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SUMÁRIO

PROBLEMÁTICA ......................................................................................................... 3

PARTICIPAÇÃO POLÍTICA......................................................................................... 3

OBJETIVOS................................................................................................................... 5
Objetivo Geral...................................................................................................... 5
Objetivos Específicos ........................................................................................... 5

METODOLOGIA........................................................................................................... 6

PERFIL HISTÓRICO DOS TRÊS CENÁRIOS ESTUDADOS ...................................... 6


Porto Alegre/Brasil.............................................................................................. 7
Santiago/Chile..................................................................................................... 10
Montevidéu/Uruguai ........................................................................................... 14

DISCUSSÃO DOS DADOS AMOSTRAIS.................................................................... 16


Brasil........................................................................................................................16
Chile.........................................................................................................................19
Uruguai.....................................................................................................................22

ACHADOS..................................................................................................................... .25
Brasil.........................................................................................................................25
Chile..........................................................................................................................26
Uruguai......................................................................................................................28

CONCLUSÃO ............................................................................................................... .29

REFERÊNCIAS....................................................................................................................31
PROBLEMÁTICA

O ideal democrático, nos últimos 150 anos, espalhou-se por grande parte do planeta. A
questão importante a ser ressaltada é que a idéia de democracia, ainda que universalizada, não
foi capaz de torná-la efetiva em todos os contextos em que se procurou implantá-la e, quando
a foi, a diversidade de contextos repercutiu em uma mesma diversidade de modelos e
experiências democráticas. São estas diversidades que acabam gerando, em cada coletividade,
culturas específicas, inclusive a diversidade do que se entende por cultura política.
Acreditamos que é a partir dessa mesma cultura política que a qualidade da
democracia e a participação na mesma podem ser mensuradas e compreendidas. Ainda que a
democracia esteja inscrita na maioria dos regimes políticos contemporâneos, ela não é a
mesma na maioria deles. A democracia formal pode ser verificada em mais de uma centena de
países, mas a democracia social, esta sim, ainda carece de fortalecimento na maioria dos
países ditos democráticos. Conceitos de igualdade estão inseridos nas mais diversas
constituições que regem as democracias, mas padrões de equidade, que propiciam uma
democracia social ampla e efetiva ainda estão ausentes na maioria dos regimes, o que implica
na carência democrática contemporânea e no descrédito da mesma por grande parcela das
populações, e que acaba afastando estes contingentes populacionais de uma participação
política mais ativa e efetiva que propicie a melhoria de suas vidas.
A questão que se coloca é como se implementar mecanismos que gerem uma maior
disposição nos indivíduos para que eles venham a se integrar de forma participativa nas
decisões políticas que dizem respeito às suas coletividades, e contribuam assim, para a
melhoria da sua qualidade de vida.

PARTICIPAÇÃO POLÍTICA

Várias atividades são entendidas como participação política, elas vão desde a idéia de
participação em eleições, passando pela militância em partidos políticos, pela ação sindical,
chegando à atividade em grupos organizados em que seus membros têm objetivos políticos
comuns, mas que não são atividades políticas convencionais (entenda-se atividade política
convencional como atividade dentro dos mecanismos parlamentares), antes a atividade de
representação de interesses por meio de outros mecanismos que não a atividade executiva, ou
parlamentar propriamente dita.

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Por tratar-se de um conceito que pode compreender vários tipos de atividades, o
conceito “participação política” é amplo e difícil de ser trabalhado. A própria diferença entre
tipos de sociedades, materialmente desenvolvidas ou não, faz com que as características da
população se modifiquem tanto no nível econômico, político, sociológico e cultural. Essas
diferenças conferem a cada sociedade modelos de ações diferenciados, sua cultura, seus
imaginários e suas disposições se diferenciam e acabam sendo reflexo da história vivida por
cada sociedade. Os níveis de educação, modelos e padrões culturais assim como os arranjos
institucionais acabam definindo o modo como as coletividades compreendem a política e
também como essas mesmas coletividades agem dentro desse contexto.
A tradição democrática não se importa, nem mesmo se impõe por meio de instituições,
antes é resultado de um processo histórico-cultural, em que as idéias de democracia e
participação devem ser construídas coletivamente e longitudinalmente.
A idéia de participação a partir disso pode ser entendida de várias formas; pode estar
restrita a casos em que o sujeito aparece como mero espectador da política, ou alguém que
discute sobre, ou então que procura formar opinião e pode também dizer respeito aquele tipo
de atividade em que o indivíduo age politicamente exibindo as características acima citadas,
mas também agindo institucionalmente, por meio de organizações políticas e no meio
parlamentar mesmo.
A participação segundo Sani, G.(2000) pode ser então de presença, uma forma
marginal de participação; ou de ativação, na qual o sujeito acaba desenvolvendo diretamente
ou não uma serie de atividades de implicação política, dentro ou fora das instituições políticas
organizadas.
O modelo democrático pressupõe sujeitos bem informados, e capacitados para pensar
criticamente, para assim poderem influir na vida política da coletividade em que estão
inseridos. Infelizmente sabemos que as condições que possibilitam a formação dessa massa
crítica capaz de agir dentro desse modelo proposto, não estão acessíveis ou disponíveis a
grande maioria das coletividades, o que compromete a existência de grupos sociais que
possam participar de forma concreta, positiva e regular da vida política do grupo, e que acaba
fazendo com que a vida política da maioria da população seja restrita a momentos específicos
como a eleição de representantes.
Diante da problemática do que vem a ser participação política e da necessidade de
definir-se o que é participação política para fins de realização do presente trabalho, buscou-se
definir o conceito. A definição aqui proposta não pretende fechar a questão, antes se propõe a
ser um instrumento delimitador de análise para o presente estudo.

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A idéia de participação política proposta diz respeito àquele tipo de participação na
qual os sujeitos atuem por meio de mecanismos legítimos e formais, tais como partidos,
sindicatos, associações, fundações, etc., onde estes mecanismos se constituam como canais de
expressão de interesse das mais diversas composições sociais em cada nação, e que sejam
capazes de permitir, a essas mesmas coletividades interessadas, a representação, discussão e
cooperação nas decisões a respeito das temáticas apresentadas.

OBJETIVOS

Objetivo Geral

Procurar compreender a avaliação que os eleitores chilenos, uruguaios, e brasileiros


têm dos políticos em seus países, assim como o nível de confiança dos mesmos eleitores nas
instituições políticas chegando por fim, na avaliação que estes mesmos eleitores têm da
participação popular para resolução dos problemas em seus países e a relação que há entre
confiança na participação popular e confiança nos políticos para a melhoria do bem estar de
suas coletividades.

Objetivos Específicos

- Procurar verificar se a avaliação que os eleitores fazem dos políticos corresponde à


confiança dos mesmos na classe e nas instituições políticas;
- Buscar verificar se, na medida em que os eleitores têm diminuída a confiança e a
avaliação dos políticos, os mesmos eleitores tendem a aumentar a expectativa na participação
popular para resolução de seus problemas,
- Na seqüência, buscar verificar se o nível de confiança na participação popular é
diretamente inverso ao nível de confiança e avaliação da classe política, e vice-versa;
- E, por fim, procurar relacionar estes resultados com o passado histórico desses
diferentes países, e procurar encontrar dados históricos capazes de demonstrar até que ponto
pode a história recente determinar o tipo de cultura política dessas sociedades e as
predisposições das mesmas para terem uma maior participação política.

