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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE

DARCY RIBEIRO
CENTRO DE BIOCIÊNCIAS E BIOTECNOLOGIA

AVALIAÇÃO DOS CONCEITOS E PERCEPÇÕES


SOBRE O PROBLEMA ÁGUA NA COMUNIDADE
DO ASSENTAMENTO OZIEL ALVES – CAMPOS
DOS GOYTACAZES – RIO DE JANEIRO

LUCIMARA DA CRUZ LYRIO BARBOSA

Campos dos Goytacazes


Dezembro, 2008.
AVALIAÇÃO DOS CONCEITOS E PERCEPÇÕES SOBRE O
PROBLEMA ÁGUA NA COMUNIDADE DO ASSENTAMENTO
OZIEL ALVES – CAMPOS DOS GOYTACAZES – RIO DE
JANEIRO

Monografia apresentada ao Centro de


Biociências e Biotecnologia da
Universidade Estadual do Norte
Fluminense como exigência para
obtenção do grau de licenciatura em
Ciências Biológicas.

LUCIMARA DA CRUZ LYRIO BARBOSA

Orientador: João Carlos de Aquino Almeida


Co-orientador: Antônio Henrique Almeida de Moraes Neto

Campos dos Goytacazes – R.J.


2008
AVALIAÇÃO DOS CONCEITOS E PERCEPÇÕES SOBRE O
PROBLEMA ÁGUA NA COMUNIDADE DO ASSENTAMENTO
OZIEL ALVES – CAMPOS DOS GOYTACAZES – RIO DE
JANEIRO

Aprovada em 04 de Dezembro de 2008

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Fábio Lopes Olivares

Mestre Aline Nogueira Costa

Prof. Dr. João Carlos de Aquino Almeida


Agradecimentos

- Em primeiro lugar a Deus, que me permitiu chegar até aqui e estar


conquistando mais esta vitória.

- A toda minha família que esteve sempre ao meu lado me apoiando, me dando
força e sempre me incentivando. Em especial minha mãe Célia e minha irmã
Edlane.

- A Thiago, meu esposo, que me acompanhou em todos os momentos difíceis


sempre me apoiando. Sem seu incentivo não teria chegado até aqui. Obrigada!

- Em especial a Marina Rodrigues (tia Marina) que esteve por muito tempo me
substituindo como mãe enquanto eu estudava. Minha eterna gratidão!

- Ao meu sogro (pai) e minha sogra (mãe) que me acolheram como filha e me
incentivaram sempre, torcendo pela minha vitória.

- Ao meu amigo e orientador João Almeida, que acreditou em mim, e me deu a


oportunidade de trabalhar no Programa Parasitoses do Norte Fluminense, o
qual me fez crescer muito como pessoa. Obrigada pelos ensinamentos e por
ter me aturado.

- Ao meu co-orientador Antônio Henrique, por colaborar para realização deste


trabalho e pelos ensinamentos.

- Ao Projeto Mosaico Terra da PETROBRAS, pelo apoio oferecido na


realização desse projeto através da Parceria com o Programa Parasitoses do
Norte Fluminense, no qual esse projeto se insere.

- A todos os componentes do Programa Parasitoses do Norte Fluminense pelo


trabalho em equipe desenvolvido pelo mesmo.

-A Aline Costa por aceitar meu convite para banca e assim colaborar na
conclusão deste trabalho.

- Ao professor Fábio Olivares por aceitar participar da banca e pelos


ensinamentos nas disciplinas.

- Ao professor Clóvis que colaborou para a conclusão deste trabalho, aceitando


revisar o mesmo.

- Ao amigo Adilson pela companhia na saída de campo e pelo incentivo.

- Ao amigo Leopoldo Coutinho pela colaboração dada para realização deste


trabalho.

- A pessoas especiais que sempre estiveram do meu lado me ajudando no que


era necessário e cuidando do meu filho para que eu pudesse estudar Heloísa
Souza (Helo) e Adriana Toledo.
- A amiga Alessandra que me incentivou a todo o momento, não me deixando
desistir. Obrigada pelo apoio e pela colaboração na realização deste trabalho.

