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Edgar Allan Poe escolheu muito bem o "animal" que faria parte de seu
texto, pois é aqui que surge a questão: Por que um "Gato Preto" ? Quer
dizer, poderia ser qualquer outro animal, já que está explícita a adoração do
narrador-personagem por animais “E eu tinha uma grande variedade de
bichos, meus favoritos”. De repente, poderia ser um cachorro preto ou um
coelho preto. Por que o Gato ? Pois aqui está uma resposta possível para
esta questão.
Se a intenção de Poe foi a de escrever um conto "macabro" cheio de
obscuridade, ele conseguiu isto com o Gato Preto. De acordo com um
dicionário de símbolos, o GATO PRETO é um animal relacionado as Trevas,
pois Preto é a cor dos soberanos do mundo subterrâneo, dos deuses dos
mortos bem como do Demônio na crença popular Cristã, e mais, o gato
também é capaz ( de acordo com as crenças) de matar as mulheres e
tomar-lhes a forma, e pode ser considerado o servidor do inferno,
simbolizando a obscuridade e a morte.
Uma interpretação possível em relação ao que seria o Gato Preto no texto, é
que ele ( O Gato ) era uma espécie de Bruxo ou Feiticeiro como nos é
mostrado através do “Essa inteligência era pouco comentada porque minha
mulher, embora não fosse supersticiosa, referia-se com freqüência à crença
popular que olha os gatos pretos como feiticeiras disfarçadas”. Esse é um
dos indícios de que o Gato é algo macabro. Outro indício que pode ajudar a
concluir essa função do gato no texto é seu nome "Plutão", que de acordo
com a Mitologia Grega, significa: o sobrenome ritual do Deus dos Infernos,
Hades. O Gato tem toda uma relação com algo de cunho satânico, pois no
texto ele não morre. Depois de ser enforcado pelo Homem, ele volta, como
algo inexplicável para o mundo físico. Primeiro, após ser enforcado, a casa
do Homem pega fogo, e apenas uma parede se mantém erguida. Nessa
parede está justamente a imagem do Gato que fora enforcado. Depois
quando passaram-se alguns dias, o Homem encontra outro Gato Preto, e
diz que é semelhante demais ao Plutão. “ Muito grande, tão grande quanto
Plutão...”.
Talvez Poe quisesse deixar em pauta ou enfatizar o estado cíclico do texto,
ou seja, quando o "segundo Gato" é encontrado, inicia-se um novo ciclo, e
também estaria relacionado com o mito de que os Gatos possuem sete
vidas. Então aí, o segundo Gato, na verdade, era o mesmo Plutão, que
talvez tenha voltado para terminar algo que começou, como por exemplo
punir o Homem por suas crueldades, como em "O gato que me levara ao
crime e cuja voz delatora me havia entregue ao carrasco".
Outra pergunta surge, mas agora em relação ao Homem.
O que leva o Homem a cometer as crueldades tanto com o gato quanto com
a mulher, já que era um Homem dócil quando criança e apaixonado por
animais?
Logo no início do texto o narrador- personagem nos mostra algumas de
suas características psicológicas dizendo ser dócil e amável, mas a seguir
narra como esse comportamento mudou completamente após começar a
beber demais e sempre relacionava sua ira com o Gato. “ - Não só
descuidei-me de mim, de minha mulher e de meus bichos, como os
maltratava com a maior crueldade”. Então cometeu a primeira crueldade
com o Gato. Lhe arrancou um dos olhos. Outras questões podem surgir :
Por que arrancou apenas um dos olhos do Gato e não os dois? Ou por que
fez isso com o Gato que não lhe fazia mal algum, pelo contrário, que até
pouco tempo era amado pelo Homem?
Uma interpretação possível seria que o Homem, apesar de aparentar um
comportamento dócil, tinha dentro de si a maldade, e o Gato Preto por ser
um Ser sobrenatural, acabou por aguçar essa maldade que já existia no
Homem. O Homem por fim, se sentia mal apenas com a presença do Gato,
pois de uma forma ou de outra, ele acabava se vendo nos olhos do Gato
Preto, ou seja, ele via todo seu lado mal e obscuro, e por isso acaba lhe
tirando um dos olhos, como em uma tentativa inconsciente, de privar o
Gato de ver o seu lado mal, e ele mesmo de não enxergar mais seu próprio
mal. Por isso apenas um dos olhos, pois parte-se do pressuposto que o ser
Humano é constituído por Bem e Mal, então o Gato aguçava o lado mal do
Homem que o leva à crueldade de matar sua mulher que tanto amava de
modo frio e brusco.
Quando o Homem comete sua primeira crueldade com o Gato, e depois o
enforca, sua casa pega fogo e ele acaba de uma certa forma, reencontrando
o Gato em sua vida, pois estava lá na parede que não caiu, a imagem do
Grande Plutão, e mais tarde o "novo Gato Preto", que trazia consigo a
marca de uma forca no peito, como em um sinal de punição ao Homem. “-
Era agora a reprodução exata de uma coisa horrenda, apavorante: uma
forca. Máquina de crime, de agonia e morte”.