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DO SUL
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO LOCAL
–MESTRADO ACADÊMICO–
CAMPO GRANDE – MS
2006
12
Dax Peres Goulart
DO SUL
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UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO LOCAL
–MESTRADO ACADÊMICO–
CAMPO GRANDE – MS
2006
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________
Orientadora - Profª. Drª. Antonia Railda Roel
Universidade Católica Dom Bosco (UCDB)
__________________________________________________
Prof. Dr.
Instituição
__________________________________________________
Prof. Dr.
Instituição
14
DEDICATÓRIA
15
AGRADECIMENTO
A meus pais, Assis José Goulart in memoriam e Regina Rita Peres Goulart, pela
vida e amor.
Aos meus amigos de Campo Grande - MS, que de diversas formas contribuíram para minha
formação, tanto acadêmica como pessoal.
16
RESUMO
17
LISTA DE FIGURAS
18
LISTA DE GRÁFICOS
19
LISTA DE TABELAS
20
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................. 11
CAPÍTULO I
METODOLOGIA............................................................................................................................................ 14
CAPÍTULO II
O DESDOBRAMENTO TERRITORIAL E A NOVA DINÂMICA DA AGRICULTURA
MODERNA.............................................................................................................................. 16
2.1. DESENVOLVIMENTO LOCAL E TERRITORIAL.............................................................................. 16
2.2. A CONSTITUIÇÃO CONCEITUAL DO COMPLEXO AGROINDUSTRIAL (CAI).......................... 26
CAPÍTULO III
A CONSTITUIÇÃO DO COMPLEXO AGROINDUSTRIAL E O PAPEL DO ESTADO.......................... 48
2.1. AGRICULTURA MODERNA: A PARTICIPAÇÃO DO ESTADO NO BRASIL E NO CENTRO-
OESTE...................................................................................................................................... 48
2.2. A CONSTITUIÇÃO DO COMPLEXO AGROINDUSTRIAL NO BRASIL......................................... 58
2.3. A CONSTITUIÇÃO DO COMPLEXO AGROINDUSTRIAL EM MATO GROSSO DO
SUL.......................................................................................................................... ................. 77
CAPÍTULO IV
O COMPLEXO AGROINDUSTRIAL DA SOJA EM MATO GROSSO DO
SUL.................................................................................................................................................................. 91
REFERÊNCIAS............................................................................................................................................. 114
21
INTRODUÇÃO
22
a agricultura condicionada à lógica dos capitais industrial e financeiro. Ou seja, o objetivo do
sistema são a reprodução e a valorização do capital.
Tendo em vista a realidade de um mundo complexo foi elaborado o seguinte
problema de pesquisa para este trabalho: como analisar o desenvolvimento local em Mato
Grosso do Sul a partir do conceito de Complexo Agroindustrial da Soja (CAIS), forjado pelo
processo de modernização e de industrialização da agricultura, considerando-se ainda a
marcante participação do Estado?
O objetivo do autor é analisar o processo de desenvolvimento local em Mato
Grosso do Sul a partir da modernização da agricultura e sob a ótica da constituição do
Complexo Agroindustrial da Soja (CAIS).
Os objetivos específicos são:
1. constituir e delimitar o conceito de Complexo Agroindustrial (CAI);
2. analisar a participação do Estado como agente promotor da industrialização
brasileira e da consolidação do Complexo Agroindustrial (CAI);
3. evidenciar os desdobramentos territorial, econômico, social e histórico da chamada
“modernização da agricultura” em Mato Grosso do Sul, como produtor da matéria-
prima pertencente ao Complexo Agroindustrial da Soja (CAIS);
Este estudo, além da Metodologia, foi dividido em mais três capítulos básicos que
podem ser resumidos da seguinte maneira: a) conceituação de desenvolvimento local e
território com ênfase na integração espacial do CAI; c) constituição de Complexo
Agroindustrial; d) participação do Estado no processo de modernização e industrialização da
agricultura; e) consolidação do Complexo Agroindustrial da Soja (CAIS) em Mato Grosso do
Sul.
No Capítulo I têm-se o método de abordagem, os procedimentos metodológicos
empregados, os procedimentos técnicos e o tipo da pesquisa.
No Capítulo II pretendeu-se estabelecer a conceituação teórica de
desenvolvimento local e também de território, pois a constituição do CAI em Mato Grosso do
Sul e seu encadeamento, tanto a jusante, como principalmente a montante, pressupõe uma
investigação entre territórios em escalas de integração vertical pertencentes a espaços distintos
e distantes, mas alinhados e articulados entre si. Na seqüência, preocupou-se em estabelecer
um conceitual analítico acerca da constituição, delimitação e definição do Complexo
Agroindustrial (CAI).
23
No Capítulo III foi analisada a participação do Estado no processo de
modernização e industrialização da agricultura no Brasil e no Centro-Oeste, bem como
protagonista na consolidação do Complexo Agroindustrial (CAI) no Brasil e no Estado de
Mato Grosso do Sul.
Compreender a participação do capital industrial e financeiro sob a égide do
Estado como agente promotor da industrialização brasileira e da modernização da agricultura
foi fundamental para estabelecer as interligações e a interdependência da produção de soja em
Mato Grosso do Sul, tanto a jusante, como a montante desta principal matéria-prima.
No Capítulo IV verifica-se que a presença maciça do Estado, nas esferas federal e
estadual, suscitou compreender o processo de industrialização no país e também a
consolidação do Complexo Agroindustrial da Soja (CAIS) em Mato Grosso do Sul como um
novo viés de reprodução e acumulação do capital industrial.
24
CAPÍTULO I
METODOLOGIA
1
Ver ANDRADE, Maria Margarida. Introdução à Metodologia do Trabalho Científico. 4ª. ed. São Paulo: Atlas,
1999.
25
evidenciadas no âmbito da evolução do processo de interação e integração agricultura-
indústria.
Quanto à maneira de abordar o problema, e tomando-se como base os preceitos
defendidos por Merrian (1998), esta pesquisa apresenta, dentre outras características, uma
investigação que busca analisar, compreender, descrever, constituir, delimitar, evidenciar,
contextualizar de forma flexível, os fenômenos que emergem no CAI da soja.
Quanto aos objetivos, esta pesquisa pode ser classificada como: descritiva, pois
procura descrever o processo de modernização da agricultura, culminando com a constituição
do CAIS em Mato Grosso do Sul.
Os procedimentos empregados para explorar a realidade são: pesquisa
bibliográfica visando a identificar as características dos agentes envolvidos no Complexo
Agroindustrial da Soja (CAIS) e demais informações de fontes secundárias.
Esta pesquisa possui os seguintes procedimentos técnicos:
- Pesquisa bibliográfica: a partir do tema proposto, buscou-se fontes bibliográficas, com
consulta a livros, artigos em periódicos nacionais e internacionais, dissertações e teses
defendidas, periódicos nacionais e internacionais e informações disponíveis na internet.
- Levantamento: a pesquisa demandou um levantamento de dados em instituições públicas
e privadas relacionadas com a agricultura e indústria. O objetivo desse levantamento foi
extrair dados pertinentes ao tema para subsidiar e enriquecer a análise;
- Documental: além de bibliografia e dados de fontes secundárias, a pesquisa necessitou de
documentos públicos, tais como: programas de governo, leis municipais, estaduais e
federais, dentre outros.
26
CAPÍTULO II
28
eficiente dinamismo de sustentação e permanente alimentação de seus próprios interesses e
„riquezas‟” (ÁVILA, 2003, p. 14 e 15).
Diante desse contexto o desenvolvimento local surge no território sub-
desenvolvido como um novo viés ideológico e de cunho político, permeado de ações
assistenciais que visam a perpetuar a cultura submissa e dependente imposta pelos territórios
chamados centros capitalistas desenvolvidos aos demais espaços periféricos sub-
desenvolvidos.
No entanto faz-se mister descortinar tal estratégia imposta pelo capitalismo
globalizador e definir, de fato, o que é realmente desenvolvimento local.
Para tanto, segundo Ávila (2003, p. 17) para introduzir ao debate o que vem a ser
desenvolvimento local deve-se primar pela observação das seguintes questões infra-
relacionadas.
30
“quaisquer agentes externos se dirigem à „comunidade localizada‟ para promover as
melhorias de suas condições e qualidade de vida, com a „participação ativa‟ da mesma” e
desenvolvimento local, “a comunidade mesma desabrocha suas capacidades, competências e
habilidades de agenciamento e gestão das próprias condições e qualidade de vida,
„metabolizando‟ comunitariamente as participações efetivamente contributivas de quaisquer
agentes externos”.
Ainda em Ávila (2000), no primeiro caso, os agentes externos são os únicos
promotores do desenvolvimento e a comunidade apenas se envolve participando. No segundo,
a própria comunidade é a protagonista do seu desenvolvimento e os agentes externos são os
que se envolvem participando.
A busca pela extinção da relação de dependência está condicionada ao aumento
significativo da capacidade cinética (gerar capacidades, competências e habilidades) do
capital humano pertencente à comunidade e do seu poder de externalizar os efeitos positivos
do processo de conhecimento para um processo de desenvolvimento resolúvel.
Torna-se visível a percepção aparente que a reestruturação do capitalismo
contemporâneo e da sociedade, ocorrida a partir do pós-guerra, propiciou o surgimento de
novas relações e mediações entre as diversas escalas espaciais, ou seja, as mudanças
decorrentes do novo paradigma econômico interferiram em âmbitos locais, regionais e
nacionais.
Para Buarque (2000, p. 11), sob os auspícios da globalização, entende-se como
desenvolvimento local “como uma resultante direta da capacidade dos atores e da sociedade
local se estruturarem e se mobilizarem, com base nas suas potencialidades e sua matriz
cultural, para definir e explorar suas prioridades e especificidades, buscando a
competitividades num contexto de rápidas e profundas transformações. Desta forma, o
desenvolvimento de uma localidade – município, microrregião, bacia, ou mesmo espaço
urbano – deve ter um claro componente endógeno, principalmente no que se refere ao papel
dos atores sociais, mas também em relação às potencialidades locais”.
Para Coelho (2001) apud Martinelli et al. (2004), a partir da constituição de
fluxos produtivos a globalização da economia atua entre territórios fragmentados e muitos
destes alijados do processo produtivo, outros incluídos, enfim, a desestruturação e a
reestruturação dos espaços produtivos representam os movimentos do capital, ou seja, os
territórios são os locais de ocorrência das transformações nas formas de produzir e de
reproduzir o capital em escalas regional e local. Aqui reside a real possibilidade de
31
implementação de estratégias no nível local relacionadas com os aspectos econômicos,
primando sempre pela eficiência (melhores formas de produzir) e eficácia (atingir os
resultados esperados) do processo produtivo para garantir a competitividade frente ao mundo
globalizado e em constante mutação.
34
financiada por um capital específico que visa a atender as suas necessidades em busca de uma
maior valorização.
De acordo com Santos (1994) é a partir dessa constatação que a abordagem do
território vem responder as atuais perguntas. Ou seja, o novo ordenamento do espaço suscita
novos contornos para construção e funcionamento do território, integrado tanto verticalmente
como horizontalmente. A escala horizontal representa o espaço contíguo, próximo, vizinho e
territorialmente reunido, enquanto que a escala vertical é forjada por pontos distantes e
socialmente conectados. Ou seja, percebe-se na escala vertical a relação situada a montante da
produção de soja (matéria-prima) quando tem-se a dependência total do local na aquisição de
máquinas, equipamentos e insumos modernos produzidos em territórios distantes, mas
articulados entre si. Por outro lado, as agroindústrias situadas a montante da matéria-prima
(soja) dividem com os demais territórios a produção da soja colhida em Mato Grosso do Sul.
Na constituição do CAI da soja em Mato Grosso do Sul percebe-se a existência de territórios
espacialmente isolados, mas altamente articulados em prol do desenvolvimento capitalista.
Em Santos (1994) apud Schneider (2004), o “retorno ao território” reflete a
adoção de uma análise baseada em mudanças sócio-econômicas, espaciais, institucionais,
políticas e ambientais oriundas da reestruturação do capitalismo da era pós-fordismo,
globalizante, fragmentado e ao mesmo tempo descentralizado e que se recompõe, atua e
interage no âmbito dos próprios territórios.
Para Santos (1994), os controles horizontal e vertical impõem uma dialética ao
conceito de território. Ou seja, para o autor existem dois controles: um controle "local" da
chamada parte "técnica" da produção e um controle remoto, à distância, da parte política da
produção. No âmbito técnico da produção as cidades locais ou regionais e de espaços
contíguos controlam o espaço no entorno do território. O controle distante, que acontece de
forma política, é concebido nas cidades do centro do capitalismo global. Suas interferências
encontram-se espalhadas e são difundidas no território local. Em Santos (1994), esta
tendência contribui para alienação dos homens com seus espaços a partir de uma mobilidade
iminente. Por outro lado, o território global e transnacional torna-se alicerçado no lugar, ou
seja, o próprio local passa a ficar unido verticalmente, porém, do ponto de vista horizontal, as
relações humanas são reconstruídas e fortalecidas localmente, de acordo com os interesse
exclusivos do capital e impulsionadas para garantir a sobrevivência dos mercados. Aí está a
contradição. A verticalização modernizante, vista aqui como a integração do CAI da Soja,
principalmente das atividades situadas a montante da produção da matéria-prima, corrompe a
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coesão da integração horizontal, pois o capital (mercado) se contrapõe à coesão horizontal que
surge a partir dos interesses da sociedade civil.
37
De acordo com Alves et al. (1988), tendo em vista as dificuldades de
financiamento das atividades agrícolas nas décadas de 50 e 60, muitos pesquisadores,
governos e agricultores optaram pela expansão da fronteira agrícola como a melhor
alternativa para viabilizar o crescimento da produção deste setor. Nesse sentido, Paraná e
Mato Grosso do Sul tiveram uma ampla participação nesta ocupação de novos territórios
férteis. Portanto, apesar dos primeiros impactos positivos advindos do processo de
modernização da agricultura, a produção agrícola permaneceu montada no binômio trabalho e
terra, sendo estes os principais fatores determinantes na promoção do crescimento da oferta.
