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FACULDADE DE JORNALISMO
CAMPINAS
2009
FÁBIO BONILLO FERNANDES CARVALHO
LANA TORRES SILVA
MAÍRA RODRIGUES VICENTIM
PUC-CAMPINAS
2009
FICHA CATALOGRÁFICA
COMPOSIÇÃO DA BANCA EXAMINADORA
__________________________________
Prof. Celso Luis Bodstein
Orientador
__________________________________
Prof. Wagner Geribello
__________________________________
Prof. Nelson Chinalia
A Fran, Sylas, Iolanda, Tita, Telinha e Júlio
A Edilson, Ivone, Nathan, Teresa
A Stella e ao Gustavo
A Nice, Baiaco, Gil, Raquel, Kleber, Márcio
Romero
Ao povo de Toritama
Ao menor grupo de afinidades da faculdade de
jornalismo
e
Aos nossos mentores espirituais no jornalismo:
Henfil e Eugênio Bucci.
Agradecemos àqueles que, assim como nós,
sobreviveram ao nosso estresse durante a
caminhada rumo ao "Mãos Azuis":
O ensaio fotográfico "Mãos azuis – uma fábula fotográfica sobre Toritama, capital
do jeans” pretende retratar o cotidiano da cidade e as personagens que fazem
parte desse cenário que, apesar da escassez de recursos naturais e de
infraestrutura, seca, lava, corta, costura e vende cerca de 12% do mercado
nacional de jeans. O presente projeto também almeja investigar as condições de
trabalho dessa atividade, responsável por equiparar os índices de crescimento de
Toritama aos dos Tigres Asiáticos. O grupo utilizou, além das fotografias, histórias
em quadrinhos de caráter metalinguístico como fio condutor da narrativa: os
quadrinhos mostram os bastidores da produção, as dificuldades encontradas e a
vivência, enquanto as fotos registram os resultados da imersão do grupo no objeto
de pesquisa. O resultado dessa viagem à cidadezinha de 30 mil habitantes será
um livro que mistura fotografia, textos-legenda e arte sequencial.
Introdução ......................................................................................................... 1
Anexos …............................................................................................................... 39
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INTRODUÇÃO
na revista V, da Volkswagen, que trazia duas fotografias nas quais pilhas de calças
jeans contrastavam com o chão de terra iluminado pelo sol intenso do agreste. O
tema atraiu a atenção do grupo, que passou a pesquisá-lo com mais afinco,
primeiro por meio da internet e, posteriormente, pelo contato com o Grupo de
Pesquisa em Gênero, Meio Ambiente e Planejamento de Politicas Publicas, da
UFPE. Após o estudo mais aprofundado sobre Toritama e sua dinâmica de
produção, o grupo certificou-se de que aquele seria o objeto do projeto.
CAPÍTULO 1
estima-se que existam nestas três cidades cerca de 12.000 micro e/ou
pequenos negócios, (dos quais somente 8% são formais), que empregam
aproximadamente 76 mil pessoas, produzem 57 milhões de peças por
mês e realizam um faturamento mensal superior a R$144 milhões
(SEBRAE-PE e FADE/UFPE apud Alencar et al, 2007, apud Lucena,
2004, p.35)
Ainda de acordo com o mesmo estudo, no ano de 2000 64,1% das crianças
e jovens trabalhavam na produção de itens de vestuário e 57,2% estavam
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1. 2. − O conflito no jornalismo
Na definição de um dos maiores pensadores da ética e do fazer jornalístico
do país, "o jornalismo é conflito, e quando não há conflito no jornalismo, um
alarme deve soar" (Bucci, 2000, p. 11). Ao mesmo tempo instrumento
democrático e produto final da democracia, a imprensa tem ou deve ter como
objetivo principal divulgar informações confiáveis de forma mais fiel possível à
realidade dos fatos, abarcando toda a complexidade do cotidiano e seus conflitos
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de interesses.
Will Eisner, mestre do desenho, nunca fez jornalismo, mas apresentou pela
primeira vez o conceito de graphic novel [romance gráfico]3, que norteará o tipo
de HQs também conhecidas como comics reportage ou comic journalism,
difundido pelo trabalho de Joe Sacco, autor de Palestina: uma nação ocupada e
Uma história de Sarajevo, e de outros quadrinistas, como Josh Neufeld, que
roteirizou e desenhou A. D. - New Orleans After the Deluge [Nova Orleans depois
do dilúvio, sem publicação no Brasil], retrato da cidade norte-americana pós-
furacão Katrina; Art Spiegelman, vencedor do Prêmio Pulitzer por Maus, em que
passa a limpo a humilhação que o pai do autor judeu sofreu nas mãos dos nazistas
na Polônia dominada, e Didier Lefèvre, Emmanuel Guibert e Fréderic Lemercier,
autores de O fotógrafo, mistura de álbum de fotografias com livro-reportagem
ilustrado – modelos sobre os quais se apoiam o presente projeto.