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METODOLOGIA

Entre os dados da amostra de eleitores, pretende-se tomar as respostas daqueles


eleitores que entendem que a participação popular é a maior responsável pelo bem-estar das
pessoas e de sua coletividade, após separar estes indivíduos, pretende-se cruzá-los com
respostas às questões que indiquem a avaliação dos mesmos de seus respectivos governos, a
confiança nos referidos governos e a avaliação dos eleitores sobre qual ator tem sido o
principal responsável pela situação em que se encontravam no momento da entrevista.
Uma vez cruzados estes dados, o objetivo é verificar em que medida a confiança
desses eleitores na participação popular para seu próprio bem-estar está ligada ou não a uma
maior participação e engajamento desses eleitores em movimentos que lhes proporcionem
atuar politicamente.
Uma vez cruzados estes dados e obtidas as primeiras relações entre essas questões,
pretende-se buscar no passado histórico recente desses países fatos que indiquem o porquê de
haver correlação direta ou não entre confiança na participação popular e a real participação
dos indivíduos em atividades políticas voltadas á participação popular.
Como método comparado, buscou-se tomar entre os três países - Brasil, Chile e
Uruguai – o elemento que fosse igual entre os três países entre as questões acima citadas.
Verificou-se que entre os três países há predominância da confiança na participação popular
para um maior bem-estar das respectivas coletividades. Uma vez encontrada esta concepção
política presente nos três países, a tentativa será a de identificar por que a mesma
predisposição em confiar na participação popular não reflete em atitudes que demonstrem a
efetiva participação desses mesmos indivíduos em atividades políticas de cunho participativo.
Possuindo este padrão de igualdade, serão maximizadas as diferenças, sobre as quais
posteriormente procuraremos estabelecer relações históricas, que resultem em ferramentas
capazes de demonstrar porque a mesma concepção sobre participação popular não repercute
em modelos participativos, e em avaliações sobre a política dos “políticos” de igual forma nos
três países abordados na pesquisa.

PERFIL HISTÓRICO DOS TRES CENÁRIOS ESTUDADOS

O processo histórico é um elemento chave para compreensão da realidade social, e das


percepções que as pessoas têm da mesma. É dentro do acontecer histórico que as opiniões e as
predisposições atitudinais das pessoas se formam, pois é, através dos fatos que se dão ao

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longo da vida das pessoas, que se formam seus referenciais, suas explicações e avaliações das
pessoas e instituições em seu entorno.
Nestes termos é que se pretende compreender a cultura política das populações dos
três países analisados no presente estudo. Procurar-se-á buscar na história recente dos três
paises processos históricos que possam indicar o porquê das atitudes e avaliações dos eleitores
sobre suas comunidades, e a implicação disso para uma maior ou menos participação dos
mesmos eleitores em atividades políticas que venham a contribuir para um maior avanço
político, econômico e social de suas sociedades.
O pressuposto aqui colocado é o de que a cultura política é elemento fundamental para
compreensão do funcionamento do sistema político de cada sociedade, pois é ela que define
os valores e o modo como as pessoas irão agir em ralação à vida política de suas sociedades.

PORTO ALEGRE/BRASIL

Pretende-se buscar aqui momentos históricos vividos no ambiente gaúcho que possam
implicar em elementos explicativos da cultura política dessa população e assim extrair
elementos explicativos da ação política dessa comunidade, e que até certo modo possa ser
extrapolado para a discussão da cultura política e das atividades políticas da população
brasileira.
Trata-se de uma região impactada, desde o inicio de sua história política, pela doutrina
positivista, cuja tematização era a da constituição de uma sociedade ordenada, sob constante
progresso, mas sempre delimitado e organizado por um processo diretivo da sociedade vindo
desde cima. Isso pode ser verificado através da valorização da figura do gaúcho, que nada
mais é do que uma ideologia gestada entre as classes dominantes do estado gaúcho.
Essas mesmas classes dominantes não permitiram que houvesse, no Rio Grande do
Sul, um processo político que envolvesse os mais diversos agentes sociais presentes na
sociedade gaúcha. Antes, no Rio Grande do Sul o processo político foi sempre dominado por
uma elite atrasada economicamente, e carregada de valores políticos extremamente
conservadores, em que os ideais democráticos apareceram na maioria das vezes apenas como
elemento decorativo, e como substrato para a legitimação do domínio. Essa mesma forma de
concentração do poder político gaúcho manteve sua reprodução mesmo depois dos processos
de modernização pelas quais o Estado passou no último século, como a urbanização e a
industrialização na década de 30, e com o processo de industrialização da década de 50.

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O Estado gaúcho tem uma história peculiar em relação aos demais estados brasileiros.
Sempre carregado de conflitos internos e externos, o Rio Grande do Sul, caracteriza-se por ser
um estado grandemente militarizado desde os primórdios de sua colonização. Militarização
essa que passava antes pela militarização das elites locais devido à incapacidade da corte real
de manter um aparato militar suficiente para fazer frente às ameaças externas, lembre-se que
esta região por muitos anos foi uma região disputada pelas coroas portuguesa e espanhola.
Trata-se de um Estado de heterogêneo socialmente e de caráter político-militar em sua
formação, cuja principal fonte de renda foi a pecuária, sendo que a agricultura foi uma
atividade implementada posteriormente. A pecuária, caracterizada por um modelo produtivo
que requeria amplas extensões de terra e pouca mão-de-obra, acabou formando uma sociedade
bastante hierarquizada devido à grande desigualdade na distribuição das riquezas oriundas da
pecuária. Com a implementação da agricultura em novas regiões do Estado, novos arranjos
sociais menos hierarquizados e menos desiguais foram surgindo, o que contribuiu para a
formação de um Estado caracterizado por duas culturas bastante distintas em seu interior.
A primeira formação social, hierárquica, militarizada e patrimonialista foi a parcela da
população que acabou ocupando o espaço político gaúcho. Uma vez que esta classe política
que se constituía se organizava dentro de um modelo extremamente hierarquizado segundo os
moldes militares tão presentes no Estado, este arranjo acabou por formar uma participação
política que era limitada e bastante excludente. Vale notar que esta mesma classe estancieira e
militarista caracteriza-se por ser a classe que menor sucesso econômico obteve no Estado, este
ficando reservado às comunidades agrícolas do norte do Estado Esta mesma comunidade
agrícola, por ter suas atividades produtivas como elemento que ocupava grande parcela de
suas atividades, acabou ficando afastada da atividade política gaúcha.
Nota-se acima que a parcela produtiva gaúcha que obtinha maior produtividade e, por
conseqüência, maiores lucros, foi sempre a mesma parcela que acabou fora do processo
político do Rio Grande do Sul e que, portanto, esteve desligada do processo de determinação
do desenvolver político do estado.
Foram os segmentos mais atrasados economicamente no Rio Grande do Sul que
preponderantemente estiveram empenhados no desenrolar do processo político gaúcho.
Seriam estas características que vieram a definir a fisionomia da cultura política
gaúcha nos primeiros séculos da história gaúcha, em que predominou um modelo de
dominação autoritário, tradicional e senhorial.
Essa mesma elite que ocupou o poder, por ter pouca importância econômica para o
restante do país, acabou envolvendo-se numa série de conflitos com a coroa devido ao
desprestigio recebido por parte desta. Esses conflitos acabaram por formar uma elite com
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idéias liberais, muito em função da excessiva intervenção da coroa nos assuntos do Estado
sem a recíproca colaboração com os interesses da elite política do Rio Grande do Sul. Este
mesmo ideal liberal caracterizou-se mais como um artifício para subverter-se contra a coroa,
isso na medida em que essas idéias não resultaram em maiores liberdades para o
desenvolvimento político, econômico e social da população gaúcha submetida ao domínio da
elite gaúcha. A elite tornou-se uma elite liberal-conservadora. O que caracteriza um domínio
político no Estado em que a prática em muito diferia dos ideais veiculados pela elite, e que
formalmente possuía pressupostos nunca implementados no plano real da política gaúcha.
O forte militarismo e a doutrina positivista alinhados com a ideologia liberal
resultaram em um arranjo político caracterizado por características autoritárias ao lado de
ações de pretenso liberalismo, o que propiciou a formação de um Estado onde as decisões
eram tomadas na cúpula, e em que a ampla camada da sociedade estava afastada desse mesmo
processo.
Este mesmo modelo de ação política posteriormente foi transposto para o modelo de
administração política do Estado brasileiro nos períodos em que Getúlio Vargas teve a
oportunidade de dirigir a nação. Nesse período, o Estado assumiu a posição de vanguarda para
o processo de modernização e melhoramento das condições de vida da sociedade, sem que
permitisse a participação da mesma para a implementação desse processo.
O Estado gaúcho pode ser caracterizado, através dos elementos destacados, como um
Estado autoritário, centralizado, e que sempre teve por elemento identificador a capacidade de
frustrar a participação política das camadas menos favorecidas.
A história gaúcha mostra que mesmo depois do processo centralizador do Estado
Novo e da redemocratização pós Estado Novo a centralização política gaúcha continuou
sendo elemento constituinte do processo político, o que em muito contribuiu também para o
atraso econômico do estado.
Sendo assim, a ordem econômica não foi no Rio Grande do Sul a ordem que
determinou o desenvolver do processo político do Estado, mas sim a ordem política carregada
de resquícios autoritários, centralizadores e conservadores. Mesmo nos períodos mais recentes
da história política gaúcha, este Estado caracterizou-se por sua forte burocratização e
eliminação da participação pública nas definições do futuro do Rio Grande do Sul.
Logo após o fim do regime autoritário brasileiro e da redemocratização, a nova
legislação partidária não permitiu a sustentabilidade de pequenos partidos políticos, o que
favoreceu a oligarquização dos partidos que foram capazes de se manter. Esse fenômeno
acabou permitindo que arranjos políticos tradicionais centralizadores se mantivessem mesmo