Destarte, no início da década de 60 a expansão da fronteira agrícola perde a sua
capacidade imediata de abastecimento frente às necessidades de consumo impostas pelos
grandes centros urbanos. Assim, para suprir a demanda gerada no mercado interno a
alternativa seria concentrar os esforços no crescimento e intensificação da produtividade, ou,
através da importação de alimentos. Esta última hipótese foi descartada na época, pois existia
a necessidade de expandir as fronteiras nacionais, diminuir os riscos da prática agrícola pela
ocupação de novas áreas de cultivo, reduzindo, portanto, as pressões internas nas áreas das
regiões já cultivadas, tendo em vista as possibilidades de lucros futuros pela diferenciação de
produtos a partir da ocupação da região amazônica.
A perda da capacidade de exportar e as crises de abastecimento evidenciadas a
partir dos anos 50 tiveram como solução a inauguração de uma política de investimentos
públicos voltada para a geração de conhecimento e difusão de tecnologia. Tais crises – perda
de competitividade no mercado internacional e aumento dos custos endógenos em função da
relação trabalho versus terra – poderiam ser evitadas caso os governos estaduais e federal
tivessem, a priori, conhecimento dos entraves e gargalos do modelo adotado (expansão da
fronteira agrícola) como condicionantes básicos das limitações nos ganhos de competitividade
dos produtos agrícolas e no aumento da produtividade da terra.
Ipso facto, diante da iminente incapacidade do poder de coerção do atual modelo
de expansão das fronteiras agrícolas, diversas iniciativas dos governos estaduais e federal
foram engendradas e institucionalizadas com o propósito de criar as condições mínimas para
estabelecer a infra-estrutura básica que permitiria a ampla geração e difusão do conhecimento
em todo país. Aumentar a produtividade da agricultura sob a égide da universalização do
conhecimento e investimentos em tecnologia foi a dinâmica que prevaleceu após a década de
60. Neste contexto, a criação de universidades, cursos de pós-graduação, programas de
extensão rural e do Sistema Nacional de Pesquisa (EMBRAPA) aliada ao desenvolvimento da
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indústria de insumos modernos e da agroindústria favoreceram em grande escala o
crescimento da produtividade da terra e do trabalho. Em 1950 a tratorização da agricultura
brasileira medida em função da razão entre a quantidade de hectares cultivados e o número de
tratores era de 2.281 ha/trator; em 1960 esta relação passou para 468 ha/trator. No tocante da
estrutura de produção na indústria de transformação brasileira de 1949 a 1959 os setores de
bens de produção e de bens de consumo duráveis tiveram, respectivamente, um aumento de
419,29% e 713,91%, enquanto que a produção total referente a todos os setores industriais
cresceu neste período apenas 111,34%.
Para Kageyama (1987), Kageyama et al. (1988) e Silva (1991 e 1998), as
transformações da agricultura brasileira e a constituição dos diversos CAI tiveram a sua
origem nos Complexos Rurais. Os Complexos Agroindustriais da atualidade são decorrências
do processo de modernização da agricultura brasileira, o que contribuiu decisivamente com a
perda da capacidade de decisão das comunidades rurais. Ou seja, a agricultura propriamente
dita perde o seu antigo caráter autônomo, setorizado e independente.
Para estes autores as transformações ocorridas na dinâmica da agricultura
brasileira podem ser observadas dentro de uma perspectiva histórica na qual constata-se a
passagem do "complexo rural" para os "complexos agroindustriais" (CAI). Segundo estes, o
complexo rural pode ser identificado no período compreendido entre o Brasil Colonial e o
final da primeira metade do século XIX, ou seja, até 1850.
Este complexo rural caracterizava-se pelas simples relações de troca e estava
condicionado às flutuações da demanda externa. A produção estava baseada na monocultura
voltada para atender o mercado externo, enquanto no interior das fazendas eram
confeccionados os equipamentos necessários para a produção. Ou seja, neste período a
economia tem característica agro-exportadora, mas também produzia os alimentos destinados
à subsistência.
A decadência deste modelo ocorre nos anos entre 1850 e 1955. Com o trabalho
livre e assalariado e a formação de um mercado interno, impulsionado pelo processo de
substituição de importações e pelo surgimento da economia cafeeira paulista, o complexo
rural perde fôlego. Para Kageyama et al.. (1988) a internalização das indústrias produtoras de
bens de capital consolidou o processo de transição entre o complexo rural e o complexo
agroindustrial.
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terras e a proibição do tráfico, terminando em 1955, com a implantação do
D1 em bases industriais modernas (KAGEYAMA, 1987, p.5).
2
Ver SCHUMPETER, J. A. Capitalism, socialism and democracy. Allen & Unwin, 1943. Schumpeter afirma que os estágios de
desenvolvimento estão atrelados e associados ao processo de inovação tecnológica adotado pelos empresários empreendedores.
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A partir do conceito de Complexo Agroindustrial (CAI) será possível focalizar os
aspectos que facilitam o entendimento da dinâmica agroindustrial integrada internamente,
bem como conectada em escala vertical, tendo em vista a articulação entre diversos territórios
localizados tanto a jusante, mas principalmente, a montante do processo produtivo. Ou seja, a
análise do CAI constitui-se no marco teórico-metodológico necessário para a compreensão
desses aspectos e demais visões inerentes à agroindústria e suas interações com o mundo
contemporâneo e globalizado.
No final da década de 50 a discussão sobre agribusiness ganha ímpeto e a noção
de CAI é consolidada em 1957 quando os pesquisadores Goldberg e Davis, ambos da
Universidade de Harvard, EUA, divulgaram os resultados de suas pesquisas. Os autores
constataram a mudança do eixo e o novo lugar de supremacia que a indústria passara a
assumir em relação à agricultura. Ou seja, observaram o encadeamento a montante da
produção agrícola oriunda das fazendas a partir das indústrias que forneciam insumos,
máquinas e equipamentos. Observaram ainda que as fazendas produziam matérias-primas
destinadas à transformação industrial, o que convencionou-se localizá-las a jusante. Vale
lembrar que montante e jusante são alusões derivadas dos rios. Quando o processo está a
montante, o termo refere-se ao lado da nascente do rio. Por outro lado, o termo jusante é
utilizado para identificar o desaguadouro, ou seja, do outro lado do rio. Nessa nova
perspectiva está implícito que a agroindústria passa a integrar o processo de transformação.
Os produtos da fazenda ganham um destino intermediário antes de chegar ao consumidor
final.
Para Silva (1991) a visão estática e inicial acerca da conceituação do CAI foi
possível de visualização a partir da agregação de atividades que possuíssem um elevado grau
de afinidade entre si. Tal visão é derivada dos conceitos de agribusiness estudados por
Goldberg e Davis (1957) e de filière desenvolvido na década de 60 pela escola industrial
francesa.
Para Goldberg e Davis (1957, p. 2), a definição de agribusiness pode ser
entendida como [...] a soma de todas as operações envolvidas no processamento e
distribuição de insumos agropecuários, as operações de produção na fazenda, e o
armazenamento, processamento e a distribuição dos produtos agrícolas derivados. Como já
foi dito anteriormente, esta definição explica a crescente interdependência e a completa
integração setorial entre a agricultura e a indústria, atualmente indissociável e com um alto
grau de complexidade, onde seria impossível apontar em qualquer etapa do processo de
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transformação agroindustrial a distinção entre uma atividade eminentemente agrícola e outra
estritamente industrial.
Na tradução francesa o termo agribusiness passa a ser entendido como filière, ou
seja, cadeias. Em Malassis (1973) filière representa a interpretação de uma cadeia
agroindustrial como sendo um setor agrícola composto por um conjunto de empresas
integradas por processos agrícolas e industriais. Nesta concepção o encadeamento se dá a
partir de sub-setores industriais a montante e que fornecem os bens de produção e, na outra
ponta, a jusante, sub-setores agrícolas e sub-setores responsáveis pela transformação da
matéria-prima e pela distribuição dos produtos finais.
Utilizando-se das definições de Batalha (1997) uma Cadeia de Produção
Agroindustrial (CPA) está sub-dividida em três macrossegmentos: comercialização,
industrialização e produção de matérias-primas. A partir do conceito de Cadeia de Produção
Agroindustrial (CPA) pode-se estabelecer que o foco principal da análise de todos os
macrossegmentos tem ênfase no mercado consumidor final.
Para Michels (2004) uma cadeia de produção pode ser entendida como um
conjunto de operações técnicas. Esse conceito, amplamente difundido, reside na descrição das
operações produtivas que concorrem para a transformação da matéria-prima em um produto
final. Diante disso, a cadeia de produção deve ser compreendida por uma [...] sucessão linear
de operações técnicas de produção e distribuição (MICHELS, 2004, p. 31).
O enfoque de cadeia supera as análises ditas tradicionais, baseadas em setores da
economia (primário, secundário e terciário), e são utilizadas no Brasil e no mundo na tentativa
de retratar a realidade diante das relações de complexidade que emergem no processo
produtivo, principalmente, na produção agroindustrial.
Para uma visão mais detalhada de cadeia de produção deve-se inserir ao fluxo
produtivo, os fluxos financeiros e de informações, bem como as relações comerciais que
acontecem de jusante a montante.
43
Malassis (1973) reconhece que o desenvolvimento tecnológico é o fator mais
dinâmico e presente nas cadeias agroindustriais. Ou seja, as mudanças na agricultura estão
condicionadas a uma base tecnológica em constante evolução. Malassis (1973), apesar de
incorporar na sua concepção de cadeia agroindustrial a indústria a montante, voltada para a
agricultura e produtora de máquinas, equipamentos e insumos industriais modernos, o autor
focaliza com maior ênfase os sub-setores a jusante, ou seja, a indústria de transformação e as
empresas responsáveis pela distribuição do produto final.
Ainda em Malassis (1973), uma cadeia agroindustrial (filière) está agrupada em
três dimensões, ou seja, a indústria que fica a montante da matéria-prima; a produção da
própria matéria-prima; e a indústria transformadora a jusante. Já o conceito de agribusiness
concentra o foco principal na indústria a jusante, ou seja, a indústria de transformação da
matéria-prima. Porém, ambos os enfoques (agribusiness e filière) têm a eminente
preocupação em explicar a inter-relação e a interdependência entre a agricultura e a indústria.
Para Kliemann Neto (2003), uma filière pode ser definida como um encadeamento
seqüencial de setores e atividades empresariais associados a um contínuo fluxo de
transformação da matéria-prima (estado bruto do bem) até o produto final (estado acabado do
bem).
Para Malheiros (1991) a cadeia produtiva pode ser identificada a partir de matéria-
prima principal que é sucedida por diversas transformações, originando um produto final. Por
outro lado, Batalha (1997) e Pires et al. (2001) concebem uma cadeia produtiva focalizando
um determinado produto final, e a partir deste produto acabado faz-se o encadeamento de
montante a jusante para as diversas operações técnicas, comerciais e logísticas existentes no
processo produtivo.
Por definição, uma cadeia produtiva pode ser constituída sob a ótica da matéria-
prima, bem como a partir de um produto final.
Ressalta-se que qualquer cadeia produtiva deve ser intermediada de jusante a
montante por mercados localizados entre os elos. A quantidade de mercados pode variar
dependendo da abrangência prática de cada cadeia. Além disso, segundo Michels (2004), os
limites dessa divisão podem variar conforme o produto e o objetivo da análise e, ainda, não
ser facilmente identificáveis.
45
participação das empresas multinacionais e alimentícias na formação de um complexo
industrial e ponto de partida para a definição do conceito de complexo agroindustrial.
48
diversos setores da indústria fica caracterizada a concepção de CAI em detrimento do
referencial analítico que utilizava o termo “agricultura” para explicar a sua própria dinâmica.
Segundo Kautsky (1980), no final do século XIX já existia claros sinais de
transformação no campo e uma estreita ligação entre agricultura e indústria. Este autor sugere
que “[...] a razão dessa mudança deve ser procurada, como a de qualquer outra grande
modificação na agricultura moderna, no desenvolvimento da indústria, que põe o campo sob
a sua dependência”. Para Kautsky (1980), buscando subsídios em Marx (1986), ambos
concordam que a transformação da agricultura converge para a constituição de um novo ramo
da indústria, completamente dominado pelo capital, pois esta transformação é ditada pelo
ramo mais avançado da economia. Neste ponto de partida, a compreensão da agricultura
torna-se relativa, pois sugere o deslocamento do eixo desta para a indústria, desdobrando-se
num conceito mais amplo e dinâmico, ou seja, a instituição do Complexo Agroindustrial
(CAI). Nesse processo pode-se ainda afirmar que a agricultura perde a sua autonomia, bem
como a sua capacidade de traçar os próprios rumos, deixando os grupos sociais rurais a mercê
do interesse do capital industrial e financeiro.
Partindo desta premissa, Kautsky (1980) analisa o surgimento da relação entre
agricultura e indústria deixando clara esta subordinação e dependência, o que resultará na
industrialização da agricultura.
49
Também em Kautsky (1980), o primeiro pressuposto básico para o sucesso da implementação
de máquinas e equipamentos no campo foi decorrente da elevação do nível de produção, já
alcançado com a nova divisão do trabalho e com a especialização, pois a mecanização no
campo envolve um alto grau de ociosidade e para compensar o período de não utilização das
máquinas seria necessário que estas tivessem um ótimo aproveitamento nos poucos meses que
realizassem trabalho.
Ou seja, com a especialização do trabalho, em função do modo de produção
capitalista, o agricultor passa a concentrar-se na monocultura, deixando de produzir a maioria
dos alimentos necessários à subsistência, como também passa a depender das ferramentas,
equipamentos e fertilizantes agora produzidos pelas indústrias e ofertados no mercado.
O produtor rural produz apenas uma parte do que consome ou, às vezes, nem
isso, por ter se tornado um “especialista” em produzir determinada cultura
ou criação. As demais funções são executadas por inúmeros outros agentes
econômicos. O armazenamento, a transformação, o processamento e
embalagem, a distribuição dos produtos se encontra hoje nas mãos de
entidades que se situam fora da unidade produtiva. Da mesma forma, outros
tipos de atividades antes desempenhadas no contexto do mundo rural vão
para “fora” dos limites das “fazendas”: a fabricação de equipamentos e
implementos agrícolas; de maquinários; dos chamados insumos modernos,
como agrotóxicos, fertilizantes químicos, rações, medicamentos, etc.
