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XVI
A IMAGEM
Imagens a partir do pp: daqui
• em Aveiro
• na Figueira da Foz
• no Tejo
• no Sado
• no Algarve
eli
Lenda da Deusa do Sal
Conta uma lenda que em uma ilha longínqua vivia uma solitária deusa de sal.
Ela era apaixonada pelo mar.
Passava dias, noites, horas na praia observando o balanço de suas ondas, sua beleza, seu mistério, sua
magnitude. Um desejo enorme começou a apossar-se do seu coração: experimentar toda aquela beleza.
Esse desejo ia aumentando até que um dia a deusa resolveu entrar no mar.
Logo que ela colocou os pés no mar, eles sumiram, derreteram-se. Encantada com o mar, ela seguiu em
frente e logo após suas pernas e coxas não mais existiam.
A deusa, entretanto, seguiu adiante, sentindo partes do seu corpo derretendo-se, até ficar apenas com o
rosto do lado de fora. Uma estrela que observava tudo falou:
- Linda deusa, você vai desaparecer por completo. Daqui a pouco você não mais existirá.
- A água do mar desfazia o rosto da deusa, mas ela respondeu fazendo um esforço:
- Continuarei existindo, porque agora eu sou o mar também.
Para conhecer e experimentar é preciso permitir-se, ir em frente. Quando isto acontece, a mudança se dá, mudamos. A
deusa mudou, transformando-se em mar, fazendo parte dele, passou a ser o mar que ela tanto admirava da praia.
O mar por sua vez, também transformou-se, porque foi salgado pela deusa. Ambos experimentaram a mudança: a deusa e o
mar.
(de amigo brasileiro - por email)
Presente em rituais religiosos de diversas épocas e civilizações, o sal foi adquirindo fama de ingrediente
poderoso na luta contra entidades do mal e interesses mesquinhos, passando a alimentar inúmeras
crendices e superstições que o imaginário popular veio mantendo vivas através dos anos. Entre as
muitas que existem estão as seguintes:
• para afastar os maus espíritos deve-se jogar sal por cima do ombro esquerdo.
• derrubar sal traz má sorte; para evitá-la, jogue sal por cima do ombro direito.
• em muitos países espalha-se sal no umbral da porta de uma casa nova para impedir a entrada de maus
espíritos.
• a mistura de sal com água ou álcool, além de absorver tudo de ruim que está no ar, ajuda a purificar a
casa e impede a entrada da inveja, do mau-olhado e de outros sentimentos inferiores.
• depois de uma festa é sempre conveniente lavar com sal grosso os pratos e copos usados, para
neutralizar a energia negativa de qualquer dos convidados.
• banho de sal grosso e o antigo escalda-pés (mergulhar os pés em salmoura bem quente) neutralizam a
electricidade do corpo e renova as energias.
• sal marinho seco colocado atrás da porta, em um pires branco, puxa a energia negativa de quem entra
em sua casa.
• em alguns lugares ainda se conserva o costume do noivo ir para a igreja com sal no bolso esquerdo,
porque essa simpatia protege contra a impotência.
• se você colocar sal grosso em um ambiente, ele deverá ser trocado a cada quinze dias, pois decorrido
esse prazo ele ficará saturado.
• emprestar, ou pedir sal emprestado, destrói a amizade. O melhor é oferecê-lo ou aceitá-lo com
presente.
• texto integral aqui
O SAL E A ÁGUA
Um rei tinha três filhas; perguntou a cada uma delas por sua
vez, qual era a mais sua amiga. A mais velha respondeu:
– Quero mais a meu pai, do que à luz do Sol.
Respondeu a do meio:
– Gosto mais de meu pai do que de mim mesma.
A mais moça respondeu:
– Quero-lhe tanto, como a comida quer o sal.
O rei entendeu por isto que a filha mais nova o não amava
tanto como as outras, e pô-la fora do palácio. Ela foi muito
triste por esse mundo, e chegou ao palácio de um rei, e aí se
ofereceu para ser cozinheira. Um dia veio à mesa um pastel
muito bem feito, e o rei ao parti-lo achou dentro um anel
muito pequeno, e de grande preço. Perguntou a todas as
damas da corte de quem seria aquele anel.
