Ciencias Completo

11/7/2003, 09:06
ENCCEJA Livro do Professor / Ensino Fundamental e Médio Ciências / Ciências da Natureza e suas Tecnologias
1
Ciencias.pmd
República Federativa do Brasil
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministério da Educação – MEC

Cristovam Buarque
Secretaria Executiva do MEC

Rubem Fonseca Filho
Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP
Otaviano Augusto Marcondes Helene
Diretoria de Avaliação para Certificação de Competências
Dirce Gomes
Ciencias.pmd 2 11/7/2003, 09:06

Ciências
Ciências da Natureza
e suas Tecnologias
Livro do Professor
Ensino Fundamental e Médio
CiÍncias da Natureza 1-8.pmd 1 11/7/2003, 09:09

Ciências
e suas Tecnologias
Livro do Professor
Ensino Fundamental e Médio
Brasília
MEC/INEP
2003

© O MEC/INEP cede os direitos de reprodução deste material às Secretarias de Educação, que poderão reproduzi-lo respeitando
a integridade da obra.
Coordenação Geral do Projeto Diretoria de Avaliação para Certificação de Competências (DACC)

Maria Inês Fini Equipe Técnica
Maria Inês Fini – Diretora
Coordenação de Articulação de Textos do Ensino Fundamental Alessandra Regina Ferreira Abadio
Maria Cecília Guedes Condeixa Andréia Correcher Pitta
André Ricardo de Almeida da Silva
Coordenação de Articulação de Textos do Ensino Médio Augustus Rodrigues Gomes
Zuleika de Felice Murrie Célia Maria Rey de Carvalho
David de Lima Simões
Coordenação de Texto de Área
Denise Pereira Fraguas
Ensino Fundamental
Dorivan Ferreira Gomes
Ciências
Érika Márcia Baptista Caramori
Maria Terezinha Figueiredo
Fernanda Guirra do Amaral
Ensino Médio
Frank Ney Souza Lima
Ciências da Natureza e suas Tecnologias
Ildete Furukawa
Ghisleine Trigo Silveira
Irene Terezinha Nunes de Souza Inacio
Jane Hudson Abranches
Leitores Críticos
Kelly Cristina Naves Paixão
Área de Psicologia do Desenvolvimento Marcio Andrade Monteiro
Márcia Zampieri Torres Marco Antonio Raichtaler do Valle
Maria da Graça Bompastor Borges Dias Maria Cândida Muniz Trigo
Leny Rodrigues Martins Teixeira Maria Vilma Valente de Aguiar
Lino de Macedo Mariana Ribeiro Bastos Migliari
Área de Ciências Nelson Figueiredo Filho
Área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias Suely Alves Wanderley
Luis Carlos de Menezes Teresa Maria Abath Pereira
Luiz Roberto Moraes Pitombo Valéria de Sperandyo Rangel
Regina Cândida Ellero Gualtieri
Capa
Milton José de Almeida (a partir de desenhos de
Leonardo da Vinci)
Coordenação Editorial
Zuleika de Felice Murrie
C569 Ciências: ciências da natureza e suas tecnologias : livro do professor : ensino

fundamental e médio / Coordenação Zuleika de Felice Murrie . - Brasília :
MEC : INEP, 2002.
168p. ; 28cm.
ISBN 85-296-0027-4.
1. Biologia (Ensino médio). 2. Química (Ensino médio). 3. Ciências (Ensino

fundamental). I. Murrie, Zuleika de Felice.
CDD 574

SUMÁRIO
I. AS BASES EDUCACIONAIS DO ENCCEJA .................................................................... 9
A. A PROPOSTA DO ENCCEJA PARA A CERTIFICAÇÃO
DO ENSINO FUNDAMENTAL ....................................................................................... 14
B. A PROPOSTA DO ENCCEJA PARA A CERTIFICAÇÃO
DO ENSINO MÉDIO ....................................................................................................... 18

II. EIXOS CONCEITUAIS QUE ESTRUTURAM O ENCCEJA ................................... 23
A. RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS ..................................................................................... 24
B. AS ORIGENS DO TERMO COMPETÊNCIA .................................................................. 27
C. AS COMPETÊNCIAS DO ENEM NA PERSPECTIVA DAS
AÇÕES OU OPERAÇÕES DO SUJEITO ......................................................................... 31

III. AS ÁREAS DO CONHECIMENTO CONTEMPLADAS NO ENCCEJA .............. 39
CIÊNCIAS - Ensino Fundamental ................................................................................ 39
CIÊNCIAS DA NATUREZA - Ensino Médio ................................................................ 51
IV. AS MATRIZES QUE ESTRUTURAM AS AVALIAÇÕES ................................... 63
CIÊNCIAS DA NATUREZA - Ensino Médio ................................................................ 70
V. ORIENTAÇÃO PARA O TRABALHO DO PROFESSOR

CIÊNCIAS DA NATUREZA - Ensino Médio ........................................................... 119

III. As áreas do conhecimento contempladas no ENCCEJA
I. As bases educacionais do ENCCEJA
Os brasileiros têm ampliado sua envolveram-se, de alguma forma, em

escolaridade. É o que demonstra o Censo práticas sociais da língua. É desse modo
2000, em recente divulgação feita pelo que se pode entender que o analfabeto
Instituto Brasileiro de Geografia e possui um certo conhecimento das
Estatística (IBGE). O principal fato a linguagens, ao assistir a um telejornal
comemorar é a ampla freqüência às (que usa, em geral, a linguagem escrita,
escolas do nível fundamental que, no oralizada pelos locutores), ao ditar uma
ano 2000, acolhiam 94,9% das crianças carta, ao apoiar-se numa lista mental de
entre 7 e 14 anos. Pode-se afirmar, produtos a serem comprados ou ao
portanto, que o Ensino Fundamental, no reconhecer placas e outros sinais urbanos.
Brasil, é quase universal para a faixa Evidencia-se, assim, importância de
etária prevista e correspondente. Além reconhecer, como ponto de partida, que o
disso, comparando-se dados de 1991 e estilo de vida nas sociedades urbanas
2000, há crescimento na freqüência modernas não permite grau zero de
escolar em todos os grupos de idade. letramento.
Persiste, entretanto, um contingente Há uma possibilidade de “leitura do
populacional jovem e adulto que carece da mundo” em todas as pessoas, até para
formação fundamental. Segundo o referido aquelas sem nenhuma escolarização.
Censo, 31,2% da população brasileira com O Censo Escolar realizado pelo Inep
mais de 10 anos de idade tem apenas até 3 indica um total de 3.410.830 matrículas
anos de estudo; logo, cerca de um terço em cursos de Educação de Jovens e
dos brasileiros (mais de 50 milhões de Adultos (EJA) em 1999. Desse total, mais
pessoas) não concluíram nem a primeira ou menos 1.430.000 freqüentam cursos
parte do Ensino Fundamental. Esses correspondentes ao segundo segmento do
cidadãos que não tiveram possibilidades ensino fundamental, de 5ª a 8ª série.
de completar seu processo regular de Nesses cursos, encontra-se um público
escolarização, em sua maioria, já são variado e heterogêneo, uma importante
adultos, inseridos ou não no mundo do característica da EJA. Entre eles, há uma
trabalho, e têm constituído diferentes parcela dos jovens de 15 a 17 anos de
saberes, por esforço próprio, em resposta idade freqüentando a escola e que,
às necessidades da vida. Nesse sentido, segundo o IBGE, representa quase 79%
assinala-se, nos termos da Lei, o direito a da população dessa faixa. Os demais
cursos com identidade pedagógica própria 21%, por diversos motivos, mas
àqueles que não puderam completar a principalmente por pressões ou
alfabetização, mas, que, ao pertencerem a contingências socioeconômicas,
um mundo impregnado de escrita, deixaram precocemente o ambiente
escolar.

Livro do Professor
Sendo dever dos poderes públicos e da físicas interessadas em colaborar.

sociedade em geral oferecer condições Os objetivos desses programas ou
para a retomada dos estudos em salas projetos são oferecer vagas e subsidiar
de aula, destinadas especificamente a professores que trabalham com os
jovens e adultos, diversos projetos têm cidadãos que não puderam iniciar ou
sido desenvolvidos no âmbito do concluir seus estudos em idade própria
governo federal. Para atender os ou não tiveram acesso à escola. Em
municípios do Norte e Nordeste com conjunto com diversas outras iniciativas
1
baixo IDH, o Ministério da Educação de organizações não-governamentais
2
(MEC) é parceiro no Projeto Alvorada, (ONGs), universidades ou outras formas
organizando o repasse de verbas a de associação civil respondem ao enorme
Estados e Municípios. Em apoio ao desafio de minimizar os efeitos da
projeto, a Coordenadoria de Educação exclusão do Ensino Fundamental,
de Jovens e Adultos (COEJA), da fenômeno histórico em nosso país que
Secretaria do Ensino Fundamental (SEF– hoje está sendo superado na faixa etária
MEC), tendo como parceira a Ação correspondente. Contudo, mais do que
Educativa, organização não em razão do número de alunos em salas
governamental de reconhecida de aula (ainda pequeno, considerando-se
experiência no campo de formação de o enorme contingente de jovens e
jovens e adultos, apresentou Proposta adultos não-escolarizados), tais ações do
Curricular para Educação de Jovens e governo e da sociedade civil têm
Adultos, 1º Segmento, que visa ao oferecido educação aos cidadãos mais
programa Recomeço – Supletivo de afastados da cultura letrada, por viverem
Qualidade. Além disso, em resposta às em lugares quase isolados do nosso país-
demandas dos sistemas públicos continente ou por estarem desenraizados
(estaduais e municipais) que aderiram de sua cultura de origem, habitando as
aos Parâmetros Curriculares Nacionais periferias das grandes cidades.
(PCN) em ação, a mesma COEJA
Já nos primeiros artigos da Lei de
promoveu a formulação e vem
Diretrizes e Bases da Educação Nacional
divulgando uma Proposta Curricular
(LDB) de 1996, valorizam-se a
para a EJA de 5ª a 8ª série,
experiência extra-escolar e o vínculo
fundamentada nos Parâmetros
entre a educação escolar, o mundo do
Curriculares Nacionais desse segmento.
trabalho e a prática social.
O Programa Alfabetização Solidária, por
sua vez, foi lançado em 1997 e relata a Esse fato sinaliza o rumo que a
alfabetização de 2,4 milhões de jovens educação brasileira já vem tomando e
em 2001. Em 2002, encontra-se em marca posição quanto ao valor do
2.010 municípios. Caracteriza-se por ser conhecimento escolar, voltado para o
um trabalho de ação conjunta entre pleno desenvolvimento do educando, seu
diferentes parceiros, coordenados por preparo para o exercício da cidadania, e
organização não governamental, e que sua qualificação para o trabalho (Artigo
inclui universidades, estados, 2). Essas orientações são reiteradas em
municípios, empresas e até pessoas muitas outras partes da mesma Lei,
como nas diretrizes para os conteúdos
1 Índice de Desenvolvimento Humano, indicador estabelecido pelo Programa de Desenvolvimento Humano da

UNESCO, que considera a esperança de vida ao nascer, o nível educacional e o PIB per capita.
2 Programa do governo federal de gerenciamento intensivo de ações e programas federais de infra-estrutura
10 social, de combate à exclusão social e à pobreza e de redução das desigualdades regionais pela melhoria das
condições de vida nas áreas mais carentes do Brasil.

curriculares da educação básica, propósitos e conceitos centrais: a

anunciadas no seu Artigo 27, difusão dos valores de justiça social e
destacando-se a primeira delas, que dos pressupostos da democracia, o
preconiza a difusão de valores respeito à pluralidade, o crédito à
fundamentais ao interesse social, aos capacidade de cada cidadão ler e
direitos e deveres dos cidadãos, de interpretar a realidade, conforme sua
respeito ao bem comum e à ordem própria experiência.
democrática. Respondem por um paradigma com
Ainda outros documentos do Ministério lastro nos legados de Jean Piaget e
da Educação, como os Parâmetros Paulo Freire, verificando-se, com eles,
Curriculares Nacionais, para os níveis que é necessário disseminar as
Fundamental e Médio, a Proposta pedagogias que buscam promover o
Curricular da EJA (5ª a 8ª série) e a desenvolvimento da inteligência e a
Matriz de Competências e Habilidades do consciência crítica de todos os
Exame Nacional do Ensino Médio envolvidos no processo educativo,
(ENEM), abordam o currículo escolar, tendo, na interação social e no diálogo
integrado por competências e autêntico, o mais importante
habilidades dos estudantes, ou norteado instrumento de construção do
por objetivos de ensino/aprendizagem, conhecimento. Um paradigma com
em que os conteúdos escolares são denominações variadas, pois usufrui de
plurais e só têm sentido e significado se diferentes vertentes teóricas, mas com
mobilizados pelo sujeito do algo em comum: a crítica à tradição do
conhecimento: o estudante. Pode-se currículo enciclopédico, centrado em
reconhecer, no conjunto desses conhecimentos sem vínculo com a
documentos e em cada um deles, experiência de vida da comunidade
esforços coletivos por um melhor e escolar e na crença de que a aquisição
maior comprometimento da do conhecimento dispensa o exercício da
comunidade escolar brasileira com um crítica e da criação por parte de quem
novo paradigma pedagógico. Um aprende. Mas é essa tendência que ainda
paradigma multifacetado, como orienta a maioria dos currículos
costuma acontecer com as tendências praticados e, conseqüentemente, os
sociais em construção, diverso em suas exames de acesso a um nível escolar ou
nomenclaturas e que se vale de para certificação.
numerosas pesquisas, em diferentes Os exames de certificação para os
campos científicos, muitas ainda em jovens e adultos não constituem
fase de produção e consolidação. exceção, uma vez que, na sua maioria,
Esse rico cenário acadêmico precisa submetem os alunos a provas massivas,
ainda ser mais eficazmente disseminado sem o correspondente cuidado com a
no ambiente complexo e plural da qualidade do ensino e o respeito com o
educação brasileira. Mesmo assim, o educando, como se encontra assinalado
conjunto dos documentos que nas Diretrizes Curriculares Nacionais da
estruturam e orientam a Educação Educação de Jovens e Adultos
Básica no Brasil é coeso em seus (DCNEJA). Por outro lado, recomenda-
11

Livro do Professor
se que o estudante da EJA, com a Embora que não seja possível, em âmbito
maturidade correspondente, deva nacional, prever a enorme gama de
encontrar, nos cursos e nos exames conhecimentos específicos estruturados
dessa modalidade, oportunidades para em meio à vivência de situações
reconhecer e validar conhecimentos e cotidianas, procurou levar em
competências que já possui. A mesma consideração que o processo de
Diretriz prevê a importância da estruturação das vivências possibilita
avaliação na universalização da aquisições lógicas de pensamento que são
qualidade de ensino e certificação de universais para os jovens e adultos e que
aprendizagem, ao apontar que os se, de um lado, devem ser tomadas como
exames da EJA devem primar pela ponto de partida nas diversas
qualidade, pelo rigor e pela adequação. modalidades de ofertas de ensino para
A proposta do Exame Nacional de essa população, de outro, devem
Certificação de Competências de Jovens participar do processo de avaliação para
e Adultos (ENCCEJA) busca satisfazer certificação.
esses fundamentos político- Desse modo, objetivou-se superar a
pedagógicos, expressos de forma mais concepção de estruturação de provas
abrangente na Lei maior da educação fundamentadas no ensino enciclopedista,
brasileira, e, de modo mais detalhado ou centradas em conteúdos fragmentados e
com ênfases especiais, nas Diretrizes, descontextualizados, quase sempre
Parâmetros e outros referenciais que a associados ao privilégio da memória sobre
contemplam, inclusive, o Documento o estabelecimento de relações entre
Base do Exame Nacional do Ensino idéias. Ainda que se reconheça o
Médio (ENEM). inequívoco papel da memória para o
Baseados na experiência dos conhecimento de fenômenos, das etapas
especialistas e nesses documentos, dos processos, ou mesmo, de teorias, é
buscou-se identificar conteúdos e preciso considerar, nas referências de
métodos para a construção de um provas, bem como na oferta de ensino, as
quadro de referências atualizado e múltiplas capacidades de operar com
adequado ao ENCCEJA. Um dos informações dadas. Ou seja, está-se
resultados do processo são as Matrizes valorizando a autonomia do estudante em
de Competências e Habilidades, em ler informações e estabelecer relações a
nível de Ensino Fundamental e em nível partir de certos contextos e situações. E,
de Ensino Médio. assim, o exame sinaliza e valoriza um
cidadão mais apto a viver num mundo em
As Matrizes de Competências e
constantes transformações, onde é
Habilidades constituem referencial de
importante possuir estratégias pessoais e
exames mais significativos para o
coletivas para a solução de problemas,
participante jovem ou adulto, mais
fundamentadas em conhecimentos
adequados às suas possibilidades de ler e
básicos de todas as disciplinas ou áreas da
de interagir com os problemas
educação básica.
cotidianos, com o apoio do
conhecimento escolar. O processo de elaboração das Matrizes de
Competências e Habilidades do ENCCEJA,
12

Fundamental e Médio teve como meta competências do sujeito do

principal garantir uma proposta de conhecimento e permitiram a definição
continuidade e coerência entre o que se de habilidades específicas que
estabeleceria para os exames em nível estabelecem as ações ou operações que
de Ensino Médio ou Fundamental. descrevem desempenhos a serem
Dessas etapas resultaram a definição das avaliados nas provas. Nessa concepção,
quatro áreas dos exames e um conjunto as referências de cada área descrevem
de proposições para cada uma delas, as interações mais abrangentes ou
que foram também reconsideradas à luz complexas (nas competências) e as mais
das Diretrizes Curriculares Nacionais da específicas (nas habilidades) entre as
EJA (DCNEJA), das políticas ações dos participantes, que são os
educacionais vigentes em âmbito sujeitos do conhecimento, com os
federal e nas propostas estaduais, a fim conteúdos disciplinares, selecionados e
de organizar os quadros de referência organizados a partir dos referenciais
dos exames. adotados.
As Matrizes de referência para a prova de Para a elaboração das competências do
cada área ou disciplina foram organizadas Ensino Médio, foram consideradas as
em torno de nove competências amplas, competências por área, definida pelas
por sua vez, desdobradas em habilidades Diretrizes do Ensino Médio. Constituiu-
mais específicas, resultantes da se um importante desafio à elaboração
associação desses conteúdos gerais às das matrizes do ENCCEJA para o Ensino
cinco competências do ENEM. As Fundamental, especificamente no que
competências já definidas para o ENEM diz respeito à definição das competências
correspondem aos eixos cognitivos gerais das áreas. Isso porque, para o
básicos, a ações e operações mentais que Ensino Fundamental, os Parâmetros
todos os jovens e adultos devem Curriculares Nacionais (PCN) e as
desenvolver como recursos mínimos que Diretrizes Curriculares Nacionais trazem
os habilitam a enfrentar melhor o mundo outra abordagem, não tendo incorporado
que os cerca, com todas as suas a discussão mais recente, que visa à
responsabilidades e desafios. determinação de competências e
Nas Matrizes do ENCCEJA, os habilidades de aprendizagem como
conteúdos tradicionais das ciências, da produto da escolarização, ainda que
arte e da filosofia são denominados preservem e ampliem consideravelmente
competências de área, à semelhança dos outros elementos didático-pedagógicos
conceitos já consagrados na reforma do do mesmo paradigma.
ensino médio, porque já demonstram Os documentos legais permitiram
aglutinar articulações de sentido e construir matrizes semelhantes para o
significação, superando o mero elenco ENCCEJA - Ensino Fundamental, apesar
de conceitos e teorias. Essas de oferecerem contribuições distintas
competências, em cada área, foram para a configuração das competências e
submetidas ao tratamento cognitivo das habilidades a serem avaliadas.
13

Livro do Professor
A. A PROPOSTA DO ENCCEJA pertence um número maior de

PARA A CERTIFICAÇÃO DO brasileiros. Esses jovens e adultos, já
ENSINO FUNDAMENTAL trabalhadores com experiência
profissional, leitores, participantes de
Considerando-se a população que não vias informais da educação, com
completou seus estudos do nível expectativa de melhor posicionamento
fundamental, é possível aventar a no mercado de trabalho e/ou da
existência de significativo número de retomada dos estudos em nível médio,
pessoas desejosas de recuperar o precisam ter reconhecidos e validados
reconhecimento social da condição os seus conhecimentos. Para eles, foi
letrada, obtendo certificação de elaborado o ENCCEJA, correspondente
conhecimentos por meio de Exame ao nível fundamental.
Supletivo do Ensino Fundamental. Tendo a LDB diminuído a idade mínima
Essas pessoas, tendo-se afastado da para a certificação por meio de exames
escola há bastante tempo ou mesmo supletivos, instalou-se uma questão
tendo retomado estudos parciais de contraditória na educação nacional, pois
forma esporádica, continuaram é supostamente desejável a
aprendendo pela prática de leitura e permanência dos jovens de 15 anos na
análise de textos escritos, de cálculos e escola, a fim de desenvolver suas
outros estudos em situações específicas capacidades e compartilhar
de seu interesse. Participam de meios conhecimentos, com o apoio e a
informais, eventuais, ou mesmo, mediação da comunidade escolar.
incidentais de educação com diferentes Entretanto, alguns precisaram
propósitos. Por exemplo, em cursos interromper os estudos por motivos
oferecidos por empresas para capacitação contingenciais e financeiros, por
de pessoal, em grupos de estudo mudança de domicílio ou para ajudar a
comunitários, ou mesmo, através de família, entre outros motivos. Além
programas educativos na TV, no rádio disso, como já apontado nas Diretrizes
ou outras mídias. Assim, são capazes de Curriculares Nacionais para Educação de
leitura autônoma para efeito de lazer, Jovens e Adultos (DCNEJA), há aqueles
demandas do exercício da cidadania ou que, mesmo tendo condições
do trabalho. Desse modo, lêem revistas financeiras, não lograram êxito nos
esportivas e folhetos de instrução estudos, por razões de caráter
técnica, programas de candidatos a sociocultural. Para esses jovens, a
cargos eletivos e publicações vendidas certificação do Ensino Fundamental por
em banca de jornal que dão instruções meio do ENCCEJA significa a
para a realização de muitas atividades. possibilidade de retomar os estudos no
Além disso, calculam para fins de mesmo nível que seus coetâneos, não
compra e venda, analisam situações de sofrendo outras penalidades além
qualidade de vida (ou sua carência). daquelas já impostas por suas condições
de vida até então.
Logo, já são leitores do mundo,
superaram um estágio de decifração de As Diretrizes do Ensino Fundamental
códigos da língua materna, ao qual contribuem diretamente para a seleção de
14

conteúdos a serem avaliados pelo linguagens. Ressalte-se que esses

ENCCEJA de, pelo menos, duas maneiras. aspectos guardam evidente proximidade
Primeiramente, ao esclarecer a natureza com os Temas Transversais,
dos conteúdos mínimos referentes às desenvolvidos no PCN do Ensino
noções e conceitos essenciais sobre Fundamental: Ética, Meio Ambiente,
fenômenos, processos, sistemas e Saúde, Orientação Sexual, Trabalho e
operações que contribuem para a Consumo, e Pluralidade Cultural.
constituição de saberes, conhecimentos, Com os mesmos propósitos, estudaram-se
valores e práticas sociais indispensáveis também os textos da V Conferência
ao exercício de uma vida de cidadania Internacional sobre Educação de
plena, e, depois, ao recomendar: ao Adultos, com uma orientação temática
utilizar os conteúdos mínimos, já de mesma natureza que os PCN e DCN
divulgados inicialmente pelos Parâmetros do Ensino Fundamental. Isso pode ser
Curriculares Nacionais, a serem ensinados exemplificado pela menção especial dos
em cada área de conhecimento, é temas I, IV e VI.
indispensável considerar, para cada I- Educação de adultos e democracia: o
segmento (Educação Infantil, 1ª a 4ª e 5ª a desafio do século XXI. Alguns
8ª séries), ou ciclo, que aspectos serão compromissos desse tema: desenvolver
contemplados na intercessão entre as participação comunitária, favorecendo
áreas e aspectos relevantes da cidadania, cidadania ativa; sensibilizar com relação
tomando-se em conta a identidade da aos preconceitos e à discriminação no
escola e de seus alunos, professores e seio da sociedade; promover uma cultura
outros profissionais que aí trabalham. da paz, o diálogo intercultural e os
Decorre que também a EJA do direitos humanos;
Fundamental deve considerar os aspectos
IV- A educação de adultos, igualdade e
próprios da identidade do jovem e adulto
eqüidade nas relações entre homem e
que retoma a escolarização, tanto para
mulher e a maior autonomia da
efeito de cursos, como para exames. Por
mulher. Esse tema tem como um dos
outro lado, corrobora a referência aos
compromissos: promover a capacitação e
conteúdos (conceitos, procedimentos,
autonomia das mulheres e a igualdade
valores e atitudes) debatidos nos PCN de
dos gêneros pela educação de adultos,
5ª a 8ª série (subsidiários à Proposta
entre outros.
Curricular da EJA), na escolha dos
conteúdos do ENCCEJA do Ensino VI- A educação de adultos em relação
ao meio ambiente, à saúde e à
Fundamental.
população. Esse tema tem como
A segunda linha de contribuições reside
compromissos: promover a capacidade e
no levantamento do rol de aspectos da
a participação da sociedade civil em
vida cidadã que devem estar articulados
responder e buscar soluções para os
à base nacional comum, quais sejam: a
problemas de meio ambiente e de
saúde, a sexualidade, a vida familiar e
desenvolvimento, estimular o
social, o meio ambiente, o trabalho, a
aprendizado dos adultos em matéria de
ciência e a tecnologia, a cultura e as
população e de vida familiar, reconhecer
15

Livro do Professor
o papel decisivo da educação sanitária na considerando valores e direitos humanos.

preservação e melhoria da saúde pública e Tais ações ou operações do participante
individual, assegurar a oferta de programas estão representadas na Matriz do
de educação adaptados à cultura local e às ENCCEJA, nas diferentes habilidades.
necessidades específicas, no que se refere à Não se deve supor, contudo, que uma
atividade sexual. prova organizada a partir de habilidades
Todas essas recomendações foram (articulações entre operações lógicas com
consideradas para a seleção de valores e conteúdos relevantes) negligencie as
conceitos integrados às competências e exigências básicas de conteúdos mínimos e
habilidades organizadoras do ENCCEJA do a capacidade de ler e escrever.
Ensino Fundamental. Já para a definição do Para o participante da prova, é
escopo e redação das competências das imprescindível a prática autônoma da
áreas e disciplinas, consideraram-se leitura, que possibilita a percepção de
especialmente os objetivos gerais para possíveis significados e a construção de
ensino e aprendizagem delineados na opiniões e conhecimentos ao ler um texto,
Proposta Curricular da EJA (5ª a 8ª série) de um esquema ou outro tipo de figura.
Matemática, Língua Portuguesa, Ciências
Espera-se, de fato, que o jovem e o adulto,
Naturais, História e Geografia, e os
ao certificarem-se com a escolaridade
objetivos gerais de todo o Ensino
fundamental pelo ENCCEJA, já estejam
Fundamental dos PCN e dos Temas
lendo autonomamente, com certa fluência,
Transversais.
a partir de sua experiência com textos
Assim, foram constituídas as referências diversos, em situações em que faça sentido
para as provas de: ler e escrever. Cabe a eles construir os
1- Língua Portuguesa, Artes, Língua sentidos de um texto, ao colocar em
Estrangeira e Educação Física, sendo as diálogo seus próprios conhecimentos de
três últimas áreas de conhecimento mundo e de língua, como usuários dela, e
consideradas sob a ótica da constituição as pistas do texto, oferecidas pelo gênero,
das linguagens e códigos, não como pela situação de comunicação e pelas
conteúdos conceituais isolados para escolhas do autor:
avaliação;
Nessa perspectiva, entende-se que ler não é
2- Matemática;
extrair informação, decodificando letra por letra,
3- História e Geografia;
palavra por palavra. Trata-se de uma atividade
4- Ciências Naturais. que implica estratégias de seleção, antecipação,
A Matriz para o ENCCEJA concorre para a inferência e verificação, sem as quais não é
promoção de provas que dêem possível pro ficiência. É o uso desses
oportunidade para jovens e adultos procedimentos que possibilita controlar o que
aproveitarem o que aprenderam na vida vai sendo lido, permitindo tomar decisões diante
prática, trabalhando com aspectos básicos de dificuldades de compreensão, avançar na
da vida cidadã, como a tomada de decisões busca de esclarecimentos, validar no texto
e a identificação e resolução de problemas, suposições feitas.
a descrição de propostas e a comparação (Brasil, c2000, v.2, p.69, 7º parágrafo)
entre idéias expressas por escrito,
16

Devem-se considerar, entretanto, problematizando-os para que, por meio

diferentes níveis de proficiência na leitura da reflexão própria, ele reconheça o que
dos códigos e linguagens que já sabe e estabeleça conexões com o
constituem as informações da realidade. conhecimento novo apresentado. Assim,
A meio termo da formação básica, na para enfrentar situações-problema, são
conclusão do Ensino Fundamental, os mobilizados elementos lógicos
textos lidos ou formulados pelo pertinentes ao raciocínio científico e
estudante da EJA já evidenciam uma também ao cotidiano, podendo explorar
visão de mundo um tanto complexa, interações entre fatos e/ou idéias, para
ainda que expressa em discurso mais entre eles estabelecer relações causais,
sintético, mais direto, com muitos espaço-temporais, de forma e função, ou
nomes do cotidiano preservados e seqüenciando grandezas.
elementos do senso comum, se Não se pode perder de vista, tampouco, o
comparados com produções do estudante exercício simplificado da metacognição
em nível de Ensino Médio. por parte daqueles que pouco
É a partir dessas concepções de leitura que freqüentaram a escola. Não é de se esperar
as provas são elaboradas, como que possam raciocinar com desenvoltura
possibilidades de abordagem pedagógica sobre a estrutura do conhecimento em si,
das competências e habilidades do uma qualidade intelectual daqueles que
ENCCEJA na avaliação para certificação. freqüentaram a escola (Oliveira, 1999).
Para tanto, os textos oferecidos em Respeitar essa característica representa
questões de prova são rigorosos do ponto uma exigência para a formulação de uma
de vista conceitual, ao observarem os prova em que se reconhecem as
marcos teóricos de referência em cada área possibilidades intelectuais dos cidadãos
de conhecimento. Contudo, procura-se que não tiveram oportunidade de exercitar
delimitar cuidadosamente a diversidade do a compreensão dos objetos de
vocabulário utilizado, além da magnitude conhecimento descontextualizada de suas
da rede conceitual empregada e das ligações com a vida imediata.
operações lógicas exigidas. Isso porque o Portanto, sem perder de vista a
participante precisa de situações pluralidade das realidades brasileiras e a
adequadas para estabelecer relações mais diversidade daqueles que buscam a
abrangentes e mais próximas das teorias certificação nesse nível de ensino,
científicas. Não se pode perder de vista propõe-se uma prova que apresenta uma
que, em nível fundamental, ele necessita temática atualizada, em nível pertinente
de orientação clara e concisa, além de um aos jovens e adultos que, para realizá-la,
tempo maior para a observação das se inscrevem. Deve representar um
representações de fenômenos, para as desafio consistente mas possível,
comparações, as análises, a produção de exeqüível e motivador, para que os
sínteses ou outros procedimentos. participantes exercitem suas
potencialidades lógicas e sua capacidade
Com esses cuidados, é desejável propor crítica em questões de cidadania,
aos jovens e adultos uma variedade de reconhecendo e formulando valores
questões, envolvendo temas das áreas de essenciais à cultura brasileira, ao convívio
conhecimento, sempre explicitando democrático e ao desenvolvimento
conceitos mais complexos e pessoal.
17

Livro do Professor
B. A PROPOSTA DO ENCCEJA Desse modo, a função reparadora da EJA,

PARA CERTIFICAÇÃO no limite, significa não só a entrada no
circuito dos direitos civis pela restauração
DO ENSINO MÉDIO
de um direito negado: o direito a uma
Pode-se afirmar que são múltiplos e escola de qualidade, mas também o
diversos os fatores que estimulam a reconhecimento daquela igualdade
busca de certificação do ensino médio na ontológica de todo e qualquer ser humano.
Educação de Jovens e Adultos. Desta negação, evidente na história
brasileira, resulta uma perda: o acesso a
Dentre eles, destaca-se a exigência do
um bem real, social e simbolicamente
mundo do trabalho, pois, atualmente, a
importante. Logo, não se deve confundir a
necessidade da certificação no ensino
noção de reparação com a de suprimento.
médio se faz presente em diferentes
atividades e setores profissionais.
Ressaltam-se, também, os fatores É muito provável que, com as elevadas
pessoais da busca do cidadão pela taxas de repetência e evasão nas últimas
certificação: a vontade de continuar os décadas do século XX, muitos alunos
estudos e a vontade política de obter o que não tiveram sucesso no sistema
direito da cidadania plena. Esses educacional regular optem por essa
aspectos são mais significativos do modalidade de ensino. Soma-se a esse
ponto de vista daqueles que discutem a fato o difícil acesso à escola básica por
Educação de Jovens e Adultos para motivos socioeconômicos diversos.
certificação no ensino médio. Ela é Segundo o IBGE, em 1999, havia cerca
direcionada para jovens e adultos com de 13,3% de analfabetos acima de 15
mais de dezenove anos que, por motivos anos. Em 2000, a distorção idade/série,
diversos, não puderam freqüentar a no ensino médio, de acordo com dados
escola no seu tempo regular. do MEC/INEP, é da ordem de 50,4%. No
Tal fato é previsto na LDB 9.394/96 mesmo ano, os dados registram,
quando considera o ensino médio como aproximadamente, 3 milhões de alunos
etapa final da educação básica e a EJA matriculados em cursos da EJA. A oferta
como uma das modalidades de da Educação de Jovens e Adultos para o
escolarização. O direito político ensino médio (EM) está principalmente
subjetivo do cidadão de completar essa a cargo dos sistemas estaduais, em
etapa e, por sua vez, o dever de oferta parceria, muitas vezes, com redes
educacional pública que permita superar privadas.
as diferenças e aponte para uma Nesse sentido, as Secretarias de
eqüidade possível são princípios que Educação têm-se mobilizado para criar
não podem ser relegados, como afirma uma rede de atendimento e uma
o Parecer da Câmara de Educação proposta de escola média coerente com
Básica do Conselho Nacional de as necessidades previstas para essa
Educação - Parecer CNE/CEB 11/2000, população, diversificando o
Diretrizes Curriculares Nacionais para a atendimento no País.
Educação de Jovens e Adultos:
18

Deve ser também ressaltada a Por sua vez, o Art. 4º da Resolução

importância da avaliação e certificação CNE/CEB 1/2000 diz que as Diretrizes
nessa modalidade de ensino. De acordo Curriculares Nacionais (DCN),
com o Art. 10 da Resolução CNE/CEB 1/ estabelecidas na Resolução CNE/CEB 3/98
2000, que estabelece as diretrizes e vigentes a partir da sua publicação, se
curriculares nacionais para a Educação estendem para a modalidade da
de Jovens e Adultos: no caso de cursos Educação de Jovens e Adultos no
semi-presenciais e a distância, os alunos ensino médio, sua organização e
só poderão ser avaliados, para fins de processos de avaliação.
certificados de conclusão, em exames A direção curricular proposta pelas
supletivos presenciais oferecidos por DCN-EM destaca o desenvolvimento de
instituições especificamente autorizadas, competências e habilidades distribuídas
credenciadas e avaliadas pelo poder em áreas de conhecimento: Linguagens,
público, dentro das competências dos Códigos e suas Tecnologias, Ciências
respectivos sistemas... Humanas e suas Tecnologias, Ciências da
O Exame Nacional de Certificação de Natureza e Matemática e suas
Competências de Jovens e Adultos do Tecnologias. O caráter interdisciplinar
Ensino Médio (ENCCEJA/EM) está das áreas está relacionado ao contexto
articulado tanto para atender a essa de vida social e de ação solidária,
prerrogativa quanto para responder à visando à cidadania e ao trabalho.
demanda, em sintonia com a lógica da Vale a pena lembrar que a LDB é a base
avaliação nacional. Nesse sentido, o das DCNEM. No Art. 36, a LDB destaca
ENCCEJA/EM constitui uma que o currículo do ensino médio deve
possibilidade de avaliação que, ao observar as seguintes diretrizes: a
mesmo tempo, respeita a diversidade e educação tecnológica básica; a
estabelece uma unidade nacional, ao compreensão do significado da ciência,
apontar o que é basicamente requerido das letras e das artes; o processo
para a certificação no ensino médio que histórico de transformação da sociedade
faz parte atualmente da educação básica. e da cultura; a língua portuguesa como
A Constituição de 1988, no Inciso II do instrumento de comunicação, acesso ao
Art. 208, já apontava para a garantia da conhecimento e exercício da cidadania.
institucionalização dessa etapa de Além disso, dois aspectos merecem
escolarização como direito de todo menção especial, pois marcam a
cidadão. A LDB estabeleceu, por sua vez, diferença em relação à organização
a condição em norma legal, quando curricular do ensino médio: o eixo da
atribuiu ao EM o estatuto de educação tecnologia e dos processos cognitivos
básica (Art. 21), definindo suas de compreensão do conhecimento.
finalidades, ou seja, desenvolver o
Assim, a caracterização das áreas procura
educando, assegurar-lhe a formação
ser uma forma de estabelecer relações
comum para o exercício da cidadania e
internas e externas entre os
fornecer-lhe meios para progredir no
conhecimentos, de abordá-los sob o
trabalho e em estudos posteriores. (Art.
ângulo das correspondências próprias à
22)
sua divulgação para o público que
19

Livro do Professor
necessita dos saberes escolares para a como ator no contexto de preservação e

vida social, o trabalho, a continuidade transformação social.
dos estudos e o desenvolvimento pessoal. A noção de desenvolvimento e
A definição na LDB do que é próprio aos avaliação de competências pode
ensinos fundamental e médio não é permitir alguma compreensão desse
colocada como forma de ruptura, mas sim processo de diversidade e unidade.
de aprofundamento (compreensão) e O foco sobre a noção de competência,
contexto (produção e tecnologia). Se, no nos documentos oficiais referentes à
ensino fundamental, o caráter básico dos educação básica e no discurso acadêmico
saberes sociais públicos foi desenvolvido, educacional, principalmente a partir de
cabe, no ensino médio, aprofundá-los ou, 1990, instaura um eixo para
então, desenvolvê-los. Essa consideração, reestruturação dos conteúdos escolares e
para EJA/EM, se deve ao fato de que a de suas formas de transmissão e
certificação no ensino médio não está, por avaliação, ou seja, é uma proposta de
lei, atrelada à certificação no ensino mudança que procura aproximar a
fundamental, havendo, no entanto, uma educação escolar da vida social
continuidade entre as duas etapas da contemporânea. Nessa proposta,
educação básica. De qualquer forma, ao destaca-se a perspectiva da
término do EM, espera-se que o cidadão flexibilização da organização da
tenha desenvolvido competências educação escolar, em respeito à
cognitivas e sociais inseridas em um diversidade e identidade dos sujeitos da
determinado sistema de valores e juízos, aprendizagem. Quais são as
ou seja, aquele referente à ética e ao competências comuns que devem ser
mundo do trabalho. socializadas para todos? A resposta a
No caso do público participante da EJA/ essa pergunta fundamenta a educação
EM, isso se torna mais evidente. A básica. Em seqüência, há outra questão
idade, a participação no mundo do não menos relevante: como avaliá-las?
trabalho, as responsabilidades sociais e O respeito à diversidade não deve ser
civis são outras, diferentes daquelas dos identificado com o caos. Daí, a
alunos da escola regular que se necessidade da responsabilização política
preparam para a vida. O público da EJA/ e institucional em traçar um fio
EM está na vida atuando como condutor que delimite os saberes e as
trabalhador, pai de família, provedor. competências gerais com os quais todo
Entretanto, se o ponto de partida é e qualquer processo deve comprometer-
diferente, o ponto de chegada não o é. se, principalmente o de avaliação.
Ao final do EM, espera-se que esse
As diretrizes legais para a organização
público possa dar continuidade aos
da educação básica estão expressas em
estudos com qualificação, disputar uma
um conjunto de princípios que indica a
posição no mercado de trabalho e
transição de um ensino centrado em
participar plenamente da cidadania,
conteúdos disciplinares (didáticos)
compartilhando os princípios éticos,
seriados e sem contexto para um ensino
políticos e estéticos da unidade e da
voltado ao desenvolvimento de
diversidade nacionais, colocando-se
20

competências verificáveis em situações processo educativo e exigir os direitos de

específicas. A avaliação assume um uma educação de qualidade para todos.
papel fundamental nessa perspectiva, Educação básica e avaliação, portanto,
definindo o sentido da escolarização. têm por objetivo promover a eqüidade na
A ação prevista pelos sujeitos envolvidos participação social.
na educação básica extrapola A proposta do ENCCEJA para
determinados padrões de pensamento até certificação do Ensino Médio assume
então valorizados pela escolarização parte desse papel institucional,
acrítica (identificar, reproduzir, procurando, por meio de uma prova
memorizar, repetir) e aponta para a escrita, aferir, em condições observáveis
necessidade de a escola sistematicamente e com exigências definidas, as
realizar, em situações de aprendizagem, o competências previstas para a educação
desenvolvimento de movimentos de básica.
pensamento mais complexos (analisar, O foco do ENCCEJA é a situação-
comparar, confrontar, sintetizar). Tal problema para cuja resolução o
proposição, amparada pelos estudos da participante deve mobilizar saberes
Psicologia Cognitiva, Sociologia, cognitivos e conceituais (competências).
Lingüística, Antropologia, exerce um
A aprendizagem é destacada como
efeito de reestruturação na Didática. O
referência à autonomia intelectual do
saber, que por si só já é ação do sujeito,
sujeito ao final da educação básica,
ganha o status de uma intenção racional e
mediada pelos princípios da cidadania e
intelectual situada socialmente. O sujeito
do trabalho, na atualidade. As
desse saber é compreendido como um ser
competências para a participação social
único no contexto social. O saber fazer
incluem a criatividade, a capacidade de
envolve o conhecimento do contexto, das
solucionar problemas, o senso crítico, a
ideologias e de sua superação, em prol de
informação, ou seja, o aprender a
uma democracia desejada, para que o
conhecer, a fazer, a conviver e a ser.
homem possa conquistar de fato seus
direitos. A Matriz de Competências indicada para
a avaliação do ENCCEJA/EM é um
O poder público e a administração
produto de discussão coletiva de
central assumem a responsabilidade de
inúmeros profissionais da educação,
indicar a formação requerida para os
buscando contemplar os princípios
sujeitos na educação básica, na
legais que regem a educação básica
modalidade de EJA/EM, e mais, propõem
(Brasil,1999a; Brasil,1996; CNE, 1998;
formas de avaliação das aprendizagens.
CNE, 2000).
A avaliação é assumida como diálogo
O ENCCEJA/EM está estruturado com base
com a sociedade, garantindo o direito
em Matrizes de referência que consideram
democrático da população interessada em
a associação de cinco competências do
saber o que de fato deve ser aprendido (e
sujeito com nove competências previstas
aquilo que deveria ter sido aprendido),
na Base Nacional Comum para as áreas de
para que possa compreender a função do
conhecimento (Linguagens, Códigos e suas
Tecnologias; Ciências Humanas e suas
21

Livro do Professor
Tecnologias; Ciências da Natureza e referência os sujeitos/interlocutores da

