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Descobrindo o Budismo

1 - Descobrindo o Budismo
Index
2 – A morte e renascimento..........................................................12
3- O professor espiritual...............................................................17
4 – Apresentação do caminho.......................................................20
5-Como meditar............................................................................32
6-Introdução ao tantra...................................................................41
7- As três Jóias..............................................................................45
8-Sobre o Karma...........................................................................51
9-Estabelecendo uma prática diária..............................................56
10- Samsara e Nirvana..................................................................57
11.Como desenvolver Bodhicitta..................................................64
12-Transformar os problemas.......................................................69
13-A sabedoria do vazio...............................................................75

Estes textos surgem de uma tradução livre feita a partir do DVD “Descobrindo o
Budismo” e pretendem ser uma ajuda na iniciação aos conceitos do Budismo
por parte de todos aqueles que sentem uma necessidade de mudança nas suas
vidas ou simplesmente uma maior compreensão da ideologia Budista da vida.

Podem ser partilhados e distribuídos desde que de forma gratuita.

2 - Descobrindo o Budismo
1 – A mente e o seu potencial

Apesar dos avanços tecnológicos e científicos não sabemos muito


acerca da mente e do seu potencial. À 2.500 anos Siddhartha
Gautama viu do seu verdadeiro potencial, percebendo que a mente
não é somente o cérebro mas antes um meio para construirmos a
nossa experiência do mundo.
Porque construímos a nossa percepção da realidade por meio de
uma função da nossa mente, não só temos a capacidade de
eliminar emoções negativas e que nos trazem sofrimento como a
cólera mas também podemos evoluir conscientemente para um
estado superior de consciência, o estado de Buda. Todo o ser vivo
tem a capacidade de alcançar este estado de sabedoria e
compaixão. De facto Buda ensina-nos que assim que começamos a
entender a verdadeira natureza da nossa mente nos tornamos mais
felizes, mais serenos e capazes de lidar com os nossos problemas, o
que por sua vez nos torna mais capazes de ajudar os outros.

Motivação
(venerável Connie Miller)
O conceito da motivação no budismo é muito importante. Tome-
se como exemplo uma prenda oferecida por alguém cuja
motivação é receber algo em troca. Essa acção não poderá ser vista
como algo de muito positivo. Por outro lado, se alguém oferecer
um presente pelo simples prazer de ver a satisfação na cara de
quem recebe então essa acção irá sentir-se como uma acção muito

3 - Descobrindo o Budismo
positiva de se fazer.
Do mesmo modo, na nossa prática espiritual, a motivação, a razão
pela qual praticamos uma acção é tão importante como a acção em
si mesma.
Assim sendo, estes ensinamentos dizem-nos que por trás, ou no
início das nossas acções devemos gerar uma motivação positiva
que não se foca tanto no nosso próprio bem estar, mas antes
potenciar o desejo de trazer bem estar aos outros seres vivos e
trazer-lhes felicidade tanto quanto possível.
Neste primeiro capítulo “A mente e o seu potencial” iremos
explorar a ilimitada capacidade da nossa própria mente para trazer
felicidade tanto para nós como para outros seres vivos. Por essa
razão, mais uma vez, a nossa motivação enquanto absorvemos este
conceito é muito importante. Aproveitemos então este momento
para gerar na nossa mente um forte pensamento que nos permita
usar estes ensinamentos não só para trazer felicidade para nós mas
também para os outros à nossa volta.

Professores
(Venerável Robina Courtin – Uma Australiana que tem praticado
nos últimos 26 anos como monja na tradição Budista Tibetana. É
bem conhecida no mundo pela sua dinâmica de ensinamentos e
conhecimento profundos. Tem sido directora editorial de publicações
de sabedoria e da Mandala, uma revista Budista. Hoje em dia
Lidera um projecto de providencia suporte para a prática do
Budismo por parte de prisioneiros retidos em prisões nos Estados
Unidos e Austrália)

4 - Descobrindo o Budismo
O que é a mente? Do ponto de vista Cristão, por exemplo
atribuímos à consciência o nome de alma e esta nada tem de físico,
Do ponto de vista materialista chamamos-lhe simplesmente o
cérebro, o DNA, os Genes. Temos estes dois pontos de vista. No
Budismo não é nenhuma destas interpretações. O Budismo refere
que a mente é toda a largura do espectro que encerra as nossas
experiências, a nossa consciência, o nosso intelecto, ideias,
conceitos, sentimentos, emoções, espírito, o que quisermos
chamar-lhe, tudo isto é englobado no conceito da mente.
Um outro ponto acerca da nossa mente que difere de outros
pontos de vista religiosos é que não somos criados por uma
entidade superior, chamemos-lhe Deus ou Buda, seja o que for.
Uma outra diferença que mais uma vez difere do ponto de vista
psicológico ocidental é que não há nada no nosso carácter,
sentimentos ou emoções que tenha sido criado pela nossa mãe ou
pai. Não há nada na nossa mente que venha dos progenitores ao
contrário por exemplo do corpo que claramente carrega essa
herança genética. Portanto em termos budistas a nossa mente não
tem nada de fisico, não vem dos nossos progenitores, não vem de
Deus ou de Buda ou de outra entidade superior. Cristãos e
Muçulmanos todos apontam numa mesma direcção, sendo que
esta mostra-nos Deus como o início, a fonte de tudo. Buda diz-nos
que não, que tudo começa na nossa consciência tenha ela
começado à vinte anos ou à vinte vidas, concluindo que a nossa
consciência existe desde sempre pois não existe nada que em um
determinado momento não seja nada e no momento a seguir seja
alguma coisa.

5 - Descobrindo o Budismo
Outro ponto de vista crucial é a ideia da natureza de Buda. Todos
temos estas duvidas, perguntamos-nos quem sou eu? Qual é o meu
propósito? porque estou aqui?
Buda responde-nos que o nosso propósito é atingir o estatuto de
Buda. Traduzindo do sânscrito Buda significa aquele que está
completamente consciente, acordado. É sinonimo de uma
consciência completamente desenvolvida e assente naquilo que
chamamos qualidades positivas, e despojada das negativas. O que
o Buda nos disse é que esse estado representa o que realmente
somos, que todos possuímos a natureza de Buda.
Uma maneira simples de colocar esta questão é recorrendo a uma
bolota como analogia para a dicotomia acto-potencia. Imaginemos
uma menina que nos pergunta o o que é o objecto que tem na
mão, ao que nós respondemos que é uma bolota. E o que é uma
bolota? Para essa resposta apontamos para o carvalho e explicamos
que a bolota se vai transformar no carvalho e essa é a real natureza
da bolota, ser um carvalho em potencia. Seria então ridícula nessa
perspectiva a ideia da bolota não se transformar num carvalho. No
fundo é essa a ideia que Buda nos dá, a mente, a nossa consciência
que é indestrutível, que não é criada por um ser superior, a sua
verdadeira natureza é um Buda em potência. Uma mente
completamente desenvolvida. Essa é a atitude que devemos
desenvolver acerca de nós mesmos.
No entanto a nossa tendência é identificarmos-nos com o nosso
estado em potência, somos isto, somos aquilo, gordos, magros,
altos, magros, homem, mulher etc... Definimos-nos no fundo pela
pequena bolota o que é uma visão extremamente curta da nossa
verdadeira natureza, uma natureza em que temos por um lado

6 - Descobrindo o Budismo
completa empatia com todos os seres vivos, em que não existe
separação entre os outros e o eu e por outro lado sabedoria que em
Budismo significa Omnisciência. Muita gente poderá achar esta
ideia arrogante por considerarem que só Deus é omnisciente mas
Buda diz que toda a mente tem o potencial de se tornar
omnisciente e assim que retiramos toda a poluição da mente, toda
a ilusão e ideias pré-concebidas então nesse momento ela estará
em sincronia com a realidade.
Temos então empatia como primeira qualidade, omnisciência e
uma terceira qualidade que é a omnipotência. Esta traduz-se no
poder de fazer o que quer que seja para beneficiar todos os seres
vivos que habitam o universo. Esta é a atitude que devemos
desenvolver dentro de nós e uma vez atingida é altamente
inspiradora.

(Venerável Thubten Dhondrub é um monge Australiano com mais


de 26 anos de experiência na prática de Budismo Tibetano. Ensinou
em centros da Fundação para a preservação da tradição Mahayana
em mais de 14 países. É bem conhecido pelo seu estilo de ensino
acessível, conhecimento extenso, coração sincero e humildade
tangível).

Seja qual for a razão que nos leva a procurar o Dharma


(ensinamentos do Buda) cedo se descobre que a fonte para o
nosso sofrimento vem da nossa mente, embora existam muitas
condições externas para este aparecer, a causa principal esta na

7 - Descobrindo o Budismo
forma como a nossa mente lida com essas emoções negativas.
Conforme vamos digerindo a ideia de que a nossa mente é a fonte
do sofrimento, e também a fonte da nossa alegria, enfrentamos a
conclusão de que a melhor forma para evitar o sofrimento e a
tristeza é mudando a maneira como a nossa mente pensa. Se o
fizer-mos um pouco, ire-mos conseguir superar um pouco o nosso
sofrimento se por outro lado procedermos a uma mudança radical,
eliminando os pensamentos que nos perturbam e trazendo ao de
cima as qualidades positivas poderemos ver-nos livres do
sofrimento e desenvolver a verdadeira felicidade.
A felicidade que procuramos não é uma coisa temporária e
superficial, provavelmente não pensamos muito no tipo de
felicidade que queremos mas se fizermos essa pergunta a nós
próprios, se calhar chegamos à conclusão que a queremos
duradoura e plena. O Budismo diz que existe este fenómeno que é
a nossa mente, que não é o cérebro nem nada de físico, não tem
forma e tem a habilidade de saber, sentir e aprender com as
experiências.
A palavra saber. Podemos analisar esta palavra e descobrir que
pode ter vários significados, existem muitas maneiras de saber,
neste momento sabemos ou apreendemos as coisas de um modo
muito indirecto e superficial, na maioria dos casos por meio de
conceitos, de leituras ou porque ouvimos o que os outros dizem.
Deste modo a nossa mente está impedida de saber de uma forma
mais plena por meio de pensamentos aleatórios que causam
distúrbios e que todos temos. Podemos então imaginar do que
seria capaz a capacidade inata da mente de saber sem estes
distúrbios pelo meio. Esta seria uma experiência surpreendente.

8 - Descobrindo o Budismo
Será possível apagar estes pensamentos que causam distúrbio?
Esta é uma das grandes questões com as quais se prende o
Dharma. Talvez possamos ter pelo menos a ideia que sim pois
quando meditamos ou tentamos meditar, pelo método de colocar
a nossa mente em um objecto tal como a respiração, embora não
sendo capazes de o fazer durante muito tempo totalmente
tornando-nos unos com a respiração, ainda assim pondo algum
esforço na realização dessa tarefa o que é que acontece? Todos nós
experimentamos a sensação de que ao fazermos esse exercício
durante algum tempo, a agitação, os pensamentos negativos
baixam de intensidade. Isso mostra que essa agitação, esse
pensamentos não tem poder do seu próprio lado para controlar a
mente.
Normalmente a nossa mente comporta-se como um copo de agua
agitado pelas nossas mãos, se o pararmos de agitar o que é que
naturalmente acontece? A agua passa ao seu estado natural, pois
não é natural para a agua estar agitada, alguma coisa exterior é
responsável por essa agitação. No seu estado natural de calma a
agua possui também a habilidade de reflectir as coisas tal como
elas são. Assim, tal como a agua a nossa mente se lhe der-mos a
possibilidade através da meditação de se acalmar terá a capacidade
de reflectir melhor a realidade à nossa volta pois tal como a agua
esse é o seu estado natural.

9 - Descobrindo o Budismo
Estudantes – O que é que a mente e o seu potencial
significa para eles
(Venerável Losang Chötsok)
Entender a verdadeira natureza da mente ajudou esta monja
gradualmente durante um período de três anos a tornar-se uma
pessoa diferente, mais confiante e serena pois ajudou a reconhecer
ao longo do tempo que não somos só este invólucro externo
limitado, muitas vezes sem esperança e indefesos sobre a
influência de todas as coisas negativas que nos atropelam todos os
dias e que nos causa sofrimento.
Várias vezes abordada por pessoas acerca de ser uma monja
Budista e sobre o Budismo em geral, ficou com a ideia de que o
budismo para as pessoas se trata de uma religião pessimista,
sombria e niilista que fala acerca do sofrimento e morte.
De facto o sofrimento e a morte são temas muito presentes no
Budismo, mas abordados de uma forma absolutamente
pragmática, pois de facto essas condições estão sem sombra de
dúvida presentes na nossa realidade presente e futura. No entanto
também se fala de um caminho a percorrer para encontrar uma
solução que passa por aprender a usar o potencial da nossa mente
que é inacreditável, não no sentido de fazer levitar objectos ou
dobrar colheres mas sim de nos modificar por dentro de nos
transformar enquanto pessoas, tornar-nos pessoas mais despertas e
conscientes, no fundo atingir um estado de Buda.
Desde pequena sempre quis ajudar as pessoas, sempre reconheceu
o sofrimento nas pessoas, nos seus pais e nela própria. À medida
que cresceu o seu próprio sofrimento pelas circunstancias

10 - Descobrindo o Budismo
esmagadoras do mundo tornou-se tão grande que sentia não
conseguir ajudar ninguém e muito menos a ela própria, mas graças
ao entendimento que foi adquirindo de que possui esta natureza
fantástica, foi se libertando dessa amarras psicológicas e tem
conseguido ajudar os outros ao mesmo tempo que pensa cada vez
menos no seu próprio sofrimento.