3 Em 1978, Eisner publica Um contrato com Deus (edição brasileira pela editora Devir, 2009) , romance em
quadrinhos, para adultos, que tira o preconceito contra as histórias em quadrinhos, tidas como
divertimento trivial para crianças. Outras obras de Eisner que nos inspiraram foram O Complô (Cia. Das
Letras), estudo sobre a história do episódio dos Protocolos dos Sábios de Sião, e Avenida Dropsie (Devir),
que conta a trajetória de uma rua desde a colonização até sua derrocada.
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a fábula é um ato de fala que se realiza por meio de uma narrativa. Logo,
ela constitui um modo poético de construção discursiva, em que o narrar
passa a ser o meio de expressão do dizer. Na fábula, o narrar está a
serviço dos mais variados atos de fala: demonstrar, censurar,
recomendar, aconselhar, exortar etc. (1991, p. 11)
CAPÍTULO 2
MÉTODO DE TRABALHO
2. 1. − Pesquisa
• 10 de novembro – Finalização.
Pode-se dizer que as etapas pelas quais o trabalho transitou até estar
concluído seguiram um percurso que se iniciou com a descoberta do tema, seguiu
para a pesquisa aprofundada sobre ele, sucedido pelo levantamento de possíveis
pautas e fontes, trabalho de campo (apuração, entrevistas, captação das imagens,
etc) e edição, que consistiu em uma primeira triagem do material, elaboração do
roteiro da narrativa do livro, produção das ilustrações e diagramação.
2. 2. 1. − Pautas ou pré-roteiro
2. 2. 2. − Seleção de fontes
Por se tratar de uma cidade pequena, na maioria das vezes, a fonte surgia
por indicação de alguém. As andanças das duas repórteres pela cidade e a
abordagem de porta em porta das facções, de banca em banca na feira acabavam
sempre por render a indicação de algum personagem com uma história curiosa ou
com alguma informação importante para contribuir com o trabalho.
Trabalhando sempre contra o tempo, outro fator que contava para a seleção
das fontes foi a predisposição das mesmas em ajudar. Alguns donos de fábrica e
lojas que não eram imprescindíveis ao trabalho e que, após serem contatados
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2. 2. 3. − Trabalho de campo
Raquel Lindôso, com a qual o grupo entrara em contato para saber estatísticas e
números da cidade, declarou-se apaixonada pela ideia de um trabalho fotográfico
em Toritama e se propôs a nos receber em Caruaru, cidade onde reside e que dista
menos de 40 km do destino final da equipe.
Neste primeiro momento, fez-se uma caminhada pela cidade sem câmeras,
apenas para observar o município, sem abordar fontes. E, já neste processo de
observação, foi possível notar a intensa presença do jeans em todos os âmbitos da
cidade, presença esta que não se limita ao interior das fábricas, "facções"
(unidades familiares de trabalho) e lavanderias. Havia uma invasão do espaço
público.
2. 2. 4 − Processo de edição
CAPÍTULO 3:
PRODUTO FINAL
3. 1. − Justificativa
Eis aí a razão de ser do projeto “Mãos azuis”. Desde sua gênese, ele
pretendia tecer uma reflexão sobre o fazer jornalístico, reflexão esta que estaria
impressa no produto final junto ao próprio objeto de estudo, no caso, a cidade de
Toritama. Uma vez que “raramente o Jornalismo se olha no espelho” (Geralds e
Sousa, 2007, p. 8), foi tomada a decisão de registrar duas viagens entrelaçadas:
uma viagem física, de caráter jornalístico, à cidade pernambucana, e outra,
metalinguística, sobre o que os autores do projeto entendem por jornalismo e
como resolveram exercê-lo durante e depois da viagem – até atingir o produto
final.
fotografar e não escrever sobre a cidade forçaria a imersão física das repórteres no
objeto de estudo, já que a presença da câmera fotográfica para tirar retratos,
flagrar cenas cotidianas e registrar o ambiente exige a participação ativa do
jornalista.
3. 2. − Público
3. 3. − Custos / gastos
Para controle financeiro do grupo, foi feita uma planilha na qual foram
anotados todos os gastos com ligações telefônicas relacionadas à viagem e à
checagem de informações, valores das passagens de avião, gastos com
alimentação, hospedagem, transporte e compra de equipamentos como filmes
fotográficos, cartões de memória para máquina digital, revelação de filmes etc.