Matemática e suas Tecnologias), cujos aprendizagem que se apropriam dos
cruzamentos definem as habilidades a conhecimentos e os transpõem para a vida
serem avaliadas. As competências pessoal e social. No elenco das habilidades
cognitivas básicas a serem avaliadas são: o de cada área, estão valorizadas as
domínio das linguagens, a compreensão experiências extra-escolares e os vínculos
dos fenômenos, a seleção e organização de entre a educação, o mundo do trabalho e
fatos, dados e conceitos para resolver outras práticas sociais, de tal maneira que o
problemas, a argumentação e a proposição. exame, estruturado a partir das matrizes,
Essas competências cognitivas são não perca de vista a pluralidade de
articuladas com os conhecimentos e realidades brasileiras e não deixe de
competências sociais construídos e considerar a diversidade de experiências
requeridos nas diferentes áreas, tendo por dos jovens e adultos que a ele se
submetem.
BIBLIOGRAFIA
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil:
promulgada em 5 de outubro de 1988: atualizada até a Emenda Constitucional nº 20,
de 15/12/1988. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 1999a.
______. Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases
da Educação Nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil.. Poder
Executivo, Brasília, DF, v. 134, n. 248, p. 27.833-27.841, 23 dez. 1996. Seção 1. Lei
Darcy Ribeiro.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros
Curriculares Nacionais. 2. ed. Brasília, DF, c2000. 10 v.
______. Parâmetros Curriculares Nacionais:: Língua Portuguesa. 2.ed. Brasília, DF,
2000. v. 2.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação a Distância. Educação de
Jovens e Adultos: salto para o futuro. Brasília, DF, 1999c. (Estudos. Educação a
distância; v. 10)
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica.
Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio. Brasília, DF, 1999d. 4v.
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO (Brasil). Câmara de Educação Básica. Parecer nº
11, de 10 de maio de 2000. Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação de Jovens
e Adultos. Documenta
Documenta, Brasília, DF, n. 464, p. 3-83, maio 2000.
______. Parecer n° 15, de junho de 1998. Diretrizes Curriculares Nacionais para o
Ensino Médio. Documenta
Documenta, Brasília, DF, n. 441, p. 3-71, jun. 1998.
OLIVEIRA, M. K. de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento, um processo sócio-
histórico. 4. ed. São Paulo: Scipione, 1999. 111p. (Pensamento e ação no magistério).
22

II. Eixos conceituais que
estruturam o ENCCEJA
O ENCCEJA se vincula a um conceito constata é que alguns pressupostos

mais estrutural e abrangente do aceitos no passado tornaram-se
desenvolvimento da inteligência e gradativamente questionáveis e, até
construção do conhecimento. Essa mesmo, abandonados diante de
concepção, de inspiração fortemente investigações mais cuidadosas.
construtivista, acha-se já amplamente Em que pese os processos avaliativos
contemplada nos textos legais que escolares no Brasil caracterizarem-se,
estruturam a educação básica no Brasil. ainda, por uma excessiva valorização da
Tais concepção privilegia a noção de que memória e dos conteúdos em si, aos
há um processo dinâmico de poucos essas práticas sustentadas pela
desenvolvimento cognitivo mediado pela psicometria clássica vêm sendo
interação do sujeito com o mundo que o substituídas por concepções mais
cerca. A inteligência é encarada não como dinâmicas que, de um modo geral, levam
uma faculdade mental ou como expressão em consideração os processos de
de capacidades inatas, mas como uma construção do conhecimento, o
estrutura de possibilidades crescentes de processamento de informações, as
construção de estratégias básicas de ações experiências e os contextos socioculturais
e operações mentais com as quais se nos quais o indivíduo se encontra.
constroem os conhecimentos. A teoria de desenvolvimento cognitivo,
Nesse contexto, o foco da avaliação proposta e desenvolvida por Jean Piaget
recai sobre a aferição de competências e com cuidadosa fundamentação em dados
habilidades com as quais transformamos empíricos, empresta contribuições das mais
informações, produzimos novos relevantes para a compreensão da avaliação
conhecimentos, reorganizando-os em que se estrutura com o ENCCEJA.
arranjos cognitivamente inéditos que Para Piaget (1936), a inteligência é um
permitem enfrentar e resolver novos “termo genérico designando as formas
problemas. superiores de organização ou de
Estudos mais avançados sobre a avaliação equilíbrio das estruturas cognitivas (…) a
da inteligência, no sentido da estrutura inteligência é essencialmente um
que permite aprender, ainda são pouco sistema de operações vivas e atuantes”.
praticados na educação brasileira. Envolve uma construção permanente do
Ressalte-se, também, que a própria sujeito em sua interação com o meio
definição de inteligência e a maneira físico e social. Sua avaliação consiste na
como tem sido investigada constituem investigação das estruturas do
pontos dos mais controvertidos nas áreas conhecimento que são as competências
da Psicologia e da Educação. O que se cognitivas.
23

Livro do Professor
Para Piaget, as operações cognitivas elementos de uma dada operação mental

possuem continuidade do ponto de vista e sistematicamente testem cada uma
biológico e podem ser divididas em delas para determinar qual é a
estágios ou períodos que possuem combinação que os levará a um resultado
características estruturais próprias, as desejado.
quais condicionam e qualificam as Em muitos dos seus trabalhos, Piaget
interações com o meio físico e social. enfatizou o caráter de generalidade das
Deve-se ressaltar que o estágio de operações formais. Enquanto as
desenvolvimento cognitivo que operações concretas se aplicavam a
corresponde ao término da escolaridade contextos específicos, as operações
básica no Brasil denomina-se período das formais, uma vez atingidas, seriam gerais
operações formais, marcado pelo e utilizadas na compreensão de qualquer
advento do raciocínio hipotético- fenômeno, em qualquer contexto.
dedutivo. As competências gerais que são
É nesse período que o pensamento avaliadas no ENCCEJA estão estruturadas
científico torna-se possível, com base nas competências descritas nas
manifestando-se pelo controle de operações formais da Teoria de Piaget,
variáveis, teste de hipóteses, verificação tais como a capacidade de considerar
sistemática e consideração de todas as todas as possibilidades para resolver um
possibilidades na análise de um problema; a capacidade de formular
fenômeno. hipóteses; de combinar todas as
Para Piaget, ao atingir esse período, os possibilidades e separar variáveis para
jovens passam a considerar o real como testar a influência de diferentes fatores; o
uma ocorrência entre múltiplas e uso do raciocínio hipotético-dedutivo,
exaustivas possibilidades. O raciocínio da interpretação, análise, comparação e
pode agora ser exercido sobre argumentação, e a generalização dessas
enunciados puramente verbais ou sobre operações a diversos conteúdos.
proposições. O ENCCEJA foi desenvolvido com base
Outra característica desse período de nessas concepções, e procura avaliar para
desenvolvimento, segundo Piaget, certificar competências que expressam
consiste no fato de as operações formais um saber constituinte, ou seja, as
serem operações à segunda potência, ou possibilidades e habilidades cognitivas
seja, enquanto a criança precisa operar por meio das quais as pessoas conseguem
diretamente sobre os objetos, se expressar simbolicamente,
estabelecendo relações entre elementos compreender fenômenos, enfrentar e
visíveis, no período das operações resolver problemas, argumentar e elaborar
formais, o jovem torna-se capaz de propostas em favor de sua luta por uma
estabelecer relações entre relações. sobrevivência mais justa e digna.
As operações formais constituem,
também, uma combinatória que permite A. RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
que os jovens considerem todas as
Desde o princípio de sua existência o
possibilidades de combinação de
homem enfrentou situações-problema
para poder sobreviver e, ainda, em seu
24

II. Eixos conceituais que estruturam ENCCEJA
estado mais primitivo, desprovido de possibilidade de se orientar a partir dos

qualquer recurso tecnológico, já buscava conhecimentos que haviam sido
conhecer a natureza e compreender seus construídos e adquiridos no passado, à
fenômenos para dominá-la e assim medida que ele podia contar com a
garantir sua sobrevivência como espécie. tradição ditada pelos hábitos e costumes
No entanto, à medida que, em seu da sociedade de sua época, com aquilo
processo histórico, foi alcançando que sua cultura já determinava como
formas mais evoluídas de organização certo. As características culturais, sociais,
social, seus problemas de sobrevivência morais e religiosas, entre outras,
imediata foram sendo substituídos por serviam-lhe como referências,
outros. A cada novo passo de evolução, indicando-lhe caminhos ou respostas.
o homem superou certos problemas Dessa maneira, ele orientava seu
abrindo novas possibilidades de melhor presente pelo passado, tendo no passado
qualidade de vida, mas, ao mesmo o organizador de suas novas ações.
tempo, abriu as portas para novos Como resultado, ele podia planejar seu
desafios, importantes para sua futuro como se este já estivesse escrito e
continuidade e sobrevivência. determinado em função de suas ações
A história do homem registra o presentes.
enfrentamento de contínuos desafios e O avanço tecnológico dos dias atuais
situações-problema, sempre superados desencadeou uma nova ordem de
em nome de novas formas de transformações sociais, culturais,
organização social, política, econômica e políticas e econômicas, imprimindo ao
científica, cada vez mais evoluídas e mundo novas relações numa velocidade
complexas. Pode-se dizer que o tal, que traz para o homem, neste século,
enfrentamento de situações-problema uma outra necessidade: a de se pautar
constitui uma condição que acompanha não só nas referências que o passado
a vida humana desde sempre. oferece como garantias ou tradições,
Cada vez mais tecnológica e globalizada, mas, também, naquilo que diz respeito
a sociedade que atravessou os portais do ao futuro.
século XXI convida o homem à Quanto mais as sociedades
resolução de grandes problemas em contemporâneas avançam em seus
virtude das contínuas transformações em conhecimentos tecnológicos e
todas as áreas do conhecimento. Exige, científicos, mais distanciado parece estar
ainda, constantes atualizações, seja no o homem de sua humanidade. Quanto
mundo do trabalho ou da escola, seja no mais conforto e comodidade a vida
ritmo e nas atribuições de enfrentamento moderna pode oferecer, mais se
do cotidiano da vida, como, também, acentuam as diferenças sociais, culturais
uma outra qualidade de respostas, à e econômicas, criando verdadeiros
proporção que assume características abismos entre os povos e entre as
bem diferenciadas daquelas que populações de um mesmo país. Quanto
anteriormente percorreram a história. mais se conhece e se aprende, mais fica
Durante muitos séculos, o homem, para distanciada uma boa parte da população
resolver problemas, contou com a mundial do acesso à escolaridade, de
25

Livro do Professor
modo que, muito antes de se erradicar o da sociedade contemporânea, uma

analfabetismo da face da Terra, já há a sociedade que, em termos de
preocupação com a exclusão digital. conhecimento, está aberta para todos os
Quanto mais se vivencia a globalização, possíveis, para todas as possibilidades.
mais complicadas ficam as possibilidades O homem do século XXI, portanto, está
de entendimento e comunicação, pois os diante de quatro grandes situações-
ideais e valores – que preconizam a problema que implicam necessidades de
liberdade do homem, a solidariedade resolução: aprender a conhecer,
entre os povos, a convivência entre as aprender a ser, aprender a fazer e
pessoas e o exercício de uma verdadeira aprender a conviver. Como conhecer ou
cidadania – não correspondem a ações adquirir novos conhecimentos? Como
concretas e efetivas. Dessa forma, o aprender a interpretar a realidade em
mundo se debate entre guerras, um contexto de contínuas
terrorismo, drogas, doenças, ignorância e transformações científicas, culturais,
miséria. Essa é a natureza das situações- políticas, sociais e econômicas? Como
problema que o homem contemporâneo aprender a ser, resgatando a sua
enfrenta. Então, como preparar as humanidade e construindo-se como
crianças e jovens com condições para pessoa? Como realizar ações em uma
que possam aprender a enfrentar e prática que seja orientada
solucionar tais problemas, superando-os simultaneamente pelas tradições do
em nome de um futuro melhor? passado e pelo futuro que ainda não é?
Pensando na educação dessas crianças e Como conviver em um contexto de
jovens, tal realidade traz sérias tantas diversidades, singularidades e
implicações e a necessidade de diferenças e em que o respeito e o amor
profundas modificações no âmbito estejam presentes?
escolar. Cada vez mais é preciso que os Em uma perspectiva psicológica, e,
alunos saibam como aprender, como portanto, do desenvolvimento, conhecer
compreender fatos e fenômenos, como e ser são duas formas de compreensão, à
estabelecer suas relações interpessoais, medida que se expressam como maneiras
como analisar, refletir e agir sobre essa de interpretar ou atribuir significados a
nova ordem de coisas. Hoje, por algo, de saber as razões de algo, do
exemplo, um conhecimento científico, ponto de vista do raciocínio e do
uma tecnologia ensinada na escola é pensamento, exigindo do ser humano a
rapidamente substituída por outra mais construção de ferramentas adequadas a
moderna, mais sofisticada e atualizada, uma leitura compreensiva da realidade.
às vezes, antes mesmo que os alunos Fazer e conviver são formas de
tenham percorrido um único ciclo de realizaçâo, pois se expressam como
escolaridade. Dessa maneira, vivem-se procedimentos, como ações que visam a
tempos nos quais os mais diferentes um certo objetivo. Por sua vez, realizar
países revisam seus modelos e conviver implicam que o ser humano
educacionais, discutem e implementam saiba escrever o mundo, construindo
reformas curriculares que sejam mais modos adequados de proceder em suas
apropriadas para atender às demandas ações. Por isso, é preciso que preparemos
26

as crianças e jovens para um mundo Recentemente, competência tornou-se

profissional e social que os coloque uma palavra difundida, com freqüência,
continuamente em situações de desafio, nos discursos sociais e científicos.
as quais requerem cada vez mais Entretanto, Isambert-Jamati (1997)
saberes de valor universal que os afirma que não se trata simplesmente de
preparem para serem leitores de um modismo porque o caráter
mundo em permanente transformação. relativamente duradouro do uso dessa
É preciso, ainda, que os preparemos noção e a existência de uma certa
como escritores de um mundo que pede congruência em relação ao seu
a participação efetiva de todos os seus significado, em esferas como as da
cidadãos na construção de novos educação e do trabalho, podem ser
projetos sociais, políticos e econômicos. reveladores de mudanças na sociedade e
Portanto, do ponto de vista na forma como um grupo social partilha
educacional, tais necessidades implicam certos significados. Nesse sentido, o
o compromisso com uma revisão termo competência não é só revelador
curricular e pedagógica que supere o de certas mudanças como também pode
modelo da simples memorização de contribuir para modelá-las, ou seja,
conteúdos escolares que hoje se mostra comparece no lugar de certas noções,
insuficiente para o enfrentamento da ao mesmo tempo em que modifica seus
realidade contemporânea. Os novos significados. Pode-se dizer que, no
tempos exigem um outro modelo geral, o termo competência vem
educacional, voltado para o substituindo a idéia de qualificação no
desenvolvimento de um conjunto de domínio do trabalho, e as idéias de
competências e de habilidades essenciais, saberes e conhecimento no campo da
a fim de que crianças e jovens possam educação.
efetivamente compreender e refletir As razões da invasão do termo
sobre a realidade, participando e agindo competência, segundo Tanguy (1997),
no contexto de uma sociedade nas diferentes esferas da atividade social,
comprometida com o futuro. são difíceis de precisar, embora, no caso
da educação e do trabalho, possam estar
B. AS ORIGENS DO TERMO associadas a uma série de movimentos
COMPETÊNCIA geradores de concepções nesses dois
campos, bem como das inter-relações
O sentido original da palavra entre eles. Dentre tais concepções ou
competência é de natureza jurídica, ou crenças, podemos destacar: necessidade
seja, diz respeito ao poder que tem uma de superar o aspecto da instrução pelo
certa jurisdição de conhecer e decidir da educação; reconhecimento da
sobre uma causa. Gradativamente, o importância do poder do conhecimento
significado estendeu-se, passando o por todos os meios sociais e de que a
termo a designar a capacidade de transmissão do conhecimento não é
alguém para se pronunciar sobre tarefa exclusiva da escola;
determinado assunto, fazer determinada institucionalização e sistematização de
coisa ou ter capacidade, habilidade, princípios sobre formação contínua fora
aptidão, idoneidade.
27

Livro do Professor
do âmbito escolar; exigência de superar automóvel. Mesmo tendo consciência

a qualificação profissional precária e dessa série, não conseguiremos encontrar
mecânica; necessidade de rever o ensino algo que possa traduzir a totalidade
disciplinar e o saber academicista ou desses atos.
descontextualizado; preocupação de Por outro lado, do ponto de vista
colocar o aluno no centro do processo externo, quando observamos os outros,
educativo, como sujeito ativo. conseguimos, com relativa facilidade,
A intervenção desses elementos sobre a concluir sobre a existência desta ou
problemática da formação e daquela competência. Ao fazê-lo, no
aprendizagens profissionais, além da entanto, ultrapassamos a mera descrição
necessidade de novas adaptações ao dos atos, significando que aquela série
mundo do trabalho e da escola, de ações é interpretada na sua totalidade
acabaram por proporcionar uma ou no conjunto que a traduz. Supõe-se,
apropriação geral da noção de portanto, que há algo interno que
competência em vários países, articula e rege as ações, possibilitando
provavelmente na expectativa de que sejam eficazes e adequadas à
atribuir novos significados às noções situação, conforme descreve Rey (1998).
que ela pretende substituir nas Ao observarmos um bom patinador no
atividades pedagógicas. Mais gelo, diz o autor, bastam alguns minutos
especificamente, no entanto, esse para concluirmos se ele sabe patinar, ou
referencial sobre a noção de seja, se ele é competente. Em outras
competência tem-se imposto nas palavras, interpretamos que a sucessão
escolas, inicialmente, por meio da de seus movimentos não é meramente
avaliação. Essas inter-relações uma série qualquer, mas que ela é
produziram uma contaminação de coordenada por um princípio dominado
significados, e o termo competência pelo sujeito, residindo aí sua
passou a ser usado com freqüência no competência. Ao atribuirmos esse poder
sistema educativo, no qual ganhou ao patinador, assumimos a idéia de que
outras conotações. seus futuros movimentos serão
Dado esse caráter polissêmico da noção previsíveis, no sentido de que serão
de competência, trata-se de precisar em adequados e eficazes.
que sentido pretendemos utilizá-la. O que o autor quer mostrar é que a
A NOÇÃO DE COMPETÊNCIA: A QUE SE APLICA? competência revela um poder interno e se
define pela anterioridade, ou seja, a
Embora o uso do termo competência seja
possibilidade de enfrentar uma situação
comum, é difícil precisar o seu
problema está, de certa forma, dada pelas
significado. Se tentarmos descrever uma
condições anteriores do sujeito. Ao
das nossas competências,
mesmo tempo, essa previsibilidade dá-nos
conseguiremos, no máximo, elencar uma
a impressão de continuidade. A
série de ações que realizamos para
competência não é algo passageiro, é algo
enfrentar uma situação-problema, tais
que parece decorrer natural e
como uma análise de fenômeno, um ato
espontaneamente.
de leitura, ou a condução de um
28

Em síntese, a idéia de competência mais restrito, competência é tida como

retrata dois aspectos antagônicos mas comportamento objetivo e observável e
solidários, que podem ser traduzidos de que se realiza como resposta a uma
várias maneiras: interno e externo, situação. Essa forma de entender
implícito e explícito, o da visibilidade competência se manifesta no campo da
social e o da organização interna, o que formação profissional quando pressupõe
na ação é observável e mais que a cada posto de trabalho
estandardizado e o que é mais ligado ao corresponda uma lista de tarefas
sujeito, portanto, singular e obscuro. específicas. No campo da educação, essa
Esses aspectos podem ser encontrados noção de competência comparece
nas teorias que fundamentam a noção associada à pedagogia por objetivos
de competência, as quais abordam essa (Bloom,1972 e Mager, 1975), cuja idéia
questão em dois pólos opostos. No central é a de que, para ensinar, é preciso
primeiro pólo, estão as teorias que usam traçar objetivos claros e específicos, sem
o termo competência como referência a ambigüidades, de tal forma que o
atos observáveis ou comportamentos professor possa prever que seus alunos
específicos, empregados, sobretudo, na serão capazes de alcançá-los. Para tanto,
formação profissional e na concepção da as competências devem-se confundir
aprendizagem por objetivos. No segundo com o comportamento observável. Tal
pólo encontram-se, autores que concepção está, portanto, diretamente
analisam as capacidades do sujeito associada às idéias de performance e
resultantes de organização interna e eficácia (Ropé e Tanguy, 1997), bem
não-observáveis diretamente: como acaba por fomentar a elaboração
de listagens de comportamentos
exigíveis em diferentes níveis dos
Assim, tanto a competência é concebida
programas de ensino. Na medida em que
como uma potencialidade invisível,
a competência se reduz ao
interna, pessoal, susceptível de engendrar
comportamento observável, elimina-se
uma infinidade de “performances”, tanto
do mesmo o seu caráter implícito.
ela se define por componentes
observáveis, exteriores, impessoais. Esse mesmo modelo, no sentido mais
(Rey, 1998, p.26) amplo, toma uma outra forma: a da ação
funcional, ou seja, ser competente não é
apenas responder a um estímulo e realizar
Esses dois sentidos do termo
uma série de comportamentos, mas,
competência são usados e convivem
sobretudo, ser capaz de, voluntariamente,
alternadamente, tanto no mundo do
selecionar as informações necessárias para
trabalho como no mundo da escola.
regular sua ação ou mesmo inibir as
A concepção de competência como reações inadequadas. Na realidade, essa
comportamento é a manifestação de um concepção pretende superar a falta de
modelo teórico que guarda parentesco sentido produzida na consecução de
com o behaviorismo, o qual tem objetivos. Ao introduzir a idéia de
embasado o uso da noção de finalidade ao comportamento, fato que a
competência de duas formas. No sentido pedagogia por objetivos desconsiderou,
29

Livro do Professor
acentua-se que, subjacente a um conhecimento é possível sem haver uma

comportamento observável, consciente ou organização interna.
automaticamente, existe uma organização Para Chomsky (1983), a competência
realizada pelo sujeito, da qual se depreende lingüística não se confunde com
a existência de um equipamento cognitivo comportamento. Ela deriva de um poder
que organiza, seleciona e hierarquiza seus interno (núcleo fixo inato), expresso por
movimentos em função dos objetivos a um conjunto de regras do qual o sujeito
alcançar. Em outras palavras, a não tem consciência, que possibilita a
competência não é redutível aos produção de comportamentos lingüísticos.
comportamentos estritamente objetivos,
Na abordagem piagetiana, a idéia de
mas está vinculada sempre a uma atividade
competência está atrelada à organização
humana que, ligada à escola ou ao
interna e complexa das ações humanas,
trabalho, caracteriza-se por sua relação
mas, diferentemente de Chomsky,
funcional a tais atividades definidas
Piaget (1983) discorda do caráter inato
socialmente.
dessa organização e enfatiza a sua
Em síntese, embora existam essas dimensão adaptativa. Sustenta que a
variações no sentido de competência progressividade do desenvolvimento
como comportamento, em ambos ela é mental se apóia em um processo de
vista no seu caráter específico e construção, no qual interferem o
determinado: no primeiro caso, é limitada mínimo de “pré-formações” e o máximo
pelos estímulos que a provocam; no de auto-organização. A competência,
segundo, pela função que apresenta na nesse sentido, diz respeito à construção
situação ou contexto que a exige. endógena das estruturas lógicas do
Como já dissemos, um outro pólo da pensamento que, à medida que se
análise teórica sobre competência não a estabelecem, modificam o padrão da
identifica com comportamento; ela é ação ou adaptação ao meio e que
considerada como uma capacidade geral Malglaive (1995) denomina de estrutura
que torna o indivíduo apto a das capacidades.
desenvolver uma variedade de ações A abordagem piagetiana, como
que respondem a diferentes situações. sabemos, teve como preocupação
Competência, nesse caso, refere-se ao mostrar as estruturas lógicas como
funcionamento cognitivo interno do universais. Mesmo afirmando que todo
sujeito. Essa concepção de competência conhecimento se dá em um contexto
foi formulada em contraposição à idéia social e descrevendo o papel da
de competências como comportamentos interação entre os pares como
específicos, a partir das teorias de fundamental para o desenvolvimento do
competência lingüística, proposta por raciocínio lógico, essa investigação não
Chomsky (1983) e da auto-regulação do privilegiou a forma de atuação do
desenvolvimento cognitivo, proposta contexto social ou das situações no
por Piaget (1976). Embora divergindo a desenvolvimento das competências
respeito da origem das competências cognitivas. A partir de contribuições da
cognitivas, esses autores têm em sociologia e da antropologia, vários
comum a crença de que nenhum estudos têm sido realizados no sentido
30

de mostrar as relações entre contextos mentais permite colocar a aprendizagem

culturais e cognição, conforme descrito no contexto das operações e não apenas
por Dias (2002). Nesse sentido, vale no do conhecimento ou do
ressaltar as reflexões de Bordieu (1994), comportamento.
quando afirma que a compreensão não é
só o reconhecimento de um sentido C. AS COMPETÊNCIAS DO ENEM
invariante, mas a apreensão da NA PERSPECTIVA DAS AÇÕES OU
singularidade de uma forma que só OPERAÇÕES DO SUJEITO
existe em um contexto particular.
COMPETÊNCIAS COMO MODALIDADES Considerando as características do
ESTRUTURAIS DA INTELIGÊNCIA mundo de hoje, quais os recursos
cognitivos que um jovem, concluinte da
A ressignificação da noção competência
educação básica, deve ter construído ao
– nos meios educacionais e acadêmicos –
longo desse período? A matriz de
está muito provavelmente atrelada à
competências do ENEM expressa uma
necessidade de encontrar um termo que hipótese sobre isso, ou seja, assume o
substituísse os conceitos usados para pressuposto de que os conhecimentos
descrever a inteligência, os quais se adquiridos ao longo da escolarização
mostraram inadequados, quer pela deveriam possibilitar ao jovem domínio
abrangência, quer pela limitação. No de linguagens, compreensão de
primeiro caso, sabemos das dificuldades fenômenos, enfrentamento de situações-
de trabalhar com termos como problema, construção de argumentações
capacidade para expressar aquilo que e elaboração de propostas. De fato, tais
deve ser objeto de desenvolvimento, até competências parecem sintetizar os
mesmo porque essa idéia carrega principais aspectos que habilitariam um
conotações de aptidão, difíceis de jovem a enfrentar melhor o mundo, com
precisar. No segundo caso, a vinculação todas as suas responsabilidades e
da inteligência à aquisição de desafios. Quais são as ações e operações
comportamentos produziu uma visão valorizadas na proposição das
pontual e molecular que reduz o competências da matriz? Como analisar
desenvolvimento a uma listagem de esses instrumentos cognitivos em sua
saberes a serem adquiridos. Como função estruturante, ou seja,
contraponto, a noção de competência organizadora e sistematizadora de um
surgiu no discurso dos profissionais da pensar ou um agir com sentido
educação como uma forma de individual e coletivo? Em outras
circunscrever o termo capacidade e palavras, o que significam dominar e
alargar a idéia de saber específico. fazer uso (competência I); construir,
aplicar e compreender (competência II);
Nesse sentido, o construtivismo selecionar, organizar, relacionar,
contribuiu, de forma significativa, para interpretar, tomar decisões, enfrentar
pensar a inteligência humana como (competência III); relacionar, construir
resultado de um processo de adaptações argumentações (competência IV);
progressivas, portanto não polarizado no recorrer, elaborar, respeitar e considerar
meio ou nas estruturas genéticas. Por (competência V)?
outro lado, o conceito de operações
DOMINAR E FAZER USO
31

Livro do Professor
A competência I tem como propósito tal competência requer do sujeito, por

avaliar se o estudante demonstra exemplo, a capacidade de transitar da
dominar a norma culta da Língua
“dominar linguagem matemática para a linguagem
Portuguesa e fazer uso da linguagem da história ou da geografia, e dessas,
matemática, artística e científica”. para a linguagem artística ou para a
Dominar, segundo o dicionário, significa linguagem científica. Significa ainda ser
“exercer domínio sobre; ter autoridade competente para reconhecer diferentes
ou poder em ou sobre; ter autoridade, tipos de discurso, sabendo usá-los de
ascendência ou influência total sobre; acordo com cada contexto.
prevalecer; ocupar inteiramente”. Fazer O domínio de linguagens implica um
uso, pois, é sinônimo de dominar, já que sujeito competente como leitor do
expressa ou confirma seu exercício na mundo, ou seja, capaz de realizar
prática. leituras compreensivas de textos que se
Dominar a norma culta tem significados expressam por diferentes estilos de
diferentes nas tarefas de escrita ou comunicação, ou que combinem
leitura avaliadas. No primeiro caso, o conteúdos escritos com imagens,
domínio da norma culta pode ser charges, figuras, desenhos, gráficos, etc.
inferido, por exemplo, pela correção da Da mesma forma, essa leitura
escrita, coerência e consistência textual, compreensiva implica atribuir
manejo dos argumentos em favor das significados às formas de linguagem que
idéias que o aluno quer defender ou são apropriadas a cada domínio de
criticar. Quanto às tarefas de leitura, tal conhecimento, interpretando seus
domínio pode ser inferido pela conteúdos. Ler e interpretar significa
compreensão do problema e atribuir significado a algo, apropriar-se
aproveitamento das informações de um texto, estabelecendo relações
presentes nos enunciados das questões. entre suas partes e tratando-as como
elementos de um mesmo sistema.
Além disso, sabemos hoje que o mundo
contemporâneo se caracteriza por uma Dominar linguagens implica ainda um
pluralidade de linguagens que se sujeito competente como escritor da
entrelaçam cada vez mais. Vivemos na realidade que o cerca, um sujeito que
era da informação, da comunicação, da saiba fazer uso dessa multiplicidade de
informática. Basicamente, todas as linguagens para produzir diferentes
nossas interações com o mundo social, textos que comuniquem uma proposta,
com o mundo do trabalho, com as uma reflexão, uma linha de
outras pessoas, enfim, dependem dessa argumentação clara e coerente.
multiplicidade de linguagens para que Por isso, dominar linguagens implica
possamos nos beneficiar das tecnologias trabalhar com seus conteúdos na
modernas e dos progressos científicos, dimensão de conjecturas, proposições e
realizar coisas, aprender a conviver, etc. símbolos. Nesse sentido, a linguagem
Dominar linguagens significa, portanto, constitui o instrumento mais poderoso
saber atravessar as fronteiras de um de nosso pensamento, à medida que ela
domínio lingüístico para outro. Assim, lhe serve de suporte.
32

Por exemplo, pensar a realidade como Hoje, a compreensão de fenômenos,

um possível, como é próprio do naturais ou não, tornou-se
raciocínio formal (Inhelder e Piaget, imprescindível ao ser humano que se
1955), seria impraticável sem a quer participante ativo de um mundo
linguagem, pois é ela que nos permite complexo, onde coabitam diferentes
transitar do presente para o futuro, povos e nações, marcados por uma
antecipando situações, formulando enorme diversidade cultural, científica,
proposições. Não seria possível também política e econômica e, ao mesmo tempo,
fazer o contrário, transitar do presente desafiados para uma vida em comum,
para o passado, que só existe como uma interdependente ou globalizada.
lembrança ou como uma imagem. Da Compreender fenômenos significa ser
mesma maneira, raciocinar de uma competente para formular hipóteses ou
forma hipotético-dedutiva também idéias sobre as relações causais que os
depende da linguagem, pois sem ela não determinam. Ou seja, é preciso saber que
teríamos como elaborar hipóteses, idéias um dado procedimento ou ação provoca
e suposições que existem apenas em um uma certa conseqüência. Assim, se o
plano puramente representacional e desmatamento desenfreado ocorre em
virtual. todo o planeta, é possível supor que esse
CONSTRUIR, APLICAR E COMPREENDER evento, em pouco tempo, causará
desastres climáticos e ecológicos, por
O objetivo da competência II é avaliar se o
construir e aplicar exemplo.
estudante sabe “construir
conceitos das várias áreas do Além disso, a compreensão de
conhecimento para a compreensão de fenômenos requer competência para
fenômenos naturais, de processos formular idéias sobre a explicação causal
histórico-geográficos, da produção de um certo fenômeno, atribuindo
tecnológica e das manifestações sentido às suas conseqüências. Voltando
artísticas”. ao exemplo anterior, não basta ao sujeito
construir e aplicar seus conhecimentos
Construir é uma forma de domínio que,
para saber que as conseqüências do
no caso das questões das provas, pode
desmatamento serão os desastres
implicar o exercício ou uso de muitas
climáticos ou ecológicos, mas é preciso
habilidades: estimar, calcular,
também que ele compreenda as razões
relacionar, interpretar, comparar, medir,
que esse fato implica, ou seja, que
observar etc. Em quaisquer delas, o
estabeleça significados para ele.
desafio é realizar operações que
possibilitem ultrapassar uma dada Para isso, é necessário determinar
situação ou problema, alcançando relações entre as coisas, inferir sobre
aquilo que significa ou indica sua elementos que não estão presentes em
conclusão. Construir, portanto, é uma situação, mas que podem ser
articular um tema com o que qualifica deduzidos por aquelas que ali estão,
sua melhor resposta ou solução, tendo trabalhar com fórmulas e conceitos.
que, para isso, realizar procedimentos Nesse sentido, também fazemos uso da
ou dominar os meios requeridos, linguagem, à medida que formulamos
considerando as informações hipóteses para compreender um
disponíveis na questão. fenômeno ou fato, ou elaboramos
33

Livro do Professor
conjecturas, idéias e suposições em um problema ou questão, seja encontrar

relação a ele. Nesse jogo de elaborações ou produzir sua solução, a ação ou
e suposições, trabalhamos, do ponto de operação que se quer destacar é a de
vista operatório, com a lógica da saber enfrentar, sendo o resolver, por
combinatória (Inhelder e Piaget, 1955), a certo, seu melhor desfecho, mas não o
partir da qual é preciso considerar, ao único. Ou seja, o enfrentamento de
mesmo tempo, todos os elementos situações-problema relaciona-se à
presentes em uma dada situação. capacidade de o sujeito aceitar desafios
que lhe são colocados, percorrendo um
SELECIONAR, ORGANIZAR, RELACIONAR,
processo no qual ele terá que vencer
INTERPRETAR, TOMAR DECISÕES E ENFRENTAR
obstáculos, tendo em vista um certo
SITUAÇÕES-PROBLEMA
objetivo. Quando bem sucedido nesse
O objetivo da Competência III é avaliar enfrentamento, pode-se afirmar que o
selecionar
selecionar, organizar
se o aluno sabe “selecionar organizar, sujeito chegou à resolução de uma
relacionar
relacionar, interpretar dados e
situação-problema. Produzir resultados
informações representados de diferentes com êxito no contexto de uma situação-
formas, para tomar decisões e enfrentar problema pressupõe o enfrentamento da
situações-problema
situações-problema”.
mesma. Pressupõe encarar dificuldades e
Talvez a melhor forma de analisarmos as obstáculos, operando nosso raciocínio
ações ou operações avaliadas nessa dentro dos limites que a situação nos
competência seja fazermos a leitura em coloca. Tal como em um jogo de
sua ordem oposta: enfrentar uma tabuleiro, enfrentar uma partida
situação-problema implica selecionar, pressupõe o jogar dentro das regras − o
organizar, relacionar e interpretar dados jogar certo −, sendo as regras aquilo que
para tomar uma decisão. De fato, assim nos fornecem as coordenadas e os
é. Tomar uma decisão implica fazer um limites para nossas ações, a fim de
recorte significativo de uma realidade, às percorrermos um certo caminho durante
vezes, complexa, ou seja, que pode ser a realização da partida. No entanto, nem
analisada de muitos modos e que pode sempre o jogar certo é o suficiente para
conter fatores concorrentes, no sentido que joguemos bem, isto é, para que
de que nem sempre é possível dar vençamos a partida, seja porque nosso
prioridade a todos eles ao mesmo adversário é mais forte, seja porque não
tempo. Selecionar é, pois, recortar algo soubemos, ao longo do caminho,
destacando o que se considera colocar em prática as melhores
significativo, tendo em vista um certo estratégias para vencer. (Macedo, Petty
critério, objetivo ou valor. Além disso, e Passos, 2000)
tomar decisão significa organizar ou Da mesma maneira, uma situação-
reorganizar os aspectos destacados, problema traz um conjunto de
relacionando-os e interpretando-os em
informações que, por analogia, funcionam
favor do problema enfrentado. como as regras de um jogo, as quais, de
Reparem que enfrentar uma situação- maneira explícita, impõem certos limites
problema não é o mesmo que resolvê- ao jogador. É a partir desse dado real − as
la. Ainda que nossa intenção, diante de regras − que o jogador enfrentará o jogo,
34

mobilizando seus recursos, selecionando Consideremos que convencer significa

certos procedimentos, organizando suas vencer junto, ou seja, implica aceitar
ações e interpretando informações para que o melhor argumento pode vir de
tomar decisões que considere as melhores muitas fontes e que nossas idéias de
naquele momento. partida podem ser confirmadas ou
Tendo em vista esses aspectos, o que a reformuladas total ou parcialmente no
competência III busca valorizar é a jogo das argumentações. Assim, saber
possibilidade de o sujeito, ao enfrentar argumentar é convencer o outro ou a si
situações-problema, considerar o real mesmo sobre uma determinada idéia.
como parte do possível (Inhelder e Convencer o outro porque, quando
Piaget, 1955). Se, para ele, as adotamos diferentes pontos de vista
informações contidas no problema forem sobre algo, é preciso elaborar a melhor
consideradas como um real dado que justificativa para que o outro apóie
delimita a situação, pode transformá-lo nossa proposição. Convencer a si
em uma abertura para todos os possíveis. mesmo porque, ao tentarmos resolver
um determinado problema,
RELACIONAR E ARGUMENTAR
necessitamos relacionar informações,
O objetivo da competência IV é verificar conjugar diversos elementos presentes
relacionar informações,
se o aluno sabe “relacionar em uma determinada situação,
representadas em diferentes formas, e estabelecendo uma linha de
conhecimentos disponíveis em situações argumentação mental sem a qual se
concretas, para construir torna impossível uma solução
argumentação consistente”. satisfatória. Nesse sentido, construir
Relacionar refere-se às ações ou argumentação significa utilizar a melhor
operações por intermédio das quais estratégia para apresentar e defender
pensamos ou realizamos uma coisa em uma idéia; significa coordenar meios e
função de outra. Ou seja, trata-se de fins, ou seja, utilizar procedimentos que
coordenar pontos de vista em favor de apresentem os aspectos positivos da
uma meta, por exemplo, defender ou idéia defendida.
criticar uma hipótese ou afirmação. Para Por isso, a competência IV é muito
isso, é importante sabermos descentrar, valorizada no mundo atual, tendo em
ou seja, considerar uma mesma coisa vista que vivemos tempos nos quais as
segundo suas diferentes perspectivas ou sociedades humanas, cada vez mais
focos. Dessa forma, a conclusão ou abertas, perseguem ideais de democracia
solução resultante da prática relacional e de igualdade. Em certo sentido, a vida
expressa a qualidade do que foi analisado. pede o exercício dessa competência, pois
Saber construir uma argumentação hoje a maioria das situações que
consistente significa, pois, saber mobilizar enfrentamos requerem que saibamos
conhecimentos, informações, experiências considerar diversos ângulos de uma
de vida, cálculos, etc. que possibilitem mesma questão, compartilhando
defender uma idéia que convence alguém diferentes pontos de vista, respeitando as
(a própria pessoa ou outra com quem diferenças presentes no raciocínio de
sediscute) sobre alguma coisa. cada pessoa. De certa forma, essa
35

Livro do Professor
competência implica o exercício da articular meios e fins, pensar e atuar

cidadania, pois argumentar hoje se refere coletivamente.
a uma prática social cada vez mais A sociedade contemporânea diferencia-
necessária, à medida que temos que se de outras épocas por suas
estabelecer diálogos constantes, transformações contínuas em todos os
defender idéias, respeitar e compartilhar setores. Dessa maneira, as mudanças
diferenças. sociais, políticas, econômicas, científicas
RECORRER, ELABORAR, RESPEITAR E CONSIDERAR e tecnológicas de hoje se fazem com
uma rapidez enorme, exigindo do
O objetivo da competência V é valorizar a
homem atualizações constantes. Não
recorrer aos
possibilidade de o aluno “recorrer
mais é possível que solucionemos os
conhecimentos desenvolvidos na escola
problemas apenas recorrendo aos
para elaboração de propostas de
conhecimentos e à sabedoria que a
intervenção solidária na realidade,
respeitando os valores humanos e humanidade acumulou ao longo dos
considerando a diversidade tempos, pois estes muitas vezes se
mostram obsoletos. A realidade nos
sociocultural”.
impõe hoje a necessidade de criar novas
Recorrer significa levar em conta as
soluções a cada situação que
situações anteriores para definir ou enfrentamos, sem que nos pautemos
calcular as seguintes até chegar a algo apenas por esses saberes tradicionais.
que tem valor de ordem geral. Uma das
Por essas razões, elaborar propostas é
conseqüências, portanto, da recorrência é
uma competência essencial, à medida
sua extrapolação, ou seja, podermos
que ela implica criar o novo, o atual.
aplicá-la a outras situações ou encontrar
Mas, para criar o novo, é preciso que o
uma fórmula ou procedimento que
sujeito saiba criticar a realidade,
sintetiza todo o processo. Elaborar
compreender seus fenômenos,
propostas, nesse sentido, é uma forma de
comprometer e envolver-se ativamente
extrapolação de uma recorrência. Propor
com projetos de natureza coletiva. Vale
supõe tomar uma posição, traduzir uma
dizer que tal competência exige a
crítica em uma sugestão, arriscar-se a
capacidade do sujeito exercer
sair de um papel passivo. Por extensão,
verdadeiramente sua cidadania, agindo
acarreta a mobilização de novas
sobre a realidade de maneira solidária,
recorrências, tornando-se solidário, isso
envolvendo-se criticamente com os
é, agindo em comum com outras pessoas
problemas da sua comunidade, propondo
ou instituições. Este agir em comum
novos projetos e participando das
implica aprender a respeitar, ou seja,
decisões comuns.
considerar o ponto de vista do outro,
BIBLIOGRAFIA
BLOOM, B. S.; KRATHWHL, D. R.; MASIA, B. Taxionomia de objetos educacionais.
Porto Alegre: Globo, 1972. v. 1. Domínio Cognitivo.
36

