You are on page 1of 2

A escola global e a “onda” EPIS

“A realidade é que as razões verdadeiras estão quase sempre ocultas.”


(Richard Bach)

Se na década de 80 a OCDE tinha definido a qualidade do ensino como ponto fulcral da sua
agenda, dez anos depois estabeleceu como prioridade a avaliação das escolas, dos professores e
das aprendizagens. O Estado português e os media começam então a prestar atenção redobrada à
análise comparativa dos resultados internacionais.
Esta agenda educativa global marcada pela ideologia da qualidade e da eficácia do sistema
educativo é bem acolhida por políticos e empresários. A noção de competência, por exemplo,
entra na gramática das escolas por via do mundo empresarial: não basta saber os “saberes”, é
preciso mobilizá-los em contextos sempre renovados.
Os novos princípios defendem a necessidade de se promover a articulação entre a escolarização,
o emprego, a produtividade, o mercado, no pressuposto de que daí resultará o equilíbrio do
défice e o aumento do PIB. Solicita-se ao sistema que racionalize e optimize os seus
investimentos e recursos e recomenda-se uma gestão escolar baseada em critérios de eficiência e
de competitividade.
A retórica que defende a organização de um mercado escolar instituído com base nas
preferências dos “consumidores” é exactamente a mesma que transfere para o terreno educativo
a moderna fraseologia empresarial: metas educativas, sustentabilidade, gestão global, standard
superior, hard skills (pensamento estratégico, planeamento e controlo, accountability, gestão de
projectos, inovação), soft skills (gestão e motivação de equipas, gestão de conflitos,
comunicação interna e externa, gestão de parcerias), mecânicas de proximidade, práticas de
benchmarking…
A qualidade e a excelência assumem-se, deste modo, como novos paradigmas de uma escola
que se abre aos seus “clientes futuros”: as universidades e as empresas.
Nesta lógica, a escola com qualidade é aquela que promove o progresso de todos os alunos em
todos os aspectos do seu rendimento e aproveitamento, para além do que se podia esperar, dada
a sua situação inicial e o seu aproveitamento anterior, assegurando que cada aluno consegue o
maior sucesso possível e continua a melhorar de ano para ano.
Uma escola assim remete para o princípio da equidade: uma escola só é eficaz se o for para
todos os alunos. Está associada à noção de valor acrescentado, o indicador utilizado para medir
a eficácia da escola; não é o rendimento máximo da escola mas sim o avanço relativamente às
suas potencialidades. Salienta o desenvolvimento integral do aluno, não reduzindo o seu sucesso
aos aspectos meramente cognitivos. Aposta na continuidade, ou seja, uma escola com qualidade
tem de manter elevados padrões de desempenho ao longo de um certo número de anos.
Desta forma, o sistema educativo continuará a ter de promover o talento e o mérito mas,
paralelamente, não poderá deixar de promover o sucesso “mínimo” de modo a que todos
possuam a escolaridade obrigatória.
Mas uma educação com qualidade tem custos e o Estado tem procurado reduzir a sua
intervenção ao mostrar-se favorável à devolução de parte das suas funções às autarquias e à
iniciativa privada.
E é precisamente neste contexto que se insere o projecto da Associação EPIS, – Empresários
Pela Inclusão Social denominado – “Mediadores para o sucesso escolar”, que terminou o
segundo ano de trabalho no terreno e o primeiro completo de capacitação para o sucesso
escolar. Este projecto teve início no ano lectivo 2007/2008, envolvendo os alunos dos 7º e 8º
anos, bem como uma equipa de oito psicólogas.
De acordo com o seu último relatório de avaliação, o trabalho dos mediadores da EPIS ao longo
dos três períodos de 2008/2009 determinou um aumento da taxa de aprovação dos alunos EPIS
em 14 pontos percentuais.
Este ano lectivo, a Associação EPIS pretende atingir um standard superior através do projecto
“Boas práticas de Gestão nas Escolas”. Após um estudo de vários meses em parceria com o
Ministério da Educação e com a consultora McKinsey & Company, que permitiu inquirir cerca
de 500 escolas, foi elaborado um manual de boas práticas, o qual foi oficialmente apresentado
durante os meses de Outubro e Novembro.
As escolas ficaram a conhecer as fases do projecto, bem como a Plataforma EPIS, uma
ferramenta pensada e concebida no sentido de ajudar as equipas directivas a identificar pontos
de melhoria e a definir planos de acção.
Também sob o patrocínio do Ministério da Educação, a EPIS, a Universidade Católica
(Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais e Faculdade de Educação e de Psicologia) e
a Universidade de Lisboa (Faculdade de Economia e Faculdade de Ciências Sociais e Humanas)
estão a lançar as bases para a criação de um programa de formação para directores de escola,
num contexto de formação avançada, em ambiente de business school. O objectivo é realizar
um projecto-piloto nacional durante este ano lectivo.
Neste contexto, não é difícil adivinhar qual será próximo standard superior a alcançar…
Entretanto, os partidos políticos, as associações sindicais e os media continuam muito
entusiasmados com a discussão do modelo de avaliação do desempenho docente.

“Podemos imaginar um futuro em que o Ministério da Educação terá apenas funções de


regulação do serviço público de Educação. A escola continuará a ser o local de prestação do
serviço de Educação onde se farão sentir, e serão sempre maiores, as exigências de liderança e
de responsabilização pelos resultados dos alunos, bem como as exigências de garantia da
qualidade das aprendizagens.”

(Maria de Lurdes Rodrigues)

Fernando Alberto Cardoso

You might also like