Romanzine – Fevereiro de 2009 1

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EDIÇÃO Nº TRÊS: Fevereiro de 2009

Nesta Edição:

Notícia: “Minha carta para Christine Feehan”

por Jacqueline Maia

Artigo:“Robin Cook, autor romântico?”

por Jossi Borges

ROMANCE INÉDITO:
DESTINOS ENTRELAÇADOS de
Telyka Madelynne (continuação)
 Romanzine – Fevereiro de 2009 2

EDITORIAL – RomanZine em ritmo de verão. Praia, sol, calor, sangue quente...

mas nem por isso deixamos de lado nosso lado, nossa veia romântica. Somos
mulheres, gostamos de sonhar, de viajar nos romances... e convido vocês a lerem a
carta interessante que Jacqueline Maia enviou para Christine Feehan... e a resposta
que obteve sobre as possíveis edições em português. Também tem a continuação de
DESTINOS ENTRELAÇADOS... Mariah, que sofreu horrores nas mãos daquele pai
impiedoso, um monstro, não um pai. Ela conseguirá superar aquilo?
Beijos!
Jossi Borges

A resposta dela também segue

abaixo, mas o fato é que ela falou
Minha carta para Christine que a Bertrand Editora, em Portugal
adquiriu os direitos do Lenda
Feehan
Sombria. Em pesquisa no Google,
aparentemente a Bertrand é
Por Jacqueline Maia representada aqui no Brasil pela
editora Record. Baseado nisso,
mandei email, que segue também
abaixo para as editoras
questionando a intenção de publicar
os livros em português, e dando
início, quem sabe, a campanha
publiquem CF em Português. Agora
é só aguardar a resposta das
editoras. Fiquem a vontade para
mandar emails as editoras também
e caso tenham alguma resposta
postem por aqui.

Os emails da Bertrand de Portugal

são:

info@bertrand.pt
leitor@bertrand.pt

E da Bertrand do Brasil,
representada pela editora Record:

Por Jacqueline Maia
Meninas,
No ultimo dia 07 de fevereiro
escrevi um email a CF falando da
minha admiração pelo trabalho dela,
e de como eu gostaria de ver os
trabalhos dela publicados no Brasil.
rosemary@record.com.br
Prezada Christine,
Meu nome é Jacqueline e eu sou do
Brasil. Primeiramente, me desculpe
pelo inglês ruim, mas eu queria
muito escrever pra você.
Eu sou da cidade de Belo Horizonte,
em um estado chamado Minas
 Romanzine – Fevereiro de 2009
Gerais. Minas gerais têm lindas
cachoeiras e cidades históricas
construídas pelo trabalho escravo
(essa foi uma época ruim em nossa
história). Eu estou distante da praia
e do mar, mas perto das
montanhas.
Eu li toda a série Cárpatos e amei as
histórias. É maravilhoso como a
companheira muda a vida do
poderoso homem Cárpato. Você foi
muito sensível na maneira de lidar
com os sentimentos, bons e ruins, e
eu chorei várias vezes enquanto lia.
Eu também li as histórias das Irmãs
Drake e elas são muito divertidas.
Eu ria sozinha quando me embrava
das discussões entre o Jonas e a
Hanah.
Estou aguardando ansiosamente o
lançamento do seu próximo livro,
“Dark Slayer”. Quando eu li a
história do Manolito comecei a
acreditar que a Ivory não estava
morta. Eu acho que a história da
Ivory e do Razvann será
maravilhosa e causará muita
emoção. Eles são um casal muito
poderoso.
Eu li sua entrevista no site
“Romantic Time at Heart” e tive
muita empatia com você porque
também sou muito próxima da
minha família. Em seus livros você
sempre salienta a importância da
família, direta ou indiretamente, eu
gostei disso.Eu acredito que o livro
“Dark Slayer” terá um encontro
muito emocionante entre Razvan e
suas filhas Colby, Skyler e Lara, e
também Natalya, sua irmã.
Muitos fãs brasileiros querem que
você publique seus livros por aqui,
inclusive eu. Se isso acontecer um
dia, eu desejo somente que você
escolhe uma boa editora, que
respeite e não mutile pedaços da
sua história. Algumas editoras,
principalmente a Harlequin Brasil e
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a Nova Cultural, não respeitam os
leitores.Mas esse email não tem o
objetivo de protestar contra as
editoras brasieleiras.
Eu desejo a você boas idéias e
muita felicidade em sua vida.
A Resposta da Christine
Hello Jacqueline,
Thank you for taking the time to
write. You English is very good. I
am very happy to know that you are
enjoying my Dark series and that
you are looking forward to reading
Dark Slayer. I am glad that you are
also enjoying my Drake Sisters
series. I also love that series
because of the closeness of the
sisters. I assume that you are
reading my stories in English. The
rights to one of my books, Dark
Legend, was bought by a
Portuguese publishing company,
Bertrand Editora, LDA. I do not
know if it was ever published. The
company might be from Portugal.
You can always write to a Brazilian
publishing company that you think
does a good job and ask them to
translate and publish my work in
Portuguese. You never know they
might decide to do it.
I thank you again for your letter and
hope that you are able to continue
to enjoy my work.
All the best,
Christine Feehan
Olá Jacqueline,
Obrigada por disponibilizar tempo
para escrever. Seu Inglês é muito
bom.Eu estou muito feliz que você
esteja gostando da minha série
Sombria e também gostando das
Irmãs Drake.Eu também amo essa
séria devido a proximidade entre as
irmãs.Eu suponho que vocês esteja
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lendo minhas histórias em inglês. Os editora se animar a publicar