BORDIEU, P. A economia das trocas simbólicas. In: ORTIZ, Pierre (Org.). Sociologia.
2. ed. São Paulo: Ática, 1994. p.156-183. (Grandes cientistas sociais; v. 39). Tradução
de Paula Monteiro, Alícia Auzemendi.
BRASIL. Leis etc. Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e
Bases da Educação Nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,
Brasília, DF, v. 134, n. 248, p. 27.833-27.841, 23 dez. 1996. Seção 1.
CHOMSKY, N. A propósito das estruturas cognitivas e de seu desenvolvimento: uma
resposta a Jean Piaget. In: PIATTELLI-PALMARINI, Massimo (Org.). Teorias da
linguagem, teorias da aprendizagem: o debate entre Jean Piaget & Noan Chomsky.
Tradução de Álvaro Alencar. São Paulo: Cultrix: Ed. Universidade São Paulo, 1983.
FERREIRA, A. B. de H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1986. 1.838 p.
INHELDER, B.; PIAGET, J. De la logica del niño a la logica del adolescente. Buenos
Aires: Piados, 1972.
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS. ENEM – Exame
Nacional do Ensino Médio: documento básico, 2000. Brasília, DF, 1999.
ISAMBERT-JAMARTI, V. O apelo à noção de competência na revista L’Orientation
Scolaire et Professionnelle: da sua criação aos dias de hoje. In: ROPÉ, F.; TANGUY,
Lucie (Org.). Saberes e competências: o uso de tais noções na escola e na empresa.
Campinas: Papiros, 1997. p. 103-133. Tradução de Patrícia Chittonni Ramos e equipe
do ILA da PUC/RS.
MACEDO, L; TORRES, M. Z. Lógica operatória e competências do sujeito. In: INSTITUTO
NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS. Certificação de competências
na educação de jovens e adultos: fundamentos. Brasília, DF, 2002. Capítulo 3.
MAGER, R. F. A formação de objetivos de ensino. Porto Alegre: Globo, 1975. 138 p.
Tradução de Casete Ramos com a colaboração de Débora Karam Galarza.
MALGLAIVE, G. Ensinar adultos: trabalho e pedagogia. Porto, Port.: Ed. Porto, 1995.
271p. (Coleção Ciências da Educação; v. 16). Tradução de Maria Luiza Alvares Pereira et al.
PIAGET, J. A equilibração das escrituras cognitivas
cognitivas: problema central do
desenvolvimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. 175 p. (Ciências da Educação). Tradução
de Marion Merlone dos Santos Penna.
______. Fazer e compreender
compreender. São Paulo: Melhoramentos, 1978. 186 p. (Biblioteca
de Educação Melhoramentos). Tradução de Christina Larroude de Paula Leite.
______. Psicogênese dos conhecimentos e seu significado epistemológico. In:
PIATTELLI-PALMARIM, Massimo (Org.). Teorias da linguagem, teorias da
aprendizagem: o debate entre Jean Piaget & Noan Chomsky. São Paulo: Cultrix, 1983.
Tradução de Álvaro Alencar.
37

Livro do Professor
PIAGET, Jean; GARCIA, R. Psicogénesis e história de la ciência. México, DF: Siglo XXI,
1984.
RAMOZZI-CHIAROTTINO, Z. Psicologia e epistemologia genética de Jean Piaget. São
Paulo: EPU, 1988.
REY, B. Les compétences transversales en question
question. Paris: ESF, 1998.
ROPÉ, F. Dos saberes às competências? o caso do francês. In: ROPÉ, Françoise;
TANGUY, Lucie (Org.). Saberes e competências: o uso de tais noções na escola e na
empresa. Campinas: Papirus, 1997. p. 69-100. Tradução de Patrícia Chittoni Ramos e
equipe ILA da PUC/RS.
______. Racionalização pedagógica e legitimidade política. In: ROPÉ, Françoise;
TANGUY, Lucie (Org.). Saberes e competências: o uso de tais noções na escola e na
empresa. Campinas: Papirus, 1997. p. 25-67. Tradução de Patrícia Chittoni Ramos e
equipe ILA da PUC/RS.
38

Ciências — Ensino Fundamental

Maria Teresinha Figueiredo
O papel de Ciências Naturais no Encceja enfrentamento de problemas

está diretamente relacionado à relacionados à sua vida ou quando
relevância social do conhecimento imaginam e elaboram propostas
científico e à importância da articulação possíveis para superação de dificuldades
desses conhecimentos, colaborando do mundo. Portanto, o conhecimento
para que os cidadãos estejam mais bem científico é um elemento chave na
preparados para enfrentar os desafios de cultura geral dos cidadãos.
uma sociedade em mudança contínua. A sociedade tem tomado consciência de
As produções da Ciência e da como é importante o conhecimento
Tecnologia estão intimamente científico na vida diária. Considera-se que
relacionadas às modificações no mundo esse conhecimento é fundamental para a
em que vivemos. São determinantes da tomada de decisões em relação à
qualidade de vida dos povos, estando prevenção e manutenção da saúde
inteiramente relacionadas aos seus individual, familiar e coletiva, bem como
processos políticos, históricos e culturais. para a incorporação de atitudes
É necessário que amplos setores da responsáveis quanto à sexualidade e
população tenham acesso ao paternidade, quanto ao consumo de
conhecimento científico, tanto para materiais, alimentos e objetos adequados
participarem mais ativamente dessas às necessidades e quanto às interações
modificações, como para compreenderem com o ambiente em direção à preservação
os fenômenos observáveis no mundo e e manutenção para o bem comum.
no universo. Devem ainda ter a Os conceitos envolvidos no
oportunidade para se desenvolver como conhecimento científico são produtos de
cidadãos capazes de enfrentar desafios uma elaboração contínua apropriados
intelectuais, obtendo satisfação quando de forma individualizada, considerando
estabelecem relações para o o repertório de vivências e de estruturas
39

Livro do Professor - Ciências Ensino Fundamental
cognitivas de cada cidadão. Adquirir caráter místico do “cientista” e daquilo

conceitos ajuda a compreender o que é “cientificamente comprovado”,
mundo, desde que eles sirvam para apresentando-os como signos de uma
explicar variados contextos vivenciados inquestionável verdade. Ao contrário, o
pelos cidadãos, sejam particulares, conhecimento científico é
como membros de uma comunidade constantemente modificado, ampliado
definida no tempo e no espaço, sejam ou mesmo superado. Propagar a ciência
gerais, como habitantes de um planeta como atividade humana, passível de
que se situa no Universo. erros e subjetividades, favorece a
A aquisição de conceitos científicos é compreensão do seu caráter histórico,
sem dúvida importante, mas não é a dinâmico e motivador – um esforço
única finalidade da aprendizagem coletivo e social para acumular
científica, que deve proporcionar aos conhecimento sobre a natureza.
cidadãos conhecimentos e instrumentos Como a produção do conhecimento
consistentes, para que adquiram científico e tecnológico é constante,
segurança na hora de debater certos suas implicações no cotidiano também
temas da atualidade. Saber interpretar o o são, e os cidadãos necessitam
mundo de forma científica é lançar mão desenvolver habilidades que lhes
de instrumentos de análise objetiva, proporcionem o aprendizado
reconhecendo-se os vários fatores e permanente, com as quais possam
relações que explicam fenômenos elaborar suas visões sobre o mundo,
naturais e cotidianos; é aproveitar refletindo sobre o significado das
informações diversas para explicar as transformações e permitindo o
diferentes manifestações de um mesmo aprimoramento dos valores fundados na
fenômeno. Mas é também saber dignidade e solidariedade humanas.
transferir informações adquiridas e É necessário integrar jovens e adultos
conceitos construídos para novas nesse processo para que participem com
situações, de forma criteriosa. condições eqüitativas às dos cidadãos
Do mesmo modo, como lembram Nieda e que freqüentaram escola em idade
Macedo (1997), não se pode dissimular o adequada. Para isso, é importante que
papel de instrumento de opressão que a se considerem os estudantes jovens e
ciência pode adquirir em determinadas adultos do Ensino Fundamental como
situações, o que coloca a necessidade da capazes, respeitando suas diferenças,
educação crítica para seu enfrentamento. especificidades e necessidades. Muitos
(p. 22) Propagar o conhecimento deles são trabalhadores, com larga
científico-objetivo como o único experiência profissional; outros, alijados
possível para explicar os fenômenos da escola com pouca idade, mantêm a
naturais, e o cientista como cidadão expectativa de (re)inserção no mercado
neutro, acima de qualquer interesse de trabalho qualificado.
individual ou político, pode reforçar Conforme afirmam os Parâmetros em
tanto o sentimento de impotência dos Ação (Brasil, 1999), do ponto de vista
cidadãos para a participação na socioeconômico, o público dos
resolução de problemas sociais, como o programas da EJA constitui, no geral,
40

III. A Área de ciência da natureza no ENCCEJA
um grupo bastante homogêneo: são Na educação formal, para aprender

trabalhadores com ocupação pouco Ciências Naturais é oferecido para jovens
qualificada, recebem baixos salários ou e adultos um ensino que, habitualmente,
estão desempregados, moram em segue o mesmo caminho daquele
condições precárias etc. Já do ponto de destinado aos outros estudantes, ou seja,
vista sociocultural, apresentam os mesmos conteúdos estudados nos
características bastante heterogêneas, cursos superiores são simplificados e
pois trazem consigo uma bagagem de abordados linearmente. A concepção que
conhecimentos adquiridos ao longo de tem prevalecido na prática das escolas é
histórias de vida bastante diversas. Um a passagem de um conjunto definido e
homem agricultor nos seus quarenta imutável de informações, encadeadas do
anos, por exemplo, apresenta ponto de vista da lógica do acúmulo de
componentes culturais bem diversos de conhecimentos. Baseia-se na passividade
um jovem trabalhador da construção dos estudantes que recebem informações
civil. (Brasil, 1999, p. 22) codificadas como necessárias para o
Embora de forma diversificada, jovens e sucesso nos exames e que permitem o
adultos, a partir de sua própria vivência, prosseguimento dos estudos. São
sabem relacionar causas e efeitos de conteúdos desprovidos de significado
fenômenos naturais corriqueiros, sua para as experiências de vida, abordados
regularidade em função do tempo ou de de forma fragmentada. Permanecem
outras condições, sabem fazer funcionar desvinculados dos jovens e adultos, não
vários aparelhos e objetos que são constituindo instrumentos para sua
produtos da tecnologia, reconhecem as inserção participativa nas mudanças do
condições de funcionamento do seu mundo contemporâneo.
próprio corpo, identificam uma O Encceja baseia-se em concepções de
variedade de seres vivos em seus aprendizagem que se opõem a essas,
ambientes, selecionam materiais em desenvolvidas nas últimas décadas no
função da sua utilidade, interpretam Brasil e no mundo.
informações básicas sobre a preservação Desde os anos sessenta, é forte a crítica à
da saúde e da vida. Ainda que esparsos e, aprendizagem mecânica e repetitiva de
muitas vezes, desarticulados, são saberes Ciências, dada a ineficácia de seus
que devem ser levados em conta para resultados. As propostas educacionais e
sua aprendizagem de ciências. curriculares dos últimos vinte anos,
O PAPEL DA APRENDIZAGEM elaboradas por educadores que refletem
NA AVALIAÇÃO sobre a prática pedagógica, consideram que
aprender significa compreender e, para
O Encceja é um instrumento de
isso, é condição indispensável estabelecer
avaliação, um momento especial no
relações significativas com novos
processo de formação de jovens e
conteúdos a partir do que já se sabe. Além
adultos que realizam experiências de
disso, essas propostas apontam para o
aprendizagem de forma independente
cuidado com a aprendizagem superficial
daquela oferecida pela educação regular,
dos conceitos se não se levarem em conta
embora nela se apóiem em termos
outras variáveis, como as afetivas e sociais.
curriculares e de materiais didáticos.
41

De acordo com os PCN para Ciências científicos, desenvolvidos

Naturais (Brasil, 1998), para pensar sobre concomitantemente a valores, atitudes e
o currículo e sobre o ensino de Ciências procedimentos (ou habilidades), sendo
Naturais o conhecimento científico é uma alternativa à visão acumulativa de
fundamental, mas não suficiente. É conteúdos estratificados.
essencial considerar o desenvolvimento
CONTEÚDOS DO ENCCEJA
cognitivo dos estudantes, relacionado às
suas experiências, sua idade, sua Em conformidade com a concepção de
aprendizagem ativa do estudante que deve
identidade cultural e social, e os
diferentes significados e valores que as ser sujeito de seu próprio processo de
Ciências Naturais podem ter para eles, conhecimento, exames de avaliação não
devem ter como meta a aferição da
para que a aprendizagem seja
significativa. (ibid., p.27) capacidade de memorização de conteúdos
ou de operação de meros raciocínios
O que se coloca atualmente como
lógicos sobre conteúdos sem significado. O
preocupação central para a aprendizagem
Encceja estabelece, assim, como objetos de
é que os conteúdos de Ciências Naturais
avaliação, as competências e habilidades
necessitam ser organizados em torno de
desenvolvidas pelos estudantes, a partir de
problemas concretos, próximos dos
conteúdos científicos contextualizados em
estudantes, e que sejam relevantes para
suas vivências, permitindo compreensão
sua vida pessoal e comunitária. Além
ampla dos fenômenos naturais e das
disso, é necessário selecionar um número
produções tecnológicas.
limitado de conceitos, levar em conta a
aquisição de procedimentos e atitudes Contextualizar os conteúdos de Ciências,
não significa usar os exemplos do
para interpretar os fenômenos de forma
mais criteriosa do que o pensamento cotidiano, da vida e do mundo, para
cotidiano, provocar contínuas reflexões ilustrar o conhecimento científico, mas
ao contrário, significa lançar mão do
sobre as concepções envolvidas na
interpretação dos fenômenos e criar um conhecimento científico acumulado para
ambiente de respeito e de valorização das compreender os fenômenos naturais,
conhecer o mundo, o ambiente, para
experiências de jovens e adultos para sua
aprendizagem, o que facilita a motivação, compreender o próprio corpo, a dinâmica
o aprofundamento, a autonomia e a auto- da natureza, do céu, da Terra...
estima. Assim, tem-se fortalecido muito a São valorizados os conteúdos necessários
importância do contexto para a para que os cidadãos interpretem as
aprendizagem, de modo que o conteúdo transformações do ambiente e ampliem
faça sentido para o estudante. Para sua compreensão sobre as condições
oferecer contexto ao estudo de necessárias para a saúde e a sexualidade,
determinado assunto, conjuntos de no âmbito individual e coletivo. São
conteúdos são organizados em temas de questões do ambiente e da saúde,
trabalho que, conforme a Proposta fortemente vinculadas ao
Curricular para a Educação de Jovens e desenvolvimento econômico-social e que
Adultos (2002, p. 93), são contextos consideram a não-degradação do planeta,
aglutinadores de fatos e conceitos nas quais são valorizadas mudanças nos
42

modos de produção e de consumo no sumários de livros de Ensino

sentido ético para as interações entre o ser Fundamental, de Ensino Médio, de
humano e a natureza. graduação de áreas biológicas ou pós-
É necessário estabelecer relações entre graduação. Mas o que se pretende em
os recursos minerais e energéticos, os cada segmento? O que é levado em
combustíveis, as matas, os ciclos de conta sobre as necessidades dos
materiais e os seres vivos, para que as estudantes para aprendizagem sobre
intervenções humanas no ambiente células no ensino fundamental? Em vez
ocorram de forma a não o depredar, de se considerar as células como o
como base do desenvolvimento objeto de estudo, é mais significativo
sustentável. Devem ser desenvolvidos abordar a existência e a variedade de
argumentos para mudanças nos modos células no contexto do funcionamento
de consumo, valorizando-se as atitudes dos organismos, na importância da sua
individuais e coletivas adequadas em descoberta somente após a invenção do
relação aos materiais consumidos nos microscópio ou na fecundação das
alimentos, no vestuário, na construção células reprodutoras.
de casas, nos transportes e aqueles Considera-se também que, no decorrer da
descartados no lixo. história da humanidade, teorias e
Em relação à saúde, são privilegiadas as conceitos científicos aceitos por muitos
atitudes responsáveis e solidárias no anos são revistos ou superados a partir de
sentido da expansão das condições de novos conhecimentos; outros são
saúde física, mental e ambiental, através ampliados ou até mesmo retomados.
da compreensão das bases de uma Atualmente, a Ciência é concebida como
alimentação adequada; da co- um corpo de conhecimentos que se
responsabilidade na procriação e nos desenvolve e dirige a investigação
métodos anticoncepcionais para homens científica, estando em perpétua revisão e
e mulheres; da prevenção de AIDS e reconstrução. Isso confere à Ciência um
outras doenças; das condições humanas caráter dinâmico, mais ainda na
de trabalho e moradia. atualidade, quando muito do
conhecimento produzido é divulgado
Esses conteúdos estão selecionados em
com uma velocidade impressionante,
função dos interesses e necessidade dos
quase instantânea. A Ciência é também
jovens e adultos, lembrando ainda que
uma forma de resolver problemas, um
eles estão inseridos em uma sociedade
empreendimento coletivo que segue
que faz exigências que precisam ser
metodologias variadas. Uma atividade
compreendidas de forma consciente.
que se desenvolve a cada momento
Além disso, os conteúdos consideram os histórico, envolvida e contaminada por
estudantes e os diferentes segmentos de seus valores, sujeita a interesses sociais e
ensino, preocupação que não está particulares, dificilmente mantendo-se
presente em muitos materiais didáticos neutra. Disto decorre o reconhecimento
de Ciências. Por exemplo, se de que é necessário, permanentemente,
considerarmos apenas um tópico – as buscar-se o conhecimento e, sobretudo,
células – podemos encontrá-lo em de que aprender a buscar o conhecimento
43

científico (nos livros, nos jornais, em inadvertidamente e com intenções

biblioteca ou na Internet) é uma totalmente contrárias, a condição de
competência importante a ser ignorância e impedindo uma
desenvolvida por quem aprende Ciências. participação efetiva do cidadão na
Esses são alguns dos pressupostos que resolução de algum problema.
estão expressos nas competências e Por exemplo, para se avaliar a
habilidades do Encceja. São escolhas necessidade da construção de uma
que mudam o foco da abordagem dos usina com energia nuclear, pode-se
conceitos científicos relativizados em supor que seja necessário abordar o
função das prioridades a serem fenômeno das reações de fissão no
avaliadas, embora sejam fundamentais núcleo atômico com conseqüente
para a compreensão de temas relevantes liberação de energia e as conseqüentes
do ponto de vista social e para o degenerações ao nível dos genes, o que
desenvolvimento do estudante. é totalmente inadequado para o Ensino
A questão do rigor nos conceitos da Fundamental. Pode-se supor, por outro
Ciência é muito complexa e ainda lado, que basta comparar a usina
pouco amadurecida, principalmente nuclear a uma termelétrica a carvão, em
para o Ensino Fundamental. Muitas termos da quantidade de energia
vezes se coloca o dilema: como abordar gerada, para a compreensão do
nas avaliações temas relevantes do problema. Seria mais adequado e
ponto de vista social e de compreensão possível ao estudante do Ensino
do mundo, se são necessárias Fundamental avaliar as várias fontes de
compreensões de conceitos complexos? energia da região da usina, a
Para responder a esse dilema, as necessidade de energia adicional, as
contradições são muitas, de várias quantidades de energia geradas por
ordens, e demonstram perspectivas diversos meios e as conseqüências de
diferentes de educadores em relação ao reações nucleares no organismo
estudante. De um lado, os educadores humano e dos demais seres vivos da
que privilegiam o rigor a qualquer custo região, identificando diferenças entre
colocam os estudantes em plano acidentes que geram queimaduras e
subalterno aos conceitos. Isso determina aqueles que geram doenças ou
seleção a priori daqueles poucos mutações degenerativas que serão
estudantes que, por diversas razões, passadas aos descendentes. Tudo isso
conseguem compreendê-los da forma ampliaria seus conceitos de fontes de
mais correta segundo o conhecimento energia, de reações nucleares e de
mais atualizado. Por outro lado, os processos genéticos, não sendo
educadores que se animam com os necessário compreender a teoria
progressos dos estudantes nas relações atômico-molecular e a estrutura dos
que estabelecem, mesmo que seja genes, o que é adequado somente a
consolidando conceitos errôneos, partir do Ensino Médio.
podem comprometer a compreensão do Nesse sentido, a alternativa mais
tema abordado, perpetuando, ainda que adequada para o Ensino Fundamental é
44

aquela que considera o estudante em químicas na medida da necessidade

aproximação ao rigor, abordando para a compreensão de fenômenos do
conceitos em vários contextos e de cotidiano e não para descrever os
variadas formas, apontando caminhos elementos da tabela periódica.
em direção ao rigor, mas sem chegar até
A MATRIZ DE CIÊNCIAS
ele. Isso não significa baratear,
NATURAIS DO ENCCEJA
caricaturar ou vulgarizar os conceitos,
mas saber que o caminho até se chegar A matriz de Ciências Naturais do
Encceja traduz seus objetivos da
ao rigor é longo e árduo. Essa questão
ilustra e corrobora a opção do Encceja aprendizagem em competências
pela matriz de competências e cognitivas gerais e aplicadas a
diferentes conteúdos científicos. Em
habilidades. Assim, são privilegiados
como aspectos importantes: cada competência, as habilidades
explicitam aspectos particulares.
• a abordagem dos seres vivos
O desdobramento das várias
relacionados aos ambientes em que
vivem, utilizando a classificação competências em habilidades significa a
biológica como referência para a articulação entre os saberes científicos
diversos, que incluem: informações e
compreensão da diversidade e das
características adaptativas e não como conceitos envolvidos em fenômenos
objeto em si mesmo; naturais e tecnológicos; procedimentos
para relacionar informações e construir
• o corpo humano em suas relações
conceitos a partir de variadas
com outros seres vivos e com as
linguagens (imagens, esquemas, tabelas,
questões de alimentação, saúde e
gráficos, diferentes tipos de texto...);
sexualidade, abordando os sistemas de
análises de problemas e propostas para
funcionamento necessários para a
cotejar custos e benefícios em favor da
compreensão dos temas, e não um
promoção da saúde coletiva e do
conjunto de aparelhos que funcionam
desenvolvimento sustentável;
de forma autônoma;
valorização de propostas solidárias.
• a abordagem das transformações e
Claro que é difícil corresponder à grande
dos fenômenos físicos, seus elementos
diversidade de interesses, percursos
e suas manifestações em produtos da
escolares, pontos de partida e contextos
tecnologia e em outras situações do
de alunos de um universo tão abrangente
cotidiano (incluindo o conhecimento
e diferenciado como é o público da EJA.
do Universo), utilizando fórmulas
O exame organiza os conteúdos em torno
matemáticas quando forem
de situações concretas, próximas e
necessárias para a compreensão do
relevantes para a vida pessoal e
fenômeno e do mundo, e não ao
comunitária do cidadão; propõe a
contrário;
investigação de problemas, através de
• transformações químicas e o procedimentos e atitudes científicas, e,
comportamento de substâncias, ainda de formas criteriosas para se
utilizando nomes populares, traduzidos interpretar os fenômenos naturais e os
em nomes científicos e fórmulas produtos tecnológicos do cotidiano.
45

As competências e habilidades de jovens e adultos, por outro lado, pode

expressam na matriz um caráter geral, ser compreendida com alguma
compatível com princípios de facilidade, pois eles já têm maior
interdisciplinaridade em relação às vivência da passagem do tempo. Não se
ciências naturais, como a física, a espera que os estudantes resolvam
química, a biologia, a geologia, e de controvérsias históricas, mas que
contextualização em relação à realidade comecem a pensar na evolução social de
histórica, social e econômica, alguns problemas científicos, analisando
considerando-se a efetiva relação dos diferentes explicações que tiveram em
cidadãos da EJA com o mundo do diferentes épocas, dependendo do tipo
trabalho. Nesse sentido, o tema de sociedade, das condições econômicas,
específico do trabalho, em suas relações do regime político, das crenças
com as tecnologias e a vida, é religiosas; que comecem a valorizar mais
especificamente tratado. As as perguntas e que relativizem melhor as
competências são aprendizados verdades científicas. É necessário que os
construídos, que só se revelam como tal estudantes se aproximem da idéia de que
(isto é, como aprendizagem) quando a Ciência é um processo em contínua
aquele que aprendeu é capaz de evolução e construção, gerado a partir de
mobilizar os conhecimentos em uma problemas que mostram uma busca
situação real. É por essa razão (porque constante para a interpretação do
só se aprende e só se percebe o mundo, o que evidencia a grandeza
aprendido na situação) que o contexto e desse empreendimento humano.
a interdisciplinaridade são essenciais. 2. Compreender conhecimentos
As competências em Ciências Naturais científicos e tecnológicos como meios
são as que se seguem. para suprir necessidades humanas,
1. Compreender a ciência como identificando riscos e benefícios de suas
atividade humana, histórica, associada a aplicações.
aspectos de ordem social, econômica, É muito importante perceber os riscos e
política e cultural. os benefícios das práticas científico-
A história da Ciência contribui para tecnológicas, desenvolvendo uma
explicitar sua dimensão humana e opinião cada vez mais fundamentada a
entender seu envolvimento com respeito da utilização de determinadas
interesses pessoais, políticos, éticos e tecnologias, inclusive podendo optar
culturais; amplia a compreensão dos conscientemente por elas.
conteúdos científicos e lhes dá Sem dúvida, os avanços da ciência e da
significado. Não se trata de apresentar tecnologia, especialmente nos dois
uma caricatura da história da Ciência, séculos passados, foram extraordinários,
mas uma proposição transversal que trazendo inúmeros benefícios para a
contextualiza vários conhecimentos humanidade. Mas, ao mesmo tempo em
científicos. Se, por um lado, a história da que ocorrem tantas transformações e o
Ciência não é um conteúdo que mundo avança, essas mesmas
normalmente faz parte da cultura geral conquistas trazem novos problemas.
46

Nesse sentido, espera-se que o 4. Compreender a saúde como bem

estudante seja capaz de perceber as pessoal e ambiental que deve ser
vantagens e desvantagens dos promovido por meio de diferentes
conhecimentos científicos e suas agentes, de forma individual e coletiva.
aplicações, seus benefícios e riscos, Saúde é um bem pessoal e ambiental, que
analisando e considerando o deve ser promovido por meio de diferentes
envolvimento de inúmeras variáveis e agentes, de forma individual e coletiva. Há
pontos de vista. Ou seja, pretende-se diferentes dimensões da saúde, além da
que ele seja capaz de identificar pontos prevenção e tratamento de doenças: uma
positivos e negativos em diferentes alimentação adequada, educação,
contextos nos quais os conhecimentos habitação, condições de saneamento e
científicos são aplicados. instalações domésticas, um bom ambiente
3. Compreender a natureza como um de trabalho seguro e saudável, lazer e
sistema dinâmico e o ser humano, em divertimento.
sociedade, como um de seus agentes de Questões relacionadas com a segurança
transformações. do trabalhador e com possíveis ações
A visão imutável do ambiente é contrária solidárias para melhoria das condições
à natureza dinâmica dos ecossistemas, de vida são temas que permitem ao
que pode ser compreendida pela cidadão rever o seu papel na conquista
existência de relações entre todos os seres e manutenção de sua saúde e daqueles
vivos (inclusive o ser humano) e os que o cercam.
demais componentes da natureza, tendo 5. Compreender o próprio corpo e a
em vista o equilíbrio dos sistemas naturais sexualidade como elementos de
e a continuidade da vida na Terra. realização humana, valorizando e
Espera-se, portanto, que o estudante seja desenvolvendo a formação de hábitos
capaz de compreender que os seres vivos de autocuidado, de auto-estima e de
se constituem como populações diversas respeito ao outro.
em diferentes ambientes, que interagem Essa competência privilegia o
entre si e com os outros elementos, estabelecimento das relações entre as
como ar, solo, água, e se relacionam com funções e os processos do corpo, nos
fatores variados, como: umidade, quais as estruturas e seus nomes não são
insolação, calor, luz, som, vários tipos de um objeto de estudo em si mesmas, mas
poluição e contaminação, tendo localizam onde tudo isso acontece. A
características próprias que lhes concepção é do corpo humano como um
conferem vantagem adaptativa. sistema integrado, que interage com o
Além disso, pretende-se que o estudante ambiente e que reflete a história de vida
compreenda que as intervenções do ser do sujeito. A alimentação criteriosa,
humano implicam alterações nos bem como os cuidados médicos e a
ambientes, tomando consciência da adição de medicamentos, são atitudes
importância de atitudes que visem à de cuidado com o próprio corpo, que
conservação dos ecossistemas no podem ser determinantes na
aproveitamento sustentável dos seus manutenção da saúde.
recursos materiais e energéticos.
47

• Esta concepção redimensiona a vezes, confundem-se com as próprias

discussão da sexualidade humana e pesquisas. Apesar disso, são constantes
das questões de gênero. Assim, deve- na prática científica procedimentos de
se levar em conta que tão importante observação, de experimentação, de
quanto a explicação biológica dos elaboração de hipóteses, de comparação
sistemas reprodutores e dos métodos e busca de critérios nos resultados.
anticoncepcionais, é o exame da Deve-se considerar que diagnosticar
diversidade de valores, crenças e problemas, elaborar perguntas e pensar
comportamentos relativos à em hipóteses, buscando-se solução para
sexualidade. problemas identificados, são tarefas
6. Aplicar conhecimentos e tecnologias cotidianas para cidadãos adultos, ainda
associadas às ciências naturais em que, muitas vezes, não se saiba nomear
diferentes contextos relevantes para esses procedimentos.
a vida. 8. Compreender o Sistema Solar em sua
É importante reconhecer a Ciência como configuração cósmica e a Terra em sua
atividade humana e empreendimento constituição geológica e planetária.
social, e o cientista, como trabalhador, Compreender o Universo, projetando-se
situados em um mundo real, concreto e para além do horizonte terrestre, para
historicamente determinado. dimensões maiores de espaço e de
São muitas as interações diárias que se tempo, pode nos dar novo significado
têm na vida e no trabalho com produtos aos limites do planeta Terra, de nossa
utilizados para a alimentação, higiene, existência no cosmos, ao passo que,
limpeza, cura de doenças. Exercitando paradoxalmente, as várias
esta competência, os estudantes transformações que ocorrem em nosso
trabalhadores podem identificar e planeta e as relações entre os vários
comparar diferentes materiais e componentes do ambiente terrestre
produtos, analisar seu impacto no podem dar a dimensão da nossa enorme
trabalho e no consumo e sua relação responsabilidade pela biosfera, nosso
com a qualidade de vida, o meio domínio de vida, fenômeno
ambiente e a saúde, identificando aparentemente único no Sistema Solar,
problemas e possíveis soluções. ainda que se possa imaginar outras
7. Diagnosticar problemas, formular formas de vida fora dele.
questões e propor soluções a partir de A estrutura interna da Terra é dinâmica,
conhecimentos das ciências naturais em originando vulcões, terremotos e
diferentes contextos. distanciamento entre os continentes, o
As diferentes Ciências utilizam-se de que altera constantemente o relevo e a
diferentes métodos de investigação, composição das rochas e da atmosfera.
sendo impreciso definir as etapas de um Portanto, as paisagens, tal como as
método científico único e igualmente percebemos, representam apenas um
significativo para todas as Ciências e momento dentro do longo e contínuo
suas diferentes abordagens. Muitas processo de transformação pelo qual
metodologias vão sendo criadas; às passa a Terra, em uma escala de tempo
48

de muitos milhares, milhões e bilhões mudanças nas relações entre os seres

de anos: é a escala de tempo geológico, vivos e à alteração dos recursos e ciclos
como é hoje conhecida. É necessário naturais. Ao abordar os limites desses
compreender a possibilidade de recursos e as alterações nos
intervenção humana nas catástrofes e ecossistemas, deve-se analisar o futuro
nas modificações das paisagens, no do planeta, da vida, e a necessidade de
sentido solidário e de preservação/ planejamento a longo prazo.
recuperação de ambientes. Para um cidadão atuante no seu meio, é
9. Reconhecer na natureza e avaliar a necessário reconhecer que os desgastes
disponibilidade de recursos materiais e ambientais estão ligados ao
energéticos e os processos para sua desenvolvimento econômico, e que
obtenção e utilização. estes estão relacionados a fatores
São muitas as conexões entre Ciências políticos e sociais; discutir as bases para
Naturais, Tecnologia e Meio Ambiente, um desenvolvimento sustentável,
compreendidos não apenas em seus analisando soluções tecnológicas
componentes físicos e biológicos, mas possíveis na agricultura, no manejo
também na dinâmica social, cultural e florestal, na diminuição do lixo, na
histórica.. É importante reconhecer o ser reciclagem de materiais, na ampliação
humano como parte integrante da do saneamento básico ou no controle de
natureza e relacionar sua ação às poluição.
BIBLIOGRAFIA
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Programa de
desenvolvimento profissional continuado: parâmetros em ação: educação de jovens
e adultos. Brasília, DF: MEC, 1999.
______. Proposta Curricular para a Educação de Jovens e Adultos:: 5ª a 8ª série.
Brasília, DF: MEC, 2000. 3 v.
______. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino
fundamental. Brasília, DF: MEC, 1998. 9 v.
NIEDA, J.; MACEDO, B. Un currículo científico para estudiantes de 11 a 14 años.
Madri, Esp: Unesco, 1997.
49

50

CIÊNCIAS DA NATUREZA
Ciências da Natureza — Ensino Médio

Ghisleine Trigo Silveira
Nas últimas décadas, as Ciências da particularmente na área da saúde − cujos

Natureza impregnaram a vida social e a conhecimentos, ou ausência deles, têm
vida dos cidadãos de tal forma que não impactos consideráveis na sua vida
há possibilidade de decodificar a cultura pessoal − e também na área das questões
contemporânea sem o aporte de seus energéticas, indiscutivelmente relevantes
3
conhecimentos. Esse fato tem na esfera de sua vida socioeconômica .
funcionado como o argumento diante Embora tradicionalmente a escola média
do qual todos se curvam: a reserve espaço considerável aos
universalização da cultura científica e conteúdos de anatomia e fisiologia
tecnológica é uma questão de humanas, quantos alunos conseguem
cidadania. interferir adequadamente em acidentes
Paralelamente, estudos têm mostrado, cada vez mais comuns, como asfixia,
com uma certa regularidade, que o alergia, desmaio, fraturas? Quantos
saber científico “passa mal” (Giordan, decifram um rótulo de alimento,
2000), isso porque ou ele permanece selecionando o mais conveniente a uma
como algo externo às pessoas, tendendo determinada circunstância? Quantos
a ser facilmente esquecido, ou, conseguem decifrar uma conta de luz e
principalmente, porque raramente é útil, optar por soluções domésticas que
ou seja, não chega a ser mobilizado na reduzam o consumo de eletricidade?
prática da vida cotidiana. Quantos conseguem decifrar as
informações de um manual de aparelho
Tais pesquisas sugerem ainda que, na
eletrodoméstico? Quantos têm clareza
área do ensino de Ciências da Natureza,
sobre as vantagens e os impactos
vive-se uma estranha contradição:
ambientais associados à tecnologia?
embora a sociedade se “cientificize” cada
Quantos conseguem colocar em prática as
vez mais, a população escolarizada carece
estratégias mais adequadas à preservação
ainda de uma autêntica cultura científica,
3 A este respeito, Giordan (2000) relata inúmeros casos nos quais as explicações de alunos para o
funcionamento do seu corpo são basicamente as mesmas, independentemente de sua escolaridade (primária ou
superior). O mesmo acontece quando se trata de explicar fenômenos físicos bastante comuns no cotidiano das
pessoas, tais como a geração e transmissão de energia, o aproveitamento doméstico da eletricidade, o
funcionamento de aparelhos, entre outros fenômenos. 51

Livro do Professor - Ciências da Natureza Ensino Médio
e suas Tecnologias
ambiental? Em outras palavras, vivemos para que as pessoas possam se

em uma sociedade eficiente e relacionar mais adequadamente com a
extremamente rápida para produzir natureza, com o seu corpo, com o
conhecimentos e tecnologia, mas que planeta e com a cultura contemporânea;
ainda enfrenta dificuldades para espera-se, ainda, que elas se
assegurar que a ciência que se aprende na familiarizem com a metodologia
escola contribua para situar os científica, fortalecendo uma atitude
indivíduos no mundo científico e crítica e racional frente às situações, o
tecnológico. que é fundamental para cidadãos
Pode-se dizer que tal situação é bastante capazes de tomar suas próprias
complexa e polêmica, embora haja uma decisões.
certa unanimidade de que o ponto Segundo Nieda (1997), entre outros
central desse dilema reside na maneira aspectos, o ensino de Ciências da
como o aluno tende a ser envolvido no Natureza deve ter como preocupação
processo de alfabetização científica. De um aluno que apresente:
um lado, e em muitos casos, ele é o • a curiosidade frente a um fenômeno
típico “presente-ausente”: ele está lá, novo ou a um problema inesperado;
mas raramente pode contar o que sabe
• o interesse pelas questões relativas ao
ou acredita saber e o que realmente é
ambiente e sua conservação;
necessário que ele saiba. Decodificar e
articular essas duas realidades – eis aí o • o espírito de iniciativa e de tenacidade;
desafio que a educação científica tem a • a confiança em si mesmo;
resolver. Por outro lado, parece existir • o espírito crítico, que supõe não se
um razoável consenso sobre o que se contentar com uma atitude passiva
quer que o aluno saiba, ou seja, frente a uma “verdade revelada e
privilegia-se a aquisição do saber inquestionável”;
científico, o que corresponde a uma • a flexibilidade intelectual;
aprendizagem de atitudes, de posturas e
• o rigor metódico;
de alguns grandes conceitos. Da mesma
forma, não há muita controvérsia quanto • a habilidade para enfrentar as
ao resultado concreto dessas situações de mudança;
aprendizagens: o desenvolvimento da • o respeito pelas opiniões alheias, a
criatividade, prontidão e flexibilidade argumentação na discussão das idéias
para o enfrentamento dos desafios de e a adoção de posturas próprias em
uma sociedade em contínuo um ambiente tolerante e democrático.
desenvolvimento. No entanto, apesar da existência desse
ENSINO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA: relativo consenso de que essas são as
EXPLICITANDO ATITUDES E POSTURAS
competências que devem ser asseguradas
aos alunos, a prática de sala de aula
A despeito do fosso que se costuma
tende a se orientar muito mais pelos
abrir entre o discurso pedagógico e a
conteúdos a serem abordados do que
prática escolar, espera-se que os
propriamente pelas competências que
conhecimentos científicos contribuam
tais conteúdos permitem desenvolver.
52

Esse desafio é antigo e conhecido: como Ou seja, atividades que envolvam os

abandonar a lógica ditatorial das listas alunos em discussões coletivas. Isso
intermináveis de conteúdos em favor do porque, segundo essas diretrizes
que faz sentido para o aluno? Ao que curriculares, os alunos alcançam o
parece, os Parâmetros Curriculares aprendizado em um processo complexo,
Nacionais (PCN) optaram pela única saída de elaboração pessoal, para o qual o
possível: tratar apenas do que se quer professor e a escola contribuem
desenvolver, em termos de competências permitindo ao aluno comunicar-se,
e habilidades – e não da explicitação de situar-se em seu grupo, debater sua
“conteúdos” cognitivos. compreensão, aprender a respeitar e a
fazer-se respeitar; dando-lhe
UMA RELEITURA DOS PCN
oportunidade de construir modelos
DA ÁREA DECIÊNCIAS DA NATUREZA –
explicativos, linhas de argumentação e
PARÂMETROS PARA O ENSINO
instrumentos de verificação de
E PARA A AVALIAÇÃO
contradições; criando situações em que
Embora os PCN tratem especificamente o aluno é instigado ou desafiado a
do ensino – e não propriamente de participar e questionar; valorizando as
avaliação – o fato de terem optado pela atividades coletivas que propiciem a
explicitação de competências e discussão e a elaboração conjunta de
habilidades concorre para que sejam idéias e de práticas; desenvolvendo
também um referencial básico quando se
atividades lúdicas, nas quais o aluno
trata de definir critérios de avaliação da deve-se sentir desafiado pelo jogo do
aprendizagem. conhecimento e não somente pelos
Com efeito, os PCN apresentam uma outros participantes.
proposta capaz de responder às definições Portanto, a experimentação é
legais da LDB/96 e às diretrizes valorizada, desde que permita ao aluno
curriculares para o Ensino Médio
a tomada de dados significativos, com
detalhadas na Resolução CNE/98, que as quais possa verificar ou propor
recomendam uma nova postura didática: hipóteses explicativas e,
a necessidade de orientar o aprendizado
preferencialmente, fazer previsões sobre
para uma maior contextualização, uma outras experiências não realizadas.
efetiva interdisciplinaridade e uma (Brasil, 1998 b)
formação humana mais ampla, bem como
A resolução de problemas é apontada
uma maior relação entre teoria e prática
como uma importante estratégia de
no próprio processo de aprendizado.
ensino, no entendimento de que o
(CNE,1998a)
confronto dos alunos com situações-
Nesse sentido, postulam um problema compatíveis com os recursos
“aprendizado ativo”, por meio do de que dispõem ou que são oferecidos a
desenvolvimento de atividades
eles permitem que eles: aprendam a
significativas que avancem para além da desenvolver estratégias de
observação, das medidas e da mera enfrentamento, planejando etapas,
observância de “receitas” para
estabelecendo relações, verificando
“descobrir” princípios científicos.
53

e suas Tecnologias
regularidades, fazendo uso dos próprios Em síntese, as Diretrizes Curriculares

erros cometidos para buscar novas Nacionais para o Ensino Médio propõem
alternativas; adquiram espírito de uma releitura do sentido tradicionalmente
pesquisa, aprendendo a consultar, a atribuído aos conteúdos do ensino: são
experimentar, a organizar dados, a informações, procedimentos e atitudes,
sistematizar resultados, a validar mas são também habilidades,
soluções; desenvolvam sua capacidade competências e valores. Aliás, esta é uma
de raciocínio, adquirindo autoconfiança clara opção por um aprendizado com
e sentido de responsabilidade; e, caráter prático e crítico, que concorra para
finalmente, ampliem sua autonomia e a construção de uma cultura mais ampla,
capacidade de comunicação e de desenvolvendo nos educandos as
argumentação. (Brasil, 1998 b) competências e habilidades necessárias
Finalmente, deve-se reconhecer a para:
impossibilidade de assegurar uma • a interpretação de fatos naturais;
efetiva aprendizagem científica sem que • a compreensão de procedimentos e
se leve em conta o conhecimento prévio equipamentos do cotidiano social e
do aluno, considerando que o profissional;
aprendizado da ciência é um processo
• a articulação de uma visão do mundo
de transição da visão intuitiva, de senso
natural e social;
comum ou de auto-elaboração, para a
visão de caráter científico construída • o convívio harmônico com o mundo
pelo aluno, como produto do embate de da informação;
visões. (ibid., 1998 b). • o entendimento histórico da vida
Além de promover uma nova postura social e produtiva;
didática que recomenda a utilização de • a percepção evolutiva da vida, do
uma grande variedade de linguagens e planeta e do cosmos.
recursos, de meios e de formas de Neste cenário, o aprendizado disciplinar
expressão, as diretrizes curriculares são em Biologia deve assegurar a
enfáticas quanto à necessidade de compreensão da unidade da vida, o que
introduzir novos e mais significativos implica a compreensão do surgimento e
conteúdos, sendo que a tecnologia é, longe da evolução da vida nas suas diversas
de qualquer outro, um conteúdo a ser formas, o entendimento dos ecossistemas
necessariamente incorporado no Ensino atuais como resultado da intervenção
Médio, numa perspectiva que ultrapasse o humana, de caráter social e econômico,
4
estágio de falar sobre ela. Assim, ao invés assim como dos ciclos de materiais e
de recorrerem às tradicionais listas de fluxos de energia, bem como o
conteúdos, indicam critérios para a sua entendimento do funcionamento do
seleção. Conteúdos que tenham seu ponto organismo humano e de suas interações
de partida no universo vivencial comum de com o meio físico, econômico e social.
alunos e professores, da comunidade em No caso da Física, deve contribuir para
geral; que permitam uma investigação do que os estudantes compreendam tanto a
meio natural ou social real.
4 Além de assegurar que os alunos se familiarizem com determinados aparatos tecnológicos e reconheçam as
inegáveis contribuições da tecnologia para a melhoria da qualidade de vida contemporânea, trata-se de que
possam avaliar também os inúmeros problemas que ela acarreta. Desde a introdução de uma infinidade de
produtos tecnológicos absolutamente dispensáveis no cotidiano das pessoas, ao impacto ambiental produzido pelo
54 descarte dos resíduos dessa “tecnologização”, até o fosso criando entre os que têm e os que não têm acesso às
tecnologias – sejam pessoas ou países -, são questões que devem ser discutidas com os alunos de Ensino Médio.

geração de energia nas estrelas ou o compreensão científica e tecnológica; as

princípio de conservação que explica a demais competências e habilidades da
permanente inclinação do eixo de área são classificadas em categorias que
rotação da Terra relativamente ao seu expressam competências e habilidades
plano de translação, quanto a operação específicas de Linguagens e Códigos e
de um motor elétrico ou de combustão Ciências Humanas.
interna, ou os princípios que presidem as Dessa maneira, a categoria
modernas telecomunicações, os representação e comunicação reúne
transportes, a iluminação e o uso clínico, competências e habilidades em Ciência
diagnóstico ou terapêutico das radiações. e Tecnologia associadas à área de
O estudo da Química, por sua vez, deve Linguagens e Códigos; por sua vez, a
permitir que ela seja reconhecida nos categoria contextualização sociocultural
alimentos e medicamentos, nas fibras e histórica reúne competências e
têxteis e nos corantes, nos materiais de habilidades em Ciência e Tecnologia
construção e nos papéis, nos associadas a Ciências Humanas.
combustíveis e nos lubrificantes, nas Não é demais conferir como os
embalagens e nos recipientes, Parâmetros Curriculares Nacionais
contribuindo para a utilização competente classificam as competências e
e responsável desses materiais e habilidades da área de Ciências da
reconhecendo as implicações Natureza segundo essa tipologia.
sociopolíticas, econômicas e ambientais
do seu uso.
5 REPRESENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO
O fato é que o aprendizado das Ciências Desenvolver a capacidade de

da Natureza, mais do que pressupor a
comunicação.
interação entre os saberes disciplinares da • Ler e interpretar textos de interesse
área, se deve dar em estreita proximidade científico e tecnológico.
com as demais áreas. Tarefa difícil, • Interpretar e utilizar diferentes formas
quando o desafio é ultrapassar o nível do de representação (tabelas, gráficos,
discurso e assegurar que esta proximidade expressões, ícones...).
ocorra em situação de sala de aula, • Exprimir-se, oralmente, com correção
especialmente se o viés da formação e clareza, usando a terminologia
universitária fortalece a visão disciplinar – correta.
como seria o esperado – pouco
• Produzir textos adequados para relatar
enfatizando a necessária transposição
experiências, formular dúvidas ou
didática dos saberes disciplinares que são
apresentar conclusões.
trabalhados no Ensino Médio.
• Utilizar as tecnologias básicas de
Neste particular, os Parâmetros
redação e informação, como
Curriculares Nacionais lançam mão de
computadores.
uma estratégia bastante adequada: as
competências e habilidades específicas • Identificar variáveis relevantes e
da área de Ciências da Natureza selecionar os procedimentos necessários
compõem a categoria investigação e para a produção, análise e interpretação
de resultados de processos e
5 Embora haja um documento específico para ensino de Matemática, deve-se registrar que é fundamental a
contribuição dos conhecimentos matemáticos para a área de Ciências da Natureza, tanto sob o ponto de vista
instrumental quanto sob o ponto de vista formativo.
55

e suas Tecnologias
experimentos científicos e tecnológicos. interdisciplinar.

