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Local:
Convento Santíssima Trindade
R. São Benedito, 2.146 - Alto da Boa Vista - Santo Amaro
Objetivo do Curso: Formar missionários(as) que: São Paulo - SP - Tel.: (11) 5687-7229
- Ajudem a dinamizar a Igreja local; Veja como chegar:
- Possam partir em missão para locais onde o povo de Deus http://www.ssps.org.br/Convento/FotosAmpliadas/Local.htm
tem maior necessidade; Vagas Limitadas:
- Sejam multiplicadores e animem outras pessoas a assu 50 participantes
mirem o mandato missionário da Igreja;
- Busquem aprofundar a vocação missionária. Inscrições e maiores informações:
Catolicanet - Tel.: (11) 5660-6800
A quem se destina: Av. Jacinto Júlio, 478 - Interlagos - São Paulo - SP
- Especialmente aos jovens, com potencial para a liderança CEP 04815-160 - http://www.catolicanet.com.br
que participam da comunidade paroquial; E-mail: missiologia@catolicanet.com.br
- Para os membros do COMIPA (Conselho Missionário Pa-
roquial) e pessoas que desejam se preparar melhor para o
trabalho missionário.
Requisitos: ser indicado pelo pároco ou pela Coordenação Apoio:
de Pastoral; ter entusiasmo missionário e compromisso com o
Evangelho.
Amigos solidários
A
violência, ao longo dos anos, emerge como um problema para
os indivíduos e sociedades. Por que ela é tão recorrente?
As respostas a este fenômeno têm se mostrado múltiplas
e diversas, abrangendo uma gama de medidas, nos mais
diversos níveis: individual, comunitário, governamental. No
segundo semestre de 2005, o Estatuto do Desarmamento 1 - Ícone do Sagrado Coração
e o Referendo sobre a comercialização de armas de fogo e munição de Jesus. Edições Loyola.
suscitaram calorosas discussões. 2 - Celebração durante o
Sempre que surgem atos de violência, como a recente onda de 15º Congresso Eucarístico
ataques do crime organizado no Estado de São Paulo, com a conse- Nacional, Florianópolis, SC.
qüente reação da polícia, as discussões sobre o tema se intensificam. Foto: Jaime C. Patias
Aos poucos, tudo se acalma e quase não se fala mais no assunto até
a próxima crise estourar. Debates demonstram que, em relação a esta
questão, não há consenso entre os pesquisadores quanto às causas
que produzem a violência, nem mesmo quanto ao fenômeno em si. MURAL DO LEITOR--------------------------------------04
Há algo mais profundo que nós precisamos entender. Normalmente, Cartas
procuramos combater os frutos sem ir à raiz mais profunda. Hoje a OPINIÃO--------------------------------------------------05
violência, com tanta midiatização, tornou-se um espetáculo, sendo 44ª Assembléia Geral da CNBB
Roberto Luiz Preczevski
cada vez mais banalizada.
Leonardo Boff salienta que o ser humano vive numa certa ambigüi- PRÓ-VOCAÇÕES----------------------------------------07
dade: a realidade, por um lado, vem marcada por conflitos; e, por outro, Cristão covarde é uma contradição
Rosa Clara Franzoi
vem perpassada por ordem e paz. Nenhum destes lados consegue
erradicar o outro. Misturam-se e se mantém num equilíbrio difícil e VOLTA AO MUNDO-------------------------------------08
dinâmico. O desafio consiste em manter a tensão, buscando aquela Notícias do Mundo
Fides / POM / ZENIT
convergência de energias que permitem
Divulgação
- Junho 2006 3
Mural do Leitor
A n o XXXIII - no 05 J u n h o 2006 É tempo de Missão!
A paróquia de Três de Maio, no Rio
Diretor: Jaime Carlos Patias Grande do Sul, está vivendo há alguns
anos, a rica experiência das Santas Mis-
Editor: Maria Emerenciana Raia sões Populares. O convite não é novo, e nos encontramos mensalmente, para
vem de longe. Já o Concílio Vaticano II nos a partilha da Palavra, das experiências,
seus documentos e mais recentemente, oração, formação continuada e organização
Equipe de Redação: Joaquim F. Gon-
o papa João Paulo II, em preparação ao dos serviços.
çalves, José Tolfo e Rosa Clara Franzoi
Ano Santo de 2000, vinham insistindo para
que a Igreja toda seja missionária; e que Equipe Missionária
Colaboradores: Vitor Hugo Gerhard,
todo cristão sinta a responsabilidade que Paróquia N. Sra da Conceição, Três de Maio, RS.
Lírio Girardi, Luiz Balsan, Roseane de
lhe cabe por ser batizado. Evangelizar,
Araújo Silva, Júlio César, Manoel Apa-
também não é algo novo na Igreja; mas Amigos para sempre
recido Monteiro, Humberto Dantas, o novo das Santas Missões é o método Lembro-me perfeitamente quando a
Ramón Cazallas, Luiz Carlos Emer, usado, a linguagem popular e o ardor Consolata chegou em minha comunidade.
Giovanni Crippa missionário. O próprio nome é significativo: Eu ainda era adolescente, mas o padre
por que Santas? por que Missões? por Serafim despertou em meu coração e de
Agências: Adital, Adista, CIMI, que Populares? meu grande amigo José Natal, que hoje é
CNBB, Dom Hélder, IPS, MISNA, Santas, porque são a continuidade padre Carmelita, o dom de servir. Juntos
Pulsar, Vaticano da missão de Jesus. Missões, porque o fomos coroinhas por um bom tempo, depois
forte é ir ao encontro dos irmãos e irmãs passamos para o grupo de jovens. Como
Diagramação e Arte: Cleber P. Pires afastados, fazendo-lhes a proposta de era gostoso aquelas tardes de sábado,
Jesus; Populares, porque são para o povo, grupo reunido e aquele futebol contra
Jornalista responsável: partindo dos seus anseios e clamores e os seminaristas, o tempo passou, já faz
Maria Emerenciana Raia (MTB 17532) porque são feitas pelo povo. No encerra- uns vinte anos, mas o ardor continua o
mento das Missões de 1997 na paróquia, mesmo. Estou casado, tenho duas filhas,
Administração: Eugênio Butti com a presença de todas as comunida- mas continuo a evangelizar meus adoles-
des, foi firmado um sério compromisso: centes do Crisma, o grupo é grande, cerca
Sociedade responsável: “Queremos ser cristãos missionários. Após de 35. Espero continuar assim! Um forte
Instituto Missões Consolata esta etapa de encontros, estudo e oração, abraço a todos os amigos para sempre da
(CNPJ 60.915.477/0001-29) partiu-se para a ação missionária. Hoje, Consolata e da revista Missões.
após 5 anos, já conseguimos atingir 25
Impressão: Edições Loyola comunidades. Damos muita importância Antônio Carlos Menegusso
Fone: (11) 6914.1922 ao cultivo da espiritualidade e da mística Paróquia Santa Margarida, Curitiba, PR
4 Junho 2006 -
A evangelização
OPINIÃO
da juventude
Durante a 44ª Assembléia Geral dos Bispos do Brasil,
em Itaici, a juventude foi tema central.
Texto e foto de Roberto Luiz Preczevski diferentes em nossa Igreja... Toda essa diversidade vem reforçar
a unidade em torno de Jesus Caminho, Verdade e Vida para
A
que juntos possamos promover o ser humano em sua dignidade
Igreja Católica no Brasil viveu no mês de maio momen- total, vivendo numa sociedade solidária.
tos eclesiológicos muito importantes. Um deles foi a
44ª Assembléia Geral dos Bispos do Brasil, realizada Questões importantes
em Itaici, município de Indaiatuba no interior de São Não se pode omitir aqui as outras questões que envolveram
Paulo. De 9 a 17 de maio todos os bispos do país se esses dias de estudo dos bispos, como por exemplo, a Declara-
reuniram para estudar o tema central “A evangelização ção sobre o ano eleitoral. Nela os bispos pedem que os partidos
da juventude”. É óbvio que uma Assembléia Geral como esta não apresentem candidatos competentes e honestos para que se
fica limitada apenas ao estudo de um único tema, mas se debruça reverta o quadro de desesperança e desilusão que toma conta do
sobre um conjunto de assuntos que acompanham a vida da Igreja povo brasileiro diante da corrupção que assola o país. O cidadão
no país e da sociedade brasileira, em especial dos católicos. não deve anular seu voto, pois isso significa conivência com o
O tema central dessa Assembléia vem mostrar mais uma atual quadro de descaso para com a população brasileira.
vez todo o carinho que a Igreja Católica, em especial os bispos, A 44ª Assembléia Geral tratou também da V Conferência
tem pela juventude do Brasil. A Pastoral da Juventude vem tendo Geral do CELAM, a realizar-se em maio de 2007, em Aparecida,
sua caminhada nas comunidades, paróquias e dioceses, sempre SP, elegendo os delegados que participarão deste evento, que
acompanhada pelos sacerdotes e lideranças que motivam a es- contará com a presença do papa Bento XVI. Ainda as diversas
piritualidade e a ação pastoral de tantos jovens em nosso país. Comissões Episcopais tiveram a oportunidade de apresentar
Porém, mais uma vez, os bispos querem ajudar nesse processo seus trabalhos realizados desde a última Assembléia.
de crescimento e experiência de Igreja que os nossos jovens Enfim, a Assembléia Geral dos Bispos é sempre um momento
vêm realizando. Afirmam os bispos: “Vocês estão no coração em que os olhos da Igreja em todo país se voltam para Itaici,
da Igreja, dando-lhe um rosto jovial. Sua presença, seu jeito, lugar teológico-profético, para mostrar o rosto de uma Igreja que
seu dinamismo missionário muito contribuem para uma Igreja sempre se preocupa com o Povo de Deus, em especial os mais
mais dinâmica e profética. Em Puebla, ela fez a opção pelos excluídos. Agora vem o momento missionário de fazer acontecer
jovens... Convocamos toda a Igreja no Brasil a renovar sua as resoluções lá aprovadas. Isto será possível com o engajamen-
opção pelos jovens, e a dar o melhor de si no empenho pela to de todos os católicos para que se possa viver plenamente a
sua evangelização, através da escuta, compreensão, amizade e vontade de Jesus de praticar o amor ao próximo.
orientação”. É esta a convicção e o apelo profético que os bispos Olhemos para os jovens, eles esperam muito de nós. Deve-
fazem, mais uma vez, a toda a Igreja, ou seja, a todos os fiéis mos acolhê-los dentro das diferentes culturas, daí teremos uma
para que olhem com atenção, amor e carinho para os jovens Igreja mais rica, mais bela e acolhedora.
em sua experiência de Deus. Hoje podemos ver conflitos de
gerações, formas diferentes de se manifestar a fé, eclesiologias Roberto Luiz Preczevski é sacerdote e assessor de comunicação da CNBB.