direitos de um dos meus livros, Christine Feehan no Brasil.
Lenda Sombria, foram comprados
por uma editora Portuguesa,
Bertrand Editora, LDA. Eu não sei se
foi publicado. A companhia deve ser
de Portugal. Você sempre pode
Robin Cook: Autor
escrever a editores brasileiros que Romântico?
você acha que faz um bom trabalho
e pedir-lhes para traduzir e publicar Por Jossi Borges
o meu trabalho em Português.
Nunca se sabem se eles podem
decidir publicar,
Agradeço novamente a sua carta e
espero que você continue a apreciar
o meu trabalho.
Tudo de bom.
Christine Feehan
Meu email para a editora
Bertrand

Prezados,

Boa Noite!
Sou fã da obra da autora americana
Chistine Feehan e fui
informada,através de email recebido
pela autora de que a Bertrand
Editora, LDA de Portugal adquiriu os
direitos de publicação do livro "Dark
Legend", oitavo livro da Dark Serie.
Gostaria de saber se vocês tem
intenção de publicar essa série, e
por conseguinte, a Bertrand do
Brasil, representada pela editora
Record.
Pergunto isso porque os livro desta
escritora tem um apelo sobrenatural
que agrada muito as leitoras
brasileiras, e acredito que também
as portuguesas.Como o livro não
está disponível em português temos
de fazer malabarismos para lê-los.
Fico no aguardo do retorno de
vocês.
Então agora é só torcer para a
Eu gosto muito do autor Robin
Cook, pois seus livros de intenso
suspense nos levam ao “mundo
paralelo” da ficção médica. Não seria o
caso de um novo sub-gênero literário, a
ficção médica? Pelos meandros
inimagináveis de sua mente científica
porém fantasiosa, o autor nos leva para
dentro de hospitais maravilhosos ou
sinistros, consultórios médicos com
instalações luxuosíssimas ou precárias e
assustadoras, descobertas científicas
alucinantes e maravilhosas, ruas sinistras,
cidades grandes ou rincões interioranos
dos Estados Unidos, sempre nos
acompanhando com seu suspense
hipnótico e viciante.
Seus romances são pura
adrenalina, puro mistério e aventura.
 Romanzine – Fevereiro de 2009
Mas alguns deles nos surpreendem por
conterem alguns elementos que
constituem o elixir supremo da ficção
feminina: O romantismo. São poucos,
claro. A maioria do que li não deixa
dúvida quanto ao desenrolar meramente
aventureiro ou misterioso da trama. Mas
em dois de seus livros eu constatei o
elemento romântico em doses leves, mas
saborosas.
O livro “Risco Calculado”
(Acceptable Risk) um título pouco
romântico, por sinal, é a trama que
envolve um jovem cientista, uma
descendente de bruxa e a descoberta
daquele cientista, que consiste em uma
potentíssima droga alucinógena.
Kimberly Stewart é a jovem
descendente de uma bruxa, ou melhor,
de uma mulher inocente, condenada e
queimada na fogueira como bruxa, nos
Estados Unidos do século XVII.
Edward, o cientista, envolve-se com
Kimberly, e graças à sua pesquisa, tenta
comprovar que sua ancestral, tida como
bruxa, foi usuária involuntária de um
fungo com propriedades alucinógenas, o
que causou toda a polêmica da
“bruxaria” de
Salem.
Kimberly
apaixona-se por
Edward, e o
apoia em suas
pesquisas.
Porém, ao
descobri o
retrato de
Elizabeth
Stewart no
casarão de seus ancestrais, ela
imediatamente identifica-se com a linda
mulher de cabelos negros, que sofrera
tantas torturas por pessoas fanáticas e
ignorantes, e jura limpar a mácula que
atingira o nome de sua ancestral.
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A história é permeada por um
suspense intrigante, quando Edward
descobre as propriedades do fungo e cria
um antidepressivo potente. Porém, sua
personalidade, ao testar o mesmo em si
próprio, começa a modificar-se. Coisas e
fatos estranhos passam a acontecer...
Kimberly vê-se acuada por um mistério
terrível e por uma suspeita dolorosa: A
de que Edward tenha se transformado
em uma criatura demoníaca.
Ao mesmo tempo, a leitura de