- A eterna amiga Maria Angélica que com suas orações me fortaleceu, obrigado
por sempre ter estado ao meu lado me incentivando.

- As minhas amigas de graduação Letícia, Suéllem, Suzana, Gabriela, Mariana,


Manuela, Sheila, Virgínea, Jaqueline e Carla, que viveram comigo muitos
momentos de tristeza, de angustia, mas de muitas alegrias. Vocês moram no
meu coração.

- A todos os amigos da graduação pelo companheirismo de sempre. Vocês são


muito especiais pra mim.

- A amiga Aline que de forma indireta colaborou para realização deste trabalho.

- Ao meu coordenador Jorge e a Kátia Seabra (secretária) que me acolheram,


obrigada pela atenção de sempre.

- A todos os professores da graduação pelos ensinamentos e pelos momentos


de stress.

- Enfim a todos que torceram de alguma forma para meu sucesso, para minha
vitória.
Índice
Índice de tabelas e figuras
Resumo
Abstract
1- Introdução --------------------------------------------------------------------------------
1.1 Padrões microbiológicos de potabilidade da água -----------------------------
----------------- -----------------------------------------------------------------------------------
1.2 Doenças relacionadas ao consumo de água contaminada ------------
2 - Justificativa ----------------------------------------------------------------------------
3 - Objetivos ---------------------------------------------------------------------------------
3.1 Objetivos gerais ----------------------------------------------------------------------
3.2 Objetivos específicos ---------------------------------------------------------------
4 - Materiais e métodos -----------------------------------------------------------------
4.1 Levantamento de campo ----------------------------------------------------------
4.1.1 Aplicação dos questionários --------------------------------------------------
4.2. Inquérito parasitológico -----------------------------------------------------------
4.2.1 Exame parasitológico de fezes -----------------------------------------------
5 - Resultados -----------------------------------------------------------------------------
5.1 Questionário: Análise dos conceitos e hábitos da comunidade ------
5.1.1 Sintomas relacionados ao consumo/contato de água de má
qualidade --------------------------------------------------------------------------------------
5.1.2 Tipo de água utilizada -------------------------------------------------------------
5.1.3 Tratamento de água ---------------------------------------------------------------
5.1.4 Tratamento de esgoto ------------------------------------------------------------
5.1.5 Tratamento do lixo ----------------------------------------------------------------
5.1.6 Presença de animais -------------------------------------------------------------
5.1.7 Utilização de adubos -------------------------------------------------------------
5.1.8 Contaminação da água de poço ----------------------------------------------
5.1.9 Tratamento da água de poço para beber ----------------------------------
5.2 Análise das possíveis fontes de contaminação da água ---------------
5.3 Análise da prevalência de parasitoses intestinais --------------------------
6 - Discussão -------------------------------------------------------------------------------
7 - Conclusão -------------------------------------------------------------------------------
8 - Perspectivas futuras -------------------------------------------------------------------
9 - Referência bibliográfica -------------------------------------------------------------
10 - Anexo 1 -----------------------------------------------------------------------------------
11 - Anexo 2 ---------------------------------------------------------------------------------
Índice de tabelas e figuras

Tabela 1 Padrão microbiológico de potabilidade da água para consumo ---


-------------------------------------------------------------------------------------------------
Tabela 2 Principais doenças de veiculação hídrica -------------------------
Figura 1 Foto aérea do assentamento Oziel Alves mostrando sua área
total -------------------------------------------------------------------------------------------
Figura 2 Aplicação dos questionários -------------------------------------------
Figura 3 Coleta de fezes no assentamento -------------------------------------
Figura 4 Laboratório Plínio Bacelar -----------------------------------------------
Figura 5 Problemas de saúde relatados na comunidade--------------------
Figura 6 Tipo de água utilizada nas residências -----------------------------
Figura 7 Poço (assentamento Oziel Alves) ------------------------------------
Figura 8 Tipo de tratamento da água utilizado pela comunidade ------
Figura 9 Filtro de areia ----------------------------------------------------------------
Figura 10 Tratamento de esgoto ---------------------------------------------------
Figura 11 Número de casas com banheiro e vaso sanitário -------------
Figura 12 Tratamento de lixo utilizado pela comunidade -----------------
Figura 13 Vala onde o lixo é queimado ------------------------------------------
Figura 14 Animais próximo ao poço ----------------------------------------------
Figura 15 Utilização de adubo ------------------------------------------------------
Figura 16 Opinião sobre contaminação do poço -----------------------------
Figura 17 Opinião sobre o uso isolado dos tipos de tratamento da água ---
--------------------------------------------------------------------------------------------------
Figura 18 Resultado exame parasitológico ------------------------------------
Figura 19 Prevalência de protozoários ------------------------------------------
Figura 20 Vista panorâmica e aspecto das casas do assentamento Oziel
Alves ----------------------------------------------------------------------------------------
Figura 21 Caixas para armazenamento da água da chuva ----------------
Figura 22 Poço com bomba manual -----------------------------------------------
Resumo

