O documento discute a noção de "Gestell" de Heidegger para descrever a essência da técnica moderna. Apresenta quatro faces da Gestell: (1) a determinação técnica do ser humano, (2) a negação da continuidade com a técnica antiga, (3) a comparação com um armazém, (4) o caráter dinâmico de extrair-transformar-armazenar recursos. Conclui questionando se o avanço técnico torna o mundo melhor e mais rápido, e se quem programa as tecn
O documento discute a noção de "Gestell" de Heidegger para descrever a essência da técnica moderna. Apresenta quatro faces da Gestell: (1) a determinação técnica do ser humano, (2) a negação da continuidade com a técnica antiga, (3) a comparação com um armazém, (4) o caráter dinâmico de extrair-transformar-armazenar recursos. Conclui questionando se o avanço técnico torna o mundo melhor e mais rápido, e se quem programa as tecn
O documento discute a noção de "Gestell" de Heidegger para descrever a essência da técnica moderna. Apresenta quatro faces da Gestell: (1) a determinação técnica do ser humano, (2) a negação da continuidade com a técnica antiga, (3) a comparação com um armazém, (4) o caráter dinâmico de extrair-transformar-armazenar recursos. Conclui questionando se o avanço técnico torna o mundo melhor e mais rápido, e se quem programa as tecn
1. A precariedade da nomeao da essncia da tcnica contempornea Gestell denominao dada por Heidegger essncia da tcnica moderna. H uma precariedade na correspondncia dessa palavra como estado de coisas que ela quer significar. Plato eidos (essncia de tudo e de cada coisa) no alcanamos o que realmente Plato quis dizer (para ele) quando usou essa palavra (eidos) para descrever isso (a essncia das coisas). Plato ser dos entes em geral. Heidegger Gestell vir-a-ser reunido na essncia da tcnica. Gestell armao, composio, enquadramento, arrazoamento, imposio, instalao, dispositivo... pensa a tcnica como destino do ser. Textos que concentram a discusso: 1. A questo da tcnica (1953); 2. Das Gestell (conferncia de Bremen 1949) sem traduo para o portugus. 3. Serenidade (1955) nesse texto no faz meno ao termo.
2. Faces da Gestell Primeira indicao sobre a essncia da tcnica: insuficincia da sua determinao antropolgica e instrumental. (o homem tambm determinado (condicionado) pela tcnica) o homem encontra-se em grande medida ele prprio tecnicamente determinado em seu ser, perpetuamente convocado a aperfeioar-se tecnicamente. A tcnica atual como modo historicamente condicionante do devir de todos os entes, inclusive os humanos. Segunda indicao: negao da tendncia hegemnica de pensa a tcnica atual como mero desenvolvimento da antiga. Noo de que a Physis tem um devir autnomo e um devir a partir da ao do homem (poisis ligado originalmente ao fazer humano). Cumplicidade entre o homem e o cosmos (o lavrador que trabalha a terra e a plantao de acordo com o tempo). Entretanto, a tcnica moderna est mais ligada ao domnio (exigir, obrigao, imposio, avassalamento...) do que cumplicidade com a Natureza. Terceira indicao: Imagem do armazm, estante de livros, esqueleto sustenta e disponibiliza, que garante e facilita o acesso. Dispor ordenadamente. o homem ao seu prprio modo pea de estoque, no sentido forte dos termos estoque e pea.; projeto de disposio conjunta e ordenada dos diversos entes em escaninhos, prateleiras, gavetas compartimentos, arquivos ou arranjos de quaisquer naturezas, de modo a serem localizados e sacados to segura e imediatamente quanto possvel. Comparao do armazm com: alegoria da caverna de Plato (quem produzia a sombra seriam os almoxarifes), formigueiro... identificao da ciberntica, do ciberespao, da realidade virtual com a Caverna platnica. Quarta indicao: a terceira indicao leva quarta pensar a Gestell como dispositivo, aparelho, equipamento, mecanismo, no s isso, que tem a ver com o carter obsessivamente dinmico do armazm. O que extrado da natureza transformado, armazenado, retirado, distribudo, novamente transformado... extrair, transformar, armazenar, distribuir, converter so todos modos de desvelamento (H. 1954, p. 24), formas de vir-a-ser. A problemtica da eficincia e da exigncia de velocidade cada vez maiores nos processos tcnicos. A natureza assegurada como estoque fundamental (conf. De Bremen). Questes postas por Edgar: por que mesmo h de ser melhor um mundo mais rpido?; substituio do nomos baseado na physis por uma hipernomia tecnolgica, o novo nomos tecnolgico superior?; que velocidade queremos afinal atingir?