antigos documentos da Salem do século
XVII relativos a Elizabeth a tornam mais
e mais curiosa a respeito do que
acontecera à pobre mulher... e faz uma
surpreendent descoberta.
E o amor? Sim, até mesmo o
amor de Kim e Edward é posto à prova
diante de tais descobertas aterradoras. E
descobrimos que, afinal, diante da
ambição desmesurada e do exagerado
apego às coisas materiais, até o mais
profundo amor entre um homem e uma
mulher pode fenecer... mas não a
esperança.
Para quem gosta de suspense, este
livro é imperdível. Para quem gosta de
mistério e doses de um romance
moderno e pé-no-chão, este livro é
ótimo. E finalmente, tem aquela pitada
de sobrenatural: Esse livro tem tudo.
Boa leitura!
 Romanzine – Fevereiro de 2009
Destinos Entrelaçados
Copyright © 2009 por Telyka Madelynne
(continuação)
***
Ricardo observa a pequena
figura que dança a margem do rio e
admira sua tenacidade. Depois do que
acontecera, a mocinha flertava com a
natureza como uma sacerdotisa
medieval. Mariah parecia estar se
deliciando num ritual.
Da janela de seus aposentos,
protegido pela renda diáfana das
cortinas, ele a espreitava desde que ela
iniciara seu passeio. Após estar
enclausurada tantos dias era seu primeiro
passeio. Já era tempo de conversar com
ela. O médico que estava prestando
assistência a elas, lhe dissera que Mariah
já estava bem. Sua juventude e o bom
organismo contribuíram para a até que pudesse seguir sua vida sozinha.
recuperação.
Mabá era quem inspirava
maiores cuidados ainda. A mulher quase
perecera, vítima de uma surra impiedosa.
Ferdinando mandara agredi-la, a fim de
tornar certo o ataque. O homem era um
louco, insano.
Um movimento lá embaixo, lhe
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interrompe os pensamentos e o faz se
enternecer. A criaturinha, meio
escondida pela neblina que ainda teimava
em não ceder seu lugar ao sol, parecia
uma figura mitológica. Uma deusa pagã
que com seus cabelos negros em volta
do corpo pequeno, valsava alegremente.
Fecha o coração a fim de não ser
tocado pela magia. A lenda brasileira da
mãe das águas, com seus cabelos negros
como a água escura do rio a cobrir o
corpo, vem nítida em sua mente. A
imagem que vira no museu em Lisboa,
marcada a fogo em suas retinas e seu
cérebro e agora se juntava a outra, de
olhos verdes, lábios cheios e
convidativos e lhe arrancava um
espasmo de suas entranhas, fazendo com
que seu controle fosse pelos ares. Era
exasperante.
Mariah era quase criança ainda.
E ele não devia sentir nada além de
piedade pela pequena criatura. Seu papel
era arrancá-la do pai e fazê-la conhecer a
vida e o mundo lá fora. Ser seu mentor
Mais tranqüilo, depois de avaliar-se com
rigor, ele desce para o café da manhã.
Vozes na sala da entrada, o faz ir ao
encontro de Dante.
Esconde o ódio e a surpresa ao
encontrá-lo na companhia de
Ferdinando tão cedo. O animal não
visitara a filha uma única vez sequer nos
 Romanzine – Fevereiro de 2009
dias anteriores.
– Não suportaria ver o
sofrimento da coitadinha, – queixara-se
com olhos brilhantes de lágrimas.
Crápula.
- Doutor Ricardo, nobre amigo.
– Ele estende a mão logo que Ricardo se
aproxima. – Desculpe-me aparecer sem
antes fazê-lo ciente, mas como estava
explicando ao nosso caro amigo, preciso
muito da ajuda dos senhores. As famílias
dos rapazes que pereceram na busca de
minha filha exigem uma indenização,
imaginem? Querem dinheiro pela
morte deles e como não guardo valores
em minha casa e a casa de Crédito está
fechada, gostaria que me socorresse até
que eu possa levantar esse valor. Sabem
como são as coisas. Pessoas como nós
temos muitos bens, mas não se levanta
grande quantia em tão pouco tempo e
eles não gostarão de esperar.
De cabeça baixa, Ricardo ouve o
discurso mentiroso do velho. Astuta, a
raposa pedia grandes somas a Dante,
sem garantia alguma. Como o
