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BENEDITINA DO BRASIL
I - OBLATOS
1. O Oblato Beneditino é o cristão (leigo ou sacerdote) que,
chamado por Deus, procura viver coerentemente o Batismo, a
Confirmação e a Eucaristia dentro do espírito da Regra de São
Bento; nos ditames desta encontra alimento e estímulo para tender
à perfeição evangélica e à glorificação do Criador.a
2. A atitude de oblação (ao Senhor) é decorrente, para todo
cristão, de sua inserção na Igreja pelo Batismo e de sua participação
na Celebração Eucarística. Com efeito, o cristão, na Santa Missa,
renova sua oblação ao Pai, em união com a de Cristo. É essa
oblação sacramental que o cristão deve reafirmar e exercitar no
decorrer de sua vivência cotidiana.
a basicamente os Oblatos Seculares Cistercienses seguem este Estatuto
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3. Os oblatos são membros da comunidade do respectivo
mosteiro; não constituem associação religiosa nem Ordem Terceira.
Participam dos bens espirituais do cenóbio e procuram, na medida
do possível, acompanhar a vida do mosteiro.
4. Qualquer mosteiro autônomo de monges ou monjas da
Congregação Beneditina Brasileira tem o direito de receber oblatos.
5. A palavra oblato vem do latim oblatus, “oferecido”. Na Regra
de São Bento, tal vocábulo designa os meninos oferecidos por seus
genitores para o serviço de Deus no mosteiro (cf. cap. 59; São
Gregório Magno, Diálogos, I, II). Aos poucos o termo “oblato” passou
a designar fiéis que, desejosos de viver mais plenamente a vida
cristã, se filiam a determinado mosteiro. Os que passam a morar no
próprio cenóbio são chamados “oblatos regulares”, ao passo que
aqueles que continuam no século são ditos “oblatos seculares”.
II - A OBLAÇÃO
1. A oblação é o ato pelo qual um cristão se oferece a Deus e se
torna membro efetivo de uma comunidade monástica, se bem que a
título diferente do monge.
2. O oblato torna-se irmão dos monges e se considera como
testemunha do espírito da Regra no mundo. Este liame não
dispensa o oblato das responsabilidades humanas (familiares,
profissionais, sociais, etc.) e cristãs (eclesiais e paroquiais) nem o
sujeita à jurisdição do abade.
3. Entre a comunidade monástica e o oblato deve existir intensa
comunhão de orações, sacrifícios e serviço.
4. A oblação não é profissão religiosa nem implica voto público ou
particular; pressupõe, todavia, propósito maduro e estável da
vontade, a Deus manifestado perante a Igreja e confirmado
mediante rito sagrado.
5. O pedido do cristão para tornar-se oblato supõe a existência
de laços espirituais com o mosteiro ao qual deseja vincular-se. Pode
tornar-se oblato todo fiel cuja maturidade espiritual, no julgamento
do abade ou do seu delegado, seja capaz de pesar o alcance deste
compromisso.
6. Só poderá ser recebido no noviciado o postulante que tiver
completado dezoito anos de idade e não pertencer simultaneamente
a uma Ordem Terceira.
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7. Antes de chegar à oblação monástica, o candidato deverá
percorrer um período de preparação, assim estruturado:
1º) postulantado, que terá a duração mínima de seis meses e a
máxima de um ano;
2º) noviciado, que durará um ano, mas poderá ser prolongado a
critério do diretor dos oblatos, depois do que ou será
admitido o noviço à oblação ou serão extintos os efeitos
estatutários do noviciado.
8. O abade do mosteiro ou um monge por ele delegado exercerá
as funções dos oblatos. Este procurará acompanhar o crescimento
espiritual dos oblatos, dos noviços, dos postulantes e dos
candidatos. Aos formandos, o Diretor ministrará regularmente confe-
rências sobre a Santa Regra, os Salmos e outros temas
relacionados com a vida monástica. O futuro oblato deve aproveitar
especialmente o período de formação para aprofundar-se no
conhecimento da vida cristã e impregnar-se do espírito da Santa
Regra. Para tanto, recorrerá à oração, ao estudo, às leituras, às
reuniões e a outros meios convenientes.
9. O diretor poderá designar como auxiliares, na formação dos
candidatos, postulantes e noviços, oblatos experimentados e
observantes.
10. Compete ao abade ou a seu delegado decidir sobre a
admissão, ou não, de postulantes ao noviciado ou de noviços à
oblação.
11. O oblato poderá, se o desejar, transferir-se de um mosteiro
para outro, desde que haja o consentimento dos respectivos
abades.