• Identificar, representar e utilizar o • Entender e aplicar métodos e
conhecimento geométrico para procedimentos próprios das Ciências
aperfeiçoamento da leitura, da Naturais.
compreensão e da ação sobre a realidade. • Compreender o caráter aleatório e não
• Identificar, analisar e aplicar determinístico dos fenômenos naturais e
conhecimentos sobre valores de variáveis, sociais e utilizar instrumentos adequados
representados em gráficos, diagramas ou para medidas, determinação de amostras e
expressões algébricas, realizando previsão cálculo de probabilidades.
de tendências, extrapolações e • Fazer uso dos conhecimentos da Física, da
interpolações e interpretações. Química e da Biologia para explicar o
• Analisar qualitativamente dados mundo natural e para planejar, executar e
quantitativos representados gráfica ou avaliar intervenções práticas.
algebricamente relacionados a contextos • Aplicar as tecnologias associadas às
socioeconômicos, científicos ou Ciências Naturais na escola, no trabalho e
cotidianos. em outros contextos relevantes para sua
INVESTIGAÇÃO E COMPREENSÃO vida.
Desenvolver a capacidade de questionar CONTEXTUALIZAÇÃO SOCIOCULTURAL
processos naturais e tecnológicos, Compreender e utilizar a ciência, como
identificando regularidades, apresentando elemento de interpretação e intervenção, e a
interpretações e prevendo evoluções. tecnologia como conhecimento sistemático
Desenvolver o raciocínio e a capacidade de de sentido prático.
aprender.
• Utilizar elementos e conhecimentos
• Formular questões a partir de situações científicos e tecnológicos para
reais e compreender aquelas já diagnosticar e equacionar questões sociais
enunciadas. e ambientais.
• Desenvolver modelos explicativos para • Associar conhecimentos e métodos
sistemas tecnológicos e naturais. científicos com a tecnologia do sistema
• Utilizar instrumentos de medição e de produtivo e dos serviços.
cálculo. • Reconhecer o sentido histórico da ciência
• Procurar e sistematizar informações e da tecnologia, percebendo seu papel na
relevantes para a compreensão da vida humana em diferentes épocas e na
situação-problema. capacidade humana de transformar o
• Formular hipóteses e prever resultados. meio.
• Elaborar estratégias de enfrentamento das • Compreender as ciências como
questões. construções humanas, entendendo como
elas se desenvolveram por acumulação,
• Interpretar e criticar resultados a partir de
continuidade ou ruptura de paradigmas,
experimentos e demonstrações.
relacionando o desenvolvimento
• Articular o conhecimento científico e científico com a transformação da
tecnológico numa perspectiva sociedade.
56

• Entender a relação entre o que agreguem qualidade à sua vida

desenvolvimento de Ciências Naturais e cotidiana. Nesse sentido, a avaliação
o desenvolvimento tecnológico e elaborada para a EJA tem como
associar as diferentes tecnologias aos fundamento as competências cognitivas
problemas que se propuser solucionar. básicas relacionadas àquelas indicadas
• Entender o impacto das tecnologias pelos PCN, resultando nove competências
associadas às Ciências Naturais, na sua para a área de Ciências da Natureza e suas
vida pessoal, nos processos de Tecnologias no Ensino Médio.
produção, no desenvolvimento do Embora as competências do ENCCEJA
conhecimento e na vida social. (INEP, 1998c) para o Ensino Fundamental
sejam bastante próximas às
COMPETÊNCIAS DA ÁREA
competências do ENCCEJA para o Ensino
DE CIÊNCIAS DA NATUREZA
Médio, há diferenças que precisam ser
E SUAS TECNOLOGIAS PARA
apontadas. Em primeiro lugar, embora o
A EDUCAÇÃO DE JOVENS
ENCCEJA do Ensino Médio privilegie
E ADULTOS DO ENSINO MÉDIO
uma concepção de área das Ciências da
O Parecer CEB nº 15/98 e a Resolução CEB Natureza, há competências específicas
nº 03/98 indicam que, no Ensino Médio, a
para as disciplinas de Química, Física e
Educação de Jovens e Adultos deverá Biologia, o que não acontece no Ensino
atender aos saberes das áreas curriculares Fundamental. Um outro ponto refere-se
de Linguagens e Códigos, de Ciências da
ao destaque especial à compreensão do
Natureza e Matemática, de Ciências Sistema Solar que, no Ensino
Humanas e suas respectivas tecnologias. Fundamental, é objeto de uma das nove
Isso posto, trata-se de ter clareza de que competências, o que não acontece no
os alunos da EJA são diferentes dos Ensino Médio. Finalmente, vale lembrar
alunos do Ensino Médio regular. Aliás, que, enquanto no Ensino Fundamental a
segundo o Parecer CEB nº 11/2000, eles compreensão do corpo e da sexualidade
são jovens e adultos, muitos deles integram uma competência específica,
trabalhadores, maduros, com larga no Ensino Médio, esses mesmos aspectos
experiência profissional ou com foram incorporados à competência mais
expectativa de (re)inserção no mercado ampla que se refere à saúde. Além dessas
de trabalho e com um olhar diferenciado diferenças, é óbvio que as situações
sobre as coisas da existência. apresentadas aos participantes do
Ao que tudo indica, contemplar essa ENCCEJA - Ensino Médio poderão ter um
diferença implica desenvolver a grau de complexidade maior que as
necessária clareza quanto ao universo de apresentadas aos participantes do
vida dessa clientela. Quando a tarefa é ENCCEJA - Ensino Fundamental.
avaliar alunos da EJA, mais do que essa 1. Compreender as ciências como
clareza, exige-se sensibilidade para construções humanas, relacionando o
privilegiar recortes temáticos, desenvolvimento científico ao longo da
procedimentos, problemas, competências história com a transformação da
e habilidades que lhes sejam familiares e sociedade.
57

e suas Tecnologias
Embora a ciência seja apresentada ao 2. Compreender o papel das tecnologias

estudante, em muitas circunstâncias, associadas às ciências naturais, nos
como um conjunto de verdades processos de produção e no
inquestionáveis, expressas em desenvolvimento econômico e social
conhecimentos acabados e definitivos, contemporâneo.
há um número considerável de Da mesma maneira que se espera que os
publicações destinadas ao Ensino Médio educandos encarem a ciência como uma
que a apresentam como uma atividade humana, é imperativo que
“construção humana”. tenham compreensão semelhante a
Para avaliar se o participante do respeito da tecnologia.
ENCCEJA desenvolveu esta competência, Espera-se, portanto, que os candidatos
ele será convidado a decodificar fases da possam esclarecer princípios gerais de
evolução, ao longo do tempo, a dar tecnologias razoavelmente difundidas,
diferentes explicações e/ou soluções para ressaltando seus benefícios e impactos,
determinados problemas enfrentados também numa perspectiva histórica.
pelo ser humano, sempre tendo como Assim, por exemplo, que mudanças
contexto a história do desenvolvimento econômicas e sociais se associam ao
das sociedades, ou seja, da política, da advento das máquinas a vapor? O que
economia e da cultura. dizer do impacto do rádio ou da televisão
Tomando-se como exemplo a evolução na vida moderna? Como os diferentes
dos conhecimentos sobre a saúde e a conhecimentos sobre processos
doença, algumas questões básicas biológicos foram (e ainda são) aplicados
podem ser levantadas: como o homem na produção e conservação de alimentos?
encarou a doença ao longo do tempo? 3. Identificar a presença e aplicar as
Como se protegeu dela, antes da tecnologias associadas às ciências naturais
“descoberta” dos micróbios? Qual o em diferentes contextos relevantes para
“caminho” percorrido pela ciência desde sua vida pessoal, como casa, escola e
a descoberta dos micróbios até a trabalho.
produção das vacinas? E da produção
Assegurada a compreensão do papel das
das vacinas à prevenção das doenças?
tecnologias na vida produtiva e
Qual o impacto das vacinas na melhoria
6 econômica, o desafio é que os educandos
da qualidade de vida?
possam conhecer como algumas
É claro que não se pretende que os tecnologias funcionam, por que foram
candidatos demonstrem conhecimentos inventadas, quais suas contribuições,
de História ou Filosofia da Ciência, mas limites e impactos ao meio ambiente.
que possam demonstrar que têm uma
Para avaliar esta competência, os
visão “humanizada” das ciências,
candidatos serão confrontados com
conseguindo identificar interesses
situações do cotidiano nas quais devem
particulares, éticos, culturais e políticos
reconhecer os conhecimentos científicos
que estão (ou estiveram) envolvidos no
“embutidos” em aparelhos como o rádio,
processo do desenvolvimento científico,
o forno de microondas etc., em
ao longo do tempo.
medicamentos de uso corriqueiro, na
6 É necessário ter clareza de que estes e os demais exemplos foram incluídos apenas a título de ilustração de
como as competências podem ser solicitadas aos participantes do ENCCEJA. Ainda que os temas tenham sido
selecionados com base no critério da relevância e da sua presença no cotidiano das pessoas, há muitos outros
assuntos que atendem também a esses mesmos critérios, razão pela qual insistimos que não podem ser
58 encarados como conteúdos que serão obrigatoriamente incluídos na referida avaliação.

produção e conservação de alimentos, 5. Compreender organismo humano e

entre tantos outros assuntos. Além desse saúde, relacionando conhecimento
“reconhecimento”, devem demonstrar que científico, cultura, ambiente e hábitos
são capazes de utilizar os conhecimentos ou outras características individuais.
científicos para resolver questões do seu O cidadão brasileiro goza de saúde?
cotidiano: Como usar determinado Como responder a esta pergunta a partir
aparelho para assegurar melhor da “leitura” de alguns indicadores de
performance e menor custo? Como saúde, comumente divulgados em jornais
reconhecer agravos causados pela de ampla circulação? Quais complicações
tecnologia? Como se proteger de riscos à pode enfrentar um trabalhador
saúde gerados pelas diferentes tecnologias? submetido a substâncias tóxicas,
4. Associar alterações ambientais a radiações, excesso de ruído? Como atuar
processos produtivos e sociais, e nos locais de trabalho para assegurar
instrumentos ou ações científico- melhores condições de segurança? E o
tecnológicas à degradação e que fazer para proteger o organismo de
preservação do ambiente. doenças sexualmente transmissíveis?
Embora tecnologia seja, para muitos, Fumar prejudica a saúde?
sinônimo de progresso e de bem-estar, é Espera-se que o candidato possa
fundamental que os participantes do demonstrar essas competências, sempre em
ENCCEJA possam problematizar confronto com situações concretas,
processos produtivos mais amplos, mobilizando conhecimentos variados para
reconhecendo o seu impacto ambiental. resolvê-las – sobre o corpo, sobre o meio
Para tanto, serão confrontados com ambiente, sobre matemática, entre outros.
situações (textos, ilustrações, tabelas e/ 6. Entender métodos e procedimentos
ou gráficos) que relatem alterações próprios das ciências naturais e aplicá-
ambientais, para que “reconheçam” os los a diferentes contextos.
conhecimentos de física, química e Quando se pretende que os estudantes
biologia nelas embutidos, bem como encarem as ciências como uma
sua interação com os processos produção humana, pretende-se,
produtivos e sociais mais amplos igualmente, que compreendam que a
presentes na dinâmica ambiental. utilização de técnicas e processos para
Assim, por exemplo, espera-se que os estabelecer e resolver problemas não é
estudantes decodifiquem situações prerrogativa dos cientistas. Com
como a extração de recursos minerais, a efeito, toda vez que temos um
produção e o tratamento de lixo problema para resolver – um aparelho
doméstico e industrial, a reciclagem de que deixou de funcionar, uma dor
materiais, o desmatamento, entre tantas súbita em alguma parte do corpo, sem
outras; além disso, que identifiquem os nenhuma razão aparente, chegar a um
impactos ambientais dessas práticas, lugar da cidade pelo caminho mais
bem como reconheçam propostas mais curto – estamos usando
viáveis para minimizá-los. procedimentos científicos.
59

e suas Tecnologias
Espera-se, portanto, que os candidatos físicos, entre outros, para explicá-las,

estejam familiarizados com entender possíveis impactos, propor
procedimentos próprios das ciências, o soluções, se for o caso.
que não significa que se esteja fazendo 8. Apropriar-se dos conhecimentos da
alusão a um único método científico. química para compreender o mundo
Para tanto, serão desafiados a natural e para interpretar, avaliar e
interpretar e sistematizar informações, planejar intervenções científico-
ler gráficos, comparar hipóteses, tecnológicas no mundo contemporâneo.
estabelecer relações entre dados,
Trata-se de uma réplica da competência
generalizar, entre outros procedimentos.
anterior, mas se quer avaliar se o
Serão selecionadas, mais uma vez, estudante consegue mobilizar os
situações do cotidiano nas quais estes conhecimentos químicos para
procedimentos são efetivamente interpretar situações do cotidiano. O
demandados: a “leitura” de resultado de que acontece, por exemplo, em
um exame simples de sangue, a indústrias de transformação de
decodificação de tabelas que aparecem minerais? Qual o possível impacto
em jornais de grande circulação, as ambiental dessas indústrias e as formas
informações de rótulos de alimentos, a de minimizar os danos ambientais que
interpretação de um manual de aparelho elas causam? Como se dá a extração de
eletrodoméstico, entre tantas outras petróleo? Como se obtêm os seus vários
situações possíveis. subprodutos? Estes são apenas alguns
7. Apropriar-se dos conhecimentos da dos exemplos de problemas que os
física para compreender o mundo natural alunos serão convidados a resolver,
e para interpretar, avaliar e planejar mobilizando conhecimentos de química.
intervenções científico-tecnológicas no Mais uma vez, deve ficar claro que não
mundo contemporâneo. se trata de usar exemplos do cotidiano
Espera-se que os candidatos, além de para ilustrar o conhecimento químico,
dominar conteúdos de Física, possam mas de lançar mão dos conhecimentos
“reconhecê-los” nas mais diversas químicos para compreender fenômenos
situações. Como funciona um aparelho naturais, conhecer o ambiente,
doméstico? Que procedimentos adotar reconhecer propostas mais adequadas
quando se quer reduzir a contribuição de preservação ambiental.
da geladeira ou do chuveiro na elevação 9. Apropriar-se dos conhecimentos da
da conta de eletricidade? Como reduzir biologia para compreender o mundo
o nível de ruído de uma residência ou natural e para interpretar, avaliar e
de uma fábrica? Como avaliar o impacto planejar intervenções científico-
de uma batida de automóvel, a uma tecnológicas no mundo contemporâneo.
certa velocidade? A exemplo das competências anteriores,
Também, neste caso, os estudantes serão o estudante deverá mobilizar
confrontados com situações do cotidiano – conhecimentos de disciplinas da área
e convidados a mobilizar conhecimentos Ciências da Natureza – neste caso, os de
60

Biologia – para decodificar o mundo Finalmente, é necessário enfatizar que

natural e as tecnologias que têm por essas competências serão avaliadas por
base tais conhecimentos. meio de situações que privilegiem
Como interpretar a extrema diversidade conteúdos relevantes sob o ponto de
de manifestações da vida no planeta? vista da vivência dos alunos, conteúdos
Como reconhecer prováveis fatores de que digam respeito ao saber-fazer (ler
desequilíbrio ambiental e propor textos diversos, gráficos, tabelas,
intervenções para minimizá-lo? Estas, imagens, ilustrações, bulas, rótulos,
entre inúmeras outras situações, serão propor intervenções, avaliar impactos),
apresentadas aos participantes, sempre enfim, conteúdos que façam diferença –
no sentido de convidá-los a resolver e para melhor – na vida concreta desses
problemas que demandem a mobilização alunos.
de conhecimentos biológicos.
BIBLIOGRAFIA
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Ensino Médio e Tecnológico.
Parâmetros Curriculares para o Ensino Médio. Brasília, DF: MEC, 1998.
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO (Brasil). Câmara de Educação Básica. Parecer nº 15,
de junho de 1998. Diretrizes curriculares manuais para o ensino médio. Documenta,
Brasília, DF, n. 441, p. 3-71. jun. 1998.
GIORDAN, A.; VECCHI, G. L’enseignement scientifique: comment faire pour que ça
marche? Paris: Z’editions et Delagrave, 2000.
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS. ENEM - Exame
Nacional do Ensino Médio: documento básico. Brasília, DF, 1998.
NIEDA, J.; MACEDO, B. Un currículo científico para estudiantes de 11 a 14 años.
Santiago, Chile: Unesco, 1997.
61

Livro do Professor
62

IV. As matrizes que estruturam as avaliações
63

CI - Dominar a norma culta CII - Construir e aplicar

da Língua Portuguesa e fazer conceitos das várias áreas do
uso das linguagens conhecimento para a
matemática, artística e compreensão de fenômenos
científica. naturais, de processos
histórico-geográficos, da
produção tecnológica e das
manifestações artísticas.
F1 - Compreender a H1 - Identificar e descrever H2 - Relacionar diferentes

ciência como atividade diferentes representações dos explicações propostas para um
humana, histórica, fenômenos naturais, a partir da mesmo fenômeno natural, na
associada a aspectos de leitura de imagens ou textos. perspectiva histórica do
ordem social, econômica, conhecimento científico.
política e cultural.
F2 - Compreender H6 - Observar e identificar, em H7 - Identificar processos e

conhecimentos científicos e representações variadas, fontes substâncias utilizados na
tecnológicos como meios e transformações de energia produção e conservação dos
para suprir necessidades que ocorrem em processos alimentos, e noutros produtos
humanas, identificando naturais e tecnológicos. de uso comum, avaliando
riscos e benefícios de suas riscos e benefícios dessa
aplicações. utilização para a saúde pessoal.
F3 - Compreender a natureza H11 – Descrever e comparar H12 – Identificar, em situações

como um sistema dinâmico e diferentes seres vivos que reais, perturbações ambientais
o ser humano, em sociedade, habitam diferentes ambientes, ou medidas de recuperação.
como um de seus agentes de segundo suas características
transformações. ecológicas.
64

IV. As matrizes de ciência da natureza que estruturam
as avaliações do ENCCEJA
CIII - Selecionar, organizar, CIV - Relacionar informações, CV - Recorrer aos

relacionar, interpretar dados e representadas em diferentes conhecimentos desenvolvidos
informações representados de formas, e conhecimentos para elaboração de propostas
diferentes formas, para tomar disponíveis em situações de intervenção solidária na
decisões e enfrentar concretas, para construir realidade, respeitando os
situações-problema. argumentação consistente. valores humanos e
considerando a diversidade
sociocultural.
H3 - Associar determinadas H4 - Selecionar argumentos H5 - Identificar propostas

transformações culturais em científico-tecnológicos que solidárias de intervenção
função do desenvolvimento pretendam explicar fenômenos voltadas à superação de
científico e tecnológico. sociais, econômicos e problemas sociais, econômicos
ambientais do passado e do ou ambientais.
presente.
H8 - Associar a solução de H9 - Reconhecer argumentos H10 – Selecionar, dentre as

problemas da comunicação, pró ou contra o uso de diferentes formas de se obter
transporte, saúde (como determinadas tecnologias para um mesmo recurso material ou
epidemias) ou outro, com o solução de necessidades energético, as mais adequadas
correspondente humanas, relacionadas a ou viáveis para suprir as
desenvolvimento científico e saúde, moradia, transporte, necessidades de determinada
tecnológico. agricultura etc. região.
H13 - Relacionar transferência H14 - Relacionar, no espaço ou H15 – Propor alternativas de

de energia e ciclo de matéria a no tempo, mudanças na produção que minimizem os
diferentes processos qualidade do solo, da água ou danos ao ambiente provocados
(alimentação, fotossíntese, do ar às intervenções humanas. por atividades industriais ou
respiração e decomposição). agrícolas.
65


F4 - Compreender a saúde H16 - Identificar e interpretar a H17 - Associar a qualidade de

como bem pessoal e variação dos indicadores de vida, em diferentes faixas
ambiental que deve ser saúde e de desenvolvimento etárias e em diferentes regiões,
promovido por meio de humano, a partir de dados a fatores sociais e ambientais
diferentes agentes, de apresentados em gráficos, que contribuam para isso.
forma individual e tabelas ou textos discursivos.
coletiva.
F5 - Compreender o próprio H21 - Representar (localizar, H22 - Associar sintomas de

corpo e a sexualidade como nomear, descrever) órgãos ou doenças a suas possíveis
elementos de realização sistemas do corpo humano, causas ou a resultados de
humana, valorizando e identificando hábitos de testes e diagnósticos simples,
desenvolvendo a formação manutenção da saúde, funções, prevenindo-se contra a
de hábitos de auto-cuidado, disfunções ou doenças a eles automedicação e valorizando
de auto-estima e de relacionadas. o tratamento médico
respeito ao outro. adequado.
F6 - Aplicar H26 - Associar procedimentos, H27 - Examinar a possível

conhecimentos e precauções ou outras equivalência da composição de
tecnologias associadas às informações expressas em produtos de uso cotidiano
ciências naturais em rótulos, bulas ou manuais de (limpeza doméstica, higiene
diferentes contextos produtos de uso cotidiano a pessoal, alimentos,
relevantes para a vida. características de substâncias medicamentos ou outros).
que os constituem.
66


sociocultural.
H18 - Relacionar a incidência H19 - Comparar argumentos H20 - Comparar e selecionar

de doenças ocupacionais, sobre problemas de saúde do alternativas de condições de
degenerativas e infecto- trabalhador decorrentes de trabalho e/ou normas de
contagiosas a condições que suas condições de trabalho. segurança em diferentes
favorecem a sua ocorrência. contextos, valorizando o
conhecimento científico e o
bem-estar físico e mental de si
próprio e daqueles com quem
convive.
H23 - Relacionar saúde com H24 - Analisar o funcionamento H25 - Selecionar e justificar
hábitos alimentares, atividade de métodos anticoncepcionais e propostas em prol da saúde
física e uso de medicamentos e reconhecer a importância de física ou mental dos indivíduos
outras drogas, considerando alguns deles na prevenção de ou da coletividade, em
diferentes momentos do ciclo doenças sexualmente diferentes condições etárias,
de vida humano. transmissíveis, considerando culturais ou socioambientais.
diferentes momentos do
desenvolvimento sexual e
psíquico do ser humano.
H28 – Comparar, entre diversos H29 - Selecionar testes de H30 - Diagnosticar situações
bens de consumo, o mais controle ou outros parâmetros do cotidiano em que ocorrem
adequado a determinada de qualidade de produtos, desperdícios de energia ou
finalidade, baseando-se em conforme determinados matéria, e propor formas de
propriedades das substâncias argumentos ou explicações, minimizá-las.
(e/ou misturas) que os tendo em vista a defesa do
constituem, ou outras consumidor.
características relevantes.
67


F7 - Diagnosticar H31 – Reconhecer na H32 - Relacionar

problemas, formular linguagem corrente comportamento de variáveis à
questões e propor informações científicas explicação de determinado
soluções a partir de apresentadas em diferentes fenômeno natural, a partir de
conhecimentos das linguagens (matemática, uma situação concreta expressa
ciências naturais em artística ou científica) a em linguagem matemática ou
diferentes contextos. respeito de processos naturais outra.
ou induzidos pela atividade
humana.
F8 -Compreender o H36 - Reconhecer e/ou H37 - Relacionar diferentes

Sistema Solar em sua empregar linguagem científica fenômenos cíclicos como dia-
configuração cósmica e a (nomes, gráficos, símbolos e noite, estações do ano, climas
Terra em sua constituição representações) relativa à Terra e eclipses aos movimentos da
geológica e planetária. e ao sistema solar. Terra e da Lua.
F9 - Reconhecer na H41 - Identificar finalidades, H42 - Relacionar diferentes

natureza e avaliar a riscos e benefícios dos recursos naturais – seres vivos,
disponibilidade de processos de obtenção de materiais ou energia - a bens
recursos materiais e recursos materiais e de consumo utilizados no
energéticos e os processos energéticos, apresentados em cotidiano.
para sua obtenção e gráficos, figuras, tabelas ou
utilização. textos.
68


sociocultural.
H33 – Combinar leituras, H34 – Analisar o uso de H35 – Comparar

observações, experimentações e procedimentos, de procedimentos propostos para
outros procedimentos para equipamentos ou dos o enfrentamento de um
diagnosticar e enfrentar um resultados por eles obtidos, problema real, decidindo os
dado problema. para uma dada finalidade que melhor atendem ao
prática ou a investigação de interesse coletivo, utilizando
fenômenos. informações científicas.
H38 - Fazer previsões sobre H39 - Analisar argumentos que H40 - Estabelecer relações
marés, eclipses ou fases da Lua refutam ou aceitam conclusões entre informações para explicar
a partir de uma dada apresentadas sobre transformações naturais ou
configuração das posições características do planeta Terra. induzidas pelas atividades
relativas da Terra, Sol e Lua ou humanas como maremotos,
outras informações dadas. vulcões, enchentes,
desertificação, etc.
H43 – Investigar o significado H44 – Comparar, entre os H45 – Analisar propostas para
e a importância da água e de vários processos de o uso de materiais e recursos
seu ciclo em relação a fracionamento de misturas energéticos, tendo em vista o
condições socioambientais existentes na natureza, os mais desenvolvimento sustentável,
adequados para se obterem os considerando-se as
produtos desejados. características e
disponibilidades regionais (de
subsolo, vegetação, rios,
ventos, oceanos, etc.)
69

e suas Tecnologias

M1 - Compreender as H1 - Identificar transformações H2 – Utilizar modelo

ciências como construções de idéias e termos científico- explicativo de determinada
humanas, relacionando o tecnológicos ao longo de ciência natural para
desenvolvimento científico diferentes épocas e entre compreender determinados
ao longo da história com a diferentes culturas. fenômenos.
transformação da sociedade.
M2 - Compreender o papel H6 – Identificar diferentes H7 – Relacionar as

das ciências naturais e das ondas e radiações, relacionado- características do som a sua
tecnologias a elas as aos seus usos cotidianos, produção e recepção, e as
associadas, nos processos hospitalares ou industriais. características da luz aos
de produção e no processos de formação de
desenvolvimento imagens.
econômico e social
contemporâneo.
M3 - Identificar a presença H11 - Utilizar terminologia H12 - Interpretar e

e aplicar as tecnologias científica adequada para dimensionar circuitos elétricos
associadas às ciências descrever situações cotidianas domésticos ou em outros
naturais em diferentes apresentadas de diferentes ambientes, considerando
contextos relevantes para formas. informações dadas sobre
sua vida pessoal. corrente, tensão, resistência e
potência.
70


sociocultural.
H3 - Associar a solução de H4 - Confrontar diferentes H5 - Avaliar propostas ou

problemas de comunicação, interpretações de senso comum políticas públicas em que
transporte, saúde, ou outro, e científicas sobre práticas conhecimentos científicos ou
com o correspondente sociais, como formas de tecnológicos estejam a serviço
desenvolvimento científico e produção, e hábitos pessoais, da melhoria das condições de
tecnológico. como higiene e alimentação. vida e da superação de
desigualdades sociais.
H8 – Analisar variáveis como H9 - Comparar exemplos de H10 - Analisar propostas de

pressão, densidade e vazão de utilização de tecnologia em intervenção nos ambientes,
fluidos para enfrentar situações diferentes situações culturais, considerando as dinâmicas das
que envolvam problemas avaliando o papel da populações, associando garantia
relacionados à água ou ao ar tecnologia no processo social e de estabilidade dos ambientes e
em processos naturais e explicando transformações de da qualidade de vida humana a
tecnológicos. matéria, energia e vida. medidas de conservação,
recuperação e utilização auto-
sustentável da biodiversidade.
H13 - Relacionar informações H14 - Comparar diferentes H15 – Selecionar

para compreender manuais de instrumentos e processos procedimentos, testes de
instalação e utilização de tecnológicos para identificar e controle ou outros parâmetros
aparelhos ou sistemas analisar seu impacto no trabalho de qualidade de produtos,
tecnológicos de uso comum. e no consumo e sua relação com conforme determinados
a qualidade de vida. argumentos ou explicações,
tendo em vista a defesa do
consumidor.
71

e suas Tecnologias

M4 - Associar alterações H16 - Identificar e descrever H17 - Compreender a

ambientais a processos processos de obtenção, importância da água para a
produtivos e sociais, e utilização e reciclagem de vida em diferentes ambientes,
instrumentos ou ações recursos naturais e matérias- em termos de suas
científico-tecnológicos à primas. propriedades químicas, físicas
degradação e preservação e biológicas, identificando
do ambiente. fatos que causam
perturbações em seu ciclo.
M5 - Compreender H21 - Interpretar e relacionar H22 - Reconhecer os

organismo humano e saúde, indicadores de saúde e mecanismos da transmissão da
relacionando conhecimento desenvolvimento humano, vida e prever a manifestação
científico, cultura, como mortalidade, natalidade, de características dos seres
ambiente e hábitos ou longevidade, nutrição, vivos, em especial, do ser
outras características saneamento, renda e humano.
individuais. escolaridade, apresentados em
gráficos, tabelas e/ou textos.
H26 - Relacionar informações

apresentadas em diferentes
M6 - Entender métodos e H27 - Analisar e prever
formas de linguagem e
procedimentos próprios das fenômenos ou resultados de
representação usadas nas
ciências naturais e aplicá- experimentos científicos,
Ciências, como texto
los a diferentes contextos. organizando e sistematizando
discursivo, gráficos, tabelas,
informações dadas.
relações matemáticas ou
linguagem simbólica.
72


sociocultural.
H18 - Analisar perturbações H19 - Analisar aspectos éticos, H20 - Relacionar atividades
ambientais, identificando vantagens e desvantagens da sociais e econômicas –
fontes, transporte e destinos biotecnologia (transgênicos, comércio, industrialização,
dos poluentes e prevendo clones, melhoramento urbanização, mineração e
efeitos nos sistemas naturais, genético, cultura de células), agropecuária – com as
produtivos e sociais. considerando as estruturas e principais alterações nos
processos biológicos neles ambientes brasileiros,
envolvidos. considerando os interesses
contraditórios envolvidos.
H23 - Associar os processos H24 - Avaliar a veracidade e H25 - Analisar propostas de

vitais do organismo humano posicionar-se criticamente intervenção social
(defesa, manutenção do diante de informações sobre considerando fatores
equilíbrio interno, relações com saúde individual e coletiva biológicos, sociais e
o ambiente, sexualidade, etc.) a relacionadas a condições de econômicos que afetam a
fatores de ordem ambiental, trabalho e normas de qualidade de vida dos
social ou cultural dos segurança. indivíduos, das famílias e das
indivíduos, seus hábitos ou comunidades.
outras características pessoais.
H28 - Selecionar, em H29 - Avaliar a adequação a H30 - Selecionar métodos ou

contextos de risco à saúde determinadas finalidades de procedimentos próprios das
individual e coletiva, normas sistemas ou produtos como Ciências Naturais que
de segurança, procedimentos e águas, medicamentos e contribuam para diagnosticar
condições ambientais a partir alimentos, a partir de suas ou solucionar problemas de
de critérios científicos. características físicas, ordem social, econômica ou
químicas ou biológicas. ambiental.
73

e suas Tecnologias

M7 - Apropriar-se de H31 - Descrever e comparar H32 - Reconhecer grandezas

conhecimentos da física características físicas e significativas, etapas e
para compreender o parâmetros de movimentos de propriedades térmicas dos
mundo natural e para veículos, corpos celestes e materiais relevantes para
interpretar, avaliar e outros objetos em diferentes analisar e compreender os
planejar intervenções linguagens e formas de processos de trocas de calor
científico-tecnológicas no representação. presentes nos sistemas naturais
mundo contemporâneo. e tecnológicos.
M8 - Apropriar-se de H36 - Reconhecer e utilizar H37 - Caracterizar materiais,

conhecimentos da química códigos e nomenclatura da substâncias e transformações
para compreender o química para caracterizar químicas, identificando
mundo natural e para materiais, substâncias e propriedades, etapas,
interpretar, avaliar e transformações químicas e para rendimentos e taxas de sua
planejar intervenções identificar suas propriedades. obtenção e produção;
científico-tecnológicas no implicações sociais,
mundo contemporâneo. econômicas e ambientais.
M9 - Apropriar-se de H41 – Identificar e descrever H42 - Associar características

conhecimentos da biologia diferentes representações de gerais e adaptações dos
para compreender o fenômenos biológicos, a partir grandes grupos de animais e
mundo natural e para de textos e imagens. plantas com o seu modo de
interpretar, avaliar e vida e seus limites de
planejar intervenções distribuição nos diferentes
científico-tecnológicas no ambientes, em especial nos
mundo contemporâneo. ambientes brasileiros.
74


sociocultural.
H33 - Utilizar leis físicas para H34 - Comparar e avaliar H35 - Analisar diversas
prever e interpretar sistemas naturais e tecnológicos possibilidades de geração de
movimentos e analisar em termos da potência útil, energia para uso social,
procedimentos para alterá-los dissipação de calor e identificando e comparando as
ou avaliá-los, em situações de rendimento, identificando as diferentes opções em termos de
interação física entre veículos, transformações de energia e seus impactos ambiental, social
corpos celestes e outros caracterizando os processos e econômico.
objetos. pelos quais elas ocorrem.
H38 - Identificar implicações H39 - Relacionar a importância H40 - Analisar propostas de

sociais, ambientais e/ou social e econômica da eletricidade, intervenção ambiental,
econômicas na produção ou no dos combustíveis ou recursos aplicando conhecimento
consumo de eletricidade, dos minerais, identificando e químico, observando riscos e
combustíveis ou recursos caracterizando transformações benefícios.
minerais, em situações que químicas e de energia envolvendo
envolvam transformações fontes naturais (como petróleo,
químicas e de energia (a partir de carvão, biomassa, gás natural, e
petróleo, carvão, biomassa, gás dispositivos como pilhas e outros
natural, e dispositivos como tipos de baterias), identificando
pilhas e outros tipos de baterias). riscos e possíveis danos
decorrentes de sua produção e uso.
H43 - Prever ou interpretar H44 - Comparar argumentos H45 - Avaliar propostas de
resultados que se apliquem à em debate, ao longo do tempo, alcance individual ou coletivo,
indústria alimentícia, agricultura, sobre a evolução dos seres identificando aquelas que
saúde individual /coletiva, vivos. visam à preservação e à
produção de medicamentos, implementação da saúde
decomposição de matéria individual, coletiva ou do
orgânica, ciclo do nitrogênio e ambiente
produção de oxigênio, a partir da
descrição de experimentos ou
técnicas envolvendo a utilização
de vírus, bactérias, protozoários,
algas ou fungos.
75

V. Orientação para o trabalho do professor
Ciências
Ensino Fundamental
Capítulos I ao IX
Neste bloco são apresentadas sugestões de trabalho

para que o professor possa orientar-se no sentido de
favorecer aos seus alunos o desenvolvimento das
competências e habilidades que estruturam a
avaliação do ENCCEJA –
Ciências – Ensino Fundamental.
Estes textos complementam o material de orientação
de estudos dos estudantes, e ambos podem ganhar seu
real significado se incorporados à experiência do
professor e à bibliografia didática já consagrada nesta
área.