Somando-se o orçamento da gráfica para a impressão de 7 exemplares do produto
final obteve-se o valor final de XX reais (YY por integrante).
O produto final – livro colorido, de 90 páginas ao todo, impresso em papel
carta couché fosco de gramatura 115g em sistema digital – custou-nos
R$1.300,00.
3. 4. − Viabilidade de divulgação
aquisição do livro pelo leitor num país que trata o livro como objeto de arte – ou
seja, de luxo, uma vez que um livro de fotografia em boa qualidade não é vendido
por menos de R$ 40,00 –, uma alternativa para a divulgação do projeto “Mãos
azuis” seria a impressão amadora, assim como são feitos os livros de cordel
atualmente, seguida de uma distribuição a preço simbólico. A plataforma web não
seria a mais indicada para essa finalidade, já que o livro é uma narrativa linear e
não uma hipermídia. Apesar disso, a internet comporta bem a apresentação de
imagens de alta qualidade: por meio de e-mails ou sites seria possível publicar
determinadas fotos acompanhadas de histórias em quadrinhos presentes no livro
para atrair a atenção dos possíveis leitores.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este projeto foi permeado, desde a concepção até sua entrega, por desafios
constantes. A começar pelo risco que representava a proposta arriscada, se não
ousada, que o grupo trazia, a cada etapa da produção uma ou mais provações iam
surgindo. Viver por mais de duas semanas em uma cidade com hábitos, códigos
sociais, clima e dinâmica tão diferentes foi uma delas. Levantar recursos
financeiros para permitir a consolidação desta ideia foi outra. Divergências e
incompatibilidade de visões entre os integrantes, por mais saudável que isso possa
ser, foi também desafiador. Mas sentir prazer e não fraquejar diante de tudo isso
talvez tenha sido o grande desafio na verdade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUCCI, Eugênio. Sobre ética e imprensa. São Paulo: Companhia das Letras, 2000
FLUSSER, Vilém. Filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia da
fotografia. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002
GAIARSA, José A. “Desde a pré-história até McLuhan”. In: MOYA, Alvaro de.
Shazam!. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 1977
KOSSOY, Boris. Fotografia & História. 2ª ed. rev. São Paulo: Ateliê Editorial,
2001,
MOYA, Álvaro de. “Era uma vez um menino amarelo”. In: _____. Shazam! São
Paulo: Perspectiva, 1977, 3ª ed.
ANEXOS
C. Memoriais
Maíra Vicentim
Não que não goste do jornalismo impresso, jornalismo online e das outras
áreas. Bom, na verdade me assustei um pouco pelo fato de ser mais complexo e
mais sério em alguns sentidos: a linguagem tem de ser a mais formal (não é o meu
estilo), o “monstro da pirâmide invertida” sempre presente, o lide (aliás, o que foi
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isso que inventaram?) Se existe uma coisa que me desinteressa são padrões
conservadores, e este é um desses. Sou uma pessoa rebelde, sim!
Os dois primeiros anos passaram-se numa velocidade incrível. Mal pude vê-
los e eles já tinham ido embora. Junto deles muitos amigos e companheiros de
trabalhos, de teatro (do professor Paulo Afonso) e festas.
O terceiro ano chegou diferente dos dois anteriores. Parece que o brilho
havia passado e agora só a realidade fazia parte do dia-a-dia das nossas aulas. E
eram aulas tão indesejáveis e cansativas que me davam vontade de sair correndo.
Professores que considero como referências lamentavam-se sobre disciplinas que
haviam sido colocadas na grade para “encher linguiça”, e eu os admirava ainda
mais, porque não tinha como não concordar com eles. Algumas disciplinas
realmente não me ensinaram nada, pois o professor não conseguia conter o
barulho dos alunos na sala. Alguns, até hoje, nem sei o nome, mas em
contrapartida há outros que serão eternamente lembrados com saudade. Peças
fundamentais, sem dúvida!
Hoje, deixo esse universo tão paralelo e parto para outro, que é o que penso
ser meu verdadeiro universo. Jornalismo? Quem sabe ainda escreverei minha
história dentro dele, ou, quem sabe, não chegarei a alcançá-lo. Mas, como todo e
qualquer aprendizado permanece, este será um grande. Uma etapa única e bem
aproveitada, com toda certeza!
Despeço-me feliz e ao mesmo tempo ansiosa, por não saber o que virá
adiante!