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com a reforma do regime, e assim fez com que ações de arranjos políticos populares não
vingassem.
Assim sendo, as recentes mudanças na estrutura política gaúcha e brasileira parecem
não ter apresentado elementos suficientes para transformar a percepção que os eleitores têm
do regime político brasileiro. Se hoje o Brasil apresenta-se como uma democracia formal
ainda estamos longe de vivermos uma democracia social. Diante de um regime democrático
de apenas duas décadas, os constantes escândalos políticos têm contribuído para a
manutenção da uma avaliação negativa da política no Brasil. Esses processos contribuíram
para a internalização de fracos valores políticos na população, e uma séria desconfiança para
com a camada política, o que resulta em uma cultura política descrente e de poucas
predisposições para a participação efetiva nos processos em que a participação para além das
eleições é exigida.

SANTIAGO/ CHILE

A História do Chile é, em vários aspectos, muito semelhante à de outros países da


América latina, que por trezentos anos foram explorados pela Espanha; e ao mesmo tempo
possui características bem peculiares.

O movimento de Independência do Chile entre 1817 e 18, liderado por Bernardo


O’Higgins, libertou o país da dominação secular espanhola, porém colocou o novo país na
órbita do imperialismo inglês, uma vez que, a partir da década de 20 as oligarquias
conservadoras assumiram o controle político do país, apoiadas pela Igreja Católica,
preservando portanto os privilégios da elite criolla. Nesse sentido, a vida econômica do país
continuou a basear-se no latifúndio agrário e pecuarista na região sul e na exploração mineral
na região norte.

A sociedade era formada por uma grande massa de trabalhadores assalariados e por
uma pequena elite, sendo parte ligada ao latifúndio e parte ao setor exportador e financeiro.
Essa elite manteve o poder político até 1881, quando foi substituída por uma nova elite,
caracterizada porém por uma postura liberal e nacionalista, destacando-se o governo de Juan
Manuel Balmaceda ( 1886-91) que realizou importantes reformas sócio econômicas e acabou
por ser derrubado após uma pequena guerra civil. O "Parlamentarismo Chileno" (1891 1925)
tornou-se então a fórmula política para que os conservadores mantivessem o poder. A eleição
do Presidente da República deveria ser confirmada pelo Congresso Nacional. A primeira
metade do século XX conheceu momentos de desenvolvimento industrial e urbano,
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aproveitando-se das Guerras Mundiais e ao mesmo tempo aumento da dívida externa, da
inflação e da dependência em relação ao capital internacional. Desde a década de 20 era o
imperialismo norte americano quem detinha maior influência sobre a economia do país e
controlava principalmente a exploração de minério ( em especial o cobre). Ao mesmo tempo o
êxodo rural e o crescimento de atividades urbanas remodelaram a sociedade, originando um
proletariado mais significativo, assim como uma maior camada média. Essas mudanças foram
acompanhadas no terreno político com a formação de novos partidos políticos e sindicatos,
tanto de esquerda como liberais nacionalistas.

Apesar de não ter havido no Chile um líder populista tradicional, a situação política
era bem semelhante à de outros países: Polarização. De um lado as forças populares em
conjunto com a classe média empobrecida e de outro as elites do campo e da cidade apoiadas
no capital estrangeiro e pela Igreja Católica. Essa situação é bastante evidente após a Segunda
Guerra Mundial, quando a partir da Doutrina Truman inicia-se a Guerra Fria, percebida na
América Latina com a criação do TIAR em 1948. O primeiro reflexo dessa nova situação foi a
aprovação da Lei da Defesa da Democracia ( chamada Lei Maldita), de 1948, que serviu para
promover perseguições políticas a líderes sindicais e de partidos de esquerda. Mesmo com as
perseguições, a organização popular tendeu a se fortalecer: em 1951 formou-se a Frente do
Povo ; em 1953 foi fundada a Central Única dos Trabalhadores e em 1956 foi formada a
FRAP ( Frente de Ação Popular). Essas novas organizações refletiam a situação de
decadência econômica do país, fruto da queda das exportações e da maior inflação. Na década
de 60 desenvolveu-se uma nova alternativa política, o Partido Democrata Cristão - PDC - que
atraiu as camadas urbanas, inclusive parte do proletariado. O Governo do PDC a partir de
1964 foi marcado pelo projeto desenvolvimentista, apoiado em empréstimos externos, e pelo
início de uma reforma agrária. No entanto, as superficialidades das medidas de Eduardo Frei
descontentaram a maioria da sociedade, sendo que o próprio PDC dividiu-se em duas grandes
facções ao passo que as camadas populares do campo e da cidade, apoiando as organizações
de esquerda organizaram a Unidade Popular, que disputou e venceu as eleições de 1970,
levando o socialista Salvador Allende ao poder.

Para se compreender a situação política do Chile atual, depois da vitória e da tomada


de posse do terceiro governo dirigido pela Concertación de los Partidos por la Democracia,
ocorridas no início de 2000, seria um fator explicativo das muitas dificuldades que se
colocaram aos atores democráticos que lutaram contra o regime autoritário e também dos
diversos problemas que assolam a democracia chilena nos dias atuais.

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O regime militar comandado por Augusto Pinochet, imposto ao país após o sangrento
golpe de Estado de 1973, somente foi derrotado politicamente depois do fracasso de diversas
estratégias que postulavam um combate frontal contra a ditadura. Dentre estas estratégias
encontram-se as tentativas de ação armada contra o regime – e mesmo contra sua
representação máxima, ou seja, o próprio ditador – e também as diversas tentativas de
mobilização de massas contra a ditadura que ficaram conhecidas como as protestas. Em
ambas as estratégias acalentava-se a idéia de que era possível derrubar a ditadura de Pinochet
como resultado de um ato ou de um movimento de força. Ao final de 1986, tornou-se
absolutamente clara a impossibilidade de se derrubar a ditadura quer pela via armada quer
pela via da luta social de massas, que havia mobilizado ativamente diversos setores sociais
populares nos três anos anteriores.

Um dos elementos fundamentais que garantiu legitimidade interna e apoio social das
elites ao regime autoritário, além da personalização do poder na figura de Pinochet e da
orientação econômica neoliberal, foi o seu projeto de institucionalização política expresso na
Carta Constitucional de 1980. Este projeto delineado normativamente garantia o
prosseguimento do regime autoritário mediante um plebiscito previsto para 1988, no qual se
projetava a continuidade dos traços personalistas e institucionais do regime militar. No
plebiscito de 1988, seria decidida a manutenção de Pinochet por um novo período de oito
anos. Foi em torno da possibilidade de se politizar em favor da oposição o plebiscito de 1988
que foi se constituindo na sociedade chilena a crença de que se poderia derrotar politicamente
a ditadura militar.

A transição à democracia no Chile talvez seja o maior exemplo de um processo


político que, quanto mais avança a transição, mais se vê cancelado o processo de
democratização, entendido como aprofundamento e expansão da participação, ao mesmo
tempo em que se cristaliza a impossibilidade de qualquer reforma na estrutura de
representação política da cidadania. Em suma, a transição democrática no Chile expressaria
fortemente o paradoxo de ser um processo de paralisia da democracia enquanto movimento e
renovação da vida político-institucional.