- Junho 2006 5
Missão como consolação
A Consolação na história
No dia 20 de junho celebramos A consolação parte sempre de uma situação de sofrimento
que pode ser físico, moral, individual ou social. Perante situações
a Festa de Nossa Senhora que não encontram resposta humana, é necessário procurar uma
saída divina, a exemplo de Israel na libertação da escravidão do
Consolata, mãe e padroeira dos Egito. Esta constatação nos obriga a fazer uma leitura coerente
das numerosas e dolorosas situações de aflição nos contextos
missionários e missionárias. sociais onde vivemos e evangelizamos. Trata-se dos clamores
dos sofridos de hoje, do ódio entre culturas e religiões, trata-se
da exclusão econômica e social da maioria dos habitantes do
de Francisco Lerma planeta Terra, da injustiça perpetrada por pessoas e instituições,
que provoca os mais variados conflitos: terrorismo, guerras de-
claradas, guerras latentes, guerras esquecidas, publicidade da
O
violência nos meios de comunicação social, linguagem violenta
nome de missionários e missionárias da Consolata, na vida social e política...
que nos identifica na Igreja e no mundo, indica o Todas as culturas e religiões, escolas de pensamento e
nosso carisma além-fronteiras e a nossa fisionomia movimentos humanitários da antigüidade e de hoje, contaram
mariana, vivida como consolação de Deus: missão e e contam com ensinamentos para consolar os aflitos, para curar
consolação intimamente unidas. O bem-aventurado os doentes, para libertar os oprimidos do jugo da escravidão.
José Allamano assim o entendeu quando formava Sem negar a consolação humana, a Bíblia oferece uma con-
os primeiros missionários: “Sim, denominamo-nos missionários solação mais profunda e integral. Os profetas anunciaram uma
da Consolata. A Consolata é nossa mãe terníssima. O nome que consolação que tem como protagonista o próprio Deus, o Deus
trazeis deve levar-vos a vos tornardes o que deveis ser”. De que de toda a consolação, que fala ao coração das pessoas. Toda a
consolação se trata? Quais são as suas características? ação de Deus, da Criação à Salvação em Cristo, apresenta-se
sob a ótica da consolação. Esta obra atinge sua plenitude na
consolação definitiva trazida por Cristo, missionário do Pai. Ele
próprio é a consolação de Israel.
A Consolação hoje
Hoje, Deus, Pai de toda a consolação, continua a chamar
outras pessoas, outros profetas, outros apóstolos, para manifestar
e comunicar a consolação. O consolador, fiel à missão de Deus,
fala ao coração, isto è, vai à raiz, desce em profundidade, vai ao
âmago da pessoa aflita, porque a consolação que oferece é algo
muito profundo e radical. Ao mesmo tempo, quando necessário,
deverá utilizar também o método da denúncia profética, à seme-
lhança de Moisés, dos profetas, de João Batista, do próprio Jesus
e dos mártires do nossos dias, que todos conhecemos, como
Dom Oscar Romero, padre João Bosco, Irmã Dorothy, etc.
Nesta missão de consolação, Maria é Mãe e modelo. Maria
escuta e acolhe a palavra na anunciação; é diligente no servi-
ço e visita a Isabel; é atenta às necessidades dos outros nas
bodas de Caná; participa do sofrimento do Filho no Calvário;
acompanha e assiste a Igreja nascente no Pentecostes. Maria
viveu um caminho progressivo de fé atenta à voz de Deus, na
contemplação, na gratuidade da sua vida, na pontualidade da
ação, na doação total de si mesma.
Cabe a nós, agora, seguir estes ensinamentos na coerência
e retidão de vida, nas opções e atividades de cada dia, em todo
o nosso ser e agir. Deste modo, realizaremos a missão como
consolação libertadora de tudo o que é negativo na vida das
pessoas, e caminharemos rumo àquele mundo definitivo, “onde
não haverá mais lágrimas, gemidos ou dor” (Ap 21, 4). “Então
todos poderemos gritar cheios de esperança: passou o velho
mundo e começa o mundo sem males” (Ap 22, 5).
6 Junho 2006 -
pró-vocações
Cristão covarde é
uma contradição
Arquivo POM
A
após a ressurreição de Jesus, mediante a pregação convicta,
história conta que Alexandre, denominado o Gran- muitos aderiam à fé e recebiam o batismo. A estes era dado o
de, foi um respeitável general. Seus biógrafos o nome de “cristãos” (At 11, 25-26). É muito bom que de vez em
apresentam como uma figura de grande valor e, quando, nós que nos dizemos cristãos, lembremos a nós mes-
sobretudo, dotado de valentia e coragem. Mesmo mos que tal afirmação tem implicações importantes na nossa
sendo numeroso o exército comandado por ele, não vida. O Evangelho indica um caminho, que foi traçado por Ele,
lhe passavam despercebidas certas atitudes de mau o Cristo, e é por este caminho que devem seguir aqueles que
comportamento dos seus soldados, especialmente, atitudes que aceitam o batismo. Se ignorarmos isto, vale também para nós
pudessem ofuscar a sua imagem. a admoestação de Alexandre ao soldado.
Conta-se que certa vez, Alexandre percebeu que entre os
soldados havia um que toda vez que o exército era convocado Uma religião desligada da vida
para uma batalha, dava um jeito de se esconder. Pensava: entre A compositora e musicista Ir. Miriam Kolling, num de seus Atos
Penitenciais, diz: “Senhor, quem não te aceita, quem te rejeita,
pode não crer por ver cristãos que vivem mal...” Isto acontece,
Quer ser um missionário/a? quando se vive uma religião desligada da vida. Quando se faz
dela uma espécie de ninho protegido, fechado, um travesseiro
Irmãs Missionárias da Consolata - Ir. Dinalva Moratelli gostoso, onde se repousa comodamente.. E tem gente que se
Av. Parada Pinto, 3002 - Mandaqui sente feliz com isso. Vai ao templo, ora, canta, bate palmas, se
02611-011 - São Paulo - SP emociona... e não percebe que está se iludindo. Sim, porque
Tel. (11) 6231-0500 - E-mail: rebra@uol.com.br a fé, a religião, tem uma força que torna as pessoas sempre
mais sensíveis e atentas às situações desumanas e injustas
Centro Missionário “José Allamano” - Pe. Manoel A. Monteiro (Néo) da realidade, e aponta sempre o compromisso da resposta.
Rua Itá, 381 - Pedra Branca
02636-030 - São Paulo - SP Nós cristãos, somos continuamente convocados a voltarmos
Tel. (11) 6232-2383 - E-mail: secretariamissao@imconsolata.org.br nosso olhar e coração ao Evangelho, porque lá encontramos o
apelo de Jesus para construirmos, com garra e coragem, uma
Missionários da Consolata - Pe. César Avellaneda humanidade nova. Uma vida mansa é contra o Evangelho de
Rua da Igreja, 70-A - CXP 3253 Jesus. Cristão covarde é uma contradição.
69072-970 - Manaus - AM
Tel. (92) 624-3044 - E-mail: amimc@ibest.com.br
Rosa Clara Franzoi é irmã missionária e animadora vocacional.
- Junho 2006 7
Conferência, em um comunicado emitido há um ano
exato de distância do evento (13 de maio de 2006).
Este grande evento da Igreja peregrina na América
Latina “dará um grande impulso à fé em nosso conti-
nente” - escrevem os bispos, e recordam que “todos
os setores da sociedade, indígenas, camponeses,
operários, empresários, donas-de-casa, líderes de
opinião, políticos, entre outros, podem contribuir com
a vida da Igreja, em vários ambientes”.
Japão
Leigos fazem Missão no Camboja
Projetos sociais e apoio à pastoral foram desen-
volvidos por alguns leigos missionários japoneses
durante dois anos na aldeia cambojana de Kom-
VOLTA AO MUNDO
N
gundo da América e África e o terceiro será o milênio dos povos
estes últimos 15 anos, a inculturação do Evangelho asiáticos. E para este diálogo cultural e religioso, deveremos
tomou lugar e tornou-se tema de debate quando se estar preparados.
fala em evangelização. O número 54 da Carta Encíclica Compete aos pastores promover tanto o diálogo quanto a
Redemptoris Missio, do papa João Paulo II, publicada inculturação, garantindo-lhes a fidelidade. O ministério exerci-
em 1991, pode ser chamada de “carta magna” da do na Igreja, em qualquer grau, sempre será o ministério da
inculturação do Evangelho pela sua força e clareza, indicando o unidade em meio ao pluralismo, o ministério do diálogo frente
caminho e os critérios para que ele penetre no mais íntimo das a todo e qualquer tipo de fundamentalismo. Compete aos fiéis
culturas, transformando-as por dentro e saindo enriquecido deste serem os desafiadores neste processo histórico que necessita
processo. É bem verdade que a tarefa da inculturação sempre sempre mais de protagonistas capazes de romper fronteiras e
esteve presente na atividade da Igreja, em todos os tempos e de gente capaz de, no dia-a-dia das necessidades imediatas, ir
lugares. Se não fosse assim, não teríamos recebido a fé como construindo o tecido social com os critérios bíblicos da partilha
herança de nossos antepassados. É verdade também que o e da solidariedade, da justiça e da paz.
Evangelho, em seu processo de enraizamento nas culturas, saiu
enriquecido com a variedade de cores e formas provenientes Vitor Hugo Gerhard é sacerdote e coordenador de pastoral da Diocese de Novo Hamburgo, RS.