combinado, ele liberava quantias cada
vez mais altas, para aguçar a cobiça do
crápula que logo as perdia nas mesas de
jogo. Algumas vezes, na companhia do
próprio Dante, deixando seus bens em
garantia aos donos das casas. Bens que
eram resgatadas logo após sua saída. De
posse de quase metade deles, Ricardo
finge condoer-se com o infortúnio.
- O que seríamos de nós sem sua
amizade, não é? É na hora de nosso
infortúnio que distinguimos nossos
melhores companheiros. Dante, – ele se
volta para o amigo, - você tem meu
consentimento para fornecer a quantia
que o senhor Ferdinando necessita.
Aproveite e faça nossa proposta a ele.
- Sobre o Castelo de Paris? –
Dante joga a isca maior.
- Castelo em Paris? – Ferdinando
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rapidamente se mostra interessado na
troca de palavras entre Dante e Ricardo.
- Já é um fato a união de nossas
casas, pelo casamento. Será meu sogro.
Como pretendo me estabelecer por essas
terras, gostaria de lhe propor uma troca.
Meu Castelo em Paris por suas terras
daqui. Será simbólico, pois nossas
fortunas se agregarão mais adiante e está
na hora de viajar um pouco, não acha?
Apreciar as delícias que Paris oferece aos
solteiros é uma dádiva, não acha?
Atento às reações de Ferdinando, Dante
nota os olhos astutos aumentarem de
tamanho já antegozando as delícias
parisienses, à medida que as palavras de
Ricardo fluíam.
- Bem, – Ferdinando esfrega as
mãos, uma na outra, num gesto já
característico. – Pode ficar tranqüilo,
doutor Ricardo. Sei que não aprecia o
lado prático dos negócios. Resolveremos
esses pormenores, Doutor Dante e eu.
Interessa-me a troca, já que tenho
pensado em sair do Brasil por uns
tempos. Viver só naquela casa imensa
após o casamento de minha menina será
horrível.
Ricardo alega causas urgentes
para resolver e sai de perto de
Ferdinando. Estava difícil suportar as
mentiras deslavadas do salafrário, sem
poder revidá-las a altura.
Como combinado ele se
envolveria o mínimo possível com o
homem, restando a Dante a tarefa de
suportá-lo.
***
Ao entrar no jardim, de volta do
passeio à margem do rio, Mariah é
recebida pelo perfume das rosas. Leve
como uma borboleta caminha por entre
elas, parando aqui e ali, tocando-as
delicadamente, como a um beija-flor.
 Romanzine – Fevereiro de 2009
Lembra-se que uma das noites
em que se sentia prostrada por uma
febre intensa, imaginara ver Ricardo
entrar no quarto e chegar até o leito. Nas
mãos ele trazia uma rosa e a colocara no
travesseiro vazio a seu lado. Na tentativa
de agradecê-lo, seus lábios doeram.
Gentil, ele beijara-lhe a testa e lhe
dissera: - Você vai melhorar. Ficará boa
e ninguém mais vai te ferir. – Em
seguida, ele pegava um pano úmido e
com muita delicadeza lhe passava pelo
rosto. Como a febre aguçava a
imaginação. Onde um homem ocupado
como ele, iria fazer o papel de um
criado? O sorriso que aflora em seu
rosto ao imaginar a cena se acentua
quando se depara com um pé de rosas
totalmente amarelas. Reverente, beija
cada uma. Era o símbolo que sua mãe
lhe mostrara no sonho. Elas podiam lhe
trazer o amor.
Absorta em seus pensamentos
não nota que há poucos passos dali,
meio camuflado pelas paredes de vidro
da estufa, Ricardo a observa, tentando
vetar a ternura que o invade, além da
surpresa por sua rápida recuperação após
tanta violência.
Mariah trazia a beleza no
espírito. Outra mulher ficaria
traumatizada de tal maneira, que levaria
bem mais tempo para se recuperar.
Estaria ela tão acostumada à agressão do
pai? Ou sua juventude e vontade de
viver não deixavam lhe macular a alma?
Não a visitara durante os dias
para não constrangê-la, mas no decorrer
da noite quando todos dormiam, passava
por seus aposentos a fim de atestar sua
melhora. O sono pesado induzido pelos
remédios que o médico ministrava, às