Uma breve revisão da trajetória dos governos democráticos instalados a partir de 1990,
depois de suprimida a continuidade política do autoritarismo, elucidaria melhor as
dificuldades de implantação de um processo de consolidação democrática no Chile. O
governo de Patricio Aylwin (1990-1994) recebeu um país transformado, dotado de um

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dinamismo econômico ascendente, mas com um Estado pródigo em enclaves autoritários*,
restringindo a ação governamental e autolimitando o governo em sua capacidade reformadora.
Iniciada a década de 1990, o chamado modelo chileno (um capitalismo quase sem
regulações, apoiado num Estado autoritário que se sustenta em mecanismos institucionais
conservadores) experimentaria uma dupla correção sob a primeira administração democrática.
Por um lado, em consonância com a perspectiva de um "crescimento econômico com
equidade social", o governo se dispôs a reduzir, o mais rápido possível, o tamanho da
pobreza, mas sem modificar a desigual distribuição de renda. Por outro lado, com a ajuda da
ala mais liberal da oposição, iniciou-se uma governabilidade sustentada na necessidade de se
fundar um amplo consenso, suficiente para superar uma história recente saturada de violentos
conflitos e ásperas disputas; um consenso que, entre outras dimensões vinculadas a ele,
justificou o estabelecimento de uma trégua social que converteu em virtualmente ilegítimo
todo e qualquer sinal de reivindicacionismo ascendente que viesse da base social com o
objetivo de atingir o Estado.
Ao mesmo tempo em que se ia resolvendo, paulatinamente, a tensão entre governo e
empresariado, a urgente necessidade de se alcançar um status quo não conflitivo com os
militares convenceu tanto a administração Aylwin como o conglomerado de partidos que o
apoiava a obter um rápido e durável entendimento com o mais preponderante dos poderes
fácticos presentes no cenário político. Apesar da expedita reciprocidade governo-classe
política ou governo-Igreja Católica ser sensivelmente inferior àquela conseguida com as
Forças Armadas, a convergência de critérios de avaliação entre ambos os atores foi se
configurando num discurso comum, inclinado a materializar um projeto de "modernização
com crescimento" em vez de um projeto de "desenvolvimento com democratização".
Depois de 1994, uma parte das tendências anteriormente mencionadas
experimentariam um forte aprofundamento. Em consonância com a idéia geral que havia se
estabelecido na formação política governante, a agenda política que organizou a presidência
de Eduardo Frei apostou, desde o começo, numa mudança de perspectiva: da "lógica da
transição" teria que se passar à "lógica da modernização". Fiel a suas convicções, o novo
governo privilegiou, com grande tenacidade, o processo de modernização econômico-social
em detrimento de qualquer outra dimensão da vida nacional.
Como era previsível, durante todo o período, os resultados eleitorais alcançados pela
coalizão de governo em eleições legislativas (em 1993, 55,39% dos votos e, em 1997,

*
Esta expressão refere-se explicitamente a elementos que pertencem, por definição, ao regime autoritário e que perduram na experiência
democrática que o sucede, impedindo que esta se transforme numa democracia política completa. Trata-se, assim de problemas ou tarefas
pendentes da transição que devem ser enfrentadas num contexto de ordem política pós-autoritária e que limitam o caráter plenamente
democrático desta.
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50,54%) não lhe permitiram aumentar seu número de parlamentares de modo a alcançar os
diversos quóruns para realizar reformas políticas e constitucionais que permitissem acabar
com os enclaves autoritários, especialmente com os senadores designados. Tal situação se viu
agravada pela incorporação de Pinochet ao Senado como parlamentar vitalício. Diante deste
quadro, a Concertación de los Partidos por la Democracia e também o governo de Frei
ficaram sem estratégia para superar tais enclaves. A sensação predominante se afirmaria,
assim, nos termos da impossibilidade de uma reforma democrática, quer porque ela havia sido
bloqueada, quer porque ela havia fracassado.

MONTEVIDÉU/URUGUAI

Capital do Uruguai, Montevidéu é o mais importante dos 19 departamentos que


dividem o país. Apesar de possuir apenas 0,3% do território uruguaio, a cidade possui 1,3
milhões de habitantes, o que representa 40% da população uruguaia, e concentra 58% do PIB
nacional. Em termos administrativos, a cidade possui um poder executivo, exercido pelo
intendente, eleito pelo voto direto a cada cinco anos, e um poder legislativo, constituído pela
junta departamental, composta por 31 representantes eleitos.
O Uruguai é um país caracterizado, em se tratando de América Latina, por valores
democráticos relativamente fortes e, sobretudo, estáveis. Para essa estabilidade, há o apoio
dos partidos políticos, que desempenham um papel importante na promoção da democracia no
país.
Remetendo-se à história desse país, verificamos que esse regime verdadeiramente
democrático inaugurou-se com o período chamado “battlismo”. Até então, o país vivia sob um
regime de caudilhismo. A era das reformas coincidiu com os anos de hegemonia política de
José Battle y Ordóñez, que conseguiu impor-se graças ao considerável apoio popular que lhe
valera seu reformismo político, econômico e social, como principal figura do partido
colorado, cuja direção assumira e conservara até a morte. Battle exerceu duas vezes a
presidência, nos períodos de 1903 a 1907 e de 1911 a 1915.
As leis eleitorais, de 1907 e 1910 tornaram menos imperfeita a representação
proporcional no congresso, que, em 1904, dera vantagem ao partido colorado, ao suprimir a
atribuição privativa aos blancos da chefia política de um terço (seis) dos departamentos da
República Oriental. Somente em 1942 foi estabelecida uma representação adequada de todos
os partidos.

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Apesar de a constituição de 1918, fruto do compromisso político entre colorados e
blancos, não instituir o regime de colegiado do poder executivo, de molde suíço, preconizado
por Battle, introduziu, ao lado do presidente da república (ao qual se reservavam os assuntos
de ordem interna, defesa nacional e relações exteriores), um conselho nacional de
administração, cuja terça parte cabia à minoria. Abandonava-se o tradicional sistema eleitoral
censitário e a eleição indireta do presidente pelo congresso, instituindo-se o sufrágio universal
e eleições diretas.
O “battlismo” tinha como princípios a separação entre a Igreja e o Estado, o ensino
público gratuito em todos os níveis, a nacionalização dos serviços públicos e da economia,
assim como a ampliação da legislação social. Estendendo sua influência para além do
presidente Battle y Ordóñez, esta tradição política teve como principal conseqüência a
formulação de uma sólida legislação social baseada, especialmente, na garantia da jornada de
40 horas semanais, no salário mínimo aos trabalhadores do campo e na reorganização do
sistema de pensões.
Apesar de existirem controvérsias acerca das conseqüências desta experiência em
termos de política econômica e as enormes dificuldades do Estado uruguaio em atender as
expectativas geradas pelas políticas de reformas battlistas, é indubitável a interferência deste
período para a constituição de um dos regimes políticos mais sólidos da região. Conforme a
afirmação de Charles Gillespie (1986), sob as bases do battlismo o regime uruguaio ficou
revestido de grande estabilidade política, sendo considerado como “a experiência mais
democrática da América Latina”.
No período compreendido entre 1959 a 1985, contudo, ocorre uma crise na
democracia. O estancamento econômico, unido à crise dos partidos, marcaram esse período.
Os partidos tradicionais (blancos e colorados) se alternaram no poder de 1959 a 1973, mas se
fracionaram e dividiram, enquanto a esquerda se unificou e surgiu a Frente Ampla em 1971.
Ante as tensões sociais, o governo de Jorge Pacheco Areco (1967-1972), numa tentativa de
derrotar a ofensiva terrorista do esquerdista Movimento de Libertação Nacional, endureceu a
repressão. Toda essa tensão culminou com o golpe de Estado que as Forças Armadas
protagonizaram em 1973, depois do qual dissolveram as câmaras legislativas e assumiram o
poder público até 1985. A ditadura militar foi marcada pela repressão e pela abertura da
economia aos investimentos exteriores.
No Uruguai, assim como no Brasil, a transição democrática passou pela organização
de reuniões de negociação envolvendo militares e oposição. Conhecidas como transições
pactuadas, essa forma de renascimento das democracias esteve marcada, de acordo com

14
Francês Hagopian (1990), pela “negociação de acordos que tinham como objetivo remover da
agenda política todas as possíveis fontes de tensão”.
Apesar de todas as limitações das transições brasileira e uruguaia, ambos países
passaram, poucos anos após o desfecho deste processo, pelo crescimento eleitoral dos partidos
de esquerda com forte inserção nos movimentos sociais.