A
Pontifícia Obra de Propagação da Fé distribuiu durante O segundo continente mais beneficiado pela caridade dos fiéis
a Assembléia-Geral Ordinária das Pontifícias Obras Mis- foi a Ásia, onde se encontra o menor número de católicos. Além
sionárias (POM), realizada em Roma entre os dias 4 e 12 disso, para a reconstrução das obras religiosas (igrejas, conventos,
de maio, os fundos arrecadados em todas as igrejas do capelas…) nos cinco países atingidos pelo tsunami, a Obra de
mundo durante o Dia Mundial das Missões de 2005, que Propagação da Fé, junto à Caritas Internacional e ao Pontifício
registraram uma leve diminuição em relação a 2004. O continente Conselho Cor Unum, enviaram abundantes ofertas. Ajudas espe-
que recebeu o maior número de ajudas foi a África, em função dos ciais foram concedidas no ano passado também para as vítimas
conflitos civis, as calamidades naturais, as doenças e a pobreza do terremoto no Paquistão e para as vítimas das inundações na
geral. A África, no entanto, não é somente um continente que Guatemala. A América do Sul e Central, assim como a Oceania,
recebe ajuda, mas que doa também aos outros, mesmo na sua receberam numerosas ajudas do Fundo Universal de Solidariedade
pobreza. No ano passado, a coleta para as Missões em todas as da Pontifícia Obra de Propagação da Fé.
igrejas africanas alcançou a soma total de quase 450.000 dólares. Fonte: Fides
- Junho 2006 9
Deficiênc
espiritualidade
caminho de fé e e
Deficiência não é desgraça
na vida, mas um modo de
estar na vida, um jeito de
ser “pessoa”.
A
também ajudá-las a “personalizar” o so- A novidade consiste em aceitar com
pessoa com deficiência, como frimento, assumindo-o como companheiro humildade e verdade, a dor e o conse-
qualquer outra, tem possibili- do caminho da vida e dando-lhe um “rosto” quente sofrimento, como fazendo parte
dade de crescer e alcançar um e um “sentido” próprio. da natureza humana, limitada, sujeita à
grau de maturidade, graças às doença e à morte. De fato, não é assim tão
qualidades e dons pessoais de- A experiência de fé cristã excepcional que a pessoa humana sofra,
senvolvidos num bom ambiente A experiência de fé profunda, tendo que na sua temporalidade experimente
familiar e no âmbito de uma cultura que como referência a pessoa de Jesus, não dolorosamente o limite e que este deva
transmite aqueles valores que fazem parte gera automaticamente a integração do sempre recomeçar a ser compreendido
da experiência de cada um. Também a sofrimento na vida. Para transformar o novamente. Nesta perspectiva, é possível
experiência religiosa, vivida na família e sofrimento em algo de positivo, é necessário valorizar o sofrimento como “vocação”, um
na comunidade, oferece sua contribuição passar do “saber” ao “viver”. Passar do chamamento que a própria vida, com as suas
para que todas as pessoas com deficiência “saber” que existem muitas pessoas que variadas vicissitudes, dirige continuamente
tenham a possibilidade de desenvolver sofrem no mundo e do simples “saber” que ao ser humano. Não certamente como uma
qualidades e sensibilidades diferentes das Alguém assumiu nossas enfermidades “vocação” entendida como chamamento
pessoas consideradas “normais”. carregando “aquela” cruz, para viver a de Deus, que se exprimiria através da dor
A deficiência traz consigo naturalmente mesma experiência de Cristo, assumindo “mandada” pelo próprio Deus, mas como
uma convivência mais frequente com o a cruz pessoal em comunhão com ele. percurso vocacional de vida, como um
sofrimento. Se por um lado a experiência Na passagem do “saber” ao “viver”, a fé terreno onde sempre é possível plantar
do sofrimento pode criar nas pessoas so- ainda está sujeita a crises e pode até, novos sonhos e esperanças.
10 Junho 2006 -
ncia
encontro com Deus
Tais “chamamentos da vida”, expressos unidade mais profunda da pessoa que A Escritura nos diz que Jesus “aprendeu
em variadas e concretas vicissitudes são se consegue viver a experiência do sofri- a obediência por aquilo que sofreu” (Hb
diferentes em cada pessoa portadora de de- mento em união profunda com Cristo na 5, 8). Amor total ao Pai e para conosco
ficiência. Apesar de não ser fácil, é possível dinâmica pascal de Morte-Ressurreição. ao mesmo tempo. É neste sentido que o
olhar os limites como “provocações”, como É no contínuo diálogo entre a dimensão sofrimento se torna uma oportunidade, um
desafios constantes que nos estimulam humana da pessoa doente, frágil e a riqueza caminho diferente, privilegiado e único,
a reagir e a não nos rendermos. Muitos, da presença do Espírito do Senhor, e do através do qual se pode entrar em comu-
de fato, mesmo não sendo crentes, não seu Criador, que se estabelece o âmbito nhão íntima com o Pai e testemunhar o
se conformam em deixar morrer a própria da espiritualidade. Esta dinâmi-
vida, pelo fato de ter sido marcada pela ca que poderemos apelidar de
doença, por um luto ou por outros eventos metamorfose contínua, produz
negativamente marcantes. uma liberdade interior e uma
identificação com Cristo de tal
Espiritualidade do sofredor ordem que nos torna capazes da
A pessoa que sofre, que tem uma doação plena de nós mesmos.
deficiência, ou que está doente, não tem Desta forma o Cristo que deu
uma espiritualidade diferente de qualquer sentido à vida do homem dá
outro cristão. A espiritualidade de um ba- também sentido à própria doença
tizado é única, carregada de experiências e sofrimento. Leonardo Boff diz
positivas e negativas sempre regadas pela que podem existir três atitudes
fé em Cristo. Pensar numa espiritualidade perante o sofrimento: “a primeira
específica da pessoa com deficiência, pode é a revolta. Ela pode revelar uma
levar ao risco de fazer sobressair apenas última dignidade humana que se
o aspecto negativo que a pessoa carrega recusa a aceitar a humilhação. Encontro com crianças, Fátima, Portugal.
e não considerar as qualidades infinitas Mas a revolta não supera a cruz; sucumbe seu amor de verdade. Um caminho que
que existem e devem ser valorizadas. A a ela. A segunda atitude é a resignação. para nós hoje se revela essencial para,
“espiritualidade cristã” está centrada para O resignado acolhe com amargura o no meio do sofrimento e da pobreza que
todos no evento pascal do qual faz parte que não pode evitar; pode conservar a permeiam o nosso tempo, tornar presente
o sofrimento que é inseparável da encar- altivez interior, mas sucumbe à vitória da a Obra da Redenção fazendo eco ao que
nação em que o próprio Deus, no Filho, cruz que continua lacerando a existência. Paulo sentia quando dizia: “Completo na
assume a totalidade da natureza humana. Sobrevive na derrota e assim a cruz triunfa minha carne o que falta às tribulações de
A condição de vida com deficiência não uma vez mais. A terceira atitude é aquela Cristo, pelo seu Corpo, que é a Igreja”
é desgraça nem privilégio. É a partir da verdadeiramente digna e engrandecedora: (Cl. 1, 24). Além disso, graças à vitória
a assunção da cruz e da morte. A morte de Cristo sobre a morte, e graças à pos-
e a cruz não deixam de ser impostas e sibilidade que nos é dada de participar
inevitáveis. Mesmo assim, é possível na sua Morte e Ressurreição, mediante a
não deixá-las possuir a última palavra. É graça do Batismo, nós vivemos em estado
possível acolher a cruz e a morte como de ressuscitados e como tais ainda que
expressão de amor e de comunhão com os carregando na nossa carne os sinais da
produtores desta iniquidade. (…) O Servo paixão, somos chamados a ser testemu-
sofredor de Isaías viveu essa dimensão nhas da supremacia da Ressurreição.
da perfeita liberdade que se entrega aos Ousaria dizer que, “graças” aos sinais de
demais por amor… O que é redentor em fragilidade, de fraqueza, de inutilidade,
Jesus não é propriamente nem a cruz, de solidão, de sofrimento, de limitação...
nem o sangue, nem a morte, tomados podemos ser testemunhas credíveis de
em si mesmos. Mas é a sua atitude de Ressurreição, de esperança, de vida e
amor, de entrega e de perdão, atitude essa de sentido de viver.
que o leva a entregar a vida, a aceitar a
paixão e a perdoar irrestritamente” (in A Anna Maria Cipriano é membro dos Silenciosos Operários da
cruz nossa de cada dia, fonte de vida e Cruz, responsável pela difusão do Centro Voluntários do Sofri-
de ressurreição, editora Verus). mento (CVS) em Portugal e nos países de língua portuguesa.
- Junho 2006 11
O “chamado”
testemunho
S
ou de origem gaúcha. Nasci num
minúsculo povoado do município
de Erechim. Meus pais, Alfredo
e Belmilia eram lavradores. Em
casa, levávamos uma vida muito
simples, no cultivo da fé e da
religião católica que nos passaram nossos
antepassados de origem européia. Por este
fato, não foi difícil para eu reconhecer e
seguir a voz de Deus, que aliás, começou
a me chamar muito cedo.
Lembro-me que a primeira vez que
senti algo em termos de vocação foi aos
cinco anos. Aconteceu por ocasião da
visita de uma nossa prima religiosa. Não
me lembro muita coisa, mas sim, que ao
se despedir, ela me olhou e perguntou se
eu não gostaria de ser uma irmã religiosa
quando crescesse. Eu respondi prontamen-
te que sim, sem todavia entender o que
aquilo podia significar. Porém, senti que
algo aconteceu no fundo do meu coração;
algo que eu não conseguia explicar, mas
que deixou uma marca. Minha prima foi
embora e não se tocou mais no assunto.
Porém, outro toque especial aconteceu
no dia da minha Primeira Eucaristia. Senti
um apelo profundo dentro de mim, um
desejo de me doar, de fazer algo para as
pessoas mais necessitadas. Ainda não
tinha noção do que fosse consagrar-se a
Deus. Os anos iam passando e como toda
adolescente, eu sonhava com o futuro.
Estudava numa escola rural e aprendia
com facilidade.