vezes era quebrado pela febre alta que a
fazia debater-se em sofrimentos.
Sentava-se a seu lado e segurava sua
mão, tentando influir-lhe segurança e
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consolo, o que a acalmava, pois logo ela
se aquietava e se entregava a um sono
mais tranqüilo.
Seus olhos teimosos não se
afastavam da figurinha que passeia entre
as roseiras. Analisa sua protegida que
aparentemente frágil e meiga assumia sua
essência guerreira para vencer seus
desafios. Mariah seria uma boa esposa.
Seria uma invejável mulher quando
atingisse total maturidade. Não para ele,
claro. Ricardo contém as emoções que o
inquietam, impiedosas. Dali a algumas
horas falaria com ela e teria de ser
racional. Sempre se orgulhara de ser
contido. Sua lógica, às vezes beirava a
frieza e o fazia ser respeitado por amigos
e inimigos. Não podia se dar ao luxo de
se abalar mesmo diante do inusitado.
Uma mocinha ingênua e tímida não
podia conflitar tanto suas emoções,
jogando por terra, metas
minuciosamente elaboradas.
Ingênua ou fada, tímida ou
feiticeira, ele procuraria não se envolver.
Daria sua liberdade tão logo os planos
fossem concretizados e cuidaria para que
ela seguisse um bom caminho. Sua
inocência poderia jogá-la nos braços de
alguém como o pai e a história de sua
mãe se repetir. Teria que estar atento
como um mentor, mesmo à distância.
***
Crítica, ela se olha no espelho. A
criada de Ricardo que assumira o lugar
de Mabá até sua melhora, lhe prendera
os cabelos e tentara disfarçar com pó, as
marcas amareladas de seu rosto. Ainda
assim, Mariah não se sentia bonita.
Gostaria de ser como as mulheres lindas
que vira no teatro. Ricardo a olharia com
outros olhos.
A mínima lembrança dele
provoca um arrepio em seu corpo e faz
seu sangue correr rápido nas veias. A cor
 Romanzine – Fevereiro de 2009
modifica seu rosto. Aceitaria o pedido de
casamento, se ele fizesse novamente,
mas lhe falaria de seus temores. Sentia-se
segura e protegida só em saber que ele
estava por perto, que estava sob sua
guarda. Seria honesta com ele.
A entrada de Rosauro, com o
pedido para que fosse ao encontro dele
na biblioteca, acelera as batidas de seu
coração. Preparara-se para o momento,
mas sente que suas emoções ainda estão
desordenadas. Um simples pedido a
alvoroçava.
Antes de sair, olha com certo
desconforto para o espelho que mostra
sua figura magra. Não conseguira
preencher o belo vestido.
Apressada, atravessa os longos
corredores que a levam a outra ala da
casa. Seus olhos registram de relance, a
beleza e o luxo de cada ambiente.
Espera que Rosauro anuncie sua
presença e logo a voz forte e grave o
responde. Respira pausadamente na
tentativa de conter a emoção.
Ao entrar na biblioteca ainda
iluminada pelo sol da tarde, procura por
ele junto à mesa. Vê-la vazia, o faz correr
os olhos pelo ambiente. Encontra-o
parado ao lado de uma janela, fitando-a
seriamente.
Suas pernas lhe traem como se
não suportassem seu peso. A emoção
criteriosamente contida durante o dia de
espera, se solta como um pássaro a voar
desordenado, sem saber como bater suas
asas ou que rumo seguir, preso ao
magnetismo de algum predador.
Duas semanas sem vê-lo. Suas
lembranças não foram fieis ao retratá-lo.
Seguro e magnético, ele a atraia, fazia
com que cada passo leve e incerto a
levasse até ele.
Fecha os olhos por um segundo
e segura firmemente às mãos. Teme que
elas sigam a orientação de seu cérebro
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mal educado e se levantem para acariciar
o rosto dele. À vontade de se
aconchegar, de deitar a cabeça em seu
peito e deixar fluir sua carência, vem-lhe
à mente.
Quando braços protetores
envolvem seus ombros, abraça sua
cintura com naturalidade. Ouvir as
batidas fortes e ritmadas de seu coração
sob seus ouvidos, faz a emoção se
alastrar por toda sua alma.