11 - Descobrindo o Budismo
2 – A morte e renascimento

Durante o decurso das nossas vidas atarefadas raramente estamos


conscientes de que a cada momento estamos mais próximos do
momento da nossa morte. Na realidade é um assunto que nos trás
desconforto e quase nunca estamos predispostos a pensar no
assunto e no entanto a morte é uma certeza e a sua hora
desconhecida.
Buda diz-nos que a maneira mais inteligente de dar significado à
nossa vida é recordarmos que vamos morrer em vez de nos
escondermos dela.
Da mesma forma que quando nos preparamos para uma viagem de
férias fazemos os preparativos devidos, ao apontarmos num mapa
os pontos por onde vamos passar, uma lista dos bens necessários,
etc, devemos fazer o mesmo em respeito á viagem mais importante
que alguma vez faremos. Neste contexto somos inspirados pelo
Dharma a aproveitar e dar significado à nossa vida preciosa e tão
curta.

Motivação
(venerável Connie Miller)
Cada um de nós vai morrer, do mais pequeno animal ao maior, do
homem mais pobre ao mais rico. Neste aspecto somos todos
iguais e mais cedo ou mais tarde todos vamos ter que enfrentar o
sofrimento que advém desse facto. Com isto em mente e com a
ideia de que não podemos saber qual de facto irá ser a nossa ultima
acção nesta vida a prática da motivação aparece como

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especialmente importante. Devemos então gerar na nossa mente
uma motivação ou pensamento forte desejando ser capazes de dar
aos nossos momentos significado e propósito para eventualmente
podermos ajudar a libertar outros seres vivos do seu sofrimento e
trazê-los para a felicidade do discernimento.

Professores
(Sua santidade o 14º Dalai Lama Tensin Gyatsotem vivido exilado
na Indiacomo chefe de estado e chefe espiritual do povo Tibetano
desde a ocupação da Índia em 1959. Sua Santidade, prémio Nobel
da paz é um dos mais reconhecidos e amados chefes espirituais e
viajou para mais de 46 países como defensor dos direitos humanos e
paz mundial).

Sua santidade o Dalai Lama diz-nos que é necessário para o


praticante espiritual reflectir acerca da sua impermanência e
inevitabilidade da morte. A reflexão é sobre três factores
importantes que são o facto da morte ser em primeiro lugar
inevitável, em segundo imprevisível no aspecto que não sabemos
quando chegará a nossa hora, e em terceiro lugar somente a prática
espiritual poderá ser um beneficio quando essa hora chegar.
Dando um exemplo, todos nós achamos que hoje ou durante as
próximas horas estaremos vivos mas se quisermos pensar sobre o
facto de estarmos de saúde ou de não haver nenhuma condição
física alarmante neste momento ou mesmo se houver uma
condição externa como um tremor de terra podemos escapar
evitando o perigo, podemos concluir justificadamente que temos

13 - Descobrindo o Budismo
99% de hipótese de termos razão quanto a esse facto. No entanto
existe 1% de probabilidade de assim não ser, e quando se der a
hora da nossa partida a saúde que temos não conta para grande
coisa, nem os amigos nem a família e nem o próprio corpo que nos
habituamos a acarinhar terá utilidade alguma nesse caminho que
teremos que percorrer sozinhos.
Então a pergunta óbvia seguinte poderá ser o que existe depois?
Esta questão remete-nos para o renascimento e este do ponto de
vista Budista deverá ser entendido como uma continuação da
consciência mesmo depois da morte. O entendimento Budista do
renascimento depois da morte passa então pela continuidade da
consciência e esta é entendida puramente pelo princípio das causas
e condições. A questão frequente de para onde se vai quando se
morre é influenciada e determinada pelos nossos próprios Karmas
não só desta vida mas também de vidas passadas, e todos nós
temos muitos Karmas acumulados.

(Venerável Ribur Rinpoche - Nasceu no Tibete em 1923. Com a


idade de cinco anos foi reconhecido como o 13º Dalai Lama na sexta
encarnação de Sera-mae Ribur Rinpoche. Entrou na universidade
monástica Sera em Lhasa e tornou-se um Geshe aos 24 anos.
Meditou e ensinou o Dharma até 1959 altura em que sofreu a
opressão chinesa por 21 anos. Em 1980 foi-lhe permitido efectuar
pequenas actividades religiosas e ajudou a construir um novo Stupa
para Pabongka Rinpoche em Sera. Rinpoche ensina nos Estados
Unidos, Europa e Ásia).

14 - Descobrindo o Budismo
Geralmente no Ocidente são raras as pessoas que mostram
abertura para falar da impermanência e da morte pois ficam se´rias
e tristes pelo que o melhor é não falar de semelhante assunto. Tem
consciência de que irão morrer no futuro e por isso mesmo não
vale a pena pensar nisso agora.
Esta abordagem está muito errada pois é precisamente o oposto do
que se deve fazer. Não queremos estar tristes ou esmagados pelo
medo na hora da morte pelo que a altura para fazer alguma coisa
em relação a isso é enquanto estamos vivos. Se fizermos esta
preparação por via do estudo do Dharma seremos como um bom
filho que a casa retorna. Se pelo contrário não fizermos esta
preparação ou se a adiarmos indefinidamente até ao final da vida
não seremos capazes de alcançar nada.
Se quisermos saber quem fomos antes, temos que olhar para a
condição da nossa vida agora, se quisermos saber quem vamos ser
no futuro temos que analisar a condição da nossa mente agora. A
preciosa condição do renascimento humano é alcançado por via da
prática da moralidade /ética.

As vantagens da meditação sobre a morte


1- Prática perfeita do Dharma
2- Destruição de ilusões e má percepção
3- Inspiração para uma prática correcta
4- Uma vida feliz e morte sem arrependimento

15 - Descobrindo o Budismo
(Venerável Karin Valhalm - Nascida na Suécia a venerável Karin
Valhalm encontrou o Dharma no mosteiro de Kopan em 1974 onde
foi ordenada. Por mais de vinte anos tem inspirado milhares de
ocidentais com os seus ensinamentos em Kopan).

Esta consciência de que a nossa vida, a nossa experiência neste


mundo pode acabar a qualquer momento faz com que as coisa não
pareçam tão importantes, tão permanentes ou arranjadas na mossa
mente de modo a parecerem indispensáveis, pois a única coisa que
levamos connosco é a nossa consciência, a nossa mente. Será que
queremos manter a nossa mente iludida? Levar connosco
sentimentos como fúria, inveja, ressentimentos e orgulho? O
Apego que temos às coisas dá origem ao medo e não é esta
amalgama de sentimentos que queremos junto a nós na altura da
nossa hora. Todos ansiamos por uma morte calma e feliz e isso
traduz-se num estado de espírito sem apego e com compaixão.
Tal como numa viajem onde pulamos de quarto de hotel em
quarto de hotel nos encontramos num estado de impermanência,
não sentindo apego aos quartos de hotel onde ficamos hospedados
pois não os vemos como nossos. Limitamos-nos a chegar e ficar o
tempo necessário até à altura de partir, facto com o qual não temos
problemas de maior. É esse estado de espírito que precisamos de
cultivar no nosso dia-a-dia.

16 - Descobrindo o Budismo
3- O professor espiritual

Se querermos aprender alguma coisa bem, procuramos


naturalmente um professor que tenha dominado esse assunto e
assim sendo a mesma premissa deve aplicar-se à nossa vida
espiritual. Para encontrar um caminho para fora do sofrimento
devemos encontrar um guia que já o tenha conseguido e que nos
ajude a encontrar um caminho para nós próprios. Assim, encontrar
um professor espiritual é um aspecto fundamental para o caminho
budista já que o que podemos aprender a partir dos livros, embora
valioso não apresenta uma solução completa mas sim um valioso
complemento.

Professores
(Sua santidade o 14º Dalai Lama Tensin Gyatsotem vivido exilado
na Índia como chefe de estado e chefe espiritual do povo Tibetano
desde a ocupação da Índia em 1959. Sua Santidade, prémio Nobel
da paz é um dos mais reconhecidos e amados chefes espirituais e
viajou para mais de 46 países como defensor dos direitos humanos e
paz mundial).

No contexto de uma transformação espiritual que se traduza numa


mudança de estado do coração e da mente precisamos encontrar
apoio num professor experiente.
Existem dez aspectos fundamentais que necessitamos encontrar
num professor que nos permitam perceber que estamos em frente
a alguém capaz de nos guiar e fazer avançar através dos

17 - Descobrindo o Budismo
ensinamentos.

1. Alguém que tenha uma mente disciplinada, o que se refere


à qualidade da disciplina ética
2. Uma mente calma, que se refere à qualidade de alguém que
dominou os aspectos da meditação e concentração.
3. Uma mente completamente calma, que se refere à
qualidade da sabedoria de alguém que se conhece a si
próprio.
4. Necessita de ter um conhecimento que excede os
conhecimentos do próprio aluno/os seja qual for o assunto
que esteja a ser abordado.
5. O professor deve apresentar vigor e entusiasmo por ensinar
o aluno
6. Deve apresentar um vasto conhecimento e recursos dos
quais poderá retirar os exemplos, metáforas e citações que
julgue necessários para o exercício do ensino.
7. Uma profunda devoção à prática da compreensão do vazio
inerente à existência ou estado de pura consciência.
8. O professor deve ser eloquente no modo de apresentar o
Dharma com o fim de conseguir manter a motivação dos
seus alunos
9. Provavelmente a qualidade mais importante, deve ter uma
profunda compaixão pelos estudantes.
10. Deve apresentar a elasticidade necessária para manter o
seu entusiasmo na rotina do ensino.

Assim, aqueles que procuram um professor espiritual devem

18 - Descobrindo o Budismo
familiarizar-se com estas qualidades e procura-las nos professores
em quem desejem depositar a sua confiança.

19 - Descobrindo o Budismo
4 – Apresentação do caminho

O Budismo é um caminho abrangente que nos ensina a


transformar a nossa mente de um estado de sofrimento para um
estado de satisfação e alegria. O Budismo acomoda todo o tipo de
disposição mental mas contém uma precisão desconcertante ao
mostrar-nos o que deve ser tomado e o que deve ser evitado em
termos da nossa prática estica e moral diária para connosco e para
com os outros.
À 25.000 anos um principie indiano, Siddhartha Gautama decidiu
prescindir do seu reino e partir à procura de uma solução para o
sofrimento humano, e devido à sua determinação para encontrar a
liberdade suprema acabou por entender a natureza da mente
humana.

Motivação
(venerável Connie Miller)
O Buda trabalhou arduamente para atingir o resultado da
iluminação (profunda alteração interior e realização pessoal) e o
ênfase para essa iluminação foi a sua forte motivação para atingir a
liberdade e com isso beneficiar todos os seres vivos tanto quanto
possível.
Já vimos anteriormente a importância da nossa própria motivação
para atingir determinados objectivos. Assim, devemos estabelecer
na nossa própria mente uma forte motivação para conseguir seguir
este caminho com o fim de obter o mesmo tipo de iluminação tão
depressa quanto possível com o fim de também nós podermos

20 - Descobrindo o Budismo
beneficiar todos os seres vivos.

Professores
(Venerável George Churinoff é Americano e um monge ordenado na
tradição budista tibetana. Detém uma licenciatura MIT em física e
um Mestrado em estudos budistas pela universidade de Delphi tendo
estudado nas principais instituições tibetanas. È um dotado tradutor
de textos budistas e ensinado em centros FPMT pelo mundo nos
últimos 20 anos).

Os 12 feitos são apresentados como tendo sido as mesmas


actividade realizadas por todos os milhares de Budas que
apareceram neste mundo. Não quer dizer que tenham tido as
mesma vidas, mas o formato geral das suas vidas terá sido
semelhante.

Primeiro Feito: Descida de Tushita


Quando Buda ensinava no paraíso de Tushita, que é um reino
onde os devas (deuses) residem, o som da sua motivação prévia
lembrou-o que era necessário tomar o nascimento no nosso
mundo e ensinar o Dharma.
Esta determinada acção de deixar Tushita para nascer teve uma
significação especial. Foi destinada a ensinar-nos que alguém que
alcançou a iluminação não é mais um escravo do seu próprio
Karma e tem o controle das suas acções.

Segundo Feito: concepção no Ventre

21 - Descobrindo o Budismo
Buda foi concebido no ventre de sua mãe, Mayadevi (tomando a
forma de um Elefante Branco que desce de Tushita e introduz-se
no ventre imaculadamente). Pode parecer estranha este tipo de
concepção, pois sendo um ser iluminado porque é que ele não
desceu simplesmente do céu? Buda teve uma razão especial para
nascer pela via normal. Se ele tivesse nascido milagrosamente de
um lótus, por exemplo, teria sido muito impressionante e teria
atraído muitas pessoas. Contudo, Buda pensava a longo prazo nos
seus futuros discípulos que seriam inspirados pelo facto de Buda,
que praticou e realizou a iluminação, ter começado como nós. Se
ele tivesse nascido de outra forma que não humana eles teriam
pensado que nenhum ser humano ordinário poderia conseguir a
iluminação porque eles não tinham esses mesmos poderes
miraculosos. Portanto Buda foi concebido naturalmente de modo
a mostrar que os seres humanos podem realizar a realização mais
alta. Ele fez isto para instalar a confiança nos seus futuros
discípulos.

Terceiro Feito: Nascimento no jardim de Lumbini, No


presente no Nepal
Embora Buda vivesse um nascimento humano ordinário, houve
ainda algo muito especial no seu nascimento. Buda saiu do corpo
de sua mãe pelo seu lado direito.