As boas influências
Um dia tivemos a visita de um mis-
Domenico Brusa
12 Junho 2006 -
Sobre a Etiópia
conheciam Jesus. Para mim aquilo foi século XIX. É um dos poucos países
uma novidade. Eu ficava pensando que da África (o outro é a Libéria) que não
deveria ser triste não conhecer Deus. foi colonizado por europeus.
Aquele sacerdote disse-nos também, que
havia muitos missionários e missionárias
naquele continente, trabalhando nas es- O trabalho é muito bonito, mas requer
colas, nos hospitais e nas comunidades. uma grande disponibilidade por parte
Ainda lembro do apelo que ele nos fez de de quem o coordena, supervisiona e
prestarmos atenção porque Deus poderia dá formação para os grupos. Outras
estar chamando alguém de nós para irmãs da minha comunidade, também
sermos missionários ou missionárias. Eu missionárias da Consolata, atuam nos
não pensei duas vezes. Levantei a mão campos da educação e da pastoral. O
e disse que eu gostaria de ser uma mis- trabalho é imenso. Sentimo-nos sempre
sionária. Naquele mesmo dia, depois da numericamente poucas, no atendimento
aula, ele visitou minha família e conversou às necessidades que realmente existem
com meus pais. Eles não se opuseram, ao nosso redor.
porém, tive que aguardar mais um tem-
po. Comecei o contato com as irmãs da A missão desafia
Consolata e elas foram me preparando qualquer um
para minha entrada no Colégio. Quando Eu sempre me senti profundamente
isso aconteceu, eu tinha 14 anos. A pro- agradecida a Deus pela vocação missio-
ximidade delas, o estudo, a formação, o foi se encaixando. Desde que cheguei nária que recebi. Agradecida, por estar
lazer, tudo foi me ajudando a amadurecer à Etiópia, sempre atuei no campo da participando da mesma missão de Jesus,
a vocação, levando-me a fazer minha saúde em vários lugares: Konci, Konto o missionário do Pai, pois foi ele que me
opção consciente e livre, aos 18 anos. Fiz Saco e atualmente em Modjo; localidades escolheu e me enviou a ser consolação
toda a formação religiosa no Brasil, como pobres e precárias, que possuem apenas para este povo, caminhando com ele e
também a faculdade de Enfermagem. um ambulatório para que as pessoas buscando com ele a libertação. Quantas
Em vários hospitais pude fazer uma boa procurem ajuda para todo tipo de doen- escravidões devem ainda ser superadas
experiência antes de partir. ça. A enfermeira ali, especialmente nas para que o povo possa desfrutar dos seus
emergências, tem que se transformar até direitos, como cidadãos e como filhos
Deixar tudo para trás em médico. Nesses casos, a responsa- amados de Deus! Como o pôr-do-sol na
O trabalho para a missão na Etiópia bilidade é muito grande e desafiadora. Etiópia é sempre um espetáculo maravi-
só chegou em 1984. Fiquei muito feliz, Em Modjo, o trabalho é imenso. Além do lhoso, faço votos que no coração de cada
mesmo sabendo que deveria vencer mais atendimento e tratamento dos doentes, ser humano, possa reinar sempre o sol da
um desafio: o estudo do inglês, língua desenvolvemos um projeto integrado de esperança e paz. É Jesus, o grande sol
exigida para poder entrar naquele país. prevenção ao contágio do vírus HIV e no que ilumina, aquece, encoraja e fortalece
Este também foi superado, e em 1986 campo do Planejamento Familiar. Através todo aquele e aquela que abraçou a causa
o meu sonho começou a ser realizado. das equipes, previamente preparadas, é da Missão. O desafio é sempre difícil, mas
O início, a adaptação numa realidade possível atingir também as localidades não é impossível.
totalmente diferente, custaram um pou- mais distantes. Esta conscientização
co de sacrifício, mas aos poucos tudo é feita até nas escolas e nas fábricas. Belmilia Formighieri é missionária na Etiópia.
- Junho 2006 13
fé e política
Regras eleitorais
para quando e para quê?
Gervásio Baptista/ABr.
O cidadão precisa conhecer as regras
do jogo para compreender seu papel
na sociedade.
de Humberto Dantas
O
s parlamentares aprovaram mudanças nas regras
das eleições. Mas o que isso representa efetivamente
para o eleitor? Muito pouco. Já temos um conjunto
representativo de leis que, se fossem cumpridas
a contento seriam capazes de afastar da política
alguns criminosos. Nos deparamos com inúmeros
escândalos, e não encontramos na Justiça e no próprio Con-
Presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Rodrigo Collaço, fala
gresso as punições exemplares. Prova maior disso é o caso
na abertura de lançamento da campanha “Operação Eleições Limpas”.
das ambulâncias. Mal foram inocentados pela CPIs, alguns
parlamentares já figuram num esquema de superfaturamento Com o intuito de aumentar a fiscalização e a transparência
envolvendo emendas ao Orçamento. das campanhas foi aprovada também a prestação de contas
Além da sonhada atuação exemplar da Justiça, necessita- pela internet – de uma forma tímida – e a responsabilização
mos de uma profunda reforma educacional. Tal medida seria penal do candidato por eventuais irregularidades nos recursos
capaz de favorecer diretamente o eleitorado. Não existe maior utilizados.
compromisso com a democracia do que incluir a educação
política nas escolas. Horário eleitoral gratuito
Por fim, a alteração que realmente merece destaque es-
Mudanças nas pesquisas tipula um novo cálculo no tempo do horário eleitoral gratuito.
A despeito de tais reflexões, as questões aprovadas pelo Tal espaço era determinado pelo percentual de deputados
Senado e sancionadas parcialmente pelo presidente, merecem federais que tomavam posse, por partido, após cada eleição.
atenção. O primeiro ponto foi a proibição de divulgação de Como existe diferença entre a eleição (outubro) e a posse (ano
pesquisas eleitorais 15 dias antes das eleições. A justificativa seguinte) alguns deputados mudavam de partido, levando con-
está pautada no fato de que os resultados divulgados podem sigo segundos preciosos. Apesar de a lei manter a infidelidade
influenciar o eleitorado, e erros podem causar um impacto irre- partidária, agiu certo ao impedir o “assédio” de legendas sobre
parável. Os equívocos devem ser investigados, deputados federais eleitos.
e as regras para a divulgação das pesquisas já
os tornam pouco prováveis. Mas impedir a divul-
Além da sonhada Todas essas medidas passarão ainda pelo
aval do Supremo Tribunal Federal. Isso porque
gação é ato inconstitucional, pois os cidadãos
têm direito à informação. E precisam dela para
atuação exemplar da a lei impede que as regras eleitorais mudem a
menos de um ano das disputas, o que é garantia
promover seus cálculos. O voto é um raciocínio
que exige o máximo de dados possível, e as pes-
Justiça, necessitamos de estabilidade para os partidos, candidatos e
eleitores. Dessa forma, tais alterações dependem
quisas ajudam, principalmente quando utilizadas
conscientemente.
de uma profunda da interpretação da Justiça – que mais uma vez
pode ter um papel político decisivo. Se resguar-
Outra questão diz respeito à proibição de ima-
gens externas em programas eleitorais – utilizar
reforma educacional. dada, a lei impedirá as alterações, deixando-as
para a próxima disputa. Resta-nos esperar! E
apenas o estúdio baratearia as campanhas. Nesse ponto, Lula ver até quando os políticos deixarão para a última hora a to-
vetou o texto, liberando os programas. Mas manteve a proibição mada de decisões importantes, que causam um impacto que,
à distribuição de brindes, “santinhos”, propaganda em outdoor e infelizmente, a grande maioria do eleitorado ainda não está
realização de shows. Tal medida gera uma diminuição expressiva preparada para compreender.
no faturamento das empresas de brindes e eventos, causando
redução na demanda por mão-de-obra. Mas equilibra economi- Humberto Dantas é cientista político, professor do Centro Universitário São Camilo e coordenador
camente as disputas, o que pode ser visto positivamente. de cursos de Formação Política na Região Episcopal Lapa e na Diocese de Osasco, SP.
14 Junho 2006 -
Formação Missionária
Diálogo inter-religioso
Álvaro Pacheco
Centro de Diálogo Inter-Religioso Vertente de Consolação, Seul, Coréia do Sul.
U
personagem mitológico considerado o des religiões e com a cultura como
ma cena que me chamava pai da nação coreana, chamado Tangun. sendo a razão principal desta nova
a atenção na Coréia era a Escolas e locais públicos colocam em e primeira abertura dos missionários
dos pregadores protestan- realce esta figura que, embora mitológica, da Consolata em solo asiático. Se na
tes que se misturavam aos é um símbolo importante de unidade e sociedade encontramos estes casos de
passageiros do metrô e sem identidade nacional. Destruindo tais está- intolerância e abuso, na Igreja o ambiente
o menor constrangimento tuas estes “zelosos cristãos” acreditavam acerca do diálogo inter-religioso (DIR)
esbravejavam insultos a quem quer que estar obedecendo à Palavra de Deus era mais de desinteresse. E como nas
não fosse crente em Jesus, especialmen- e purificando a sociedade da idolatria. outras denominações cristãs e outras
te aos budistas (o budismo naquele país Coloco estes dois tipos de situ- religiões, a preocupação concentrava-se
é uma das religiões mais tradicionais e ação para ilustrar um pouco aquilo basicamente em atrair novos adeptos
numericamente uma das maiores, senão que mais nos chocou como missio- e não em perder os que já tínhamos.
a maior): “acredite em Jesus... o budis- nários recém-chegados, iniciando o
mo é pura superstição... quem acredita processo de inserção naquele país Conhecendo o budismo
em Buda será condenado ao inferno!” no final dos anos 80 e início dos 90. Durante os primeiros anos, enquanto
Um outro fato que me marcou na Antes da nossa partida, durante a nos debruçávamos sobre a difícil gra-
relação entre cristãos e aquela cultura nossa preparação para iniciar a missão mática coreana e nos aventurávamos
- Junho 2006 15
Formação Missionária
Álvaro Pacheco
a dar os primeiros passos por
nossa própria conta, não per-
demos oportunidades para co-
nhecer a realidade da cultura e
das religiões, especialmente do
budismo. Visitamos muitos tem-
plos, todos muito bonitos, com
sua arquitetura típica orien-
tal e interiores artisticamente
trabalhados e cuidados para
ajudar na oração, na reflexão
e no silêncio. A grande maioria
deles se encontram situados no
meio de montanhas, em contato
com a natureza e em locais
de privilegiada beleza natural,
porém separados, e um tanto
longe de onde o povo vive. E
esta separação geográfica,
constatada pouco a pouco,
expressa também um certo dis-
tanciamento existente entre a
grande massa dos fiéis budistas
e a vivência e prática de sua fé.