78

COMPREENDER A CIÊNCIA COMO ATIVIDADE HUMANA, Ciências - Ensino Fundamental
Capítulo I
HISTÓRICA, ASSOCIADA A ASPECTOS DE ORDEM SOCIAL,
ECONÔMICA, POLÍTICA E CULTURAL.
A ciência é
atividade humana
Cecília Condeixa
Vivemos em um mundo em permanente Muito, se trabalharmos a área de

transformação. Modificam-se o meio Ciências como espaço privilegiado para
ambiente, os instrumentos e as técnicas a circulação e discussão de informação
para as mais diversas finalidades. Valores relevante, para a construção das
humanos são questionados. É possível habilidades de ler e compreender o
compreender esse turbilhão de mundo, em suas várias manifestações
transformações? Como fazer frente às relacionadas aos fenômenos naturais e
novas demandas do dia-a-dia? Mais do transformações promovidas pelas
que nunca, impõe-se a exigência da tecnologias. Portanto, a tarefa de
formação crítica dos cidadãos, de modo conhecer as relações entre ciência,
que compreendam seus próprios pontos tecnologia e sociedade
de vista em face dos demais, sendo inscreve-se no processo de educação
dotados de critérios e conhecimentos permanente que caracteriza a Educação
para melhor questionar as vantagens e as de Jovens e Adultos.
desvantagens das muitas novidades que A primeira competência da Matriz do
lhes chegam, valorizando a flexibilidade ENCCEJA, área de Ciências, no ensino
do raciocínio, mas não abrindo mão de fundamental, aborda um aspecto
valores humanos básicos. essencial para a aprendizagem desejada:
O que o ensino de Ciências tem a ver considerar a ciência um fazer humano.
com essas necessidades? Pouco, se Um fazer histórico, conexo às realidades
considerarmos as ciências naturais culturais diversas; um processo longo,
exclusivamente como conjunto de coletivo e muitas vezes crivado pela
regras e definições, úteis, quem sabe, se polêmica. Um conhecimento que, se em
o próprio sujeito relacionar o alguns casos está sempre sendo
conhecimento escolar, livresco, com confirmado, em outros, está inacabado
suas questões impostas pela vida. e se renova em meio a intenso processo
79

produtivo. Algo que está bem distante DESENVOLVENDO A

dos estereótipos mais conhecidos, COMPETÊNCIA
como o “homem de avental branco
A primeira habilidade identificar e
em seu laboratório”, distante das
descrever diferentes representações dos
crises do mundo, ou quem sabe o
fenômenos naturais a partir da leitura de
“cientista maluco”, tanto que quase
imagens ou textos destaca um requisito
ninguém o compreende, com suas
básico, mas não exclusivo das ciências:
equações complicadas.
“Identificar e descrever diferentes
Na Matriz do ENCCEJA, a compreensão representações dos fenômenos naturais
das Ciências Naturais como fazer a partir da leitura de imagens ou
histórico é proposta para Ensino textos”. Isso porque essa habilidade faz
Fundamental e Ensino Médio, mediante parte do nosso cotidiano, em diferentes
competências e habilidades que contextos, pois fazer perguntas e
implicam conteúdos com diferentes buscar respostas sobre os fenômenos
níveis de complexidade. Para o naturais é próprio do ser humano.
Fundamental, a primeira aproximação
Neste capítulo, o estudante é estimulado
aos conteúdos busca evidenciar a
a refletir sobre sua própria possibilidade
existência de fenômenos diversos,
de observar, discriminar, nomear e
estudados por diferentes Ciências, e a
perguntar sobre fenômenos, além de
construção histórica das explicações
trabalhar com um texto para exercitar a
sobre os fenômenos, relacionada à
habilidade. Propõe-se a listagem de
cultura de época, o que inclui os
fenômenos naturais envolvidos na lida
conceitos anteriores e possibilidades
das profissões. Numa sala de aula, a
técnicas. Considera, portanto, que as
construção coletiva dessa lista é um
teorias foram e são elaboradas em
momento interessante para
resposta a motivações sociais.
problematização com diferentes
Mas é preciso informar sobre as disputas objetivos. Por exemplo, pode-se agrupá-
entre teorias para o estabelecimento de los em “formas de energia”, “seres vivos
métodos e conceitos, pois, de modo e ambiente”, “materiais”, ou outros
geral, o estudante costuma ver o conjuntos. Pode-se estabelecer relações
conhecimento científico como algo entre os fenômenos e as tecnologias
pronto e acabado. Além disso, é envolvidas para sua manipulação, ou
importante que o estudante reconheça a ainda informar a respeito das ciências
participação de diferentes procedimentos dedicadas ao estudo dos fenômenos
e métodos nas ciências, desde a citados. Note que a apresentação dos
imaginação sobre o que não é conhecido, fenômenos e as representações correlatas
a nomeação dos fenômenos, até a continuam a ser feitas no
identificação de regularidades e a desenvolvimento do capítulo, para além
formulação de teoria geral. do subtítulo “nomes e descrições dos
80

fenômenos naturais”, dedicado com papel do desenvolvimento tecnológico em

maior ênfase à habilidade. associação ao científico. O estudante é
Os textos abaixo dos subtítulos Em convidado a participar desses
busca de explicações sobre os conhecimentos por meio de diferentes
fenômenos naturais e Cultura atividades de observação, registro e análise
e compreensão do mundo, hoje e no de informações oferecidas, inclusive, em
passado procuram apresentar aspectos testes. Desse modo, além de obter
significativos da História da Ciência conhecimento teórico específico, o
(seus procedimentos próprios e estudante vivencia a habilidade relacionar
resultados conceituais) e relações diferentes explicações propostas para um
entre ciência, tecnologia e sociedade mesmo fenômeno natural, em diferentes
em dois casos específicos, na épocas ou culturas e a habilidade associar
Astronomia e na Microbiologia. determinadas transformações da cultura
Sob o primeiro subtítulo, o texto tem humana em função do desenvolvimento
início buscando-se traçar distinção científico e tecnológico. Nesse mesmo
entre as explicações mitológicas (não contexto, também é trabalhada a
científicas) e aquelas já marcadas por habilidade selecionar argumentos
características do pensamento científico-tecnológicos que pretendam
científico, neste caso, o pensamento de explicar fenômenos sociais, econômicos e
Aristóteles sobre o Universo, que ambientais do passado
explica a natureza por si só, sem o e do presente. Assim, a questão da
recurso de mitos ou deuses. É argumentação consistente com as
interessante que, em sala de aula, o observações é tratada no âmbito da
professor problematize com a classe o Astronomia e da Microbiologia.
fato de ainda hoje as superstições e A habilidade identificar propostas
outras manifestações da cultura popular solidárias de intervenção voltadas à
nortearem opções no comportamento superação de problemas sociais,
para a saúde, destacando que ainda se econômicos ou ambientais é
preservam crenças não científicas. especificamente abordada no subtítulo
O texto progride refletindo-se sobre a final do capítulo: Ciência e Tecnologia
produção de teorias e as disputas entre o para examinar propostas e resolver
Geocentrismo e o Heliocentrismo, problemas. Neste trecho o estudante
apresentando-se a Revolução Científica acompanha certos aspectos do debate
promovida por Copérnico e Galileu como sobre o lixo, para julgar atitudes ou
momento fundante da Ciência Moderna. propostas individuais e coletivas,
Depois, são apresentadas, sob o mesmo apresentadas em situações-problema.
enfoque, as disputas entre a teoria da Em sala de aula, com o intuito de
geração espontânea e a Biogênese de ampliar o estudo das relações
Pasteur. Nos dois casos, é destacado o
81

destacadas nas habilidades acima inovações tecnológicas e científicas,

mencionadas, é recomendável o destacando-se os argumentos pró e
trabalho com notícias de jornal. É contra diferentes posições. Nessas
interessante discutir os limites éticos, discussões, é fundamental que os alunos
econômicos e tecnológicos relativos ao venham a compreender que as
desenvolvimento de vários campos diferentes opiniões podem ser baseadas
científicos, direta ou indiretamente ou não no conhecimento científico,
relacionados ao cotidiano, observando- delimitadas ou não por preceitos éticos.
se as vantagens e desvantagens das
BIBLIOGRAFIA
ALSINA, J. A. De la Filosofia a la Ciencia. Barcelona: Montesinos, 1986. 132 p.
(Biblioteca de divulgación temática, 40).
GRUBER, J. G. (Org.). O livro das árvores. 3. ed. Benjamin Constant, AM: Organização
Geral dos Professores Ticuna Bilingues; São Paulo: Global, 1997. 96 p.
KUHN, T. A estrutura das revoluções científicas. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1989.
(Debates, v. 115). Tradução de Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira.
PROJETO EDUCAÇÃO TICUNA. O livro das árvores. Benjamim Constant, AM:
Organização Geral dos Professores Ticuna Bilíngües, 1997.
RONAN, C. A. História ilustrada da ciência da Universidade de Cambridge. São Paulo:
Círculo do Livro, [1987]. 4 v. Tradução de Jorge Eneas Forte.
SAGAN, C. O romance da ciência. 2. ed. Rio de Janeiro: F. Alves, 1982. 345 p. (Coleção
Ciência). Tradução de Carlos Roberto Medeiros.
THE OPEN UNIVERSITY. Os recursos físicos da Terra: recurso, economia e geologia:
uma introdução. Campinas: Ed. da Unicamp, 1994. Manuais. Bloco 1. Tradução de
Augusto Milani Martins.
TRIVELATO JÚNIOR, J. Um obstáculo à aprendizagem de conceitos em Biologia: geração
espontânea X biogênese. In: NARDI, Roberto (Coord.). Pesquisa em ensino de Ciências
e Matemática. Bauru: Unesp, 1996. 106 p. (Ciências & Educação, v. 3).
82

COMPREENDER
V. Orientação para o trabalho doCIENTÍFICOS
CONHECIMENTOS professor E TECNOLÓGICOS Ciências - Ensino Fundamental
Capítulo II
COMO MEIOS PARA SUPRIR NECESSIDADES HUMANAS,
IDENTIFICANDO RISCOS E BENEFÍCIOS DE SUAS APLICAÇÕES.
Ciência a tecnologia:
benefícios e risco
Sonia Salem
A ciência e a tecnologia têm realizado Contudo, sabemos que, junto com esses
mudanças profundas no mundo em que ganhos e benefícios, vieram problemas
vivemos. A aplicação em larga escala dos complexos e desequilíbrios de toda
conhecimentos nascidos nas ciências e o ordem. Novas doenças, armas químicas,
desenvolvimento da tecnologia trouxeram biológicas e nucleares capazes de
incontáveis transformações e melhorias aniquilar povos inteiros, o emprego de
na qualidade de vida humana em todos os agrotóxicos e pesticidas nocivos à
seus campos: na saúde, na agricultura, saúde humana e de outros animais, o
nos transportes, nas comunicações, na uso de aditivos químicos nos alimentos,
indústria, na cultura. A erradicação de a geração do lixo atômico, o
muitas doenças, a possibilidade de reduzir esgotamento de recursos naturais não
a fome, o frio, as barreiras devidas às renováveis, problemas ambientais
distâncias são conquistas que vieram dos diversos são exemplos não menos
conhecimentos científicos. O mesmo se importantes ou sérios que os benefícios
pode dizer dos processos, técnicas, trazidos pela ciência e tecnologia.
máquinas e os mais diversos objetos de Mas, se, por um lado, estamos imersos
uso cotidiano, desde a caneta nesse mundo em constantes
esferográfica às redes de informação por transformações, são muitos os que não
computadores, o rádio e a televisão, os usufruem de seus benefícios e, mais que
gravadores, as copiadoras, os discos isso, não têm a possibilidade de
compactos, os eletrodomésticos. compreendê-las, julgá-las e sobre elas
Registrem-se, ainda, os avanços no interferir. Além disso, é comum a
campo diagnóstico da medicina, desconfiança e até mesmo a rejeição a
nas técnicas e instrumentos agrícolas, tudo que vem da ciência, devido ao
na produção e conservação de alimentos, temor das conseqüências nefastas que
na utilização das mais variadas fontes pode trazer à humanidade. E é aqui
de energia.
83

que a educação científica tem um são muitos: saúde, agricultura, moradia,

importante papel. transporte, comunicações, energia,
Todas essas transformações a que o entre outros. Elegemos nesse capítulo
cidadão “assiste”, ora deslumbrado, ora alguns desses temas para trabalhar as
assustado, envolvem conhecimentos, cinco habilidades propostas. Contudo,
costumes, atitudes, linguagens, técnicas cabe lembrar que se trata de uma
e visões de mundo. Por isso, orientação de estudos cujos temas,
compreendê-las é mais que assistir a contextos e atividades propostos devem
elas ou vivenciá-las. A capacidade de ser compreendidos como exemplos ou
crítica, de julgamento e de intervenção referências no desenvolvimento dessa
não pode ser adquirida sem o competência e, portanto, são
conhecimento. necessários muitos outros exemplos,
assim como o desenvolvimento de
DESENVOLVENDO A outras atividades, além das propostas.
COMPETÊNCIA No primeiro tópico, Energia e suas
transformações, em um contexto
A segunda competência da matriz do
relacionado ao consumo de energia
ENCCEJA, da área de Ciências no Ensino
elétrica no cotidiano, enfatizam-se
Fundamental, tem em vista um
aspectos da linguagem científica e
componente importante desse
conceitos básicos relacionados às
conhecimento: promover a capacidade do
diferentes formas de energia e suas
aluno de identificar a presença da ciência
transformações. A leitura e construção
e da tecnologia na vida humana, seja em
de tabelas, a nomenclatura e significado
âmbito doméstico, do cotidiano, seja em
de diferentes formas de energia e suas
âmbito social e global, além de apontar
transformações em aparelhos elétricos,
os aspectos positivos e negativos desses
a compreensão das variáveis e do
conhecimentos, de modo a propiciar a
cálculo do consumo de eletricidade
reflexão sobre esse embate que faz da
doméstico são atividades aqui propostas
ciência e tecnologia “facas de dois
que visam desenvolver habilidades de
gumes”. E, nessa discussão, conscientizá-
aprendizado e uso da linguagem
lo de que não se trata simplesmente de
científica. Estas têm como finalidade,
defender ou atacar a ciência, mas de que a
compreender e enfrentar situações
compreensão de alguns de seus
cotidianas vivenciadas pelos alunos e
fundamentos básicos – conceitos,
pelos cidadãos nos dias de hoje.
linguagens, técnicas – permite que seja
capaz de ler, ouvir, interpretar, criticar, O segundo tópico, A Conservação dos
debater e intervir no mundo em que vive. Alimentos, constitui o tema central. O
enfoque é dado na compreensão de
Os possíveis temas e áreas abarcados no
diferentes técnicas de conservação e
desenvolvimento dessa competência
nos seus fundamentos básicos,
84

associados às formas de inibir o eletromagnéticas. Não há necessidade de

desenvolvimento de microorganismos. se aprofundar, aqui, esses conceitos, mas
Para isso, destaca-se a importância da alguma noção de como “funcionam” os
observação de diferentes tipos de sistemas de comunicação, tão presentes
alimentos, das formas caseiras utilizadas no mundo contemporâneo, podem
para prolongar seu armazenamento e possibilitar, por exemplo, uma
das informações constantes nos rótulos compreensão sobre os riscos à saúde
de produtos industrializados. São advindos de sua utilização. Para isso são
observações que auxiliam a apresentados exemplos de argumentação
compreensão dos procedimentos e presentes na mídia que mostram o atual
cuidados a serem tomados na produção debate sobre os possíveis problemas
e no consumo de alimentos. A temática gerados pelo emprego intensivo das
envolve, ainda, a discussão das ondas de rádio-freqüência usadas em
vantagens e dos riscos associados ao telecomunicações. Havendo possibilidade,
emprego de aditivos nos alimentos: as a ampliação desse tema para uma
pesquisas, os limites do conhecimento e discussão sobre os usos e riscos das
as polêmicas sobre o assunto. E, com radiações de maior freqüência –
isso, a importância da informação, da ultravioleta, raio-X e gama –, fazendo-se
conscientização e formas de fiscalização uso de informações que os alunos possam
e defesa do consumidor. trazer, seria uma ótima contribuição para
Meios de transporte foi a temática o desenvolvimento da habilidade que aqui
proposta no terceiro tópico para que o se pretende enfocar, a da argumentação.
aluno possa, com um conjunto de dados Finalmente, no último tópico Fontes de
e informações de diferentes naturezas, Energia: qual a melhor? retoma-se o
organizar e identificar variáveis tema da energia, agora enfocando suas
relevantes na escolha de máquinas e fontes e as diferentes formas de geração
veículos em dadas situações. para uso social. A partir de informações
Novamente, as informações e conceitos básicas sobre as origens da energia que
apresentados procuram possibilitar sua “consumimos” e sobre o funcionamento
reflexão sobre as vantagens e de usinas geradoras de eletricidade,
desvantagens na opção tanto individual convencionais e alternativas, pretende-se
quanto coletiva por diferentes meios ou mostrar que todas, de algum modo,
sistemas de transporte. apresentam vantagens e desvantagens de
naturezas diversas, ou seja, de que não
No quarto tópico, Meios de Comunicação,
existe “a melhor” alternativa e que a
discutem-se os ganhos possibilitados pela
opção de modelos energéticos em cada
evolução dos meios de comunicação,
região ou país deve considerar todos os
fornecendo-se algumas noções e
aspectos envolvidos – ambientais,
conceitos básicos sobre o “transporte” de
econômicos, políticos e socioculturais. O
informação através das ondas texto do aluno, também aqui, pode ser
85

enriquecido com informações e análises assim como em inúmeras publicações

que podem ser encontradas nas como jornais, revistas e sites na Internet.
referências bibliográficas sugeridas,
B IBLIOGRAFIA
ASIMOV, I. Cronologia das ciências e das descobertas. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1993. 1.060 p. Tradução de Ana Zelma Campos.
BERMANN, C. Energia no Brasil: para quê? para quem? Crise e alternativas para um
país sustentável. São Paulo: Livraria da Física: FASE, 2001.
BRANCO, S. M. Energia e meio ambiente. 5. ed. São Paulo: Moderna, 1990. (Polêmica).
Curriculares Nacionais: ciências naturais. Brasília, DF: MEC, 1997. v. 4, il.
Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio: ciências da natureza, matemática.
Brasília, DF: MEC, 1999. v. 3, il.
CIÊNCIA HOJE DAS CRIANÇAS. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência.
CHASSOT, A. I. A ciência através dos tempos. São Paulo: Moderna, 1994. 191 p.
(Polêmica).
GRUPO DE REELABORAÇÃO DO ENSINO DE FÍSICA. Física 1: mecânica. São Paulo:
Edusp, 1993. 332 p., il.
______. Física 3: eletromagnetismo. São Paulo: Edusp, 1993. 438 p, il.
INCONTRI, D. Estação Terra: comunicação no tempo e no espaço. 2. ed. São Paulo:
Moderna, 1991. 72 p. (Desafios).
KUPSTAS, M. (Org.). Ciência e tecnologia: em debate. 2. ed. São Paulo: Moderna,
1998. 144 p. (Debate na Escola).
PROGRAMA de Educação à Distância para Professores dos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental. Ofício do professor: aprender para ensinar: Ciência, tecnologia e
cotidiano. São Paulo: Fundação Victor Civita: Abril, 2001. (Caderno 6).
REIS, L. B. dos; SILVEIRA, S. (Org.). Energia elétrica para o desenvolvimento
sustentável. São Paulo: Ed. USP, 2000. 284 p.
SILVA, E. R. da; SILVA, R. R. H. da. Conservação de alimentos. 5. ed. São Paulo:
Scipione, 1997. (O Universo da Ciência).
86

S ITES NA I NTERNET
Ministério de Minas e Energia
Disponível em: <http://www.mme.gov.br
Ministério dos Transportes (Anuário Estatístico)
Disponível em: <http://www.transporte.gov.br
Ciência Hoje Especial sobre Energia
Disponível em: <http://www.uol.com.br/cienciahoje/especial
87

88

V. Orientação para
COMPREENDER o trabalhoCOMO
A NATUREZA do professor
UM SISTEMA DINÂMICO E Ciências - Ensino Fundamental
Capítulo III
O SER HUMANO, EM SOCIEDADE, COMO UM DE SEUS AGENTES
DE TRANSFORMAÇÕES.
Compreender a natureza e
preservar a vida
José Trivellato Junior
Reconhecer que o ser humano é o ser demais componentes ambientais

vivo que mais interfere no ambiente é (aspectos físicos, químicos, geológicos,
um pré-requisito para a sobrevivência climáticos etc.). Devemos tomar
da nossa própria espécie. Os danos cuidado para não apresentarmos os
ambientais provocados nos últimos seres vivos e os demais componentes do
séculos degradou grandes áreas do ambiente como recursos que estão
planeta. A tomada de consciência e a disponíveis para o uso irrestrito da
ação de todos os bilhões de habitantes, sociedade humana. As condições de
particularmente os do nosso país, são vida da população dependem,
também responsabilidade de todos os obrigatoriamente, dos recursos
níveis de ensino. materiais (vivos e não vivos) que são
Nesse sentido, essa competência é parte retirados do ambiente, muitos dos quais
integrante importante do programa são processados nas indústrias. O uso
curricular dos estudantes de EJA, e o que fazemos dos recursos disponíveis
papel do professor (facilitador da vai continuar, mas o que podemos fazer
aprendizagem dos conteúdos da área de para explorá-los de maneira racional?
Ciências Naturais e suas tecnologias), Ressaltar a importância dos seres vivos e
como um provocador e coordenador de dos aspectos físicos do ambiente na
discussões que geram aprendizagem, é manutenção do equilíbrio dos
fundamental para aflorar a consciência ecossistemas tem como perspectiva a
de todos quanto à necessidade de continuidade da vida na Terra. Reduzir o
preservação e uso racional do ambiente. antropocentrismo dos estudantes traz
A natureza é um sistema dinâmico e benefícios, na medida em que altera as
deve ser trabalhado, em situações atitudes individuais e coletivas na busca
escolares, de forma que os estudantes de alternativas viáveis para a
compreendam as relações entre os seres conservação da biodiversidade dos
vivos (incluindo a si próprios) e os ecossistemas, ao mesmo tempo que
89

permite aos estudantes se perceberem que estão adaptados ao ambiente em

como elementos do ambiente. Também é que vivem. Podemos pensar na
importante enfatizar que as tecnologias possibilidade de desaparecimento de
têm um forte poder de transformação das muitas espécies (empobrecimento da
condições de vida do ser humano e do biodiversidade) na medida em que os
ambiente, e, por isso mesmo, devem ser ecossistemas são drasticamente
utilizadas tanto para satisfazer alterados. Reconhecer a integração e
necessidades imediatas da população interdependência que há entre os seres
como para recuperar ecossistemas vivos é um importante passo para a
degradados pela ação humana. As ações compreensão do equilíbrio dinâmico
pedagógicas dos facilitadores da que há nos ecossistemas.
aprendizagem devem valorizar os Com isso, os estudantes são estimulados
aspectos citados, os quais envolvem a perceber que compartilhamos com
importantes conceitos científicos outros seres os mesmos espaços e que a
relacionados à área das Ciências manutenção da biodiversidade depende
Naturais. também do nosso conhecimento sobre
Não podemos esperar que os estudantes, os ambientes naturais.
logo na primeira página do capítulo, A habilidade identificar, em situações
sejam colocados diante dos problemas reais, pertubações ambientais ou
mais complexos que a sociedade medidas de recuperação procura
enfrenta hoje. As situações e descrições desenvolver a reflexão sobre
propostas no texto procuram partir de perturbações ambientais provocadas por
um nível de complexidade pequeno para nós, ao mesmo tempo que levanta as
outro mais abrangente e propiciar aos diversas possibilidades de remediação
estudantes momentos de reflexão que (recuperação) do ambiente produzidas
favoreçam o pensar na natureza como pelo conhecimento científico. Nessa
estrutura dinâmica e fortemente habilidade, os estudantes analisam
influenciada pela ação humana. como a perturbação de áreas naturais
provoca impactos em diferentes
DESENVOLVENDO A comunidades. O exemplo utilizado
COMPETÊNCIA refere-se à Mata Atlântica e salienta os
A habilidade descrever e comparar aspectos históricos que levaram à
diferentes seres vivos que habitam perturbação ambiental. Os estudantes
diferentes ambientes, segundo suas aprendem diversos conceitos
características descreve diferentes seres importantes da Ecologia (ecossistema,
vivos segundo suas características controle biológico, relação presa-
biológicas, relacionando-as às predador, dinâmica de populações) e
características ambientais. Os exemplos refletem sobre as formas de evitarmos
escolhidos mostram alguns organismos futuros problemas ambientais.
90

Na habilidade relacionar transferência possibilidades de produção agrícola

de energia e ciclo de matéria a com o mínimo de impacto na natureza.
diferentes processos, o enfoque está nas Finalmente, a habilidade propor
relações entre a transferência de energia alternativas de produção que
e o ciclo da matéria com processos minimizem os danos ao ambiente
como respiração, fotossíntese e provocados por atividades industriais
decomposição. A Floresta Amazônica ou agrícolas procura estimular os
oferece as informações que estimulam estudantes a pensar em propostas que
os estudantes a selecionar, organizar e promovam a exploração dos recursos
interpretar dados de diferentes formas, naturais de forma sustentável. Nessa
utilizando-se de cadeias alimentares e perspectiva, o texto apresenta vários
textos descritivos. Além disso, os danos ambientais (nas dimensões
problemas ambientais são o mote para econômicas, sociais, históricas e
os estudantes exercitarem a cidadania culturais) provocados pelo cultivo
na medida em que desenvolvem o extensivo de cana-de-açúcar, ao mesmo
pensamento crítico para a tomada de tempo em que demonstra como o uso
decisões frente a impactos ambientais de tecnologia “limpa” (tecnologia
de natureza semelhante. ambiental) e o conhecimento científico
A habilidade relacionar, no espaço e no contribuem para a manutenção de uma
tempo, mudanças na qualidade do solo, economia estável com o mínimo de
da água ou do ar às intervenções prejuízo ambiental.
humanas é trabalhada a partir do Outras atividades econômicas
impacto que a cultura de cana-de- (industriais e/ou agrícolas), assim como
açúcar causou no ambiente nos últimos outros exemplos de seres vivos de
séculos. Apesar da importância do ecossistemas brasileiros que sofrem a
açúcar e do álcool, obtidos das ação humana, podem ser utilizados para
plantações, para a economia (energia e se desenvolverem as habilidades do EJA
alimento), a substituição da mata nativa de Ciências Naturais propostas nesse
por essa cultura provocou a poluição da capítulo. Além disso, os conceitos
água, do ar e do solo ao redor das trabalhados auxiliam na compreensão
usinas, além da perda de fertilidade de da natureza como um sistema dinâmico,
grandes áreas de terra agriculturáveis. O inserindo os seres humanos como
texto apresenta as causas desse impacto agentes transformadores e parte
e suas conseqüências para o ambiente. O integrante do ambiente.
estudante é levado a pensar em
91

BIBLIOGRAFIA
ALMANAQUE ABRIL 2000. Brasil. 26. ed. São Paulo: Abril, 2000. 433 p, il.
ALVARENGA, T. A destruição da Amazônia. Veja, São Paulo, v. 30, n. 51, p. 8-19, 1997.
Especial Amazônia.
_____. A sinfonia da água. Veja, São Paulo, v. 30, n. 51, p. 42-51, 1997. Especial
Amazônia.
BRACCO, J. E. Avaliação da resistência a inseticidas em população de Culex
quinquefasciatus (Diptera: Culicidae) do rio Pinheiro (São Paulo, Brasil)..
Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Saúde Pública da USP, São Paulo, 1998.
Disponível em: <http://www.sucen.sp.gov.br/pesquisa/teses/>. Acesso em: 1° jul. 2002.
BRANCO, S. M. O desafio amazônico. 13. ed. São Paulo: Moderna, 1989. 103 p.
(Polêmica).
CORRÊA, N. S. O alerta da história. Veja, São Paulo, v 30, n. 51, p. 78-87, 1997.
Especial Amazônia.
EMBRAPA. Recursos genéticos e tecnologias: tecnologias da instituição. Disponível
em: <http://www.cenargen.embrapa.br/>. Acesso em: 1° jul. 2002.
GOLDEMBERG, J. Energia, meio ambiente e desenvolvimento. São Paulo: Edusp,
1998. 234 p, il. Tradução de André Koch.
LEÃO, R. M. A floresta e o homem. São Paulo: Edusp, 2000. 434 p.
MARQUES, O. A. V.; ETEROVIC, A.; SAZIMA, I. Serpentes da Mata Atlântica: guia
ilustrado para a Serra do Mar. Ribeirão Preto: Holos, 2001. 184 p.
NEBEL, B. J.; WRIGHT, R. T. Environmental science: the way the world works. 7. ed.
Upper Sadlle River: Prentice Hall, 2000. 664 p.
ODUM, E. P. P. Ecologia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988. 434 p. Tradução de
Christopher J. Tribe.
TECHNIC Controle de Pragas Urbanas Ltda. Disponível em: <http://
www.technic.hpg.ig.com.br/>. Acesso em: 1° jul. 2002.
UNIVERSIDADE Federal Rural do Rio de Janeiro. Instituto de Tecnologia. Disponível
em: <http://www.ufrrj.br/institutos/it/de/acidentes/mosq.htm>. Acesso em: 1° jul.
2002.
USINA Açucareira Guaíra. Disponível em: <http://www.uag.com.br>. Acesso em: 1° jul.
2002.
VARELLA, F. Caldeirão de vida. Veja, São Paulo, v. 30, n. 51, p. 30-35. 1997. Especial
Amazônia.
92

COMPREENDER
V. Orientação para o trabalho
A SAÚDE COMOdo professor
BEM PESSOAL E AMBIENTAL Ciências - Ensino Fundamental
Capítulo IV
QUE DEVE SER PROMOVIDO POR MEIO DE DIFERENTES
AGENTES, DE FORMA INDIVIDUAL E COLETIVA.
A saúde é um
direito do cidadão
Maria Augusta Querubim
A saúde é um direito do cidadão, mas, relacionados, como uma transcendência

para que um cidadão possa exercer os no que se refere à relação com
seus direitos, ele tem que conhecer organismos internacionais como a
quais são eles. Quando se fala em saúde, Organização Mundial de Saúde e a
poucos são os cidadãos que a enxergam Organização das Nações Unidas.
além da dimensão de ausência de Inteirar-se da existência desses órgãos e
doenças. Quase ninguém imagina que a conhecer algumas de suas deliberações
saúde, para ser alcançada e mantida, ampliam os horizontes dos
não depende apenas de atendimento conhecimentos dos estudantes.
médico ou hospitalar, mas também de A reflexão sobre o que é ter saúde e
salários adequados para cobrir o custo quais os procedimentos para mantê-la e
de vida, educação, transporte, prazer de melhorá-la eleva o estudante à condição
viver, alimentação adequada, moradia, de sujeito. Uma discussão em grupo
água encanada e esgoto. Além disso, sobre o tema saúde, que respeite e
ainda poderíamos citar roupas para se valorize a realidade local da comunidade
vestir, segurança, lazer, um local de em que o estudante vive, abre um espaço
trabalho saudável e um ambiente sem precioso que permite, além de uma
poluição. aprendizagem participativa, conhecer e
O recorte sobre os aspectos da saúde compreender pontos de vista diferentes
contemplado neste capítulo tem como do seu, bem como reconhecer e respeitar
fio condutor a história de um as limitações do outro e administrar
personagem, o Beto. Diferentes situações situações de conflito.
vividas por ele servem de trampolim para
a abordagem dos assuntos selecionados. DESENVOLVENDO A
Uma discussão sobre saúde permite não COMPETÊNCIA
só a abordagem dos aspectos a ela O passo seguinte ao entendimento da
93

importância das atitudes pessoais na habilidade associar a qualidade de vida,

promoção da saúde individual é a em diferentes regiões, a fatores sociais e
discussão das ferramentas disponíveis ambientais que contribuam para isso. Esta
para se avaliar a saúde, ou seja, para se habilidade associa a longevidade humana
conhecer como anda o estado de saúde ou a mortalidade precoce em diferentes
da população da qual você faz parte. regiões a possíveis fatores sociais e
A análise dos indicadores de saúde ambientais que contribuam para isso.
contempla a habilidade da matriz do Aqui, é aconselhável uma abordagem
ENCCEJA que focaliza a capacidade de multidisciplinar que saliente os reflexos,
identificar e interpretar a variação sobre as condições e duração de vida da
dos indicadores de saúde e do população, de aspectos relacionados com
desenvolvimento humano (taxas de a seca, a desnutrição ou a falta de
mortalidade infantil, estado nutricional, trabalho.
expectativa de vida, perfis de morbidade Um assunto de grande interesse do
e mortalidade, saneamento básico, estudante são as doenças, e a relação
distribuição de renda ou níveis de entre a incidência de doenças e
escolaridade). A compreensão de como condições que favorecem a sua
se avalia a saúde da população passa ocorrência está destacada na
pela forma adequada de representação. O habilidade relacionar a incidência de
capítulo procura mostrar como se faz a doenças ocupacionais, degenerativas e
leitura de uma tabela, qual o significado infecto-contagiosas a condições que
dos dados nela apresentados e como favorecem a sua ocorrência. O capítulo
essas informações podem ser cita diferentes tipos de doenças e
representadas na forma de gráfico. Em apresenta tabelas com as doenças
sala de aula, atividades envolvendo, por infecto-contagiosas mais comuns
exemplo, a análise de diversos dados causadas por vírus e bactérias e como se
oficiais de Censo 2000 propiciam o dá a transmissão e a profilaxia.
desenvolvimento e o exercício da Entretanto, é na sala de aula que se
capacidade de fazer comparações entre oportuniza a discussão sobre as
variáveis diferentes, descobrir relações e verdades e os mitos sobre as doenças,
de transpor o que foi aprendido para suas causas e as formas de prevenção e
situações novas. tratamento, com valorização das
Importante, também, é mostrar ao atitudes individuais e coletivas. É
estudante que existem diferentes tipos importante que se abra uma discussão
de representações gráficas e discutir sobre o que é vacinação e qual a sua
qual a mais adequada para mostrar uma importância; quando se usa vacina e
informação particular. quando o soro é mais indicado; quando
se usam antibióticos e os efeitos da
A capacidade de estabelecer relações
utilização indiscriminada desse tipo de
entre variáveis também está relacionada à
94

medicamento. Quando o assunto é de trabalhos insalubres, os males

doença, é necessário que se estabeleça, decorrentes dessas condições e os
na classe, um clima de confiança e direitos dos trabalhadores relativos a
respeito para a discussão de dúvidas dos um ambiente de trabalho saudável e
estudantes, principalmente aquelas seguro. Tendo em vista os estudantes
relacionadas com as doenças de EJA, torna-se necessário garantir um
sexualmente transmissíveis. espaço, em sala de aula, para que o
Um ponto que deve ficar claro para o estudante emita opiniões, relate
estudante é que nem todas as doenças histórias de sua vida pessoal, discuta
são causadas por micróbios e que com seus colegas, troque experiências
muitas doenças graves são decorrentes e reflita sobre as suas condições de
das sobrecargas, das tensões e dos trabalho.
hábitos da vida nas grandes cidades. O mesmo procedimento se aplica
Vale enfatizar que muitos dos fatores quando está em pauta a segurança no
que as condicionam podem ser trabalho. Um aspecto que deve ser
controlados com pequenas mudanças discutido entre os estudantes é o
nos hábitos diários, como parar de direito, garantido pela Constituição
fumar, cuidar da alimentação, praticar Federal, a equipamentos de segurança
atividade física etc. individual, específicos para cada tipo de
Um enfoque destacado neste capítulo atividade. A utilização de notícias de
é a relação entre saúde e trabalho, jornal ou revistas como fator
com abordagem de dois aspectos desencadeador de discussões ou
fundamentais, as doenças relacionadas atividades traz como benefício
ao trabalho e a segurança no trabalho. adicional a instalação do hábito da
Neste contexto, as habilidades leitura. Procure, também, incentivar os
destacadas são: estudantes a fazer o registro escrito de
suas opiniões; muito útil na
• escolher argumento mais adequado
consolidação do trabalho em equipe é a
para relacionar problema de saúde do
criação de textos coletivos. A
trabalhador com informações sobre
proposição, pelos estudantes, de temas
suas condições de trabalho; e
para discussão cria compromisso com a
• comparar e selecionar alternativas de
atividade registrar.
condições de trabalho
e/ou normas de segurança em Por fim, o capítulo faz menção à
diferentes contextos, valorizando o importância das ações solidárias na
conhecimento científico e o bem-estar melhoria das condições de vida dos
físico e mental de si próprio e cidadãos. Participar de associações de
daqueles com quem convive. moradores e defender ações que se
No que se refere às doenças consideram justas é um exercício de
ocupacionais, são relatadas condições cidadania. Incentive nos estudantes a
95

reflexão sobre a responsabilidade de vida na sua comunidade. Procure

cada um no bem-estar coletivo, o que reforçar a importância da participação
cada um pode fazer sozinho ou com ativa e civilizada nas reivindicações de
outros para melhorar as condições de seus direitos junto aos órgãos públicos.
BIBLIOGRAFIA
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Escola do futuro trabalhador: educação
da criança, direitos trabalhistas, segurança e saúde do trabalhador. 2. reimp. Brasília,
DF: MIT/2000.
Curriculares Nacionais: ciências naturais. Brasília, DF: MEC, 1998.
REY, L. Dicionário de termos técnicos de medicina e saúde. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 1999. 826 p.
SITES NA INTERNET
Indicadores de Saúde. Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.br/tabnet/

tabnet.html#indicsaude>. Acesso em: 4/2002.
Informações em Saúde. Disponível em: <http://www.funasa.gov.br>. Acesso em:
4/2002.
Informações em Saúde. Disponível em: <http://www.saude.gov.br> . Acesso em:
4/2002.
Saúde e Segurança no Trabalho. Disponível em: <http://www.mte.gov.br>.
Acesso em: 4/2002.
96

COMPREENDER
O PRÓPRIO do professor
CORPO E A SEXUALIDADE COMO Ciências - Ensino Fundamental
Capítulo V
ELEMENTOS DE REALIZAÇÃO HUMANA, VALORIZANDO E
DESENVOLVENDO A FORMAÇÃO DE HÁBITOS DE AUTO-
CUIDADO, DE AUTO-ESTIMA E DE RESPEITO AO OUTRO.
Conhecendo e respeitando
o próprio corpo
Maria Aparecida Lico
Esse capítulo foi elaborado com o Motivos que, por si sós, fazem essa parte
objetivo de estimular os estudantes a do corpo ser uma das mais conhecidas,
olhar para o próprio corpo, procurando mesmo que superficialmente.
conhecê-lo melhor e respeitá-lo mais. Conhecer o que faz bem e o que pode
Acreditamos que o estudo se torna real fazer mal ao corpo levou às questões da
quando conseguimos aplicar o que auto-medicação, alimentação adequada
lemos, vemos e percebemos em nosso e inadequada, uso de drogas. Os
próprio corpo. Sabemos que essa não é assuntos ligados à sexualidade ocupam
uma tarefa fácil, precisamos de grande parte do capítulo porque são
conhecimento e treino para realizá-la. importantes sob diversos aspectos.
Buscando concretizar o trabalho, Pensar sobre a própria sexualidade
pensamos em situações que acontecem promove o auto-conhecimento.
com freqüência e que possibilitam o As modificações do corpo da mulher
questionamento, a opinião pessoal e a durante a gravidez permitem diversas
tomada de decisão. discussões sobre os órgãos do abdômen
Na discussão das questões, o professor e do organismo em geral. A sexualidade
pode valorizar as diversas opiniões e envolve escolhas, gera prazer e
estimular discussões para que as idéias conflitos. Por esses motivos, seu espaço
amadureçam. Não se deve procurar uma foi privilegiado.
resposta correta nesses casos, porque
opinião é valor, não é conceito. DESENVOLVENDO A
O ponto de partida para estudar o corpo COMPETÊNCIA
foi a região do abdômen. O abdômen Para contemplar a habilidade,
abriga muitos órgãos, é possível tocá-lo, escolhemos o aparelho reprodutor
escutar seus ruídos, vê-lo mudar de feminino e centramos as atividades nas
forma em determinadas situações. observações de figuras. O estudante,
97

então, é convidado a localizar, nomear e apresentados. A forma como a proposta

descrever órgãos ou sistemas do corpo é trabalhada introduz os nomes dos
humano como referência para órgãos e mostra sua localização, sem
identificar hábitos de manutenção da que seja necessária uma descrição para
saúde, funções ou disfunções a eles a compreensão das funções. O caminho
relacionadas. Iniciar o capítulo por percorrido nessa parte do trabalho
situações referentes aos aparelhos justifica o nome dado como subtítulo:
reprodutores permitiu abordar a Da sexualidade ao corpo todo.
importância da nomenclatura correta, Abordagens semelhantes podem
uma vez que os órgãos genitais têm complementar esse capítulo, com ênfase
tantos nomes populares, e nomeá-los nos órgãos do tórax, por exemplo,
inadequadamente pode criar situações enfocando problemas respiratórios e
constrangedoras. cardíacos. O importante é que a
As atividades iniciais trabalham a compreensão do corpo seja o prioritário
inibição que o tema provoca e e não a memorização dos nomes, apenas.
procuram discutir esse comportamento A habilidade sugere associar sintomas de
que é natural, mas pode ser doenças a suas possíveis causas ou
modificado, facilitando o resultados de testes diagnósticos
esclarecimento de dúvidas. A gravidez simples, prevenindo-se contra a
é uma situação que aparece para incluir automedicação e valorizando o
mais um órgão no abdômen, o útero, e, tratamento médico. Temos situações que
nesse período, esse órgão cresce. O fazem o estudante pensar nos Avisos que
estudante é solicitado a pensar no que o corpo nos dá e no tipo de solução que
deve mudar, no que acontece com o muitas vezes levam as pessoas a colocar
crescimento do útero, e nas a saúde em risco com a automedicação e
conseqüências para os outros órgãos da o abuso de medicamentos.
região.
O texto narrativo informa e questiona,
Essas situações motivam atividades de através de atividades de análise e
observação de figuras. Elas são pedidos de posicionamentos.
importantes e indispensáveis no estudo Destacamos aqui a relevância da
do corpo humano, mas não é fácil fazer atividade que sugere a interpretação do
uma boa análise de figura. As atividades texto O uso de medicamentos. Nessa
seguintes exigem essa observação, e, atividade o motorista tem uma
assim, as funções dos órgãos preocupação com as outras pessoas,
observados vão sendo colocadas. As motoristas e pedestres.
atividades que abordam questões Se um motorista dirige um carro sem
polêmicas, envolvendo crenças e tabus estar com as condições de atenção e
relacionados ao fluxo menstrual e à concentração perfeitas, coloca em risco
masturbação, devem ser discutidas, para não só a sua vida. Esse é o aspecto
que os esclarecimentos sejam central da atividade.
98

A falta de hábito da leitura das bulas Analisar o funcionamento dos métodos

dos remédios é comum na população. É anticoncepcionais e reconhecer a
interessante promover, nas aulas, a importância de alguns deles na
leitura de bulas de remédios que os prevenção de doenças sexualmente
próprios estudantes usam, para se transmissíveis, considerando diferentes
constatarem as informações que não são momentos do desenvolvimento sexual e
lidas normalmente. Vídeos de psíquico do ser humano é o que propõe
propaganda podem ser discutidos nas outra habilidade.
aulas. Deve-se observar tanto o No capítulo, a abordagem ganhou o
conteúdo dessas propagandas de título Evitando a gravidez indesejada e
remédio como a atitude dos atletas que protegendo-se de doenças para
não aceitam fazer esse tipo de estabelecer oposição imediata aos dados
propaganda. Não foi por acaso a escolha estatísticos sobre a porcentagem de
de um fato real, ocorrido com um atleta partos em adolescentes no ano de 2001,
médico. em relação ao total de partos nos
Para desenvolver a habilidade hospitais públicos. Se nosso país tem
relacionar saúde com hábitos mais mães adolescentes, podemos
alimentares e atividade física, concluir que essa população não está
considerando diferentes momentos do evitando a gravidez e nem se
ciclo de vida humano, são abordadas protegendo das doenças sexualmente
questões sobre o desperdício de transmissíveis...
alimentos e iniciativas de combate à Para falar dos métodos anticoncepcionais,
fome para introduzir o papel dos é necessário que o estudante entenda a
nutrientes no nosso corpo. Muitas fecundação nas tubas uterinas e em que
informações estão colocadas em ponto do processo cada método age. O
tabelas para trabalhar nas atividades texto No Tempo de Nossas Bisavós trata
essa forma de leitura. O estudante, da emancipação da mulher com a
então, terá de selecionar informações, invenção da pílula anticoncepcional e as
analisar, interpretar e tirar conclusões mudanças de comportamento decorrentes
com base nos dados que coletou, que do fato. Casos familiares podem estimular
estão disponíveis. Há muitos tipos de a discussão da mudança de valores como
tabelas com informações sobre a virgindade, entre outros. As atividades
alimentos e seus nutrientes, gasto de são de reflexão sobre a importância do
energia em diferentes atividades autoconhecimento e das opções que
físicas. É possível, então, organizar devem ser feitas sobre o método
outros exercícios com dietas mais anticoncepcional a ser escolhido e alguns
regionais, para que cada grupo de problemas de saúde que impedem a livre
estudantes possa pensar na sua escolha. Em cada um dos textos sobre os
situação real de alimentação e esforço métodos anticoncepcionais é enfatizado
físico diários.
99

que os métodos não protegem contra as comuns na região para uma prevenção
DST, e apenas a camisinha é segura para efetiva de acidentes com plantas
esse fim. Construir no calendário um ciclo venenosas. Além disso, desmistifica a
menstrual permite que os estudantes crença de que “o que é natural não faz
visualizem as suas etapas e percebam a mal à saúde”. Algumas drogas são
importância desse conhecimento. mencionadas, e seus efeitos no
Fechando a abordagem sobre o organismo citados para informação e
conhecimento e o respeito ao próprio alerta. Nesse assunto, o que sugerimos
corpo, são mostrados alguns problemas como atividade é a opinião pessoal e
causados pelas drogas. Esse é um dos um posicionamento sobre textos
temas da habilidade, selecionar e veiculados por jornais e revistas.
justificar propostas em prol da saúde
física ou mental dos indivíduos ou da Acreditamos que a forma e o conteúdo
coletividade, em diferentes condições apresentados dessa maneira darão ao
etárias, culturais ou socioambientais. estudante bons motivos para achar
O resultado de uma pesquisa com importante conhecer e respeitar
jovens que acreditam que a maconha o seu corpo.
não é uma droga, por ser uma erva, O professor deve orientar as discussões
levou ao alerta sobre o grande número para não haver imposição de conduta e
de espécies de plantas venenosas que esclarecer, ao máximo, tudo o que for
temos em nosso país. Esse fato permite questionado pelos estudantes.
uma pesquisa sobre os exemplares
BIBLIOGRAFIA
ARATANGY, L. R. Doces venenos: conversas e desconversas sobre drogas. 2. ed. São
Paulo: Olho d´água, 1991. 175 p.
BARROSO, C.; BRUSCHINI, C. (Org.). Sexo e juventude: um programa educacional. São
Paulo: Brasiliense, 1983. 85 p, il.
Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: apresentação
dos temas transversais. Brasília, DF: MEC, 1998.
GUYTON, A. C. Tratado de Fisiologia Médica. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 1991. 864 p, il. Tradução de Celso de Resende Ferreira Filho et al.
FRANCO, G. Tabela de composição química dos alimentos. 8. ed. Rio de Janeiro:
Atheneu, 1992. 230 p. (Endocrinologia, metabolismo e nutrição).
SUPLICY, M. Sexo para adolescentes. São Paulo: FTD, 1998. 160 p.
TORTORA, G. J. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia. 4. ed. Porto
Alegre: Artemed, 2000. 574 p. Tradução de Cláudia L. Zimmer.
100