3. A Atualidade da Gestell Heidegger faleceu em 1976 (ciberntica, gentica, conquista espacial, energia atmica...). Opusculo: Serenidade. Novos sistemas operacionais (Windows, macOS, Linux) face disponibilizante da Gestell. Novas tecnologias, tipos de memrias, nanotecnologia, neurocincia, dispositivos (gadgets), Google Mapas, Google Glass, mquinas de busca (almoxarifes)... Janelas dentro de janelas, escaninhos dentro de escaninhos... o que no tem no Google no existe. Gestell modo atual de ser dos entes em sua totalidade. A alegoria do armazm, assim como da caverna, est ao mesmo tempo em toda parte e em lugar nenhum. Realidade virtual ou virtualidade real? Anlise da fala de dois importantes cientistas: a) Eric Dexler (nanotecnologia): alude a milhares de tecnologias que podem advir ou serem aprimoradas com essa capacidade nanotecnolgica. Quem no aderir a nanotecnologia (assim como na revoluo industrial) estar condenado pobreza e perda de soberania. No possvel ignorar esse potencial. no possvel no desenvolver, no aprimorar, no acelerar. b) Miguel Nicolelis (neurocincia): promessas no campo mdico, fabricao de exoesqueletos operados por impulsos cerebrais. Revogao de fronteiras entre o natural e o artificial (transhumanos). Heidegger em Bremen: suspeita que a natureza no pudesse ser capaz de impor nenhum real limite expanso do armazm em seu flerte com encomendas cada vez mais formidveis. a precariedade da nomeao da essncia da tcnica moderna como Gestell ambivalente: insuficiente e necessria ao pensamento contemporneo. preciso reconsiderar as noes de proximidade e distncia apresentadas por Heidegger em Bremen.
4. Concluso O desenvolvimento tcnico apresentado no artigo aponta para uma uma transformao radical em nossos parmetros de realidade e de humanidade. Para H. o estranho no o avano tecnolgico, mas o fato de o homem no estar preparado para essa transformao, de ainda no sermos capazes de, por meio do pensamento meditativo, alarmo-nos a uma adequada confrontao como que nesta poca propriamente surge no horizonte (H., 1977, p.20). O termo Gestell sugere que: o homem no est no controle do desenvolvimento tcnico as tcnicas atuais no so meras sofisticaes das antigas A abrangncia e perfil impositivo do atual projeto so tributrios de um esquecimento sem precedentes do mesmo Ser que o abriga como possibilidade e destino. preciso refletir sobre a estocagem e a disponibilizao como fins em si mesmos, sobre a acelerao contnua do armazm... Questes recorrentes postas pelo autor do artigo: Por que, afinal, h de ser melhor um mundo mais rpido? com que velocidade existencial nos contentaramos? certo o advento da hipernomia tecnolgica? Ela dar sustentao a uma nova natureza? seremos mais livres e felizes, contabilizando apenas ganhos, sem perdas mais essenciais? Questo que eu coloco: Tudo que tecnicamente possvel de se fazer deve ser feito? Por que? No deveria ser responsabilidade tambm de quem programa os almoxarifes refletir sobre o que est sendo construdo?