O documento descreve o método comparativo na Antropologia Social, apresentando como Radcliffe Brown estudou a divisão dual de uma sociedade australiana, comparando-a com outras para entender padrões universais. Ele identificou que a oposição entre as metades é comum e serve para integrar os grupos, como o princípio yin-yang na China. O método comparativo permite generalizar aspectos culturais a partir de casos particulares.
O documento descreve o método comparativo na Antropologia Social, apresentando como Radcliffe Brown estudou a divisão dual de uma sociedade australiana, comparando-a com outras para entender padrões universais. Ele identificou que a oposição entre as metades é comum e serve para integrar os grupos, como o princípio yin-yang na China. O método comparativo permite generalizar aspectos culturais a partir de casos particulares.
O documento descreve o método comparativo na Antropologia Social, apresentando como Radcliffe Brown estudou a divisão dual de uma sociedade australiana, comparando-a com outras para entender padrões universais. Ele identificou que a oposição entre as metades é comum e serve para integrar os grupos, como o princípio yin-yang na China. O método comparativo permite generalizar aspectos culturais a partir de casos particulares.
RESUMO - O mtodo Comparativo em Antropologia Social. MELLATI, J. C. (org).
Radcliffe Brown: Antropologia. Editora tica.
A Antropologia Social um campo da Antropologia que examina elementos culturais quanto s suas funes na satisfao de necessidades humanas. Um dos seus maiores representantes Bronislaw Malinowski, que considerado o fundador da pesquisa de campo in loco, em que teorias fundamentadas e verificveis so deduzidas da coleta de dados nas sociedades a serem observadas. Radcliffe Brown o autor deste captulo que aborda o mtodo comparativo na Antropologia Social, sendo este um artigo publicado no Journal of the Royal Anthropological Institute, em Londres, 1952, traduzido por Mellati Na Inglaterrra os antropologos fazem uma distino entre Etnologia e Antropologia Social. Franz Boaz (1888-96) afirmou que a Antropologia possui duas tarefas: a primeira envolve uma reconstruo histrica de certos povos e regies; e a segunda compara a vida social de diferentes povos que podem ou no ter alguma conexo entre si. Assim, os antroplogos ingleses denominaram a primeira tarefa a Etnologia e a segunda a Antropologia Social - AS. O Mtodo Comparativo na AS era definido como um "mtodo de gabinete", no qual o pesquisador procurava por aspectos similares j descritos (no presente ou passado) entre dois ou mais diferentes povos. Entretanto, chegou-se a concluso de que a AS deve combinar a "antropologia de gabinete" com os aspecto da vida social no qual o povo em estudo est inserido (Malinowski). "A teoria sociolgica deve ser baseada na comparao sistemtica e continuadamente testada por ela" (pg.44). O autor traz ento exemplos do Mtodo Comparativo na AS. Ele comea observando uma sociedade particular na Austrlia que possui uma diviso da sociedade em duas partes denominadas gavio-real e corvo, no qual um homem no pode se casar com uma mulher da sua diviso, ou seja, um sistema matrilinear exogamico. Quando se est analisando uma sociedade particular, um modo de explicar suas caractersticas analisando sua histria. Como esta sociedade em questo no dipem de nenhuma histria autntica, Brown coloca que deve se ento procurar por paralelos em outras sociedades. O autor encontrou paralelos em sociedades dentro e fora da Austrlia, como, por exemplo, um caso semelhante nos Estados Unidos no qual um grupo do noroeste da Amrica que tambm possuem duas metades matrilineares exogmicas denominadas guia e corvo. Assim como encontrado neste grupo, uma coleo de paralelos pode ser expandida a um grupo social que recebe uma identificao e diferenciado de outros por agregao com uma espcie natural. Contudo, Brown afirma que isto leva a um problema geral, no qual questiona como possvel compreender os costumes nos quais os grupos so distinguidos pela associao a uma mesma espcie natural (um totem)? Ele chama a ateno que ao indagar o porqu destas associaes deve-se buscar entender esta diviso como parte da estrutura social do povo em questo. Assim, no deve-se questionar por que a escolha de aves, mas sim por que gavio-real e corvo, ou outros pares. Ao buscar em diferentes partes da Austrlia narrativas sobre relao entre as duas espcies avirias, o autor identificou que a associao feita de o gavio-real e o corvo so representantes oponentes em alguma sorte de conflito: neste caso o gavio-real o caador e o corvo o ladro. Muitos dos contos destas sociedades possuem um nico tema: as semelhanas e diferenas entre os animais so traduzidos, na maioria das vezes, em termos de oposio, ou seja, a vida animal representando em termos de relaes sociais similares a sociedade humana. Assim, um estudo comparativo revela que as ideias australianas