Todas quiseram ver se o anel lhes servia: foi passando, até que foi chamada a cozinheira, e só a ela é
que o anel servia. O príncipe viu isto e ficou logo apaixonado por ela, pensando que era de família de
nobreza.
Começou então a espreitá-la, porque ela só cozinhava às escondidas, e viu-a vestida com trajos de
princesa. Foi chamar o rei seu pai e ambos viram o caso. O rei deu licença ao filho para casar com
ela, mas a menina tirou por condição que queria cozinhar pela sua mão o jantar do dia da boda. Para
as festas de noivado convidou-se o rei que tinha três filhas, e que pusera fora de casa a mais nova. A
princesa cozinhou o jantar, mas nos manjares que haviam de ser postos ao rei seu pai não botou sal
de propósito. Todos comiam com vontade, mas só o rei convidado é que não comia. Por fim
perguntou-lhe o dono da casa, porque é que o rei não comia? Respondeu ele, não sabendo que
assistia ao casamento da filha:
– É porque a comida não tem sal.
O pai do noivo fingiu-se raivoso, e mandou que a cozinheira viesse ali dizer porque é que não tinha
botado sal na comida. Veio então a menina vestida de princesa, mas assim que o pai a viu, conheceu-
a logo, e confessou ali a sua culpa, por não ter percebido quanto era amado por sua filha, que lhe
tinha dito, que lhe queria tanto como a comida quer o sal, e que depois de sofrer tanto nunca se
queixara da injustiça de seu pai.
• O poeta Homero referiu-se ao sal como “uma substância divina”. Platão reverenciou a importância do sal
dizendo que ele é “particularmente caro aos deuses”.
• No Império Romano, a Via Salaria, era a principal estrada que levava a Roma e por onde passavam os soldados
com cargas desse produto. Para o senador romano Cassiodoro, o sal era mais importante que o ouro, porque
“alguns precisam de ouro, mas todos precisam de sal”.
• A palavra “salário” deriva do latim salarium, e este de sal, salis (em grego), porque era costume entre os
romanos pagar-se aos soldados em quantidade de sal. Hoje, se uma pessoa é produtiva em seu trabalho, diz-se
que ela “vale seu salário” ou “vale seu sal”.
• A palavra “sal” aparece mais de 50 vezes na Bíblia em versículos como “Vós sois o sal da terra”. (Mateus 5: 13).
• O papel do sal na reprodução e fertilidade é reflectido no mito antigo da Vénus, que na tela de Sandro Botticelli
nasce do mar.
• “O sábio coloca uma pitada de açúcar em tudo o que diz ao próximo, e ouve com um grão de sal o que o outro
diz.” (Provérbio tibetano)
• No filme Vicky, Cristina, e Barcelona, de Woody Allen (2008), uma das personagens descreve da seguinte forma
seu fracassado relacionamento amoroso: “O amor requer um equilíbrio perfeito. É como o corpo humano. Pode
ter todas as vitaminas e minerais, mas se houver um pequeno e único ingrediente em falta, como o sal, por
exemplo, a gente morre”.
Imagem: da net
Imagem: daqui
Estava Santo em Itália, junto ao mar, descontente porque os hereges da terra o não tinham querido ouvir, quando
resolveu falar aos peixes, que, em cardumes, correram a escutá-lo, com a cabeça fora da água e o olhar fixo no seu
rosto. Todos os peixes se aproximaram o mais que puderam do santo, pondo-se na frente os mais pequenos, depois os
mais altos e, por fim, os grandes monstros marinhos. E todos ficaram quietos, seduzidos pela eloquência do santo,
que começou por lhes dizer: “Irmãos meus peixes, muita obrigação tendes de agradecer, segundo as vossas
possibilidades, ao vosso Criador por vos ter dado tão nobre elemento para vossa habitação e ainda águas doces e
salgadas, como vos agrade, e muitos refúgios para vos abrigar das tempestades.”