- Gostaria de poder ficar aqui
para sempre. Obrigada. Devo-lhe minha
vida. – As palavras saem em fluxo de
seus lábios, sem que atine.
***
A voz baixa e trêmula que chega
aos ouvidos de Ricardo expressa um
agradecimento, mas ressoa em seu
cérebro como uma premonição. Era
como se ela dissesse. – Você é meu.
Não a analisa no momento, pois
Mariah se libertava de seus braços. Ao
senti-la se afastar, prende-a de volta,
num gesto instintivo.
Nota a surpresa nos olhos
verdes, mas não se sente em condições
de liberá-la, ao contrário, ergue a mão e
num gesto natural solta os prendedores
de seus cabelos, deixando-os caírem
livres até abaixo da cintura delgada.
Totalmente preso na magia que
parecia envolvê-los, ele examina o
rostinho corado voltado para o seu. Os
lábios pequenos, cheios e entreabertos
lhe atraem como imã. Prova-os
levemente, num toque como ela,
ingênuo, suave e casto.
Mariah encontra os olhos dele,
negros e profundos, sondando-a.
Mergulha em suas profundezas sem
medo algum, entregando-se ao seu
primeiro beijo.
Ricardo a beija com infinita
doçura. Os lábios que lhe eram
 Romanzine – Fevereiro de 2009
entregues castos se surpreendem, mas
logo se abrem escurecidos pela emoção,
para o primeiro beijo da Eva de olhos
verdes. Contem-se para não sugá-los
como um sedento. Queria beber neles
toda doçura que lhe era oferecida. Eles
se abrem como uma flor para receber os
raios quentes do sol e Ricardo não se
contém, suga-os com ardor,
surpreendendo-se com a entrega
inexperiente e sem medo.
Sente-a estremecer em seus
braços e a libera. Os lábios úmidos e
rosados largam um pequeno gemido de
protesto, que e o faz sorrir intimamente.
Sua frágil pupila, logo sua noiva, se
tornava forte e voraz quando dominada
por sensações incomuns. O rosto
fortemente corado contrastava com os
olhos grandes que lhe fitavam carentes.
Volta à razão.
Imaginara uma conversa
demorada e cheia de explicações, mas o
gesto puro e ingênuo derrubara suas
defesas, fazendo-o agir com
inconseqüência e imaturidade.
Gratificado com a meiguice dela, aceitara
que sua mente o fizesse lhe dar um beijo
casto, mas perdera a compostura quando
ela lhe entregara o segundo.
Nunca se enganava em relação às
mulheres, mas essa em especial o
intrigava. Escondida dentro da juventude
e da ingenuidade havia uma pequena
fera, mas passional, pronta para escapar
ao menor incentivo.
Busca seu controle passando os
braços sobre os dela, soltando-os de seu
corpo. Para não deixá-la constrangida,
beija as mãozinhas frias, interrompendo
o contato.
- Quer ir ao jardim? Precisamos
conversar, Mariah. Ou quer ficar aqui. –
Alegra-se como um rapazola ao notar
que voltara a ter o controle. Não
demonstrara a emoção que sentia.
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- Onde achar melhor, - responde
Mariah, quase num sussurro. A voz
faltava-lhe. Sentia que suas poucas forças
haviam abandonado-a. Suas energias
foram sugadas, deixando-a
completamente trêmula.
- Ficaremos aqui então, –
Ricardo decide. – Estaremos seguros.
Não quero que algum criado
bisbilhoteiro nos ouça ou interrompa.
Não se assuste. – Ricardo a tranqüiliza
ao notar o medo estampar seus olhos, -
está segura aqui comigo. – Mais uma vez
ele se delicia com o rubor que tinge o
rosto dela e a faz baixar os olhos,
encabulada.
Gentil, puxa a cadeira, junto à
escrivaninha para que ela se sente.
Depois de vê-la acomodada, senta-se a
sua frente, do outro lado da mesa.
- Fiquei extremamente chocado
com o que te aconteceu,
verdadeiramente. Não o que me foi dito.
Estou de posse de todas as informações,
– sem preâmbulos, ele inicia o assunto. –
Tua recusa em aceitar meu pedido de
casamento desencadeou a fúria de seu
pai e quase provocou sua morte. Temo
por sua vida.
- E eu pela... Senhor! Por Deus!
– Mariah interrompe-o, alarmada. –
Recusei vosso pedido exatamente por