(CASTANHO FILHO, 1988, p. 2).
Castanho Filho (1988) enfatiza que o CAI está articulado com outros agentes
econômicos, tais como: Estado, instituições financeiras e empresários que instalam suas
atividades industriais na órbita de todo o processo visando ao fornecimento de energia,
transporte, metalurgia, química, entre outras atividades.
Assim, a concepção de CAI está intrinsecamente relacionada com o processo de
modernização da agricultura a partir das inovações e adaptações tecnológicas que
desenvolvem-se no âmbito das indústrias. Ou seja, o avanço da industrialização implica na
subordinação da agricultura ao capital e sua completa integração com a produção industrial.
De fato, a agricultura torna-se um novo viés de acumulação, valorização e reprodução do
capital em geral, pois as diversas atividades eminentemente agrícolas e agropecuárias passam
a depender, a montante, da compra de equipamentos, máquinas e insumos modernos e da
venda de seus produtos intermediários (matérias-primas) que serão utilizados a jusante do
processo produtivo.
50
Portanto, a dinâmica do CAI pressupõe a industrialização da agricultura, que por
sua vez, representa a subordinação da própria agricultura aos interesses do capital, sobretudo
do capital industrial.
Ou seja, a “auto-suficiência” produtiva no campo é substituída pela
“industrialização”. Os agricultores e pecuaristas consomem a montante, as máquinas,
equipamentos e insumos industrializados e produzem a jusante, as matérias-primas
necessárias às outras indústrias de transformação. Todo esse processo é facilitado pelo fluxo
de capitais que se articulam entre as fases do processo produtivo.
O termo Complexo Agroindustrial (CAI) tem sido usualmente utilizado para
identificar as articulações existentes entre setores da economia, sobretudo o setor agrícola
com o setor industrial. Ou seja, a dinâmica do processo de industrialização da agricultura e,
conseqüentemente, a consolidação do Complexo Agroindustrial no Brasil. Porém, a
interdependência e a inter-relação entre os setores sugerem a definição de CAI como uma
estrutura peculiar e desprovida de qualquer tipo de fragmentação setorizada da economia. Por
outro lado, pode-se dividir em duas vertentes a teoria que cerca o termo CAI, concebido a
partir das estreitas relações entre agricultura e indústria: a) que define o CAI como parte dos
complexos industriais já existentes na economia e composto por vários sistemas e cadeias
agroindustriais, conforme postula Machado Filho et al. (1996) ou complexos particulares,
visão predominante em Müller (1982a); b) que define o CAI de forma limitada e de fácil
identificação de seus encadeamentos, abordagem defendida por Kageyama (1987), ou seja, os
denominados Complexos Agroindustriais propriamente ditos, também defendida por Silva
(1991) e adotada neste trabalho.
Por outro lado, para Litschitz e Prochnik (1991) torna-se possível compreender a
dinâmica agroindustrial a partir da intensidade dos fluxos de compra e venda que ocorrem
entre os setores agregados ao próprio CAI ou entre os setores de outros CAI.
Para Litschitz e Prochnik (1991) no CAI ocorre a interligação entre os setores que
juntos formam um conjunto de cadeias produtivas que se ramificam, a jusante, a partir da
51
matéria-prima principal. Assim, o CAI caracteriza-se pela forte integração entre os setores
envolvidos, pois a relação de dependência entre os próprios setores delimita cada complexo
existente na economia. Todavia, mesmo existindo relações intersetoriais entre dois complexos
distintos as cadeias produtivas podem ser facilmente identificadas, pois a fraca integração
entre os conjuntos permite a delimitação e a distinção entre ambos.
Para estabelecer uma análise mais ampla do processo produtivo deve-se adotar o
ponto de vista teórico a partir do enfoque que possibilitará o conhecimento de todos os
agentes dinamizadores da produção agroindustrial, principalmente a montante. Ou seja, uma
análise do processo de integração, interdependência, articulação, interligação e inter-relação
entre e intersetorial da economia a partir do viés de Cadeia de Produção Agroindustrial (CPA)
deve ser apenas utilizado para delimitar o espaço de abrangência de cada CAI, pois é a fraca
interação entre os elos das diversas CPA que permitem a identificação e distinção de cada
CPA. Já a forte integração entre os diversos elos das cadeias produtivas é a essência da
constituição de cada CAI.
Para tanto, a utilização da concepção de Complexo Agroindustrial (CAI) em
detrimento do viés de Cadeia de Produção Agroindustrial (CPA) para explicar as
transformações ocorridas a partir do processo de industrialização da agricultura justifica-se,
pois o conceito de CAI possibilita a utilização de ferramentas fundamentais para interpretar a
realidade. A partir do CAI pode-se identificar a distribuição do poder ao longo do
encadeamento que se dá da jusante a montante, pois além de enfatizar a matéria-prima
possibilita agregar à análise a inter-relação entre D1 – Agricultura – Indústrias de
Transformação.
Portanto, no âmbito do conceito de CAI fica evidenciada a inter-relação e a
interdependência entre os setores industriais que produzem, a montante, máquinas e
equipamentos e insumos modernos para atender a agricultura (indústria para a agricultura) e
outros setores também industriais que consomem, a jusante, as matérias-primas necessárias
para a transformação destas em produtos finais.
Na abordagem de Litschitz e Prochnik (1991) o foco principal da análise do CAI
situa-se a jusante das matérias-primas principais. Por outro lado, a montante dessas matérias-
primas principais tem-se os setores produtores de insumos, principalmente adubos e, a jusante
destes todas as demais etapas intermediárias, até a fase de distribuição do produto final. No
entanto, o conceito de CAI defendido por Litschitz e Prochnik (1991) não agrega, a montante
das indústrias produtoras de adubos, o setor de produção de bens de capital voltados para
52
atender as necessidades da agricultura moderna, ou seja, as chamadas “indústrias para
agricultura”, produtoras de máquinas, equipamentos e insumos modernos.
Assim, para Litschitz e Prochnik (1991) as matérias-primas principais originam
cadeias produtivas distintas e que juntas delimitam e compõem o CAI. Para este autor, essas
matérias-primas “especializadas” são: café; cana-de-açúcar; trigo, soja e pecuária.
Em Müller (1982) apud Litschitz e Prochnik (1991) na delimitação do CAI deve-
se incluir, a montante das matérias-primas, as chamadas indústrias que produzem para a
agricultura, ou seja, os setores industriais responsáveis pela implementação de máquinas,
equipamentos e insumos modernos no seio da agricultura.
De fato, Müller (1982) observa que a partir da década de 70 intensificaram-se no
campo os avanços tecnológicos. Com o crescente fluxo de máquinas, equipamentos e insumos
modernos entre os setores a montante dos produtores das principais matérias-primas a
agricultura tornou-se refém dos avanços e estancamentos das indústrias de bens de capital.
Neste período da história brasileira é que se formam os Complexos Agroindustriais, definidos
num primeiro momento como o conjunto de processos econômicos e técnico-produtivos, que
passam a interferir nas relações sociais e políticas que norteiam não só a produção,
beneficiamento e transformação da matéria-prima, mas também a produção de bens de
produção voltados para a agricultura e os aportes financeiros dela decorrente (MÜLLER,
1982a, p. 48).
Dessa forma, fica evidenciada a perda do caráter autônomo da agricultura. A
interdependência da agricultura, não apenas com os setores que se apresentam a jusante do
processo produtivo, mas, sobretudo, com o setor de bens de capital situado a montante,
caracterizam o CAI. Este se reproduz condicionado a uma base técnica industrial, homogênea
e determinante da dinâmica da agricultura moderna. Cabe ressaltar que Müller, Litschitz e
Prochnik concordam no ponto quando expressam a subordinação da agricultura ao capital
industrial e financeiro.
54
Agroindustriais Incompletos são caracterizados por uma fraca integração com a indústria a
montante. Estes complexos encontram-se na produção de laranja, milho e laticínios.
Por outro lado, vários produtos agrícolas podem não estar inseridos nos
Complexos Agroindustriais, mas tiveram suas atividades modernizadas com o passar do
tempo. Essas atividades modernizadas e sem vinculações específicas, mas que dependem de
máquinas e insumos, e ainda não apresentam a forma de complexos, são o feijão, o arroz e o
café. Além disso, a produção artesanal não modernizada e que não apresenta estreitas ligações
intersetoriais como a banana, mandioca e outros alimentos básicos, são também excluídos da
concepção de CAI.
Torna-se importante enfatizar que a articulação estabelecida entre a agricultura e a
indústria, bem como o caráter histórico utilizado para delimitar os Complexos
Agroindustriais, ainda são elementos de um processo em curso. Por outro lado, uma análise
do CAI balizada no conceito de complexo industrial e na utilização da matriz insumo-produto
deve ser complementada pelo processo histórico. Ou seja, a delimitação de um espaço
econômico caracterizado pela homogeneidade da base técnica, onde configuram-se sistemas
ou cadeias agroindustriais integradas tanto a montante (setor mais dinâmico) como a jusante
do setor agrícola, devem ter como premissas as transformações ocorridas no setor
agropecuário, considerando-se a existência dos Complexos Rurais e a sua decomposição, os
processos de modernização (entendida como etapa da industrialização da agricultura e da
formação dos CAI) e industrialização da agricultura até a consolidação dos Complexos
Agroindustriais.
Independentemente das diversas definições conceituais de Complexo
Agroindustrial (CAI) abordadas por inúmeros autores como Müller, Batalha, Araújo,
Guimarães, Lifschitz, Prochhnik, Lauschner, Graziano da Silva, Kageyama, etc. o ponto de
decolagem da análise destes mesmos autores está fixado numa matéria-prima, encadeada
tanto a montante, como a jusante.
Por outro lado, nesta dissertação adotou-se a definição conceitual de CAI
defendida por Graziano da Silva e Ângela Kageyama por entender que os processos de
modernização e internalização das indústrias de bens de capital voltadas para a agricultura (D1
da Agricultura) possibilitaram compreender a sua completa subordinação aos interesses do
capital industrial, bem como a participação marcante do Estado na consolidação dos
encadeamentos situados nos flancos da produção agrícola. Para analisar o desenvolvimento
local em Mato Grosso do Sul tem-se como foco a ótica do CAI, mas sem perder de vista as
55
interações com o ambiente externo, bem como as inter-relações que acontecem no interior do
próprio CAI. Neste ponto, torna-se de fundamental importância delimitar logo de início o
encadeamento técnico e produtivo entre as partes que constituem o CAI em análise.
A determinação do espaço analítico delimitado tem como foco central a produção
da soja em grãos como matéria-prima e ponto de partida da análise. Dessa forma, o limite do
encadeamento de jusante a montante, como visto anteriormente, está restrito, para trás, com a
produção de máquinas equipamentos e insumos modernos e, para frente, com a
agroindustrialização a partir do esmagamento dos grãos de soja. Ou seja, o espaço analítico
está delimitado entre três sistemas (indústrias, propriedades agrícolas e agroindústrias)
intimamente associados entre si, inter-relacionados por três segmentos (industrialização,
produção de matéria-prima e agroindustrialização) e dois mercados: mercado entre os
produtores de máquinas, equipamentos e insumos modernos e os produtores rurais; mercado
entre produtores rurais e agroindústrias esmagadoras de soja.
Vale ressaltar que diante de uma concepção tridimensional, um terceiro mercado
surge entre os produtores de máquinas e equipamentos e agroindústrias. Nesta divisão não
será considerado o segmento denominado de comercialização, ou seja, empresas que estão no
final do encadeamento e que viabilizam a distribuição, o comércio e o consumo de produtos
finais. Os diversos fatores que têm influência sobre a estrutura também devem ser
considerados, pois os limites do sistema permitem relações com o meio ambiente (Figura 2).
PRODUÇÃO DE MÁQUINAS,
EQUIPAMENTOS E INSUMOS
MODERNOS
FATORES
LEGAIS
FATORES
ECONÔMICOS
MERCADO
AGROINDUSTRIALIZAÇÃO
MECANISMOS
FLUXO FÍSICO
DE
INDUSTRIALIZAÇÃO
PRODUÇÃO DE MP
COORDENAÇÃO
FLUXO DE INFORMAÇÃO
FLUXO FINANCEIRO
FATORES DE
INFRA-ESTRUTURA
PRODUÇÃO DE MATÉRIA-PRIMA
FATORES
INSTITUCIONAIS
FATORES
TECNOLÓGICOS
MERCADO
FATORES
AMBIENTAIS
AGROINDÚSTRIA
58
CAPÍTULO III
Entre 1949 e 1959, a formação bruta de capital fixo das empresas com
participação do governo federal quadruplicou como proporção do PIB,
passando, por outro lado, de 3,1 para 8,2 por cento do total da Formação
Bruta de Capital Fixo. Por sua vez, o investimento governamental total [...]
aumentou entre 1956 e 1960 a uma taxa aproximada de 15 por cento ao ano
em termos reais; os gastos governamentais como proporção do PIB
elevaram-se de 15,3 para 17,8 por cento entre 1955 e 1960/61 (SERRA,
1981, p. 76).
62
Embora a liderança dos setores de bens de capital e bens de consumo duráveis
determinasse a lógica da acumulação industrial (estruturação e ampliação da capacidade
industrial produtiva) e repercutisse diretamente sobre o futuro da agroindústria e da economia
como um todo, percebeu-se que o efeito esperado apresentou-se de forma reduzida, quando
comparado à produção industrial da época. Em Tavares et al. (1981) os setores de bens de
capital e de insumos pesados têm como alicerces de sua expansão e acumulação o ritmo
estabelecido pela economia e a capacidade de consumo do parque industrial instalado e
internacionalizado. Ou seja, a aceleração e o crescimento dos setores de bens de capital e de
insumos pesados dependiam das relações capitalistas dentro do mercado comum globalizado,
bem como da capacidade do setor público em investir diretamente em suas empresas estatais
ou em infra-estrutura (energia elétrica e transportes). Tal cenário configurou-se durante o
Plano de Metas. Dessa forma, verificou-se que os setores de bens de capital e de insumos
pesados estiveram a reboque da demanda global (nacional e internacional) e da participação
do Estado a partir de encomendas às empresas estatais. Ou seja, o desenvolvimento destes
setores a partir da década de 60 até a metade da década de 70 estivera muito mais atrelado ao
sub-setor de bens de capital/capital que ao sub-setor de bens de capital/consumo.