12. A oblação realizar-se-á, de preferência, durante o Santo
Sacrifício da Missa, para acentuar que está unida à oferenda de
Cristo e da Igreja.
13. Na vestição e na oblação observar-se-á o Ritual próprio.
14. As cartas de oblação serão conservadas no mosteiro, e os
nomes dos oblatos ficarão inscritos em registro próprio. A cada
oblato será entregue um documento, testemunho de seu
compromisso.
15. A oblação pode, em casos excepcionais, ser anulada pelo
próprio oblato ou pelo abade. Mas nem o oblato desista do seu
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propósito senão após madura reflexão, nem o abade demita um
oblato sem justa e grave causa.
16. Caso o deseje, o oblato poderá ser sepultado com o hábito
monástico (túnica, cíngulo, escapulário).
III. 1. A Conversão
1. A conversão significa a renúncia permanente ao velho homem
e às suas concupiscências, passagem do egoísmo para o amor e
dos valores mundanos para as bem-aventuranças. É a própria
vivência do Batismo, que implica a morte ao pecado e ressurreição
com Cristo para a vida nova.
2. A conversão é inseparável da prática da ascese. Diz o Santo
Legislador que a vida do monge deveria ser caracterizada, em todo
tempo, pela observância da Quaresma (Santa Regra, cap. 49). É
necessário, pois, que o oblato tenha em vista este traço da sua
vocação e cultive a sobriedade, a simplicidade, a austeridade, e se
abra docilmente às genuínas inspirações do Espírito.
3. O cap. 7 da Santa Regra, ao apresentar os doze graus da
humildade, oferece ao oblato as grandes linhas de um programa de
renúncia a si para viver mais e mais em Deus. O Prólogo e o cap. 4
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(sobre os instrumentos das boas obras) da mesma Santa Regra
constituem outras tantas fontes de renovação interior e exterior.
4. Um retiro espiritual por ano, de preferência com os oblatos, e
um encontro mensal no mosteiro contribuem para a conversão dos
costumes, aprofundamento e oração em comum e estreitamento dos
laços da caridade fraterna que une os oblatos.
III. 2. A Oração
1. A oração é a procura da íntima união com Deus que se faz
num diálogo pessoal e silencioso (oração particular) ou de maneira
vocal e comunitária.
2. O centro da vida de oração é a Celebração Eucarística, de que
o oblato há de participar assiduamente. Destarte, a Santa Missa
alimentará cada vez mais os pensamentos, os afetos e os atos do
oblato.
3. Em torno da Santa Missa coloca-se o Ofício Divino, pelo qual
os filhos de São Bento nutrem especial estima, visto ser a oração
oficial da Igreja. Por conseguinte, esforcem-se os oblatos por recitar
diariamente ao menos uma parte do Ofício Divino sob qualquer das
formas aprovadas pela Igreja.
4. Para que a oração vocal seja eficaz, torna-se indispensável a
oração silenciosa. Esta pode ser compreendida sob a “lectio divina”,
à qual Nosso Pai São Bento atribui notável importância na Santa
Regra (cf. cap. 42; 48). Esforcem-se, pois, os oblatos por ler e
aprofundar, com a inteligência e o afeto, a Sagrada Escritura, à qual
é muito desejável que dediquem, diariamente, certo espaço de
tempo (cf. Concílio Vaticano II, Constituição “Dei Verbum” nº 25;
Decr. “Perfectae Caritatis”, nº 6). Tenderão a familiarizar-se, Ou-
trossim, com as obras de espiritualidade mais notáveis da Tradição
e da atualidade da Igreja. Além do que, estimarão grandemente boa
formação teológica, valor esse que a Santa Igreja hoje em dia
procura ministrar, sob variadas formas, a todos os seus filhos.
Melhor conhecimento da Palavra de Deus, das ciências sagradas e
da Santa Regra nutre a oração, corrobora a fé e incita ao
testemunho apostólico.
IV - O SENSO ECLESIAL
1. Mais do que nunca, é viva no povo de Deus, em nossos dias, a
consciência de Igreja como comunhão e participação (cf.
Documento de Puebla, passim).
2. Cumpre ao oblato nutrir vivos sentimentos de filial fidelidade à
Santa Igreja, pulsar com Ela, identificando-se com as intenções do
Sumo Pontífice. Viverá, assim, também o espírito da Ordem de São
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Bento, que através dos séculos sempre foi esteio das grandes
aspirações da Santa Sé e do Vigário de Cristo.
