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Drogas e Estigmas
Leonardo de Arajo e Mota
Sobre a dificuldade do debate daquilo que se convencionou chamar de a
questo das drogas, desejo ressaltar que condenar os discursos maniquestas sobre as
drogas e sua contribuio para a estigmatizao do usurio no significa afirmar que tais
substncias sejam desprovidas de perigos. O abuso de qualquer droga, que pode ser
tanto tranqilizantes comprados em uma farmcia como cocana adquirida ilegalmente,
no se constitui uma prtica saudvel. Por outro lado, as representaes fantasiosas,
reducionistas ou mesmo intencionais de um fenmeno complexo no contribuem para
esclarecer pontos fundamentais. Tomo emprestadas as palavras de Gilberto Velho:
Os debates sobre as drogas esto hoje permeados por um clima altamente
emocional, s vezes mesmo truculento. Essa uma razo fundamental para que
tentemos discutir e examinar a questo do uso das drogas atravs de
perspectivas variadas e procurando, atravs do dilogo civilizado, chegar a
algum tipo de esclarecimento mais racional sobre a questo, que
extremamente complexa, que envolve diversas variveis e que normalmente
nas discusses que se travam sobretudo na imprensa - tendem a desaparecer e
produzir debates maniquestas, polarizaes que em nada ajudam a uma
compreenso mais complexa desse conjunto de fenmenos.
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Via de regra, a questo das drogas colocada para a maioria da populao em
termos de formulaes do tipo: Toda droga leva morte, a droga a principal causa
da violncia nas grandes cidades, toda pessoa que experimentar uma droga (em geral,
ilcita) ir tornar-se um viciado e assim por diante. Neste sentido, prope-se um
discurso de demonizao das drogas, centrado predominantemente nas drogas ilcitas,
justamente aquelas que representam o menor contingente de usurios no Brasil.
A propsito, o que uma droga? A etimologia da palavra controversa, mas a
verso mais provvel a holandesa (droog = seco) e refere-se aos carregamentos de
peixe seco que chegavam Europa em ms condies de consumo. Dessa forma, a