Por outro lado, o setor de bens de consumo não-duráveis (têxtil e no caso
específico as agroindústrias processadoras de matérias-primas e produtoras de alimentos
destinados ao consumo final), apesar de participar e aproveitar do período de auge da
expansão, principalmente no segundo ciclo, para aumentar a taxa de acumulação do capital,
sua aceleração não surte reflexos sustentáveis a montante, ou seja, sobre a expansão e
modernização do setor de bens de capital e, sobretudo, no sub-setor de bens de
capital/consumo. O aumento da taxa de acumulação agroindustrial não garante a sustentação
das altas taxas de valorização do capital, pois não tem capacidade de retroalimentar o
processo de expansão e de modernização das indústrias situadas a montante da matéria-prima.
De fato, percebe-se que nos períodos de 1951-52, 1960-62 e 1971-73 o processo
de modernização do parque industrial e a capacidade produtiva estavam direcionados para a
importação de máquinas, equipamentos e insumos modernos, integrados às indústrias têxtil e
alimentar, confirmando o padrão de concorrência internacional vigente.
No período de 1968-73 o setor de bens de consumo não-duráveis representou 41%
da produção em toda indústria de transformação do país. Tal relevância deve ser precedida
pela considerável presença das máquinas, equipamentos e insumos modernos no processo de
produção, como principal componente na função de produção e variável primordial para
63
explicar as elevadas taxas de crescimento deste setor. Por outro lado, tornava-se
imprescindível equilibrar as contas nacionais frente aos vastos volumes de capital financeiro
que deixavam o país.
Para viabilizar acumulação de capital em escala ampliada, sob a égide do
capital estrangeiro (operando principalmente no setor de bens de consumo
duráveis), e com parte substancial do setor de bens de produção localizado
fora das fronteiras nacionais, foi preciso estabelecer um fluxo de divisas para
dentro do país, de modo a contrabalançar as remessas das empresas
estrangeiras mais as vultuosas importações de bens de produção
(MANTEGA et al., 1979, p. 55)
64
O auge do ciclo de expansão e do processo de acumulação capitalista ocorre no
período de 1968-73. Neste período é evidenciado pesados e vultuosos investimentos e gastos
do governo em infra-estrutura. Os investimentos estatais concentraram-se nas áreas de
siderurgia, petroquímica, hidroelétrica e mineração, indispensáveis para a garantia e
manutenção do processo de acumulação privada, pois apesar da supremacia monopolista, as
empresas produtivas estatais chegavam a praticar preços menores que o necessário. Estas
empresas estatais canalizavam boa parte de seus investimentos em aquisições de máquinas e
equipamentos produzidos no exterior, tornando o Estado o maior importador de bens de
produção. A partir de 1970-71 o parque industrial começa a apresentar sinais de ociosidade,
por um lado, em função da internalização, montagem ou instalação dos setores de bens de
capital e de bens de consumo não-duráveis ocorrida no período de 1959-60 e, por outro, em
função da sua utilização no período de recuperação (1967-70).
Segundo Oliveira (2003) no período de 1968 a 1974 o setor D1 da indústria (bens
de capital) registrou elevados níveis de investimentos, sobretudo e principalmente, com a
importação de máquinas e equipamentos. Em 1968, 1974 e 1980, o volume de recursos
investidos na aquisição de máquinas e equipamentos foram, respectivamente, US$ 604
milhões, US$ 3,1 bilhões e US$ 3,6 bilhões. Ou seja, a partir de 1974 as importações de
máquinas e equipamentos ficaram estagnadas na casa dos 3,5 bilhões de dólares. Nestes
mesmos anos, a importação de produtos químicos, fertilizantes, metais, materiais plásticos,
borracha e papel, corresponderam respectivamente a US$ 484 milhões, US$ 4,3 bilhões e a
US$ 3,1 bilhões. Este volume de importações ocorrido no período de 1968 a 1974 e destinado
à consolidar o parque industrial nacional retrata o que convencionou-se chamar por “milagre
brasileiro”.
A partir de 1974 é interrompida a capacidade de sustentação do setor de bens de
capital em retroalimentar a demanda interna oriunda dos demais setores industriais. O Estado
perde fôlego, o endividamento do país inviabiliza a manutenção dos investimentos e as altas
transferências de lucros ao exterior, propiciadas pela promíscua relação estabelecida com os
grandes conglomerados monopolistas internacionais que tinham como objetivo expropriar da
parcela crescente do excedente do país, acabam por decretar o período de crise.
Percebe-se que a participação ativa do Estado no processo de modernização e
industrialização da agricultura do Centro-Oeste ocorre com maior ênfase durante as Fases de
Crescimento da economia do país (entre 1955 e 1974), forjada pela internalização dos setores
65
de bens de produção (indústrias de transformação) em bases nacionais e a partir de
investimentos públicos e privados (estrangeiros e nacionais).
O PRODOESTE, criado em 1971, tinha como objetivos acelerar o
desenvolvimento da região Centro-Oeste, bem como comportar os fluxos migratórios
advindos de áreas densamente povoadas, reduzir o êxodo rural em direção aos grandes centros
e com isso, equilibrar a distribuição demográfica. Para tanto, tornou-se indispensável
interligar o Centro-Oeste ao norte e sul do país a partir da construção de rodovias, garantindo
a integração político-administrativa, aumentando a segurança nas áreas de fronteira com os
países vizinhos e dinamizando o potencial da economia local.
Para atingir seus objetivos, o PRODOESTE conseguiu alocar recursos da ordem
de Cr$ 650 milhões (moeda da época) que atualizados para o ano de 2005, em valores
constantes, estariam por volta de R$ 500 milhões. Para a construção de rodovias e estradas
vicinais foram consumidos cerca de 80% do total dos recursos disponíveis. Os demais 20%
foram alocados na construção de armazéns, silos, usinas, frigoríficos e saneamento.
O PRODOESTE abrangeu os Estados de Mato Grosso (uno à época), Goiás
(também uno à época) e o Distrito Federal. No sul do Mato Grosso, atual Estado de Mato
Grosso do Sul, foram contemplados os municípios de Campo Grande (atual Capital do
Estado), Dourados, Rio Brilhante, Porto Murtinho, Aquidauana, Corumbá, Miranda e Coxim.
Ainda visando o desenvolvimento de áreas específicas e estratégicas do Centro-
Oeste do país, o Governo do General Geisel institucionalizou em 1974 o Programa de
Desenvolvimento do Pantanal (PRODEPAN). O PRODEPAN, segundo a EMBRAPA (1977),
apresentou dificuldades após a sua institucionalização e foi realmente implementado em 1975,
vigorando até 1978. Este programa foi coordenado pela Superintendência de
Desenvolvimento do Centro-Oeste (SUDECO) e teve a participação executiva de vários
ministérios. O PRODEPAN tinha como objetivo gerar um pólo de desenvolvimento na região
do Pantanal e seu entorno.
Para que a região pudesse conceber as características de um pólo de
desenvolvimento regional foram realizados diversos estudos, pesquisas, assistência técnica e
projetos de infra-estrutura, tendo em vista a construção de rodovias, saneamento, instalação de
energia elétrica, industrialização e crescimento das atividades relacionadas com a pecuária
O PRODEPAN disponibilizou mais de Cr$ 600 milhões (moeda da época), ou
seja, aproximadamente R$ 200 milhões, atualizados para 2005 em valores constantes. Os
financiamentos apresentavam juros de 7% a 15% ao ano, com prazo de amortização máxima
66
de 12 anos. Com os recursos foram implantados e modernizados vários frigoríficos de
bovinos, ampliaram-se as estradas de acesso, os municípios da região foram beneficiados com
saneamento básico e expansão da rede elétrica. A pesquisa também foi impulsionada, gerando
como resultado a criação da EMBRAPA-UEPAE Corumbá, bem como a ampliação do
programa de assistência técnica do Sistema ABCAR.
Ainda na década de 70, com o objetivo de desenvolver a região Centro-Oeste do
país, bem como promover a modernização das atividades agropecuárias, sobretudo, na
estruturação e fortalecimento das médias e grandes propriedades e empresas agroindustriais,
foi institucionalizado por força do Decreto-Lei nº. 73.320, de 29 de janeiro de 1975, o
Programa de Desenvolvimento dos Cerrados, denominado de POLOCENTRO.
67
150 mil hectares, ao longo da rodovia de ligação entre Aquidauana e Bonito, foi também
beneficiada pelo POLOCENTRO.
O POLOCENTRO contemplou ainda áreas secundárias do cerrado como os
chapadões de São Gabriel do Oeste, das Emas e, finalmente, o chapadão do rio Corrente.
Nestas áreas pode-se afirmar que os impactos do POLOCENTRO deram origem a pólos de
lavoura altamente mecanizados, apesar de não terem sido contemplados com investimentos
em infra-estrutura, mas basicamente em serviços. Os recursos alocados no programa no
período de 1975-1977 foram da ordem de Cr$ 2 bilhões, a preços de 1975. Torna-se profícuo
salientar que em consonância com os objetivos propostos, os recursos do POLOCENTRO
estiveram concentrados em áreas com solos de baixo potencial produtivo (elevada acidez e
baixa fertilidade natural). Esperava-se com isso atingir as metas apregoadas ao programa.
Dessa forma, o POLOCENTRO esteve sustentado pelo seguinte tripé: infra-
estrutura, serviços e crédito rural. Os serviços englobavam assistência técnica e pesquisas.
Esta última esteve voltada para experimentação agropecuária. Do ponto de vista da
modernização, pode-se dizer que o POLOCENTRO possibilitou a mecanização agrícola,
eletrificação rural, projetos de reflorestamento, construção de estradas vicinais e de acesso a
propriedades, beneficiamento e industrialização da produção agrícola, estímulo à prospecção
de calcário e outros insumos agrícolas, aquisição de veículos, embarcações e aeronaves,
organização de sistemas de comercialização e de produção, bem como regularização
fundiária.
Por outro lado, pode-se aventar que o sucesso do POLOCENTRO poderia ser
ampliado caso os recursos aplicados estivessem destinados às áreas com maior potencialidade
produtiva. O programa perde seus efeitos aceleradores a partir do início dos anos 80, pois a
relação custo versus benefício ficou prejudicada em função da ineficiência produtiva
apresentada em algumas áreas que receberam expressivos investimentos.
Apesar dos bons resultados apresentados pelo POLOCENTRO, o desempenho
relativo do programa frustrou as expectativas dos técnicos. Esta deficiência deve ser atribuída
ao baixo potencial de fertilidade natural das terras contempladas, fiscalização deficiente e
correção monetária dos recursos inferior ao processo inflacionário verificado na época.
Verifica-se ainda que o Governo Militar apostou num modelo produtivista, baseado no
fortalecimento das médias e grandes propriedades rurais, tendo em vista a geração de um
excedente destinado para a exportação como forma de compensar as transferências de lucros e
as importações de bens de produção. Tal modelo concentrou o capital (industrial e rural) em
68
detrimento do trabalho e ainda ajudou a consolidar nos cerrados uma estrutura fundiária
baseada nas médias e grandes porções de terra.
69
Numa perspectiva histórica, a milenar prática da agricultura, antes do
término da 2ª Guerra Mundial, sempre foi conduzida sem o recurso a
insumos químicos e a maquinarias pesadas com tração mecânica, pois os
equipamentos funcionavam à tração animal. O sistema agrícola era
diversificado e havia integração entre agricultura e pecuária. O agricultor
produzia sua própria semente e insumos necessários (ROEL, 2002, p. 57).
Segundo Silva (1989), com o surgimento dos CAI os interesses distintos entre os
capitalistas industriais de um lado e os grandes produtores agrícolas de outro tornam-se
convergentes em virtude da integração de capitais. No passado, a oligarquia cafeeira, a partir
dos excedentes gerados pela monocultura predominante, financiava os bancos, investimentos
em infra-estrutura, logística, vias de acesso e indústrias. Com a constituição dos CAI os
grandes fazendeiros e produtores de soja, laranja, cana, café, passam a financiar qualquer
ramo da atividade produtiva (bancos, companhias de transporte, indústrias) que apresentasse
lucratividade. A agricultura é transformada num ramo de aplicação a comando do capital
70
integral e, na essência do CAI, do capital industrial, que de um lado vende-lhe insumos
(montante) e de outro (jusante) compra a matéria-prima a ser industrializada.
Observa-se que com o advento da integração de capitais, a agricultura, a indústria
e o mercado financeiro tornam-se facetas do grande capital. Neste momento, o mercado de
terras representa mais uma alternativa de valorização deste capital ora integrado.
Com a desarticulação dos Complexos Rurais e constituição dos CAI a agricultura
perde seu caráter regulatório que se dava entre a produção para os mercados interno e externo.
A nova dinâmica dos CAI, sobrepondo-se e solapando a moribunda estrutura agrícola
setorizada e autônoma, força o Estado a intervir nos diversos CAI já constituídos, na tentativa
de regular o mercado e formular políticas específicas para limitar a rentabilidade dos capitais
envolvidos nos diversos ramos interligados, bem como fixar preços e margens de lucro para
os produtos intermediários, definir cotas para exportação e ainda fiscalizar um novo mercado
com marcantes características monopolistas.
Diante desta necessidade de intervenção Estatal, o discurso das lideranças
econômicas do país (principalmente a parcela rural) indicava que as forças do mercado já
seriam suficientes para garantir a eficiência econômica na alocação das decisões privadas. As
políticas públicas lançadas no interior dos CAI começam a sofrer pressões de todos os lados.
Os diversos capitais (agrário, agrícola, industrial, financeiro) acabam por capturar importantes
segmentos do Estado. Esta feudalização3 do Estado tem como resultado o direcionamento das
políticas públicas em benefício do capital. O que deveria ser uma intervenção do Estado
keynesiano com o propósito de regular e corrigir as imperfeições do mercado, refletindo no
aumento do emprego e da renda, consolida-se como um novo território capturado pelas
burguesias agrária, agrícola e agroindustrial, tornando-o num espaço fragmentado, setorizado
e indutor da reprodução do capital e dos múltiplos interesses privados.