Embora no dia do nasci- Padre Diego com fiéis no Centro de Diálogo Inter-Religioso Vertente de Consolação.
mento de Buda os templos to-
mem um ar de festa e o dia todo fiquem O sonho do diálogo no conhecimento e na sua fé. Ainda
repletos com grandes multidões que Apesar da certa decepção por não que o sonho do DIR estivesse sempre
acorrem para prestar sua homenagem encontrarmos um budismo presente e vivo na nossa pequena comunidade de
e pedir alguma graça, esta mostra de atuante na vida diária da maioria das missionários, as dificuldades da língua
vivacidade não é o que se vê no res- pessoas, fizemos contatos e conhece- em primeiro lugar, e também a falta de
tante do ano. Para a grande massa dos mos budistas para os quais sua religião sensibilidade e aridez do trabalho neste
budistas, a sua religião parece ficar re- era muito importante, principalmente campo fizeram com que somente após
legada mais como um substrato cultural jovens monges e monjas que deixaram o dez anos de nossa chegada naquele
e algo de relativa importância, à qual se “mundo” para seguir os passos de Buda e país nos sentíssemos mais ou menos
recorre somente em algumas datas e viver na busca da iluminação; professores prontos para iniciar algo de mais concreto.
ocasiões especiais; não muito diferente e estudantes que conhecem bem sua O meu companheiro padre Diego
do que acontece com muitos cristãos religião e acreditam em seu potencial, Cazzolato, que esteve envolvido desde
em relação ao cristianismo no Ocidente. e fiéis em geral que procuram crescer o início e ainda agora é o responsável
pelo Centro de Diálogo, recorda os
Fotos: Luciney Martins
16 Junho 2006 -
Formação Missionária
Ávaro Pacheco
Monge budista Seong-Won com padre Diego.
trução, como do ponto de vista da pre- aparente cansaço prevalecia. E, se não que é o nascimento de Buda e outras
paração, porque deveríamos ter pessoal bastasse isto, houve também algumas vezes para conhecer melhor e apro-
academicamente preparado no campo dificuldades internas em nossa comuni- fundar o relacionamento com o monge
das religiões. Para isto, dois missionários dade que se dedicava a esta atividade. Seong-Won. Depois de algumas visitas,
se dedicaram com bastante empenho a Quando a aridez do trabalho conseguimos finalmente organizar o
estudar Religiões Comparadas e Filosofia neste campo mostrava toda sua for- primeiro e histórico encontro entre o
Oriental nas universidades coreanas. ça, no final de 2002 um novo início grupo de leigos católicos e um grupo
No dia 5 de abril de 1999 o nosso tomou forma graças à priorização de leigos budistas, que freqüentavam
sonho do DIR tornava-se realidade com a que foi dada novamente ao diálogo. aquele espaço religioso. O objetivo
inauguração do Centro de Diálogo Inter- deste encontro, foi o de partilhar expe-
Religioso “Vertente de Consolação”. Para Situação atual riências de como os católicos por um
esta ocasião contamos com o apoio e Uma vez reformulado e definido o lado, e os budistas por outro, estão
presença do bispo local e do NúncioApos- objetivo do DIR, tendo presente a ex- procurando viver sua fé na vida diária.
tólico, que demonstraram muito interesse periência dos anos passados, as coisas Esperamos que tais encontros se
em nossa iniciativa. Tivemos também a começaram a caminhar melhor. Desde tornem regulares para que o diálogo
presença de muitos amigos não-cristãos a metade de 2003, foi possível reunir possa aprofundar-se e tornar-se mais
principalmente budistas, mas também pequenos grupos de leigos católicos significativo. Ao mesmo tempo, estamos
de outras religiões da Coréia e repre- interessados no assunto, e organizar procurando estabelecer o mesmo tipo
sentantes de algumas Igrejas cristãs. com eles, encontros regulares. Em tais de relacionamento com outros gru-
encontros procurou-se inicialmente uma pos de outras religiões presentes na
Iniciando o diálogo formação para aprofundar a sua identida- área. Foi possível por enquanto visitar
No início tudo parecia andar bem, de de católicos e, em seguida, um bom e manter contato com uma outra reli-
recorda padre Diego, principalmente conhecimento acerca do DIR, segundo gião coreana chamada Ch’eon-do-kyo.
pelo fato de caminharmos em estreita os documentos da Igreja. Ao mesmo Mais recentemente, o grupo, decidiu
cooperação com um grupo coreano de tempo procurou-se sair e ir ao encontro... assumir um outro difícil projeto, que é o de
diálogo inter-religioso chamado “Cor- Visitamos vários pequenos templos elaborar e preparar material, de forma que
rente da paz”, que era constituído por budistas presentes na região e finalmen- seja pedagógico e atraente em vista de
jovens de diferente religiões que esta- te conseguimos estabelecer contatos uma futura “Escola de DIR”, direcionada
vam em processo de formação para regulares com o templo Won-gak e especialmente a leigos católicos em geral
tornarem-se líderes. Porém, à medida com o monge Seong-Won. O grupo de e também a leigos de outras religiões.
que o tempo foi passando, o ambiente leigos católicos visitou várias vezes este Acerca do futuro, padre Diego está
parece ter mudado um pouco e um templo, para participar da festa maior bastante otimista e diz que finalmente
- Junho 2006 17
Formação Missionária
Semente de Esperança
O missionário que verdadeiramente
acredita no diálogo como um dos cami-
nhos (e cada vez mais importante) da
missão e se entrega a ele (DIR) com
paixão, não pode não ser profundamente
marcado. A primeira constatação que
a pessoa engajada no diálogo faz é
que, como afirmam os documentos da
Igreja, de fato o Espírito de Deus está
presente também nas outras religiões, e Vista do Centro Vertente de Consolação, Seul, Coréia.
também, que elas contém as sementes ajudar a ambos em suas caminhadas que tem de mostrar e testemunhar tal
do Verbo, e merecem todo o respeito e em direção a Deus e no trabalho em tesouro às pessoas de outras religiões.
a atenção da Igreja. Em sua experiência conjunto para o bem da humanidade. Por outro lado, quando o diálogo é sé-
pessoal, padre Diego testemunha que E por fim, a constatação de que o rio, é exatamente esta profundidade e
desde quando começou a conhecer empenho sério com o diálogo inter-reli- identificação com a sua fé que se espera
mais em profundidade outras religiões gioso ajuda a aprofundar e a amar mais conhecer e experimentar por parte do
teve a clara sensação de que Deus a própria fé. Foi esta a experiência tam- interlocutor. Por isto, o DIR requer, por
bém do padre Diego. parte de quem nele se engaja, não só
Álvaro Pacheco
18 Junho 2006 -
missão
Carta Eucarística
Missão
história daHoje
Documento conclusivo do 15º Congresso sociedade. Cremos que a Eucaristia transforma nossa sociedade.
São gritantes as desigualdades sociais no Brasil e no mundo. São
Eucarístico Nacional, realizado em graves os problemas sociais: desemprego, corrupção, violência,
criminalidade e narcotráfico. Por outro lado, é grande o sonho
Florianópolis, conclama à Missão. por uma sociedade onde impere a justiça e a paz social.
Na Eucaristia, aprendemos a lutar por iniciativas e práticas
solidárias; descobrimos nossa missão de construir uma so-
ciedade de justiça e igualdade, onde os pobres, prediletos de
Irmãs e irmãos em Cristo Jesus! Deus e de Jesus de Nazaré, sejam postos em primeiro lugar.
Na Eucaristia, fortalecemos o cuidado com o meio ambiente,
N
a caminhada ecumênica e o diálogo com pessoas de todas as
a conclusão do 15º Congresso Eucarístico Nacio- religiões. Alimentando-nos todo domingo com a Escritura e a
nal, realizado em Florianópolis, de 18 a 21 de maio Eucaristia, acreditamos nos grandes valores do Reino de Deus
de 2006, dirigimo-nos ao povo católico e aos fiéis e reagimos aos contra-valores desumanizantes do mercado,
cristãos de nosso país, para confirmar nossa fé na da mídia e da moda. Na Eucaristia, acreditamos numa Igreja
Eucaristia. Afirmamos com vigor: “Ele está no meio renovada e num mundo novo.
de nós!” Saímos do Congresso com a disposição Assumimos os seguintes compromissos: santificar o domingo,
missionária de fazer a todos o convite: “Vinde e vede!” Acolhemos dia do Senhor, para o alimento de nossa espiritualidade pessoal
com amor as palavras do papa Bento XVI na carta endereçada e familiar, comunitária e social; reservar um dia da semana em
a seu Enviado Especial, Cardeal Eusébio Oscar Scheid, para nossas comunidades para a adoração ao Santíssimo Sacra-
o nosso Congresso: “A vida da Igreja se nutre e se fortalece da
Jaime C. Patias
Santíssima Eucaristia, tesouro de alimento espiritual. Com efeito,
todos os fiéis, unidos por esse vínculo de caridade e alimenta-
dos com esse sagrado banquete, se empenham em consolidar
e viver, de verdade, a comunhão do Povo de Deus”. “Vinde e
Vede – Ele está no meio de nós”.