Figura que consiste em representar pensamentos, ideias, qualidades, isto é, temas abstractos, por
termos que designam realidades físicas ou animadas (animais ou humanas), através de uma sequência
organizada de metáforas contínuas e de modo que os elementos do plano das ideias e do plano figurado
se correspondem um a um. Qualquer discurso alegórico pode ser lido de modo não alegórico,
permanecendo inteiramente aceitável e coerente.
“O polvo, com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge; com aqueles seus raios estendidos, parece
uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão.”
• O Sermão de Santo António aos Peixes do P. António Vieira foi pregado em S. Luís do Maranhão, no dia da festa de
Santo António.
• Todo o sermão é uma alegoria, porque os peixes são a personificação dos homens.
• A frase bíblica que serviu de base ao Sermão foi: “Vós sois o sal da terra”.
• As duas propriedade do sal são: conservar o são e preservar da corrupção. Com base nessas propriedades, Padre
António Vieira dividiu o Sermão em duas partes: os louvores dos peixes e os defeitos dos peixes.
• Os peixes ouvem, mas não falam; os homens falam muito e ouvem pouco. Os peixes foram as primeiras criaturas que
Deus criou e entre todos os animais da terra são as maiores e as mais numerosas.
• Os homens recusaram ouvir a palavra de Deus e os peixes acorreram todos. Todos os animais se podem domesticar, os
peixes vivem em liberdade. O pregador tirou uma conclusão que repete várias vezes: quanto mais longe dos homens,
melhor. E dá o exemplo de Santo António que deixou Lisboa, Coimbra, Portugal e retirou-se para um ermo.
• O peixe de Tobias serviu para curar o seu pai da cegueira e afastar de sua casa os demónios; a rémora tem tanta força
que pode parar o leme de uma nau; o torpedo faz tremer tanto o pescador que este deixa de pescar. O peixe “quatro-
olhos” defende-se dos que o atacam do fundo do mar e da superfície do mar.
• Padre António Vieira compara o peixe de Tobias e a rémora a Santo António porque curava, isto é, convertia as almas e
tinha tanta força que fazia tremer os pescadores, afastando-os de pecar.
• Padre António Vieira faz duas repreensões aos peixes: 1ª – os peixes comem-se uns aos outros; 2ª – os peixes são
ignorantes e cegos.
• O pregador selecciona quatro peixes e põe em destaque os seus defeitos. Assim, os roncadores personificam a
arrogância; os pegadores, a servidão ou o parasitismo; os voadores, a ambição; o polvo, a traição.
• O polvo é comparado ao camaleão porque muda de cor, mas distingue-se dele porque ataca covardemente.
• Judas é comparado ao polvo porque traiu o Mestre, mas é considerado menos culpado do que este peixe porque
realizou a traição à luz.
• O último capítulo é chamado a peroração porque é a conclusão.
• O Sermão é uma sátira social visto que o Padre António Vieira tem como principal objectivo criticar a exploração dos
homens, sobretudo exercida pelos brancos; visa também criticar os holandeses que pretendiam apoderar-se da Baía.
• O Sermão ainda é actual porque ainda se mantêm alguns dos graves defeitos na nossa sociedade como por exemplo: a
ambição, a exploração, a traição, o servilismo.
• Os recursos expressivos mais utilizados para convencer os ouvintes são: apóstrofes, interrogações, exclamações,
comparações, metáforas, antíteses, repetições, ….
Sermão de Santo António aos Peixes
Pregado na cidade de S. Luís do Maranhão, ano de 1654. Este sermão (que todo é alegórico)
pregou o autor três dias antes de se embarcar ocultamente para o reino, a procurar o remédio da
salvação dos índios.
• interrogativa
• adversativa
Isto suposto, quero hoje, à imitação de Santo António, voltar-me da terra ao mar, e já que os homens se não
aproveitam, pregar aos peixes. O mar está tão perto que bem me ouvirão. Os demais podem deixar o sermão, pois
não é para eles. Maria quer dizer Domina maris: Senhora do mar. e posto que o assunto seja desusado, espero que me
não falte com a costumada graça. Ave Maria.
