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21 DE NOVEMBRO

42. APRESENTAÇÃO DE NOSSA SENHORA


Memória

– O sentido da festa. A entrega de Maria.

– A nossa entrega. Correspondência à graça.

– Imitar Nossa Senhora. Renovar a entrega.

Neste dia, recorda-se a consagração da igreja de Santa Maria Menina, construída perto do
Templo de Jerusalém para comemorar a dedicação que a Virgem – conforme uma piedosa
tradição – fez de si própria ao Senhor, desde a sua primeira juventude, movida pelo Espírito
Santo, de cujas graças estava repleta desde a sua Conceição Imaculada. A festa foi
introduzida no Ocidente no século XIV.

I. NADA SABEMOS DA VIDA de Nossa Senhora até o momento em que o


Arcanjo lhe apareceu para anunciar-lhe que tinha sido escolhida para ser a
Mãe de Deus. Cheia de graça desde o primeiro momento da sua concepção,
Maria teve uma existência completamente singular – Deus guardou-a em cada
instante com um amor único e irrepetível – e ao mesmo tempo foi uma criança
normal, que encheu de alegria todos os que conviveram com ela.

São Lucas, tão diligente em examinar todas as fontes que pudessem trazer-
lhe notícias e dados, omite qualquer referência à meninice da Virgem. Muito
provavelmente, Nossa Senhora nada lhe disse dos seus primeiros anos porque
pouco tinha a contar: tudo se passou na intimidade da sua alma, num diálogo
contínuo com seu Pai-Deus, que esperava, sem pressas, o momento inefável e
único da Encarnação. “Mãe! Por que nos ocultaste os anos da tua primeira
juventude? Virão depois os evangelhos apócrifos e inventarão mentiras;
mentiras piedosas, sim, mas, ao fim e ao cabo, imagens falsas do teu
verdadeiro ser. E dir-nos-ão que vivias no Templo, que os anjos te traziam de
comer e falavam contigo... Sempre milagres, milagres... E assim te afastam de
nós”1, quando estás tão perto da nossa vida quotidiana!

A festa que celebramos hoje não tem a sua origem no Evangelho, mas numa
antiga tradição. A Igreja não quis aceitar as narrações apócrifas segundo as
quais Nossa Senhora teria passado a viver no Templo desde os três anos de
idade, consagrada a Deus por um voto de virgindade. Mas aceita o núcleo
essencial da festa2, a dedicação que a Virgem fez de si própria, já desde a
infância, movida pelo Espírito Santo, cuja graça a inundava desde o primeiro
instante da sua concepção. Do que não há dúvida é de que foi absolutamente
real a plena entrega de Maria a Deus, conforme foi crescendo.

Hoje é, pois, a festa da total entrega da Virgem a Deus e da sua plena


dedicação aos planos divinos. Por essa plena entrega, que inclui a dedicação
virginal, Nossa Senhora pôde dizer ao Anjo: Não conheço varão3. Essas
palavras descobrem delicadamente uma história de entrega que teve lugar na
sua alma. Maria é já o primeiro fruto do Novo Testamento, em que a excelência
da virgindade sobre o casamento alcançará todo o seu sentido, sem com isso
diminuir o valor santificante da união conjugal, que o próprio Cristo elevará à
dignidade de sacramento4.

Hoje pedimos à nossa Mãe que nos ajude a tornar realidade essa entrega do
nosso coração, segundo a peculiar vocação que cada um tenha recebido.
“Tens de entrar em colóquio com Santa Maria e confiar-lhe: – Ó Senhora, para
viver o ideal que Deus meteu no meu coração, preciso voar... muito alto, muito
alto!

“Não basta que te desprendas, com a ajuda divina, das coisas deste mundo,
sabendo que são terra. Mais ainda: mesmo que coloques o universo inteiro
num montão debaixo dos teus pés, para estares mais perto do Céu..., isso não
basta!

“Precisas voar, sem te apoiares em nada daqui de baixo, pendente da voz e


do sopro do Espírito. – Mas, dizes-me, as minhas asas estão manchadas!: de
barro de anos, sujo, pegajoso...

“E insisti contigo: recorre à Virgem. – Senhora – repete-lhe –, mal consigo


levantar voo!, a terra atrai-me como um imã maldito! – Senhora, Tu podes fazer
que a minha alma se lance em voo definitivo e glorioso, que tem o seu termo
no Coração de Deus.

“Confia, que Ela te escuta”5.

II. A VIRGEM MARIA foi a criatura que teve maior intimidade com Deus, a
que d’Ele recebeu o maior amor; foi a cheia de graça6. Nunca negou nada a
Deus, e a sua correspondência à graça e às moções do Espírito Santo foi
sempre plena. Devemos aprender d’Ela a dar-nos por inteiro ao Senhor, com
uma plenitude de correspondência generosa, no estado e na vocação que
Deus nos deu, no meio dos afazeres quotidianos no mundo. Ela é o exemplo
que temos de imitar. “Tal foi Maria – ensina a este respeito Santo Ambrósio –,
que a sua vida, por si mesma, é para todos um ensinamento”. E conclui:
“Tende, pois, diante dos olhos, pintadas como uma imagem, a virgindade e a
vida da Bem-aventurada Virgem, na qual se reflecte como num espelho o brilho
da pureza e a própria força da virtude”7.

A nossa Mãe Santa Maria correspondia e crescia em santidade e graça.