sobre o gavio-real e o corvo so somente um exemplo dentro de um fenmeno maior. Primeiramente, os contos trazem o antagonismo, interpretando as semelhanas e diferenas das espcies animais. Em segundo lugar, as espcies so colocadas em pares de opostos, mas h sempre uma caractersticas no qual se paream uma com a outra. Segundo Brown, a ideia de oposio nestas sociedades australianas diverge da associao de contrariedade do pensamento universal humano que busca pares de contrrios como forte e fraco, alto e baixo. Para ele, a concepo australiana de oposio une a ideia de um par de contrrios com a de um par de oponentes: no caso do gavio-real e do corvo, eles so duas aves oponentes no sentido de serem antagonistas. Assim, aps um grande estudo comparativo, o autor afirma justifica que pode estabelecer uma lei geral, segundo a qual em qualquer lugar, seja na Austrlia, Melansia ou Amrica, em que exista uma estrutura social de metades exogmicas, as metades so pensadas como estando em uma relao de (...) oposio (pg.51). O segundo passo num estudo comparativo tentar encontrar quais as vrias formas que se ope entre metades de uma sociedade dual. Para Brown, no h uma hostilidade total no sentido prprio do termo, todavia apenas uma atitude convencional que encontra expresso em algum modo habitual de comportamento. Ele afirma que a oposio entre as metades pode tomar vrias formas, destacando a instituio, a qual os antropologos nomearam de the joking relationship, em que os membros de divises opostas consentem/ toleram aborrecimentos causados reciprocidamente uns aos outros oralmente. Esta instituio tem por funo manter uma continua relao entre os dois grupos, no qual a hostilidade aparente, mas artificial. Um elemento de extrema significncia para entender a instituio da exogmia de metades o casamento, pois este ocorre somente entre pessoas pertencentes a metades opostas. Em muita sociedades, tomar a mulher em casamento representado (simbolicamente) como um ato de hostilidade contra a famlia ou grupo dela. No Timor- Leste apesar de no haver esta diviso de metades como nos exemplos acima, o casamento considerado como uma perda para a famlia, devendo portanto o noivo compensar isto atravs do barlake, um ato no qual retribui a famlia da noiva com bfalos, cavalos, cabras e s vezes dinheiro. Este costume um reflexo da estrutura social, pois a perda de um de seus membros reconhecida como um dano ao grupo. O homem no est comprando sua esposa, mas compensando sua famlia pela perda. H diferentes aspectos da organizao dual destas sociedades que devem ser considerados num estudo completo. O estudo comparativo, por exemplo, da diviso gavio-real - corvo do grupo da Austrlia, permite enxergar como este sendo um tipo distribudo de aplicao de um certo principio estrutural, pois a oposio (denominada assim por Brown) no apenas afasta, como tambm une as duas metades, permitindo uma integrao social. Para elucidar sua afirmao, Brown traz a filosofia chinesa Yin-Yan, que so elementos opostos, mas a unio destas duas entidades formam um todo, uma "unidade de opostos" (pg.55). Segundo ele, esta filosofia chinesa a elaborao sistemtica do princpio que pode ser utilizado na definio da estrutura social dual nas tribos australiana, pois estes grupos so uma unidade de grupos opostos, representados pelo gavio-real e o corvo. Ele afirma ento haver trs tipos principais de relao entre pessoas/ grupos na estrutura social das comunidades australianas: 1) a relao de inimizade e luta; 2) relao de solidariedade simples (dentro do grupo local, no qual tais pessoas no podem "lutar"); e 3) a relao de oposio que, diferente do primeiro, mais uma combinao de acordo e desacordo, solidariedade e diferena. Brown comeou sua pesquisa com um aspecto particular de um grupo de uma determinada regio na Austrlia, identificando as metades exogmicas existentes. Ao comparar com outros grupos dentro e fora da Austrlia, observou que esta diviso dual uma tendncia largamente distribuda nas sociedades humanas. Para tal, identificou- se alguns problemas gerais no estudo dos grupos duais: primeiro, o totemismo como fenmeno social; segundo, a natureza e o funcionamento das relaes e estruturas sociais baseadas na "oposio". Desta forma, para o autor, o mtodo comparativo consiste em ir do particular para o geral, do geral para o mais geral, buscando chegar ao modo universal, s "caractersticas que podem ser encontradas em diferentes formas em todas as sociedades humanas" (pg. 57). Assim, o mtodo comparativo no encontra somente problemas, mas permite obter material que facilite o caminho para a soluo. Finalizando, Brown ressalta novamente a diferena entre Etnologia e Antropologia Social, destacando que o mtodo comparativo pertence a AS, pois, diferente da pesquisa histrica da Etnologia, no busca explicar, mas compreender um aspecto particular de uma sociedade particular, dentro de um universo maior, com proposies gerais.