temer por sua vida.
- Como já lhe disse uma vez,
repito Senhorita. Não temas por mim.
Sei onde estou pisando. Segundo pude
perceber, a Senhorita não sente aversão
por mim. O que mais pode temer ao
desposar-me? Sairá do jugo de seu pai,
terá vida própria. Poderá viajar, conhecer
o mundo... – Ele para de falar ao vê-la se
levantar torcendo as mãos num gesto de
franco nervosismo, enquanto dá alguns
passos pelo aposento.
- O senhor deve estar ciente da
história de família de minha mãe.
 Romanzine – Fevereiro de 2009
Especialmente dela. Está? – Ela não
espera a resposta e continua. – Temo
que aconteça o mesmo comigo. Meu pai
está ficando louco. Ele é capaz de matar
por dinheiro e não quero ser conivente...
Se algo lhe acontecer.
Ricardo ouve o desabafo direto, sem
surpresa. Secretamente esperava por sua
honestidade. Seu instinto, que por várias
vezes o ajudara a decifrar causas quase
impossíveis, não lhe enganava. Sentia
que podia confiar nela.
Veste-se de lógica e lhe faz mais
uma vez o pedido de casamento. Ao vê-
la aceitar sem delongas, conta-lhe então
parte do plano, mas sem entrar muito
em detalhes.
Ela ouve atenta cada palavra e
Ricardo observa as reações espelhadas
em seu rosto. A felicidade pueril e
singela e logo a mais pura decepção.
Mariah, calada e de ombros curvados
parecia carregar neles o peso dos atos do
pai. Passos já firme a levam até a janela e
após admirar por longos e silenciosos
segundos, a natureza exuberante lá fora,
ela se volta para ele.
- Retiro minha palavra. Não
aceito seu pedido. – Ela é categórica em
suas palavras, para a fragilidade de sua
situação. Os olhos, como duas
esmeraldas fulgurantes brilhavam,
tomados de determinação.
Os cabelos soltos, emoldurando-
lhe o rosto, evidenciavam sua extrema
beleza. Os ombros agora eretos eram
desafiantes e aumentavam sua estatura, à
medida que ela se aproximava, sem
medo.
- Prefiro ter todos os ossos de
meu corpo quebrados, minha carne já
marcada por todas as surras que tomei
desde que me entendo por gente, do que
me casar e não ter um marido. Estou lhe
assustando, Senhor? Acha que está me
fazendo um favor e tenho que ser grata
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por ele. Não sou ingrata, mas quero um
casamento válido, quero ter uma família.
Quero ter filhos com meu marido,
participar de uma vida que nunca tive. Se
não pode me dar isso, se acha que não
estou a sua altura e eu acredito que não...
Para tanto... Então não aceitarei seu
pedido. Não deixaria por menos,
desculpe-me. - Virando-lhe as costas,
Mariah caminha para a porta.
- Mariah! Não terminados nossa
conversa.
A voz de comando entra em seu
cérebro e a paralisa por segundos. Volta-
se para o homem ainda sentado atrás da
mesa e tenta sondar-lhe o semblante. A
expressão inexpressiva e os olhos frios,
mal lembravam o homem que lhe dera
seu primeiro beijo e a induzira a
corresponder.
Suas pernas rebelavam contra a
vontade de seu cérebro, a cada passo que
dava de volta em sua direção. Os olhos
ainda fulguravam pelo acalorado
discurso.
- O que entende por um
casamento, Mariah? Mal saiu dos
cueiros. O que é um casamento para a
senhorita? A casinha de bonecas que
nunca teve? – Ricardo levanta-se
abrupto e tenta conter a fúria. Estava
sendo desafiado por uma fedelha
ingênua, mas caprichosa. – Tenho
quinze anos mais que você. – Ao vê-la
baixar os olhos, a ira se alastra por suas
veias e faz seu sangue fremir. Ela não
sabia o que era a vida. – Olhe para mim.
Tem idéia do que um homem espera de
uma mulher, no casamento que quer?
Uma família? – Toma brusco, o pequeno
queixo em sua mão e a faz encarar-lhe. –
Não sou homem de faz de conta,
Senhorita. Eu exigiria muito da mulher
que por ventura se tornar minha esposa.
Exigiria mais do que estaria pronta para
me dar.
 Romanzine – Fevereiro de 2009 12