Segundo Silva (1998), a unidade do sistema, reunida por diversas atividades
presentes no CAI, reside na seguinte condição: todos os elos do complexo são instrumentos
de valorização do capital e possuem algum tipo de regulamentação macroeconômica. Esta
complexa realidade desemboca numa intrincada rede de relações de interesses, que segundo
Delgado (1985) e Lamounier (1994), prevalece a participação do capital industrial, do Estado
e dos grandes agricultores. Os diversos setores que integram os CAI submetem o Estado à
consecução dos seus objetivos.
3
O termo feudalização ou balcanização sugere o controle, a captura de parte do aparato e demais instrumentos do Estado por grupos de
interesses privados em função da reprodução do capital, direcionando as políticas públicas em prol de determinações particulares.
71
Na verdade, esta baucanização do Estado realizada por setores industriais tinha
como estratégia incentivar a industrialização de mercadorias interligadas a jusante da
produção de matérias-primas oriundas do campo. Por outro lado, os setores agrícolas/agrários
e os próprios setores industriais gritavam pela modernização da agricultura sob os auspícios
da expansão da indústria de máquinas, equipamentos e insumos modernos (D1 da agricultura)
situada a montante da produção de matéria-prima agrícola/agrária. As pressões exercidas
sobre o Estado decorriam da preocupação dos setores industrial e agrícola em aumentar a
oferta de matérias-primas. A indústria de bens de produção voltada para a agricultura deveria
receber os mesmos investimentos concentrados na internalização do D1 industrial. O caráter
complementar da internalização do D1 industrial favoreceu a própria internalização do D1 da
agricultura, ocorrida nos anos 60. O capital internacional, industrial e oligopolista ligado à
indústria de tratores, máquinas e insumos modernos aproveitou as condições conjunturais da
época e dos crescentes incentivos fiscais e transferiu suas plantas industriais para o país.
Para Kageyama et al. (1983), a modernização da agricultura no Brasil, ocorrida na
década de 70, esteve sustentada sobre dois pilares fundamentais: utilização de fertilizantes e
defensivos químicos (quimificação) e adoção de tratores (mecanização). Vale enfatizar que
segundo Müller (1981) apud Castanho Filho (1988), o CAI não existia no país até 1970, pois
os setores industriais que produziam para a agricultura não estavam consolidados enquanto
indústrias internalizadas em bases nacionais. No que se refere ao número de tratores utilizados
nas propriedades agrícolas na década de 70, este multiplicou-se por três, passando de 166 mil
para 531 mil unidades. Enquanto que o uso de defensivos agrícolas registrou uma taxa de
crescimento de 7,2% ao ano. O consumo de fertilizantes cresceu quatro vezes mais, mantendo
uma taxa geométrica real média de 15,5% ao ano.
Para o MCT (1993) o processo de modernização da agricultura impulsionou a
indústria de defensivos agrícolas, principalmente, no período de 1970 a 1984. A
internalização desta indústria foi resultado da implantação do Plano Nacional de Defensivos
(PNDA) durante os anos de 1975-79. Com o advento do PNDA, investimentos diretos,
realizados por empresas de capital estrangeiro e líderes no mercado mundial de defensivos,
possibilitaram a internalização completa da indústria química no país a partir da produção
local de ingredientes ativos indispensáveis à elaboração de inseticidas, fungicidas e
herbicidas.
Segundo o MCT (1993) o sucesso da internalização da indústria de defensivos é
decorrente do tamanho das propriedades produtivas e incentivos à produção (tarifas
72
alfandegárias e câmbio favoráveis às importações). Até 1980, a internalização contou com
investimentos da ordem de US$ 200 milhões, sobretudo com experimentos e demais
pesquisas.
A forma de internalização, voltada para a produção dos chamados “princípios
ativos”, estimulou a vinda de empresas líderes no mercado internacional. Estas empresas, ao
se instalarem no país, tiveram a oportunidade de definir o segmento de maior lucratividade.
Por outro lado, a segmentação do mercado, apesar de fomentar uma base produtiva
relativamente estável, acirrou a competição. Muitas empresas aumentaram as importações de
novos produtos, geralmente protegidos por patentes. Atualmente, a estrutura do mercado
revela que as empresas da capital multinacional detêm 80% de todo o faturamento do setor,
enquanto que as empresas nacionais disputam os 20% restantes, pois ofertam produtos
genéricos e banalizados, passíveis de fácil produção e de livre concorrência.
Segundo Kageyama et al. (1983), tomando-se o ano de 1970 como ano base
(base: 1970=100), no período de 1971 a 1980 os índices de consumo de inseticidas,
fungicidas, herbicidas e fertilizantes no Brasil foram, respectivamente, 96 e 114; 149 e 472;
147 e 829; 117 e 421. Conforme estudo do MIC (1993), entre 1970 e 1984, período áureo da
industria química no país, a taxa média de crescimento anual, em dólares constantes, ficou em
torno de 10%. Destaca-se o segmento de herbicidas que cresceu 13,5% ao ano. Entre 1983 e
1987 o mercado cresceu, em média, 9,4% ao ano, com aumento da dispersão entre as taxas de
aceleração verificadas dentre os diversos segmentos. Apesar da crescente evolução do
consumo, a sua utilização estava concentrada nas maiores propriedades.
De acordo com Paschoal (1983) apud Roel (2002), de 1964 a 1979 o consumo de
fertilizantes minerais solúveis aumentou em 1.243% e de pesticidas 421%. Seguindo esta
mesma tendência, a utilização de máquinas agrícolas aumentou no mesmo período 389%.
Ressalta-se que apesar do exorbitante aumento no consumo de fertilizantes, inseticidas e
máquinas agrícolas, a produtividade agrícola, aferida pela média de 15 culturas, ficou em
4,9%.
A tratorização também seguiu esta tendência, pois na metade da década de 70
menos de 5% das propriedades possuíam tratores. Além disso, a concentração regional
também apresentava-se como uma característica da modernização. Para Castanho Filho
(1988), o uso de tratores na agricultura multiplicou-se por três entre 1970 e 1980, ou seja,
passou de 165.870 unidades utilizadas em 1970 para 528.000 em 1980, reduzindo a área
cultivada por trator. Por outro lado, tomando-se como base os dados dos Censos
73
Agropercuários de 1970 e 1975, Castanho Filho (1988) afirma que a concentração no uso de
tratores também aumentou, pois em 1975 os estados de São Paulo, Paraná, Rio Grande do
Sul, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio de Janeiro possuíam 60% da frota nacional.
Pode-se ainda afirmar, segundo os dados da Associação Nacional dos Fabricantes
de Veículos Automotores (ANFAVEA, 2005) para as décadas de 60 e 70, que a produção de
máquinas automotivas no país voltadas para a agricultura teve uma taxa de crescimento médio
de 28,23%. Nas duas décadas foram produzidas 698.795 unidades, sendo 560.416 de Tratores
de Rodas (80%), 68.359 de Cultivadores Motorizados (10%), 29.818 de Tratores de Esteiras
(4%), 24.673 de Colheitadeiras (4%) e 15.529 de Retroescavadeiras (2%). Em 1976 foi
atingido o pico produtivo com 82.632 unidades. Neste ano a produção de Tratores de Rodas
representou 78% do total de unidades. O período de aceleração ficou compreendido entre os
anos de 1969 e 1976 (pico). Quando comparada a produção entre estes dois anos pode-se
verificar que a taxa de crescimento ficou em 593,28%, ou seja, passando de 11.919 unidades
produzidas em 1969 para 82.632 em 1976. Ressalta-se que em 1960 o país produzia apenas
Tratores de Rodas (37 unidades), passando a produzir em 1961 Cultivadores Motorizados. Em
1966 foi adicionada à produção Tratores Esteiras, em 1969 Retroescavadeiras e seis anos mais
tarde, unidades de Colheitadeiras, refletindo não só o pico da produção, mas também a
internalização completa do D1 para a agricultura (Tabela 1).
74
O uso de defensivos, fertilizantes químicos e tratores em grandes propriedades
pode ser explicado pelo aumento da concentração da estrutura fundiária. Para Hoffmann
(1986) apud Buainain et al. (1987) o Índice de Gini de distribuição fundiária cresceu de 0,84
em 1970 para 0,857 em 1980 e o número de pequenos estabelecimentos caiu de 2,9% para
2,4% neste mesmo período em relação à participação na área total recenseada.
Para Buainain et al. (1987), ao longo da década de 70 a modernização da
agricultura aumentou em taxas crescentes, pois a quantidade de tratores por 1.000 pessoas
ocupadas subiu de 8,9 em 1970 para 23,8 em 1980, a área cultivada por trator diminuiu de
1.483 para 572 ha e o consumo de fertilizantes passou de 999 mil toneladas/ano para 4.066
mil toneladas/ano. Por outro lado, esta visível modernização esteve associada à concentração
fundiária e à produção monopolista voltada para a exportação, deslocando e inibindo a
produção de alimentos tradicionais que abasteceriam o mercado interno, acelerando o cultivo
de lavouras tecnologicamente mais modernas, destinadas ao mercado externo e atreladas a
jusante, ou seja, vinculadas às agroindústrias beneficiadoras. No período de 1970-79 verifica-
se um acelerado crescimento da produção de culturas destinadas à exportação em detrimento
dos produtos consumidos no mercado interno. As produções de soja e laranja cresceram
ditadas por um ritmo elevadíssimo; a primeira apresentou uma taxa de crescimento de 22,47%
ao ano e a segunda 12,57%. As lavouras de feijão e mandioca tiveram taxas negativas de
crescimento ao longo de todo o período, respectivamente, -1,9% e -2,9%. O arroz (1,46%),
milho (1,75%), batata (3,73%), cebola (9,27%) e trigo (6,89%) tiveram um crescimento
relativo muito inferior às taxas alcançadas pelos produtos exportáveis.
75
matéria-prima, no processamento e beneficiamento agroindustrial e na exportação de ambos
os produtos.
O descompasso entre produção de alimentos voltados para o mercado interno e os
exportáveis, os benefícios dos avanços tecnológicos (novos insumos e mecanização do
processo produtivo) privilegiando somente os grandes produtores, concentração de
investimentos em grandes empresas e propriedades agrícolas, a estrutura fundiária também
concentrada em grandes porções de terra e intensificação do complexo agroindustrial visando
às culturas de exportação são características da “modernização conservadora” ocorrida nos
anos 70.
A agricultura moderniza-se, mas a estrutura produtiva rural continua conservada.
Os capitais, nacional e internacional, industriais, agrícolas e agrários, público e privado,
concentrados, articulados e interligados numa mesma base de reprodução, multideterminada,
heterogênea e complexa, característica interna do CAI, criariam o seu próprio ciclo de
acumulação capitalista, sustentada por uma política de crédito rural fortemente subsidiada.
A parte dos recursos não utilizados pela agricultura foi canalizada para o Banco
Central do Brasil na conta do FUNAGRI e destinado às agroindústrias. Com estes recursos o
BC repassava aos bancos recursos obtidos em variadas fontes. Com o FUNAGRI os agentes
financeiros favorecidos obtiveram ganhos mínimos de 5% ao ano.
Em Pinto (1981), em 1969 foram aplicados pelo SNCR na agricultura e na
agropecuária 6,5 bilhões de cruzeiros. Em 1979 foram investidos nestas atividades, em
valores constantes de 1969, 33 bilhões de cruzeiros. Ou seja, em 10 anos observa-se um
aumento de mais de 500% nos investimentos.
O volume de recursos justifica-se em razão das crescentes transformações
ocorridas na economia do país, sobretudo, a internacionalização da produção; concentração de
renda e da terra; concentração e centralização do capital; reforma do sistema financeiro;
processo de urbanização. Por outro lado, estas transformações irão exigir da agricultura uma
reorganização produtiva e um novo momento histórico para assegurar a reprodução do capital.
Para tanto, a agricultura deveria atender aos seguintes interesses: deslocar a produção para o
mercado externo em detrimento do mercado interno; produzir insumos para as agroindústrias
a jusante do encadeamento e consolidar o mercado cativo; agregar valor aos produtos tendo
em vista atender uma fatia do mercado concentrador de renda.
77
Ainda em Pinto (1981), além de ter apresentado no período de 1969-1979 uma
significativa variação positiva na alocação dos recursos, o crédito rural no país foi concedido
a taxas de juros inferiores à inflação (Tabela 2). Enquanto o comportamento médio do IGP-DI
no período 1970-1980 foi de 40,06% a taxa média de juros do crédito rural neste mesmo
período esteve em 13%. Ou seja, os financiamentos realizados no período apresentaram taxas
médias de juros reais negativas de 27,5%, caracterizando uma transferência dos recursos da
sociedade em benefício de um grupo relativamente pequeno quando comparado ao Censo
Agropecuário de 1975, que registrava neste mesmo ano um total de 5 milhões de
estabelecimentos rurais no país e, em contrapartida, o número de contratos firmados no SNCR
ficava em torno de 2 milhões.
TABELA 2: IGP-DI ANUAL MÉDIO E TAXAS MÉDIAS DE JUROS DO CRÉDITO
RURAL NO BRASIL – 1970-1980
ANO IGP-DI (%) TAXA MÉDIA DE JUROS (%) VARIAÇÃO ABSOLUTA RELAÇÃO PERCENTUAL
1970 19,3% 11,3% -8,00 58,55
1971 19,5% 11,3% -8,20 57,95
1972 15,7% 12,1% -3,60 77,07
1973 15,5% 12,1% -3,40 78,06
1974 34,5% 10,8% -23,70 31,30
1975 29,5% 10,8% -18,70 36,61
1976 45,3% 10,7% -34,60 23,62
1977 38,8% 11,2% -27,60 28,87
1978 40,8% 15,0% -25,80 36,76
1979 77,2% 18,0% -59,20 23,32
1980 110,2% 20,0% -90,20 18,15
Fonte: FGV/BACEN
Percebe-se que em 1980 a taxa média de inflação, medida pelo IGP-DI, chegou a
110,20% ao ano e a taxa média de juros 20%. Esta diferença de 90,20 pontos seria equivalente
ao subsídio apropriado pelo grande produtor rural e financiado pela sociedade como um todo.