Quarto Feito: Treinamento nas Artes, Ofícios e Ciências.


Alguns anos depois quando Buda tinha crescido um pouco, ele
teve acesso a estudos vários. Isto pode constituir um pouco de
surpresa, porque supostamente Buda já deveria estar esclarecido

22 - Descobrindo o Budismo
acerca de todos os factos, contudo, houve novamente uma razão
específica de fazer isto, que se prende com o contrariar várias
concepções erradas. Um equívoco comum seria por exemplo
pensar que Buda foi alguém que não fez mais do que meditar sem
qualquer tipo de instrução adquirida.

Quinto Feito: Matrimônio a Yashodhara, o nascimento de seu


filho Rahula e o gozo de realeza.
Buda fez isto para que os seus futuros discípulos não pensassem
que Buda ou uma pessoa esclarecida são incapazes de gostar de
qualquer prazer ou sentir uma necessidade. Outra razão para Buda
ter vivido uma vida sensual foi o facto de poder mostrar que
embora Buda tivesse acesso a todos os prazeres, ele não foi
satisfeito por esses prazeres porque ele entendeu que havia uma
forma mais alta da felicidade a ser procurada.

Sexto Feito: Renúncia de Samsara, Deixando a sua vida como


um Príncipe
Certo dia Buda deu uma volta por fora dos corredores do palácio
real onde viveu com altas paredes e quatro portas que enfrentam
cada um dos pontos cardeais.
Cada vez que passou por cada porta viu algo que lhe deu uma lição
diferente na vida. A primeira vez ele saiu pela porta oriental do
palácio e viu o sofrimento de um velho homem, descobrindo pela
primeira vez que todas as pessoas experimentam a degeneração do
corpo. De seguida ele deixou o palácio pela porta do Sul e viu uma
pessoa doente e descobriu o sofrimento que todas as pessoas em
algum momento sofrem.

23 - Descobrindo o Budismo
Na vez seguinte ele saiu pela porta ocidental e viu uma pessoa
morta e descobriu a dor da morte que todas as pessoas devem
sofrer. ele então entendeu que não importa a riqueza que se tem,
não importa quão poderoso se é, não importa quanto prazer e
gozo se tem, não há nada que se possa fazer para fugir do
sofrimento da idade, doença e morte. Ele percebeu que não havia
nenhum modo de evitar esses sofrimentos, que nem um rei não
pode comprar a felicidade. Ninguém pode lutar e derrotar essas
três espécies do sofrimento. Mas então Buda percebeu que talvez
houvesse um caminho: a prática de um caminho espiritual.
Buda entendeu isto quando ele deixou o palácio pela porta do
norte e viu um monge a mendigar. Naquele momento ele sentiu o
grande cansaço com o mundo e renunciou à vida palaciana com 29
anos de idade e deixou a sua vida real mundana à procura da
verdade.

Sétimo Feito: Prática de Austeridades e Asceticismo, e logo


Renúncia delas.
Depois de sair de casa, ele conduziu uma vida de austeridades
durante seis anos pelos bancos do rio Nirajana na Índia. Essas
austeridades não levaram à sua iluminação, mas os anos passados
fazer práticas ascéticas não foram desperdiçados porque ~essas
práticas tiveram o objectivo específico de mostrar a futuros
discípulos que Buda tinha posto à partida um grande esforço,
perseverança e diligência na realização do objectivo da iluminação.
Fazendo isto, Buda demonstrou que enquanto alguém é atado a
dinheiro, comida, roupa, e todos os prazeres da vida, a dedicação
completa à prática espiritual é impossível.

24 - Descobrindo o Budismo
No fim, Buda abandonou a prática de austeridades, aceitando uma
taça de iogurte. Em contraste com as austeridades, Buda comeu
esta comida nutritiva recuperando todo o seu esplendor físico e
saúde. Ele repôs a sua roupa em e foi à árvore bodhi em Bodh
Gaya. Buda abandonou as austeridades para mostrar aos seus
futuros seguidores que o objecto principal de prática budista ou
prática Dharmica é trabalhar com a mente. Temos de eliminar as
negatividades na nossa mente e desenvolver as qualidades
positivas de conhecimento e compreensão. Isto é muito mais
importante do que existe fora de nós. Deste modo, as austeridades
não são um objectivo em si pois sozinhas não nos, trazem a
iluminação.

Oitavo Feito: Tomando O seu lugar no Vajrasana em Bodh


Gaya, o assento em baixo da Árvore Bodhi
Depois abandonar a prática ascética, Buda foi à árvore bodhi e
jurou de ficar em baixo desta árvore até que ele conseguisse a
iluminação final. Fazendo isto, Buda pretendeu mostrar-nos que a
prática verdadeira deve estar no meio dos dois extremos, nem
práticar de demasiadas austeridades e ser demasiado indulgente. o
Buda quis mostrar-nos que temos de evitar a extrema austeridade e
demasiada indulgência: a prática verdadeira está ao meio.

Nono Feito: Vitória do líder de Maras, Papiyan


Quando Buda se sentava em baixo da árvore bodhi, Papiyan, o
líder de Maras, usou três formas relacionadas com emoções
negativas relacionadas com ignorância, desejo, e agressão para
tentar enganar Buda e leva-lo a desistir da sua perseguição da

25 - Descobrindo o Budismo
iluminação. Na primeira fraude, representando a ignorância, foi
pedido a Buda para abandonar a sua meditação e o regresso
imediato à monarquia porque o pai tinha morrido e o mau
Devadatta tinha assumido a monarquia. Isto não disturbou a
meditação do Buda. Então o Papiyan tentou criar um obstáculo
que usando o desejo utilizando para isso as suas belas filhas que
tentaram seduzir Buda.
Quando isto não disturbou a meditação do Buda, Mara então usou
o ódio e dirigiu-se a Buda rodeado de milhões de guerreiros
horrivelmente assustadores que lançavam armas no corpo do
Buda. Mas Buda não foi distraído ou enganado por esses três
venenos. Ele permaneceu imerso em compaixão e bondade e por
isso triunfou sobre esta exposição dos três venenos e foi capaz de
realizar consequentemente a iluminação.

Décimo Feito: a Obtenção da Iluminação conseguiu


meditando em baixo da árvore bodhi.
Desde que Buda desenvolveu todas as qualidades da meditação às
etapas máximas, ele foi capaz de conseguir a iluminação. Ele fez
isto para demonstrar que também podemos conseguir a
iluminação. Em verdade, um dos pontos principais da filosofia
budista inteira deve mostrar-nos que o estado de Buda não é algo
para ser encontrado fora de nós, mas algo que podemos realizar
olhando dentro de nós. Do mesmo modo que Buda Shakyamuni
conseguiu a iluminação, também podemos realizar a iluminação. E
as qualidades que alcançaremos com a iluminação não serão
diferentes daqueles Buda alcançou. Também, Buda conseguiu
eliminar todas as emoções negativas, os mesmos que logo

26 - Descobrindo o Budismo
experimentamos.

Décimo primeiro Feito: Ensino o Dharma


Buda virou a roda do dharma três vezes, simbolizando três modos
diferentes de ensinamento. O primeiro é chamado o Hinayana,
que se compõe dos ensinos em Quatro Verdades Nobres,
meditação e desenvolvimento de uma compreensão na vacuidade
de mesmo. O segundo é os ensinos Mahayana que implicam o
estudo da vacuidade de fenómenos e prática do caminho
bodhisattva. A terceira volta é o Vajrayana que implica a
compreensão que tudo não é completamente vazio, mas há
também a natureza de Buda que penetra todos os seres sensíveis.
Quando Buda viveu na Índia, a população da Índia acreditava que
por via de oferendas e rezas a um Deus, então esse Deus ficaria
feliz e concederia a libertação e a felicidade. Eles também
acreditavam que caso se procedesse contrariamente se despertaria
a ira desse Deus e seriamos castigados.
Esta ideia de um deus reactivo não pertence a uma era em
particular, mas está integrada na nossa mecânica de desejo e
agressão.
No budismo, não esperamos que a nossa felicidade ou o nosso
sofrimento venha de Buda. Não é “vendida” a ideia de que que se
agradarmos Buda, ele nos trará a felicidade e que caso contrário,
ele nos lançará no samsara ou algum reino mais baixo.
Isto pode parecer ser uma contradição que o budista não acredita
em suplicar um Deus. O Budista acredita que há deuses, há
deidades que foram criadas pela mente, mas ao contrário de outras
religiões não acredita que essas deidades tenham criado o

27 - Descobrindo o Budismo
universo. Essas deidades não podem afretar o seu Karma
individual recompensando ou punindo. Em outras palavras, O
Budista acredita em Deus mas não Deus como o criador. Por isso,
a possibilidade de felicidade ou libertação que consegue está à
altura inteiramente de si. Se praticarmos o caminho que leva à
libertação, alcançaremos o estado de Buda. Mas se não o
praticamos, então não podemos esperar conseguir a iluminação. A
escolha é inteiramente nossa. Está nas nossas mãos se queremos
encontrar a felicidade ou o sofrimento.

Décimo segundo Feito: Falecer com 83 anos de idade na


cidade de Kushingara.
Buda perguntou os seus estudantes se eles tinham alguma
pergunta final e logo estando no seu lado, na postura do leão, ele
faleceu. As suas palavras últimas foram, "Bhikshus, nunca se
esqueça: a Decadência é inerente a todas as coisas compostas ou
fenómenos compostos. Por isso, pratica diligentemente.

(Venerável Karin Valhalm - Nascida na Suécia a venerável Karin


Valhalm encontrou o Dharma no mosteiro de Kopan em 1974 onde
foi ordenada. Por mais de vinte anos tem inspirado milhares de
ocidentais com os seus ensinamentos em Kopan).

Lamrim é um termo muito comum no Budismo, sendo que lam


significa caminho e rim gradual. Passo a passo. Este modelo de
prática é muito específico do modo modo Budista tibetano do

28 - Descobrindo o Budismo
caminho. O Lamrim contém todos os ensinamentos do Buda no
Sutra.
Existem dois caminhos, o Sutra e o Tantra. O caminho do Buda
em Sutra é dividido na atitude hinayana e mahayana. A principal
diferença entre uma e outra encontra-se principalmente na atitude,
no propósito e objectivo. Na Atitude hinayana motiva cada um
para a sua própria libertação ao passo que na atitude mahayana
procura-se a libertação de todos os seres vivos, tendo assim um
objectivo mais universal.
Para isso o Budista treina-se na renúncia, bodhisattva e no modo
correcto de ver as coisas (vista correcta). Claro que para se atingir
a iluminação também temos que pratica o tantra. É importante
salientar que apesar da diferença nas atitudes estas práticas andam
sempre em conjunto como parte do lamrim.

(Venerável Robina Courtin – Uma Australiana que tem praticado


nos últimos 26 anos como monja na tradição Budista Tibetana. É
bem conhecida no mundo pela sua dinâmica de ensinamentos e
conhecimento profundos. Tem sido directora editorial de publicações
de sabedoria e da Mandala, uma revista Budista. Hoje em dia
Lidera um projecto de providencia suporte para a prática do
Budismo por parte de prisioneiros retidos em prisões nos Estados
Unidos e Austrália)

Os três estados ou “scopes” (alcance do praticante).


O Primeiro e Segundo “Scopes” representam os ensinamentos

29 - Descobrindo o Budismo
Budistas que conhecemos como a parte hinayana do caminho. O
terceiro “Scope” representa assim a parte mahayana. Os três
scopes juntos representam todas as práticas da parte mahayana
porque é sempre necessário realizar as duas primeiras partes no
sentido de alcançar a terceira, pois se formos um praticante de
mahayana não fazemos só o terceiro”scope” que é a compaixão. A
vertente da sabedoria está presente nos dois primeiros “scopes”, a
parte hinayana do caminho.
A maneira como trabalhamos a parte da sabedoria é a maneira
como nos trabalhamos e transformamos num ser diferente e
qualificado no trabalho de ajudar os outros.
Somos realmente um Buda em potência e se esta é a nossa
verdadeira natureza então precisamos de alguém que nos guie e
nos mostre como se faz.
Devemos considerar o valor desta vida que de que desfrutamos
agora e de não a tomar como garantida, a fim de aproveitar o mais
possível, de não a desperdiçar.
Da i a necessidade de meditar não só na impermanência em si mas
da impermanência da nossa pessoa em particular que deverá nos
incentivar ainda mais a não desperdiçar a vida de que dispomos
agora, de que a morte é definitiva e o nosso tempo incerto. A única
coisa que nos pode beneficiar por altura da morte é a natureza
virtuosa da nossa consciência.
Isto leva-nos à próxima contemplação que passa pela
probabilidade lógica de sofrer novamente em vidas futuras dada a
continuidade da nossa consciência, dado o facto de estarmos no
samsara, sofrendo ilusões, desilusões e portanto sofrimento, factos
pelos quais nascemos outra e outra vez.