Embora no Brasil tenha-se aumentado a distribuição de água tratada, ainda


existem muitos distritos sem fornecimento de água, onde a maior fonte para
obtenção de água são os poços subterrâneos. Em regiões onde não existe
saneamento básico ou este é precário, e as condições socioeconômicas são
baixas a comunidade fica mais susceptível à infecções através de água
contaminada, pois esta é uma fonte de transmissão para várias doenças de
veiculação hídrica. Dessa forma, conhecer os hábitos e a percepção dessa
comunidade sobre a questão da água, as associações que o conhecimento
popular identifica entre o consumo de água contaminada e problemas de
saúde, e as relações que a população identifica entre os seus hábitos,
costumes e usos e a contaminação de fontes de água de consumo e suas
práticas de higienização é fundamental para orientar ações de cunho educativo
que visem a racionalizar o uso da água, preservando esse recurso e
melhorando a condição de saúde e qualidade de vida dessas populações, a
partir de práticas assimiláveis e de baixo impacto nos hábitos da população.
Neste trabalho foi realizada uma análise sobre os conceitos e hábitos da
comunidade do assentamento Oziel Alves com relação à qualidade da água.
Através de entrevistas (questionários) pode-se avaliar as possíveis fonte de
contaminação da água e relacionar as condições de vida da comunidade com a
qualidade da água utilizada pela mesma. Dados fornecidos pelos questionários
mostraram que 100% das residências visitadas utilizam água de poço e que
esta não recebe o tratamento adequado antes de ser consumida.
Embora os moradores reconheçam as fontes de contaminação da água
presentes na região, não existe uma associação direta deste conhecimento
com a prática de hábitos seguros no consumo da água, o que parece se dar
em parte pela desinformação, mas também pelo fato destes não associarem
esses fatos à sua condição de saúde. Isso demonstra a necessidade de se
implementar estratégias de educação sanitária que não apenas forneçam
informação adequada, mas que contextualizem e tornem essa informação
significativa e adequada à realidade dessas comunidades.
Abstract