DISCUSSÃO DOS DADOS AMOSTRAIS:

Para resolver os problemas do seu país, o que considera melhor:


Porto Alegre Montevidéu Santiago do Chile
FQ V. P. FQ V. P. FQ V. P.
Um líder 168 34.3 140 28.2 152 31.0
Participação da pop 322 65.7 345 69.4 328 66.8
NS 12 2.4 11 2.2
Total 490 100 497 100 491 100

BRASIL:
Para resolver os problemas do Brasil, o que considera melhor:
Porto Alegre
FQ V. P.
Um líder 168 34.3
Participação da pop 322 65.7
NS
Total 490 100

TABELA 1)

17.a. Como o/a sr/a avalia o desempenho do atual presidente?


muito bom bom regular ruim péssimo NS Total
Um líder que coloque
4,8% 32,1% 38,1% 14,9% 7,7% 2,4% 100,0%
as coisas no lugar
A participação da
população nas 1,9% 35,4% 45,7% 10,2% 6,5% 3,0% 100,0%
decisões do governo?
NS ,0% 18,2% 54,5% 9,1% 18,2% ,0% 100,0%
NR ,0% 16,7% 33,3% 16,7% 33,3% ,0% 100,0%
Total 2,8% 33,7% 43,2% 11,8% 7,5% 1,0% 100,0%

15
TABELA 2)

17.b. Como você avalia oGovernador do Estado do RS?


muito bom bom regular ruim péssimo NS Total
Um líder que coloque
,6% 27,4% 45,8% 13,1% 6,5% 6,5% 100,0%
as coisas no lugar
A participação da
população nas 3,1% 19,3% 51,6% 16,8% 7,1% 2,2% 100,0%
decisões do governo?
NS 9,1% 18,2% 36,4% 18,2% 18,2% ,0% 100,0%
NR ,0% 33,3% 50,0% 16,7% ,0% ,0% 100,0%
Total 2,4% 22,1% 49,3% 15,6% 7,1% 3,6% 100,0%

TABELA 3)

26.b. Você confia no Governo Federal (presidente/


ministros)?
confia muito confia pouco não confia NS Total
Um líder que coloque
12,0% 49,7% 35,9% 2,4% 100,0%
as coisas no lugar
A participação da
população nas 9,7% 61,3% 28,1% ,9% 100,0%
decisões do governo?
NS ,0% 63,6% 36,4% ,0% 100,0%
NR 16,7% 50,0% 33,3% ,0% 100,0%
Total 10,3% 57,3% 31,0% 1,4% 100,0%

TABELA 4)

26.f. Você confia no Governo Municipal


(prefeito/secretários)?
confia muito confia pouco não confia NS Total
Um líder que coloque
13,9% 46,4% 35,5% 4,2% 100,0%
as coisas no lugar
A participação da
população nas 10,0% 58,9% 28,8% 2,2% 100,0%
decisões do governo?
NS 18,2% 45,5% 36,4% ,0% 100,0%
NR 16,7% 83,3% ,0% ,0% 100,0%
Total 11,6% 54,8% 30,9% 2,8% 100,0%

16
TABELA 5)

Falando em bem-estar das pessoas, quem na sua


opinião é o maior responsável por ele?
o
os indivíduos governo os dois NS Total
Um líder que coloque
47,2% 45,3% 1,3% 6,3% 100,0%
as coisas no lugar
A participação da
população nas 43,1% 51,8% 3,8% 1,3% 100,0%
decisões do governo?
NS 27,3% 54,5% 9,1% 9,1% 100,0%
NR 50,0% 33,3% ,0% 16,7% 100,0%
Total 44,2% 49,5% 3,1% 3,3% 100,0%

TABELA 6)

53. Para o/a sr/a quem tem mais poder no país? (Marcar até três da lista: 1º, 2º e 3º)
Grandes Partidos Parlamento/Meios de
empresas Militares
Sindicatos
Judiciário
Bancospolíticos
Governo
Congresso
comunicaçãoIgreja NS/NR Total
Um líder que coloque
16,4% 4,4% ,6% 3,8% 8,2% 6,9% 45,3% 6,9% 5,0% 1,3% 1,3%100,0%
as coisas no lugar
A participação da
população nas 25,6% 1,9% ,0% 3,2% 14,2% 6,5% 30,1% 6,5% 9,4% 2,3% ,3%100,0%
decisões do governo?
NS 10,0% ,0% ,0% 10,0% ,0% ,0% 40,0% 10,0% 10,0% ,0% 20,0%100,0%
NR ,0% ,0% ,0% ,0% 33,3% 16,7% ,0% ,0% 50,0% ,0% ,0%100,0%
Total 21,9% 2,7% ,2% 3,5% 12,2% 6,6% 34,9% 6,6% 8,5% 1,9% 1,0%100,0%

DISCUSSÃO:

Como se pode notar pela primeira tabela, no Brasil a maioria da população acredita na
participação popular, sendo que a parcela da população que confia nas iniciativas da
participação política tende a avaliar de forma um pouco mais positiva o governo federal.
Ainda na tabela 2, uma boa avaliação verificada em relação ao presidente se repete em relação
ao governador do Estado, sendo que a avaliação do governador pelas pessoas que confiam na
participação política tende a ser menor; e novamente a tabela 3 indica a mesma avaliação em
relação ao prefeito municipal, novamente as pessoas que confiam na participação popular
tendem a ter uma avaliação mais negativa do prefeito municipal, mas com índices menos
expressivos.
A esta análise corresponde uma baixa confiança no governo federal (tabela 3), sendo
que as pessoas que confiam na participação popular tendem a confiar mais no governo
federal; uma baixa avaliação do governo estadual também ocorre na maioria da população
(tabela 4), sendo que novamente as pessoas que confiam na participação popular novamente
apresentam uma tendência a confiar mais no governo municipal.
17
No que trata do bem estar das pessoas (tabela 5), aquelas pessoas que confiam na
participação popular tendem a entender que o governo é o maior responsável pelo bem-estar
das pessoas; enquanto que aquelas pessoas que confiam nas iniciativas de um líder, tendem a
pensar que os indivíduos são os maiores responsáveis pelo bem-estar das pessoas.
Já no que diz respeito ao poder (tabela 6), tanto as pessoas que confiam na
participação popular quanto aquelas que confiam nas iniciativas de um líder entendem que no
Brasil o Governo é quem detêm mais poder, seguido das grandes empresas; e por fim aqueles
grupos que podem representar meios por onde a vontade dos indivíduos possa encontrar
vazão, são os que são avaliados como os portadores de menor poder no Brasil.
No caso brasileiro pôde-se verificar que aquelas pessoas que tem uma maior
predisposição para acreditar na participação política para a resolução dos problemas de seu
país tendem também a ter uma maior avaliação e maior confiança no governo e na classe
política, ainda que, no caso específico brasileiro, o governo seja avaliado o segmento da
sociedade dotado de maiores poderes, sendo que as grandes empresas nesse caso seriam o
segundo segmento portador de maior poder na sociedade, e em que segmentos representativos
dos segmentos populares seriam portadores de mínimos poderes na sociedade brasileira.

CHILE:

Para resolver os problemas do Chile, o que considera melhor:


Santiago do Chile
FQ V. P.
Um líder 152 31.0
Participação da pop 328 66.8
NS 11 2.2
Total 491 100

TABELA 1)

Como você avalia o presidente da república? (Chile)


MUY BUENO BUENO REGULAR MALO PÉSIMO NS NR Total
UN LÍDER QUE
COLOQUE LAS COSAS 7,9% 41,4% 42,8% 5,9% ,7% ,0% 1,3% 100,0%
EN SU LUGAR
LA PARTICIPACIÓN DE
LA POBLACIÓN EN LAS 8,5% 45,4% 37,2% 6,1% 2,1% ,3% ,3% 100,0%
DECISIONES DE GOB.
NS ,0% 54,5% 27,3% 9,1% 9,1% ,0% ,0% 100,0%
NR ,0% 33,3% 22,2% 11,1% 22,2% ,0% 11,1% 100,0%
Total 8,0% 44,2% 38,4% 6,2% 2,2% ,2% ,8% 100,0%

18
TABELA 2)

Como você avalia o alcade de sua comuna?