30 - Descobrindo o Budismo
Tomar refúgio no Buda, que viveu á 2.500 anos e nos apresentou o
caminho, o Dharma em si que não é mais do que o remédio para a
cura da mente em si, e para nos transformar-mos de modo a evitar
o sofrimento no futuro será então um passo óbvio. Isto leva-nos à
essência da prática. Aprender o que fazer e o que evitar fazer
simplesmente para evitar sofrer e obter o que se pretende que é o
bem estar, pois o que está implícito no Karma é que somos
literalmente responsáveis pela nossa felicidade e sofrimento. No
segundo “scope” olhamos mais profundamente para o nosso
interior e observamos como mesmo esta vida está em consonância
com a natureza do sofrimento. Precisamos desenvolver o sentido
de urgência em despertar a nossa mente. Uma maneira de analisar
este “scope” é interpreta-lo no contexto das 4 nobres verdades.
Isto vai preparar-nos para praticar o terceiro “scope” que será o
que fazemos em relação aos outros, desenvolvendo o nosso amor e
compaixão.
Amor é o desejo que os outros sejam felizes e a compaixão pode
ser entendida na nossa vontade de que os outros não sofram.
Neste momento acarinhamos os outros pelos motivos errados,
gostamos muito de determinadas pessoas porque queremos que se
mantenham nossas amigas para que nos sintamos felizes com isso,
o nossos sentimentos pelos outros estão cheios de apegos, tal
como a nossa compaixão que é igualmente baseada em apego às
nossas próprias necessidades. Desenvolver relação desapegadas é
muito difícil na nossa cultura ocidental, porque o nosso ego é a
referência. Alcançaremos um estado de Buda quando
conseguirmos completar os três “scopes” que não são mais do que
a vertente da sabedoria e a vertente da compaixão completas.

31 - Descobrindo o Budismo
5-Como meditar

A meditação é um passo essencial para o desenvolvimento de um


percurso para o esclarecimento. Até durante o dia a dia nas nossas
vidas podemos notar que uma maior concentração permite uma
maior realização das tarefas que temos em mãos.
Sem uma mente calma, somos como uma luz de vela ao vento ou
como a superfície de um lago fustigada pelo vento. Ficamos
vulneráveis a influências negativas e sem muito poder para
progredir.
Todos os Mestres Budistas confiaram na meditação para
alcançarem realizações diversas e se olharmos para os benefícios é
fácil entender porquê, sentimos mais felicidade, com maior
equilíbrio e mais concentração. Mas a meditação é mais do que
uma maneira para sentirmos felicidade e relaxados, é um método
provado para encontrarmos a verdadeira natureza da realidade e
das nossas mentes.

Motivação
(venerável Connie Miller)
Os resultados benéficos de qualquer acção possível que realizemos
podem ser enormes ou limitados dependendo da nossa motivação
e isto é tanto verdade para a meditação como para qualquer outra
actividade. Se por exemplo a nossa motivação está centrada nas
nossas próprias preocupações e necessidades de um modo ego-
centrista então os resultados serão bastante limitados. Se por outro
lado nos focarmos em ser melhores pessoas empenhados em trazer

32 - Descobrindo o Budismo
paz e felicidade aos que se encontram à nossa volta então os
resultados provenientes deste tipo de meditação serão vastos.

Professores
(Sua santidade o 14º Dalai Lama Tensin Gyatsotem vivido exilado
na Índia como chefe de estado e chefe espiritual do povo Tibetano
desde a ocupação da Índia em 1959. Sua Santidade, prémio Nobel
da paz é um dos mais reconhecidos e amados chefes espirituais e
viajou para mais de 46 países como defensor dos direitos humanos e
paz mundial).

O que se entende por meditação? Meditação é uma disciplina em


que se cultiva uma familiaridade com determinado objecto
escolhido para a meditação. Geralmente o problema que se
apresenta normalmente nas nossas vidas diárias passa por
deixarmos que a nossa mente nos domine os pensamentos e estes
por sua vez ficam sobre a influência de emoções negativas e esta
mecânica é a principal influência dos nossos estados de mente
perpetuando o ciclo de confusão e sofrimento.
O que se pretende com a nossa prática espiritual é reverter este
ciclo para que gradualmente nos colocarmos em uma posição que
nos permita tomar controlo da actividade da nossa mente e
protege-la da influência negativa destes pensamentos e emoções.
O modo como fazemos isto é praticando uma disciplina constante
de cultivo desta familiaridade com o objecto escolhido com o
objectivo de ganhar alguma estabilidade na mente. O Objecto em
questão deverá transmitir qualidades positivas sobre o o qual

33 - Descobrindo o Budismo
dirigimos os nossos pensamentos e o tornamos familiar.
Existem duas formas de aproximação à meditação, sendo uma
delas um método analítico e o outro um método de colocação. De
certo modo estamos todos familiarizados com a prática da
meditação analítica e de colocação e assim todos os praticantes
espirituais tentam aplicar este mecanismo sobre o qual estamos
todos familiarizados numa área totalmente nova que é a espiritual,
melhorando as nossas qualidades positivas.

(Venerável Rene Feusi - É um monge ordenado na tradição Budista


tibetana com 20 anos de experiência ensinando e praticando o
Dharma. Natural de Genebra passou vários anos a estudar mo
mosteiro Nalanda no Sul de França assim como em retiros
espirituais através da Europa Índia e Nepal. O venerável Rene é
muito dotado na orientação de meditações manutenção da calma e
vacuidade).

Uma mente que permita controlar os nossos pensamentos e


emoções deve ser incrível, mesmo sem falar em realização
espiritual, só o facto de ser capaz de dizer “para” ao pensamento
quando queremos ou à emoção, ter essa capacidade de ser dono da
própria mente. Poder meditar continuamente sobre determinado
assunto sem sermos interrompidos constantemente pelas
divagações da mente. A mesma coisa é valida se por exemplo
quisermos meditar sobre a natureza das coisas, acerca de como
elas realmente existem temos de ser capazes de seguir uma

34 - Descobrindo o Budismo
corrente de pensamento até ao fim e de chegar a uma conclusão e
mantermos uma conexão com ela. Temos de ter uma mente
concentrada no assunto e seguir a análise sem sermos distraídos, e
uma vez chegados a uma conclusão, poder olhar para ela e ver o
que implica, para podermos mudar a nossa maneira de ver o
mundo.
Em vez de andarmos constantemente para cima e para baixo ao
sabor das emoções, muito contentes quando as coisas correm bem
e deprimidos quando estas correm mal, com a concentração a
nossa mente torna-se muito mais nivelada o que se traduz em
tranquilidade e paz que é muito agradável. É por isso que o esforço
colocado na concentração é tão importante. E podemos fazê-lo na
nossa vida de todos os dias sem ter para isso de nos retirarmos para
um loca isolado. Basta saber como fazê-lo e como integra-lo na
vida diária. Significa sentir menos desejo e sentir alegria com a
situação que temos. O primeiro passo passa por desejar fazer essa
meditação admitindo as suas vantagens e depois desenvolver a
determinação necessária para a praticar até conseguirmos não
perder o nosso objecto durante cada vez mais tempo, seguindo-se
naturalmente uma etapa em que conseguimos a atenção plena da
nossa mente não perdendo o foco nesse objecto e uma vez
conseguido esse objectivo, usar a introspecção para avaliar a
qualidade da nossa concentração.

Os nove estados da concentração


Estas nove etapas são um mapa do processo meditativo. As quatro
primeiras etapas, colocação contínua, colocação repetida, e

35 - Descobrindo o Budismo
colocação próxima tem a ver com o desenvolvimento da
estabilidade. As etapas cinco e a seis remetem-nos para o
desenvolvimento da clareza mental. E as três últimas etapas,
pacificação completa, um ponto e equanimidade (tranquilidade de
espírito) tem a ver com o desenvolvimento da força interior.

1-Colocação
Colocar a nossa mente na respiração é a primeira coisa que
fazemos na meditação. Este momento começa quando decidimos
libertar a mente da sua constante deambulação por pensamentos e
imaginação resultante de sonhar acordado. Pegamos assim na
nossa mente ocupada e colocamo-la nos diferentes aspectos e
sensações que resultam do acto de respirar.
Para que este processo seja bem sucedido temos que começar por
reconhecer que estamos a inicial um processo de meditativo.
“estou a colocar a minha consciência na respiração”. Neste
processo o nosso discurso interno é reduzido e a mente que
inicialmente está espalhada em diversas actividades é reunida,
focada no objecto da meditação. Para os meditadores iniciados
esta primeira etapa é onde se aprende como balançar a
concentração na respiração, reconhecer pensamentos intrusivos e
manter a postura. Assim no início de cada sessão reconhecemos o
inicio da prática o que é uma etapa muito importante uma vez que
estabelece a nossa atitude. Cada vez que reconhecemos um
pensamento intrusivo e forçamos a mente a voltar ao nosso
objecto de foco, estamos a aprender a colocação. Quanto mais
conseguirmos reunir a nossa atenção, mais forte a nossa mente se
torna, mais forte a nossa experiência se torna e mais fortes são os

36 - Descobrindo o Budismo
resultados. Sabemos que somos capazes de colocar a nossa mente
a propriamente quando podemos manter o nosso foco na
respiração por uns vinte e um ciclos sem a nossa mente divagar.

2- Colocação continua
Colocar a nossa mente na respiração regularmente é fácil agora.
Experimentamos a sensação de estar continuamente em colocação
na respiração. Quando somos distraídos, conseguimos utilizar a
colocação para trazer de volta a nossa atenção à respiração. Nesta
etapa ganhamos confiança nos motivos que nos levaram a meditar,
pois sabemos que nos irá trazer uma sensação de paz. Estamos
predispostos a deixar os pensamentos e fantasias de lado durante o
período da meditação pois reconhecemos os benefícios que dai
advém. Quando conseguimos manter o nosso foco de atenção
durante um período de 108 ciclos de respiração, podendo
momentaneamente não estar completamente focados nem
distraídos, então começamos a abordar a terceira etapa que é
conhecida como Colocação repetida.

3- Colocação repetida
A palavra Tibetana desta etapa é len, que significa recuperar,
reunir, devolver. Aprendemos como colocar a nossa mente e como
continuar colocando a nossa mente, mas ocasionalmente um
pensamento intrusivo ainda pode aparecer. nas duas primeiras
etapas isto acontece incessantemente, ao passo que na terceira
etapa acontece só ocasionalmente. A nossa atenção está a
desenvolver-se na estabilidade.
Agora somos capazes de concentrar-nos na nossa respiração, em

37 - Descobrindo o Budismo
estar presente. Quando a mente parte, é usualmente para perseguir
pequena fantasias, desde comida a melhores condições
atmosféricas a aventuras românticas. Isto é a alegria: estamos
mantendo a nossa mente tão focada, estamos tão concentrados na
respiração que a mente parte de repente. Durante este progresso, a
velocidade e eficiência com a qual recuperamos a nossa mente
aumenta. No fim desta etapa alcançamos um dos objectivos da
shamatha: a estabilidade. Somos capazes de permanecer na
respiração sem ser distraídos uma única vez. A nossa consciência é
tão astuta que podemos apanhar os pensamentos antes que que
eles ocorram.
No Tibete, esta etapa é comparada à imagem de um abutre que
voa alto no céu por cima de um animal morto. Este pássaro pode
planar um pouco mais à esquerda ou à direita, mas ele nunca perde
de vista a comida. Do mesmo modo as nossas mentes podem andar
um pouco à deriva, mas nunca sem perder o foco completo da
respiração. Isto é a estabilidade. Realizamo-la suavemente e
precisamente por meio da repetição, coerência, visão, atitude,
intenção, postura própria, e bom ambiente para a prática.

4- Colocação próxima
A quarta etapa, conhecida como colocação fechada, é marcada
pela condição de não-distracção. Estamos sempre perto da
respiração. Estamos mais relaxados. A nossa confiança é
aumentada. Agora estamos mais preocupados com a qualidade da
nossa meditação, a textura, a experiência. Como podemos tornar
as nossas mentes mais forte, mais vibrantes? Esta é a nova
prioridade.

38 - Descobrindo o Budismo
No Tibete somos ensinados que na quarta etapa podemos ser
iludidos ao ponto de pensar que realizamos a iluminação ou a alta
realização, pois as sensações de mente são muito fortes e estáveis,
havendo alegria e tranquilidade presentes. mas se ficarmos
demasiado presos à apreciação dessas sensações ficaremos
demasiado relaxados e podemos comprometer o alcance das fases
seguintes. A nossa mente é estável mas não é clara. O pássaro não
pode pousar na carne, limitando-se a voar em volta dela.
Precisamos de utilizar a consciência como pedra de afiar e focar
ainda mais a nossa atenção.

5 – Domesticação
Na quinta etapa somos capazes de apertar mais a nossa meditação
trazendo mais claridade. A domesticação é a experiência de lesu
rungwa, sendo capaz de fazer a nossa mente trabalhar. Uma
metáfora tradicional para o que experimentamos nesta etapa é o
prazer de uma abelha que recolhe néctar de uma flor. A meditação
sabe bem. É como um alívio depois de um momento de pressão.

6- Pacificação
A sexta etapa é conhecida como pacificação. Ainda estamos a
trabalhar com uma mente que é às vezes mais apertada e outras
mais solta, mas há uma claridade tremenda. Embora ainda
tenhamos de fazer muitos pequenos ajustes, não estamos
frenéticos, como poderíamos ter estado nas primeiras etapas.
Começamos a experimentar não só a harmonia natural de mente,
mas também a sua força inerente. Começamos a ver as
possibilidades do que podemos realizar com a nossa mente.

39 - Descobrindo o Budismo
7- Pacificação completa
A batalha pode estar próxima do fim, mas há ainda alguns
pequenos adversários que aparecem sobre a forma de pensamentos
subtis, na sua maior parte relacionadas com prazer. Podemos ficar
ligeiramente agarrados à sensação boa da meditação alcançado
este ponto. Há poucos ruídos de dualidade mas não podemos
simplesmente ignora-los. Na pacificação completa, não afastamos
os pensamentos como fizemos na etapa quatro. Agora seduzimo-
los, como neve que cai no fogo. A nossa claridade da mente está
tão forte que quando os pensamentos e as emoções encontram o
este calor eles naturalmente se dissolvem.