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nós mesmos às vezes, faz chorar... mas não mata. A mim não matou sequer os
sonhos. Tampouco a paixão pela profissão, que, pra mim, é de fé. A minha rusga,
cada dia estou mais certa disto, é com a academia. Passei pela iniciação científica e
pela extensão como uma adolescente rebelde que beija garotos e garotas,
rotulando-se de curiosa. E, no meu caso, a curiosidade só reforçava, a cada nova
experiência, o quão patéticos os acadêmicos podiam ser aos meus olhos. Vaidade,
pseudo-intelectualidade, tantos discursos tão recheados de palavras pomposas
que não dizem absolutamente nada.
Os colegas são poucos, mas estou feliz porque sei que, se a vida insistir em
me levar para ramos jornalísticos que não são exatamente aqueles pelos quais
pretendo passear, terei pelo menos oito pares de ouvidos para servirem de alvo
para minhas queixas e lamúrias. Já se o destino for benevolente e me levar para o
jornalismo frenético e alegre que busco (algo muito próximo do que foi feito em
“Mãos Azuis - uma fábula fotográfica sobre Toritama, a capital do jeans”), aí terei
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pelo menos oito bocas e dezesseis pés dividindo a mesma cerveja e o mesmo
samba durante a comemoração. À Maranha, Levy, Person, Nacim, Zé, Gota, Fábio
e Maíra meu brinde suado e extravagante no copo americano transbordado de
cerveja. Um brinde ao ProUni que, bem ou mal, com todas as suas falhas, me
possibilitou conhecer vocês.
Duas mil cento e trinta e três horas... quanta festa, quantos livros, quantos
lides, quanto sexo, quanta música, quanta poesia, quantos textos, quantos
jantares, quanta coisa eu poderia ter feito. Tanta coisa eu fiz! Do meu jeito
atrapalhado, acho que fiz valer estes minutos todos. Do meu jeito inseguro, reluto
em dizer que poderia ter sido infinitamente melhor. Do meu jeito medroso, estou
agora pensando: o que vou fazer das minhas próximas duas mil cento e trinta e
três horas? Não sei.
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Caindo de paraquedas no curso de jornalismo, foi mais fácil agir com senso
crítico – como se espera, afinal, de um jornalista. Sempre com distanciamento,
uma vez que queria estudar cinema e não jornalismo (a princípio), pude avaliar
melhor os quatro anos de ensino que recebi na faculdade. Entrei sem querer no
curso porque, analisando mais detidamente o que queria para a minha vida, optei
por ter a oportunidade de escrever e publicar sobre aquilo de que sempre gostei:
cinema e literatura.
Para quem acha que escrever e publicar sobre aquilo de que se gosta é
pedante para um jornalista – como uma vez já o expressou um de meus
professores –, só posso responder assim: que ofício é mais egoísta que o do
jornalista que, ao se transformar num especialista em tudo (ou seja, agregando
conhecimento superficial baseado em pesquisas relâmpago no Google) durante 4
anos, julga que a sociedade necessita dele para tratar de todo e qualquer assunto?
Quem foi aquele que primeiro disse que não ter uma especialização num assunto
leva, necessariamente, à imparcialidade? O objetivo de entrar no jornalismo,
assim como o de todo jornalista, é, sim, abastecer o ego; e para quem acha que isso
é ruim, também está enganado: por que deveria ser ruim, quando existe
competência e/ou talento? O simples fato de ter que optar por um curso
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desenvolvimento das minhas úlceras. Afinal, ser contrariado faz parte do jogo de
aprender a ser independente.
Talvez isso seja jornalismo: trabalho voluntário (mas assalariado) feito por
egoístas com forte senso crítico e autocrítico. Parece explosivo, mas ninguém é
inocente no jornalismo.
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Gastos Toritama
22/Ago 23/Ago 24/Ago 25/Ago 26/Ago 27/Ago 28/Ago 29/Ago
Alimentação 50,00 55,75 40,00 57,00 41,60 52,00 53,00 40,00
Transporte 3,60 94,00 21,00 15,00
Hospedagem 80,00 77,50 40,00 40,00 40,00 40,00 40,00 40,00
Papelaria/net 30,00 12,00 8,00 2,00 4,00 4,00 4,00
Passagens Aéreas 1.268,00
Combustível carro 15,00
Extras 550,00
Subtotal 698,60 1.525,25 113,00 105,00 83,60 96,00 97,00 99,00
15,00
JOB: Caderno
Formato: Carta (impresso em A3)
Impressão: Color e PB
Material: couche 115gr
Acabamento: Capa com encadernação “Livro”
Quantidade: 7 unidades
Impresso em A3
49 impressões COLOR – R$ 142,10
37 impressões PB – R$ 25,90
encadernação – R$ 18,00
Valor Unitário - R$ 186,00