Tendo sido cumulada dos dons divinos desde o primeiro instante, foi
alcançando uma nova plenitude na medida em que era fidelíssima às moções
que o Espírito Santo lhe concedia. Só em Nosso Senhor não existiu aumento
ou progresso da graça e da caridade, porque Ele tinha a plenitude absoluta no
momento da Encarnação8; como ensina o II Concílio de Constantinopla, seria
falsa e herética a afirmação de que Jesus Cristo se tornou melhor pelo
progresso das boas obras9. Maria, porém, foi crescendo em santidade no
decorrer da sua vida terrena. Mais ainda: existiu na sua vida um progresso
espiritual sempre crescente, que foi aumentando na medida em que se
aproximavam os grandes acontecimentos da sua vida aqui na terra: a
Encarnação do seu Filho, a Corredenção no Calvário..., a Assunção aos Céus.

Acontece o mesmo na alma dos santos: quanto mais perto vão estando de
Deus, mais fiéis são às graças recebidas e mais rapidamente caminham para
Ele. “É o movimento uniformemente acelerado, símbolo do progresso espiritual
da caridade numa alma que em nada se atrasa, e que caminha para Deus
tanto mais depressa quanto mais se aproxima d’Ele, quanto mais é atraída por
Ele”10. Assim deve ser a nossa vida, pois o Senhor nos chama à santidade no
lugar onde nos encontramos. E serão precisamente as alegrias e as penas da
vida as que nos servirão para irmos cada vez mais depressa para Deus,
correspondendo às graças que recebemos. As dificuldades habituais do
trabalho, o convívio com as pessoas, as notícias que recebemos..., devem ser
motivo para amarmos cada dia mais o Senhor.

A Virgem convida-nos hoje a não deixarmos escondido no fundo do coração


nada que não seja plenamente de Deus: “Senhor, tira a soberba da minha vida;
destrói o meu amor próprio, este desejo de me afirmar e me impor aos outros;
faz com que o fundamento da minha personalidade seja a identificação
contigo”11, que cada dia esteja um pouco mais perto de Ti. Dá-me essa pressa
dos santos em crescer no teu Amor.

III. NOSSA SENHORA dedicou-se plenamente a Deus movida pelo Espírito


Santo, e talvez o tenha feito nessa idade em que as crianças alcançam o uso
da razão, que n’Ela, cheia de graça, deve ter sido de uma particular
luminosidade; ou talvez o tivesse feito desde sempre..., sem que houvesse
nenhum ato formal. “A Virgem Maria menina sabia de sobra – afirma Santo
Afonso Maria de Ligório – que Deus não aceita corações divididos, antes os
quer completamente consagrados ao seu amor, em conformidade com o
preceito divino: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e com toda
a tua alma, e com todas as tuas forças (cfr. Deut 6, 5), e por isso, desde o
momento em que começou a viver, amou a Deus com todas as suas forças e
entregou-se completamente a Ele”12. Maria sempre pertenceu a Deus; e cada
vez mais conscientemente, com um amor que alcançava em todas as ocasiões
e circunstâncias uma nova plenitude.

Hoje, pode ser uma boa oportunidade – todos os dias o são – para que,
meditando nesta festa de Maria, na qual se põe de manifesto a sua completa
dedicação ao Senhor, renovemos a nossa entrega a Deus no meio dos
afazeres quotidianos, no lugar em que o Senhor nos colocou. Mas devemos ter
em conta que todo o avanço na nossa união com Deus deve passar
necessariamente por um trato mais frequente com o Espírito Santo, Hóspede
da nossa alma, a quem Nossa Senhora foi tão dócil ao longo da sua vida. Para
pedirmos essa graça, pode ser-nos útil a oração que o Bem-aventurado
Josemaría Escrivá compôs para a sua devoção pessoal:
“Vem, ó Santo Espírito!: ilumina o meu entendimento para conhecer os teus
mandatos; fortalece o meu coração contra as insídias do inimigo; inflama a
minha vontade... Ouvi a tua voz e não quero endurecer-me e resistir, dizendo:
depois..., amanhã. Nunc coepi! Agora!, não aconteça que o amanhã me falte.

“Ó Espírito de verdade e de sabedoria, Espírito de entendimento e de


conselho, Espírito de alegria e de paz!: quero o que queres, quero porque o
queres, quero como o queres, quero quando o quiseres...”13

Peçamos também a Nossa Senhora que haja muitas pessoas que, dóceis ao
Espírito Santo, se entreguem inteiramente a Deus, como Ela, desde a sua
primeira juventude.

(1) Salvador M. Iglesias, O Evangelho de Maria, Quadrante, São Paulo, 1991, pág. 16; (2) cfr.
Paulo VI, Exort. Apost. Marialis cultus, 2-II-1974, 8; (3) cfr. Lc 1, 34; (4) cfr. Conc. Vat. II, Const.
Gaudium et spes, 48; (5) S. Josemaría Escrivá, Forja, n. 994; (6) Oração colecta da Missa do
dia 21 de Novembro; (7) Santo Ambrósio, Sobre as virgens, II, 2; (8) cfr. R. Garrigou-Lagrange,
La Madre del Salvador, pág. 100; (9) cfr. Conc. Contantinopolitano II, Dz 224; (10) ib., 103; (11)
S. Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 31; (12) Santo Afonso Maria de Ligório, As glórias
de Maria, II, 3; (13) S. Josemaría Escrivá, Postulação para a Causa de Beatificação e
Canonização, Registro Histórico do Fundador, 20172, pág. 145.

(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal AQUI)

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