8- Um Ponto
Na oitava etapa, os restos do nosso discurso interno evaporaram-
se. Estamos completamente acordados, claros, e conhecedores do
nosso estado, porque não estamos mais distraídos. A nossa
meditação tem os atributos da perfeição, que é o que alcançamos
na nona etapa. A única diferença é que no início da meditação
ainda temos de fazer um leve esforço para apontar a nossa mente
na direcção da respiração.

9- Equanimidade
(Ânimo inalterável, sempre igual, tanto na adversidade como na
prosperidade).
Ocupamos-nos da respiração de modo fácil e espontâneo. A nossa
mente está forte, estável, clara, e jovial. Não há nenhum traço de
pensamentos. Estamos na união com o momento presente. A

40 - Descobrindo o Budismo
nossa mente é ao mesmo tempo pacífica e poderosa, como uma
montanha. Há um sentido da equanimidade.

41 - Descobrindo o Budismo
6-Introdução ao tantra

Como referido anteriormente os ensinamentos do Buda são vastos


e tem tem um grande alcance nas suas implicações. Entre os mais
profundos estão os ensinamentos relativos ao tantra baseado no
amor, compaixão e uma correcta percepção da realidade. Se
estamos cansados da realidade tal como a conhecemos e
corajosamente determinados a nos livrarmos do Samsara para o
bem de todos os seres, então a prática do tantra pode ser a solução

Motivação
(venerável Connie Miller)
O tantra está entre os ensinamentos mais esotéricos do Buda.
Como já referido anteriormente, uma motivação altruísta é
especialmente importante no caso destes ensinamentos. De facto
tal como na história que já todos ouvimos em criança em que só o
herói com o coração mais puro pode salvar a princesa também só o
praticante com a motivação mais altruísta poderá ser bem
sucedido na prática do tantra.
Buda disse que a natureza fundamental dos nossos corações e
mente é a pureza e que só temos que a procurar através dos véus
da ignorancia.

Professores
(lama Thubten Yeshe nasceu no Tibete e foi educado na
universidade monástica em Lhasa. Em 1959 escapou à opressão
chinesa e terá fundado o mosteiro Kopan no Nepal com o seu

42 - Descobrindo o Budismo
discípulo chefe Lama Zopa Rinpoche onde ensinaram Budismo aos
ocidentais. Fundara também a associação para a preservação da
tradição mahayana e viajaram pelo mundo dando a conhecer o
Dharma. Ajudou milhares de alunos praticantes e faleceu em 1984).

Todos podemos corrigir as nossas atitudes e as nossas acções. Não


pensem que a minha atitude e e acção actuais são o meu karma
anterior. Não posso fazer nada que seja má interpretação do
Karma. Não pensem que são desprovidos de poder pois o poder
existe em nós. Nós seres humanos temos o poder de mudar o
nosso estilo de vida, a nossa atitude e os nossos hábitos. Essa
capacidade podem chama-la capacidade do Buda, capacidade de
Deus, ou o que quer que quiserem chama-la. É por isso que o
Budismo é simples, um tipo de ensino universal que é perceptível
por todas as pessoas religiosas e não religiosas. Essa beleza do ser
humano ter um instrumento para transformar qualquer energia
numa coisa diferente por isso que o Budismo Tibetano utiliza
tanto método acerca de como transformar os nossos apegos e
desejos no caminho para a libertação. Um ponto de vista Budista
diz-nos que não existe um problema humano que não possa ser
travado pelo próprio ser humano. Devemos entender e encorajar o
facto de que somos capazes de travar os nossos problemas e lidar
com os nossos problemas, sendo essa atitude essencial para o
nosso crescimento e maturidade. Na maioria das vezes falta-nos o
entendimento necessário acerca da nossa capacidade, e
colocamos-nos para baixo nessa percepção.

43 - Descobrindo o Budismo
(Venerável Thubten Dhondrub é um monge Australiano com mais
de 26 anos de experiência na prática de Budismo Tibetano. Ensinou
em centros da Fundação para a preservação da tradição Mahayana
em mais de 14 países. É bem conhecido pelo seu estilo de ensino
acessível, conhecimento extenso, coração sincero e humildade
tangível).

Na tradição Budista Tibetana dá-se bastante ênfase à prática do


tantra como um modo rápido de alcançar a iluminação. Todo o
Budismo Tibetano é influenciado pela visão tântrica sendo que
nesta o professor qualificado personifica a tripla gema (Buda,
Dharma e Sangha). Deste ponto de vista é crucial encontrar o
professor certo para a alcançar o objectivo da libertação.
Precisamos alguém que saiba não só as palavras do Dharma mas
também a sua própria essência. Para um Guru ensinar o caminho
para a iluminação por via do tantra necessita de uma série de
qualidades extra.

44 - Descobrindo o Budismo
7- As três Jóias

Quando mos encontramos desconfortáveis ou alguma coisa


desagradável acontece, procuramos normalmente refúgio em
alguma coisa. Normalmente isso acontece com a comida, álcool,
drogas sexo, poder, dinheiro ou outra coisa do género mas
normalmente nenhuma destas coisas nos dá a satisfação que
procuramos durante muito tempo. Quando compreendemos
finalmente que não conseguimos encontrar essa satisfação no
samsara o desejo de encontrar um refugio verdadeiro torna-se
forte.
No Budismo tomamos refúgio nas três jóias, compostas pelo Buda,
Dharma e Sangha. O Buda é como um médico que compreende as
nossas doenças, os seus ensinamentos, o Dharma funciona como
os medicamentos que ele receita e a Sangha funciona como a
comunidade espiritual que nos ajuda a tomar esses medicamentos.

Professores
(Venerável Thubten Dhondrub é um monge Australiano com mais
de 26 anos de experiência na prática de Budismo Tibetano. Ensinou
em centros da Fundação para a preservação da tradição Mahayana
em mais de 14 países. É bem conhecido pelo seu estilo de ensino
acessível, conhecimento extenso, coração sincero e humildade
tangível).

Podemos achar que tomar refúgio não passa de uma prática ligada
exclusivamente ao Budismo mas na prática temo-lo feito a vida

45 - Descobrindo o Budismo
toda. Na realidade tendemos a procurar refúgio, consolo em
alguma coisa quando notamos que estamos a sofrer. Quando
somos muito novos o primeiro refúgio que conhecemos é a nossa
Mãe ou o nosso Pai e eles constituem um refúgio maravilhoso
enquanto somos crianças pois parecem ter uma solução para todos
os nossos problemas ou pelo menos para a maioria deles.
Ao envelhecermos, os nossos pais parecem deixar de conseguir
resolver todas as nossas aflições e tendemos a procurar outros
refúgios como o dinheiro no qual muitas pessoas depositam toda a
confiança para resolver os seus problemas e alcançarmos
felicidade, sobretudo na nossa sociedade este parece ser o
principal refúgio. Costumava ser a religião, qualquer tipo de
religião e agora é o dinheiro. A comida e o sexo são outro tipo
muito popular de refúgio nos quais costumamos depositar a ideia
de que nos vão trazer felicidade e proteger. Mais tarde
apercebemos-nos por via da experiência que todas estas coisas em
que confiamos não são a solução completa para os nossos receios,
são impermanentes enquanto refúgio. Mesmo todas estas formas
de refúgio mundanas combinadas não funcionam, não param o
nosso sofrimento e sobretudo as causas do mesmo.
Assim, ao reconhecermos que sofremos e quais as causas do nosso
sofrimento admitimos que todo o sofrimento existe por causa da
nossa ignorância, que se manifesta na percepção errada que temos
de nós mesmos e do modo como os fenómenos à nossa volta
acontecem. Este veneno na nossa mente, é como a pior das
doenças que dá origem a todas as outras doenças do foro
emocional. A única razão pela qual experimentamos a doença e a
morte tal como a conhecemos deve-se ao Karma que construímos

46 - Descobrindo o Budismo
através das nossas acções passadas e presentes. O Karma por sua
vez aparece devido às ilusões que construímos para nós e esta tem
a sua génese na ignorância. Por isso temos que encontrar o médico
perfeito. Alguém que tenha se curado a si mesmo e entenda a
natureza da nossa doença e esse médico é o Buda.
O seu remédio perfeito são os seus ensinamentos, o Dharma.
A Sangha, os seguidores do Buda e do Dharma, são como as
enfermeiras que nos orientam no modo e frequência da
administração desses medicamentos. Como pessoas normais deste
mundo, ganhamos o hábito de procurarmos a nossa felicidade fora
de nós próprios em elementos externos que desejamos
desmesuradamente e o mesmo acontece quando necessitamos de
encontrar culpados ou culpa para as nossas desilusões, e angustias
ao apontar o dedo sempre a uma causa externa.
Quando tomamos refúgio passamos a direccionar mais as coisas
para o nosso interior, reconhecendo que a fonte para o nosso
sofrimento se encontra dentro de nós e que o mesmo sucede com
a causa da nossa felicidade. Assim que interiorizamos este conceito
num determinado nível então tomamos refúgio, tornamos-nos
num ser mais interior, reconhecendo que tudo, bom ou mau está
dentro de nós e que é preciso realizar um trabalho de dentro para
fora cultivando a nossa mente. Ao nos tornarmos em seres mais
interiores, tornamos-nos praticantes da lei da causa/efeito, e
percebemos que essa é a chave para tudo.

(Sua santidade o 14º Dalai Lama Tensin Gyatso tem vivido exilado

47 - Descobrindo o Budismo
na Índia como chefe de estado e chefe espiritual do povo Tibetano
desde a ocupação da Índia em 1959. Sua Santidade, prémio Nobel
da paz é um dos mais reconhecidos e amados chefes espirituais e
viajou para mais de 46 países como defensor dos direitos humanos e
paz mundial).

Habitualmente dizemos que se há uma ameaça eminente devemos


procurar refúgio em algum sitio. De modo semelhante em termos
de prática espiritual procura-se refúgio nas três jóias da
possibilidade de um renascimento desfavorável. Quando falamos
de refugio no contexto budista devemos entender que existem
vários níveis de refúgio e diferentes tipos de refúgio. Por exemplo
a mais alta forma de refúgio será o do praticante de Mahayana
onde o refúgio que se procura é o da ameaça de ser apanhado no
ciclo da existência no samsara por um lado e do nirvana isolado
por outro. Procura-se um estado de iluminação para o bem de
todos os seres sensíveis. Procura-se refúgio do sofrimento e
emoções negativas, para tudo isto procura-se refúgio no Buda
Dharma e Sangha que personifica a transcendência do ciclo de
existência. Existe um outro nível de refúgio onde um praticante
iniciado procura refúgio somente da ameaça de renascer num
plano mais baixo da existência.
Quando pensamos num plano de existência inferior não devemos
pensar num lugar distante e no futuro, pois o que nos separa do
momento presente e de tal possibilidade de renascer num plano
inferior de existência passa simplesmente pela continuação do acto
de inspirar e expirar sendo que assim que cessar a próxima vida
estará logo ali.

48 - Descobrindo o Budismo
( Venerável Karin Valhalm - Nascida na Suécia a venerável Karin
Valhalm encontrou o Dharma no mosteiro de Kopan em 1974 onde
foi ordenada. Por mais de vinte anos tem inspirado milhares de
ocidentais com os seus ensinamentos em Kopan).

O desejo de praticar o Dharma leva à prática de procurar refúgio.


O primeiro conselho do Buda quando procuramos refúgio é
observarmos com a totalidade da mente o nosso Karma, levar-mos
em consideração as nossas acções presentes e futuras para que não
construirmos acções negativas de modo a nascer num dos
patamares mais baixos da existência. A nossa mente é a causa do
sofrimento ou felicidade, e assim muito mais importante proteger
a nossa mente, ou o nosso estado de mente (espírito) do que as
nossas posses ou o nosso corpo. O propósito da prática do Dharma
tem a ver com a extensão da compaixão pelos outros, gerando um
estado de refugio na nossa mente acordando-a com o objectivo de
ajudar os outros, e para esse objectivo confio no Buda no Dharma
e Sangha para me ajudar a desenvolver essas qualidades em mim
mesmo. Podemos obter diferentes significados para o refúgio, um
interior e outro exterior. Quando dizemos vamos para refugio
podemos também dizer que o tomamos na nossa sabedoria
interior mas sendo esta limitada e com necessidade de
desenvolvimento temos que confiar em outros com maior
sabedoria que nós próprios. Por isso procuramos confiamos no
Buda o que significa a procura de um refúgio externo (a quem o

49 - Descobrindo o Budismo
procura) para desenvolver o seu próprio refúgio interior.
Procuramos refúgio no Dharma, que é a sabedoria em si mesmo
vinda da mente do Buda, os seus ensinamentos, o entendimento
da verdade relativa absoluta, a relação causa efeito que é o Karma,
com o objectivo de ganharmos sabedoria nós próprios.
Depois temos a Sangha porque aqui encontramos a ajuda para nos
mantermos e compreendermos o caminho. Este estado mente
focado no refúgio e compaixão bloqueia a lei do renascimento
sendo assim o melhor estado de mente para nós pessoas vulgares
possuirmos na altura da nossa morte. Estar num estado de mente
de refúgio.

50 - Descobrindo o Budismo
8-Sobre o Karma

Todos queremos ser felizes. Quando acreditamos que o nosso


destino está nas mãos de Deus ou que as coisas acontecem de
forma aleatória sentimos que não temos controle sobre as nossas
vidas. No Budismo o reconhecimento da lei de causa e efeito
também conhecido como Karma é a chave fundamental para
entendermos como construímos o nosso mundo com acções do
corpo, discurso e mente. Quando entendemos o Karma
entendemos também que somos responsáveis por tudo o que
acontece na nossa vida. É reconfortante saber que o nosso futuro
está literalmente nas nossas mãos.