- Junho 2006 19
A juventude
Destaque do mês
D
se trata de discutir qual é a religião certa
ias atrás, achava-me num é Cristo por dentro”. Coração que vibra, ou errada. A pergunta deve ser feita de
consultório médico. Um rapaz sente, nos envolve e fala, desejoso de uma nova forma. Qual é o caminho reli-
dos seus 18 anos achegou-se irradiar suas chamas de amor pelo mundo, gioso que pode levar a pessoa humana
nervoso, agitado: aquecendo almas, conferindo sentido às (criança, jovem, adulto e idoso) a doar-se
- Doutor, desculpe eu entrar nossas vidas. Cidadãos hodiernos que inteiramente ao outro?
assim intempestivamente. navegam águas superficiais encontram
Ando mal de vida. Por favor, preciso de visíveis dificuldades para entender as Uma nova juventude
um calmante forte, com urgência. Agora riquezas do Coração de Jesus, oceano de A espiritualidade cristã, manifestada
mesmo. misericórdia e plenitude. O mundo profano, em diversas modalidades, nasce da ex-
Calmo, sereno e compreensivo, fixando materialista e semi-ateu anda em busca periência de fé. Essa experiência possui
aquele jovem bem no fundo dos olhos, o desesperada de um sonho, de algum ideal dois braços fundamentais. Um braço co-
médico falou: gratificante, após tanto desencanto, tédio letivo e outro pessoal. O braço coletivo se
- Meu filho, o melhor calmante do e frustração, com sabor de cinzas. expressa pela experiência de fé da Igreja.
mundo é Jesus Cristo. A espiritualidade do O modelo mais comum é a vivência dos
Sagrado Coração de Jesus tem a idade da Um jeito de ser Igreja Sacramentos e da solidariedade. Nesse
Igreja, nasceu aos pés da cruz, quando o Vale a pena resgatar a mensagem modelo as pessoas são introduzidas nas
soldado romano atravessou o lado aberto imortal do saudoso papa João Paulo II: coisas da fé e respondem a exigências
de Cristo, o redentor. E daquele Coração “A nova evangelização, à luz do Sagrado próprias: batizar, confessar, comungar etc.
rasgado brotou sangue e água, símbolos Coração de Jesus, deve conscientizar o O modelo pessoal pode ser compreendi-
eloqüentes dos Sacramentos, da graça mundo de que o cristianismo é a religião do através da experiência de fé nascida
divina em nosso existir peregrino. da misericórdia, da esperança, do amor”. do encontro pessoal com Deus. Nesse
Em sua mensagem aos povos da Esta civilização, acenada por João Paulo II, modelo a pessoa é orientada para seguir
América Latina, nossos bispos declara- longe de ser apenas um sonho, uma utopia, Jesus Cristo. Ele é o modelo humano de
ram com lucidez, em Puebla, no México: já é feliz realidade, na vida de milhões de entrega total aos outros: homens e mu-
“Somos pastores da Igreja Católica e pessoas, comprometidas com o Evange- lheres, crianças e adultos pobres, judeus
Apostólica que nasceu do Coração de lho, com seus irmãos de caminhada. Ser e gregos. Jesus Cristo, radicalmente na
Jesus Cristo, o Filho de Deus vivo”. João devoto do Coração de Jesus é um jeito cruz, se oferece, doa a sua vida para o
Paulo II, quando em vida, repetia assidu- de ser Igreja, é rota segura e abençoada bem de todos.
amente: “É do Sagrado Coração de Jesus de felicidade, de paz e realização. Quem A espiritualidade ao Sagra-
que brota toda a vida da Igreja”. E Pio XI encontrou Cristo em profundidade, fez a do Coração de Jesus, seja
classificou o culto ao Coração de Jesus grande descoberta de sua vida. E canta no caminho trilhado pelo
como “a síntese de toda a religião cristã”. alegria, louvor e ação de graças ao longo Apostolado da Oração,
Imensa e memorável é também a frase dos seus caminhos de cada dia. voltado para as pes-
- elogio do bispo francês dom Bougaud: “A soas adultas, seja
devoção ao Sagrado Coração de Jesus foi Um desafio no caminho
a maior explosão de luz que o mundo viu Vivemos hoje em meio a uma plura- trilhado pelo
e conheceu, após o Pentecostes”. lidade de religiões. O fato de não existir Movimento
uma única direção a seguir exige uma Eucarístico
Cristo por dentro reflexão mais apurada na hora de tomar Jovem – MEJ,
O culto ao Coração de Jesus, tão antigo uma decisão. No passado a religião ca- voltado para
e tão atual, nada mais é do que um jeito de tólica era predominante. O que facilitava as crianças,
viver o Evangelho centrado na bondade, muito na hora de introduzir os filhos nas adolescentes e
na ternura e no perdão misericordioso de coisas da fé. A maioria das pessoas era jovens, tem por
Jesus Cristo. Sempre que me perguntam católica. As famílias respiravam a fé ca- finalidade conduzir as pessoas para um
qual é o cerne da espiritualidade do Sa- tólica. Hoje isso é bem diferente. Mesmo seguimento de Jesus Cristo na Igreja.
grado Coração, respondo convictamente, nas escolas católicas existem crianças e Esses movimentos sabem que a Igreja é
feliz e agradecido: “o Coração de Jesus jovens de outras igrejas e religiões. São o berço da fé e do encontro pessoal com
20 Junho 2006 -
O mês de junho lembra a devoção ao
Sagrado Coração de Jesus. O Movimento
Eucarístico Jovem desenvolve vários
trabalhos em favor do bem-estar das
pessoas necessitadas.
Valores cristãos
Há muitos grupos do MEJ compro-
metidos com os valores cristãos. Eles
realizam gestos pequenos e grandes
de solidariedade com as pessoas mais
carentes de nossas cidades. Participam
da Eucaristia, e levam alegria, esperança,
afeto, carinho, roupas, agasalhos, comida
para os que não podem possuir por seu
próprio esforço. Nesse sentido, os jovens
que participam do MEJ vão fazendo a sua
própria experiência e compreensão de
que o cristianismo nada mais é do que
seguir Jesus Cristo como modelo de vida.
O jovem que freqüenta os grupos do MEJ
responde às exigências da sua família e
da sua Igreja, mas procura ser solidário
com a pessoa que passa frio, fome, sede
etc. Ele tem os seus braços abertos para
abraçar Jesus Cristo crucificado. Assim,
experimenta e compreende que a fé cristã
é um profundo compromisso de comunhão
com a Igreja e com os filhos de Deus,
independentes se são jovens, brasileiros,
paulistas, descendentes de outras nações
ou raças.
A imagem do Sagrado Coração de
Jesus ajuda a todos para esse compro-
metimento fervoroso com a fé e o próximo.
Ela nos mostra o amor grandioso de Jesus
pela humanidade independente de religião,
raça, movimento religioso. O coração de
Jesus une a todos no amor de Deus.
- Junho 2006 21
Todas as culturas de
amazônia
D
om Walter Ivan, bispo emérito
de São Gabriel da Cachoeira,
Amazonas, é um grande e
zeloso missionário da Região.
Com seus quase 80 anos,
continua com entusiasmo, a
interessar-se pela evangelização dos
povos da Amazônia, dedicando-se, de
modo especial, nestes últimos anos aos
Povos Indígenas, que correspondem a
quase 97% da população da diocese.
Encontra-se, atualmente, na residência
episcopal, por questões de saúde, após
permanecer vários anos na missão, junto
aos Yanomamis, em Maturacá.
Dom Walter é paulistano e entre 1976
e 1979 esteve em Rondônia, como Co-
ordenador de Pastoral da então Prelazia,
hoje Arquidiocese de Porto Velho. Muitas
reminiscências encontram-se registradas
no seu livro “Pinceladas de Luz na Floresta
Amazônica”, atualmente no prelo. De 1980
a 1986, eleito provincial dos salesianos,
ficou morando em Manaus, mas percor-
rendo toda a Amazônia, extensão que
compreendia a jurisdição canônica de sua achavam das civilizações dos indígenas opção que a diocese faz, por isso temos
Congregação. Em 1986, foi nomeado bispo no século XVI e XVII. Tentavam passar a sacerdotes indígenas, porque Deus chama
da diocese de São Gabriel da Cachoeira, idéia de que eles não eram sequer seres em toda parte. Finalmente, o critério, não
onde permaneceu até 2002. Morou como humanos. A nossa missão então é essa, último na importância, talvez o primeiro:
bispo emérito, de 2003 a 2005 numa pregar a mensagem de Cristo dentro do a mensagem de Cristo não é uma nova
missão, junto aos Yanomamis, dos quais respeito, da liberdade e dos costumes dos cultura que vem se sobrepor à cultura dos
conhece a língua. Tem o sonho de preparar Povos Indígenas. O segundo critério é a indígenas. É uma mensagem que tem que
um Museu dos Povos Indígenas. preservação da saúde e da educação. Estas adaptar-se a todas, e se adapta porque
fazem parte integrantes da evangelização resume-se na lei do “amai-vos uns aos
O senhor atua no serviço de evan- porque se trata de promover o indígena outros”. A lei do amor aperfeiçoa e não
gelização há muitos anos na Amazônia. todo nos seus valores físicos, intelectuais, deturpa e nem destrói, nem desestrutura
Imaginando esta realidade 30 anos espirituais e religiosos. E também porque nenhuma cultura.
atrás, gostaríamos de saber quais fo- não adianta evangelizar o índio morto. As
ram os critérios de discernimento para epidemias, um descaso oficial, faziam A diocese de São Gabriel da Cacho-
a sua ação pastoral e evangelizadora com que muitos povos indígenas fossem eira tem 97% da população constituída
nesta realidade tão diferente e diver- dizimados. Agora estão quase que total- de Povos Indígenas, cada qual com
sificada? mente liberados, graças a esse esforço suas tradições, línguas e culturas.