MUY BUENO BUENO REGULAR MALO PÉSIMO NS NR Total
UN LÍDER QUE
COLOQUE LAS COSAS 3,3% 24,3% 30,3% 19,1% 16,4% 4,6% 2,0% 100,0%
EN SU LUGAR
LA PARTICIPACIÓN DE
LA POBLACIÓN EN LAS 2,4% 22,9% 30,8% 25,3% 12,2% 5,8% ,6% 100,0%
DECISIONES DE GOB.
NS ,0% 36,4% 27,3% 27,3% ,0% ,0% 9,1% 100,0%
NR ,0% ,0% 22,2% 22,2% 22,2% 22,2% 11,1% 100,0%
Total 2,6% 23,2% 30,4% 23,4% 13,4% 5,6% 1,4% 100,0%

TABELA 3)

Você confia no governo de seu país?


CONFÍA CONFÍA
MUCHO POCO NO CONFÍA NS NR Total
UN LÍDER QUE
COLOQUE LAS COSAS 16,4% 54,6% 28,9% ,0% ,0% 100,0%
EN SU LUGAR
LA PARTICIPACIÓN DE
LA POBLACIÓN EN LAS 16,2% 56,1% 27,1% ,3% ,3% 100,0%
DECISIONES DE GOB.
NS 36,4% 27,3% 36,4% ,0% ,0% 100,0%
NR ,0% 22,2% 77,8% ,0% ,0% 100,0%
Total 16,4% 54,4% 28,8% ,2% ,2% 100,0%

TABELA 4)

Você confia no seu prefeito?


CONFÍA CONFÍA
MUCHO POCO NO CONFÍA NS Total
UN LÍDER QUE
COLOQUE LAS COSAS 10,5% 59,2% 28,9% 1,3% 100,0%
EN SU LUGAR
LA PARTICIPACIÓN DE
LA POBLACIÓN EN LAS 12,2% 49,4% 36,9% 1,5% 100,0%
DECISIONES DE GOB.
NS 45,5% 18,2% 36,4% ,0% 100,0%
NR ,0% 33,3% 66,7% ,0% 100,0%
Total 12,2% 51,4% 35,0% 1,4% 100,0%

19
TABELA 5)

Quem você acha que é o principal reponsável pelo


bem estar dos chilenos?
CADA EL
PERSONA ES GOBIER
RESPONSAB NO ES
LE DE SU RESPON
BIENESTAR SABLE NS NR Total
UN LÍDER QUE
COLOQUE LAS COSAS 65,1% 29,6% 2,0% 3,3% 100,0%
EN SU LUGAR
LA PARTICIPACIÓN DE
LA POBLACIÓN EN LAS 60,1% 34,5% 2,1% 3,4% 100,0%
DECISIONES DE GOB.
NS 45,5% 27,3% 27,3% ,0% 100,0%
NR 33,3% 44,4% ,0% 22,2% 100,0%
Total 60,8% 33,0% 2,6% 3,6% 100,0%

TABELA 6)

Quem você crê que tem mais poder no chile?


PARLAMENTMEDIOS DE
GRANDES PODER PARTIDOSGOBIERN E / COMUNICA
EMPRESAS
MILITARES
SINDICATOS
JUDICIAL
BANCOS POLÍTICOS O CONGRESOCIÓN IGLESIANS-NR Total
UN LÍDER QUE
COLOQUE LAS COSAS
44,7% 29,6% 2,0% 7,9% 3,9% 3,9% 2,6% ,7% ,7% ,0% 3,9%100,0%
EN SU LUGAR
LA PARTICIPACIÓN DE
LA POBLACIÓN EN LAS 22,3%
55,8% ,3% 9,5% 2,1% 4,6% 3,7% ,0% ,0% ,6% 1,2%100,0%
DECISIONES DE GOB.
NS 54,5% 18,2% ,0% 18,2% 9,1% ,0% ,0% ,0% ,0% ,0% ,0%100,0%
NR 55,6% 11,1% ,0% 11,1% ,0% 11,1% ,0% ,0% ,0% ,0% 11,1%100,0%
Total 52,4% 24,2% ,8% 9,2% 2,8% 4,4% 3,2% ,2% ,2% ,4% 2,2%100,0%

DISCUSSÃO:

A tabela que contém as respostas à pergunta que deu origem a este trabalho,
demonstra que também no Chile, os eleitores tendem a demonstrar uma maior confiança na
participação política para a resolução dos problemas de sua sociedade.
Já a tabela 1 demonstra que os eleitores chilenos possuem uma melhor avaliação do
seu presidente em relação ao eleitorado brasileiro, mas ainda inferior ao eleitorado uruguaio,
ainda aqui predomina como no caso brasileiro e uruguaio a questão de que, quem confia na
participação politica, tende também a ter uma maior disposição para confiar no governo. A
tabela 2 indica que no caso chileno no que diz respeito a avaliação do alcade/prefeito (por não
se aplicar no Chile a pergunta sobre a avaliação do governador, preferimos substituí-la pela

20
avaliação do alcade/prefeito), ainda que as opiniões estejam mais distribuídas entre os níveis
de avaliação do mesmo, a tendência novamente é de uma boa avaliação do governador.
A tabela 3 aponta para o fato de que no Chile o eleitorado tem uma maior confiança no
governo federal.
Já em relação a avaliação do prefeito, a tabela 4 demonstra que no Chile há uma boa
avaliação do mesmo, sendo que novamente, as pessoas que tem maior expectativa em confiar
na participação popular, tendem ao mesmo tempo a confiar mais na classe politica.
No Chile os eleitores demonstraram através das respostas apresentadas na tabela 5 que
este mesmo eleitorado tende a confiar bastante na iniciativa pessoal para melhoria de seu bem
estar.
Em se tratando de poder, os eleitores chilenos acreditam (tabela 6) que em seu país,
quem detém maior poder são as grandes empresas, seguidas dos militares, onde órgãos que
podem representar meios para a efetivação da vontade dos indivíduos, e a veiculação dos
valores contidos em ações de participação política direta, são avaliados como detentores de
pouco poder no caso chileno, o governo no caso chileno, também é avaliado como uma
instância que detém pouco poder.
No caso chileno, pôde-se verificar que aquelas pessoas que têm uma maior
predisposição para acreditar na participação popular para a resolução dos problemas de seu
país tendem também a ter uma maior avaliação e maior confiança no governo e na classe
política, ainda que, no caso específico chileno, o governo seja avaliado como um segmento da
sociedade dotado de poucos poderes, sendo que as grandes empresas nesse caso seriam o
segmento portador de maior poder na sociedade, seguida da classe militar.

Uruguai

Para resolver os problemas do Uruguai o que considera melhor:


Montevidéu
FQ V. P.
Um líder 140 28.2
Participação da pop 345 69.4
NS 12 2.4
Total 497 100

21
TABELA 1)

17.a. Como o/a sr/a avalia o desempenho do atuail presidente?


muito bom bom regular ruim péssimo NS Total
Um líder que coloque
13,6% 45,0% 32,1% 4,3% 4,3% ,7% 100,0%
as coisas no lugar
A participação da
população nas 14,8% 54,2% 22,6% 2,9% ,6% 4,9% 100,0%
decisões do governo?
NS 16,7% 33,3% 8,3% ,0% 25,0% 16,7% 100,0%
Total 14,5% 51,1% 24,9% 3,2% 2,2% 4,0% 100,0%

TABELA 2)

17.b. Como você avalia o desempenho do Intendente de MVD


muito bom bom regular ruim péssimo NS Total
Um líder que coloque
12,1% 34,3% 30,7% 10,0% 5,0% 7,9% 100,0%
as coisas no lugar
A participação da
população nas 12,2% 54,8% 15,7% 5,2% 3,8% 8,4% 100,0%
decisões do governo?
NS 16,7% 41,7% ,0% 8,3% 16,7% 16,7% 100,0%
Total 12,3% 48,7% 19,5% 6,6% 4,4% 8,5% 100,0%

TABELA 3)

26b. em que medida você confia no Governo Federal


(presidente/ ministros)?
confia muito confia pouco não confia NS Total
Um líder que coloque
37,9% 41,4% 20,0% ,7% 100,0%
as coisas no lugar
A participação da
população nas 48,3% 32,8% 16,3% 2,6% 100,0%
decisões do governo?
NS 41,7% 41,7% 16,7% ,0% 100,0%
Total 45,2% 35,5% 17,3% 2,0% 100,0%

TABELA 4)

