala do que em outros setores, o que se viu no setor de serviços como
materialização desta reestruturação foi a aplicação de inovações tecnológicas e
organizacionais cujo reflexo mais evidente foi a substituição do trabalho humano pela
ação da máquina.

No entanto, estas alterações também causaram grandes transformações no perfil do ser


humano que compunha cada segmento constitutivo do setor. Na sua grande maioria,
estes movimentos privilegiaram os mais capacitados ou os que mais se adaptavam
(produtivamente) às novidades organizacionais e tecnológicas. Se de um lado ocorria o
avanço da melhoria na capacitação dos mais adequados, por outro emergia o retrocesso
do desemprego para mais e mais dos não adaptados. A característica – “ser um bom
vendedor” – passa a ser a qualificação mais requerida em quase todas as atividades
deste setor, uma vez que todas vão sendo pouco a pouco transformadas em agências de
venda de serviços e produtos. Tendo como pano de fundo este novo trabalhador exigido
pelas novas condições laborais, nos voltamos para a construção do perfil real do
trabalhador, na realidade operacional de cada uma das empresas deste setor.

Inicialmente optamos por avaliar a dinâmica da empregabilidade formal tendo como foco o
gênero do trabalhador e como objetivo a avaliação do fenômeno da “feminização do
mercado de trabalho” (Antunes, 2006) e, principalmente, os reflexos desta alteração na
composição deste mercado sobre a distribuição do rendimento7 entre homens e mulheres.
O elemento central nesta opção analítica é a grande inversão que se observa na
participação dos indivíduos no processo de evolução do emprego formal de acordo com o

7
A analise mais detalhada sobre os dados da distribuição salarial entre os gêneros masculino e feminino
será feita de forma destacada quanto estivermos tratando do item massa de rendimento e rendimento
médio do trabalhador, mais ao final desta seção.
outras palavras, embora não generalizadamente, constata-se aumento do número de
mulheres em quase todas as ocupações laborais deste setor na cidade de Araxá.

A análise desagregada deste setor, ao nível de suas divisões de atividades, de acordo


com a Classificação Nacional das Atividades Econômicas, revela que principalmente nas
atividades: Administração pública, defesa e seguridade social; Educação; Saúde e
Serviços sociais foi observada superioridade do contingente feminino sobre o masculino
em todos os anos deste período. Embora este diferencial também exista em outras
divisões como: Atividades associativas; Intermediação financeira, Seguros e Previdência
complementar; e, Atividades de Informática e conexas sua ocorrência só acontece em
alguns anos deste período (Tabela 6), revelando que a formalização privilegiou mais
intensamente o segmento feminino.

GRÁFICO 6 – ARAXÁ: Distribuição dos empregos formais do setor de serviços de acordo


com o gênero.
1995, 1996, 1997, 1998, 1999, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008.

FONTE: Tabela 5. Elaboração NUPES/UNIARAXÁ

Em ALVES (1999), AMORIM & ARAÚJO (2002) e ANTUNES (1997) e outros trabalhos
encontrados na literatura sobre esta preferência do gênero feminino destacam-se como
retrocessos desta reestruturação da participação dos gêneros a não ocorrência de uma
consequente equiparação funcional e salarial, se atendo exclusivamente ao aumento da
dominação e exploração sobre o trabalho das mulheres materializada na obrigatoriedade
de desenvolverem uma formação e qualificação “nova”, porém apenas disfarçada como
geral e polivalente, como forma de manter seus vínculos de trabalho. Em muitas
atividades, principalmente aquelas associadas à intermediação financeira, foram
A participação apresentada em 1995 pelo estrato entre 18 e 24 anos não difere muito da
que foi obtida em 2008, uma vez que a diferença entre os indicadores pode ser
considerada inexpressiva (14,24% para 14,26%), comportamento que, apesar de sua
expansão anual média igual a 5,75% se mostrar um pouco acima da média do setor,
parece indicar uma demanda relativamente normal por esta mão-de-obra. No entanto, o
estrato de idade entre 25 e 29 anos perdeu participação na distribuição dos empregos
formais. Em 1995 representavam 16,83% dos empregos formais neste setor, no entanto,
em 2008 são apenas 14,41%. Embora seja evidente que este segmento cresceu
numericamente, sua dinâmica expansiva média igual a 4,48% esteve aquém da média de
crescimento do setor.

TABELA 7 – ARAXÁ: Distribuição dos empregos formais do setor de serviços de acordo


com a idade.
1995, 1996, 1997, 1998, 1999, 2000, 2001, 2002, 20003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008
Anos
Idade
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Até 17 90 86 101 108 80 56 98 132 159 236 290 256 220 250
18 a 24 649 680 644 704 830 807 1103 1146 1178 1347 1320 1312 1312 1343
25 a 29 767 772 728 777 854 741 957 1096 1201 1356 1204 1340 1357 1357
30 a 39 1.488 1580 1591 1635 1877 1754 2121 2321 2405 2599 2385 2559 2606 2513
40 a 49 970 1020 1066 1104 1340 1255 1530 1785 1873 1945 2009 2234 2343 2321
50 a 64 558 578 529 530 659 606 763 909 975 1065 1142 1394 1495 1500
65 ou mais 32 37 34 27 48 37 48 63 75 85 97 107 116 129
Ignorado 2 2 1 2 1 6 4 4 0 0 0 0 0 0
TOTAL 4.556 4755 4694 4887 5689 5262 6624 7429 7866 8633 8477 9202 9449 9413
FONTE: Relação Anual de Informações Sociais – RAIS/Ministério do Trabalho e Emprego – MTE. Fundo de
Amparo ao Trabalhador – FAT. Tabulação NUPES/UNIARAXÁ.