Professores
(Venerável Robina Courtin – Uma Australiana que tem praticado
nos últimos 26 anos como monja na tradição Budista Tibetana. É
bem conhecida no mundo pela sua dinâmica de ensinamentos e
conhecimento profundos. Tem sido directora editorial de publicações
de sabedoria e da Mandala, uma revista Budista. Hoje em dia
Lidera um projecto de providencia suporte para a prática do
Budismo por parte de prisioneiros retidos em prisões nos Estados
Unidos e Austrália).

De onde vimos? O cristianismo entre outras religiões afirmam que


vimos de Deus, a ciência diz que vimos dos nossos pais e o
Budismo afirma que vimos de momentos anteriores da nossa
própria consciência e sobre este conceito recai toda a ideia do

51 - Descobrindo o Budismo
Karma da causa e efeito. Se queremos descobrir a resposta acerca
de quem somos, porque é que somos, quem me fez, de onde
venho, porque é que a terra é como é, de onde vem todo o nosso
sofrimento. A resposta que o Budismo nos dá é o Karma. Se
fizermos a pergunta – Quem me fez como sou? O Buda responde
muito directamente que fomos nós próprios que nos fizemos. Esta
consciência que temos, não é física, não vem de deus nem de
Buda, não vem dos nossos pais (apesar do corpo ter vindo, não há
dúvidas acerca disso, herdamos as nossas características físicas dos
nossos pais e a mecânica da genética encarrega-se de nos atribuir
detalhes que são só nossos). Mas quem somos, as características da
nossa personalidade, o nosso amor, ódio, maneira de pensar,
ciúmes etc não vieram dos nossos pais. Em termos Budistas tudo
aquilo que dizemos, fazemos ou pensamos é causa para o Karma e
efeito do Karma. São o processo de constituição do Karma em si.
Tudo o que semeamos colhemos mais tarde.

Os 4 princípios do Karma

1- É definido por nós


2- Aumenta
3- Temos que praticar a acção para experimentar o resultado
4- Não desaparece. Para modifica-lo temos que o purificar

(Venerável Ribur Rinpoche nasceu no Tibete em 1923. Com a idade


de cinco anos foi reconhecido como o 13º Dalai Lama na sexta

52 - Descobrindo o Budismo
encarnação de Sera-mae Ribur Rinpoche. Entrou na universidade
monástica Sera em Lhasa e tornou-se um Geshe aos 24 anos.
Meditou e ensinou o Dharma até 1959 altura em que sofreu a
opressão chinesa por 21 anos. Em 1980 foi-lhe permitido efectuar
pequenas actividades religiosas e ajudou a construir um novo Stupa
para Pabongka Rinpoche em Sera. Rinpoche ensina nos Estados
Unidos, Europa e Ásia).

Pelas suas características o Karma diz-nos que para cada acção que
é criada, esta contém em si um efeito. Este efeito é acumulativo na
medida em que em termos de resultados será sempre maior que a
acção em si. Uma acção que não é feita, não pode ser
experimentada sendo que para existir um resultado tem que existir
a acção.
É por isto que não se deve deixar passar um dia sem o exercício da
purificação das acções negativas, dos Karmas negativos que se
tenham acumulado durante um determinado período de tempo.
Estas são as razões pelo que se aconselha que à noite se faça uma
revisão do que foi feito durante o dia, reconhecendo as acções
negativas assim como as positivas, gerando uma forte
determinação para que sejamos capazes de não repetir essas acções
negativas e assim não contribuir par ao processo de acumulação de
Karma negativo.
De modo sintetizado o que deverá ser feito tanto tempo quanto
possível é a prática da atenção das “três portas”, corpo, discurso e
mente. Quando estamos sozinhos devemos praticar a atenção
plena ao que se passa na nossa mente em cada momento para
poder perceber se esta está a divagar para pensamentos negativos e

53 - Descobrindo o Budismo
poder trazê-la para o momento presente e interromper o processo
de exploração de pensamentos negativos. Quando estamos com
outras pessoas devemos aplicar o processo de atenção plena ao
nosso discurso.

Os 4 poderes opostos

1- Refúgio
2- remorso
3- aplicação de antídotos
4- Determinação para não repetir

(Venerável Thubten Dhondrub é um monge Australiano com mais


de 26 anos de experiência na prática de Budismo Tibetano. Ensinou
em centros da Fundação para a preservação da tradição Mahayana
em mais de 14 países. É bem conhecido pelo seu estilo de ensino
acessível, conhecimento extenso, coração sincero e humildade
tangível).

Se investigarmos, qual é o ensinamento essencial do Buda? Alguns


dirão que é o ensinamento sobre a compaixão, outros estarão
convictos que se trata o ensinamento sobre a verdadeira natureza
do fenómeno do ser, sobre a sabedoria. A opinião do venerável
Thubten Dhondrub é a de que o ensinamento mais importante é o
da lei da causa e efeito. Acerca do Karma. É este na sua opinião o
ensinamento mais importante do Buda porque contém todos os

54 - Descobrindo o Budismo
outros ensinamentos. Entender a lei da causa e efeito e embebe-la
nas nossas vidas é a melhor maneira de desenvolver a atitude certa
perante os outros e a vida, o amor, compaixão e simpatia. Praticar
a lei da causalidade entendendo o modo como funciona e
dirigindo os nossos esforços para as acções e pensamento positivos
é desenvolver em paralelo uma atitude inteligente. Desenvolvemos
igualmente a renúncia ao ter em conta a lei da causa e efeito nas
nossas acções diárias momento a momento. Praticar a lei da causa
e efeito é a chave para desenvolver as qualidades para o caminho
da libertação e consciência total. Esse é o refúgio fundamental
compreender a lei da causa e efeito, desenvolver fé na sua verdade,
usar a a atenção plena nessa causalidade durante o decurso do
nosso dia a dia de modo a absorve-la. Estar consciente de de que
ao fazer seja que for, essa coisa ou é virtuosa ou não, vai produzir
sofrimento agora e no futuro ou esta acção do corpo, discurso e
mente vai produzir felicidade agora e no futuro ou não.
Necessitamos desse tipo de atenção plena misturada com
entendimento e fé na lei da causalidade. E quanto mais forte for
este laço, mais forte será a motivação interior para não encetar
acções negativas do corpo (acções) Discurso (palavras) ou mente
(intenções).

55 - Descobrindo o Budismo
9-Estabelecendo uma prática diária

Roma não se fez em um dia. Podemos dizer a mesma coisa do


esclarecimento espiritual. Este não acontece em um dia mas sim
como resultado de um esforço diário. Tal como em outra
actividade qualquer, desportiva ou de outro âmbito, a mestria é o
resultado de uma prática constante e como seria de esperar o
mesmo acontece com o desenvolvimento das qualidades mais
importantes da nossa mente.

Professores
(Venerável Sangye Khandro é Americana e é uma freira ordenada
na tradição Budista Tibetana. É uma conhecida professora na
Fundação para a preservação da tradição Mahayana à mais de vinte
anos e autora do livro best seller “How to meditate as well as
awakening the kind heart).

Uma coisa que é muito importante na prática diária é a


purificação, pois muito embora tenhamos boas intenções para com
as nossas acções no início do dia, é bem provável que a maioria de
nós como seres humanos falíveis que somos acabemos por
cometer erros, como irritar-mo nos, ou acabar por cometer alguma
acção negativa, ou falar de uma forma menos positiva. Existe algo
no entanto que podemos realizar quando nestes casos e acabamos
por acumular Karma que é a purificação.
A prática geral da purificação envolve quatro pontos, chamados os
quatro poderes;

56 - Descobrindo o Budismo
O primeiro é o poder do arrependimento que ao contrário da
culpa não é um sentimento tão emocional que nos leva a sentir mal
por uma qualquer acção negativa no sentido de acharmos que
somos horríveis, etc. O arrependimento Tem mais a ver com o
entendimento de como o Karma funciona. Realizamos acções e
estas deixam uma impressão na nossa mente até algum ponto no
futuro, altura em que determinada conjuntura abre a porta para
que determinadas causas e condições nos levem a viver alguma
experiência relacionada com essa impressão. O segundo poder é o
refúgio, sendo este uma atitude, um estado de mente que existe
por entendimento e aceitação dos ensinamentos do Buda. Envolve
assim uma renovação do nosso empenho em seguir os seus
ensinamentos, dos nossos sentimentos de compaixão e em
beneficiar os outros. O Terceiro dos poderes é o remédio que
envolve a realização de acções positivas para contrabalançar todas
aquelas que inadvertidamente acabamos por realizar ao longo da
nossa vivência(auxilio directo ao próximo por via de acções de
caridade ou através de mantras e sutras). O terceiro poder é
aquele que vem da nossa resolução ou determinação em não voltar
a realizar as mesmas acções negativas no futuro.

57 - Descobrindo o Budismo
10- Samsara e Nirvana

Pensamos normalmente que as coisas existem da maneira como


aparentam ser, que as coisas impermanentes são na realidade
permanentes e que conseguimos encontrar a felicidade
controlando o mundo externo de modo a satisfazer os nossos
desejos.
Samsara é o estado de mente agitado e permanentemente
insatisfeito e confuso em que a maioria de nós experimenta na
maioria do tempo que culmina no ciclo descontrolado de
nascimento, morte e renascimento. Tal como a Luz está para o
escuro, também o nirvana se encontra do lado oposto ao samsara e
é a definição de um estado de mente em completa paz. Não se
trata de um céu ou paraíso externos mas sim de um estado de
mente liberto de qualquer limitação e influência por parte de
emoções destrutivas.

( Venerável Karin Valhalm - Nascida na Suécia a venerável Karin


Valhalm encontrou o Dharma no mosteiro de Kopan em 1974 onde
foi ordenada. Por mais de vinte anos tem inspirado milhares de
ocidentais com os seus ensinamentos em Kopan).
samsara envolve os chamados três níveis de sofrimento. O
primeiro é o sofrimento ou a dor o que incluí todas as dores
comuns, dores físicas provenientes de doença, dores emocionais
vindas de uma separação, insatisfação, depressão ansiedade,
medos, são habitualmente o tipo de sofrimento de que estamos
conscientes no nosso dia a dia e que tentamos sobrepor. Mas o

58 - Descobrindo o Budismo
samsara contém muito mais do que isto. No segundo nível do
samsara encontramos o Sofrimento proveniente da mudança. Este
é muito mais subtil e difícil de compreender. Tem mais a ver com
o modo como os prazeres temporários que procuramos estarem
mais ligados à natureza do sofrimento devido à sua natureza volátil
e impermanente.
Todo o sofrimento penetrante é enquadrado no terceiro nível dos
três tipos de sofrimento e diz-nos que tudo o que está ligado à
natureza do nosso corpo e mente é um produto do sofrimento na
medida em que age na base dos dois primeiros.

(A professora Janice Willis é uma académica e professora do


Budismo Tibetano-Hindu na universidade wesleyan em Connecticut
Encontrou o Dharma em 1967 e tem praticado e ensinado por mais à
35 anos. Tem publicações nas áreas da psicologia Budista, mulheres
no Budismo, e o Budismo e a raça. O seu ultimo projecto é um livro
de memórias chamado “Dreaming me: An African American
woman`s spiritual journey).

Para os Budistas o samsara representa um modo de olhar par ao


mundo que esta associado com apegos, auto idolatração e o desejo
que as coisas sejam da maneira que nós queremos que elas sejam.
Esta noção de que o mundo deve ser como nós desejamos e a
vontade que temos que ele se mantenha assim está na génese das
nossas desilusões uma vez que a verdadeira natureza do mundo se
prende com a impermanência.

59 - Descobrindo o Budismo
O Buda ensinou as quatro grandes verdades. Existe sofrimento,
existe uma causa para o sofrimento, o sofrimento pode acabar e
por fim existe um caminho que leva a essa cessação. Da sua própria
experiência o Buda concluiu após ter meditado por seis anos, e
depois de ensinar por 45 anos na Índia que tinha descoberto esta
verdade; O sofrimento existe e o fim do sofrimento é possível. Se
queremos absorver a doutrina Budista como um todo, tudo o que
temos de observar são estas 4 nobres verdades.
A primeira verdade é a de que existe sofrimento. O que constitui o
sofrimento na verdade é quase tudo o que se possa imaginar, o
nascimento é sofrimento, a morte é sofrimento, envelhecer é
sofrimento, a velhice é sofrimento, dor, lamento e desgosto são
alguns exemplos.
A segunda verdade diz-nos que existe uma causa para o
sofrimento e que essa causa se enquadra nos nossos desejos
exacerbados sendo estes a causa mais palpável para este.
Desejamos uma infindável lista de quereres e de seguida queremos
que estas coisas sejam permanentes no sentido da felicidade que
nos proporcionaram na altura em que os desejamos, também pela
negativa no sentido que queremos distancia por exemplo das
coisas que não gostamos e toda esta esfera de desejos é uma
condição para o eterno movimento do samsara. Qual é a origem
deste mecanismo de desejos eternos e eterna insatisfação? A causa
é a nossa ignorância acerca da verdadeira natureza do modo como
existimos e todas as outras coisas existem. Temos a tendência para
nos querermos agarrar a coisas que pela sua natureza são
impermanentes e isso leva directamente ao sentimento de
frustração.

