A cultura de consumo instaurada nas sociedades pós-industriais vêm se apresentando como um dos principais fatores de perturbação ambiental. É preciso centralizar esforços em medidas capazes de gerar transformações culturais mais profundas, não apenas contornar os problemas com normas paliativas. Sobre este ponto de vista a preservação de nossos recursos hídricos dependem de uma intervenção educativa, que ao contrário da intervenção legal, tem caráter preventivo.
Original Title
GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS. UMA QUESTÃO DE LEGISLAÇÃO OU DE EDUCAÇÃO
A cultura de consumo instaurada nas sociedades pós-industriais vêm se apresentando como um dos principais fatores de perturbação ambiental. É preciso centralizar esforços em medidas capazes de gerar transformações culturais mais profundas, não apenas contornar os problemas com normas paliativas. Sobre este ponto de vista a preservação de nossos recursos hídricos dependem de uma intervenção educativa, que ao contrário da intervenção legal, tem caráter preventivo.
A cultura de consumo instaurada nas sociedades pós-industriais vêm se apresentando como um dos principais fatores de perturbação ambiental. É preciso centralizar esforços em medidas capazes de gerar transformações culturais mais profundas, não apenas contornar os problemas com normas paliativas. Sobre este ponto de vista a preservação de nossos recursos hídricos dependem de uma intervenção educativa, que ao contrário da intervenção legal, tem caráter preventivo.
Luciana Sacramento Aguiar 1 e Odmir Andrade Aguiar 2
Resumo A cultura de consumo instaurada nas sociedades ps-industriais vm se apresentando como um dos principais fatores de perturbao ambiental. preciso centralizar esforos em medidas capazes de gerar transformaes culturais mais profundas, no apenas contornar os problemas com normas paliativas. Sobre este ponto de vista a preservao de nossos recursos hdricos dependem de uma interveno educativa, que ao contrrio da interveno legal, tem carter preventivo.
1 - INTRODUO "Destruindo onde quer que v, as coisas do Grande Esprito, o Papalagui com sua prpria fora pretende dar vida, novamente, quilo que matou, convencendo-se assim de que o Grande Esprito porque faz muitas coisas. (...) Porque est muito pobre, porque sua terra est muito triste, o Papalagui pega nas coisas, ajunta-as, feito doido que junta folhas murchas e com elas enche a sua cabana. Mas tambm por isto que nos inveja e deseja que fiquemos to pobres quanto eles. (...) O Papalagui fala muito nos pensamentos que tem, deixa que faam tanto barulho quanto crianas malcriadas. Porta-se como se as idias fossem to preciosas quanto as flores, os montes, os bosques".(SCHUERMANN, s/data)
O texto compilado por Erich Scheurmann, nos traz a viso do Chefe Samoano Tuivii sobre a civilizao ocidental, mostrando com tamanha sensibilidade e clareza, como um observador externo pode sem esforo identificar os principais defeitos da nossa cultura, e toca no cerne da questo a
1 Pontifcia Universidade Catlica do Rio de J aneiro - Dep. Educao Rua Marqus de So Vicente 225 CEP 22453-000 Rio de J aneiro - RJ Brasil olaguiar@ism.com.br 2 Universidade Federal do Rio de J aneiro - COPPE Programa de Engenharia Ocenica, bloco C, sala 203 CEP 21945-970 Rio de J aneiro - RJ Brasil olaguiar@ism.com.br
qual nos propomos refletir. Retrata bem a natureza da sociedade moderna ps- industrial na qual vivemos, onde produo e consumo impulsionam as engrenagens da vida contempornea, a qual mais preocupada em parecer do que em fazer . Relatrios da Organizao Meteorolgica Mundial prevem que no mximo de 50 anos todos os pases do mundo estaro sofrendo com o racionamento de gua ou com a contaminao de seus mananciais. Qual seria a principal ao a ser tomada para que esta previso no se confirme? Certamente aqueles que abusam dos recursos naturais falaro que esta previso pessimista do futuro ser impedida pelo desenvolvimento tecnolgico, e aqueles que se beneficiam deste exploradores alegaro que o "povo" tem necessidades prementes que devem ser atendidas imediatamente. Estas e outras afirmativas semelhantes, so vis distores da realidade que nos so apresentadas continuamente pela mdia. O desenvolvimento tecnolgico-industrial foi responsvel por mudanas significativas na qualidade de vida da maior parte das pessoas, em contraponto tambm aumentou as desigualdades sociais. verdade que a produo dos bens de consumo so voltados para o bem estar e o conforto daqueles que podem consumir, porm, esse desenvolvimento tem um custo scio-econmico e ambiental que deve ser considerado. preciso refletir at que ponto esse desenvolvimento sustentvel? At que ponto esse modelo de sociedade que estamos construindo sustentvel? O que de concreto estamos fazendo para construir uma comunidade sustentvel?