Desde 1995, o estrato de idade entre 30 e 39 anos mostra-se como o mais requisitado
pela demanda de trabalho no setor de serviços araxaense. No entanto, se naquele ano
esta preferência indicava uma participação setorial igual a 32,67% e o evidenciava
relativamente aos demais, em 2008 esta faixa etária, apesar de ainda mostrar-se como a
de maior evidência, perdeu participação relativa constatada pelo valor bastante baixo de
seu crescimento anual médio de somente 4,11%. Os demais setores mostraram
crescimento médio da formalidade sempre acima da expansão do setor como um todo.

Explicando melhor, diríamos que neste período ocorreu uma mudança comportamental no
segmento empreendedor relativamente à formalização dos empregos identificada pelo
crescimento mais acelerado nas faixas de maior maturidade ou no intervalo compreendido
pelas três últimas faixas da distribuição, isto é, aqueles situados entre 40 e mais anos de
idade.
maior capacidade de interpretação e maior velocidade de decisão, atributos que se obtém
com maior volume de informação estruturada. Isto fica evidente quando observamos o
aumento da participação dos trabalhadores: com 8ª série, de 28,77%% para 29,26% a
uma taxa média de crescimento de 5,87%, com formação até o segundo grau, de 26,97%
para 41,91%, com incremento médio anual de 9,26% e os com nível de escolaridade
superior, de 18,63% para 22,26%, correspondendo a 7,19% de taxa anual de crescimento
médio.

TABELA 8 – ARAXÁ: Distribuição dos empregos formais no setor de serviços de Araxá


de acordo com a Instrução obtida pelo trabalhador.
1995, 1996, 1997, 1998, 1999, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008.
Grau de Anos
Instrução 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Analfabeto 111 92 16 11 93 53 66 31 29 31 25 27 22 24
4Sincompleta 395 386 170 132 286 284 275 254 292 299 259 261 243 225
4Scompleta 645 665 338 304 471 390 444 470 503 532 524 471 451 425
8Sincompleta 798 873 713 723 998 873 993 1065 1086 1182 1073 1089 977 893
8Scompleta 513 541 1861 1969 901 889 1184 1380 1348 1542 1489 1746 1883 1861
2Gincompleto 365 364 350 344 456 441 561 623 716 805 881 993 955 982
2Gcompleto 864 873 706 799 1256 1172 1615 1972 2172 2416 2345 2526 2686 2907
Sup.incompleto 143 133 119 143 173 180 243 219 238 322 346 418 401 342
Sup.completo 706 722 420 462 1055 980 1243 1415 1482 1504 1505 1671 1829 1753
Mestrado 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Doutorado 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 1
Ignorado 16 106 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Total 4556 4755 4694 4887 5689 5262 6624 7429 7866 8633 8447 9202 9449 9413
FONTE: Relação Anual de Informações Sociais – RAIS/Ministério do Trabalho e Emprego – MTE. Fundo de
Amparo ao Trabalhador – FAT. Tabulação NUPES/UNIARAXÁ.

Sobre os trabalhadores com formação superior e pós-graduação “strito-sensu” observou-


se aumento dos níveis de empregabilidade formal. No entanto, verifica-se que ainda é
expressivo o número daqueles que não atingem este patamar. Sobre a presença de
profissionais com mestrado e doutorado constata-se que estes níveis de requisito ainda
são pouco frequentes. Assim sendo, mesmo tendo sido verificado que o mercado de
trabalho local dava passos importantes em direção às novas tecnologias e a maiores
níveis de formalização é necessário que se avalie a que preço social esta dinâmica se
materializou, uma vez que é notório que os mecanismos de exploração desta força de
trabalho, principalmente no tocante à discriminação de gênero e aos rendimentos pagos,
foram intensos.

Desta forma, a última parte do perfil que pretendemos elaborar se ateve à distribuição do
rendimento obtido pelo trabalhador formal médio identificando tanto ganhos médios
declinantes quanto maior e mais expressiva intensidade no gênero feminino (Tabela 9).
Embora nas mulheres tenha sido observado o maior número de atividades com
discriminação por gênero, deve ser salientada a quase generalidade da queda dos
50% delas, como também, em alguns casos, a inversão da direção destas variações. Esta
diversidade de valores e direções mais frequente no contingente feminino revela a
diversidade dos reflexos da reestruturação sobre o setor como um todo.