Por outro lado, a justificativa do governo baseava-se na crença que os pesados tributos
oneravam sobremaneira o setor rural, o que comprometeria o retorno esperado do
investimento. O crédito rural deveria ser subsidiado para compensar o baixo retorno dos
investimentos impostos às atividades agrícolas. Em busca de maiores facilidades, os
agricultores aderiram aos chamados “pacotes tecnológicos” que vinculavam a adoção de
novos equipamentos, máquinas e insumos modernos aos empréstimos subsidiados. Os preços
dos tratores, equipamentos e insumos modernos foram artificialmente reduzidos quando
atrelados aos créditos altamente subsidiados.
78
Os financiamentos tinham naturezas diversas e contemplavam recursos para
despesas de custeio, instalações, máquinas, equipamentos e comercialização. Porém,
verificou-se que um único estabelecimento tinha vários contratos, principalmente as grandes
propriedades, que firmaram mais de vinte contratos com o SNCR. Para Pinto (1981), cerca de
20% dos agricultores brasileiros foram beneficiados com o crédito rural e destes a
participação em relação à quantidade de contratos e ao valor concedido também esteve
concentrada na grande propriedade.
79
À medida que as taxas de juros praticadas pelo SNCR tornam-se ainda mais
inferiores às do mercado, a demanda por crédito aumenta em proporções nunca imaginadas,
superando a oferta e obrigando o Estado a intervir no mercado financeiro para evitar a
restrição do crédito. Os bancos foram judicialmente obrigados a destinar parte dos seus
próprios depósitos à vista para atender as necessidades financeiras do setor agrícola. Por outro
lado, os bancos comerciais passaram a exigir dos seus clientes algumas garantias, ou seja, a
posse da terra, o tipo de produção (agrícola ou pecuária), o grau de tecnificação e a
produtividade a ser alcançada. Mais uma vez os grandes proprietários foram privilegiados,
pois possuíam as melhores garantias. Por outro lado, os custos administrativos do banco
seriam reduzidos concedendo grandes volumes de empréstimo por contrato celebrado.
Para Pinto (1981) e segundo os dados disponíveis no Ministério da Agricultura e
no Banco Central do Brasil para os anos de 1973-1977, a soja e o feijão, quando comparados,
apresentam profundas desigualdades na relação entre valor bruto da produção e o valor total
de créditos. No caso do feijão o valor bruto da produção é em média 1,4 vezes maior que o
valor total de créditos absorvidos. Para a soja a relação é inversa, pois esta tem, em média, um
valor total de créditos recebido 3,2 vezes maior que o valor bruto da produção (Tabela 3).
0
1973 1974 1975 1976 1977
VBP VTC
Sem dúvida, há uma associação entre estes interesses, sendo que, muitas
vezes, uma mesma pessoa ou empresa representa os três setores, tornando-se
impossível separá-los. Como conseqüência, o que se verifica, na realidade, é
a existência de um conjunto bastante complexo de interesses, o que se vai
82
refletir, necessariamente, na política de crédito rural (PINTO, 1981, p. 83).
Grifo do autor.
Produtores
CAI
Articulação Inter-Industrial
FIGURA 2: ARTICULAÇÃO NO INTERIOR DO CAI.
84
Para Kageyama et al. (1990), a agricultura, ao fazer parte deste encadeamento,
passou a depender dos insumos que recebe das indústrias a montante e não produz mais
apenas bens de consumo final, mas, basicamente, bens intermediários ou matérias-primas para
outras indústrias. As agroindústrias intermediárias e processadoras de matéria-prima sofrem
pressões de redução dos seus custos quando os preços finais de seus produtos extrapolam a
linha de restrição orçamentária da demanda do consumidor e tendem a repassar para trás, via
redução dos preços dos insumos e matérias-primas, estas pressões de custos que acabariam
por reduzir suas vendas e consequentemente seus lucros. Estas pressões de custos afetam por
completo as propriedades agrícolas, pois o mercado a jusante encontra-se dominado por
empresas oligopolizadas, monopsônicas ou oligopsônicas (Figura 3). Por outro lado, os
grandes produtores rurais não são capazes de repassar para o elo traseiro seguinte estas
mesmas pressões, pois o mercado é dominado por grandes oligopólios/oligipsônicos. Assim,
os produtores rurais absorvem as pressões do Complexo que resultam na compressão de suas
rendas.
Estado
Oligopólio Oligopsônio
AGRICULTURA
Setor a montante (players Setor a jusante
diferenciados)
Setor
financeiro
Fonte: adaptado de ALENCAR, E. Complexos Agroindustriais. 2.ed. Lavras: UFLA/FAEPE, 2000, p. 79.
4
O setor agrícola representado na Figura 6 sugere a participação de “players diferenciados”, ou seja, diversos tipos de produtores e de
trabalhadores rurais. Essa heterogeneidade está relacionada com o grau de controle que estes atores possuem sobre a terra e com a forma de
exploração nela existente.
86
e/ou cambial. Uma política de preços mínimos por produto acabaria por fracionar o poder
regulador do Estado dissipando-o em diversos produtos e interesses internalizados no cerne
dos próprios CAI. O Estado perde o seu poder regulador, servindo de forma setorizada e
fragmentada aos interesses particulares diversos e em alguns momentos conflitantes.
No período de 1967-1976 a PGPM esteve voltada para os principais produtos,
ficando marcada pela concentração do crédito em função das culturas de soja, arroz e milho,
principais culturas destes anos, bem como intensificada na região Centro-Sul do país. Neste
período a região Centro-Sul representava 76,59% do total de crédito disponibilizado. A
cultura da soja participava com 39,81% deste montante, seguida pelo arroz com 23,26% e o
milho com 23,41% do total do crédito subordinado à PGPM (Tabela 4).
94
1.000,0
900,0
PRODUÇÃO (Toneladas)
800,0
700,0
600,0
500,0
400,0
300,0
200,0
100,0
0,0
1970 1975 1980 1985 1990
ANO
97
A partir da publicação da Lei nº. 440, de 21 de março de 1984, que criou o
Conselho de Desenvolvimento Industrial do Estado de Mato Grosso do Sul e concedeu
incentivos fiscais às indústrias, e da Lei nº. 444, de 13 de abril de 1984, que instaurou o
Fundo de Apoio à Industrialização do Estado (FAIMS), o Pró-Indústria nasce com o
compromisso de desenvolver os demais setores de uma economia alicerçada e dependente do
binômio agricultura-pecuária, e, sobretudo, incentivar a expansão dos setores industriais. Os
Decretos de nº. 2.538 e de nº. 2539, ambos de 29 de maio de 1984, regulamentaram a Lei nº.
440, de 21 de março de 1984, estando o primeiro a aprovar o Regimento do Conselho de
Desenvolvimento Industrial de Mato Grosso do Sul e o segundo a regulamentar os incentivos
fiscais que seriam concedidos.
Para incentivar a industrialização de Mato Grosso do Sul o Pró-Indústria
fundamentava-se na concessão de incentivos fiscais como o principal instrumento capaz de
viabilizar e garantir o sucesso do Programa. Com a vigência da Lei nº. 440/84, as indústrias
estariam isentas do Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis e Direitos a eles relativos e
sobre as Transmissões Imobiliárias acerca da aquisição de terrenos localizados nos núcleos
industriais administrados pelo Estado. Para efeito legal destes benefícios previstos, o Estado
obrigava os Municípios sedes das indústrias recém instaladas a isenção, por um prazo de
cinco anos, do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), do Imposto Sobre Serviços de
Qualquer Natureza (ISSQN) e de Taxas de Contribuição de Melhorias. Além disso, um dos
principais incentivos concedidos previa a postergação, por trinta e seis meses, para
recolhimento do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias (ICMS) às
empresas que se instalassem, ampliassem ou transferissem suas unidades para os núcleos
industriais pertencentes e administrados pelo Estado ou para zonas industriais
disponibilizadas pelas Prefeituras.
Para Oliveira (2003), na época de vigência das Leis nº. 440, de 21 de março de
1984, e de nº. 444, de 13 de abril de 1984, a conjuntura econômica do país sinalizava uma
recessão no “centro dinâmico do capitalismo” e uma capacidade industrial ociosa que poderia
inviabilizar a transferência de plantas e capital para outras regiões periféricas. No entanto, as
supracitadas leis estaduais enveredaram pelo caminho da atração de investimentos exógenos
em detrimento da ampla quantia de recursos disponíveis nas mãos da burguesia local (ricos
comerciantes).
As Leis nº. 440, de 21 de março de 1984, e de nº. 444, de 13 de abril de 1984,
foram substituídas pela Lei nº. 701, de 06 de março de 1987. As alterações previam a
98
transformação do incentivo de prorrogação para o recebimento e restituição dos impostos,
sobretudo a ampliação do prazo de trinta e seis meses, para sessenta meses, da postergação
para recolhimento ICMS; a criação do Fundo de Planejamento e Desenvolvimento Industrial
(F-PDI) constituído com 8% do ICMS recolhidos pelas empresas. O F-DPI substituiu o Fundo
de Apoio à Industrialização do Estado (FAIMS). A Lei nº. 701/87 vigorou durante todo o
Governo de Marcelo Miranda Soares, contemplando em quase 100% dos recursos disponíveis
e nos prazos de, no mínimo, 52 meses e no máximo 60, as indústrias esmagadores de grãos de
soja do Estado. Uma pequena fração dos recursos foi destinada aos projetos industriais,
informatização de dados e a implantação de infra-estrutura mínima nos distritos industriais
administrados pelo Estado.
99
exportações; arrocho salarial. A queda da taxa de lucro e o fim do “milagre” têm a sua origem
na atenuação do arrocho salarial, no aumento do preço das matérias-primas (manteve-se a
participação do petróleo na pauta de importações) e no fim da capacidade ociosa. Além disso,
as transferências do excedente gerado internamente em direção ao exterior continuam
existindo sob a forma de importações, remessas de lucros e juros.
No período de 1974-78 instaura-se a crise e com ela a restrição externa e o
recrudescimento da inflação. Esgota-se a dinâmica do crescimento industrial a partir da
desaceleração e manutenção do investimento público conciliada à uma „modernização
conservadora”. Na segunda metade da década de 70 o endividamento externo é utilizado
como estratégia para reativar o ajuste da economia brasileira às mudanças na economia
mundial, ou seja, crescer industrializando viabilizando-se a partir do endividamento externo.
É a partir da década de 80 que Mato Grosso do Sul percebe a necessidade de
investimentos na industrialização como parte de uma etapa que sucederia à “finalização” da
produção agrícola, tendo esta atingida o seu ápice. A industrialização não foi pensada como
parte integrante de um sistema complexo, interligado e interdependente, no tempo, mas sim
no espaço. Isto quer dizer que o capital industrial esteve integrado e articulado com a
produção agrícola do Estado nas décadas de 60, 70 e 80. Ou seja, não esteve representando
fisicamente em Mato Grosso do Sul pelas unidades industriais a montante e, minimamente
representado, a jusante da matéria-prima.
Para Oliveira (2003), de 1960 a 1970, principalmente de 1968 a 1970, apesar da
duplicação da quantidade de soja esmagada, passando de 471 toneladas em 1968 para 932
toneladas em 1970, os resultados ainda apresentavam-se longe da capacidade ideal de
esmagamento que justificasse a concentração do capital. Esses resultados foram obtidos pelas
diversas e pequenas unidades agroindustriais, fixadas em sua grande maioria no Estado de
São Paulo, que operavam com tecnologia obsoleta, esmagavam menos que 500 toneladas/dia
de soja, em conjunto com a mamona, amendoim e milho e, direcionavam seus produtos para
abastecer o mercado interno.
Num segundo momento, a partir da década de 70, a soja passa a desempenhar um
novo papel, contribuindo com a “Divisão Internacional do Trabalho”. O sistema de crédito
totalmente direcionado para a produção de soja, uma política de subsídios, o interesse das
autoridades governamentais pelo setor, a estabilidade no consumo interno de óleo de soja, a
regularidade e a expansão da produção de grãos de soja são determinantes de destaque no
processo de implantação de grandes plantas esmagadoras de soja no país para a produção de
100
óleo e farelo. Para Oliveira (2003), em 1970 a Sambra (Bünge e Born), Cargil e Unilever,
grupos de capital internacional, com relevante experiência no esmagamento de soja e
comercialização de produtos no país, instalaram-se com suas unidades industriais na região
Sul do território nacional para extração de óleo e farelo de soja visando o comércio externo. A
escolha dos Estados da região Sul obedeceu aos seguintes fatores: proximidade com a
matéria-prima principal (soja) e o nível tecnológico das lavouras. A sua localização no mesmo
espaço de produção da matéria-prima permitia ao capital industrial interferir diretamente no
plantio, na colheita e na comercialização da soja até chegar ao processo de industrialização.
Neste momento histórico, percebe-se a criação de um CAI da soja montado no
mesmo território e em espaços contíguos de inter-relação e interdependência. Ou seja, as
indústrias a montante, matéria-prima e indústrias a jusante articulavam-se a partir de uma
proximidade imediata. No caso de Mato Grosso do Sul, a existência do CAI da soja não pode
ser concebido no espaço contíguo, pois ao analisarmos o processo de industrialização do
Estado, as indústrias de bens de capital voltadas para a agricultura (D1 da agricultura) foram e
ainda estão instaladas nas regiões Sul e Sudeste do país desde a década de 60.
A agroindustrialização tardia de Mato Grosso do Sul só acontece quando o
Estado, representado pelo Governo Federal, perde a sua capacidade e interesse de investir
diretamente na agroindústria, por dois motivos: o ciclo industrial de substituição das
importações estaria concluído e a internalização do D1 voltado para a agricultura completado.
A agroindustrialização de Mato Grosso do Sul iniciada na década de 80 fica
condicionada às seguintes políticas públicas: a) de subsídios federais sobre os preços de
alguns insumos básicos e tarifas públicas de serviços fornecidos pelas empresas estatais; b) de
incentivos fiscais concedidos pelos Governos Estaduais. Por outro lado, uma reserva de
capital nas mãos de comerciantes locais fez a diferença no processo de agroindustrialização
do Estado.
No capítulo seguinte pretende-se demonstrar que a constituição do Complexo
Agroindustrial da Soja (CAIS) em Mato Grosso do Sul, apesar de tardia, representou um novo
ataque do capitalismo na busca pela reprodução e acumulação do capital industrial,
considerando-se apenas a variável econômica como pressuposto de desenvolvimento local.
