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RESUMO: Este trabalho se propõe a investigar e analisar os principais dilemas e dificuldades com que se confrontam
os futuros professores na construção de materiais didáticos para o ensino de Química. Participaram da pesquisa um
grupo de alunos (4) do curso de licenciatura em Química que participam do projeto RIVED – Rede Interativa
Virtual de Educação. O estudo envolveu análise de depoimentos e gravações das reuniões do grupo para discussão
dos roteiros. Os dados sugerem alguns encaminhamentos para a formação inicial docente.
INTRODUÇÃO
A construção de materiais didáticos é uma das múltiplas ações formativas que se realizam
nos cursos de formação inicial. Tal ação formativa tem evoluído e sofrido mudanças ao longo do
tempo, acompanhando o desenvolvimento das tecnologias na sociedade. Tem, também, se
FP
XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ)
Pensar em materiais didáticos leva-nos a destacar a importância que tem sido dada
à renovação tecnológica nas escolas, induzindo os professores a incorporar esses novos recursos
e métodos a sua prática educativa. Embora “adentrar-se nas novas tecnologias, fazê-las próprias
e adquirir o domínio e a segurança necessária exija dos professores um esforço e um tempo que a
urgência da atividade de aula não costuma facilitar” (Bartolomé, 2002, p.13), o computador
parece cada vez mais fazer parte do cenário escolar, sendo reconhecido como mais um recurso
didático disponibilizado aos professores (CARRAHER, 1992; COBURN, 1988; LA TAILLE,
1989; LOLLINI, 1991 apud EICHLER e DEL PINO, 2000). Todavia os professores, em sua
grande maioria, manifestam que não se sentem preparados para utilizar as novas tecnologias.
Nesse sentido, para Bonilla (2002), trazer a temática das novas tecnologias para a
pauta das discussões nos cursos de formação de professores é de fundamental importância, por,
pelo menos, duas razões: a primeira é a necessidade de a universidade estar em sintonia com os
alunos dos cursos de licenciatura, na maioria dos casos, jovens que já se encontram imersos
nesse campo tecnológico; a segunda é que, num curto espaço de tempo, esses mesmos alunos
serão professores de outros jovens/alunos cada vez mais imersos no mundo tecnológico.
Conseqüentemente, os licenciandos necessitam refletir sobre essa questão, pois, apesar de terem
contato com tais tecnologias, não é tão claro que tenham desenvolvido uma atitude crítica acerca
da sua produção e utilização nem que reflitam de modo continuado sobre as formas como
influenciam o mundo em que vivem.
Assim, entendemos que os futuros professores não devem saber apenas utilizar
tais materiais, mas também, desenvolvê-los, rompendo com atitudes que os transformem em
"agentes de transmissão", de "depositários" ou de "objeto" de saberes para transformarem-se em
"produtores de um saber" (TARDIF; LESSARD; LAHAYE, 1991). Tal entendimento pressupõe
avançar para novos níveis nos processos formativos ao criar espaços para a construção de
conhecimentos, ao diminuir o distanciamento entre o dizer e o fazer. Nesse trabalho, a proposta
de futuros professores desenvolver materiais didáticos se constitui uma das formas de se
promover processos de aprendizagem da docência. A proposição de atividades que integram os
processos educativos gera dificuldades do tipo “que fazer e como fazer”, pois estas não são
processos técnicos porque envolvem posicionamentos, opções, jogos de poder, compromisso
com a inovação. Dessa forma, o momento do planejamento de qualquer situação de ensino
envolve tomada de decisões sobre o que fazer e como fazer e, nesse contexto, estão inseridos os
dilemas.
O termo dilemas é utilizado com muitas acepções, segundo Zabalza (1994, p.62) é
um conjunto de situações problemáticas (pontuais ou gerais) que podem se apresentar ao
professor, na sua atividade profissional. Para o autor “é o conjunto de situações bipolares ou
multipolares que se apresentam ao professor no desenrolar de sua atividade profissional”.
(ZABALZA, 1994, p. 61).
Berlak e Berlak (1981) definem os dilemas como construtos que geram tensões no
enfrentamento dos professores das situações escolares.
METODOLOGIA
No que diz respeito a seleção de material, os licenciandos manifestam que este foi um dos
problemas enfrentados devido a exigüidade de informações e validação das mesmas. A restrição
de informações não permite que os conteúdos possam ser tratados da maneira mais ampla.
