Professional Documents
Culture Documents
INFORMATIVO
ANO III – Nº II – SETEMBRO 2009
Neste informativo pretendemos aprofundar de forma mais enfática nossas análises sobre
a Microrregião Geográfica Araxá, mas agora dando ênfase ao estudo de uma de suas
cidades e de um setor de produção específico. Para a realização desta proposta vamos
estudar e identificar alguns indicadores do desempenho do setor da prestação de serviços
na cidade de Araxá – MG.
Sendo assim, nossa proposta neste informativo é a de realizar uma análise preliminar da
composição setorial do mercado de trabalho de Araxá observando-o inicialmente a partir
dos principais setores da classificação nacional das atividades econômicas – CNAE.
Posteriormente, nosso foco deslocar-se-á para o setor de serviços através da utilização
de algumas desagregações nas informações originárias do Ministério do Trabalho e
Emprego – MTE, sempre orientado pelo interesse de obtermos um melhor entendimento
dos avanços e retrocessos provocados pelo movimento de reestruturação produtiva na
economia local. As informações aqui apresentadas abrangem o intervalo entre os anos
1995 e 2008 e foram tabuladas pelo NUPES/UNIARAXÁ a partir da base de dados
RAIS/CAGED3 do Ministério do Trabalho e Emprego – http://www.mte.gov.br e estão
disponíveis em www.uniaraxa.edu.br/pesquisa.
2
Segundo Antunes (2006), estas alterações ocorreram em um momento de intensa “mundialização,
transnacionalização e financeirização dos capitais e certamente provocaram forte reconfiguração no
universo produtivo, industrial e de serviços no Brasil contemporâneo”.
3
A base de dados RAIS permite obtermos informações de caráter sócio-demográfico e profissional a partir
de movimentos de agregação/desagregação segundo os seguintes eixos: temporal (com informações do
período 1985 – 2006), espacial (para os espaços nacional, regional, estadual, mesorregional, microrregional
e municipal) e econômico (com dados sobre a natureza jurídica e o porte dos estabelecimentos
empregadores).
Destaque-se que uma expressiva parcela desta produção regional é gerada em Araxá4,
município que por contribuir com elevados índices de desempenho na dinâmica evolutiva
regional é considerada o pólo dinâmico deste espaço geográfico. Ao nos concentrarmos
exclusivamente sobre o setor de serviços e sua relevância para a cidade de Araxá iremos
inicialmente avaliar os estabelecimentos produtivos e, posteriormente o quantitativo dos
vínculos empregatícios formais existentes.
Embora sejam evidentes os diversos movimentos em cada um dos setores, deve ser
ressaltado que esta diversidade resulta de comportamentos estratégicos assimétricos por
parte dos empresários, fruto de suas diferentes formas de avaliação dos reflexos da
conjuntura econômica vigente sobre o ambiente dos negócios. Entretanto, mesmo
considerando uma conjuntura econômica bastante desfavorável ao investimento produtivo
neste período, principalmente em decorrência da política restritiva desenvolvida pela
4
A participação da cidade de Araxá na constituição do PIB desta microrregião no intervalo entre 1999 e
2004 eleva-se de 36,0% para 45%, números que correspondem a uma taxa média anual de crescimento
igual a 2,9%. Em outras palavras, a cidade de Araxá era responsável por aproximadamente 50% da
atividade produtiva regional.
partir de 2003 o comportamento evolutivo dos serviços sofreu uma queda no seu
desempenho cujo resultado a partir deste ano foi a acentuada diferença de desempenho
destes dois setores (Gráfico 1). Os demais, agropecuária, indústria e construção civil não
mostraram esta mesma similaridade. Na agropecuária identificamos o período mais longo
de desempenho decrescente (2000 – 2006) representado por quedas em suas taxas
anuais de crescimento médio (– 4,49%).
Por fim nosso quadro descritivo da relevância do setor de serviços na cidade de Araxá se
completa com a análise da dinâmica setorial do emprego de mão-de-obra neste mercado
de trabalho. Esta parte está apoiada teoricamente em vários trabalhos que destacaram os
diversos reflexos causados pela reestruturação produtiva sobre o mercado de trabalho em
muitas economias. De forma resumida os autores mostram que as modificações de
caráter institucional e organizacional realizadas em grande parte das atividades
econômicas, principalmente a descentralização da produção e as novas formas de
gerenciamento do trabalho, ambas materializadas nos movimentos de subcontratação e
terceirização, possibilitaram o surgimento de novas atividades empresariais5 prestadoras
de serviços, de forma complementar às grandes empresas (LIMA 1999; 2002; RAMALHO
1998), mas que provocaram alterações na quantidade destas unidades e no volume de
emprego da mão-de-obra trabalhadora.