60 - Descobrindo o Budismo
Assim a ignorância é a causa básica do sofrimento. A parte
optimista do Budismo depois de nos mostrar vários métodos para
eliminar a causa do sofrimento, diz-nos na terceira nobre verdade
que o sofrimento pode ter um fim. Nos textos Budistas das escolas
antigas esta cessação do sofrimento tem o nome de Nirvana e nos
textos das escolas mais modernas é conhecido por iluminação (no
sentido de perfeita compreensão) sendo este o estado adquirido
pelo próprio Buda. A aquisição do estado de iluminação não nos
transporta para um sitio diferente, ou nos coloca em um corpo
diferente, e nem sequer em um mundo que não aquele que sempre
conhecemos, na realidade o que acontece é uma mudança radical
da nossa visão das coisas, sendo que largamos as amarras do
nosso eu enquanto portadores de uma existência fixa e
permanente. Mudar essa ideia preconcebida que carregamos
connosco desde o dia em que tomamos consciência de nós implica
uma vista nova do mundo e essa nova visão é o nirvana. Não se
trata de algo fora de nós, temos o potencial dentro de nós para
ver-mos as coisas dessa forma. Se a ignorância é a causa par ao
sofrimento então a sabedoria uma visão interna esclarecida das
coisas é o que fará com que o sofrimento termine. A quarta nobre
verdade diz-nos que existe um caminho para fora do sofrimento e
esse caminho fornece-nos os meios para nos aperceber-mos da
extinção dessa condição do sofrimento. Temos assim à nossa
disposição a habilidade de não só localizar a causa como também a
possibilidade de a eliminar. Tendo a habilidade para uma coisa tão
extraordinária cuja possibilidade está dentro de nós e não
confinada nas mãos de uma entidade qualquer, temos também a
responsabilidade de aprendermos e nos mantermos num caminho

61 - Descobrindo o Budismo
capaz de nos transportar até esse objectivo. Buda disse que ele
poderia apenas indicar-nos o caminho mas que temos de ser nós a
percorre-lo. No budismo salvamos-nos a nós próprios.

(Sua santidade o 14º Dalai Lama Tensin Gyatsotem vivido exilado


na Índia como chefe de estado e chefe espiritual do povo Tibetano
desde a ocupação da Índia em 1959. Sua Santidade, prémio Nobel
da paz é um dos mais reconhecidos e amados chefes espirituais e
viajou para mais de 46 países como defensor dos direitos humanos e
paz mundial).

Quando pensamos na libertação não se deve ter a noção que esta


existe num plano separado ou domínio separado. Em vez disso a
libertação deve ser vista como uma qualidade ou estado da mente.
Falamos da presença do nirvana natural, dessa qualidade de pureza
existente em todos nós. Na base dessa pureza onde todas as
aflições e obscuridades são eliminadas encontra-se o Nirvana e
essa é a verdadeira libertação (moksha). Numa análise final chega-
se à conclusão de que é a nossa ignorância e as nossas noções
preconcebidas e concepções erradas acerca da natureza da
realidade que está a raiz da nossa existência no samsara.
Se esta é a razão que estabelece a condição para a nossa existência
no samsara então isso significa que cultivando a visão interior
correcta da verdadeira realidade das coisas que começamos o
processo de desfazer as concepções erradas que temos das coisas e
iniciar o caminho para uma compreensão libertadora. Assim o

62 - Descobrindo o Budismo
conceito de samsara ou nirvana é distinguido na base de estarmos
ou não num estado de ignorância ou conhecimento.
O antídoto supremo para eliminar a ignorância que é a raiz para a
existência tal como a vivemos é a sabedoria que se apoia na
vacuidade (emptyness) sendo esta a verdadeira natureza da nossa
mente. Podemos então dizer que somos apanhados na nossa
existência no samsara pelos desejos relacionados com a nossa
ignorância na verdadeira realidade, a vacuidade pelo que do ponto
de vista do Buda isto é explicado da seguinte forma; Em todos os
fenómenos físicos existe uma continuidade ao nível das partículas
sempre presente ao nível mais subtil da nossa percepção de
continuidade (tudo aquilo que atravessa de uma condição para
outra de forma gradual sem mudanças bruscas). Quando este fluxo
interage com o Karma dos seres, sendo o Karma uma condição,
dão-se estas permutações da realidade física que tem
eventualmente um efeito real sobre o o modo como nós
experimentamos a dor e o prazer, felicidade ou sofrimento.

63 - Descobrindo o Budismo
11.Como desenvolver Bodhicitta

Sua santidade o Dalai Lama disse que a verdadeira compaixão


aparece quando sentimos uma responsabilidade /vontade em
ajudar outras pessoas quando nos apercebemos que sofrem por
esta ou aquela razão. Quanto mais nos importamos com a
felicidade de terceiros maior será a nossa sensação de bem estar.
No Budismo esta atitude de querer beneficiar os outros tanto
quanto possível é chamada de Bodhicitta, sendo o coração da
prática Budista. Todos sabemos que a atitude “olho por olho” só
torna o mundo mais cego. Buda ensinou métodos para ajudar a
transformar todos os corações, por mais magoados que estejam em
corações que acrescentem a prioridade de beneficiar os outros.
A motivação de obter o estado superior de entendimento
(enlighment) para beneficio de todos os seres desejando que
alcancem igualmente esse estado, é na realidade a mente de
Bodhicitta. Esta mente não é mais do que uma atitude que é
desenvolvida progressivamente. E o primeiro passo nesse
processo passa pelo desenvolvimento da motivação adequada

Professores
(Sua santidade o 14º Dalai Lama Tensin Gyatsotem vivido exilado
na Índia como chefe de estado e chefe espiritual do povo Tibetano
desde a ocupação da Índia em 1959. Sua Santidade, prémio Nobel
da paz é um dos mais reconhecidos e amados chefes espirituais e
viajou para mais de 46 países como defensor dos direitos humanos e

64 - Descobrindo o Budismo
paz mundial).

Uma vez entendida a natureza do sofrimento em relação à


existência deve este entendimento então ser estendido a todos os
seres e reflectir sobre o seu estado de sofrimento, cultivando de
seguida o mesmo desejo de felicidade para eles que temos em
relação a nós próprios, desta forma cultiva-se um estado de grande
compaixão.
Assim com base na compaixão que é o desejo que todos se
libertem do sofrimento, e com o amor e compaixão que é o desejo
de que todos desfrutem da felicidade cultiva-se um sentido de
responsabilidade que vai além do desejo e uma motivação que leve
cada um de nós a agir realmente no sentido de ajudar os outros em
relação ao seu sofrimento. E este tipo de sentido extraordinário de
responsabilidade levará eventualmente à realização de Bodhicitta
que é a intenção altruísta de alcançar o estado de Budahood para
beneficio de todos e o eixo principal do caminho Mahayana. É
assim este factor Bodhicitta que determina quem está dentro ou
fora da dobra do praticante Bodhisattva. Se nos faltar esta intenção
altruísta chamada Bodhicitta as outras práticas que possamos ter,
sejam elas a o entendimento directo da vacuidade, ou até mesmo o
nirvana, nenhuma delas se tornam condutas de um Bodhisattva.
Quando se alcança a qualidade de Bodhicitta a mais simples
actividade de virtude como por exemplo alimentar formigas que
pode ser visto como insignificante à primeira vista se transforma
em condição para o alcance do entendimento total. (enlightment).
De certa forma pode ser visto como um elixir que transforma
metais simples em ouro.

65 - Descobrindo o Budismo
(Ribur Rinpoche nasceu no Tibete em 1923. Com a idade de cinco
anos foi reconhecido como o 13º Dalai Lama na sexta encarnação de
Sera-mae Ribur Rinpoche. Entrou na universidade monástica Sera
em Lhasa e tornou-se um Geshe aos 24 anos. Meditou e ensinou o
Dharma até 1959 altura em que sofreu a opressão chinesa por 21
anos. Em 1980 foi-lhe permitido efectuar pequenas actividades
religiosas e ajudou a construir um novo Stupa para Pabongka
Rinpoche em Sera. Rinpoche ensina nos Estados Unidos, Europa e
Ásia).

Esta doença crónica que envolve a constante adoração de nós


próprios, a doença crónica do egoísmo é de facto a causa das
circunstancias indesejadas e é a ela que se deve imputar a causa do
sofrimento. Que cada um de nós seja capaz de eliminar este
sentimento de apego. Esta é uma prática de meditação poderosa e
o resultado de treinar a mente neste tipo de motivação altruísta é
o facto de se desenvolver um tipo de coragem incomum, pelo que
será mais difícil sermos abalados pelas amarguras da vida vindas
das ilusões que constantemente nos povoam a mente. Uma vez
treinada a mente neste tipo de atitude, quando formos capazes de
dar de nós para os outros a qualidade da nossa felicidade
aumentará substancialmente, sendo de facto a melhor felicidade
que podemos encontrar.
Se alguma coisa nos acontece de negativo depois de treinar a nossa
mente e motivação neste tipo de meditação de dar e receber

66 - Descobrindo o Budismo
conhecida como “Tonglen” tomando para nós o sofrimento de
todos os seres sensíveis e dando de nós o que temos de bom, não
iremos ser tão afectados por essa negatividade.
Como técnica para este tipo de meditação podemos começar por
tentar imaginar todos os seres à nossa volta. Começamos então de
modo gradual, primeiro pensando nas nossas próprias desilusões,
os sofrimentos de hoje, de amanhã, nos desgostos, desilusões
aceitando-os até estarmos confortáveis com eles. De seguida
lentamente movemos este tipo de atenção para os nossos Pais,
familiares, todos os amigos e conforme formos ficando
confortáveis com cada um destes grupos vamos avançando até
englobar todos os seres humanos e animais. Esta prática do ponto
de vista Budista Tibetano primeiro tira-se para depois dar. Tirar o
que? Todos os sofrimentos, provenientes do calor, do frio, da
zanga do desgosto, da sede da fome e por ai fora, pensamos neles
como uma nuvem de fumo negro a sair do seres sensíveis para
depois os absorvermos no coração que representa o centro da
compaixão destruindo ou dissolvendo esse fumo no nada.
Chegado a este ponto, depois de termos tirado da forma descrita é
o momento de dar com base na grande compaixão desejando que
todos os seres sejam livres do sofrimento. Damos com amor. E
qual é o significado do amor? Desejar que todos os seres sejam
felizes de acordo com os seus desejos. Usando a nossa respiração
embebida desta motivação visualizamos-a como uma fonte de luz
branca a explodir em todas as direcções à nossa volta.

67 - Descobrindo o Budismo
Estudantes
(Richard Gere)

Não há duvidas de que Bodhicitta é o pilar fundador de todas as


práticas. Sem este tipo de motivação não há muito que faça
sentido. Não há muito poder transformador na meditação sem o
desenvolvimento da compaixão, pois sem ele cria-se um
sentimento de afastamento frio em relação aos outros que não terá
sido o que o Buda teve em mente quando partilhou os seus
ensinamentos. Em ultima análise o seu trabalho terá realizado
través de várias práticas terá tido como objectivo deitar abaixo
todas as barreiras, e não há barreira mais palpável do que a da
compaixão e um coração aberto a todos os seres... insectos e
inimigos incluídos.
Para começar uma aproximação a um novo tipo de relação com
eles, existe uma prática muito simples que eu (Richard) comecei a
usar à muitos anos atrás que consiste em desejar uma vida feliz a
cada criatura com quem eu travei conhecimento a primeira vez
que os vi, quer fosse uma pessoa quer fosse um insecto.

68 - Descobrindo o Budismo
Claro que às vezes é extremamente difícil, quando nos deparamos
com uma situação muito física e desconfortável, e é neste tipo de
situação que o processo da meditação ajuda muito ao permitir que
se trave à partida o florescimento das emoções negativas. E esse
travão acontece porque a meditação torna a nossa mente ciente do
que nela se passa, permitindo reconhecer atempadamente a
mecânica e interacção que existe sempre entre as emoções
(sensações que emergem no corpo) e os pensamentos que delas
derivam ou que as criam. É sempre uma relação de causalidade.
Assim devido a este processo, antes de sermos arrebatados pelas
emoções podemos identifica-las como aquilo que são,
(ignorância) transforma-las e deixa-las partir.

69 - Descobrindo o Budismo
12-Transformar os problemas

Professores
(Venerável Thubten Chodron é americana e uma monja ordenada
na tradição Budista Tibetana. Tem ensinado Budismo por todo o
mundo à mais de 20 anos. É uma professora muito popular e autora
de vários livros acerca do Budismo. É especialmente dotada na
transmissão da aplicação prática dos ensinamentos do Buda nas
nossas vidas diárias).