Although the distribution of treated water in Brazil has increased, there are still
many districts without water supply, where the main source for obtaining water
is underground wells. In regions where there is no sanitation or this is
precarious, and the socioeconomic conditions are low the community is more
susceptible to infections through contaminated water, because this is a source
of transmission for various waterborne diseases. In this work was carried out an
analysis about the concepts and habits of the community of the Settlement
Oziel Alves regarding the quality of water. By means of interviews
(questionnaires) we could identify the possible source of water contamination
and relate the conditions of life of the community with the quality of water used
by the same, besides the concepts and perceptions of the population on the use
of water in their daily lives. Data supplied by the questionnaires showed that
100% of households visited using water of well and that this does not receive
adequate treatment before being consumed. These data indicate that the
information is a preponderant factor for this population can consume quality
water, it is necessary to implement health policies which aim to provide correct
information for populations in similar conditions, to decrease the condition of
vulnerability to which they are exposed. Even though residents recognize the
sources of contamination of water present in the region, there is not a direct
association of this knowledge with the practice of safe habits in water
consumption, which seems to be given in part by disinformation, but also by the
fact that these do not associates these facts to their health condition. This
demonstrates the need to implement strategies for health education that not
only provide adequate information, but that contextualizes and make this
information significant and appropriate to the reality of these communities.
1. Introdução
A água é essencial para a manutenção da vida, por este motivo tem sido
alvo de vários trabalhos no meio acadêmico. A preocupação com a
contaminação dos aqüíferos tem sido foco de estudos, e esta preocupação
aumenta principalmente, quando a água é destinada ao consumo humano.
Segundo dados do IBGE publicados no Atlas de Saneamento (2004), no
Brasil apenas 2% do total dos municípios (o equivalente a 116 municípios), em
2000, não contavam com nenhum serviço de abastecimento de água. No
entanto, dentro de cada município, a rede de distribuição é muitas vezes
heterogênea, não alcançando zonas que ficam na periferia, locais de ocupação
irregular ou zonas rurais, onde normalmente se concentra a população de
menos poder aquisitivo.
Em domicílios que não recebem água tratada por rede de abastecimento
público ou privadas, uma das alternativas mais comuns é a utilização de
sistemas de poços domésticos para obtenção de água (Silva, 2006). Essa é
uma alternativa que muitas vezes pode trazer riscos à saúde, já que a água de
poços, além de não conter aditivos que auxiliam no controle microbiológico e
na prevenção de doenças, como o cloro e o flúor, podem estar expostas ainda
a vários tipos de contaminação.
A contaminação das águas subterrâneas pode colocar em risco a saúde
da população, por ser veículo de transmissão para várias doenças. As
principais fontes de contaminação de águas subterrâneas são os lixões,
sistemas de saneamento “in situ”, vazamento de redes coletoras de esgoto,
uso incorreto de agrotóxicos e fertilizantes, irrigação que pode aumentar a
lixiviação de contaminantes para a água subterrânea e outras fontes dispersas
de poluição (CETESB, 2008).
Além destas fontes de contaminação, os diferentes tipos de solo e
profundidade do poço também são fatores que evidenciam a possibilidade de
contaminação dos aqüíferos livres (Rocha, 2004). Assim como poços mal
construídos que tornam caminhos preferenciais para que os poluentes atinjam
a água subterrânea, quando não existe barragem para os mesmos através de
construção de tampa e parede de concreto em volta do poço.
O solo tem um papel importante na retenção de microrganismos, agindo
como um filtro natural. Por este motivo a água subterrânea de grandes
profundidades é considerada satisfatória para o consumo humano, por
apresentar excelentes características físicas e químicas. O que mais
comumente coloca em risco a saúde da população é a contaminação gerada
pela ação antrópica (Rocha, 2004).
Campos dos Goytacazes é o maior município do estado do Rio de
Janeiro, está localizado na região Norte do estado, apresenta uma área total de
4.037 Km² e uma população de 431.839 habitantes. O abastecimento de água
no município é realizado através da empresa Águas do Paraíba, que distribui
água tratada, pelo aproveitamento de poços profundos e pelo rio Paraíba do
Sul. Em lugares aonde esta rede de fornecimento não chega à captação de
água subterrânea é feita através da construção de poços domésticos (Rocha,
2004).
Rocha (2004) em seu trabalho demonstrou que os poços do tipo
cacimba, muito utilizados pela população do município que não recebem água
por rede de abastecimento, são vulneráveis a diversos tipos de contaminação
e/ou poluição, como: por fossas sépticas, tubulações de esgoto com fissuras,
disposição inadequada de resíduos sólidos, dentre outras.
O conceito de vulnerabilidade de um aqüífero pode ser entendido como
um conjunto de características que determinam a suscetibilidade de um
aqüífero vir a ser afetado por uma carga contaminante (CETESB, 2008).
A contaminação das águas subterrâneas pode acontecer de forma
permanente, sazonal e acidental. A forma permanente de contaminação se dá
através do lançamento contínuo de resíduos nos corpos d’água, assim como
infiltrações oriundas de fossas e aterro sanitário. Acidentes com veículos de
transporte de materiais tóxicos, assim como rompimento de tubulações
caracterizam o tipo de contaminação acidental. E por fim lixiviação dos solos
agricultáveis é o que caracteriza a contaminação sazonal (PROSAB, 2001).
Uma segunda vertente com relação à contaminação corresponde às
variações espaciais, denominadas contaminação difusa, pontual e linear. A
primeira e a de mais difícil controle são de origem agrícola. A contaminação
pontual é de originária de resíduos sólidos e do lançamento de despejos
industriais e urbanos. E a contaminação linear acontece ao longo de estradas e
vias férreas (PROSAB, 2001).
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde a água destinada
para o consumo humano considerada segura é aquela cujos parâmetros
microbiológicos, físicos, químicos e radioativos atendam ao padrão de
potabilidade e não ofereça riscos à saúde (FUNASA, 2001).
A água destinada ao consumo humano dever ser isenta de
contaminantes químicos e biológicos, dentre os quais as bactérias, vírus,
protozoários e helmintos são organismos patogênicos e que veiculados pela
água podem, através de sua ingestão, parasitar os indivíduos (Souza et al.,
1983).
Nos países em desenvolvimento o uso de água de má qualidade e
condições precárias de saneamento, têm sido responsáveis pelos altos índices
de mortalidade infantil e casos de doenças de veiculação hídricas, como surtos
de doenças parasitárias que causam diarréia (Freitas et al., 2001).