5
Uma análise mais bem justificada e qualificada desta afirmação será realizada no momento em que
analisarmos a dinâmica expansiva dos estabelecimentos empresariais de acordo com o seu porte avaliado
pelo número de empregados.
Em resumo, o setor de prestação de serviços mostra-se como aquele que apresenta os
maiores índices de absorção da mão-de-obra local disponível. Dentro de nosso período
de análise o setor sempre apresentou taxas de participação setorial acima de 38,00%. A
partir de 2001 estes números estiveram sempre acima de 43,00% chegando até a
aproximadamente 47,00% em 2002. Posteriormente a 2006 este setor revela uma
possível trajetória descendente em sua presença setorial, embora ainda responsável por
grande parcela de participação na economia local.
6
De acordo com as informações do banco de dados RAIS/CAGED do Ministério do Trabalho e Emprego – TEM, o elenco das formas
jurídicas sofreu algumas variações de nomes durante este período. Em razão da diversidade de nomes optamos por apresentar
unicamente aqueles que não sofreram nenhuma alteração ou, quando isto ocorreu, sempre a explicação não deixava dúvidas sobre
sua forma idêntica à anterior.
organização da propriedade. A presença pública limitou-se às atividades de
administração, defesa e seguridade social, à intermediação financeira, às
telecomunicações e correio e às associações.
Para finalizar este desenho estrutural procuramos identificar tanto sua composição quanto
o seu porte operacional avaliando sua capacidade de resposta às necessidades oriundas
de seus mercados. Neste sentido, analisamos o tamanho dos estabelecimentos tendo
como medida de avaliação o número de empregados formais existentes (Tabela 3).
Segundo Pochmann (2006), “a maioria das vagas abertas no mercado de trabalho não
tem sido de assalariados, mas de ocupações sem remuneração, por conta própria,
autônomo, trabalho independente, de cooperativa, entre outras”. Na cidade de Araxá, o
aumento verificado no quantitativo das firmas organizadas juridicamente sob a forma de
“firmas mercantis individuais” de aproximadamente 130%, e o aumento de 72,7% no
quantitativo de “firmas individuais sem nenhum vínculo empregatício” são sinais
inequívocos das transformações ocupacionais ocorridas no setor de serviços da cidade.
De acordo com os dados é possível afirmar que a expansão dos empreendimentos sob
forma individual sinaliza a possibilidade de que tais empreendedores, em razão do
desemprego, tenham alterado sua posição ocupacional de assalariados em determinada
empresa e passado a ocupar a de “empresário” ou “trabalho por conta própria”. Desta
forma, a convergência entre fatos e afirmações teóricas nos leva a concluir que a análise
do número de empregos no setor de serviços não pode excluir estas transformações, uma
vez que muitos indicadores agregados podem ocultar transformações internas muito
relevantes ao serem desagregados.
FONTE: Tabela 4 e Relação Anual de Informações Sociais – RAIS / Ministério do Trabalho e Emprego –
MTE / Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT. Tabulação NUPES/UNIARAXÁ.
Uma característica comum, a partir do segmento anterior e que se repetirá neste cuja
empregabilidade situa-se entre 20 e 49 empregados e nos demais que ainda
analisaremos, é a queda do número de empresas presentes, valor que aumenta
positivamente com o crescimento do tamanho, revelando maior concentração empresarial
nos estratos finais. Neste caso, a expansão da empregabilidade foi de 74,45%
correspondendo a uma média anual de crescimento equivalente a 4,37%. Em outras
palavras, embora ocorresse aumento no volume de empregos, a instabilidade na
aos reflexos das estratégias empresariais adotadas em cada um dos segmentos deste
setor.
Inicialmente optamos por avaliar a dinâmica da empregabilidade formal tendo como foco o
gênero do trabalhador e como objetivo a avaliação do fenômeno da “feminização do
mercado de trabalho” (Antunes, 2006) e, principalmente, os reflexos desta alteração na
composição deste mercado sobre a distribuição do rendimento7 entre homens e mulheres.