Mas já que estamos nas covas do mar, antes que saiamos delas, temos lá o irmão polvo, contra o qual têm suas queixas,
e grandes, não menos que S. Basílio e Santo Ambrósio. O polvo com aquele seu capelo, parece um monge; com aqueles
seus raios estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma
mansidão. E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa, testemunham constantemente os dois
grandes Doutores da Igreja latina e grega, que o dito polvo é o maior traidor do mar. Consiste esta traição do polvo
primeiramente em se vestir ou pintar das mesmas cores de todas aquelas cores a que está pegado. As cores, que no
camaleão são gala, no polvo são malícia; as figuras, que em Proteu são fábula, no polvo são verdade e artifício. Se está
nos limos, faz-se verde; se está na areia, faz-se branco; se está no lodo, faz-se pardo; e se está em alguma pedra, como
mais ordinariamente costuma estar, faz-se da cor da mesma pedra. E daqui que sucede? Sucede que outro peixe,
inocente da traição, vai passando desacautelado, e o salteador, que está de emboscada dentro do seu próprio engano,
lança-lhe os braços de repente, e fá-lo prisioneiro. Fizera mais Judas? Não fizera mais, porque nem fez tanto. Judas
abraçou a Cristo, mas outros o prenderam; o polvo é o que abraça e mais o que prende. Judas com os braços fez o
sinal, e o polvo dos próprios braços faz as cordas. Judas é verdade que foi traidor, mas com lanternas diante; traçou a
traição às escuras, mas executou-a muito às claras. O polvo, escurecendo-se a si, tira a vista aos outros, e a primeira
traição e roubo que faz, é a luz, para que não distinga as cores. Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade, pois Judas
em tua comparação já é menos traidor!
Anna Akhmátova
tradução de Lauro Machado Coelho
JORGE DE SENA
Conheço o Sal
Apreciação:
Rosa Lobato de Faria começou a ser conhecida através da televisão, como declamadora. Rapidamente foi mais longe:
publica poesia, romance, literatura infanto-juvenil. E apresenta-se, ainda, como actriz de telenovela. Confesso que em
todas estas actividades literárias e artísticas lhe vou admirando o talento de escritora e o talento de intérprete teatral.
Traz-nos, agora, o seu nono romance, A flor do sal, com uma capa pouco feliz e enganosa, a sugerir, pelo estilo da
ilustração, uma obra destinada à primeira adolescência. O livro descreve, com habilidade, a biografia de um pescador
baleeiro, de Cascais, chamado Afonso Sanches que, em 1480, chega por acaso às costas da América ( como se verifica,
doze anos antes de Colombo), participando o facto ao rei D. João III, na sua corte de Évora, que lhe pede sigilo, já que se
encontrava negociando com Castela o Tratado de Tordesilhas. Isto, que é rigorosamente histórico, é-nos apresentado por
Rosa Lobato de Faria através de uma escritora actual que convive com o fantasma do navegador, recebendo dele a sua
biografia, naturalmente, muito romanceada. A autora confabula bem, escreve bem, com beleza, ductilidade e fluência,
sabendo distinguir a linguagem dos nossos dias e a quinhentista. Saboroso o relato da refeição renascentista que a
personagem escritora oferece ao seu editor, com graça e erudição.
Em leitur@ Gulbenkian
Cristina Norton em entrevista ao Portal da Literatura
Sinopse
Mário, um algarvio de Tavira a quem os reveses económicos da família levaram a trabalhar
numa salina, vigia, durante dois dias, o céu e os sinais de uma chuva próxima enquanto
espera pelo regresso da mulher. A ironia da vida surpreende-o e, ao procurar autenticar
uma fantasia, descobre que o segredo é outro, bem mais doloroso, que o leva a pôr em
causa o seu casamento com a mulher que sempre amou. Totalmente alheia aos tormentos
inventados e reais pelos quais passou o seu marido, Irene chega no preciso momento em
que começa a chover e urge colher a flor do sal antes que se estrague. A ternura de um
abraço e a confirmação do amor que sentem um pelo outro, põem um ponto final numa
história que não é mais do que isso mesmo, uma história.
Sinopse
A Estátua de Sal
ALBERT MEMMI
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