A diversidade dos rendimentos identificada na análise desagregada das diferentes


atividades econômicas existentes também se verificou ao se observar este mesmo
movimento relativamente ao gênero e à escolaridade adquirida (Tabela 10). De forma
generalizada os rendimentos mostraram-se cadentes, porém com maior intensidade sobre
o contingente masculino. A assimetria de ganhos, embora se mostre geral, atingiu com
maior intensidade os indivíduos com formação incompleta. No caso dos últimos níveis de
escolaridade, além de se verificar a maior expressividade da assimetria, também se
identificou maior presença no gênero feminino.

TABELA 10 ARAXÁ: Renda Média em salários mínimos paga ao trabalhador médio do


setor de serviços de Araxá e respectiva taxa de crescimento de acordo com o gênero,
grau de instrução obtida e anos escolhidos.
1995, 1997, 1999, 2001, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008.
Gênero Masculino
Atividades principais do Anos escolhidos e Taxa de Crescimento 1995/2008
setor 1995 1997 1999 2001 2003 2004 2005 2006 2007 2008 T. C.
Analfabeto 1,61 1,84 2,17 1,78 1,62 1,47 1,43 1,44 1,60 1,63 0,09%
E. Fundamental Incompleto 2,09 2,18 2,50 2,00 2,09 2,17 1.91 1,81 1,74 1,76 -1,31%
E. Fundamental Completo 2,97 3,23 2,67 2,13 2,18 2,22 2,00 2,12 2,17 2,17 -2,38%
E. Médio Incompleto 4,98 3,50 2,78 2,29 2,09 2,20 1,89 1,86 1,84 1,77 -7,64%
E. Médio Completo 6,24 7,01 5,52 4,00 3,10 3,03 2,69 2,55 2,50 2,39 -7,12%
Superior Incompleto 7,09 8,75 8,33 5,75 4,03 3,88 3,68 3,21 2,94 2,94 -6,55%
Superior Completo 8,47 9,43 10,27 7,94 6,92 6,72 6,90 6,01 5,61 5,48 -3,29%
Mestrado 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,00%
Doutorado 0 0 0 0 0 0 0 0 4,85 1,31 0,00%
Total 3,80 4,01 3,92 3,26 2,97 2,94 2,79 2,58 2,55 2,50 -3,17%
Gênero Feminino
Atividades principais do Anos escolhidos e Taxa de Crescimento 1995/2008
setor 1995 1997 1999 2001 2003 2004 2005 2006 2007 2008 T. C.
Analfabeto 1,35 2,10 2,17 2,64 1,19 1,15 1,19 1,24 1,32 1,17 -0,09%
E. Fundamental Incompleto 1,45 1,61 1,51 1,51 1,37 1,34 1,26 1,27 1,25 1,23 -1,26%
E. Fundamental Completo 1,67 2,25 1,64 1,48 1,39 1,36 1,36 1,29 1,31 1,30 -2,84%
E. Médio Incompleto 4,29 2,42 1,88 1,63 1,39 1,32 1,34 1,29 1,32 1,24 -9,10%
E. Médio Completo 3,31 3,52 2,92 2,44 2,06 1,89 1,92 1,77 1,71 1,62 -5,35%
Superior Incompleto 4,03 5,04 4,01 3,83 2,49 2,45 2,31 2,08 2,13 2,06 -5,03%
Superior Completo 5,40 6,79 5,26 4,81 4,09 4,01 4,28 3,67 3,48 3,44 -3,41%
Mestrado 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,00%
Doutorado 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,00%
Total 3,17 3,32 3,03 2,73 2,37 2,25 2,25 2,07 2,05 1,98 -3,56%
FONTE: Relação Anual de Informações Sociais – RAIS/Ministério do Trabalho e Emprego – MTE. Fundo de Amparo ao
Trabalhador – FAT. Tabulação NUPES/UNIARAXÁ.

Mais detalhadamente, até 2002 viveu-se um período de queda mais intensa. A partir
deste ano qual este achatamento generalizado ocorreu menos intensamente e com maior
lentidão, embora ainda se verifique continuidade na precarização discriminadora, ou seja,
ainda se verifique que as mulheres continuam sofrendo perdas decorrentes da
discriminação de gênero. Numericamente, enquanto em 1995 o trabalhador médio recebia
_____. As artimanhas da flexibilização: o trabalho terceirizado em cooperativas de
produção. São Paulo, Terceira Margem, 2002.

MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO (Brasil), Relação Anual de Informações


Sociais, Brasília – DF, 1995, 1996, 1997, 1998, 1999, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004,
2005, 2006, 2006, 2008.

POCHMANN, Márcio. Desempregados do Brasil. In: ANTUNES, R. (Org.). Riqueza e


miséria do trabalho no Brasil. São Paulo, SP. Boitempo, 2006.

RAMALHO, José Ricardo. Precarização do trabalho e impasses da organização


coletiva no Brasil. In: ANTUNES, Ricardo (Org.), Neoliberalismo, trabalho e sindicatos,
2ª Ed. São Paulo, Boitempo, 1998, p.85-113.

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