O elemento central nesta opção analítica é a grande inversão que se observa na
participação dos indivíduos no processo de evolução do emprego formal de acordo com o
7
A analise mais detalhada sobre os dados da distribuição salarial entre os gêneros masculino e feminino
será feita de forma destacada quanto estivermos tratando do item massa de rendimento e rendimento
médio do trabalhador, mais ao final desta seção.
outras palavras, embora não generalizadamente, constata-se aumento do número de
mulheres em quase todas as ocupações laborais deste setor na cidade de Araxá.
Em ALVES (1999), AMORIM & ARAÚJO (2002) e ANTUNES (1997) e outros trabalhos
encontrados na literatura sobre esta preferência do gênero feminino destacam-se como
retrocessos desta reestruturação da participação dos gêneros a não ocorrência de uma
consequente equiparação funcional e salarial, se atendo exclusivamente ao aumento da
dominação e exploração sobre o trabalho das mulheres materializada na obrigatoriedade
de desenvolverem uma formação e qualificação “nova”, porém apenas disfarçada como
geral e polivalente, como forma de manter seus vínculos de trabalho. Em muitas
atividades, principalmente aquelas associadas à intermediação financeira, foram
A participação apresentada em 1995 pelo estrato entre 18 e 24 anos não difere muito da
que foi obtida em 2008, uma vez que a diferença entre os indicadores pode ser
considerada inexpressiva (14,24% para 14,26%), comportamento que, apesar de sua
expansão anual média igual a 5,75% se mostrar um pouco acima da média do setor,
parece indicar uma demanda relativamente normal por esta mão-de-obra. No entanto, o
estrato de idade entre 25 e 29 anos perdeu participação na distribuição dos empregos
formais. Em 1995 representavam 16,83% dos empregos formais neste setor, no entanto,
em 2008 são apenas 14,41%. Embora seja evidente que este segmento cresceu
numericamente, sua dinâmica expansiva média igual a 4,48% esteve aquém da média de
crescimento do setor.
Desde 1995, o estrato de idade entre 30 e 39 anos mostra-se como o mais requisitado
pela demanda de trabalho no setor de serviços araxaense. No entanto, se naquele ano
esta preferência indicava uma participação setorial igual a 32,67% e o evidenciava
relativamente aos demais, em 2008 esta faixa etária, apesar de ainda mostrar-se como a
de maior evidência, perdeu participação relativa constatada pelo valor bastante baixo de
seu crescimento anual médio de somente 4,11%. Os demais setores mostraram
crescimento médio da formalidade sempre acima da expansão do setor como um todo.
Explicando melhor, diríamos que neste período ocorreu uma mudança comportamental no
segmento empreendedor relativamente à formalização dos empregos identificada pelo
crescimento mais acelerado nas faixas de maior maturidade ou no intervalo compreendido
pelas três últimas faixas da distribuição, isto é, aqueles situados entre 40 e mais anos de
idade.
maior capacidade de interpretação e maior velocidade de decisão, atributos que se obtém
com maior volume de informação estruturada. Isto fica evidente quando observamos o
aumento da participação dos trabalhadores: com 8ª série, de 28,77%% para 29,26% a
uma taxa média de crescimento de 5,87%, com formação até o segundo grau, de 26,97%
para 41,91%, com incremento médio anual de 9,26% e os com nível de escolaridade
superior, de 18,63% para 22,26%, correspondendo a 7,19% de taxa anual de crescimento
médio.
Desta forma, a última parte do perfil que pretendemos elaborar se ateve à distribuição do
rendimento obtido pelo trabalhador formal médio identificando tanto ganhos médios
declinantes quanto maior e mais expressiva intensidade no gênero feminino (Tabela 9).
Embora nas mulheres tenha sido observado o maior número de atividades com
discriminação por gênero, deve ser salientada a quase generalidade da queda dos
50% delas, como também, em alguns casos, a inversão da direção destas variações. Esta
diversidade de valores e direções mais frequente no contingente feminino revela a
diversidade dos reflexos da reestruturação sobre o setor como um todo.
Mais detalhadamente, até 2002 viveu-se um período de queda mais intensa. A partir
deste ano qual este achatamento generalizado ocorreu menos intensamente e com maior
lentidão, embora ainda se verifique continuidade na precarização discriminadora, ou seja,
ainda se verifique que as mulheres continuam sofrendo perdas decorrentes da
discriminação de gênero. Numericamente, enquanto em 1995 o trabalhador médio recebia
_____. As artimanhas da flexibilização: o trabalho terceirizado em cooperativas de
produção. São Paulo, Terceira Margem, 2002.