- Isso eu decido... Senhor. emoções, os lábios úmidos e

Ela não se intimida, o que o intumescidos, ela era a imagem pura da
deixa surpreso e exasperado. Quase sedução. Contém-se para não provar de
sorri, diante da determinação dela. Tenta seus lábios novamente. Não a assustara.
incutir-lhe razão. – Não seria certo. É
muito nova para assumir as
complicações de um casamento da
forma que quer. Tem muito a aprender
antes disso. O que lhe ofereço, como já
disse antes, é um meio de se tornar dona
de sua vida, sem ter um verdugo em seu
caminho.
- Não quero me casar por casar,
– ela o enfrenta. – Quanto, a saber, das
complicações é só me ensinar. Se tiver
um pouco de paciência, aprenderei com
facilidade.
- Você não sabe o que está
- Serei boa esposa, – ela insiste.
falando. – Ricardo passa as mãos pelos
A voz era um sussurro.
cabelos, como se o gesto pudesse conte-
- Um casamento é bem mais que
lo, acalmá-lo. –Senhorita Mariah, a
isso.
mulher é a parte frágil de um casamento.
- Ensina-me.
A que mais é sufocada.
Ricardo a analisa por vários
- Não me quebrará pode ter
segundos antes de tomar uma decisão. -
certeza. Aprenderei... A não ser que o...
Abrace-me, – desafia-a.
A não ser que não me queira. Posso
Sem demora, ela ergue os braços
entender, mas... O que pode ser tão
e enlaça seu pescoço, sem fugir de seu
difícil? – Mariah não se deixa convencer.
olhar. O rosto estava em chamas.
Ricardo se aproxima com o semblante
- Corajosa...
carregado. Examina o rosto afogueado
Ricardo mais uma vez cola seu
pela emoção. De súbito a toma de
corpo ao dela sem esconder a excitação,
surpresa e a beija com sofreguidão,
abraçando firme a cintura fina. – Beije-
enquanto a envolve em seus braços,
me.
puxando-a para ele até seus corpos se
A timidez por segundos a vence.
colarem dos lábios ao ventre, deixando
Depois, o corpo pequeno ergue-se na
evidenciar sua masculinidade. Ela não
ponta dos pés e ela encosta os lábios nos
foge.
dele. Ao notar que não terá ajuda
Suga os lábios macios até
alguma, ela deposita um beijo no lábio
roubar-lhe o ar e penetra sua boca com a
inferior e depois no superior. A falta de
língua, buscando a dela, devassa e
retribuição a deixa indecisa. Ela se afasta
profundamente. Seu objetivo era chocá-
sem deixar de fitá-lo.
la.
O calor dos olhos negros a
Libera-a bruscamente, mas tem
envolve antes de seus lábios serem
que segurá-la nos braços a fim de não
tomados novamente. Doa-os para ele,
vê-la desabar. Com a respiração
que logo aprofunda o beijo, numa mútua
ofegante, os olhos velados pelas
 Romanzine – Fevereiro de 2009 13

doação.
Envolvidos, não percebem a
porta da biblioteca se abrir e Dante
observá-los. A princípio boquiaberto,
depois desaparece com um largo sorriso
no rosto.

CONTINUA NO
PRÓXIMO NÚMERO: RomanZine 04

Expediente
RomanZine, zine de literatura romântica
Fevereiro de 2009 – edição 03
:.Elimar Machado, Jossi Borges, Laura Elias,
Ceila Sarita, Jacqueline Maia.

Formatação e arte: Jossi Borges.

Correspondência:
Jossi Borges: jossiborges@hotmail.com

Telyka Madelynne: ceila_sarita@yahoo.com.br

Laura Elias: lindaefeliz@uol.com.br

Elimar Machado:
emachadodesouza@yahoo.com.br

http://romanzine.blogspot.com/