O primeiro critério é que não há povos missionário pela saúde e pela educação Como missiólogo e missionário, a teoria
inferiores, apenas diferentes, cada cultura que acompanhou sempre a evangelização veio realmente ao encontro, facilitando
tem valores espirituais surpreendentes, como parte integrante. Por isso, a região a sua ação missionária nesta Região
todos portanto devem ser respeitados. do Rio Negro, cuja sede é São Gabriel da tão distante quanto diferente? Como
Temos de nos libertar do etnocentrismo Cachoeira, é uma das regiões indígenas e em quê?
que é aquela tendência a achar que só é mais escolarizadas do Brasil. O terceiro A base da teoria missiológica não
válido aquele que pertence à nossa raça critério é o objetivo da escolarização. brotou de uma escrivaninha, mas, da
e aos nossos costumes. O colonialismo Ajudar o indígena a ser o autor do próprio experiência de inúmeros missionários.
europeu e o da raça branca em geral progresso, daí as Associações Indígenas Durante a época em que estava no curso
fizeram muitas injustiças inspiradas nesse que foram crescendo com grande apoio da de Missiologia, tive como colegas muitos
etnocentrismo: basta ver o que os europeus diocese. O progresso religioso é parte da missionários de grandes experiências,
22 Junho 2006 -
evem ser respeitadas
O bispo emérito de São Gabriel da Cachoeira, eles fazem quando recebem uma pessoa
importante, quando recebem um povo
Amazonas, dom Walter Ivan, fala do seu trabalho com inteiro, uma tribo inteira que vem visitá-
los. Eles fazem uma dança e uma música
os povos indígenas e sobre inculturação. enquanto vão apresentando dons como
presentes. Em geral os presentes são
- Junho 2006 23
Violência
Infância
Missionária
contra as crianças
“A gente é doente de ver tanta gente que morre, faixa etária dos 7 aos 13 anos é a mais atingida pela violência
física, sendo que a idade média entre as meninas atingidas é
que sofre, que sente. A gente é bem gente e ainda de 10 anos e entre os meninos 8 anos.
é pouco!” (Gero Camilo/Zé Vicente). Esse é um tema bastante delicado, porém, o que fazer quando
percebemos que crianças indefesas continuam sofrendo e às
vezes estão bem perto da gente? É uma relação afetiva e ao
de Roseane de Araújo Silva mesmo tempo uma relação de poder desigual entre familiares
(de um lado o adulto agressor, seja ele parente ou mesmo
H
‘guardião’ e de outro, a criança, vítima). Jesus em seu tempo,
ouve um tempo em que ouvíamos nossas crianças, sempre manifestou uma atenção especial com as crianças,
adolescentes e até adultos repetindo o refrão de apontando para elas em várias situações: “Eu lhes garanto: se
uma música que falava assim: “um tapinha não vocês não se converterem, e não se tornarem como crianças,
dói, só um tapinha!”, legitimando assim o “dar um nunca entrarão no Reino do Céu. Quem se abaixa, e se torna
tapinha”, como se apanhar ou bater não tivesse a como essa criança, esse é o maior no Reino do Céu. E quem
menor importância. Dessa maneira, aprendemos a recebe em meu nome uma criança como esta, é a mim que re-
ver como fato normal a relação violenta principalmente entre cebe. Quem escandalizar um desses pequeninos que acreditam
adultos e crianças, iniciada com um “inocente” tapinha, seguida em mim, melhor seria para ele pendurar uma pedra de moinho
por uma variedade de violência doméstica, fechada e silenciada. no pescoço, e ser jogado no fundo do mar” (Mt 18, 3-6). Esta é
O pior de tudo isso, é que a prática da violência física contra a uma das nossas opções como missionárias e missionários nos
criança é vista pelo agressor como uma atitude correta. Não se dias de hoje: a defesa das crianças e adolescentes agredidos
trata de apoiar a prática do não-disciplinar as nossas crianças e fisicamente. Das crianças do mundo – sempre amigas!
adolescentes, pelo contrário, sabemos que faz parte da apren-
dizagem infantil os limites, saber o que é ou não é permitido. Roseane de Araújo Silva é missionária leiga e pedagoga da Rede Pública do Paraná.
Porém, não podemos nos calar diante da triste realidade que
muitas crianças brasileiras vêm passando.
Sugestão para Grupo
Divulgação
- Acolhida
- Motivação (objetivo): refletir com as crianças a realida-
de da agressão física contra crianças e adolescentes.
- Oração: rezemos por todas as crianças que sofrem
alguma violência e não conseguem ser felizes em sua
vida de criança ou adolescente.
Partilha dos compromissos semanais.
Leitura da Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 3, 1-8:
O nome de Jesus liberta
- Compromissos missionários: Ao refletirmos juntos
o testemunho dos discípulos Pedro e João, façamos
também um gesto concreto em favor das crianças e ado-
lescentes. Vamos conhecer um pouco mais a realidade
destas crianças agredidas fisicamente? Através de jornais
e revistas faremos um trabalho de colagem, organizando
Segundo a Sociedade Internacional de Prevenção ao Abuso um mural na capela ou na paróquia retratando a rea-
e Negligência na Infância, 12% das 55,6 milhões de crianças lidade das crianças e adolescentes que são agredidos
brasileiras menores de 14 anos são vítimas de alguma forma de e as ações realizadas em defesa destes pequenos em
violência doméstica por ano. Trocando em miúdos, são 6,6 milhões nossa cidade e em nosso país. É necessário consultar
de crianças por ano ou 12 crianças agredidas por minuto, 750 também, durante a semana, o Conselho Tutelar mais
crianças por hora. É um quadro realmente assustador, porque próximo da comunidade para colher informações.
a agressão acontece no seio familiar, maquiando muitas vezes - Momento de agradecimento a Deus Pai.
um distúrbio psicológico grave do agressor ou uma rejeição à
- Canto e despedida.
criança, quando a mesma foge das expectativas dos pais. A
24 Junho 2006 -
Pra frente Brasil!
conexão jovem
A vontade de conquistar mais um campeonato mundial de futebol não pode nos
fazer esquecer de nossas responsabilidades políticas e sociais.
de Júlio César Caldeira
Divulgação
G
alera, está chegando a Copa do Mundo de Futebol!
Até quem não gosta do esporte está na expectati-
va de que a Seleção Brasileira conquiste o hexa.
Lembramos de muitas imagens, como aquela do
povo brasileiro na década de 70 cantando: “noventa
milhões em ação, pra frente Brasil do meu coração.
Todos juntos vamos, pra frente Brasil, salve a Seleção. De re-
pente é aquela corrente pra frente, parece que todo Brasil deu a
mão. Todos ligados na mesma emoção, tudo é um só coração.
Todos juntos vamos, pra frente Brasil, Brasil, salve a Seleção”
(música Pra Frente Brasil, de Miguel Gustavo Werneck de Sou-
za Martins), enquanto no auge da ditadura militar aconteciam
perseguições e mortes.
- Junho 2006 25
Eleições no Congo
entrevista
um momento histórico
Depois de 46 anos de independência, os congoleses vão às urnas pela primeira vez.
Arquivo Pessoal
Padre Richard quais são as expec- naturais do país vêm sendo regularmente
tativas e quais são os temores antes, denunciados nos relatórios da ONU. Enfim,
durante e depois das eleições? a inexistência de um verdadeiro exército
Depois de 46 anos de independência, republicano, comprometido e dissuasivo
dos quais 16 de transição, o povo congolês deixa as portas abertas aos políticos que
aspira ver enfim se realizar o desejo da seriam tentados pelo caminho da violência,
democratização do país. Ele deseja que caso viessem a perder as eleições.
as eleições permitam escolher livremente
seus dirigentes que se colocarão a serviço O que representa para o país e para
da consolidação da unidade e da paz, da o povo a realização das primeiras elei-
instauração do Estado de Direito, da boa ções democráticas e multipartidárias
gestão e, sobretudo, da justiça social, após a independência de 1960?
garantia do desenvolvimento da nação. A transição na República Democrática
do Congo, que terminará legalmente os
Fala-se de 33 candidatos para a seus três anos, no dia 30 de junho deste
presidência da República Democrática ano, não conseguiu realizar as condições
do Congo. Será que eles respeitarão o indispensáveis e preliminares para a
resultado das urnas? democratização do país. A ausência de
Desde que a comunidade internacional uma mentalidade e de uma cultura de-
de Osório Afonso Citora impôs ao povo o acordo de Lusaka, que mocrática no seio do povo e, sobretudo,
recomendava a partilha do poder entre o na classe política, que considera o poder
governo e todos os partidos rebeldes que como um ganha-pão e como meio mais
A
consagravam e legitimavam as armas como fácil para a promoção social e econômica,
República Democrática do Con- via de acesso ao poder, os componentes impediu o desenvolvimento harmonioso e
go, um país que está no coração beligerantes que constituíram o núcleo pacífico da transição. Hoje, mesmo que
do continente africano, vive um central na administração da transição o processo das eleições esteja sofrendo
momento histórico importante e não renunciaram totalmente à lógica das um atraso segundo o calendário, nenhum
delicado. Desde a sua indepen- armas. Nem todos os movimentos armados debate político sério sobre o futuro da
dência até hoje, 46 anos já se não se transformaram ver-
passaram. Mas, o povo congolês nunca dadeiramente em partidos
digitalcongo.net
26 Junho 2006 -
Helene C. Stikkel
Joseph Kabila, atual presidente da República Democrática do Congo. Quais os principais desafios que o
presidente eleito terá de enfrentar para
nação tem sido feito. A nova Constituição crática do Congo e qual é a participação manter a unidade do País?
já foi promulgada, bem como o código da Igreja neste processo? Uma boa administração, que implica
eleitoral. Mas, a democracia, antes de As Igrejas presentes no país cons- a luta contra a mediocridade, contra a
ser uma lei, é uma mentalidade e uma tituem uma força social real e a miséria corrupção da classe política e contra a
cultura. O povo congolês irá às eleições. crescente do povo favorece um entusiasmo impunidade; a justiça social, a luta contra
Espera-se que as mesmas sejam aceitá- que empurra as pessoas miseráveis a a pobreza e uma melhor distribuição das
veis, mesmo que ninguém acredite que buscar refúgio numa religiosidade evasiva riquezas e uma remuneração salarial
elas serão perfeitas. Porém, o evento da e sentimental. Portanto, não é necessaria- mais decente dos agentes do Estado
democracia e do Estado de Direito estão mente verdade que as religiões exercem (principalmente dos servidores do setor
ainda por ser instaurados. A verdadeira uma real influência política. Ao contrário, social: as forças de ordem e os agentes da
transição na República Democrática do a constatação é que elas foram incapa- educação e da saúde); um novo impulso
Congo só poderá começar depois das zes de impedir a degeneração moral e a da economia pelo melhoramento das
eleições, se os novos dirigentes eleitos degradação, em geral da situação social, vias de comunicação e, em particular, da
virarem as costas à mentalidade e à econômica, política e, mesmo cultural do agricultura; a pacificação e a segurança
cultura ditatorial e a uma concepção país. Ainda mais, os defeitos observados do país, o que supõe as forças de segu-
egoísta e predatória do poder político. na sociedade congolesa, em geral estão rança e, também, um exército republicano
As eleições estão marcadas para o dia presentes também no seio das Igrejas. comprometido, e a promoção do Estado
30 de julho de 2006. Elas falam mais do que atuam, reúnem de Direito.
mais do que mobilizam, rezam mais do
Como está avançando o processo que se comprometem com ações políticas Osório Afonso Citora é missionário moçambicano na República
de democratização da República Demo- concretas e moralizam mais do que pro- Democrática do Congo. Tradução de José Tolfo.
