1- A imprecisão do termo “Descoberta” se dá em grande parte pela inadequação de seu
uso; o ensaio propõe que “descobrir apenas tem sentido do ponto de vista do outro- do exterior” (p.56), de fato, já que nada passa a existir a partir de sua descoberta, a condição primeira para que haja descoberta é que o que vem a ser descoberto exista previamente. Concluímos então que “descobrir” , como vinha sendo entendido até então, apresenta relação mais significativa com a palavra “revelar”, “tomar consciência de”. Um exemplo bastante próximo e pertinente é o do “Descobrimento” do Brasil, os índios que aqui habitam já tinham consciência de sua sociedade, eles não passaram a existir no momento em que os portugueses chegaram, portanto a Descoberta foi do ponto de vista do outro, do europeu.
2- Dos Descobrimentos, despontaram como contribuições relevantes as ligações feitas
a partir do domínio de regiões Africanas ; como já diz o ensaio“Serão as caravelas portuguesas e as longas marchas dos lançados que revelarão este continente e o ligarão à Europa” (p.58), em outras palavras, o que até então ocorria era que não havia comunicação e interação entre tais regiões, com a “Descoberta” altera-se esse quadro: são traçadas rotas de comércio, abastecimento, até mesmo posições políticas são alteradas, o que mais tarde seria interligado à Europa criando-se uma grande e produtiva “rede de ligações atlânticas” (p.58)
3- Descobrir, como já proposto ao longo de todo o ensaio, relaciona-se mais intimamente
com a idéia de revelar: de por em evidencia aquilo que até então estava oculto, de acessar o até então ignorado; dessa maneira as Descobertas imperiais cunham para si um valor muito mais ligado a revelação do espaço outro, das colônias por excelência, e o intercâmbio cultural entre o espaço do descobridor e o do descoberto, criando assim uma certa extensão entre as culturas o que resulta na própria “invenção da humanidade”.(p.82)
4- As chaves do descobrir, segundo o texto são justamente os mecanismos pelos quais se
torna, de fato, possível o ato de descobrir em sua plenitude; em outras palavras são as chaves: ter em mente a definição do que se pretende descobrir, o estabelecimento do meio pelo qual se descobrirá, a execução de tal meio e por fim o retorno, o regresso ao ponto de partida; o regresso ganha evidência ao longo de tal processo por ser o ponto crucial, já que é ai, nessa momento, que se torna possível criar a ponte entre descobridor e descoberta, e a partir daí que a ligação é estabelecida e a troca, seja ela qual for, se torna possível.
5- Realmente, o que resulta dos descobrimentos, do encontro de sociedades até então
isoladas, são as relações estabelecidas e os desdobramentos de tais relações. A busca pelo outro faz com que se enxergue a si próprio, como num exercício de comparação em que as sociedades isoladas até então seriam, opacas, impermeáveis e com a Descoberta põe-se em prática o exercício de comparação: “E a comparação faz exatamente isso: ela rouba às coisas o seu conteúdo fechado, o que se compara perde um tanto de sua consciência opaca, e por isso mesmo se faz gerador de transparência.” (Gerd Bornheim, A descoberta do homem e do mundo, p.38) e isso é exatamente o que decorre do processo descobridor, as sociedades se comparam e se “entrelaçam” por assim dizer, criando o humano em sua pluralidade.