APLICAR CONHECIMENTOS E TECNOLOGIAS ASSOCIADAS Ciências - Ensino Fundamental
Capítulo VI
ÀS CIÊNCIAS NATURAIS EM DIFERENTES CONTEXTOS
RELEVANTES PARA A VIDA.
Um bom cidadão
sabe escolher
Nelson Orlando Beltran
Numa sociedade moderna como esta em DESENVOLVENDO A

que vivemos atualmente, em que os COMPETÊNCIA
avanços tecnológicos permitem uma
Com essas preocupações e pensando nas
grande variedade de escolhas dos
competências e nas habilidades a serem
produtos que consumimos, a capacidade
desenvolvidas no estudo do capítulo, foi
de escolher bem torna-se cada vez mais
escolhido, num primeiro momento, o
importante e mais difícil. Hoje em dia,
estudo de folheto distribuído pela
um cidadão educado deve perceber que
Organização Mundial de Saúde a
em cada escolha que ele faz, mesmo uma
diversos órgãos públicos e privados que
escolha que possa aparentar pouca
pudessem interferir no tratamento da
importância, como a compra de um
água distribuída à população.
frasco de produto de limpeza, de um
alimento ou de outro produto qualquer, Essa escolha, além de propiciar um
pode estar beneficiando ou prejudicando estudo sobre uso de um produto para
a sua saúde ou a saúde do planeta. diversas finalidades, tais como alvejante
de roupas, desinfecções de vasos
A aplicação de conhecimentos das
sanitários, de caixas d’água e da própria
ciências naturais pode ajudar muito na
água, enseja também a discussão do
capacidade de escolher bem.
conceito e do estigma que se tem das
Ter conhecimentos sobre as composições substâncias químicas. Isso porque o
de produtos de limpeza dá maiores opções cloro, que é uma substância venenosa já
de escolha; compreender as razões das utilizada até em guerras, se empregado, é
recomendações e precauções para o seu eficaz para diversos outros usos que nos
uso ajuda a evitar prejuízos e acidentes. beneficiam. Além disso, o cloro é uma
Dar oportunidade para o aluno perceber substância que é produzida pela indústria
as relações entre aquilo que ele estuda química, ela não é encontrada pronta na
nas aulas de ciências, a natureza e a sua natureza. É uma substância química
própria vida estimula o estudo.
101

industrializada, produzida através de ter com os produtos, refletindo sobre as

uma reação química. Uma substância causas dessas precauções. Por que razão
química venenosa, produzida por o frasco não é transparente? Por que não
indústrias químicas, que, se bem pode ser deixado à luz do sol? Por que
utilizada, é eficaz no combate à cólera! não deve ser deixado aberto? E outras.
Essa escolha traz a discussão de uma Algumas atividades serão realizadas para
situação na qual o conhecimento ajudar a desenvolver essas habilidades de
químico ajuda a resolver um problema leitura e interpretação dos rótulos.
do dia-a-dia das pessoas. É importante Podem ser analisados muitos rótulos que
que outros exemplos sejam discutidos os próprios alunos tragam.
com os estudantes. Uma atividade muito proveitosa é
Como o desinfetante com cloro mais uma experiência simples, porém muito
acessível (mais fácil de ser comprado, interessante e fácil de ser realizada
mais barato) é encontrado na água em casa.
sanitária ou água de lavadeira, um A experiência está proposta da maneira
produto de limpeza utilizado na maioria mais simples possível, porém pode-se
das casas, fica claro também que a pensar em explorá-la mais. Podem ser
química (mesmo a química dos produtos usadas várias concentrações para a água
industriais) está presente no cotidiano de cloro (água sanitária), estudando as
das pessoas. influências que a concentração pode
É preciso aprender também que tudo o exercer na corrosão. Pode-se também
que conhecemos do mundo material, variar a temperatura inicial da água de
até mesmo nossos alimentos, é formado cloro, aquecendo-a ou resfriando-a,
por substâncias e, se são substâncias, estudando assim as influências da
são substâncias químicas! Essa temperatura numa reação química.
discussão é fundamental no sentido de Podem-se utilizar pregos diferentes, de
se superar o senso comum de muitas diversas procedências e diversos
pessoas que acham que “tudo que é e tamanhos. Várias outras propostas para
que contém química faz mal”. a mesma experiência podem ser feitas.
Nossos alunos poderão verificar que os Sempre vai ser uma escolha do
rótulos dos produtos de limpeza e de professor, porém não se deve perder de
outros produtos trazem muitas vista que o importante é que o
informações úteis. Uma delas é que, experimento proposto seja
dependendo da finalidade para a qual se investigativo; é interessante que tenha
usa o produto, deve-se prepará-lo de uma pergunta a ser respondida e que
diferentes maneiras. Umas vezes mais também possa gerar muitas outras.
concentrado, outras vezes mais diluído. No estudo do uso da água sanitária para
Aprenderão também a respeito dos descontaminar água não tratada os
cuidados e das precauções que se deve estudantes terão oportunidade de
102

conhecer um teste para a dosagem do Os alunos poderão refletir sobre a

teor de cloro na água tratada. Aqui vale conveniência do uso dos plásticos ou
a pena ressaltar que o próprio dos vidros nas embalagens dos
conhecimento químico desenvolve produtos. O texto do capítulo não tem,
maneiras de se controlar o uso das é claro, a pretensão de esgotar o
substâncias de forma dosada e segura. assunto a respeito de diversos aspectos
A análise de rótulos de alimentos e as que devem ser considerados quando a
diversas atividades para sua pessoa se depara com uma decisão
interpretação permitirão uma boa como essa. O texto traz algumas
discussão sobre as dietas alimentares e informações e procura levantar algumas
as diversas escolhas que podem ser discussões. Porém, seria interessante
feitas numa alimentação. Sempre é bom estimular os alunos a buscar mais
lembrar que a prescrição de dietas deve informações sobre a produção, a
ser feita por profissionais preparados, reciclagem e o destino que se dá aos
como médicos e nutricionistas. materiais usados nas embalagens, não
só de plásticos e de vidros como
também de metais e de papel.
BIBLIOGRAFIA
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria do Ensino Fundamental. Parâmetros
Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: Ciências
Naturais.. Brasília: DF: MEC, 1998.
CANTO, E. L. do. Plásticos: bem supérfluo ou mal necessário? São Paulo: Moderna,
2000. 88 p.
CIÊNCIA HOJE. Revista de Divulgação Científica da Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência.
GRUPO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO QUÍMICA. Laboratório Aberto Experiências de
Química. São Paulo: Instituto de Química da USP, 1998.
HANDBOOK OF CHEMISTRY AND PHYSICS. 65. ed. Cleveland, 1978.
QUÍMICA NOVA NA ESCOLA. Revista de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de
Química.
RAMALHO, R. Controle de poluição das águas. Madri: Reverté, 1983.
SANEAMENTO AMBIENTAL. Revista de Institutos e Entidades Privadas em defesa do
Meio Ambiente. São Paulo: Signus, [199-?].
103

104

DIAGNOSTICAR PROBLEMAS, FORMULAR QUESTÕES E Ciências - Ensino Fundamental
Capítulo VII
PROPOR SOLUÇÕES A PARTIR DE CONHECIMENTOS DAS
CIÊNCIAS NATURAIS EM DIFERENTES CONTEXTOS.
Conhecimento científico:
importante aliado da população
Margareth Artacho
Este capítulo tem por meta a construção informações, organizadas e refletidas

de procedimentos de observação do com o objetivo explícito de responder a
mundo cotidiano, utilizando o uma questão real, constituem o acervo
conhecimento científico para analisar de conhecimentos que estamos
situações, formular questões e propor propondo ao aluno. Surge, então, a
encaminhamentos/soluções que apontem necessidade de fazer o registro das
no sentido de melhor qualidade de vida e conclusões.
inserção no mundo tecnológico que se Finalmente, é proposta a volta à
afigura no século XXI. situação-problema, ou a aplicação do
A metodologia tradicional utilizada para conhecimento estudado em nova
o ensino das Ciências não dá conta desse situação como instrumento de
olhar crítico sobre o mundo, tornando ampliação e consolidação do
necessários outros recursos. Se conhecimento recém-construído. O
quisermos que o aluno olhe fatos e retorno às hipóteses iniciais também é
fenômenos criticamente, precisamos solicitado, pois, quando o aluno
propor tal atitude; para tanto as compara seu conhecimento (ou
atividades se alicerçam em situações- explicações dadas) ao iniciar o estudo
problema reais que precisam ser com o que passa a saber após estudar o
investigadas e respondidas de modo tema proposto, ele poderá constatar sua
satisfatório. evolução, o que pode gerar impacto
A investigação desencadeada leva à positivo em estudantes com auto-
busca de informações, utilizando estima baixa.
modalidades textuais diversas, desde É esperado que, ao final do capítulo, o
obras de arte até as mais tradicionais, aluno identifique informações
como textos narrativos, tabelas e científicas, veiculadas em diferentes
esquemas explicativos. Essas representações, relacionando-as com
105

fatos do seu dia-a-dia. É esperado que Nordeste brasileiro. A situação-

ele valorize a atitude de analisar problema indicada é explicar por que a
informações e formular hipóteses na água é tão importante que chega a
tomada de decisões, compreendendo obrigar as pessoas a abandonarem seus
que conhecimentos científicos podem e entes queridos, partindo rumo a um
devem ser usados no interesse de um lugar distante e desconhecido. Por que
determinado modo de produção, como, não vivemos, nem biológica nem
por exemplo, bens de consumo e/ou em socialmente, sem água?
procedimentos de preservação da saúde. A atividade 3, além de voltar à leitura
do desenho, propõe a leitura de mapas e
DESENVOLVENDO A legendas, a comparação de informações
COMPETÊNCIA e o estabelecimento de conclusões e
Sob o título Olhando o mundo e generalizações iniciais. Explicita que
aprendendo Ciências Naturais são existem duas categorias de
desenvolvidas cinco atividades que entendimento de um texto: a leitura do
pretendem sinalizar ao aluno que é que está explícito e do que pode ser
possível aprender Ciências de um modo concluído, se o aluno relacionar o que
vivo e real, fugindo dos padrões está lendo com o que já sabe,
tradicionais do falar sobre alguma coisa distinguindo, assim, entendimento e
fria e distante em um vocabulário pouco interpretação de textos.
familiar. Observando fatos cotidianos, é As atividades 4, 5 e 6 introduzem o
possível colher informações que, ao texto narrativo e o esquema explicativo,
serem investigadas com o auxílio de modalidades textuais clássicas das
textos diversificados, explicam o Ciências Naturais. Esses são textos que
mundo onde vivemos, sinalizando explicitam a importância da água para a
alternativas para garantir a vida com vida, fornecendo elementos para
qualidade. Utilizar informações responder à situação-problema inicial.
científicas para entender o mundo pode Estamos, portanto, amealhando e
ser um importante aliado na construção organizando informação para construir
de uma sociedade mais justa e solidária. conhecimentos.
É importante destacar que mapas, tabelas, Finalmente, em Registrando algumas
gráficos, desenhos, quadros e textos conclusões, é feito o registro das
escritos são considerados modalidades conclusões, que nada mais é do que o
textuais ou simplesmente textos. conhecimento que nos propusemos
As atividades 1 e 2 propõem a construir juntamente com o aluno.
observação de duas expressões Sempre que possível, propor a aplicação
artísticas (desenho e música) como desse conhecimento em outras situações
fonte de informações sobre a seca no pode ser excelente aliado do processo
ensino-aprendizagem. Por exemplo,
106

investigar animais – como o rato canguru Leitura de imagens, legendas, execução

– que vivem em ambientes secos pode de experimentos e registro de
ampliar e consolidar o conhecimento observações em tabela são os recursos
recém-construído. utilizados como fonte de informações
Sob o título Mais conforto e tranquilidade para o entendimento (coleta e
no nosso dia-a-dia são desenvolvidas três organização de informações para
atividades que pretendem discutir com o construção de conhecimentos) do
aluno o uso que se faz dos materiais e dos comportamento observado nos gases e
equipamentos com a intermediação do na maioria dos líquidos, no sentido de
conhecimento científico. Reconhecer se expandirem e contraírem, conforme
fenômenos naturais e induzidos pela recebem ou perdem calor. A água é
atividade humana, bem como combinar exceção à regra e isso pode ser
leituras, observações e experimentações observado facilmente colocando uma
para diagnosticar e solucionar garrafa plástica totalmente cheia em um
problemas continuam objetos dessas congelador. Se se tampar a garrafa, ele
atividades. racha; se se deixar aberta, a água
congelada ultrapassa o limite da boca
Essa unidade se inicia ressaltando a
da garrafa.
relação histórica entre seres humanos e
sua necessidade de prever o tempo O conhecimento (aplicação de
atmosférico, mostrando que na maioria conhecimento sobre fenômenos naturais
das vezes essa prática se pauta na na construção de equipamentos) pode
observação de fenômenos da natureza. ser aplicado, estudando-se os
É importante ressaltar a diferença entre termostatos. A dilatação dos sólidos não
tempo, tempo atmosférico e clima é utilizada em termômetros, mas em
atmosférico. Normalmente, chamamos termostatos, instrumentos que ligam e
de tempo o tempo cronológico, o passar desligam aparelhos de ar condicionado
dos dias, anos, séculos. Tempo ou ferro elétrico, quando esquentam ou
atmosférico são as condições climáticas esfriam demais. Para manter a faixa de
atuais, e as condições climáticas mais temperatura estável, metais são
comuns em uma determinada região acoplados à chave de contato desses
constituem o seu clima atmosférico. aparelhos. Assim, quando atingem certa
dilatação pelo calor, desligam a chave.
Destaca-se que atualmente a previsão
Por outro lado, ao atingir certa
do tempo se pauta em medidas das
contração pela falta de calor, acionam a
condições climáticas, contextualiza a
chave, ligando o aparelho.
necessidade de construção de
instrumentos precisos de medidas e sua A situação-problema proposta para
organização em estações discutir a importância de considerar as
meteorológicas localizadas em diversos variáveis da análise de fenômenos ou
pontos do mundo. procedimentos é a efervescência
107

produzida por alguns comprimidos de A escolha de procedimentos e/ou ações

medicamentos ou vitaminas em contato na prevenção à dengue é a situação-
com a água. Dessa forma, são problema apresentada. As fontes de
apresentadas noções sobre reações informações utilizadas são notícias de
químicas através de texto, experimento e jornais e revistas de grande circulação e
registro de resultados em tabela, sendo folheto de divulgação produzido pelo
ensaiada a primeira generalização quando, Ministério da Saúde. Esse material
a partir do observado, conclui-se que pretende estimular o entendimento de
“qualquer reação química pode ter sua que, para resolver o problema da
rapidez alterada”. Finalmente, é feito o dengue (e outras doenças), é necessário
registro das conclusões, onde o associar ações diversas. Nesse caso, a
conhecimento cuja construção foi produção de conhecimento pela
proposta é sistematizado. comunidade científica, o papel dos
As atividades se encerram retomando governos na divulgação dessas
hipóteses formuladas previamente. informações e na implementação de
Essa prática permite ao aluno adquirir ações de controle de epidemias, a
consciência da evolução do seu necessidade de a população buscar e
conhecimento. É o saber que sabe, assumir novas atitudes frente ao
fundamental na construção de conhecimento aprendido, conjugando
auto-imagem positiva. ações individuais e coletivas sempre
que necessário. Esses são os
instrumentais propostos na construção
de atitudes de prevenção à saúde.
BIBLIOGRAFIA
Curriculares Nacionais. ciências naturais: terceiro e quarto ciclos do ensino
fundamental. Brasília, DF: MEC, 1998.
CAMPOS, M. C. C.; NIGRO, R. G. Didática de ciências. São Paulo: FTD, 1999.
CARVALHO, A. M. P. et al. Ciências no ensino fundamental: o conhecimento físico.
São Paulo: Scipione, 1998.
CONTENTE, M. A leitura e a escrita: estratégia de ensino para todas as disciplinas.
Lisboa: Editorial Presença, 2000.
108

DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A.; PIERSON, A. et al. Metodologia do ensino de ciências.

São Paulo: Cortez, 1990. (Coleção magistério 2º grau. Série formação do professor).
207p.
KLEIMAN, Â. B. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. 5. ed. Campinas: Pontes,
1997. 82 p.
MACHADO, N. Mapa do saber. Revista Educação, São Paulo, p. 7-9, set. 2001.
NEVES, I. C. B. et al. Ler e escrever: compromisso de todas as áreas. Porto Alegre:
Editora da Universidade, 2001.
ROWAN, P. Seu corpo! Um verdadeiro livro de recordes. São Paulo: Ática, 1998.
PROPOSTA EJA
CIÊNCIA HOJE DAS CRIANÇAS. Rio de Janeiro. n. 60, p. 8, 1996.
CIÊNCIAS PARA CRIANÇAS. São Paulo, Funbec, n. 1, p. 12, 1985.
GRUPO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO QUÍMICA. Química para o Ensino Médio. São
Paulo: Edusp, 1998.
Disponível em: <http://www.cptec.inpe.br>. Acesso em maio: 2002.
Disponível em: <http://www.saúde.gov.br>. Acesso em maio: 2002.
109

110

COMPREENDER O SISTEMA SOLAR EM SUA Ciências - Ensino Fundamental
Capítulo VIII
CONFIGURAÇÃO CÓSMICA E A TERRA EM SUA
CONSTITUIÇÃO GEOLÓGICA E PLANETÁRIA.
Falando do nosso planeta

e do universo
Ricardo Rechi Aguiar
Olhar para o céu sempre causou fascínio dentro do Universo foram ficando mais
e curiosidade. Desde a Antigüidade, o ser claros com o passar do tempo: vivemos
humano busca explicações para as em um planeta especial e nós, assim
origens do Universo e para os fatos de como toda a vida existente na Terra,
suas vidas nos fenômenos celestes. A somos muito especiais.
Astronomia, que nasceu junto com a Cabe, então, a cada um de nós, perceber
Astrologia, com o passar do tempo foi-se essa importância e cuidar para que o
diferenciando desta outra para tornar-se equilíbrio, que mantém o ambiente e a
uma das mais importantes áreas das vida em nosso planeta, não seja
ciências naturais da atualidade. quebrado. É a busca pelo despertar dessa
Desde a invenção do telescópio, no consciência que norteia o texto.
século XVII, até a entrada em atividade Este capítulo pretende promover uma
do primeiro telescópio espacial, o discussão sobre algumas características
Hubble, em 1990, a visão que a principais de nosso planeta e sua relação
humanidade possui do universo mudou com o Sistema Solar do qual faz parte.
muito. Pudemos ver que alguns astros
Tenta, também, através da seleção,
que achávamos serem estrelas eram na
organização e interpretação de
verdade galáxias, aglomerados de
informações que lhe são apresentadas
milhões de estrelas, e, atualmente,
das mais variadas formas, fazer o
temos constatado a existência de outros
estudante construir novos conceitos e
planetas, girando ao redor de estrelas,
aplicá-los em situações-problema
muito além do nosso sistema solar,
relacionadas a fenômenos celestes e
mostrando que não somos uma exceção,
terrestres que fazem parte de nosso
mas parte da regra.
dia-a-dia.
O conhecimento humano aumentou
Finalmente, procura levar seu leitor a
muito, e nosso papel e importância
elaborar uma visão cósmica da Terra
111

como parte de um grande Universo e de habilidade reconhecer e/ou empregar

sua importância, até agora singular, linguagem científica (nomes, gráficos,
enquanto planeta que permite o símbolos e representações) relativa à
surgimento e a manutenção da vida. Terra e ao sistema solar.
Foram utilizadas, para atingir esses O professor pode, a partir da Atividade
objetivos, situações do cotidiano e 2 e da Tabela 1, montar um esquema
questões envolvendo curiosidades tridimensional do sistema solar, usando
ligadas a certos fenômenos celestes e sementes ou frutos para explorar os
terrestres. Sabemos que muitas outras tamanhos dos astros que o compõem.
abordagens poderiam ser feitas e muitos O Sol não precisaria ser representado
outros fenômenos poderiam ser neste esquema, mas poder-se-ia ter
discutidos, mas nossa escolha procurou idéia de sua dimensão quando
estabelecer um equilíbrio entre três comparado à Terra (ele é 109 vezes
fatores: a matriz de competências do maior). Ainda poderia ser feita uma
ENCCEJA, os conhecimentos adquiridos pesquisa sobre outros astros do sistema
pelo estudante no seu dia-a-dia e/ou em solar que não foram abordados no
cursos que porventura tenha feito e o texto, como cometas, asteróides e
espaço de que dispúnhamos para essas satélites naturais.
discussões neste capítulo. Foi a relação É apresentado um conjunto de conceitos
entre esses três elementos que norteou importantes para o desenvolvimento do
nossa escolha temática. tema como planisfério, órbita, período de
Cada subtítulo é iniciado com uma revolução, escala etc. Essa linguagem é
situação-problema ou uma questão fundamental para que o estudante possa
sobre o fenômeno que será abordado. entender artigos de jornais e revistas, mas
Segue-se um pequeno texto ou uma também é importante por ajudar a criar
atividade que procura explorar o uma visão espacial e representativa da
assunto, sempre provocando no leitor Terra e do sistema solar.
uma reflexão mais aprofundada do A habilidade relacionar diferentes
tema. Algumas questões, intituladas fenômenos cíclicos como dia-noite,
Para Pensar, estão espalhadas no meio estações do ano, climas e eclipses aos
dos subtítulos e procuram levar o movimentos da Terra e da Lua é
estudante a reflexões que mostram a trabalhada nos subtítulos Meio-dia no
amplitude de abrangência do fenômeno Brasil = Meia-noite no Japão e Em que
estudado. ano nós estamos..
Optou-se por abordar o dia e o ano, os
DESENVOLVENDO A principais fenômenos cíclicos que fazem
COMPETÊNCIA parte de nossa vida, nesses subtítulos.
Os dois primeiros subtítulos procuram Partindo desses fenômenos, procuramos
trabalhar os elementos principais da levar o estudante a perceber sua relação
112

com os movimentos de rotação e é fácil de ser feita e muitas vezes leva

translação da Terra. tempo até que uma pessoa consiga realizá-
O subtítulo As fases da Lua busca, através lo. É necessário que tais observações sejam
de uma discussão sobre as fases da Lua, feito periodicamente, para que se
abordar a habilidade fazer previsões sobre desenvolva uma prática observacional. O
marés, eclipses ou fases da Lua a partir de professor pode estimular os estudantes a
uma dada configuração das posições que pratiquem tais observações.
relativas da Terra, Sol e Lua ou outras Discussões sobre planetas extra-solares
informações dadas. e vida fora da Terra são os temas
O texto procura trabalhar de forma a desenvolvidos no subtítulo Muito além
permitir que o estudante possa do Sistema Solar, que tenta, através
interpretar dados e fazer previsões sobre deles, trabalhar a habilidade apontar
esse fenômeno. Tabelas de fases da Lua argumentos para refutar ou aceitar
estão presentes em diversos jornais e conclusões apresentadas sobre
revistas. Tais materiais poderiam ser características do planeta Terra.
utilizados pelo professor para explorar Finalmente, a habilidade estabelecer
mais profundamente os fenômenos relações entre informações para explicar
estudados e/ou para observar e transformações naturais ou induzidas
comparar os diferentes tipos de formas pelas atividades humanas é discutida no
gráficas que são usadas por essas mídias subtítulo Um Planeta Dinâmico.
para representá-los. Procura-se, com a análise dos efeitos de
Propomos que o estudante faça terremotos e enchentes, que o leitor possa
observações do céu noturno e trace estabelecer tais relações. Espera-se que, a
relações entre elas e o que foi discutido no partir daí, ele consiga elaborar propostas
texto, ou seja, tente relacionar a fase da de intervenção solidária em sua realidade,
Lua que ele observou com a posição dela que possam minimizar os efeitos nocivos
ao redor da Terra. Esse tipo de relação não de transformações naturais ou induzidas
pelas atividades humanas.
BIBLIOGRAFIA
GLEISER, M. A dança do universo: dos mitos de criação ao big bang. São Paulo:
Companhia das Letras, 1997. 434p.
GRUPO DE REELABORAÇÃO DO ENSINO DE FÍSICA. Leituras de Física: mecânica. São
Paulo, 1991. Leituras 27 a 34. Disponível em: http://www.if.usp.br/gref/
KUHN, T. S. A revolução copernicana: a astronomia no desenvolvimento do
pensamento ocidental. Tradução de Marília Costa Fontes. Lisboa: Ed. 70, 1990. 330p.
MATSUURA, O. T. Atlas do universo. São Paulo: Scipione, 1996. 78p., il.
SAGAN, C. Contato: romance. Tradução de Donaldson M. Garchagen. São Paulo:
Companhia das Letras, 1997. 416p.
113

SITES NA INTERNET
Índice brasileiro de busca de páginas de astronomia. Disponível em: <http://

www.astronomos.com.br>.
Setor Astronomia CDCC – USP/SC. Disponível em: <http://www.cdcc.sc.usp.br/cda/
observat.htm>.
Instituto Astronômico e Geofísico - USP. Disponível em: <http://www.iag.usp.br>.
Departamento de Astronomia – UFRGS. Disponível em: <http://www.if.ufrgs.br/ast/>.
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Disponível em: <http://www.inpe.br>.
Museu de Astronomia e Ciências Afins - RJ. Disponível em: <http://www.mast.br>.
NASA (Agência Espacial Norte-Americana), infelizmente a maioria de suas páginas
está em inglês. Disponível em: <http://www.nasa.gov>.
Olimpíada Brasileira de Astronomia. Disponível em: <http://www2.uerj.br/~oba/>.
114

RECONHECER
V. Orientação
NA para o trabalho
NATUREZA do professor
E AVALIAR A DISPONIBILIDADE Ciências - Ensino Fundamental
Capítulo IX
DE RECURSOS MATERIAIS E ENERGÉTICOS E OS PROCESSOS
PARA SUA OBTENÇÃO E UTILIZAÇÃO.
Recursos da natureza
Miguel Thompson Rios
Um dos principais fatores que explicam nações. Nessa nova relação com a
o sucesso evolutivo da nossa espécie é a natureza, a importância da formação de
capacidade que temos de manipular os um cidadão consciente e crítico desses
recursos naturais. A partir do problemas é fundamental, visando à
desenvolvimento de diferentes formação de uma sociedade mais atenta
tecnologias nos capacitamos a extrair ao futuro do planeta, se não por
da natureza substâncias químicas altruísmo, pela necessidade pragmática
elaboradas ao longo de milhões de anos, de preservarmos o ambiente para
minerais dos mais variados utilizados garantir também o futuro da nossa
como matéria-prima para a produção de espécie.
bens de consumo ou a utilização de Para que essa nova maneira de enxergar
partes de plantas e animais na a natureza se estabeleça, é preciso
alimentação, vestuário, na construção conhecer os processos de obtenção
de moradias, entre outras funções. Mas desses recursos, os riscos embutidos
todo esse conhecimento e aparente nesses processos e os benefícios
domínio dos fenômenos naturais não imediatos e futuros que serão obtidos
foram suficientes para prever e evitar a por todas as pessoas.
degradação do ambiente em que
vivemos e o esgotamento de recursos DESENVOLVENDO A
vitais para a nossa sobrevivência e a de
COMPETÊNCIA
outras espécies, como a água e o solo.
Diante da conscientização desses riscos, Diariamente, os meios de comunicação
novas estratégias de obtenção de trazem informações sobre os problemas
recursos vêm sendo desenvolvidas, ambientais decorrentes da intervenção
ainda que de maneira tímida, visando ao humana. Também são noticiadas
desenvolvimento sustentável das informações sobre a descoberta de
115

novas fontes de recursos, como novas utilização da natureza pelos

jazidas de petróleo ou sítios de seres humanos.
mineração. Em um mundo onde o Como exemplo de recurso vital que se
tempo é um dos recursos mais vem esgotando, coloca-se a água,
escassos, aprender a ler gráficos, comprometendo a qualidade de toda a
tabelas, figuras e textos de maneira vida no planeta. Assim, compreender o
objetiva e rápida é uma habilidade significado e a importância da água,
muito importante para nos mantermos bem como de seu ciclo e sua relação
informados e podermos produzir uma com condições socioambientais torna-
crítica bem embasada. Dessa forma, o se uma prioridade de todas as pessoas.
primeiro capítulo dessa apostila A partir desse conhecimento, visa-se
propõe-se ajudar o estudante a estimular a mudança de comportamento
identificar finalidades, riscos e em relação à quantidade e à forma
benefícios dos processos de obtenção como a água é consumida. Ao
de recursos materiais e energéticos, reconhecer que a qualidade da água é
apresentados em gráficos, figuras, fator preponderante para a manutenção
tabelas e textos. Uma das formas mais da saúde, pretende-se que o estudante
estimulantes para o desenvolvimento reflita e mude seu comportamento mais
dessa habilidade é o uso de artigos de responsável frente a esse recurso,
revistas e jornais, o que também visando à utilização da água.
contribui para o desenvolvimento da
Por outro lado, ao reconhecer a
leitura de publicações informativas,
natureza como fonte de matéria e
fornecendo repertório para que o
energia para os seres humanos,
estudante possa elaborar opiniões de
conhecer alguns dos processos químicos
maneira mais embasada.
necessários para a extração de
Evidentemente, para que possamos substâncias da natureza deve ser uma
entender o quanto da natureza está das prioridades da educação
sendo consumida em nosso dia-a-dia, é fundamental. Dessa forma, o aluno deve
muito importante que possamos ser capaz de escolher, entre os vários
relacionar diferentes recursos naturais – processos de fracionamento de misturas
seres vivos, materiais ou energia – a existentes na natureza, aqueles mais
bens de consumo utilizados no adequados para obter os produtos
cotidiano. Ao estimular a observação desejados. Conhecendo algumas dessas
dos objetos usados em nosso dia-a-dia, técnicas, em diferentes contextos, os
facilmente é possível detectar as origens alunos podem levantar argumentos para
materiais desses objetos. Assim, além da defender a utilização de uma
apostila, é muito importante que se determinada técnica em detrimento de
trabalhe com textos de jornais e revistas outra. Nesse sentido, a extração de ouro
em busca de informações sobre a nos garimpos é utilizada como exemplo
116

de inadequação das técnicas de aplicar estratégias simples para obter

fracionamento para o ambiente e para a bens da natureza, sem esgotá-los. A
saúde de toda a população. Por outro identificação das reservas extrativistas e
lado, o processo de purificação da água de suas comunidades associadas
apresenta técnicas de fracionamento de permite que o estudante entenda que
misturas úteis para que o tratamento de nem sempre a relação ser humano-
água seja adequado à distribuição e ao natureza é daninha. A atual deterioração
consumo da mesma em todas as casas. ambiental está muito mais relacionada à
Ampliando a noção de utilização dos forma de consumo dos bens naturais do
recursos naturais e a busca de uma que propriamente à simples extração
relação mais harmônica do ser humano dos recursos ambientais. É o que se
com o seu meio, finaliza-se o capítulo pode constatar conhecendo um pouco
com a apresentação de possibilidades de das comunidades tradicionais, como os
manejo sustentável do ambiente. Com seringueiros e os pescadores. Além
esse intuito, pretendeu-se desenvolver o desses exemplos, deve ser destacada a
capítulo a partir da descrição de importância da preservação da
características e disponibilidades biodiversidade ambiental através de
regionais (de subsolo, de vegetação, elos entre a natureza e nossa cultura
rios, ventos, oceanos etc), bem como mais tradicional, como o consumo dos
elaborar propostas de uso de materiais e chás caseiros utilizados desde os nossos
recursos energéticos, tendo em vista o antepassados e das frutas típicas de
desenvolvimento sustentável. nossa região.
Para situar estratégias simples de Ao longo de todo o capítulo são
sustentabilidade ambiental, estimulou- discutidos exemplos de utilização
se a procura de informações sobre o adequada e inadequada dos recursos
assunto no ambiente próximo do naturais, empregando-se os mais variados
estudante. O conhecimento da técnica procedimentos para, enfim, contribuir
de rotação de cultura, comum em para uma visão crítica do estudante sobre
pequenas e grandes plantações, visa ao essa relação e a formação de valores que
reconhecimento da possibilidade de entrem em consonância com a defesa do
meio ambiente e da qualidade de vida de
todos.
117

118

Ensino Médio
Capítulos I ao IX
Neste bloco, são apresentadas sugestões de trabalho

para que o professor possa orientar-se no sentido de
favorecer aos seus alunos o desenvolvimento das
competências e habilidades que estruturam a avaliação
do ENCCEJA – Ciências da Natureza e suas
Tecnologias – Ensino Médio.
Estes textos complementam o material de orientação
de estudos dos estudantes, e ambos podem ganhar seu
real significado se incorporados à experiência do
professor e à bibliografia didática já consagrada nesta
área.
119

e suas Tecnologias
120

COMPREENDER
V. OrientaçãoASpara o trabalho
CIÊNCIAS do professorHUMANAS,
COMO CONSTRUÇÕES Ciências da Natureza e suas Tecnologias
Ensino Médio - Capítulo I
RELACIONANDO O DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO AO LONGO
DA HISTÓRIA COM A TRANSFORMAÇÃO DA SOCIEDADE.
A Ciência como construção

humana
Dora Shellard Corrêa
O conteúdo do capítulo está relacionado • Utilizar modelo explicativo de

ao desenvolvimento de habilidades e determinada ciência natural para
competências no campo das Ciências da compreender determinados fenômenos.
Natureza, Matemática e suas • Associar a solução de problemas de
tecnologias. No sentido de dar comunicação, transporte, saúde ou
significado à aprendizagem que se vai outro, com o correspondente
promover, o capítulo foi elaborado de desenvolvimento científico e
modo a desenvolver, nos estudantes do tecnológico.
ensino médio, atitudes que contemplem
• Confrontar diferentes interpretações
a seguinte competência: compreender
de senso comum e científicas sobre
as ciências como construções humanas,
práticas sociais, como formas de
relacionando o desenvolvimento
produção e hábitos pessoais, como
científico ao longo da história com a
higiene e alimentação.
transformação da sociedade.
• Avaliar propostas ou políticas
Tomadas como referencial as habilidades
públicas em que conhecimentos
cognitivas definidas para o ENEM e
científicos ou tecnológicos estejam a
mantidos, aqui, os princípios da
serviço da melhoria das condições de
interdisciplinaridade e da aprendizagem
vida e da superação de desigualdades
baseada em experiências que
sociais.
fundamentam os Parâmetros Curriculares
Nacionais, a competência acima definida O texto foi organizado em itens,
dá lugar às seguintes habilidades: conforme descrito a seguir. A escolha
desta forma de organização está
• Identificar transformações de idéias e
baseada nas seguintes considerações:
termos científico-tecnológicos ao
longo de diferentes épocas e entre • O estudo do capítulo deve ser
diferentes culturas. realizado em cerca de dez horas.
121

e suas Tecnologias
• A denominação de cada um dos ambiente com lâmpadas elétricas e com

capítulos é, intimamente, relacionada outras fontes de luz, (desde os lampiões
com os assuntos que nele serão a gás até os archotes da Idade Média e
abordados e pretende fixar a atenção e as fogueiras da pré-história).
atrair o aluno para a exposição e o Ao mesmo tempo em que se descrevem
estudo que deve realizar. esses e outros exemplos, e para exibir o
• A competência e as habilidades dizem seu efetivo significado, são introduzidos
respeito ao aprimoramento da atitude e explicados conceitos científicos por
científica, fazendo com que o aluno meio de uma abordagem histórica que
aprenda a reproduzir, articular e permitirá evidenciar a diferença que os
refletir sobre o conteúdo científico de separa cada vez mais das simples
práticas que compõem sua experiência palavras da linguagem natural.
de vida pessoal e coletiva. Neste capítulo, a idéia básica é dotar o
Os itens são os seguintes: leitor de um mínimo de habilidades que
• O nosso dia-a-dia com a ciência e o capacitem a compreender e utilizar
tecnologia. conceitos científicos de forma adequada
e nos estritos limites do domínio de
• Os sinais da ciência.
aplicação que a eles dão validade.
• Os usos da ciência.
O item Os sinais da Ciência é dedicado
• A circulação e a difusão da ciência. ao desenvolvimento das habilidades.
Assim, um dos seus objetivos é despertar
DESENVOLVENDO A
a atenção para os meios que a ciência
COMPETÊNCIA utiliza para selecionar seus interesses e
O item O nosso dia-a dia com a ciência e a para expressar o resultado de seu
tecnologia é organizado para oferecer trabalho. Foi dividido em dois subitens:
uma abordagem geral da competência. Ele As linguagens e códigos da ciência e Os
se utiliza da descrição de uma situação caminhos da ciência. Cada um deles tem
cotidiana – a chegada à residência, o ato um contexto que remete o estudante aos
de acender luzes ou o ato de alimentação. os objetivos do item. As situações
Depois de indicar a familiaridade dessas Tratando a Terra e Ambiente
ações e desses atos, e lembrar sua quase Saudável são apropriadas para tratar das
perfeita identidade formal com aqueles fórmulas, dos símbolos e das
praticados pelos antepassados mais representações de fenômenos e de
distantes, inicia-se a demonstração do resultados de investigação.
seu caráter absolutamente distinto e Determinação de Paternidade ou
explica-se isso, mostrando o papel Maternidade e O Vôo das Aves foram
desempenhado pelo conhecimento utilizadas para relacionar o conhecimento
científico. Como exemplo, mostrar-se-á científico à interpretação de fenômenos
a natureza da diferença entre iluminar o naturais. Especial atenção foi dedicada à
122

construção de uma explicação detalhada e desenvolvimento de outras habilidades

didática do modo de produção de e outros conteúdos mais específicos,
procedimentos, métodos e técnicas que relacionados aos temas da ciência que
asseguram à ciência sua efetividade e ao usualmente, são estudados em Biologia,
conhecimento científico sua Física e Química.
progressividade e sua cumulatividade. Ao professor responsável pelo
No item Os usos da ciência, pretendeu-se desenvolvimento de tópicos que
situar a ciência como forma de resultem no desenvolvimento da
compreensão da realidade e, com isto, competência deste capítulo –
contemplar as habilidades. Para tratar do reconhecer, interpretar e avaliar dados
assunto, a forma de abordagem escolhida científicos e tecnológicos – sugere-se
está contida em quatro perguntas cujas que leve em consideração as seguintes
respostas levam à construção das observações:
habilidades propostas. Vale ressaltar que, • Estudos e pesquisas, em geral, são
propositadamente, a argumentação que focalizados para descobrir a função de
trata sobre a produção de alimentos foi sistemas, vivos, físicos ou projetados.
desdobrada para contemplar conteúdos
• Princípios, conceitos e conhecimentos
referentes a investimentos em ciências e a
orientam a informação científica.
problemas que podem ocorrer quando sua
aplicação favorece interesses econômicos. • Conhecimento histórico e atual
influenciam o planejamento, a
O objetivo básico do item A circulação e a
interpretação e a avaliação de novos
difusão da ciência é mostrar – mais uma
estudos. Tornar estes caminhos
vez utilizando exemplos simples e
compreensíveis é o desafio que se faz
didáticos – que a ciência se constitui em
ao professor.
uma fonte privilegiada e essencial de
meios e instrumentos, cuja utilização e • Problemas atuais são ótima fonte para
aplicação são indispensáveis para a vida motivar discussões e elaborar
contemporânea e para o bem-estar das questões compreensíveis.
pessoas. O uso adequado desses meios e O gradativo envolvimento do aluno,
desses instrumentos, porém, tem como inclusive pela realização de práticas, é
condição necessária a participação efetiva muito importante para favorecer a
de toda a sociedade na formulação de compreensão.
políticas que os englobem. Pretende Discussões de grupo com os alunos para
mostrar, também, que essa participação responder a questões como a abaixo ou
só pode ser efetiva, se todos os atores comparar respostas são essenciais para a
sociais envolvidos puderem intervir em compreensão e o desenvolvimento de
igualdade de condições de educação e de atitudes baseadas em informação
conhecimento. científica. São perguntas como: O que
As habilidades desenvolvidas neste você sabe sobre...?
capítulo são essenciais para o
123

Outros exemplos: Por que ele (ou ela) é tão importante?
Que explicações você pode dar a partir Como foi esclarecida (o)?
dos dados do gráfico ou tabela.....? Há mais detalhes que ainda precisam ser
Há surpresas neles? Como você se sente esclarecidos?
em relação a estes dados? (Você confia
neles?)
Há quanto tempo se conhece tal
situação, fenômeno, teoria?
BIBLIOGRAFIA
Parâmetros Curriculares Nacionais: ciências da natureza, matemática e suas
tecnologias. Disponível em: <http://www.mec.gov.br>, acessado em: abril 2001.
BRANCO, S. M. Evolução das espécies: o pensamento científico, religioso e filosófico.
São Paulo: Moderna, 2001.
CHASSOT, A. I. A ciência através dos tempos. São Paulo: Moderna, 2002. (Polêmica).
LATOUR, B. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade a fora.
São Paulo: Ed. Unesp, 2000. 438 p. (Biblioteca Básica). Tradução de Ivone C. Benedetti.
MATOS, J. A. M. P. Química nova na escola, n. 6, p. 20–22, 1997.
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS. Exame Nacional do
Ensino Médio: ENEM. Brasília, DF: MEC, 2000-2001.
SCIENCE Education Standards. Washington: National Academy Press: NAS, 1996.
PEREIRA, L. V. Seqüenciaram o genoma humano... E agora? São Paulo: Moderna,
2001.
SE/CENP/DRHU/SP. Normas para Realização de Exames Supletivos: ensino fundamental
e médio. DOE, n.203, p.16-18, 2001.
TOLENTINO, M.; ROCHA-FILHO, R. C.; SILVA, R. S. O azul do planeta. São Paulo:
Moderna, 2001.
124