Frequentemente quando temos problemas assumimos ou temos a


forte sensação de que os nossos problemas são mais
“problemáticos” que os problemas dos outros. E por isso achamos
que devemos ser o alvo, o centro da simpatia e compaixão de quem
está à nossa volta, e a forma de transformar os nossos problemas
passa por fazer com que os outros parem de nos causar sofrimento
cessando o que quer que esteja a dirigir os problemas na nossa
direcção. Mas isto não é bem transformar os nossos problemas,
mas sim atirar os problemas na direcção de outras pessoas, dando a
entender que em determinada altura elas, as pessoas, estão a ser a
fonte dos nossos problemas. Temos esta visão de que somos estas
pessoas maravilhosas, que não queremos mal a ninguém e que no
entanto existem outras pessoas todas elas muito más, cruéis que
nos causam problemas. Temos que sair desta visão, desta ideia de
atribuição de culpa porque somos uma cultura que tem o hábito de
apontar o dedo, se há um problema a resolução do mesmo passa
por encontrar um culpado para sofrer, pensando que quando

70 - Descobrindo o Budismo
alguém sofre vamos nos sentir melhor em relação ao problema.
Como é que se transformam os problemas então? Depende de
como se olha para a situação, de como se define o problema. Pode
haver um evento problemático a decorrer com alguém e podemos
chamar-lhe um problema ou podemos chamar-lhe uma
oportunidade. E este tipo de atitude define se estamos a olhar para
a vida de uma forma mundana, ou de uma forma espiritual. Porque
quando o fazemos de uma forma materialista ou mundana,
etiquetamos uma situação de problema quando as nossas
necessidades e quereres não são satisfeitos. Assim temos uma ideia
da situação que queremos e o que procuramos extrair dela é prazer
e felicidade e levar a melhor sobre o momento e ter razão. Estes
são os nossos objectivos.
O nosso objectivo numa situação determinada é a nossa felicidade
pessoal e de preferência a nossa felicidade agora em vez de mais
tarde, e quando esse objectivo é frustrado identificamos essa
situação como sendo um problema.
Se virmos estas questões sob o ponto de vista do praticante
espiritual, o objectivo não é a satisfação pessoal. Dá para imaginar
uma realidade em que o nosso objectivo não passe pela satisfação
do nosso prazer pessoal? Se estivermos a tentar praticar um
caminho espiritual o objectivo nas situações emergentes deixa de
ser a felicidade imediata mas sim a oportunidade de aprender
acerca de nós próprios, acerca dos outros, de purificar a nossa
mente e contribuir para o bem estar geral através desta
aprendizagem.
Quando conseguimos modificar o paradigma, quando o objectivo
passa a ser diferente, então passa também a a ser mais difícil achar

71 - Descobrindo o Budismo
que temos problemas. Assim em tudo o que experimentamos e
fazemos há sempre alguma coisa a aprender. Quando o nosso foco
passa a centrar-se no nosso treino e na nossa prática deixamos de
desejar que as outras pessoas mudem, ou de transformar as outras
pessoas de modo a que deixem de nos causar problemas, até
porque acabamos por compreender até certo ponto que não é
possível.
Assim a transformação das situações começa no nosso coração e
por analisarmos a nossa reacção ás situações em que nos
encontramos. Passa por conseguirmos olhar honestamente para as
nossas reacções, não as pintarmos por cima ou sermos simpáticos
de uma maneira forçada. Temos que ser capazes de parar e pensar
porque estamos a reagir de determinada maneira ao tratamento
que alguém nos está a dar, o que é que eu achamos precisar desta
ou daquela pessoa que não me estão a dar.
De onde vem a satisfação? Quando estamos contentes não nos
zangamos ou ficamos ciumentos ou amuamos ou guardamos
ressentimentos. Quando temos um sentimento de satisfação
dentro da nossa mente agimos com simpatia naturalmente e as
emoções negativas assim como as acções que elas originam são
como que pacificadas automaticamente pois não existe um
sentimento de infelicidade dentro que os motivem.
O tipo de contentamento que estamos a tentar desenvolver não
passa pela satisfação de termos levado a melhor, ou as
necessidades imediatas satisfeitas de acordo com os nossos
desejos, ou pelo mundo gostar de nós, mas sim pelo tipo de
contentamento que existe pelo facto de nos sentirmos bem
connosco próprios. Aparece por meio da nossa prática espiritual e

72 - Descobrindo o Budismo
pelo uso da nossa própria mente.
Quando o Buda nos fala de contentamento não devemos
confundir este com apatia, são duas coisas distintas. Com a apatia
simplesmente não queremos saber, até porque podemos ser
apáticos e estar descontentes. Muito frequentemente a posição
niilista (A desvalorização e a morte do sentido, a ausência de
finalidade e de resposta ao “porquê”. Os valores tradicionais
depreciam-se e os "princípios e critérios absolutos dissolvem-se) que
as pessoas abraçam na nossa sociedade, é motivada pelo
descontentamento impulsionado pela apatia. Ao passo que
contentamento é um jogo completamente diferente.
Contentamento é um sentimento de bem estar dentro de nós que
nos pode dar algum tipo de confiança que alegadamente nos traz
algum tipo de compaixão pelos outros em vez de os criticar e
transformar em pedaços. Com base nessa compaixão agimos
contra a injustiça ou preconceito ou intercedemos quando existe
uma situação que prejudica, sendo que a maneira como o fazemos
não é com recurso às emoções negativas. A compaixão pode
apresentar-se então como um motivador forte e bem mais sábio
que a raiva.
Passa a existir um sentido de satisfação pessoal que não depende
da maneira de como o mundo nos trata e que nos chega por meio
da nossa prática espiritual.
Em determinada situação haverá sempre conflito eminente com
alguém que nos trata de maneira injusta ou discriminatória.
Devemos então agir de forma pró activa para mudar a situação tal
como está, não porque odiamos as pessoas com quem estamos em
situação de conflito mas porque lhes queremos bem. Ou seja,

73 - Descobrindo o Budismo
queremos bem à pessoa que nos está a oprimir, ou à pessoa cujas
ideias achamos ser corruptas ou à pessoa que está a maltrata o
ambiente... Esta é uma abordagem muito diferente à nossa
maneira habitual de reagir, mas a nossa maneira habitual de agir
não tem dado grandes frutos pelo que vale a pena tentar uma
alternativa. Ao vermos outra pessoa como o inimigo e não
estarmos preocupados com o seu bem estar, naturalmente estamos
a incutir mais mal na situação. Com isto cria-se Karma negativo
porque agimos com motivação negativa por via da raiva cuja
intenção é magoar, destrói-se a felicidade da outra pessoa e porque
essa pessoa se sente miserável vai reagir negativamente contra nós
tornando o conflito cada vez maior. Assim este inimigo não deve
ser visto como algo maléfico a abater que está entre nós e o nosso
objectivo, mas sim como uma outra pessoa que também quer ser
feliz.
Para interiorizar este conceito não podemos usar só uma
abordagem intelectual, temos que nos sentar de facto e meditar
sobre o assunto. Precisamos examinar a nossa própria mente, ser
capazes identificar nela quando estamos contentes e
descontentes.

74 - Descobrindo o Budismo
13-A sabedoria do vazio

na grande maioria das vezes a vida aparece-nos como sendo algo


permanente e sólido. Acreditamos nesta visão fixa dos nossos
corpos e ideias e projecções das nossas vidas e do mundo à nossa
volta. Segundo o Budismo este hábito de confundir tudo o que
experimentamos é a raiz de todos os nossos problemas em
particular quando vemos o “eu” como sendo uma coisa imutável
solida e real. Por causa dessa perspectiva pomos demasiada energia
na defesa da felicidade desse “eu” permanente à custa seja do que
for e de quem for. O Buda tomou consciência de que esta visão é a
maior ignorância de que sofremos, e com os seus ensinamentos
arrebatadores sobre o vazio das coisas, passou a ideia de que o
mundo não é feito de cimento como pensamos. Incentivou-nos de
facto a analisar com muito cuidado aquilo a que chamamos
realidade a fim de verificar se de facto existe tal como o
percepcionamos.
A verdade é que nada existe tal como aparece.

Professores
(Venerável Karin Valhalm - Nascida na Suécia a venerável Karin
Valhalm encontrou o Dharma no mosteiro de Kopan em 1974 onde
foi ordenada. Por mais de vinte anos tem inspirado milhares de
ocidentais com os seus ensinamentos em Kopan).

Vencer os nossos apegos é conseguir analisar a natureza do “eu”.


Quando analisamos a natureza do “eu” ou da pessoa a quem

75 - Descobrindo o Budismo
estamos apegados desde que nascemos, não conseguimos apontar
claramente a verdadeira pessoa ou o que a define acabando com
uma sensação de vazio proveniente de não conseguir identificar o
objecto “eu” do nosso apego. Quando nos analisamos, se
estivermos sob a influência de uma disposição por exemplo
egoísta, onde é que encontramos esse “eu” egoísta? Onde é que
esse “eu” egoísta existe e como? Conseguimos identificar essa
disposição como estando no nosso corpo? Na nossa mente? Não
pode estar na nossa mente uma vez que essa qualidade de
disposição não está lá sempre. Se estivesse seriamos
intrinsecamente egoístas mas uma qualidade de humor não está lá
sempre, aparece e desaparece. Então, quem está a ser egoísta
agora? Quando procuramos dentro de nós na realidade não
podemos apontar objectivamente o “eu”. Na realidade não existe
ninguém em “casa” para ser egoísta, não da maneira como estamos
habituados a percepcionar o “eu”. Assim o Vazio encontrado é a
desculpa ou a técnica ideal para eliminar estados de mente
negativos, pois são baseados numa visão falsa.

(Venerável Robina Courtin – Uma Australiana que tem praticado


nos últimos 26 anos como monja na tradição Budista Tibetana. É
bem conhecida no mundo pela sua dinâmica de ensinamentos e
conhecimento profundos. Tem sido directora editorial de publicações
de sabedoria e da Mandala, uma revista Budista. Hoje em dia
Lidera um projecto de providencia suporte para a prática do
Budismo por parte de prisioneiros retidos em prisões nos Estados

76 - Descobrindo o Budismo
Unidos e Austrália)

Existe a visão convencional acerca da maneira de como as coisas


existem que se refere à “mesidade” da mesa, ao “tapetismo” do
tapete, à “copezidade” do copo com os seus modos convencionais
de existência que nos remetem para a forma como os
percepcionamos e que nesse contexto existem.
Depois existe o modo final da existência das coisas, que é a
perspectiva de que não há uma identidade inerente que existe por
si só. Um par de óculos por exemplo não tem o poder de existir
por si só, existe enquanto conceito criado para poder ser apontado
como um para de óculos por todos nós. Se não existisse miopia ou
qualquer tipo de doença limitadora da nossa visão nunca se teriam
inventado os óculos e como tal estes não existiam. Tal como a sua
“oculosidade” não existe enquanto fenómeno independente. É na
ausência deste tipo de identidade inerente independente que
encontramos a vacuidade, o vazio.
Claro que apesar disto, convencionalmente não temos qualquer
tipo de problema em apontar um par de óculos que repousem na
palma da nossa mão. E seriamos alvo de alguma troça se não os
conseguíssemos identificar como tal.

(A professora Janice Willis é uma académica e professora do


Budismo Tibetano-Hindu na universidade wesleyan em Connecticut
Encontrou o Dharma em 1967 e tem praticado e ensinado por mais à
35 anos. Tem publicações nas áreas da psicologia Budista, mulheres

77 - Descobrindo o Budismo
no Budismo, e o Budismo e a raça. O seu ultimo projecto é um livro
de memórias chamado “Dreaming me: An African American
woman`s spiritual journey).

O Sofrimento acaba através da compreensão (insight), e é na


compreensão que está contido o modo como o “eu” de facto
existe. É por meio da compreensão que realizamos que este “eu” é
impermanente, que existe dependente de condições externas que
ditam o modo como o “eu” convencional existe. Zangado, triste,
contente, egoísta, satisfeito, seja como for...
Tendo compreendido que somos o resultado do que
experimentamos momento a momento e que essa dependência
dita a impermanência do “eu”, tendo entendido a relação de
causalidade que nos engana constantemente em relação aquilo que
pensamos ser, podemos acabar com a ignorância que é a causa
principal do samsara.
Assim sendo podemos dizer que ganhar sabedoria é equivalente a
obter compreensão (enlightment) e é esta compreensão em
particular que nos mostra a verdadeira natureza de como as coisas
existem. Em suma, nós e tudo o que existe somos vazios de uma
existência independente e como as coisas não existem
independentes estando interligadas de forma clara ou subtil.
A sabedoria que advém deste discernimento acerca do vazio do
“eu” e das coisas permite-nos experimentar uma ligação a ao que é
externo e desta compreensão floresce a compaixão.

78 - Descobrindo o Budismo
Estudantes
(Richard Gere)
A exploração do conceito de vazio do ponto de vista lógico é
muito importante. É impossível a nossa existência como elementos
em ilhas separadas e que possamos existir somente do nosso lado.
Somos como que sucessivos recomeços dependentes, tudo acerca
de nós é dependente do momento anterior, assim como de causas
e condições. A mesma coisa acontece com tudo o que nos é
externo não existindo somente do seu lado, nada detém uma
longevidade infinita, estamos todos em fase de processo, somos
um processo constante de mudança devido a uma causa qualquer
em direcção ao efeito seguinte que por sua vez estará dependente
da causa anterior para ser o que quer que seja nessa altura.
As coisas são vazias de uma existência inerente e essa compreensão
leva-nos eventualmente a compreender a interacção entre todas as
coisas. Nada disto sugere uma natureza sólida e a aparência de
solidez que temos das coisas é ignorância.
O antídoto para essa ignorância passa pelo menos por acreditar na
lógica do vazio, que as coisas são o exacto momento presente e
nada mais, não são portadoras de um “eu”, e quando retiramos o
“eu” e o “meu” da equação, criamos a condição para uma
transformação surpreendente, começamos a entender a
conectividade entre as coisas.
É muito difícil desligarmos a noção convencional que temos da
realidade, a identificação que temos com as emoções e com as
ideias pré concebidas criam o estado de solidez que temos das
coisas, mas eu como actor tenho de o fazer ainda que a fingir o

79 - Descobrindo o Budismo
tempo todo, mover-me para dentro e para fora de situações
conceptuais e emocionais e tentar manter-me agarrado a essas
realidades temporárias mas no final, é tudo uma narrativa, uma
história e as histórias chegam e partem. O espaço de onde elas
surgem e partem esse é sólido e esse é o espaço da claridade e da
sabedoria que temos à nossa disposição, não tem centro nem
fronteiras é o presente de onde viemos e para onde vamos e no
final é tudo o que temos.

80 - Descobrindo o Budismo

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