26.f. Em que medida você confia no Governo Municipal


(prefeito/secretários)
confia muito confia pouco não confia NS Total
Um líder que coloque
34,3% 42,9% 20,7% 2,1% 100,0%
as coisas no lugar
A participação da
população nas 46,4% 35,9% 15,1% 2,6% 100,0%
decisões do governo?
NS 25,0% 41,7% 25,0% 8,3% 100,0%
Total 42,5% 38,0% 16,9% 2,6% 100,0%

22
TABELA 5)

31. Falando no bem-estar das


pessoas, quem na sua opinião é o
maior responsável por ele:
os indivíduos o governo NS Total
Um líder que coloque
48,9% 43,9% 7,2% 100,0%
as coisas no lugar
A participação da
população nas 46,9% 43,4% 9,6% 100,0%
decisões do governo?
NS 41,7% 50,0% 8,3% 100,0%
Total 47,4% 43,7% 8,9% 100,0%

TABELA 6)

53. Para o/a sr/a quem tem mais poder no país? (Marcar até três da lista: 1º, 2º e 3º)
Grandes Partidos Parlamento/Meios de
empresasMilitares Sindicatos
JudiciárioBancos políticosGovernoCongresso
comunicaçãoIgreja Total
Um líder que coloque
38,3% 6,8% 2,3% 1,5% 4,5% 12,8% 25,6% 1,5% 4,5% 2,3% 100,0%
as coisas no lugar
A participação da
população nas 34,5% 3,9% 3,0% 4,8% 4,8% 7,8% 28,5% 2,1% 7,8% 2,7% 100,0%
decisões do governo?
NS 8,3% 8,3% ,0% ,0% 16,7% 25,0% 33,3% ,0% 8,3% ,0% 100,0%
Total 34,9% 4,8% 2,7% 3,8% 5,0% 9,6% 27,8% 1,9% 6,9% 2,5% 100,0%

DISCUSSÃO:

Assim como nos dois países anteriormente analisados, verifica-se que, no Uruguai, os
eleitores depositam maior confiança na participação popular para a resolução dos problemas
de seu país do que em um líder.Através da primeira tabela apresentada neste trabalho, é
possível perceber que no Uruguai a credibilidade na atuação da sociedade na direção política
é maior que no Brasil e no Chile.
A tabela 1 apresenta que a maior parcela da população uruguaia (51,1%) avalia como
bom o desempenho do atual presidente.Interessante perceber, de acordo com os dados
apresentados, que são aqueles indivíduos que acreditam mais na participação da população
nas décadas do governo que melhor avaliaram o desempenho de seu atual líder nacional.
Na tabela 2, referente ao desempenho do Intendente de Montevidéu, verifica-se o
mesmo ocorrido na análise dos dados da tabela 1. Percebe-se aí uma significativa contradição
nas respostas até então obtidas.
A alta confiança no Governo Federal é demonstrada por 45,2% da população (tabela
3), sendo aí também verificado que há mais respostas positivas dentre aqueles indivíduos que

23
consideram a participação popular mais significativa na solução dos problemas nacionais. Na
tabela 4, em âmbito municipal, obtivemos os mesmos resultados.
Analisando os dados contidos na tabela 5, percebemos que a crença nos indivíduos
como os maiores responsáveis pelo seu bem-estar é mais freqüente nesta população.
Quanto à tabela 6, é possível verificar que, assim como no Chile, são as grandes
empresas que, de acordo com a opinião dos entrevistados, possuem maior poder no Uruguai.
Em segundo lugar, aparece o Governo, seguido dos partidos políticos e dos demais meios
pelos quais o poder pode ser imposto à sociedade.
Também no Uruguai, como no Brasil e no Chile, são as pessoas que crêem mais na
participação popular para a solução dos problemas do país que demonstram melhor avaliação
e maior confiança no governo e na classe política.

ACHADOS:
BRASIL:

O Estado brasileiro caracteriza-se, em sua história recente, por ser um Estado em que o
ideal progressista esteve sempre muito presente na constituição de nossa sociedade, sendo
que um profundo processo diretivo, regido pelas classes dominantes, foi quem ordenou este
mesmo progresso desde o século XIX. Esta mesma classe dominante no Brasil, quando no
poder, quase sempre se caracterizava por ser composta por membros de uma elite decadente,
sendo assim os elementos mais dinâmicos da sociedade estiveram quase sempre fora do
processo político brasileiro, isso sem falar nas camadas subalternas de nossa sociedade.
São esses elementos que demonstram o porquê de possuirmos em nossa história a
predominância de idéias liberais e democráticas, muito mais como elementos figurativos e
legitimadores do regime, do que como elementos fundantes e estruturantes de nossa
realidade.
Esse fato, aliado ao de que a sociedade brasileira se configura como uma sociedade
heterogênea, contribui para a constituição de uma sociedade hierarquizada, que repercute em
uma maior desigualdade na distribuição de riquezas.
Esta desigualdade, hierarquia, domínio por meio de classes econômicas decadentes,
formatou um Estado com características patrimonialistas, que limitou a ação política das
camadas populares e tornou nossa sociedade ainda mais excludente.
O elemento político predominou sobre o econômico, o que conduziu o país a um
arranjo autoritário, tradicional e senhorial.

24
A liberdade veiculada por este mesmo Estado durante a sua história serviu mais para
proporcionar um modelo econômico um pouco mais livre, mas inda administrado pelo
Estado brasileiro.
Vemos então, um arranjo liberal-conservador, em que as decisões eram tomadas na
cúpula, afastando a mais ampla camada da sociedade desse processo. Uma forte
burocratização do Estado, uma forte capacidade da elite política de frustrar a participação
política, contribuindo para eliminação do segmento popular do processo decisório.
A história recente, que se apresenta após o regime autoritário, apresenta um processo
de redemocratização que não permitiu por meio de sua legislação, considerada avançada por
muitos, a sustentabilidade de meios que permitissem à parcela excluída socialmente, sua
inserção no processo decisório do futuro político, econômico e social do país, o que acabou
por fortalecer ainda mais os arranjos políticos tradicionais no cenário brasileiro.
As recentes mudanças não permitiram que a percepção dos eleitores sobre o processo
político sofresse significativas mudanças, antes a democracia social não parece ter
encontrado um solo fértil na nação brasileira. Vivemos ainda uma democracia formal que
não foi capaz de transformar-se em uma democracia social.
Os constantes escândalos na vida politica brasileira tem contribuído em muito para a
manutenção de uma avaliação negativa da politica brasileira, o que promove a internalização
de fracos valores políticos, e conseqüentemente, uma baixa participação política de seus
cidadãos, muito em função de uma cultura descrente.
Estes fatores históricos dão sustentabilidade aos achados nas tabulações das respostas
dos eleitores brasileiros, onde os mesmos apresentam a percepção de que no Brasil o
Governo é quem detém maior poder no quadro geral dessa sociedade, seguido das grandes
empresas, em sua maioria erguidas sob forte apoio desse mesmo Estado desenvolvimentista.
O aparato estatal que permitiu ao Estado cercear a ação dos agentes sociais demonstra o
porquê da baixa avaliação de organismos capazes de dar vazão à vontade e à ação popular,
por exemplo, como os sindicatos.