101
CAPÍTULO IV
103
Observando-se os dados da Tabela 6 pode-se constatar que durante todo o período
o uso de tratores e colhedeiras aumentou, respectivamente, em 720,81% e 358,45%. Por outro
lado, a quantidade de mão-de-obra utilizada aumentou, no mesmo período, apenas em
13,39%. Dessa forma, a modernização da agricultura em Mato Grosso do Sul, analisada sob a
ótica do uso e da intensificação de tratores e colhedeiras, substituiu a utilização de mão-de-
obra desde o plantio até à colheita. Observa-se ainda entre o início e o fim do período que o
consumo de óleo diesel, importante insumo utilizado como combustível nas máquinas,
equipamentos e transporte de pessoal e cargas, aumentou em 23,33 vezes. O número de
estabelecimentos que utilizavam fertilizantes aumentou em 12,75% e o calcário 19,89 vezes.
Além da mudança na base técnica da produção, verifica-se ainda alterações nas
relações de trabalho. Junto com a concentração do capital imobilizado a partir da aquisição de
máquinas e equipamentos, ocorre a especialização do trabalho e a divisão da mão-de-obra no
campo, pois enquanto uns colhem, outros plantam. Muitos postos de trabalho são substituídos
pela mecanização e, dependendo do tipo de cultura, como por exemplo, a soja, a relação
capital versus trabalho torna-se extremamente elevada e assimétrica.
Para Bonato et al. (1987) e Carnielli et al. (1989), a soja foi introduzida em Mato
Grosso do Sul no início dos anos 50 trazida por agricultores sulinos. Segundo informações do
IBGE, a safra de 1951/52 teve uma área cultivada de 15 hectares e rendimento médio de duas
toneladas/ha. Já a difusão da cultura em âmbito estadual é resultante da ação dos órgãos de
pesquisa e assistência técnica, bem como pelas ações das tradicionais cooperativas gaúchas
junto aos seus cooperados. Ou seja, a Cooperativa Regional Triticola Serrana Ltda.
(COOTRIJUÍ) congregou os sojicultores localizados numa linha imaginária ao norte de
Campo Grande e a Cooperativa Triticola Regional Santo Ângelo Ltda. (COTRISA) auxiliou
as atividades ao sul da atual capital do Estado.
Barros (1999), afirma que os primeiros cultivos de soja em Mato Grosso do Sul
aconteceram no final da década de 60 na região de Dourados e esta produção foi liderada pela
Colônia Agrícola Federal de Dourados e acompanhada pela Empresa Brasileira de Pesquisa
104
Agropecuária (EMBRAPA) instalada neste mesmo município. Para Michels (2004) o cultivo
da soja em Mato Grosso do Sul é recente e foi introduzido de forma sistematizada a partir dos
anos 70 sob os auspícios da modernização e tecnificação da produção. Atualmente, a soja é
bastante cultivada no cerrado, pois apesar de apresentar um solo de baixa fertilidade, os
avanços tecnológicos viabilizaram a sua produção em larga escala.
A partir da década de 90, no ano safra 1990/91 a área de plantio da soja em Mato
Grosso do Sul já ultrapassava um milhão de hectares. Deste ano safra até a colheita 2004/05 a
área média de plantio esteve em 1.180.700 ha, podendo ser verificada uma tendência de
expansão desta área de plantio a partir do início deste século. Em relação ao total do país, a
área de plantio da soja em Mato Grosso do Sul no período do ano safra 1990/91 ao ano safra
2004/05 representou, em média, 8,63%. O tamanho médio total da área de plantio da soja no
país, no período de 1990 a 2005 é de 13.874.786 ha, chegando no ano safra de 2004/05 a uma
área de plantio de 23,14 milhões de hectares. O Estado do Mato Grosso é o detentor da maior
área de plantio de soja do Brasil, chegando no ano safra de 2004/05 a uma área de 6.024.100
ha, seguido do Rio Grande do Sul com 4.090.100 ha, do Paraná com 4.081.500 ha, Goiás com
2.662.000 ha e, em 5º lugar, pelo Mato Grosso Sul, com uma área de plantio de 2.030.800 ha.
Pode-se ainda verificar que a área de plantio da soja em Mato Grosso do Sul supera a barreira
dos 2.000.000 de hectares no ano safra de 2004/2005 (Gráfico 4).
2.500,0
Ár ea em mil hectares
2.000,0
1.500,0
1.000,0
500,0
-
0
1
5
00
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19
19
19
19
19
19
19
20
20
20
20
20
19
Ano
60.000,0
50.000,0
40.000,0
30.000,0
20.000,0
10.000,0
- 51
1
4
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/9
/9
/9
/9
/9
/9
/9
/9
/0
/0
/0
/0
/0
/0
90
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01
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03
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19
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19
19
19
19
19
19
20
20
20
20
20
Ano Safra
Pode-se confirmar a relação entre a área destinada para plantio da soja e a área
ocupada pelos principais grãos cultivados no país pela quantidade de sementes de arroz,
algodão, feijão, milho e trigo produzidas quando comparadas à produção de sementes de soja.
Segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Sementes (ABRASEM), no período de
1990 a 2002 foram produzidas 19.334.000 toneladas de sementes de arroz, algodão, feijão,
milho, trigo e, inclusive, de soja. O total da produção de soja neste mesmo período de análise
chegou a 11.484.000 toneladas, representando 59,40% do total de sementes produzidas no
país nos últimos treze anos (Tabela 7).
106
TABELA 7: PRODUÇÃO DE SEMENTES DAS PRINCIPAIS CULTURAS
BRASILEIRAS EM MIL TONELADAS – 1990-2002.
Ano Algodão Arroz Feijão Milho Soja Trigo Total Soja/Total
1990 41 117 29 157 967 524 1.835 52,73%
1991 40 136 30 144 897 377 1.622 55,28%
1992 30 160 24 133 820 329 1.496 54,80%
1993 27 132 17 144 937 272 1.529 61,26%
1994 24 181 29 138 1.128 267 1.768 63,83%
1995 25 164 25 129 867 232 1.442 60,12%
1996 13 96 14 169 743 219 1.255 59,19%
1997 8 123 23 166 911 246 1.476 61,71%
1998 8 97 20 148 805 187 1.264 63,67%
1999 13 129 24 170 962 211 1.509 63,74%
2000 15 163 14 177 795 212 1.376 57,78%
2001 10 110 11 172 824 196 1.323 62,28%
2002 10 84 15 233 829 270 1.439 57,58%
TOTAL 263 1.691 274 2.078 11.484 3.543 19.334 59,40%
Fonte: ABRASEM – Associação Brasileira dos Produtores de Sementes (www.abrasem.com.br).
Elaboração: Secretaria de Política Agrícola / MAPA.
5
A semente básica é derivada da multiplicação da semente genética (produzida pelo melhorador de plantas que tem a responsabilidade de
controlar e manter as suas características de pureza); a semente certificada, produzida em campo específico, é resultado da multiplicação da
107
1.800.000
1.600.000
1.400.000
Quantidade
1.200.000
1.000.000
800.000
600.000
400.000
200.000
0
1
2
/9
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/9
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/0
/0
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91
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94
95
96
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99
00
01
19
19
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19
19
19
19
19
19
19
20
20
Ano Safra
Produção de Sementes
semente básica; a semente fiscalizada é decorrente da multiplicação das sementes básica ou certificada, de acordo com as especificações de
cada espécie.
108
1959/60, 1969/70, 1979/80 e 1989/90 foi de 99,95%. Ou seja, a expansão da área plantada
ocorreu concomitantemente e nas mesmas proporções que o crescimento da produção. Essa
rápida evolução teve como esteio a modernização da agricultura e a partir desta a
consolidação das relações entre agricultura-indústria. Neste primeiro momento da reprodução
do capital a soja impulsionou o consumo de máquinas, equipamentos e insumos modernos
produzidos a montante das grandes propriedades.
É no sul de Mato Grosso do Sul que a soja tem a sua origem confirmada no
Estado. O cultivo do grão iniciou-se nos municípios de Dourados, Ponta Porã, Maracaju,
Fátima do Sul e Amambai. Nos anos de 1977-78 os municípios de Dourados e Ponta Porã
apresentaram os melhores resultados, ambos com área colhida maior que 100.000 hectares. É
também a partir do ano safra agrícola de 1977-78 que as lavouras começam a receber
financiamentos de bancos comerciais e novas linhas de crédito. No caso da soja (grãos e
sementes), esta lavoura é também beneficiada com a sua inclusão no Programa de Garantia da
Atividade Agropecuária (PROAGRO).
Na década de 80, a soja consolidou-se como a cultura predominante nestes
municípios, tendo uma área média colhida estabilizada em 100.000 hectares em cada um
deles. Nesta década a soja esteve presente em 90% dos municípios de Mato Grosso do Sul.
Segundo informações do IBGE, os maiores municípios produtores de soja no
Estado são: Chapadão do Sul, Dourados, Maracaju (maior produtor no ano-safra de 2003-04),
Sidrolândia, Ponta Porã e São Gabriel do Oeste, maior produtor do ano-safra de 1989-90.
Nestas localidades a produção de soja em grãos informada pelo IBGE e correspondente às
safras de 1989-90 e 2003-04 foi, respectivamente, 173-240; 210-407; 147-414; 59-205; 221-
335; e 243-342 mil toneladas. Entre os anos-safras de 1989-90 e 2003-04 o município de
Sidrolândia apresentou a maior variação na produção, ou seja, um crescimento de 247,46%.
O cultivo da soja está associado a médias e grandes propriedades, característica de
qualquer monocultura . Em Mato Grosso do Sul o cultivo pode ser observado em áreas
contínuas ao longo das rodovias do sul do Estado, ligando Rio Brilhante até Ponta Porã e, ao
norte, em quase toda a extensão de terra dos chapadões de São Gabriel do Oeste, rio Corrente
e das Emas.
Na década de 80 o aumento da produção de soja esteve condicionado aos
seguintes fatores: a) incorporação de novas áreas de plantio; b) incremento da produtividade
em decorrência dos avanços em pesquisa, mecanização e assistência técnica. Os investimentos
estaduais em pesquisa foram realizados pela Empresa de Pesquisa e Assistência Técnica e
109
Extensão Rural de Mato Grosso do Sul (EMPAER-MS). A EMBRAPA/Centro Nacional de
Pesquisa da Soja (CNPSo), por intermédio da EMBRAPA-UEPAE Dourados, também
concentrou investimentos federais em Mato Grosso do Sul, seja com recursos próprios ou a
partir de convênios firmados com empresas privadas como a SOCEPPAR-Agro-Industrial e,
na década de 90, a Exportadora Bataguassu S/A.
3.500
3.000
Produtividade em kg/ha
2.500
2.000
1.500
1.000
500
-
0
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5
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/0
/0
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20
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19
Ano
MS BRASIL
4.500,0
4.000,0
Produção em Mil Toneladas
3.500,0
3.000,0
2.500,0
2.000,0
1.500,0
1.000,0
500,0
-
20 0
1
19 /99
5
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/9
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/0
/0
/0
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03
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19
19
19
19
19
20
20
20
20
Ano
111
mil toneladas. Vale lembrar que ao longo da década de 90 os seis municípios acima citados
representaram, em média, 50% do total da produção estadual (Tabela 8).
TABELA 8: PRODUÇÃO DE SOJA NOS MAIORES MUNICÍPIOS PRODUTORES
DE MATO GROSSO DO SUL – 1990-2000 (mil toneladas)
SAFRA/MUNICÍPIO Chapadão do Sul Dourados Maracaju Sidrolândia São Gabriel Ponta Porã
1990-91 204 186 146 63 221 199
1991-92 204 170 124 60 277 138
1992-93 216 215 152 109 257 185
1993-94 217 231 171 90 244 271
1994-95 179 270 200 63 187 231
1995-96 168 230 108 63 283 168
1996-97 182 240 126 70 290 187
1997-98 216 179 178 88 283 178
1998-99 216 275 216 103 297 257
1999-2000 230 213 171 163 277 228
TOTAIS 2032 2209 1592 872 2616 2042
Fonte: IBGE/CONAB.
Corrobora-se com Michels (2004) quando este afirma que a soja está migrando
para as regiões centro-norte e leste de Mato Grosso do Sul e que as principais regiões
produtoras no ano de 2000 foram as áreas localizadas no sudeste, centro-norte e leste.
Vale ressaltar que um volume expressivo da produção é escoado diretamente da
propriedade rural para os portos e para as indústrias esmagadoras. Porém, segundo Michels
(2004), o Estado de Mato Grosso do Sul possui uma capacidade instalada de armazenamento
estimada em 4,5 milhões de toneladas. Os armazéns públicos participam com 6,65% da
capacidade instalada, a iniciativa privada com 80,03% e as cooperativas com 13,31% da do
total máximo de estocagem. A região sul do Estado (microrregiões de Dourados e Iguatemi)
com 42,6% da capacidade de armazenagem do Estado e a região norte/nordeste
(microrregiões de Alto Taquari e Cassilândia) com 33,7% concentram em 76,3% toda a
capacidade ofertada de estoque.
Em termos absolutos, Mato Grosso do Sul possui 632 armazéns cadastrados pela
CONAB representando uma capacidade total de armazenamento de 4.857.449 toneladas de
grãos, sendo 365 unidades para armazenamento a granel com uma capacidade para estocar
4.050.643 toneladas e 267 unidades para armazenamento convencional (em sacas) com
capacidade de 806.806 toneladas. Os armazéns credenciados somam 46 unidades com
capacidade total de armazenamento de 723.523 toneladas de grãos, sendo 29 armazéns
graneleiros com uma capacidade para estocar 610.207 toneladas e 17 unidades para
armazenamento convencional com capacidade de 113.316 toneladas de grãos. A capacidade
112
total de armazenamento6 (armazéns cadastrados e credenciados) é de 5.580.972 toneladas,
representada por 678 unidades.