- Junho 2006 27
Orientação da CNBB par
atualidade
Divulgação
de Demétrio Valentini certa visão messiânica ou apocalíptica das de país, a ser construído progressiva-
eleições”. Portanto, as eleições continuam mente. O documento da CNBB aponta
A
sendo importantes, mas não dispensam sete dimensões básicas deste projeto de
Conferência Nacional dos Bis- a ação continuada da cidadania: “Urge nação: democratizar o Estado e ampliar
pos tem o costume de se pro- acompanhar a participação popular nos a participação popular; rever o modelo
nunciar em momentos eleitorais diferentes Conselhos de Políticas Públicas econômico e o processo de mercantiliza-
importantes, como fez em 2002. que possibilitem o exercício da cidadania e ção da vida; ampliar as oportunidades de
Desta vez, adverte que não vai do controle social, como os Conselhos de trabalho; fortalecer as exigências éticas
se limitar a recomendações ge- Saúde, Educação, Criança e Adolescente, em defesa da vida; reforçar a soberania
néricas, mas vai abordar temas concretos, Idosos, e muitos outros”. da nação; democratizar o acesso à terra e
para estimular a reflexão dos eleitores e o ao solo urbano e proteger o meio ambiente
posicionamento dos candidatos. Portanto, Um novo projeto de nação e a Amazônia.
o documento lançado é um “instrumento de A parte mais importante do documento A pergunta que deve voltar com insis-
trabalho”, que poderá fundamentar outros da CNBB é o capítulo sobre as grandes tência é esta: qual o candidato que mais
subsídios elaborados pelas dioceses. opções de um novo projeto de nação. assume e defende estas dimensões, e com
Foram recolhidas as constatações mais o qual melhor poderemos levar adiante
O contexto político consistentes que resultaram do processo este projeto de Brasil que nós queremos,
As “orientações” levam em conta o das Semanas Sociais Brasileiras, promo- como as Semanas Sociais vêm insistindo
contexto político que o Brasil está vivendo, vidas pela Conferência, e que tiveram o há tempos?
marcado profundamente pelo sentimento momento mais abrangente no ano passado
de decepção, diante do clima de reiteradas com a realização da “Assembléia Popular”, A escolha dos candidatos
denúncias de corrupção, que dominaram avalizada pela Quarta Semana Social O capítulo mais consistente destas
o cenário nacional nos últimos meses. Brasileira e realizada em conjunto com orientações da CNBB reitera os critérios
Neste contexto, a CNBB convida a um leque muito grande de Movimentos que os eleitores devem ter para escolher os
tirar uma importante lição: nem desacre- Sociais. Estas “grandes opções do projeto candidatos. Estes critérios são colocados
ditar do processo eleitoral, nem esperar de nação”, se bem assimiladas pelos elei- após as “opções do projeto de nação”.
demasiado nele. “As grandes questões tores, podem se constituir em referências Portanto, os critérios de discernimento
e problemas nacionais não se resolvem práticas para eles e para os candidatos se para a escolha dos candidatos precisam
com a eleição de um homem ou de uma posicionarem, nutrindo assim o processo levar em conta os posicionamentos desses
mulher para ocupar determinados cargos. eleitoral de elementos positivos para a candidatos e dos seus partidos frente às
Estejamos atentos, desmitificando uma consolidação de um projeto consistente opções objetivas do “projeto de nação”, e
28 Junho 2006 -
ra as eleições questões mais trabalhadas pela CNBB nos
últimos anos. Sobre isto, o documento
volta a insistir na “auditoria” da dívida: “O
impasse da dívida requer que se proceda
a uma auditoria pública em suas contas,
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) aliás, já prevista na Constituição Federal
(Artigo 26 das Disposições Constitucionais
lançou um documento - chamado de “orientações” Transitórias)”. Deve-se, portanto, conferir
como os candidatos se posicionam diante
- destinado aos eleitores e candidatos. do problema da dívida, sobretudo para
ver como pensam garantir os recursos
necessários para as políticas públicas,
isto pode reorientar significativamente o empresas ou de particulares. Não houve que não podem estar condicionadas à
voto, porque colocado em confronto com o devido cuidado com a transparência prioridade do pagamento da dívida.
os posicionamentos objetivos que estas nessas privatizações, nem o respeito para Outra questão colocada para o debate
opções indicam. com o bem comum da nação”. político nestas eleições é a ecologia: “O
Brasil possui imensos recursos naturais
Pontos concretos ALCA não com a diversidade de biomas, rios, lagos,
Ao longo do documento, a CNBB Outro ponto concreto que pode identifi- plantas, florestas. No entanto, é brutalmen-
aborda questões bem concretas, que é car a posição dos candidatos é a proposta te explorado ou extorquido, na busca de
bom ter presente, pois ajudam a compor o vinda dos Estados Unidos de formalizar a maiores lucros, em detrimento do bem-
quadro de referências práticas que podem “Área de Livre Comércio das Américas”, estar social de toda a população”.
orientar o voto, para que ele seja mais a ALCA. O documento cita esta iniciativa, O que pensam os candidatos sobre
consciente, e mais inserido no trabalho e a coloca no contexto da dependência estas questões? Nosso voto precisa levar
permanente da cidadania, que precisa ir exagerada das nações latino-americanas em conta o seu posicionamento.
sustentando o processo político para que diante dos Estados Unidos, e que precisa
ele possa chegar aos objetivos desejados. ser superada: “Romper a excessiva de- As lições da corrupção
Neste sentido, vale a pena explicitar alguns pendência dos Estados Unidos continua O documento também fala da corrup-
destes pontos, destacando sua incidência a ser o grande desafio para fortalecer a ção. Mas, vai além da simples denúncia.
nas opções de voto. Isto é, eles ajudam a autonomia e a integração da região lati- A prática da corrupção mostra a neces-
perceber quem está contra ou a favor dos no-americana. O projeto da Área de Livre sidade de uma profunda reforma política
princípios apontados pela CNBB. Comércio das Américas pretende perenizar do Estado e do próprio sistema: “o Brasil
e institucionalizar essa situação”. está desafiado a combater a corrupção...
O neoliberalismo Outra pergunta prática a fazer é esta: A responsabilização, a punição dos cul-
Ao abordar as profundas desigualdades quais candidatos são a favor da ALCA, pados, bem como a restituição dos bens
existentes no Brasil, a marca registrada quais são contra? subtraídos, deverão levar a uma ação
de nosso país, o documento aponta sua maior: a reforma do Estado e do próprio
causa verdadeira: o sistema capitalista Quanto pesa a dívida sistema político”. Nesta campanha eleitoral
neoliberal: “Esta situação vem de longa A questão da dívida, tanto externa todos vão falar contra a corrupção. Mas
data. Não é resultado das políticas pú- como interna é um outro ponto concreto é preciso perguntar mais: que propostas
blicas dos atuais dirigentes. A causa do abordado no documento. Esta é uma das os candidatos têm para reformar o Estado
aprofundamento dessa desigualdade está brasileiro e o sistema político vigente, que
na adoção de políticas do sistema capi- abriga a corrupção?
talista neoliberal. Com a implantação da A melhor coisa é conferir de perto todas
globalização financeira, o sistema insiste essas orientações, inclusive para sabermos
na absolutização do poder do capital, sem nos situar em meio ao bombardeio que
a presença do controle social”. costuma ser a campanha eleitoral, feita de
Uma pergunta a ser feita pelos eleito- maneira centralizada através dos programas
res: que candidatos estão imbuídos deste oficiais difundidos pelos meios de comuni-
“sistema capitalista neoliberal”, ou estão cação social. Quanto mais os candidatos
a serviço dele? querem nos vender a sua propaganda,
mais precisamos de conteúdos objetivos,
O perigo das privatizações que nos forneçam critérios seguros para
Outra referência concreta do documen- discernir a consistência de suas propostas
to são as privatizações. Neste ponto, cita o e a viabilidade política de sua execução.
que já aconteceu em governos anteriores, Para isto servem estas orientações, que a
como alerta para que não aconteça mais. CNBB propõe como inspiração, inclusive
Isto vai depender de quem nós elegermos. para outros subsídios, mais adequados a
Assim fala o documento: “O processo de cada realidade local.
privatização, em especial no final da década
de 90, significou uma enorme transferên- Demétrio Valentini é bispo diocesano de Jales, SP e presidente
cia de patrimônio público para grupos de da Cáritas Brasileira.
- Junho 2006 29
Indaiatuba - SP lançamento do livro “Cáritas Brasileira: 50 anos promo-
44ª Assembléia Geral da CNBB vendo solidariedade”, da Coleção Estudos da CNBB,
nº 92. O livro apresenta uma reflexão
Roberto Preczevski
crítica sobre a caminhada da entidade
ao longo de sua existência no Brasil,
destacando sua missão na sociedade e
Igreja; seus projetos e ações; mobiliza-
ções e sua espiritualidade e mística da
caridade libertadora. Na sessão solene
foi realizada uma homenagem aos ex-
presidentes da Cáritas, que contribuíram
para consolidar a missão e ações da
entidade ao longo destes anos. São eles:
dom José Gonçalves da Costa; dom
Aloísio Lorscheider, arcebispo emérito de
Aparecida, SP; dom Lucas Moreira Neves
(falecido); dom Nivaldo Monte, arcebispo
Emérito de Natal, RN; dom Eduardo Koaik,
bispo emérito de Piracicaban, SP; dom
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