2 - O CONSUMO NA SOCIEDADE PS-INDUSTRIAL As mudanas tecnolgicas e industriais na modernidade definiram historicamente as transformaes culturais das sociedades capitalistas. A necessidade de se consumir sempre mais sem uma preocupao com o bem estar social faz com que hoje os ditos recursos renovveis, os quais garantiriam a sustentabilidade, estejam se exaurindo pela rapidez que so consumidos. O desenvolvimento experimentado pela modernidade traz a massificao dos meios de produo industrial, que aumentaram a quantidade, a velocidade e diversidade dos bens produzidos. J untamente com o consumo de bens o consumo de gua teve seu crescimento aumentado a partir da dcada de 70, na qual as relaes capitalistas entre produo e consumo se intensificaram. Nosso cotidiano foi invadido pela tecnologia eletrnica de massa e individual, saturando com informaes, diverso e servios a experincia cotidiana.(FERREIRA, 1980)
O mundo hoje pura esttica, a sociedade se divide em grupos que comungam de uma ideologia semelhante e com interesses comuns, porm sempre relacionados pela forma e pela maneira que circulam na sociedade de consumo. O consumo torna-se cada dia mais personalizado "somos o que e quanto consumimos". Os valores passam a ser calcados no prazer de usar bens e servios, o que reina no mais a coletividade e sim a diversidade e a heterogeneidade. A presso econmica, social e cultural realizada pela cultura de consumo mobiliza as energias da massa, cada vez mais em direo a realizao dos projetos pessoais, causando a fragmentao de um projeto poltico maior. Esta perda da conscincia de coletividade que leva os empresrios a despejarem resduos industriais sem tratamento nos rios, do mesmo modo que moradores de comunidades carentes atiram seus resduos domsticos em crregos e ribeires. Frente a esta realidade as aes governamentais direcionam-se na dimenso normativa, num esforo muitas vezes intil, para tentar controlar e inverter a demanda da destruio ambiental. evidente que as investidas em legislaes reguladoras ou punitivas solitrias, em nada afetam aqueles que degradam e desperdiam nossos recursos naturais; tanto falando do macro consumidor (grandes corporaes) quanto do micro (populao em geral). A fragilidade do nosso legislativo, que submete-se muitas vezes as presses econmicas, comprometendo e distorcendo as reais necessidades sociais, geram leis confusas e incompletas, mascarando na complexidade legal a inviabilidade de execuo. Como preencher ento as lacunas deixadas at agora? Como conciliar desenvolvimento e preservao dos recursos naturais no renovveis? Voltando aos primrdios da histria da humanidade, observamos que os caminhos tomados pelos diferentes povos em direo ao desenvolvimento foram delineados pelas possibilidades de cada cultura; ora como determinante, ora determinada, a cultura manteve durante a histria uma ntima relao com as novas tecnologias. Sendo assim, preciso aliar s tradicionais investidas governamentais, s aes que possam transformar a cultura de consumo estabelecida em nosso tempo. Criar uma contracultura, parece ser a nica forma de garantir o desenvolvimento sustentvel. No caso da Gesto de Recursos Hdricos, a criao dos Comits de Bacias Hidrogrficas foi um grande avano para o desenvolvimento de uma conscincia coletiva a respeito da racionalizao do uso da gua, porm ainda no promove uma mudana nas atitudes daqueles que exploram de maneira desordenada nossos recursos, nem daqueles de modo intencional (ou no) contribuem para a degradao dos mananciais.
Pensar de que forma a massificao da cultura e do consumo atinge a todos ns um desafio que devemos aceitar. Nesse turbilho de descobertas tecnolgicas, no meio dessa enxurrada de produtos, da correria do dia-a-dia em busca do desenvolvimento preciso existir um espao para a reflexo, um espao que atinja um grande nmero de pessoas de todos os grupos sociais, para pesar e medir. A criao de espaos alternativos educativos deve ser vista como um investimento a longo prazo, que progressivamente iro alterando as atitudes dos cidados, tendo como principal vertente de ao a construo de uma cultura preservacionista, onde as necessidades do grupo prevaleam sobre a "equivocada necessidade" do indivduo.