Já as agroindústrias esmagadoras, localizadas a jusante de produção de soja,
começaram a ser instaladas em Mato Grosso do Sul a partir da segunda metade da década de
80. Todavia, boa parte do fluxo de produtos primários produzidos no Estado era destinada às
pequenas agroindústrias localizadas no Sudeste. Deve-se partir do pressuposto que a
internalização das indústrias de bens de capital voltadas para a agricultura (D1 da agricultura)
é a condição sine qua non para a definição do CAI e ponto de decolagem deste estudo. Neste
sentido, e só neste, pode-se afirmar que o Complexo Agroindustrial da Soja (CAIS) em Mato
Grosso do Sul já poderia ser concebido a partir das relações de interdependência entre
territórios distantes, mas reticulados e articulados para frente e para trás da matéria-prima
principal, a soja, muito antes da primeira agroindústria a ser instalada no Estado em 1973.
Segundo Thompson (1979) apud Oliveira (2003), no ano de 1977 o país já
possuía uma capacidade industrial instalada pronta para esmagar 12,2 milhões de toneladas
por ano e unidades individuais capazes de esmagar 1.000 toneladas/dia, cada uma. Esta
pungência agroindustrial foi precedida por medidas governamentais, adotadas para garantir a
produção interna e a exportação de farelo e óleo de soja: a) no final da década de 60 o
governo federal criou um imposto adicional, fixando uma alíquota de 12,5% sobre as
exportações de soja, enquanto a alíquota sobre as vendas externas de farelo foi de 5% e para
as vendas no mercado interno a alíquota era zero; b) taxas de juros subsidiadas para aquisição
de máquinas esmagadoras de grãos; c) a divulgação da Resolução nº. 674/68 permitindo
exclusivamente aos exportadores de farelo e óleo de soja receberem um financiamento, com
taxas de juros também subsidiadas, equivalente a um certo percentual das exportações
registradas no ano imediatamente anterior; d) concessão de subsídio adicional aos
exportadores de farelo e óleo de soja com isenção de 30% na alíquota do imposto de renda
sobre as exportações; e) em 1974 o governo federal proibiu a exportação de soja em grãos,
permitindo a venda externa apenas para os excedentes resultantes da incapacidade de
esmagamento instalada no país. Para Müller (1989) apud Oliveira (2003) a agroindústria
converte-se no principal eixo da reprodução e acumulação capitalista em virtude da
obrigatoriedade da industrialização dos excedentes agrícolas, da expansão no consumo de
6
Os armazéns credenciados são todos aqueles que possuem documentação necessária para estarem aptos a receberem produtos do Governo
Federal. Já os armazéns cadastrados pela CONAB são todos aqueles aqueles que possuem algum tipo de irregularidade na documentação e
aguardam autorização do Governo Federal para o credenciamento.
113
óleos de soja e margarinas (gorduras vegetais) e da produção de rações para alimentar aves e
gados.
115
passaram a concorrer pela compra da matéria-prima e pela venda de óleo refinado. A
proximidade da COPAZA com o local de produção da matéria-prima aumentava as chances
desta esmagadora frente à forte competitividade oligopolística do setor. A instalação de
unidade agroindustrial aliada à construção de silos na região de Dourados parecia, a priori,
uma alternativa viável para fazer frente aos concorrentes. No entanto, o
superdimensionamento no armazenamento de grãos incompatível com o potencial produtivo
da região acarretou elevação nos preços dos grãos de soja, inviabilizou a inversão dos seus
investimentos e comprometeu o pagamento de seus empréstimos e financiamentos junto aos
bancos. A COPAZA entrou em concordata e foi obrigada a vender suas instalações (unidade
agroindustrial e silos).
Em 1988 a CEVAL implanta em Campo Grande uma unidade esmagadora e
refinadora capaz de esmagar 240 mil toneladas de soja/ano e refinar 150 toneladas/dia de óleo
bruto. Para tanto, foram investidos aproximadamente US$ 57 milhões na transferência das
máquinas da unidade esmagadora de São Miguel D‟Oeste-SC e da unidade refinadora de óleo
de Rio Grande-RS. Em 1991, em decorrência dos resultados positivos desta unidade
esmagadora e refinadora em Campo Grande, a CEVAL ampliou a capacidade refinadora para
280 toneladas/dia de óleo bruto.
Seguindo a estratégia da CEVAL pela ocupação do espaço em função da
proximidade com a produção da matéria-prima principal, a SADIA, por intermédio da
FRIGOBRRÁS (Cia. Brasileira de Frigoríficos), empresa do grupo, arrendou em 1991 e
depois comprou a COPAZA de Campo Grande em 1993. Com o arrendamento e a compra da
COPAZA de Campo Grande, o Grupo Sadia aumentou a sua capacidade de esmagamento e
refino de óleo bruto, alcançando, respectivamente, 1,68 milhão de toneladas/ano e 230 mil
toneladas/ano.
Em 1988 a SOCEPPAR (Sociedade Cerealista Exportadora de Produtos
Paranaenses), com respaldo na Lei Estadual nº. 701, de 06 de março de 1987, solicitou ao
Governo do Estado subsídios (isenção de ICMS) para instalar no município Bataguassu uma
unidade agroindustrial para esmagamento de grãos de soja e ao mesmo tempo implementar,
no Sudeste do Estado, região de forte tradição pecuária, um sistema de fomento à cultura de
soja. O projeto de fomento não consolidou-se, respondendo apenas por uma produção de soja
em torno de 10% da capacidade de esmagamento da unidade agroindustrial, obrigando a
empresa investir US$ 1,5 milhão na construção de armazéns nos municípios de Nova
Andradina e Angélica. Por outro lado, a esmagadora de soja da SOCEPPAR implantada no
116
município de Bataguassu em 1990, denominada de Agroindustrial Exportadora Bataguassu
Ltda., com capital inicial investido próximo a US$ 6,7 milhões, continua operando e
atualmente tem capacidade para esmagar 1.600 toneladas/dia ou 480.000 toneladas/ano,
constituindo-se numa agroindústria esmagadora de soja de grande porte. Dentre os principais
motivos que justificariam a presença da SOCEPPAR em Mato Grosso Sul pode-se destacar:
a) capacidade de esmagamento menor que a produção local; b) proximidade com São Paulo,
mercado de óleo bruto; c) subsídios a partir da isenção do ICMS (principal fator motivador).
Outras unidades agroindústrias esmagadoras de soja foram implantadas no Estado
também motivadas pela proximidade com a matéria-prima e pelos subsídios ofertados pelo
governo. Ou seja, no caso da instalação das empresas MATOSUL, FATISUL, PACAEMBU e
SOEVER em Mato Grosso do Sul deve-se considerar o binômio Soja-ICMS como
determinante na fixação destas esmagadoras em Três Lagoas, Dourados e Fátima do Sul. É
mister afirmar que as agroindústrias MATOSUL, FATISUL e SOEVER foram
implementadas com financiamentos e incentivos governamentais por serem constituídas por
capital local.
A indústria de óleos PACAEMBU, implantada em 1973 no município de Fátima
do Sul, foi pioneira no esmagamento de soja em Mato Grosso do Sul. Em 1986, com o
advento da Lei Estadual nº. 440, de março de 1984, solicitou incentivos de 100% da sua
capacidade de esmagamento. Com a aquisição de um novo maquinário em 1987, associado
aos equipamentos tecnologicamente superados, em 1988, ou seja, no auge das exportações de
soja em grãos, a capacidade produtiva foi redimensionada para 180 mil toneladas/ano. Apesar
desta reorganização do processo produtivo a PACAEMBU ainda operava com taxas de
ociosidade de 50%, reflexo da falta de capital de giro (ainda que pese os pródigos incentivos
concedidos pelo Governo do Estado na forma de isenção do ICMS, chegando a 67%),
incapacidade de armazenamento e uma fraca distribuição para compra de grãos capaz de
concorrer com os grupos mais sólidos, como SOCEPPAR, CARGILL, CEVAL, SADIA, etc.
No ano de 1990 a agroindústria esmagadora entra em concordata e passa a operar em 1991
sob o comando arrendatário da SOEVER, que na época pagou a quantia de US$ 700 mil para
esmagar 500 toneladas de soja por dia durante dois anos. O projeto não alcançou o resultado
esperado em decorrência dos mesmos motivos que impediram a permanência da
PACAEMBU no mercado de farelo e óleo bruto, ou seja, insuficiência de capital de giro e
fraca distribuição espacial e suporte para aquisição de matéria-prima. Restando mais de um
ano para encerrar o arrendamento, as empresas resolvem optar pelo distrato. Atualmente, a
117
PACAEMBU está arrendada pela OLVESUL, mas segundo analistas o seu funcionamento
não deverá perdurar.
Em 1988, o consócio formado pela MATOSUL e a OURO & PRATA, empresa
gaúcha do ramo de transportes, fertilizantes e que também detinha 51 mil hectares em Mato
Grosso destinados ao cultivo de soja, com investimentos na faixa de US$ 9,5 milhões deu
origem à agroindústria esmagadora chamada de MATOSUL Indústria de Óleos Vegetais
Ltda., instalada no município de Três Lagoas, com capacidade para esmagar 360 mil
toneladas/ano.
Em 1991 nasce a FATISUL (Indústria e Comércio de Óleos Vegetais Ltda.) a
partir do arrendamento da unidade agroindustrial da COPAZA de Dourados por um ano pela
quantia mensal de Cr$ 11,6 milhões corrigidos pelo IGPM. A fábrica foi adquirida
definitivamente em 1993 e possui uma capacidade para esmagar 480.000 toneladas de
soja/ano.
Considerando-se todas as unidades esmagadoras de soja localizadas em Mato
Grosso do Sul pode-se afirmar que o parque agroindustrial instalado tem capacidade para
esmagar 2.150.000 toneladas de soja por ano, ou seja, um pouco mais da metade (57,63%) de
toda a produção de soja em grãos colhida no Estado no ano safra de 2004/05 (3.730.600
toneladas). Ver Tabela 9.
TABELA 9: CAPACIDADE DE PRODUÇÃO DAS UNIDADES AGROINDUSTRIAIS
ESMAGADORAS DE SOJA LOCALIZADAS EM MATO GROSSO DO SUL
ESMAGADORAS LOCALIZAÇÃO ANO DE INSTALAÇÃO ANO DE OPERAÇÃO CAPACIDADE (T)
CEVAL Campo Grande 1988 1988 240.000
FRIGOBRÁS Campo Grande 1984 1985 230.000
MATOSUL Três Lagoas 1989 1990 360.000
SOCEPPAR Bataguassu 1989 1990 480.000
FATISUL Dourados 1989 1989 480.000
OLVESUL Ponta Porã 1984 1985 180.000
OLVESUL Fátima do Sul 1973/1988 1973/1988 180.000
Fonte: Elaboração própria.
118
refinado). Vale enfatizar que as máquinas utilizadas no esmagamento, extração e refino são
modernas, competitivas no âmbito internacional (redução expressiva dos custos de energia e
de manutenção) e de procedência nacional, confirmando a consolidação do D1 da agricultura,
a jusante da matéria-prima.
Para Oliveira (2003), em relação à localização das agroindústrias em Mato Grosso
do Sul pode-se observar uma dispersão, pois mais da metade delas não está fixada nas
principais regiões produtoras de soja do Estado.
Para a FRIGOBRÁS e CEVAL a estratégia localizacional partiu da ocupação do
espaço geográfico tendo em vista dominar o mercado consumidor de óleo refinado. Em
Campo Grande, apesar da pequena produção de soja, tem-se a possibilidade de atingir com
facilidade, via BR 163, as principais regiões produtoras de soja do Estado, ou seja, São
Gabriel do Oeste e Dourados, que juntas correspondem a 70% da produção de grãos de soja
em Mato Grosso do Sul. Por outro lado, possibilitou ainda uma proximidade com os seus
pontos de compra e armazenagem.
As estratégias da OLVESUL (Ponta Porã e Fátima do Sul), FATISUL (Dourados)
e MATOSUL (Três Lagoas) estiveram condicionadas à abundância da matéria-prima no
próprio município e/ou no seu entorno.
No caso da SOCEPPAR, a sua localização no município de Bataguassu foi
influenciada pela estrutura de armazenagem pertencente à empresa e situada na região sul do
Estado, bem como a facilidade de escoamento de grãos para atender uma outra esmagadora do
grupo localizada no município de Marechal Cândido Rondon-PR. Pode-se ainda salientar que
a concessão de subsídios atraiu a instalação da SOCEPPAR para Mato Grosso do Sul.
O Estado possui sete unidades para esmagamento do grão de soja, tendo como
produtos o farelo e o óleo (bruto e refinado). Destas sete unidades agroindustriais, duas estão
119
localizadas no município de Campo Grande (FRIGOBRÁS, ex-COPAZA e CEVAL), uma
em Dourados (FATISUL, ex-COPAZA), uma em Três Lagoas (MATOSUL), uma em Ponta
Porã (OLVESUL), uma no município de Bataguassu (SOCEPPAR) e uma funcionando no
município de Fátima do Sul (OLVESUL, antiga PACAEMBU). Ver Mapa 1.
121
exercem poder de influência e condicionam a produção de soja (matéria-prima) em territórios
periféricos aos seus gargalos e avanços tecnológicos.
Por outro lado, a jusante, as agroindústrias beneficiadoras de grãos de soja
integram o CAI, em sua grande maioria, também em escala vertical, apesar de existirem
relações de mercado no território contíguo.
Torna-se evidente que sob a ótica do CAIS os desdobramentos territorial,
econômico, social e histórico da chamada “modernização conservadora” e suas conseqüências
em Mato Grosso do Sul influenciam no processo de desenvolvimento local. Ou seja, os
eventos ocorridos a montante e a jusante da produção do grão da soja são determinados por
agentes externos.
Além disso, a produção da matéria-prima local está subordinada aos interesses do
capital industrial. O CAIS em MS não está alinhado com conceito de desenvolvimento local.
Com a agregação do território como ferramenta de articulação espacial entre os elos do CAI,
o poder da comunidade em ditar o seu próprio caminho desloca-se para o centro de expansão
do capital.
Por fim, as indústrias produtoras e fornecedoras de máquinas, equipamentos e
insumos modernos estão localizadas em territórios centrais e de expansão capitalista, mas
influenciam a produção de soja (matéria-prima) em territórios periféricos. Esta sobreposição
de escalas territorialmente desiguais influencia o desenvolvimento local de uma comunidade,
tendo em vista que a sua dinâmica está sendo forjada pelos eventos ocorridos em outros
territórios.
122
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
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