“fiquei no dilema de utilizar ou não certas informações que poderiam não ser tão
importantes. Mas, o que era importante? Como separar pontos de interesse
primordial aos alunos? Foi necessário se por no lugar de alunos que estão na faixa
etária de 14 a 17 anos e imaginar. Com certeza foi e é um desafio”.(Fábio)
“percebia certa alteração dos fatos, devido ser mostradas somente uma visão
europeizada dos fatos, e esto torna inviável a utilização destas informações, como
base teórica. Já que o intuito era o de buscarmos a valorização da cultura áfrica
concernente ao início da utilização dos metais, na produção de ferramentas”.
(Carlos).
Nas manifestações dos licenciandos é possível inferir que decisões inseridas no contexto
de como trabalhar o conteúdo específico de química tendo como referência uma temática se
constitui em uma dificuldade pela percepção tradicional de ensino (conteudista). O foco didático-
pedagógico da proposta de construção estava baseado na abordagem transversal de conteúdos
sociais e étnico-raciais, ou seja, busca trabalhar com temáticas que contemplem a diversidade.
“Relacionar a química com a temática Afro. Eu não conhecia nada sobre este
tema”.(Luciano).
A inclusão dos temas chama a atenção quer pela necessidade de entender as formas de
como organizar uma unidade temática quer pelo desconhecimento das discussões sobre a
temática da africaneidade. O que foi possível observar que a maior dificuldade é em como
articular com os conhecimentos químicos, já que a temática não poderia ser abordada pelas
disciplinas tradicionais de forma direta, mas permear o conteúdo destas. O problemático com
relação a isso é que o licenciando não abre mão da lógica da disciplina, ou ela não entra na
lógica dessa interdisciplinaridade ou acaba sendo quase uma curiosidade. Visto que a formação
docente ainda está pautada na lógica do estruturado. Nesse sentido, é preciso dar abertura dentro
do campo disciplinar esquecendo que existem lógicas e seqüências.
Nas orientações dadas para a construção do material era solicitado aos licenciandos que
ficassem atentos para o fato de que não era simplesmente propor uma situação de ensino
qualquer, mas propor algo que justificasse o uso do computador, o que gerou alguns dilemas,
visto que a tendência dos futuros professores é reproduzir o que está explicitado nos livros
didáticos.
“Como propor uma situação de ensino diferente do livro didático? O que eu estou
propondo é diferente? Por isso no início desenvolvi várias propostas de roteiro.
Que tipo de aplicações do mundo real podem ser interessantes dentro do contexto
do objeto? Isto justifica o uso do computador?”(Fábio).
Interatividade
Pode ser entendida como uma qualidade técnica atribuída as tecnologias digitais que é
traduzida em um conjunto de propriedades específicas de natureza dinâmica, que favorecem
transformar os envolvidos na comunicação, ao mesmo tempo, em emissores e receptores da
mensagem. Nesses termos, para Lévy (1999, p.82) “a interatividade assinala muito mais um
problema, a necessidade de um novo trabalho de observação, de concepção e de avaliação dos
modos de comunicação do que uma característica simples e unívoca atribuível a um sistema
específico”.
Os licenciandos revelam que não tem muita clareza do que seja interatividade. Nesse
sentido, é necessário entender que a interatividade se configura como uma relação tecno-social,
na qual está presente o diálogo em tempo real em espaços de negociação delimitados pelas
interfaces gráficas. Essa relação não é passiva, mas ativa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BERLAK, A.; BERLAK, H. Dilemmas of Schooling: teaching and social change. Methuen:
Londres, 1981.
EICHLER, M.; DEL PINO, J. C. Carbópolis: um software para educação química. In: Química
Nova na Escola, nº 11, p. 10-12, 2000.
ELLIOT, J. Facilitating action research in schools: some dilemmas. In: BURGESS, R. G. (edit.).
Field methods in the study of education. Falmer Press: Londres, 1985. pp. 235 -262.
LA TAYLLE, Y. de. Ensaio Sobre o Lugar do Computador na Educação. São Paulo, Iglu
Editora, 1990.
TARDIF, M.; LESSARD C.; LAHAYE, L. Os professores face ao saber: esboço de uma
problemática do saber docente. Teoria & Educação, São Paulo, n. 4, 1991.