3 - A EDUCAO AJUDANDO A CONSTRUIR UMA SOCIEDADE SUSTENTVEL - CONSTRUO DE UMA CONTRA-HEGEMONIA Valendo do importante papel social dos veculos educativos torna-se importante trazer para debate questes que nos leve a pensar sobre os padres atuais de qualidade de vida, assunto to em moda com a qualidade total. importante discutirmos o desenvolvimento de nossa sociedade como um processo que atenda s necessidades da qualidade de vida a qual todos tm direito. preciso discutir o impacto social e ambiental que o atual ritmo de desenvolvimento nos est impondo. um erro pensarmos que a problemtica social e ambiental est apenas ligada ao desenvolvimento tecnolgico, tambm a cultura de consumo, do "muito bom, mais melhor ainda e muito mais parece no ser suficiente" (RODRIGUES, 1996) , que contribui para essa crise . Dessa forma o problema pede tambm solues comportamentais, de mudana de valores sociais, repensar as nossas relaes com o mundo e com as pessoas que nos cercam. A discusso sobre um provvel racionamento de gua poderia levar a uma conscientizao da populao, principalmente contribuiria para que os jovens e as crianas descobrissem a importncia das aes individuais em problemas de propores mundiais, mostrando que cada um responsvel pelo todo, e como pequenas aes podem resolver grandes problemas.
...num planeta finito em termos da capacidade de suporte em relao ao consumo humano, uma sociedade marcada, principalmente, pelo individualismo egosta tem o mesmo potencial para sustentabilidade do que uma coleo de escorpies numa garrafa... (REES apud RODRIGUES, 1996)
A idia que nos traz o fragmento acima que o "estilo de vida" de nossa sociedade parece estar fadado ao colapso, j que esbarra no limite da insustentabilidade. Cabe ento, agora, apropriar-me do conceito de sociedade sustentvel para prosseguir esse trabalho. Segundo Vera Rodrigues, uma sociedade sustentvel pode ser definida como a que vive e se desenvolve integrada natureza, considerando-a um bem comum. Respeita a diversidade biolgica e socio-cultural da vida. Est centrada no pleno exerccio responsvel e conseqente da cidadania, com a distribuio eqitativa da riqueza que gera. No utiliza mais do que pode ser renovado e favorece condies dignas de vida para as geraes atuais e futuras. Nessa perspectiva cabe a escola e outras instituies, como associaes civis e comunitrias, organizaes no governamentais, proporem em sua prtica cotidiana aes que possam mobilizar toda a comunidade a resignificar seu processo de desenvolvimento. Toda comunidade ou pequeno grupo deve ser encarado como um ponto de partida. J unto com essa comunidade devemos discutir e levantar quais os seus problemas, refletir sobre como podemos trabalhar para preveni-los e solucion-los. Questionar de que forma essa comunidade est inserida e atua na sociedade, e que valores circulam nesse grupo. A possibilidade que estes agentes educativos tm de integrar a comunidade, torna-os espaos privilegiados para colocar em prtica outros modelos de organizao social, caminhando para a organizao de uma sociedade sustentvel. Trabalhar para a transformao dentro desses microssistemas certamente trar contribuies, mesmo que a longo prazo, para toda a sociedade.
4 - REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ASSOCIAO BRASILEIRA DE RECURSOS HDRICOS. Poltica e sistema nacional de gerenciamento de recursos hdricos. So Paulo: ABRH, 1997. COMISSO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMEMTO. Nosso futuro comum. Rio de J aneiro: Ed. FGV, 1991. FERREIRA, J . O que Ps-moderno. So Paulo: Ed. Brasiliense, 1980. ORGANIZACIN METEOROLGICA MUNDIAL, ORGANIZACIN DE LAS NACIONES UNIDAS PARA LA EDUCACIN, LA CIENCIA Y LA CULTURA. Hay suficiente agua en el mundo?. New York: OMM, 1997. REIGOTA, M. O que Educao ambiental. So Paulo: Ed. Brasiliense, 1984. RODRIGUES, V. Muda o mundo, Raimundo!. Braslia: WWF,1996. SCHEURMAN, E. O Papalagui. So Paulo: Ed. Marco Zero, s/data.