COMPREENDER O PAPEL DAS CIÊNCIAS NATURAIS E DAS Ciências da Natureza e suas Tecnologias
Ensino Médio - Capítulo II
TECNOLOGIAS A ELAS ASSOCIADAS, NOS PROCESSOS DE
PRODUÇÃO E NO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL
CONTEMPORÂNEO.
O papel das tecnologias

no mundo contemporâneo
Eraldo Rizzo
Trabalhar com educação de jovens e vividas no dia-a-dia por todos nós. Mas,
adultos requer, por parte do educador, para sermos justos em almejar um
plena consciência de que as mínimo sonho de sucesso, nesta nobre e
experiências pessoais, partilhadas no árdua tarefa, precisamos delimitar o
convívio sociocultural, por parte dos espectro de experiências possíveis,
educandos, é de uma riqueza incrível. focalizando nosso objeto de estudo,
Diariamente, todas as pessoas se bem como o enfoque dado no olhar a
defrontam com situações e novidades ele despendido. Aqui pretendemos
que as desafiam, requerendo delas refletir sobre o importante e
atitudes concretas, posturas e opiniões. determinante papel das tecnologias
Nesta demanda, habilidades específicas associadas às Ciências Naturais, no
são requeridas, junto de competências desenvolvimento socioeconômico
mais amplas que favorecem maiores contemporâneo, instigando o leitor a
disponibilidades de instrumentais que todo momento com atividades que o
atendam a cada desafio específico, façam buscar a relação do assunto
como desafios sociopolíticos, culturais, tratado com sua vida.
ambientais e educacionais e do mundo
do trabalho. Cada experiência vivida e DESENVOLVENDO A
refletida favorece a construção da visão COMPETÊNCIA
de mundo do educando, desde que ela
O ritmo acelerado das grandes
seja ponto de partida, matéria-prima,
transformações da história, nos últimos
para uma reelaboração do
50 anos, pode ser sentido,
conhecimento que o capacite a dar um
particularmente, ao ouvirmos das
passo além.
pessoas mais velhas como era o
Este capítulo pretende contribuir nesta cotidiano em sua mocidade: meios de
tarefa de trazer, para o plano da transporte, formas de comunicação,
reflexão sistemática, as experiências
125

e suas Tecnologias
como se dava a educação, o que faziam de rádio e televisão, passando pelo

para se divertir etc. Comparando com os forno de microondas, lâmpadas de
dias de hoje, o contraste fica evidente, e infravermelho para fisioterapias, o
o que mais o evidencia é, seguramente, espectro da luz visível, os cuidados a se
o desenvolvimento tecnológico pelo tomar com os raios ultravioletas
qual passamos e que afetou a forma de provenientes do Sol e dos bronzeadores
vida de nossa sociedade pós-industrial. artificiais, as radiografias de raios X até
É nesse clima de nostalgia que o chegar a radioterapias que usam a
capítulo se inicia, usando como “fundo radiação gama, junto de seus riscos e
musical” a música Anos Dourados, de benefícios. Procurou-se proporcionar
Tom Jobim e Chico Buarque. As um passeio por todo o espectro
atividades da introdução foram eletromagnético, adotando o sentido do
pensadas com o intuito de inserir o crescimento da freqüência das ondas,
leitor no contexto reflexivo da grandeza trabalhada junto dos conceitos
Revolução Tecnológica Contemporânea. de detecção e blindagem das radiações.
Nostalgia e pós-modernidade dão o tom O professor pode se valer de outros
da dualidade ‘benefícios X desafios’, exemplos não explorados em cada
decorrente deste desenvolvimento faixa de radiação que tenham sido
vertiginoso. Algumas situações que objeto de experiências ou curiosidades
apresentam essas duas faces são dos alunos. Conceitos como
apresentadas aqui e serão mais comprimento de onda e velocidade de
fortemente resgatadas na quinta parte propagação das ondas em diversos
deste capítulo, quando situações meios não foram abordados por não
concretas e desafiadoras do campo e da serem passíveis de experiências diretas
cidade são apresentadas. por parte dos educandos, não
A terceira atividade da introdução, apresentando ganhos significativos
Navegando num oceano de ondas quanto à normatização semântica com
eletromagnéticas, dá o gancho para base científica, desejada neste ponto
iniciar o desenvolvimento da primeira do texto.
parte do capítulo, que tem como A segunda parte do capítulo, Som e luz
assunto o espectro eletromagnético, segundo Antônio Inácio, aborda as
numa abordagem que visa favorecer teorias científicas do som e da luz,
uma reflexão sobre a origem dos apresentando as diversas aplicações
significados das palavras empregadas tecnológicas decorrentes desses
no uso de diversos aparelhos conhecimentos. Isso é feito de forma
tecnológicos, com base em ondas peculiar neste texto, valendo-se de um
eletromagnéticas. O título Navegando personagem fictício que, com uma
num oceano de ondas eletromagnéticas atitude pró-ativa frente a uma situação
já pretende apresentar o roteiro da aparentemente pouco interessante,
viagem pretendida: partindo das ondas
126

percebe a importância de um entendimento das reportagens e de outras

conhecimento mais aprofundado destes situações que nos desafiam nas cidades.
dois fenômenos físicos fundamentais Abordando o ar de forma menos
para a comunicação humana. Som e luz ambiental e mais biológica, a propriedade
segundo Antonio Inácio dá um tom mais física da pressão auxilia o entendimento
romanesco para esta parte do capítulo, de outras propriedades dos fluidos.
quebrando a cadência informativa da A questão energética, tão presente
parte anterior. Partindo da questão da como desafio tecnológico de nossos
poluição sonora, conceitos como tempos, é o objeto de estudo da quarta
decibéis, ruídos toleráveis para o parte, Matéria da vida transformada em
organismo, ultra-sonografia, bem como energia: A biomassa, tendo o foco na
as diversas tecnologias para se produção de energia elétrica, mas com
armazenarem sons, são abordados num uma fonte alternativa: a biomassa. A
fluxo contínuo. Nesse fluxo, a luz é transformação de vida, matéria e
tratada do ponto de vista da óptica energia é, sinteticamente, abordada na
geométrica da formação de imagens. seção a Matéria da vida transformada
A máquina fotográfica e o olho são em energia: A biomassa. Essa discussão
comparados e os cuidados com os olhos busca esclarecer o conceito de
ganham destaque no final desta parte. biomassa, problematizando seus usos
A terceira parte, Fluidos sagrados e suas sob o aspecto socioambiental e sob a
aplicações tecnológicas, vale-se de uma exigência de maior diversificação das
situação problema mais que imaginativa. fontes, visando à maior produção de
Ela é vivenciada por diversas pessoas energia elétrica para favorecer o
independente de sua condição social: o desenvolvimento socioeconômico do
drama das enchentes nas grandes cidades. país. Gráficos, tabelas e dados
O tema Fluidos sagrados e suas aplicações informativos abastecem o leitor de
tecnológicas tenta trazer ao plano subsídios para imergir nesta
reflexivo a dualidade “banalização X problemática que não tem nada de
sagrado”, sendo este sagrado associado ao simplificado. Essa parte do texto é
vital. Água e ar, como os representantes eminentemente tecnológica, visto que
vitais dos fluidos, são os focos principais os processos de obtenção de energia em
dessa abordagem que mescla saneamento larga escala demandam equipamentos e
a soluções tecnológicas com bases estruturas desenvolvidas capazes de
científicas para questões ambientais que garantir eficácia. Nenhuma opinião é
envolvem os dois fluidos. Reportagens de aqui fechada, evidenciando o aspecto
jornal formam a base da discussão da do processo de construção que forma as
abordagem da água, tendo conceitos bases de um posicionamento menos
como vazão e densidade, com abordagens emocional e baseado no senso comum,
especiais para favorecimento do e mais criterioso, científico e sistêmico.
127

e suas Tecnologias
O capítulo finaliza com a seção na extinção das fronteiras dos

provocativa de título Por um mundo mercados consumidores.
mais harmonioso, que propõe a Algumas situações problemas, com
predisposição de mergulhar mais fundo alguns parâmetros relevantes, são
nas questões que tenham as dinâmicas apresentadas para instigar a
das populações, estabilidade ambiental necessidade de busca de mais
e qualidade de vida como resultados de informações sobre cada questão,
ações sociopolíticas. Diante de mostrando a necessidade de a pessoa
situações que ocorrem no mundo real, manter-se informada e devidamente
o leitor é provocado a analisar formada.
propostas de intervenção que levem Todas as partes receberam um
em consideração ações de cunho “tratamento musical” julgado apropriado,
solidário, sem visar ao que visa aclimatar as abordagens num
assistencialismo, mas baseadas em contexto mais cultural, dando aos
elementos de análise de cada caso. conhecimentos científicos, além do
Uma visão unilateral e pontual não pragmatismo e de sua aplicabilidade
possibilita a proposição de ações cotidiana, uma dimensão de expressão
verdadeiramente eficazes para questões artística capaz de transcender para o belo
sociais. Qualquer ação que visa propor e o agradável. Dessa forma, a
intervenções solidárias na realidade, interdisciplinaridade é tangenciada com a
deve levar em conta que estamos proposta de uma construção de visão de
imersos num mundo interligado, mundo mais orgânica, interrelacionada e
interconectado e interrelacionado. conexa, diferente do pragmatismo
Estamos como numa rede interligada, tradicional que privilegiava o
onde a ação de um interfere na vida de conhecimento segmentado e desconexo,
outros próximos e mesmo não tão contribuindo, assim, com uma formação
próximos. Na era da informação cidadã mais apropriada às exigências de
globalizada, isso se torna mais verdade um mundo contemporâneo em constante
que nunca, principalmente pensando transformação.
BIBLIOGRAFIA
GOLDEMBERG, J. Energia, meio ambiente & desenvolvimento. São Paulo: Edusp,
2001. 234p. Tradução de André Koch.
GRUPO DE REELABORAÇÃO DO ENSINO DE FÍSICA – Física 2: Ótica: 2. Eletromagnetismo.
São Paulo: Edusp, 1991.
HELP! Sistema de Consulta Interativa. São Paulo: Klick, 1995. V. Ciência e Tecnologia.
128

KUPSTAS, M. (Org.). Ciência e tecnologia: em debate. São Paulo: Moderna, 1998.

OKUNO, E. Radiação, efeitos, riscos e benefícios. São Paulo: Harbra, 1988. 81 p.
PARKER, S. O olho e a visão. São Paulo: Scipione, 1989. (O Corpo Humano). Tradução
de Alicia Brandt.
______. O ouvido e a audição. São Paulo: Scipione, 1989. 40p. (O Corpo Humano).
Tradução de Alicia Brandt.
SOARES, P. T. O mundo das cores. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1991. 56 p.
129

e suas Tecnologias
130

IDENTIFICAR
A PRESENÇA E APLICAR do
AS professor
TECNOLOGIAS Ciências da Natureza e suas Tecnologias
Ensino Médio - Capítulo III
ASSOCIADAS ÀS CIÊNCIAS NATURAIS EM DIFERENTES
CONTEXTOS RELEVANTES PARA SUA VIDA PESSOAL.
A tecnologia
em nosso dia-a-dia
Yassuko Hosoume
A ciência e a tecnologia são partes da Conhecer a totalidade de conhecimentos

vida cotidiana de uma pessoa. Elas científicos desenvolvidos até hoje é uma
estão no alimento que consumimos, no tarefa impossível, entretanto, devemos
copo em que servimos a bebida, no ter o conhecimento científico básico para
remédio que utilizamos na doença, na que possamos participar da sociedade de
televisão que nos informa sobre o forma mais consciente e atuante.
último acontecimento, no ônibus que Neste capítulo, entre os conhecimentos
nos transporta ao trabalho, na lâmpada das ciências da natureza necessários
que ilumina à noite, no caderno em que para a formação científica básica,
anotamos o recado, no telefone que privilegiamos os conteúdos
diminui a distância entre amigos, enfim, relacionados à eletricidade, que está na
estão em todas as coisas que fazem base dos aparelhos eletrodomésticos.
parte de nosso dia-a-dia e que ampliam Para uma melhor compreensão da
nossas ações. abrangência da competência desejada,
Assim, os conhecimentos científicos e porém, outros conteúdos, como
tecnológicos que estão na base desses produtos químicos, remédios e códigos
produtos são as ferramentas que nos de barra, comparecem como exemplos.
ajudam a solucionar problemas que
aparecem em nosso cotidiano, como DESENVOLVENDO A
entender o funcionamento de aparelhos COMPETÊNCIA
domésticos para utilizá-los de forma
A introdução do capítulo A tecnologia em
mais eficiente, usar critérios tecno-
nosso dia-a-dia trata da contextualização
científicos para a aquisição de produtos
do tema, ressaltando a importância da
e também compreender os elementos
compreensão da tecnologia envolvida em
éticos e sociais envolvidos em todo o
nossa vida e o seu papel na mudança da
processo de fabricação desses produtos.
visão de mundo.
131

e suas Tecnologias
O item As formas de comunicação utilização adequada de aparelhos ou

e os significados científicos discute a sistemas tecnológicos de uso comum
questão da linguagem no cotidiano, exige cuidados que são fundamentados
destacando a dinâmica da incorporação em conhecimentos científicos. Vários
de palavras ou expressões provenientes desses cuidados são apontados em
do uso de novos objetos tecnológicos e Manuais de instalação, instruções que a
a compreensão científica dos signos de grande maioria dos consumidores
comunicação. A compreensão dos desconhece. Em A importância das
símbolos de placas, código de cor, informações técnicas e científicas,
códigos de barra e informações em analisamos as informações contidas no
eletrodomésticos são exemplos da manual de um eletrodoméstico de alta
habilidade. Um outro exemplo dessa potência, procurando compreender
habilidade é a compreensão científica algumas de suas recomendações,
das palavras ou expressões utilizadas no utilizando os conhecimentos científicos
cotidiano com significados diferentes adquiridos no item anterior. A consulta
daqueles da ciência, como “peso de de um Manual para o uso mais correto
70kg”, “chocolate dá força” ou “o calor de um eletrodoméstico é exemplo da
está demais”. habilidade.
O item Redescobrindo o circuito O item As duas faces da tecnologia
elétrico residencial é um destaca, indiscutivelmente, que as
aprofundamento conceitual específico novas tecnologias trazem melhorias na
que se inicia com a problemática da qualidade de vida, mas muitas delas
medida de consumo mensal de energia e vêm acompanhadas de conseqüências
chega às leis básicas da eletrodinâmica que precisam ser explicitadas para que
e ao entendimento do sistema elétrico seus valores não sejam compreendidos
de uma residência. Esse parcialmente. Esse aspecto da
encaminhamento é um exemplo da tecnologia é discutido no item As duas
habilidade. Existem várias outras faces da tecnologia, no qual se discute o
situações-problema que podem ser impacto da nova tecnologia de
tratadas com o objetivo de atingir essa comunicação no trabalho, como um
habilidade. Um exemplo é a discussão exemplo da habilidade.
sobre o perigo das “gambiarras” (várias O item Algumas pistas na
ligações residenciais clandestinas de um aquisição de produtos apresenta uma
único ponto de um poste); um outro é o situação-problema bastante comum em
dimensionamento do circuito nosso cotidiano é a aquisição de
residencial para solucionar o problema produtos como alimentos, vestuários,
de queda do disjuntor. material de cozinha, eletrodomésticos,
O item A importância das informações remédios, móveis etc. O que devemos
técnicas e científicas destaca a analisar na hora da compra, além da
132

forma de pagamento? Depende do Essa forma de desenvolver o conteúdo

produto que se está comprando. No não deixará dúvidas sobre a solução de
item Algumas pistas na aquisição de questões que relacionam dissipação de
produtos, são abordados alguns energia e resistência do aparelho. Um
parâmetros técnicos e éticos envolvidos exemplo muito comum de raciocínio,
na compra de remédios e que as formas tradicionais de
eletrodomésticos, como exemplos da encaminhamento não conseguem fazer
habilidade. Um outro exemplo dessa compreender, é o de que devemos
habilidade seria a análise dos diminuir a resistência de um chuveiro
parâmetros de qualidade de produtos de para aumentar a temperatura da água.
alimentação: a quantidade do produto, Geralmente, as pessoas aprendem
os ingredientes, a composição erroneamente que, para aumentar a
nutricional, o período de validade etc. dissipação de energia, devemos
O desenvolvimento do conteúdo básico aumentar a resistência.
de eletrodinâmica, que está no item O capítulo foi desenvolvido de forma a
Redescobrindo o circuito elétrico estabelecer um diálogo constante com o
residencial, parte da análise da corrente leitor. Procurou-se, sempre que
que se estabelece num circuito, possível, colocar perguntas para que o
mostrando que ela depende, apenas, da leitor se situe na problemática que está
potência do aparelho e da tensão de sendo tratada e as respostas às
funcionamento, que são características perguntas são parte do
de fabricação do aparelho. Assim como desenvolvimento do conteúdo. Para
elas, a resistência do aparelho também muitas perguntas, não existem respostas
já está definida. no capítulo, mas são
Nessa discussão, não se está levando em bastante simples.
conta a dissipação de energia nos fios Embora as respostas às questões
do aparelho e nem nos de ligação. Essa propostas nas atividades estejam
perda de energia, nos fios da instalação apresentadas no final do capítulo, as
elétrica, é analisada no item seguinte, soluções devem ser elaboradas pelo
durante a discussão sobre o perigo da leitor, pois é na tentativa de responder
corrente elétrica elevada. a elas que a aprendizagem ganha
mais consistência.
BIBLIOGRAFIA
LUNGARZO, C. O que é ciência. São Paulo: Brasiliense, 1989. (Primeiros Passos).
MEDEIROS, J. A.; MEDEIROS, L. O que é tecnologia. São Paulo: Brasiliense, 1989.
(Primeiros Passos).
133

e suas Tecnologias
ALVES, R. Filosofia da Ciência: introdução ao jogo e suas regras. São Paulo:

Brasiliense, 1981.
KUPSTAS, M. (Org.). Ciência e tecnologia: em debate. São Paulo: Moderna, 1998.
HOROWICZ, R. J. Luz, Cores... ação: a ótica e suas aplicações tecnológicas. São Paulo:
Moderna, 1999.
GRUPO DE REELABORAÇÃO DO ENSINO DE FÍSICA - Física 2: Ótica: 2.
Eletromagnetismo. São Paulo: Edusp, 1991. v. 3.
INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - IDEC. Revista Consumidor.
134

V. Orientação
ASSOCIAR para oAMBIENTAIS
ALTERAÇÕES trabalho do professor
A PROCESSOS Ciências da Natureza e suas Tecnologias
Ensino Médio - Capítulo IV
PRODUTIVOS E SOCIAIS, E INSTRUMENTOS OU AÇÕES
CIENTÍFICO-TECNOLÓGICOS À DEGRADAÇÃO E
PRESERVAÇÃO DO AMBIENTE.
Assim caminha a
humanidade
Jorge Lampe Junior
O capítulo faz uma discussão, sem pessoais e institucionais.

esgotá-la, sobre desenvolvimento Neste capítulo, são abordados e
social, sua dependência de recursos discutidos os seguintes assuntos:
naturais e suas implicações ambientais.
• Produção e reciclagem de alumínio e
A discussão acontece através da ótica
de papel.
da ciência.
• Poluição da água e DBO.
Situações-problema relacionadas ao
lixo, à água e à biotecnologia são • Volatilidade e pressão máxima de
criadas para permitir ao leitor vapor.
desenvolver as competências e • Relação entre características
habilidades da matriz. macroscópicas e macroscópicas da
Para tanto, são trabalhadas questões matéria.
como obtenção de papel e metais, sua • Manipulação genética e Alimentos
utilização e os impactos ambientais transgênicos.
decorrentes desses processos, bem Esses conhecimentos foram escolhidos
como a necessidade, a importância e os por causa de sua relevância para o
processos de reciclagem. estudo do tema Meio ambiente e
O assunto “água” é abordado enfocando Sociedade; não obstante, outros
a relação consumo/obtenção/poluição. conhecimentos podem ser trabalhados a
A biotecnologia é tratada como sendo partir do tema.
uma tentativa da ciência (isto é, do ser Sugere-se que o professor faça uma
humano) de responder às mudanças e leitura integral do capítulo antes de
necessidades crescentes e aceleradas da utilizá-lo. Isso facilitará o planejamento
sociedade, em obter recursos naturais. de estratégias e a reunião de tudo o que
Explicitam-se, assim, as relações da for necessário para o melhor
biotecnologia com os interesses aproveitamento do capítulo.
135

e suas Tecnologias
DESENVOLVENDO A A atividade Jazidas brasileiras de

COMPETÊNCIA bauxita mobiliza a habilidade de
identificar dados dispostos em mapas e
A atividade Reflita e responda visa a
contribui para o desenvolvimento da
avaliar os conhecimentos prévios do
capacidade de entender,
aluno a respeito dos assuntos tratados
qualitativamente, dados quantitativos
no capítulo e servir, também, de
relacionados a questões ambientais.
referência para avaliar o
desenvolvimento do aluno, quando essa São quatro os estados brasileiros que
atividade for comparada com a possuem reservas de bauxita – Pará,
atividade de auto-avaliação, no final do Amazonas, Roraima e Minas Gerais. O
capítulo. Pará é o estado que possui o maior
número de jazidas de bauxita, cinco ao
O objetivo da atividade Materiais
todo, e os demais estados possuem
diferentes, propriedades diferentes é
apenas uma jazida cada.
fazer o aluno relacionar as propriedades
Conseqüentemente, o estado que sofre
do alumínio às vantagens que ele
o maior impacto ambiental por conta da
oferece em aplicações industriais e, com
extração de bauxita é o Pará.
isso, fazer com que o aluno comece a
perceber os motivos da crescente A atividade Maior rendimento, menor
utilização e extração desse metal destruição do ambiente visa a levar o
na atualidade. aluno a perceber que a Ciência e a
Tecnologia podem ajudar a minimizar
Duas propriedades do alumínio que o
os efeitos negativos do crescimento e
aluno pode citar são: a leveza e
desenvolvimento das sociedades sobre
resistência à corrosão. As justificativas
o meio ambiente e teve por resposta, 20
para essa escolha são as vantagens que
milhões de toneladas de bauxita.
elas oferecem para a indústria, tais
como, a economia no custo de A atividade Ductibilidade em ação tem
transporte e a durabilidade, pois os dupla função, servir para fixar o
produtos feitos com ele demoram mais conceito de ductibilidade e para
para estragar, “enferrujar”. desenvolver no aluno a habilidade de
identificar a etapa do processo de
A atividade Flandres X Alumínio visa a
produção de latas de alumínio em que a
reforçar o desenvolvimento da
ductibilidade se faz necessária. O
habilidade (já mobilizada) de relacionar
objetivo aqui é levar o aluno a entender
as propriedades do alumínio às
que as propriedades de um determinado
vantagens que ele oferece em
material estão intimamente ligadas às
aplicações industriais.
aplicações na indústria.
Os três fatores podem ser, por exemplo: a
A etapa do processo de produção de
leveza, a maleabilidade e a resistência à
latas de alumínio onde se verifica a
corrosão. As justificativas são as vantagens
importância da ductibilidade é a etapa
correspondentes, indicadas na tabela.
136

de número 2. A ductibilidade é a uma interdependência. Para isso, o

propriedade de se permitir esticar sem aluno é levado a analisar e a identificar,
se quebrar. Sendo o alumínio mais no esquema de reciclagem de latas de
dúctil do que o flandres, ele não alumínio, a etapa que envolve esses
necessita de tanta pressão para ser outros segmentos sociais, e a refletir
esticado e conseqüentemente, a prensa sobre as possíveis conseqüências da não
requer menos energia. Portanto, a participação desses segmentos.
alternativa mais acertada é a (b). A participação dos outros segmentos da
O objetivo da atividade Quem recicla sociedade no processo de reciclagem
mais? é desenvolver a capacidade de ocorre na etapa de número 2.
leitura de gráficos. Para isso, o aluno é O objetivo principal da atividade Os
levado a analisar e a identificar, no benefícios da reciclagem é estimular o
gráfico, os países que mais reciclaram desenvolvimento do pensamento
latas de alumínio nos anos de 1991 e de crítico. Não obstante, o aluno deve
1999, além de ter que identificar o país expor sua opinião a respeito do assunto
(ou continente) que teve o maior tratado na atividade por escrito –
aumento na sua taxa de reciclagem, no através da elaboração de um pequeno
período de 1991 a 1999. texto. Com isso, a atividade contribui,
Em ordem crescente de capacidade de também, para exercitar e/ou
reciclagem no ano de 1991, os países desenvolver a sua capacidade de
(continente) devem ser organizados da sintetizar e expor idéias, de maneira
seguinte maneira: Europa < Brasil < clara e concisa.
Japão < EUA. Sugerimos que se dedique uma atenção
No ano de 1999, a ordem deve ser: especial a essa atividade,
Europa < EUA < Japão e Brasil. acompanhando de perto os alunos,
O país que teve o maior aumento em durante a sua realização.
sua capacidade de reciclagem no Use essa atividade como um dos
período de 1991 a 1999 foi o Brasil, instrumentos de avaliação. Peça que os
visto que o Brasil em 1991 estava alunos (individualmente ou em grupo)
reciclando cerca de 38% das latas de a façam em uma folha avulsa e a
alumínio e, em 1999, passou para 78%. entreguem no final da aula.
Na atividade Envolvidos na reciclagem, Contudo, o aluno deve perceber que
o mais importante é fazer o aluno existem interesses pessoais e institucionais
perceber que o processo de reciclagem envolvidos na reciclagem e que, portanto,
de latas de alumínio é um sistema não são só a sociedade e o meio ambiente
complexo que envolve a participação de que se beneficiam da reciclagem.
vários outros segmentos da sociedade e A atividade Dê sua opinião tem o
não só a indústria, existindo entre eles objetivo de levar o aluno a perceber que
137

e suas Tecnologias
existem alternativas para minimizar os perceber o impacto ambiental da

efeitos prejudiciais do crescimento e matéria orgânica (resto de alimentos,
desenvolvimento social. esgotos, efluentes de granjas, entre
Duas alternativas que podem ser citadas outros) sobre as águas e quebrar o
como sendo importantes para minimizar paradigma de que a poluição, de uma
os possíveis problemas são: maneira geral, é sempre causada por
desenvolvimento e uso de novos “produtos químicos”.
produtos para substituir os O volume de água do rio necessário para
combustíveis fósseis. Outra alternativa é estabilizar os 10m3 de esgoto é de 800m3
o uso racional desses combustíveis. (800.000 litros). O efeito, em curto prazo,
Uma das maiores dificuldades do aluno do despejo de esgoto (com alta DBO) nos
brasileiro, do ensino médio, é a leitura, rios é, normalmente, a proliferação de
não só de texto, mas de imagens, microorganismos aeróbios, o que
tabelas, mapas, gráficos. Daí a consome uma grande quantidade de
importância da atividade Indicador de oxigênio da água e, conseqüentemente,
desenvolvimento para contribuir com o causa a morte de peixes e outros seres
desenvolvimento da capacidade de ler e aquáticos, por asfixia.
interpretar as informações dispostas em A realização de experimentos facilita o
gráficos. Por isso, é recomendável que entendimento de conceitos que se quer
se dedique uma atenção especial a ela, desenvolver. Por isso, é aconselhável
ajudando os alunos a analisarem e a realizar o experimento proposto na
identificarem as informações contidas atividade Verificando na prática.
no gráfico. Contudo, se não for possível o próprio
Professor, se houver tempo, você pode aluno fazer (em casa ou na escola), sugiro
enriquecer a atividade promovendo, a que o professor faça em sala. O objetivo
partir do gráfico, um debate sobre a principal, aqui, é contribuir para o
relação entre o desenvolvimento de entendimento de um dos efeitos dos
uma nação e o aumento de consumo e, resíduos sólidos (poluentes) e solúveis
conseqüentemente, o aumento da sobre as águas – abaixamento da pressão
exploração dos recursos naturais. máxima de vapor.
Colocando os países em ordem O nível do líquido no sistema contendo
crescente de desenvolvimento, apenas água abaixa mais do que o nível
(econômico) obtém-se: China < Brasil < do sistema contendo água com açúcar.
Inglaterra < Alemanha < Japão < EUA. Esse fenômeno ocorre por conta de sua
Desses países o que tem maior consumo pressão máxima de vapor ser maior do
per capita é os EUA e o que tem menor que a do solvente na solução. Ou seja, o
consumo é a China. solvente puro evapora-se com maior
facilidade quando puro, do que quando
A atividade Consumindo oxigênio (O2)
está em solução.
tem o objetivo de levar o aluno a
138

O objetivo da atividade Fazendo contas é O objetivo da atividade Riscos da

levar o aluno a fazer uma regra de três manipulação genética é desenvolver o
para determinar a potabilidade de uma pensamento crítico por meio da análise
determinada amostra de água e, com de um trecho de um artigo de jornal
isso, contribuir para o desenvolvimento sobre o consumo de alimentos
da idéia de proporcionalidade. transgênicos.
Professor, você pode enriquecer essa Professor, se houver tempo e interesse
atividade propondo outras situações dos alunos, você pode enriquecer essa
(parecidas) para que o aluno perceba que, atividade promovendo um debate sobre
apesar do aumento ou diminuição nas o assunto pedindo para os alunos
quantidades das substâncias envolvidas, exporem suas escolhas.
elas mantêm a proporção entre si. A atividade E você, o que acha?, além
A água que contêm 0,010mg de de contribuir para o desenvolvimento
mercúrio dissolvidos em 5l dessa água do pensamento crítico, também visa
não pode ser considerada potável, ao desenvolvimento da capacidade de
segundo os padrões de potabilidade, sintetizar e expor com clareza as
porque a concentração de mercúrio idéias por escrita.
nessa água é de 0,002mg por litro. Uma das maiores dificuldades do aluno
Com a atividade Fazendo previsões, o brasileiro, do ensino médio, é a
aluno deve perceber que o aumento produção de texto. Daí a importância
populacional e o desenvolvimento dessa atividade, para contribuir com o
fazem com que as sociedades passem a desenvolvimento dessa capacidade.
necessitar de mais recursos naturais Essa atividade pode ser usada como
(alimentos, água potável e bens de instrumento de avaliação. Para isso,
consumo) e, conseqüentemente, podem peça que os alunos, individualmente ou
provocar alterações prejudiciais ao meio em grupo, a entreguem no final da aula.
ambiente, gerando implicações sociais e
A atividade Quanto você aprendeu? é de
econômicas a médio e longo prazo.
auto-avaliação e tem o objetivo de
Com a atividade Problemas ambientais permitir aos alunos verificarem o seu
podem aumentar ou diminuir conforme desenvolvimento. Estimule-os a fazer.
os interesses, o aluno deve perceber, Assim eles poderão se sentir co-
com clareza, que os problemas responsáveis pela sua aprendizagem.
ambientais – poluição das águas, do
1. A reciclagem não elimina a
solo e do ar, devastação de áreas de
necessidade de extrair recursos
mata nativa etc – não são, apenas,
naturais em função do aumento
conseqüências inevitáveis do
permanente de demanda
crescimento e desenvolvimento social,
desses recursos.
mas também resultado dos interesses
contraditórios envolvidos.
139

e suas Tecnologias
2. Os alimentos transgênicos já efetiva verificação do desenvolvimento

causaram problemas, no Japão, em ou não de uma aprendizagem
1998, contudo, não se sabe ao certo satisfatória.
se eles ainda oferecem algum risco a Recomendamos, então, que as
quem os consome. avaliações sejam feitas:
3. As causas da fome mundial vão além • observando-se os alunos, durante a
da produção insuficiente de aplicação das atividades; e/ou
alimentos. Muitas são suas causas e
• utilizando questões do Exame
uma das principais é a má distribuição
Nacional de Certificação de
de renda.
Competências da Educação de Jovens
4. A poluição de rios, lagos, açudes e e Adultos (ENCCEJA); e/ou
igarapés afeta o ciclo da água,
• com uma ficha de avaliação (veja
porque diminui a pressão máxima de
modelo sugerido abaixo), que pode ser
vapor da água, dificultando sua
comparada com uma ficha
evaporação.
semelhante, só que preenchida pelo
5. Resposta pessoal. aluno. Dessa forma, ele se sentirá mais
6. A poluição das águas interfere na responsável pelo seu desempenho e
qualidade dos alimentos, porque os aprendizado. É importante comparar a
animais bebem água poluída e os avaliação do professor com essa feita
vegetais são irrigados com essa água, pelo aluno e discutir os resultados;
causando a sua contaminação. • recolhendo, a cada atividade, o
O professor deve evitar a avaliação trabalho de um ou dois grupos
baseada apenas na reprodução do diferentes.
conhecimento, para determinar um
conceito final, em detrimento de uma
BIBLIOGRAFIA
OLIVEIRA, F. Bioética: uma face da cidadania. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1997. 144 p.
(Polêmica).
SNYDER, C. H. The extraordinary chemistry of ordinary things. 3. ed. New York: John
Wiley, 1998.
140

SITES NA INTERNET
Disponível em: <http://www.epa.gov>.

Disponível em: <http://www.sabesp.com.br>.
Disponível em: <http://www.aqualid.com.br>.
Disponível em: <http://www.abal.org.br>.
Disponível em: <http://www.latasa.com.br>.
Disponível em: <http://www.webciência.com/13_fome.htm>.
141

142

COMPREENDER ORGANISMO HUMANO E SAÚDE, Ciências da Natureza e suas Tecnologias
Ensino Médio - Capítulo V
RELACIONANDO CONHECIMENTO CIENTÍFICO,
CULTURA, AMBIENTE E HÁBITOS OU OUTRAS
CARACTERÍSTICAS INDIVIDUAIS.
As condições
de saúde no Brasil
Beatriz Castellani
O que se pretende, no capítulo, DESENVOLVENDO A

é que o leitor compreenda o organismo COMPETÊNCIA
humano e a saúde de forma mais
Como no item Brasil: um país de
abrangente, relacionando
contrastes, a habilidade a ser
conhecimento, cultura, ambiente e
trabalhada é o domínio das várias
outras características individuais.
linguagens, inclusive a matemática,
De acordo com essa concepção, a saúde usamos textos, gráficos com cálculos e
não é apenas ausência de doença, mas tabelas para interpretar e analisar dados
está relacionada aos condicionantes relativos a indicadores de saúde e de
biológicos, do ambiente e do meio desenvolvimento humano,
socioeconômico e cultural. Portanto, principalmente relacionados ao Brasil,
aspectos individuais e coletivos precisam embora os registros sejam inadequados.
ser considerados. Da mesma forma, o Precisamos fazer opções em função do
organismo humano também é analisado espaço e escolhemos dois indicadores
de forma integrada, desde sua de saúde que são a mortalidade infantil
organização celular até a maneira como e a esperança de vida ao nascer, para
atua no ambiente e é, ao mesmo tempo, discutir mais detalhadamente. A
influenciado por ele. Procuramos partir de finalidade dessa discussão é que
exemplos concretos e utilizar situações- percebam como esses índices expressam
problema para que o leitor participe uma série de condições que variam nas
efetivamente do aprendizado e procure a diferentes regiões do país.
todo momento, posicionar-se criticamente
Procuramos também analisar a posição
sobre os temas tratados. Essa proposta de
do Brasil no mundo, de acordo com o
aprendizagem e a visão de saúde,
Índice de Desenvolvimento Humano das
discutida anteriormente, perpassa os cinco
Nações Unidas. É importante que
itens que agora passamos a discutir mais
percebam que esse índice é a soma de
detalhadamente.
143

e suas Tecnologias
três indicadores: O PIB per capita, o características, apenas localizá-lo na

nível de escolaridade e a esperança de célula, mostrando que os genes junto
vida ao nascer. Um país pode ter um PIB com o meio ambiente determinam o
alto como o Brasil, mas se seus outros aparecimento de características no
índices não são bons, sua classificação indivíduo. Um exemplo é a clonagem da
pode cair. No caso citado da Venezuela, Dolly, que herda suas características da
ela tem um PIB 5 vezes menor que o do célula mamária com núcleo, que
Brasil , mas sua população é mais de 5 transmite a programação genética, no
vezes menor que a nossa, o que faz a caso fornecida pela ovelha 1.
diferença, porque o índice adotado é o Na parte final, abre-se espaço para uma
PIB per capita. Seus índices de discussão ética sobre a utilização dos
escolaridade e esperança de vida dois tipos de clonagem, mostrando que
também são um pouco melhores que os há vários fatores envolvidos (culturais,
nossos. O texto escolhido para se científicos, religiosos e até econômicos)
verificar a compreensão refere-se à porque ela pode trazer lucros, em sua
visão dos economistas e estudiosos e aplicação, para casais que não podem
afirma que não basta transferir recursos ter filhos por métodos naturais, para a
e terra aos mais carentes, mas é preciso cura de doenças e até para milionários
aumentar as políticas sociais que excêntricos que querem clonar seus
melhorem outras condições, como as de bichos de estimação.
saúde, habitação e saneamento básico.
Escolhemos o tema, Gravidez na
A habilidade a ser trabalhada no item adolescência: um problema de saúde
O mecanismo de herança das pública, para mostrar que processos
características é o reconhecimento dos vitais do organismo humano como a
mecanismos de transmissão da vida, sexualidade sofrem a influência de
utilizando conceitos de várias áreas. fatores biológicos, psicossociais,
Optamos por discutir a clonagem, que, econômicos e culturais, entre outros.
além de ser um tema atual, propicia Inicialmente, mostramos um panorama
oportunidade para a compreensão de de quanto esse tipo de gravidez, na
como as características são faixa de 14 a 19 anos, representa no
transmitidas. É importante que os total do Brasil. As mesmas diferenças
leitores percebam que os clones existem regionais aparecem nesses casos,
normalmente, na natureza. mostrando que em regiões mais
Conhecimentos científicos sobre carentes essas taxas são maiores,
Genética conduziram a tecnologias provavelmente pela dificuldade do
utilizadas para a produção de clones a acesso a informações e falta de
partir de células de animais adultos. Não atendimento médico. Há muitas causas
pretendemos discutir, em detalhes, os que podem estar levando a um índice
mecanismos de transmissão das maior de jovens grávidas. Usamos o
144

caso de Daiane, uma jovem da periferia estado de saúde, nutrição da pessoa, por
urbana, para exemplificar, mas não se exemplo. A falta de ferro e cálcio na
pode afirmar que ela represente todo o nutrição pode prejudicar, porque a
universo de mães adolescentes. O caso pessoa contaminada já está com baixo
foi usado para que, no final, o leitor teor de hemoglobina e seus ossos retêm
consiga perceber a influência dos vários chumbo em lugar de cálcio. Por esse
aspectos em uma questão de saúde mesmo motivo e também pela falta de
pública: sociais, econômicos, culturais, vitamina D, crianças contaminadas
psicológicos, de atenção à saúde. É nesse período de crescimento têm seus
importante que ele compreenda que, ossos e dentes prejudicados. Uma outra
para propor ações em saúde pública, é questão que pode ser discutida é a da
preciso levar em consideração os vários passagem do chumbo pela cadeia
aspectos envolvidos. A sexualidade, por alimentar, acumulando-se mais nos
preconceitos e tabus, deixa muitas últimos elos dessa cadeia, porque o
vezes de ser discutida nas famílias e na chumbo fica retido no organismo e é
escola, e é exacerbada na mídia, transmitido de um elo para o outro da
trazendo mais dúvidas para o cadeia alimentar.
adolescente, que, além de tudo, por No item Reduzir, Reutilizar, Reciclar:
temor deixa de procurar os órgãos de uma possível solução, o lixo, um grave
atendimento à saúde . Esse tema é problema ambiental foi escolhido como
bastante polêmico e há opiniões tema para se formular uma proposta de
diferenciadas sobre ele. É importante intervenção, no sentido de se chegar a
permitir que se faça um debate sobre o uma melhor qualidade de vida. Para se
tema, mediado pelo professor, mas sem chegar a formular uma proposta de
que ele coloque sua opinião pessoal. intervenção, é preciso conhecer o tema.
No item A saúde do trabalhador, a Algumas sugestões são lançadas para se
questão da contaminação por chumbo foi pensar na redução e deposição do lixo de
escolhida como tema para exemplificar a forma a afetar o menos possível o
influência do ambiente na determinação ambiente. Trabalhamos mais com o lixo
da saúde, em especial no ambiente de domiciliar e o caminho que ele percorre.
trabalho. A partir de informações sobre No final, são adicionados quadrinhos com
condições de trabalho e normas de algumas propostas sobre o lixo, para que
segurança, o leitor, colocado em uma os coloquem na seqüência correta e
situação concreta, poderá posicionar-se discutam os níveis de responsabilidade
criticamente. das diversas instâncias envolvidas.
Com relação à ação do chumbo, é Reutilização e Redução são as primeiras,
importante que perceba que a abrangendo ações individuais da
contaminação se dá de forma comunidade e até do Governo, por meio
diferenciada de acordo com a idade, de políticas e leis que estimulem a
145

e suas Tecnologias
redução do lixo nas indústrias. exclusivamente dele, inclusive exigindo

Coleta seletiva e reciclagem vêm a que os órgãos públicos dêem mais
seguir. Também dependem de ações atenção ao problema e promovam
individuais, como a separação nas casas políticas que avancem no sentido de se
do lixo a ser reciclado. Mas cabe à dar um melhor tratamento para o lixo. É
Prefeitura realizar a coleta seletiva e nosso dever e direito promover ações
encaminhar os produtos recicláveis para individuais e coletivas, a fim de melhorar
usinas de triagem. as condições de saúde. Qualquer
proposta de intervenção precisa levar em
A compostagem, passo seguinte,
consideração todos os níveis envolvidos
depende tanto dos órgãos do Governo,
e a responsabilidade que cabe a cada um.
construindo usinas desse tipo, quanto
É bom lembrar que o problema não está
da separação, nas residências e outros
apenas no lixo domiciliar, porque a
locais, do lixo orgânico a ser enviado
população também precisa mudar seus
para se transformar em adubo. O que
hábitos de lançar lixo nas ruas, terrenos
resta será encaminhado para o aterro
baldios e rios, o que provoca enchentes,
sanitário, que deve ser construído em
poluição e transmissão de doenças.
substituição aos lixões.
De qualquer forma, todo o capítulo foi
O trabalho com a comunidade é o início
elaborado no sentido de que os leitores
e o mais fundamental, porque muitas das
consigam desenvolver competências e
ações propostas dependem
habilidades necessárias para solucionar
questões em todo momento de sua vida.
BIBLIOGRAFIA
BARROSO, C.; BRUSCHINI, C. (Org.). Sexo e juventude: como discutir a sexualidade em
sua casa e na escola. São Paulo: Cortez, 1998.
Curriculares Nacionais. Meio ambiente: saúde. Brasília, DF: MEC, 1998.
CLONAGEM. Revista Pesquisa da FAPESP, Suplemento especial, São Paulo, n. 73, mar.
2002.
DALLARI, S. G. A saúde do brasileiro. 6. ed. São Paulo: Moderna, 1987. 88 p.
(Polêmica).
IPT/CEMPRE. Lixo Municipal: Manual de Gerenciamento Integrado. Coordenação:
Maria Luiza Otero D´almeida, André Vilhena. 2ª ed. São Paulo: IPT/CEMPRE, 2000.
MATTOS, S. V. M. et al. Avaliação da exposição aos compostos inorgânicos de chumbo
em trabalhadores da região metropolitana e Belo Horizonte 1988-1993. Revista
Brasileira de Saúde Ocupacional, [S.l.], v. 22, 1994.
146

MINC, C. Ecologia e cidadania. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1998. 128 p. (Polêmica).
OLIVEIRA, N. R. TESE: Perfis de grávidas e mães adolescentes: estudo psicossocial de
adolescentes de um serviço público de pré-natal e maternidade. São Paulo, 1999.
147

e suas Tecnologias
148

ENTENDER
V. Orientação paraE PROCEDIMENTOS
MÉTODOS o trabalho do professor Ciências da Natureza e suas Tecnologias
Ensino Médio - Capítulo VI
PRÓPRIOS DAS CIÊNCIAS NATURAIS E
APLICÁ-LOS A DIFERENTES CONTEXTOS.
Em busca do conhecimento:
o fazer científico
Olga Aguilar Santana
A competência relacionada a este internet, no supermercado, nos jornais ou

capítulo diz respeito ao entendimento nas residências. Nossa função foi
de métodos e procedimentos próprios aproximar as informações do leitor para
das ciências naturais e as suas que ele pudesse decodificá-las e usá-las,
aplicações a diferentes contextos. pensando nas suas necessidades, no
Na introdução discute-se o tema do sentido de chegar ao conhecimento,
título, não com o objetivo de se melhorando sua qualidade de vida, a das
desenvolver o histórico da produção outras pessoas e, também, a do ambiente.
científica, mas de se fazer um breve Quando o leitor tem dados para ler e
apanhado sobre o assunto. Deve-se examinar, esquemas para interpretar,
chamar a atenção para a relação citada tabelas etc, ele precisa ter claro que são
entre os magos e os cientistas, os quais, documentos que fornecem uma ou
de certa forma, através do método de outra informação e que com as várias
observação contínua, podiam, com o informações fornecidas ele pode ou não
passar do tempo, relacionar os chegar a um conhecimento. Esses
procedimentos eficazes. instrumentos são, portanto, limitados e
É importante que fique claro que esses se complementam.
procedimentos não envolvem uma O leitor precisa identificar se o conceito
seqüência determinada e nem trabalhado está explícito ou não e
acontecem todos juntos nos procurar reconhecê-lo, se for o caso.
mecanismos das descobertas e Deve estar atento a detalhes, escalas,
invenções. comentários, legendas, unidades e
Procuramos usar, no capítulo, dados numéricos para que possa
informações e problemas, para serem “enxergar” as informações que lhe são
analisados pelos leitores, que se apresentadas, relacionando-as para
encontram à disposição na mídia, na poder emitir opiniões ou resolver as
149

e suas Tecnologias
questões propostas nas atividades. completo do conceito abordado, só a