3. De modo especial, a fidelidade à Igreja traduzir-se-á em
fidelidade ao magistério - ordinário e extraordinário - da Igreja. O
oblato, portanto, guardará em tudo a fé pura e ortodoxa haurida da
voz oficial da Santa Igreja.
4. Aos oblatos não se impõe, por força da Regra, tarefa
apostólica específica; porém, beneditinos que são, não deixarão de
imprimir no seu apostolado os sinais característicos da
espiritualidade que vivem, principalmente o amor à Sagrada Liturgia
e à piedade cristocêntrica e trinitária.
5. O bom filho de São Bento no século não se pode eximir de
responder aos apelos que a Santa Igreja hoje em dia dirige a todos
os cristãos leigos, no sentido de que assumam sua responsabilidade
pessoal na edificação e na difusão do Reino de Cristo. Eis as
palavras do Concílio Vaticano II:
V - O ESPÍRITO BENEDITINO
A tradição monástica formulou em palavras ou frases incisivas
algumas das grandes características do espírito beneditino, que todo
oblato há de procurar observar. A seguir, vão explanadas treze
delas:
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V.1. Ora e Trabalha
1. É o lema “Ora et labora” que dá estrutura a toda a vida do
discípulo de São Bento.
2. A oração significa a atitude definitiva do cristão, principalmente
sob a forma de adoração, louvor e gratidão ao Senhor. É ela que
alimenta e aprofunda a união de da criatura com o Criador, e leva o
cristão a participar, cada vez mais, da vida trinitária. É por isto que a
oração ocupa o primeiro lugar na estima do oblato.
3. O trabalho é forma de disciplina e ascese, como também de
transformação do mundo segundo o plano e os desígnios do
Criador. O oblato se santifica não apesar do trabalho, mas mediante
o trabalho. Este há de ser assumido não apenas como meio de
subsistência, mas no intuito de servir a Deus e ao próximo. Quem
ora devidamente, se habilita a trabalhar em espírito de louvor e
adoração a Deus, como o fez o Divino Mestre quando se dignou
trabalhar com mãos humanas, pensar com inteligência humana, agir
com vontade humana, amar com coração humano (cf. Constituição
“Gaudium et Spes” nº 22).
V. 6. Ser Primeiramente
1. No cap. 4 da Santa Regra. o Legislador exorta os monges a
que “não queiram ser tidos como santos antes que o sejam, mas
primeiramente sejam santos para que possam ser considerados
como tais”.
2. Esta norma traduz a aversão à aparência destituída de
conteúdo, aos rótulos ilusórios ou contraditórios. Revela absoluta
preferência pelo ser em relação ao ter. Em conseqüência, incute ao
filho de São Bento a preocupação com a coerência de pensamento
e vida. Sugere a honestidade incondicional de atitudes, de palavras
e de ambiente. Evite o oblato linguagem falsa, ambígua e vã.
3. O amor à autenticidade se exprime mais de uma vez na Regra
de São Bento: assim, no tocante ao oratório (“seja aquilo que o
nome significa”; cap. 52). ao Abade (“faz as vezes de Cristo, porque
é chamado pelo mesmo cognome que Este”; cap. 2), ao monge feito
soldado do verdadeiro Rei (Prólogo) ou penetrado pela humildade
(12º grau; cap. 17...)
V. 9. Paz
1. A tradição associou a palavra PAZ ao ideal beneditino. Na
verdade, a paz constitui o ambiente do mosteiro e, mais ainda, o
estado íntimo dos seus moradores: os monges hão de cultivar a paz,
ou seja, “a tranqüilidade na ordem” (Santo Agostinho) nas suas
relações com Deus, com os irmãos, filhos do mesmo Pai, e com as
demais criaturas.
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2. Repetidamente a Santa Regra refere-se à paz como sendo
uma das características do cenóbio e do monge: “Todos os
membros estarão em paz” (Santa Regra, cap. 34; cf. cap. 53,
Prólogo...)
3. O oblato adotará mais este traço da espiritualidade monástica,
que o Evangelho enfatiza na sétima bem-aventurança: os filhos de
Deus são artífices da paz (cf. Mt. 5, 9). A paz e a discrição
monásticas supõem harmonia, equilíbrio e proporcionalidade na es-
cala de valores do oblato. Esteja ele tão impregnado dos bens
eternos que a sua mera presença já se torne sinal de ordem e
tranqüilidade.
VI - CONCLUSÃO
Este Estatuto faculta a cada mosteiro organizar a comunidade de
seus oblatos segundo o que melhor lhe parecer, desde que
observadas as normas nele estabelecidas, para que em tudo seja
Deus glorificado.