CHILE:

O Chile, apesar de possuir uma história em muitos aspectos semelhante aos demais
países latino-americanos, possui características também peculiares em relação aos demais
países. Caracteriza-se, talvez, por ser o país que, primeiramente, experimentou um processo
de urbanização, industrialização e constituição de uma classe operária significativa já no

25
início do século XX. Isso em muito explica a percepção dos eleitores chilenos no que diz
respeito à avaliação de que, no Chile, são as grandes empresas quem detêm maior poder na
sociedade, uma vez que o arranjo industrial que se iniciou já na década de 20 desfrutou de já
praticamente um século para desenvolver-se e estabelecer-se no citado país. Todo esse
tempo de maturação permitiu à classe industrial organizar-se de forma a obter amplos
poderes para influenciar nos mais diversos campos sociais chilenos. Um modelo industrial
como verificado no Chile, que se pautou numa ampla e irrestrita fonte de recursos externos
e, portanto, financiado desde seu início pelo capital norte americano, aliado posteriormente
também ao setor militar chileno, compôs-se como um estamento organizado com forte
antecedência à classe política e proletária.
Essa configuração da sociedade chilena, acompanhada de um processo ocorrido ao
final do século XX que compõe, primeiramente, um regime militarizado autoritário, aliado
ao capital produtivo e que, num segundo momento, da recente história chilena passa por
uma mudança na qual os governos democratizantes procuraram estabelecer um regime
democrático e consensual, conhecido também como um “amplo consenso” e que acabou
gerando um consenso virtual, em que qualquer reivindicação da base social visando a atingir
o Estado era entendida como ilegítima acabou cerceando as liberdades e possibilidades de
desenvolvimento social no Chile. A recente história chilena demonstra a predominância de
um capitalismo desregulamentado, acompanhado de uma democracia de consenso
monitorado e, portanto, artificial, mas que ainda assim permite ao Estado obter uma relativa
legitimidade perante a sociedade e que ao mesmo tempo limita as possibilidades de ações de
grupos sociais que tendem a contestar essa situação em muito explica o comportamento dos
eleitores representados nas tabelas acima apresentadas.
Uma sociedade com essa configuração tende a entender que o grande capital, por
possuir uma organização pioneira dentro dessa sociedade e que encontra forte apoio entre
forças políticas e militares, será sempre um estamento capaz de concentrar ao seu redor as
maiores forças políticas da sociedade, e que os apoiadores desse regime, especificamente o
setor militar, que em muito deu sustentabilidade a esse mesmo capitalismo liberal, serão
uma segunda força política nesse cenário. Por fim, o amplo setor social, caracterizado por
ser uma classe produtiva que encontrou no Chile, tanto nos regimes autoritários, como nos
democráticos, instrumentos que limitaram sua capacidade de ação tende a compreender a si
mesmo como o setor de poucos poderes nessa sociedade e, consequentemente, tende a
apresentar esta mesma avaliação em relação aos órgãos que poderiam dar- lhes
representação, tais como partidos políticos e sindicatos.

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A confiança na participação popular no caso chileno parece apresentar-se mais como
uma expectativa para o futuro de uma organização social ampla, em que as camadas menos
favorecidas poderiam fazer frente a esses poderes constituintes e predominantes em sua
sociedade, alterando assim, o modelo vigente, em que este mesmo setor popular encontra-se
alheio ao processo participativo e decisório no que diz respeito às decisões políticas de toda
essa sociedade.

URUGUAI:

O Uruguai ostenta uma das maiores rendas per capita e uma das menores taxas de
pobreza da América Latina, aliando isso a um índice de analfabetismo dos mais baixos da
região. É o pioneiro, na América do Sul, na adoção de políticas sociais.
Os valores democráticos, no Uruguai, estão associados à centralidade que a política
tem na vida das pessoas. A prioridade da política, nesse país, configurou-se como elemento
definidor de uma cultura política desde o início do século passado.
Contudo, a democracia uruguaia tem apresentado processo de crise, assim como os
demais países da região. As últimas pesquisas de opinião realizadas têm demonstrado um
crescente desinteresse dos cidadãos na política. Como verificado nos dados apresentados
através das tabelas, a população uruguaia acredita que são as grandes empresas que possuem
uma maior parcela de poder, antes do governo e dos meios de participação social. Isso pode
ser uma tendência gerada por uma trajetória histórica na qual o governo permitiu-se uma
determinada abertura (battlismo), sem, contudo, dar espaço à ampla participação popular.
Além da deterioração da imagem das instituições políticas, um fator que tem incidido
no surgimento das crises da democracia uruguaia tem sido a inconformidade permanente da
opinião pública uruguaia, que remete ao início dos anos 1950, com o começo da crise do
modelo de desenvolvimento baseado na substituição de importações. Com isso, então, surge a
imagem e o sentimento de um país em crise e em constante processo de deterioração da
dimensão social.
A condição sócio-político uruguaia, nos últimos anos, apresenta uma certa decadência.
Os índices de pobreza têm apresentado um crescimento significativo a partir da segunda
metade da década de 1990.
Apesar dessas questões verificadas, que são também presentes nos demais países
latino-americanos, o Uruguai ainda possuiu uma condição melhor que seus vizinhos. Os
índices de desenvolvimento social, nesse país, são mais elevados e a participação política é
mais relevante.

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CONCLUSÃO:

O primeiro achado presente nos três países é o que aponta uma forte crença dos
eleitores brasileiros, chilenos e uruguaios na participação popular, também entendida aqui
como participação política.
Um segundo achado é o que aponta, nos três países, para o fato de que eleitores
que acreditam na participação política para resolução de problemas tendem também a ter uma
maior confiança e uma melhor avaliação dos governos.
A diferença fundamental verificada nesses três países diz respeito ao setor que
detém mais poder em cada uma dessas sociedades, no caso brasileiro o Governo apresenta-se
aos eleitores como o segmento que detém maior parcela de poder na sociedade, enquanto que
no Chile os eleitores entendem que quem detém maior parcela de poder são as grandes
empresas, já no caso uruguaio, estes dois segmentos, segundo a avaliação do eleitorado,
parecem estar dividindio força, ao mesmo tempo em que um terceiro elemento que é a ampla
sociedade, ou a camada trabalhadora, assalariada, e mesmo os autônomos, formais ou
informais, pois, no cenário uruguaio, organizações como sindicatos, partidos políticos, igrejas,
etc., apresentam uma melhor avaliação em relação aos dois primeiros países.
Essa constatação leva à conclusão de que, para um efetivo processo da melhoria
da situação de um país, os três setores, Governo, Corporações e os Cidadãos devem ser
elementos fundamentais nesse processo, em que um crossover desses três elementos poderá
formar um elo fundamental capaz de proporcionar um modelo democrático que permita
incidir no desenvolvimento de sociedades que se encontram em contextos políticos,
econômicos e sociais precários como nos países latino-americanos.
A recorrência dos achados, nos três países, de que as corporações estão sempre
entre os segmentos detentores das maiores parcelas de poder na sociedade, e a constatação de
que sempre há uma maior confiança na participação popular, e, portanto, maior predisposição
para a participação política que está diretamente relacionada a uma maior confiança no
governo, demonstram e corroboram a tese de que estes segmentos não devem ser
desconsiderados quando se propõe um modelo de ação para um desenvolvimento sustentável
de nossas sociedades.
Uma medida viável para se atingir um maior crescimento econômico,
acompanhado de um forte desenvolvimento social, passa necessariamente pela organização de
órgãos de demandas e discussões de interesse da sociedade, onde corporações, governo e a
cidadania possam discutir projetos para seu país, até que consensualmente encontrem formas
mais viáveis e justas para promover o desenvolvimento econômico e também social.

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Em países que estão em situação de submissão ao capital estrangeiro - e que
colocam tanto os governos como os cidadãos como dependentes desse mesmo capital –
quando seus governos forem implementar projetos voltados para a sociedade, deverão
obrigatoriamente inserir, em suas discussões, representantes das grandes empresas, assim
como os cidadãos, para que assim o processo decisório seja realmente democrático e
equilibrado.
Vê-se então que um projeto, para promover uma democracia social em países
materialmente não resolvidos, passa pela organização de órgãos consultivos que permitam
igual representação dos três segmentos citados, assim como ampla possibilidade de discussão
das questões que são de interesse social.
Esse tipo de organização de demandas permite que sejam evitados fenômenos
como corrupção em função da maior proximidade da sociedade aos órgãos decisivos, assim
como elimina a possibilidade de um desses setores tomarem o poder e colonizá-lo.

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REFERÊNCIAS

SANI G. Participação Politica, in: Bobbio, N. Dicionário de Politica, UNB, 2000.

BAQUERO, Marcello. Capital Social e Desenvolvimento Sustentável na Promoção da


Cidadania, UFRGS, 2007

BAQUERO, Marcelo. Demacracia Brasileira em Tempos de Crise Cultura Politica no Rio


Grande do Sul, UFRGS, 2007

KLIKSBERG, Bernardo. Como Avanzar la Partipación em América Latina, el Continete mais


Desigual, Paper XI CLAD, 2006.

DOIMO, Ana Maria. A vez e a Voz do Popular, Relume-Dumara, 1995.

Enciclopédia Mirador Internacional, 1975. Volume 20.

GUGLIANO, Alfredo Gugliano. Participação e Governo Local: comparando a


descentralização de Montevidéu e o orçamento participativo de Porto Alegre. Sociologia,
Problemas e Práticas, nº 46, 2004.

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