Assim, a cada habilidade trabalhada, interpretação do documento por si só, já é
deu-se maior destaque a um ou outro suficiente para responder à questão
aspecto dos procedimentos científicos. proposta. Fizemos isso para mostrar a
O conteúdo escolhido é só um meio importância de buscar informações (no
para que pudéssemos desenvolver essas caso nas várias linguagens) na tentativa
habilidades. A estratégia usada foi a de de se chegar a um conhecimento.
se lançar desafios constantes para Chame a atenção dos alunos, mostrando
sensibilizar os leitores na busca de que cada documento tem uma
dados e informações para que pudessem peculiaridade própria e também uma
responder aos problemas propostos. A maneira específica de se trabalhar com
conversa com o leitor é constante, ele. Fomos propondo, ao longo do
procurando colocá-lo sempre no meio capítulo, exemplos de como proceder
das questões propostas, para não em cada uma dessas formas de
parecer que os problemas discutidos apresentar dados e informações.
estão longe da sua realidade. Também foi intencional mostrar que
Como o objetivo do capítulo era uma linguagem ora responde, ora
trabalhar as habilidades, talvez haja a propõe, ora esclarece uma questão. Ao
necessidade de se retomar um ou outro utilizá-la, precisamos identificar qual a
conceito para que possam refletir melhor função principal a que ela se propõe.
sobre os documentos apresentados. No item Experimentando e analisando,
especificamente, se trabalhou com
DESENVOLVENDO A experimentos, procurando mostrar o
COMPETÊNCIA significado dos resultados obtidos por
Na parte Lendo o mundo na linguagem meio de experimentos controlados,
da ciência, o objetivo é habilitar o aluno a bem como o papel e o limite desses
relacionar as informações apresentadas experimentos na explicação de um
em diferentes linguagens. Desse modo, conceito.
queremos que ele perceba como deve Trabalhamos com o conceito de
proceder para “ler” gráficos, imagens e nutrição vegetal usando experimentos
outros tipos de textos e, assim, obter os diferentes, para que o leitor perceba
dados e as informações de que precisa que eles se completam e, assim,
para responder aos desafios propostos. consiga chegar a um conhecimento
Uma outra estratégia usada aqui foi mais abrangente sobre o tema. Deve
mostrar que um documento pode perceber também que, com o passar do
responder a algum desafio, mas tempo e as novas descobertas, esses
normalmente, pode criar outro ou conhecimentos mudam.
despertar a curiosidade por outro. Muitas Dessa maneira, acompanhando o
vezes, mesmo não se tendo domínio raciocínio ele interage com o
150

conhecimento o tempo todo, num dessa mesma água como manancial,

movimento dinâmico de aprendizagem. quando ela vai parar em outro lugar,
Desse movimento saem as previsões, como é o caso do Reservatório de
novas hipóteses e explicações para Guarapiranga, por exemplo. Abra a
novos fatos. discussão para os alunos pensarem em
No item Pelos caminhos da água, a outras ações que poderiam ser
habilidade a ser trabalhada é selecionar intensificadas, como o menor uso de
procedimentos e normas de segurança fertilizantes químicos, por exemplo, e a
quanto às condições ambientais, em maior aceitação de adubos naturais.
contextos de risco à saúde individual e Na parte Pesquisando um problema
coletiva, a partir de critérios científicos. brasileiro: saneamento básico,
Escolhemos uma discussão envolvendo aproveitamos o mesmo tema para
o caminho da água na natureza, não do desenvolver a habilidade seguinte:
ponto de vista do ciclo hidrológico, mas selecionar métodos e procedimentos
sim, do ponto de vista ambiental. Desse próprios das Ciências Naturais que
modo, discutimos a importância do contribuam para diagnosticar ou
tratamento da água e procuramos solucionar problemas de ordem social,
identificar responsabilidades nos econômica ou ambiental.
cuidados com a água para facilitar nossa Aqui, através de informações
discussão sobre possíveis intervenções estatísticas e suas interpretações,
no processo. propomos uma discussão sobre as
Não entramos no conceito de poluição condições de saneamento básico no
mais abrangente, por acharmos mais Brasil e a incidência de doenças
adequado, segundo nosso objetivo, a infecciosas e parasitárias.
identificação de como, e por que a água Apesar de não abordarmos o problema
fica poluída e, principalmente, dos do lixo no país, o saneamento básico é
critérios científicos que são usados para discutido como uma das condições para
constatarmos isso. a diminuição da mortalidade infantil.
Procure trabalhar a tabela fornecida com Invista um tempo para discussões sobre
os IQA de alguns pontos de São Paulo intervenções que poderiam ser feitas
(Estado), mostrando a localização desses para que se melhore a situação das
pontos de coleta num mapa e regiões mais críticas do país e, também,
relacionando esses pontos com o que há para a questão formulada no final desta
ao redor deles. parte do capítulo.
Na análise dos histogramas juntamente No item Investigando alimentos,
com o das questões propostas e a escolhemos trabalhar a habilidade de
ilustração apresentada, sugerimos uma avaliar a adequação de produtos
discussão sobre a relação da água dos alimentícios (principalmente os
rios com o esgoto lançado nela e o uso industrializados) a partir de suas
151

e suas Tecnologias
características químicas e biológicas, As atividades exigem cálculos simples e

do ponto de vista social e da saúde, a compreensão de que as informações
porque consideramos ser de extrema alimentares devem aparecer,
importância e utilidade para uma normalmente, em todos os alimentos.
vida saudável. Envolvem também questão de saúde,
Identificar características dos alimentos, porque determinadas dietas não podem
ingredientes, aditivos alimentares, conter determinados nutrientes;
quantidade de calorias e outras portanto, saber identificá-los é
substâncias são habilidades que precisam fundamental.
ser treinadas e usadas, constantemente, Sugerimos que se retome a função dos
como rotina. A nossa intenção é fazer nutrientes, caso considere necessário,
com que o leitor se familiarize com essas assim como funções e características de
informações e perceba se elas são ou não outros aditivos. Com a nova legislação
adequadas para atingir os objetivos a que para rotulagem de alimentos, é
se propõe. necessário se estar mais atento às
informações nutricionais contidas nos
rótulos, assim como outras informações.
BIBLIOGRAFIA
Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Rotulagem nutricional: manual de
orientação aos consumidores: educação para o consumo saudável. Brasília, DF, 2001.
ALVES, R. Filosofia da Ciência: introdução ao jogo e suas regras. 3. ed. São Paulo:
Loyola, 2002. 223 p. (Leituras filosóficas, v. 8).
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA INTERDISCIPLINAR DE AIDS. Boletim ABIA, [S.I.], n.46, jul./
set. 2001.
CAVINATTO, V. M. Saneamento básico: fonte de saúde e bem-estar. São Paulo:
Moderna, 1999. 62 p. (Desafios).
CHASSOT, A. I. A Ciência através dos tempos. 5. ed. São Paulo: Moderna, 1995. 191 p.
(Polêmica).
COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL. Relatório de qualidade
das águas interiores do Estado de São Paulo. São Paulo, 2001.
KLESIUS, M. Em busca da cura: o implacável avanço da AIDS no mundo. National
Geographic, p. 115–125, fev. 2002.
152

MACÊDO, J. A. B. de. Águas & águas. São Paulo: Varela, 2001. 505 p.
RONAN, A. C. História ilustrada da Ciência da Universidade Cambridge. 2. ed. Rio de
Janeiro: J. Zahar, 1997. v. 1. Tradução de Jorge Eneas.
SABBATINI, R. M. E.; CARDOSO, S. H. Introdução à metodologia científica. Campinas:
Núcleo de Informática Biomédica: Universidade de Campinas. Disponível em: <http://
www.nib.unicamp.br/slides/etapas>.
WEISS, R. Guerra às doenças. National Geographic, São Paulo, p. 87-113, fev. 2002.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA INTERDISCIPLINAR DE AIDS. Boletim ABIA, n. 46. jul./set.
2001.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Saúde. Centro de Vigilância Epidemiológica.
”Professor Alexandre Vranjac”. Manual de vigilância epidemiológica: cólera: normas
e introduções. São Paulo, 2002.
153

154

APROPRIAR-SE DE CONHECIMENTOS DA FÍSICA PARA Ciências da Natureza e suas Tecnologias
Ensino Médio - Capítulo VII
COMPREENDER O MUNDO NATURAL E PARA INTERPRETAR,
AVALIAR E PLANEJAR INTERVENÇÕES CIENTÍFICO-
TECNOLÓGICAS NO MUNDO CONTEMPORÂNEO.
Conhecimentos físicos
e a vida atual
Marcelo Boneti
O capítulo trabalha com DESENVOLVENDO A

os conceitos físicos da mecânica, COMPETÊNCIA
termodinâmica e energia. Ele é dividido
Neste capítulo, centramos nossa
em uma introdução e cinco partes para
discussão na construção do vocabulário
desenvolver competências e
e do conceito de tempo, de espaço e de
habilidades distintas.
velocidade, ou seja, a construção, a
Na introdução, apresentamos os tópicos representação e as diferentes escalas de
trabalhados no capítulo juntamente com tempo e de espaço e suas medidas. Não
algumas propostas de ampliação da exploramos outras representações,
proposta. Vamos trabalhar com as como gráfico, tabelas e relações entre
competências em cinco momentos outras variáveis do movimento; são
distintos: linguagem; contextualização coisas que você pode fazer.
e desenvolvimento conceitual;
Essas discussões devem ser expandidas
enfrentamento de situações e tomada de
para outras formas de representação e
decisões; estabelecimento de relações
outros conceitos científicos
causais para uma argumentação
relacionados ao movimento, como
consistente; e proposição de
força, energia, potência, trabalho,
intervenções solidárias baseadas em
aceleração, movimento, figuras,
conhecimentos desenvolvidos.
desenhos esquemáticos e fotografias
Num primeiro momento, estamos estroboscópicas.
preocupados com a linguagem da
Não é uma questão de fazer o aluno
ciência, a construção do vocabulário e
estudar transformação de unidades, nem
das representações científicas, das
de trazer unidades mortas ou sistemas
relações, dos conceitos, da possibilidade
não usuais de unidades, o que se
de leitura de tabelas, de gráficos, para o
pretende é que o aluno interaja com o
entendimento dos parâmetros que
sistema de unidade, buscando,
descrevem os movimentos.
155

e suas Tecnologias
efetivamente unidades que estejam diagramas de fase, diagramas de

adequadas à escala do objeto do qual se transformação gasosas. Estes conceitos
pretende obter alguma informação. não foram abordados nesse capítulo e
Atividades como ir a um supermercado podem ser analisados sob o prisma da
observar unidades de grandezas como a construção e aplicação dos conceitos
massa, o volume e área, podem ser explicando os fenômenos naturais.
muito instigantes. Medir o tempo, o Esse momento é interessante para
peso, a energia, procurar mapas do construir as relações entre os conceitos,
bairro, cidade, estado ou país, para ver trata-se das amarras para tecer nossa
um mesmo lugar em diferentes escalas rede da ciência. Quanto mais relações
de distância são importantes para essa tivermos, mais confiáveis serão nossos
construção da linguagem. conhecimentos. Entender a relação entre
Lembre-se, professor, de que nós não condutividade térmica e resistência
conseguimos usar as palavras cujo elétrica ou entre o estado físico da
significado não conhecemos. O aluno matéria e a condutividade térmica,
também não consegue usar as unidades, fortalece os conhecimentos adquiridos.
se não souber o seu significado. Nosso terceiro momento é de
Construa esse significado com ele. enfrentamento de situações e tomada de
Num segundo momento, queremos decisões. As teorias científicas nos
construir e aplicar conceitos de várias ajudam a tomar algumas decisões,
áreas do conhecimento, com ênfase nos prever alguns problemas e algumas
conhecimentos científicos para a soluções. Discutimos as Leis de
compreensão dos fenômenos, Conservação do Momento Linear e as
identificando características histórico- Leis de Newton, prevendo dificuldades
geográficas da produção tecnológica. e produzindo soluções em três casos:
Fizemos uma discussão sobre o num acidente de carro, num parque de
conceito de calor e as formas de diversões e no espaço. Essas mesmas
transmissão de energia térmica, leis podem ser mais aprofundadas,
observando como esses conceitos analisando outros movimentos mais
explicam as trocas de energia térmica complexos, como o movimento dos
em sistemas tecnológicos como os barcos, dos aviões, dos dirigíveis e dos
existentes em nossa cozinha e, em balões.
sistemas naturais, como a atmosfera. Podemos ampliar o conhecimento,
Podemos identificar outras variáveis dos de forma análoga, para as Leis das
processos de troca de calor, como Rotações (momento angular, porque,
temperatura, calor específico, calor órbita dos planetas) e Leis de Kepler,
latente, além de outras propriedades que ajudam a prever e achar soluções
térmicas. Também podemos observar as para alterar ou avaliar brinquedos de
etapas nos processos de troca de calor, parques de diversões, bumerangues,
156

vôos de helicópteros, sistemas para o uso social. No capítulo,

girodirecionais, rodas de bicicletas, abordamos a energia elétrica, as
peões etc. diversas formas de geração, os impactos
Bem mais ousado é o vôo que se pode ambientais causados, os rendimentos,
fazer para conhecer outras teorias como alguns custos de geração e a
a quântica, que pode ajudar a entender a distribuição desigual dessa energia.
interação física no mundo microscópico, Pode-se ainda explorar mais
ou a relatividade, que pode ajudar com especificamente os poluentes
interações do mundo extragaláctico e atmosféricos, discutir o efeito estufa e o
com o mundo das altas energias. buraco na camada de ozônio, a chuva
O quarto momento é para estabelecer ácida, o tratamento de resíduos e a
relações causais, relacionar as reciclagem.
informações e construir uma Os impactos econômicos foram pouco
argumentação consistente. Para isso, explorados. Seria interessante uma
abordamos a questão da evolução análise dos custos de implantação das
tecnológica e científica, que possibilitou usinas geradoras de energia elétrica. O
a troca do trabalho animal pelo trabalho acordo com o gás da Bolívia e a
das máquinas. As máquinas térmicas privatização do setor são algumas
deram início à nossa sociedade formas de se abordar esse tema sob o
industrial. O trabalho animal foi prisma dessa competência. Nós
substituído por máquinas com piores priorizamos os processo de produção e
rendimentos, mas muito mais potentes os principais impactos ambientais.
e que podiam fazer coisas que os Também pode ser feita uma análise da
animais não conseguiam. Elas distribuição da energia nos diversos
promovem desemprego, desmatamento, setores da sociedade.
desertificação, assoreamento e muitos Outro tema que pode ser explorado
outros desequilíbrios ecológicos. Essa nessa perspectiva é o transporte.
argumentação pode ser enriquecida com Grande parte da energia produzida no
a abordagem dos processos químicos e mundo é utilizada em transporte.
biológicos, da inserção da As cidades grandes, com seus
nanotecnologia que trabalha com congestionamentos, crescimento
máquinas em tamanho molecular, dos desordenado e falta de planejamento,
rato-robôs, que são parte animal e parte são sorvedouros de energia em
máquina, das redes neurais, enfim, há transportes e grandes poluidoras. A
muitas tentativas em criar uma máquina possibilidade de planejar intervenções
com características animais. solidárias pode trazer conceitos
O quinto momento é um momento de criativos para a solução desse
proposição, de análise das problema.
possibilidades de geração de energia
157

e suas Tecnologias
Um olhar sobre as tecnologias de Todos os conteúdos de mecânica,

propulsão, os motores elétricos termodinâmica e energia, que são
abastecidos por painéis solares, os abordados na escola regular tradicional,
motores com célula de combustível e os também estão presentes nessa proposta,
carros a ar comprimido, mostra que entretanto, adotamos outro enfoque.
existem muitas tecnologias para Estamos preocupados com as
impulsionar os veículos.Os competências e habilidades que os
equipamentos de transportes públicos, estudantes jovens e adultos têm e nas
como ônibus, metrôs, trens podem ter que ainda precisam ser mais
interligações. Dessa forma, podemos desenvolvidas, utilizando para isso esse
melhorar o consumo de energia e o conhecimento.
transporte, abordando as questões A proposta é interdisciplinar e tem como
econômicas e sociais dos meios de foco as competências, não os conteúdos.
transporte. Esteja com esse pensamento presente,
quando estiver preparando suas aulas.
BIBLIOGRAFIA
BERMANN, C. Energia no Brasil: para quê? para quem? crise e alternativas para um
país sutentável. Editora Livraria da Física, 2001.
GOLDEMBERG, J. Energia, meio ambiente & desenvolvimento. Edusp: São Paulo:
2001. 234 p. Tradução de André Koch.
GRUPO DE REELABORAÇÃO DO ENSINO DE FÍSICA. Física 1: mecânica. São Paulo:
Edusp, 1991.
GRUPO DE REELABORAÇÃO DO ENSINO DE FïSICA. Física 2: física térmica e óptica.
São Paulo: Edusp, 1991.
LEITE, A. D. A energia do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
OKUNO, E.; CALDAS, I. L.; CHOW, C. Física para ciências biológicas e biomédicas. São
Paulo: Harper & Row, 1982. 490 p.
PERRUCCA, E. Física general y experimental: mecânica-calor. 2. ed. Rio de Janeiro:
Labor, 1953.
RESNICK, R. EISBERG, R. Física quântica: átomos, moléculas, sólidos, núcleos e
partículas. 8. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1994. 928 p.
RESNICK, R. HALLIDAY, D. Física: Parte I. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1967.
SILVEIRA, S.; REIS, L. B. (Org.). Energia elétrica para o desenvolvimento sustentável:
introdução de uma visão multidisciplinar. 2. ed. São Paulo: Edusp, 2001.
158

APROPRIAR
V. -SE DEpara
Orientação o trabalho do
CONHECIMENTOS DA professor
QUÍMICA Ciências da Natureza e suas Tecnologias
Ensino Médio - Capítulo VIII
PARA COMPREENDER O MUNDO NATURAL E PARA
INTERPRETAR, AVALIAR E PLANEJAR
INTERVENÇÕES CIENTÍFICO-TECNOLÓGICAS NO
MUNDO CONTEMPORÂNEO.
Química, natureza
e tecnologia
Natalina Sicca
Neste capítulo, serão tratados diferentes • Identificar implicações ambientais e/

processos que envolvem transformações ou econômicas na produção ou no
da matéria, a produção de novos consumo de eletricidade, dos
materiais, o envolvimento energético combustíveis ou recursos minerais, em
nesses processos e o comprometimento situações que envolvam
ambiental com o descarte de produtos transformações de energia (a partir do
no ambiente. petróleo, carvão, biomassa, gás
natural e dispositivos, como pilhas e
outros tipos de baterias).
DESENVOLVENDO A
COMPETÊNCIA • Relacionar a importância social e
econômica da eletricidade, dos
Devemos criar situações para que o
combustíveis ou recursos minerais,
aluno desenvolva as habilidades
identificando e caracterizando
referentes à competência, ou seja:
transformações químicas e energia
• Reconhecer e utilizar códigos e envolvendo fontes naturais (como
nomenclatura da química para petróleo, carvão, biomassa, gás
caracterizar materiais, substâncias e natural e dispositivos como pilhas e
transformações químicas e para outros tipos de baterias), identificando
identificar suas propriedades. riscos e possíveis danos decorrentes
• Caracterizar materiais, substâncias de sua produção e uso.
químicas e transformações químicas, • Analisar propostas de intervenção
identificando propriedades, etapas, ambiental aplicando conhecimento
rendimentos e taxas de obtenção e químico, observando riscos e
produção e implicações sociais, benefícios.
econômicas e ambientais.
159

e suas Tecnologias
No capítulo, optou-se pela escolha de relação ciência-tecnologia e sua

um tema geral que possibilitasse importância para a formação do
múltiplos arranjos, a formação de uma cidadão, de modo a evidenciar a
rede de conceitos, tal que o aluno possa contribuição da química para tal.
se apropriar dos conhecimentos da A primeira situação problemática tem
química para compreender o mundo como objetivo o desenvolvimento da
natural e para interpretar, avaliar e habilidade. Está fundada na concepção
planejar intervenções científico- de que o cobre é um recurso natural e
tecnológicas no mundo contemporâneo. que é extraído pelo homem para uma
Compreendemos que é sua tarefa a determinada finalidade. Optou-se por
opção de seguir a ordem apresentada ou estabelecer um caminho que vai do uso
estabelecer outras ordens, derivadas do do referido metal, pois é mais próximo
seu modo de conceber o ensino. As do conhecimento do aluno, para sua
situações problemáticas foram extração na natureza.
encadeadas desse modo, porque
Essa trajetória possibilita que o aluno
entendemos que é importante que o
construa os conceitos de
aluno perceba que os objetos são
transformações químicas, indicando as
produtos do trabalho humano e das
modificações e permanências, indo
relações produtivas que resultam dele,
das evidências para as explicações.
que, por sua vez, são produtos das
Para tal, partiu-se de um processo
relações sociais. Concebemos ainda que,
simplificado, mais antigo, que tinha
no ensino, é importante que o aluno
menor grau de elaboração, mas que
perceba as diferentes relações entre os
possibilitou que partíssemos das
conceitos, entre os fenômenos, entre a
evidências do fenômeno para o nível
natureza e a sociedade, entre
explicativo. Organizaram os conceitos
os conhecimentos da química e de
de modo a gerar a necessidade de se
outras disciplinas.
recorrer à lei de Lavoisier, aos
Desse modo, escolhemos um recurso conceitos de substâncias e materiais.
natural, o cobre, e estabelecemos Nesse momento, objetivou-se mostrar
situações problemáticas que que as explicações científicas foram
possibilitam alinhavar os conceitos posteriores às técnicas.
químicos ao mesmo tempo em que se
A segunda problemática foi construída
vai tecendo o caminho do cobre, desde
para que o aluno se aproxime da
a natureza até o retorno à mesma.
habilidade que está voltada para a
A metodologia empregada foi representação por meio da linguagem
organizada de modo a possibilitar que o científica. Inicia-se pela representação
aluno fosse construindo uma teia de das substâncias e passa pela
conceitos químicos alinhavados de representação das transformações, onde
acordo com a situação problemática. O se estabelece uma ponte para que se
eixo organizador foi a compreensão da discutam as propriedades, já no caso
160

ampliando o horizonte para os metais. as transformações químicas podem

A seqüência entre as habilidades se fornecer ou consumir energia.
justifica numa postura de que os Estabelecem-se relações entre diferentes
códigos que utilizamos passam a ter combustíveis, comparando o poder
sentido se nos apropriarmos dos calorífico dos mesmos.
conceitos que eles representarão. Nessa fase, já utilizamos a linguagem
Concebemos, porém, que a teia de científica para representar os
conceitos depende da situação que se fenômenos. Já vai sendo encaminhada a
apresenta na relação professor-aluno. quinta situação, que está voltada
Em seguida, tendo em vista a essencialmente para o problema
habilidade, optou-se por focalizar um ambiental.
dos processos atuais de obtenção do A quinta situação deve ser desenvolvida
cobre, um recurso mineral, a partir de de modo a ser discutida a poluição
minérios sulfetados. Nesse processo, ambiental no processo metalúrgico.
vamos identificando as diferentes fases Para construí-la, partimos de
e os diferentes tipos de produto obtido, providências tomadas por metalúrgicas
ou seja, desde a extração até o refino do no Brasil e no mundo. Escolhe-se como
metal. A trajetória evidencia a procura foco a liberação do dióxido de enxofre,
do homem por obter o cobre com maior procurando-se evidenciar produção e
porcentagem de pureza. Essa situação- reaproveitamento, sempre chamando a
problema procura identificar atenção para o rendimento dos
implicações ambientais e a questão da procedimentos.
saúde do trabalhador nessa cadeia O problema do consumo e descarte vai
produtiva. colocar o ponto final da trajetória do
A quarta situação-problema tem em cobre, que termina, outra vez, na
vista a discussão da habilidade. Nesse natureza ou é reintroduzido na cadeia
momento, espera-se que se focalize o produtiva.
envolvimento energético nas Entendemos que essa metodologia pode
transformações químicas, em especial as ser utilizada com diferentes materiais.
reações de combustão. Anuncia-se que
BIBLIOGRAFIA
AMBROGI, A. et al. Unidades modulares de Química. São Paulo: Hamburg, 1987.
ANDRADE, M. L. A. et al. Indústria do cobre. BNDES. [Rio de Janeiro], ago. 1997.
BRASIL. Ministério das Minas e Energia. Departamento Nacional de Pesquisa Mineral.
Perfil analítico do cobre. Boletim, Brasília, DF, n. 56, 1982.
161

e suas Tecnologias
BRONOWSKI, J. A escalada do homem. São Paulo: Martins Fontes, 1983. 448 p.

Tradução de Núbio Negrão.
CANTO, E. L. do. Minerais, minérios, metais: de onde vêm? Para onde vão? 3. ed. São
Paulo: Moderna, 1996. 128 p. (Polêmica).
GRUPO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO QUÍMICA. Interações e transformações: química
para o 2º grau. São Paulo: Edusp, 1993.
GONÇALVES, P. W.; XAVIER, R. P. O que você sempre quis saber as pedras e nunca teve
a quem perguntar. Ciência Hoje na Escola, v. 10, p. 33-40.
COORDENADORIA DE ESTUDOS E NORMAS PEDAGÓGICAS. Ensino de química: dos
fundamentos à prática. São Paulo, 1988.
VANIN, J. A. Alquimistas e químicos: o passado, o presente e o futuro. 2. ed. São
Paulo: Moderna, 1994. 95 p.
S ITES NA INTERNET
Disponível em: <http://www.cprm.gov.br>. Acesso em: 28 maio 2002.

Disponível em: <http://www.sindicelabc.org.br>. Acesso em: 29 maio 2002.
162

APROPRIAR
V. -SE DEpara
Orientação o trabalho do
CONHECIMENTOS DA professor
BIOLOGIA PARA Ciências da Natureza e suas Tecnologias
Ensino Médio - Capítulo IX
COMPREENDER O MUNDO NATURAL E PARA INTERPRETAR,
AVALIAR E PLANEJAR INTERVENÇÕES CIENTÍFICO-
TECNOLÓGICAS NO MUNDO CONTEMPORÂNEO.
Biodiversidade
e meio ambiente
Bruno Coutinho
O capítulo tem por objetivo explicitar o pelas atividades humanas, pretende-se

sentido das habilidades descritas na mostrar que natureza e sociedade são
competência acima. Isto envolve a conceitos que não se dissociam.
compreensão do recorte temático Para tanto, a Biodiversidade é o fio
adotado e de algumas formas possíveis condutor da discussão ao longo do
de se desenvolverem essas habilidades. capítulo: O que é? Como se organiza?
Esta competência está associada aos Como se desenvolve? Como esteve e
grandes objetos das ciências biológicas: está distribuída no planeta? Qual é a sua
os níveis de organização e a diversidade importância ecológica, econômica e
da vida, as interações biológicas e social? Qual é o papel do homem
ambientais, suas transformações ao (exploração, utilização, destruição e
longo da história da Terra e as relações conservação), os seus modos de
contemporâneas entre sociedade apropriação da natureza e reflexos disso
e natureza. na sociedade.
A intenção do capítulo é estimular o O capítulo está dividido em duas partes:
estudante a compreender o mundo • Biodiversidade: onde são abordadas
natural, decodificando a linguagem questões relacionadas a sua estrutura
que a Biologia utiliza para representar e seu funcionamento.
fenômenos biológicos: construindo
• Meio ambiente: onde são abordadas
conceitos, interpretando dados,
questões relativas à importância da
comparando argumentos e elaborando
biodiversidade para a natureza e
propostas de intervenção no
sociedade, aos problemas ambientais
mundo atual.
gerados pela atividade humana, à
Considerando que a vida no planeta tem utilização dos recursos naturais e às
uma história de transformações e o alternativas para solução de
meio ambiente é um espaço produzido problemas ambientais.
163

e suas Tecnologias
As questões centrais que permeiam a estudante na interpretação dos mesmos.

discussão sobre a biodiversidade são A habilidade apresenta um recorte
levantadas, no texto, como situações- temático amplo, porém bem definido,
problema. Para resolvê-las junto com o referente às características gerais e
estudante, são construídos conceitos ao adaptações dos grandes grupos de
longo do capítulo e propostas animais e plantas. O desenvolvimento
atividades que apoiam o desta habilidade consiste na construção
desenvolvimento das habilidades e a e aplicação de conceitos para a
busca de respostas. compreensão de fenômenos naturais -
Todos os temas e conceitos apresentados neste caso, associando características
são essenciais para o desenvolvimento gerais e adaptações dos seres vivos com
das habilidades e devem ser aprofundados seus modos de vida e limites de
em consultas a livros didáticos, distribuição geográfica.
publicações técnicas, revistas, jornais, As adaptações dos seres vivos frente às
internet, documentários em vídeo etc. condições ambientais são vistas desde a
escala global até o interior da floresta
DESENVOLVENDO A amazônica, tendo como eixo de
COMPETÊNCIA discussão a estrutura e o funcionamento
A habilidade exige que o estudante da biodiversidade.
perceba fenômenos biológicos em Distribuição geográfica da
diversas formas de representação dos biodiversidade inicia a construção da
mesmos. Para desenvolvê-la, é resposta para a pergunta: Como está
necessário que o estudante faça distribuída a biodiversidade? Esse
associações cognitivas e interprete os subcapítulo pretende chamar a atenção
fenômenos biológicos descritos em do estudante, para o fato de que as
forma de textos e imagens (gráficos, espécies não estão distribuídas
figuras, fotografias). aleatoriamente, no planeta: elas
O recorte temático dessa habilidade possuem adaptações específicas para
apresenta caráter bastante abrangente contextos ambientais específicos.
dentro do universo de conceitos e temas Em Florestas Tropicais procura-se
da Biologia. Nesse sentido, os mostrar as associações entre este bioma
fenômenos biológicos a serem e o clima e direciona o estudante para
interpretados poderão variar desde a estudar a biodiversidade na floresta
escala molecular até a escala de biomas, amazônica. Em seguida, o texto
utilizando as interações e apresenta a floresta amazônica e os
transformações nas estruturas vivas. demais biomas brasileiros, chamando a
Todo o capítulo está relacionado com atenção do estudante para os de maior
fenômenos biológicos e foram utilizados diversidade de espécies e fazendo
textos e imagens para auxiliar o associações entre as adaptações gerais
164

dos grandes biomas frente aos domínios importância de fungos, bactérias, algas
climáticos do Brasil. e protozoários também na indústria
A vida na floresta procura desenvolver a farmacêutica e alimentícia.
habilidade mais especificamente, A habilidade contém recorte temático
mostrando um pouco da estrutura e do referente à evolução dos seres vivos. O
funcionamento da floresta amazônica. desenvolvimento desta habilidade
Neste item, o estudante é convidado a consiste em relacionar informações
refletir sobre a diversidade de habitats representadas em diferentes formas e
no interior da floresta, sobre as conhecimentos disponíveis para
complexas relações entre os organismos construir argumentações consistentes,
e o ambiente e, por conseqüência, na comparando argumentos em debate,
diversidade de possibilidades de ao longo do tempo, sobre a evolução
adaptações para a enorme diversidade dos seres vivos.
de espécies que vivem na floresta. Breve história da vida e Evolução são
A habilidade envolve a compreensão da dedicados a esta habilidade. Em uma
utilização de recursos naturais vivos breve história da vida, procura-se
(neste caso, vírus, bactérias, relacionar informações sobre o passado
protozoários, algas e fungos) em da vida com sua diversificação até os
benefício das atividades produtivas da dias atuais. A intenção é atentar para o
sociedade. O desenvolvimento desta fato de que as espécies evoluem; que,
habilidade se detém na interpretação de apesar de grandes eventos de extinção
resultados de experimentos envolvendo em massa, a biodiversidade aumentou
tais recursos que se apliquem às do início da vida até hoje, e que o
atividades humanas: selecionar, evento de extinção em massa que
organizar, relacionar e interpretar dados vivido hoje tem relação com as
e informações para tomar decisões atividades humanas.
frente a situações-problema. Em seguida, são apresentadas algumas
Por estar relacionada com a utilização teorias evolutivas mais discutidas nas
de recursos naturais, esta habilidade ciências biológicas. Procura-se oferecer
é abordada em A utilização sustentável para o estudante “ferramentas” para que
dos recursos naturais, onde se pretende ele possa construir argumentação
mostrar a importância dos consistente sobre essas teorias e sobre o
microorganismos do solo na ciclagem que sabemos, hoje, a respeito da
de nutrientes na floresta e a utilização evolução das espécies.
destes na produção agrícola e na O capítulo se encerra com o problema
recuperação de áreas degradadas. Neste atual da perda acelerada de
capítulo, limitou-se a importância dos biodiversidade devido aos modos de
microorganismos nestes aspectos; produção humanos e chama a atenção do
porém, é necessário que se considere a estudante para a necessidade de se
investir em novas tecnologias que
165

e suas Tecnologias
proporcionem a utilização auto- da floresta amazônica e a compreender

sustentável dos recursos naturais para que é possível fazer utilização
termos um meio ambiente mais saudável. sustentável dos recursos florestais em
O recorte temático da habilidade bases sociais, com investimentos em
lida com questões relativas ao meio ciência e tecnologia, educação, saúde e
ambiente. Para o desenvolvimento desta valorização das culturas locais.
habilidade, é necessário que o estudante Este capítulo foi construído com a
recorra aos conhecimentos finalidade de dar subsídios ao estudante
desenvolvidos para elaborar propostas para desenvolver as cinco habilidades
de intervenção solidária na realidade, referentes à competência. Esta
avaliando propostas de alcance competência envolve um universo
individual e/ou coletivo e identificando muito amplo de questões: portanto, a
aquelas que visam à preservação, biodiversidade (por ser um enorme
conservação e implementação de saúde campo de investigações) foi utilizada
individual, coletiva e/ou ambiental. como objeto de estudo.
O capítulo aborda esta habilidade na Para o desenvolvimento da habilidade,
medida que apresenta os problemas foram utilizados textos, figuras, imagens,
relacionados à perda de biodiversidade gráficos em todos os subcapítulos e em
e discute possíveis soluções algumas atividades propostas como forma
relacionadas com conservação e de auxiliar o estudante na identificação
alternativas de utilização auto- e descrição dos fenômenos biológicos
sustentável de recursos naturais. representados ao longo do capítulo.
A perda da biodiversidade dá um A questão “Como a biodiversidade está
panorama global desse problema e traz distribuída no planeta?” e outras
a discussão para a realidade brasileira. questões relativas a adaptações em
Relaciona-se perda de área de habitats escalas de biomas e espécies são
naturais em alguns biomas brasileiros e abordadas no desenvolvimento da
conseqüente perda de biodiversidade habilidade.
com o histórico de ocupação e com os A habilidade recebe atenção somente no
modelos de produção atuais dessas final do capítulo onde se ressalta a
áreas. Este culmina nas ameaças sobre a importância ecológica e social da
biodiversidade da floresta amazônica, biodiversidade de microorganismos. Foi
exercidas pelo extrativismo predatório utilizado como exemplo o uso de
de madeira e pelo avanço de microorganismos na agricultura e na
monoculturas sobre as florestas. recuperação de áreas degradadas.
Em A utilização sustentável dos Para o desenvolvimento da habilidade,
recursos naturais, o estudante é foram mostradas várias teorias
estimulado a confrontar diversas formas evolutivas desenvolvidas ao longo da
de se utilizar economicamente a região história, que constroem o nosso
166

conhecimento atual sobre evolução das construídos de forma que o estudante

espécies. A discussão sobre mudanças reconheça o problema da perda de
que ocorrem nos ambientes e na biodiversidade pela atividade humana e
diversidade de espécies é o ponto de construa propostas de intervenção que
partida para a habilidade. Para esta considerem conservação da natureza e
habilidade, os capítulos foram bem-estar social: um meio ambiente de
boa qualidade para todos.
BIBLIOGRAFIA
BECKER, B. K. Amazônia: construindo o conceito e a conservação da biodiversidade na
prática. In: GARAY, I.; DIAS, B. (Org.). Conservação da biodiversidade em
ecossistemas tropicais. Petrópolis: Vozes, 2001.
BUFFALOE, N. D. Diversidade de plantas e animais. São Paulo: Edusp, 1924. Tradução
de Diva Diniz Correa e Antônio Lamberti.
CÉZAR; SEZAR. Biologia. São Paulo: Editora Saraiva, 1997. v. 1, 2 e 3.
DARWIN, C. A origem das espécies. Belo Horizonte: Villa Rica, 1994. 352 p. Tradução
de Eugênio Amado.
DEAN, W. A ferro e fogo: a história da devastação da Mata Atlântica. 2. reimpr. São
Paulo: Companhia das Letras, 1997. 484 p. Tradução de Cid Knipel.
GARAY, I; DIAS, B. (Org.). Conservação da biodiversidade em ecossistemas tropicais.
Petrópolis: Vozes, 2001.
GASCON, C.; LAURENCE, W.; LOVEJOY, T. Fragmentação florestal e biodiversidade na
Amazônia Central. In: GARAY, I.; DIAS, B. (Org.). Conservação da biodiversidade em
ecossistemas tropicais. Petrópolis: Vozes, 2001.
KITAMURA, P. C. Biodiversidade na Amazônia: por uma abordagem regional das
unidades de conservação. In: GARAY, I.; DIAS, B. (Org.). Conservação da
biodiversidade em ecossistemas tropicais. Petrópolis: Vozes, 2001.
MCALESTER, A. L. História geológica da vida. São Paulo: E. Blücher, 1971. 173 p.
Tradução e adaptação de Sergio Estanislau do Amaral.
MARGALEF, R. Ecología. Barcelona: Omega, 1995.
MAYR, E. Populações, espécies e evolução. São Paulo: Ed. Nacional, 1997.
MYERS, N. et al. Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature, v. 403, p. 853-
858, 2000.
METTLER, L. E.; GREGG, T. G. Genética de populações e evolução. [S.I.: s.n.], 1973.
167

e suas Tecnologias
ODUM, E. P. P. Ecologia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988. Tradução de Christopher J.

Tribe.
PIANKA, E. R. Ecología evolutiva. Barcelona: Omega, 1982. 365 p. Tradução de Joan
Ayala.
ROSS, J. L. S. Geografia do Brasil. São Paulo: EDUSP, 1995. 546 p.
SANTOS, M. Metamorfose do espaço habitado. São Paulo: Hucitec, 1988.
SHORROCKS, B. A origem da diversidade. São Paulo: Edusp, 1980. 181 p. (Biblioteca
de ciências naturais, v. 3). Tradução de João Margante e Priscila Guimarães Otto.
STEBBINS, G. L. Processos de evolução orgânica. 2. ed. São Paulo: Edusp, 1974.
259 p. Tradução de Sérgio de Almeida Rodrigues e Paulo Roberto Rodrigues.
TROPPMAIR, H. Biogeografia e meio ambiente. 4. ed. Rio Claro: [s.n.], 1995. 259 p.
VIEIRA, L.; BREDARIOL, C. Cidadania e política ambiental. Rio de Janeiro: Record,
1998. 171 p.
WILSON, E. O. Diversidade da vida. São Paulo: Schwarcz, 1992. Tradução de Afonso
Malferrari.
WORLD RESOURCES INSTITUTE. World resource 1990-1991. New York: Oxford
University Press, 1990.
168

Ciencias Completo

Uploaded by

Document Information

Original Title

Copyright

Available Formats

Share this document

Share or Embed Document

Sharing Options

Did you find this document useful?

Is this content inappropriate?

Copyright:

Available Formats

Ciencias Completo

Uploaded by

Copyright:

Available Formats

11/7/2003, 09:06

Ministério da Educação – MEC

Secretaria Executiva do MEC

Instituto Nacional de Estudos e

Ciencias.pmd 2 11/7/2003, 09:06

CiÍncias da Natureza 1-8.pmd 1 11/7/2003, 09:09

CiÍncias da Natureza 1-8.pmd 3 11/7/2003, 09:09

Coordenação Geral do Projeto Diretoria de Avaliação para Certificação de Competências (DACC)

C569 Ciências: ciências da natureza e suas tecnologias : livro do professor : ensino

1. Biologia (Ensino médio). 2. Química (Ensino médio). 3. Ciências (Ensino

CiÍncias da Natureza 1-8.pmd 4 11/7/2003, 09:09

DO ENSINO MÉDIO ....................................................................................................... 18

AÇÕES OU OPERAÇÕES DO SUJEITO ......................................................................... 31

CIÊNCIAS - Ensino Fundamental ................................................................................ 77

CiÍncias da Natureza 1-8.pmd 5 11/7/2003, 09:09

I. As bases educacionais do ENCCEJA

Os brasileiros têm ampliado sua envolveram-se, de alguma forma, em

CiÍncias da Natureza 9-38.pmd 9 11/7/2003, 09:11

Sendo dever dos poderes públicos e da físicas interessadas em colaborar.

1 Índice de Desenvolvimento Humano, indicador estabelecido pelo Programa de Desenvolvimento Humano da

CiÍncias da Natureza 9-38.pmd 10 11/7/2003, 09:11

curriculares da educação básica, propósitos e conceitos centrais: a

CiÍncias da Natureza 9-38.pmd 11 11/7/2003, 09:11

CiÍncias da Natureza 9-38.pmd 12 11/7/2003, 09:11

Fundamental e Médio teve como meta competências do sujeito do

CiÍncias da Natureza 9-38.pmd 13 11/7/2003, 09:11

A. A PROPOSTA DO ENCCEJA pertence um número maior de

CiÍncias da Natureza 9-38.pmd 14 11/7/2003, 09:11

conteúdos a serem avaliados pelo linguagens. Ressalte-se que esses

CiÍncias da Natureza 9-38.pmd 15 11/7/2003, 09:11

o papel decisivo da educação sanitária na considerando valores e direitos humanos.

CiÍncias da Natureza 9-38.pmd 16 11/7/2003, 09:11

Devem-se considerar, entretanto, problematizando-os para que, por meio

CiÍncias da Natureza 9-38.pmd 17 11/7/2003, 09:11

B. A PROPOSTA DO ENCCEJA Desse modo, a função reparadora da EJA,

CiÍncias da Natureza 9-38.pmd 18 11/7/2003, 09:11

Deve ser também ressaltada a Por sua vez, o Art. 4º da Resolução

CiÍncias da Natureza 9-38.pmd 19 11/7/2003, 09:11

necessita dos saberes escolares para a como ator no contexto de preservação e

CiÍncias da Natureza 9-38.pmd 20 11/7/2003, 09:11

competências verificáveis em situações processo educativo e exigir os direitos de

CiÍncias da Natureza 9-38.pmd 21 11/7/2003, 09:11

Tecnologias; Ciências da Natureza e referência os sujeitos/interlocutores da

CiÍncias da Natureza 9-38.pmd 22 11/7/2003, 09:11

O ENCCEJA se vincula a um conceito constata é que alguns pressupostos

CiÍncias da Natureza 9-38.pmd 23 11/7/2003, 09:11

Para Piaget, as operações cognitivas elementos de uma dada operação mental

CiÍncias da Natureza 9-38.pmd 24 11/7/2003, 09:11

estado mais primitivo, desprovido de possibilidade de se orientar a partir dos

CiÍncias da Natureza 9-38.pmd 25 11/7/2003, 09:11

modo que, muito antes de se erradicar o da sociedade contemporânea, uma

CiÍncias da Natureza 9-38.pmd 26 11/7/2003, 09:11

as crianças e jovens para um mundo Recentemente, competência tornou-se

CiÍncias da Natureza 9-38.pmd 27 11/7/2003, 09:11

do âmbito escolar; exigência de superar automóvel. Mesmo tendo consciência

CiÍncias da Natureza 9-38.pmd 28 11/7/2003, 09:11

Em síntese, a idéia de competência mais restrito, competência é tida como

CiÍncias da Natureza 9-38.pmd 29 11/7/2003, 09:11

acentua-se que, subjacente a um conhecimento é possível sem haver uma

CiÍncias da Natureza 9-38.pmd 30 11/7/2003, 09:11

de mostrar as relações entre contextos mentais permite colocar a aprendizagem

CiÍncias da Natureza 9-38.pmd 31 11/7/2003, 09:11

A competência I tem como propósito tal competência requer do sujeito, por