1.1 Padrões Microbiológicos de Potabilidade da água


Em relação aos padrões de potabilidade da água para consumo humano
a Portaria nº. 1.469 do Ministério da Saúde, estabelece os procedimentos e
responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água e o
padrão microbiológico de potabilidade, não permitindo a presença de
coliformes totais ou termotolerantes na água para consumo humano, como está
demonstrado na tabela 1.
Tabela 1: Padrão microbiológico de potabilidade da água para consumo
humano
Parâmetro VMP (1)

Água para consumo humano (2)

Escherichia coli ou coliformes Ausência em 100 mL


termotolerantes (3)

Água na saída do tratamento

Coliformes totais Ausência em 100 mL

Água tratada no sistema de distribuição (reservatórios e rede)

Escherichia coli ou coliformes Ausência em 100 mL


termotolerantes (3)

Sistemas que analisam 40 ou mais


amostras por mês: ausência em 100
mL em 95% das amostras
examinadas no mês;
Coliformes totais Sistemas que analisam menos de 40
amostras por mês: apenas uma
amostra poderá apresentar
mensalmente resultado positivo em
100 mL.
Fonte: Ministério da Saúde
(1) Valor Máximo Permitido
(2) Água para consumo humano em toda e qualquer situação, incluindo fontes
individuais como poços, minas, nascentes, dentre outras.
(3) A detecção de Escherichia coli deve ser preferencialmente adotada.

As bactérias do grupo coliformes são consideradas os principais


indicadores de contaminação fecal. O grupo coliforme é formado por um
número de bactérias que inclui vários gêneros. O uso de bactérias coliformes
termotolerantes tem se mostrado bastante significativo para indicar poluição
sanitária (CETESB, 2008). O gênero Escherichia coli é considerado o mais
específico indicador de contaminação fecal recente e de eventual presença de
organismos patogênicos (FUNASA, 2001).
A determinação da concentração dos coliformes tem grande importância
como parâmetro indicador da possibilidade de microrganismos patogênicos,
responsáveis pela transmissão de doenças de veiculação hídrica (CETESB,
2008).
Os coliformes totais são também utilizados para indicar contaminação,
mas seu uso é menos significativo, pois esta pode ser encontrada no solo,
enquanto os coliformes fecais são restritos ao trato intestinal de animais de
sangue quente.

1.2 Doenças relacionadas ao consumo de água contaminada


A água é responsável pela transmissão de algumas doenças, algumas
delas transmitidas diretamente pela ingestão da água contaminada, outras se
dão de modo passível, onde através do contato, como ocorre durante a higiene
pessoal, o indivíduo as adquire. Existem ainda algumas moléstias cujo vetor
apresenta parte do seu ciclo de vida desenvolvido no meio aquático (PROSAB,
2001).
Os principais agentes biológicos encontrados em águas contaminadas
são as bactérias patogênicas, os vírus e os parasitos. As bactérias são
responsáveis pelos numerosos casos de enterites, diarréias infantis e doenças
epidêmicas (como a febre tifóide). Os vírus da poliomielite e da Hepatite
infecciosa são os mais comumente encontrados na água. E dentre os parasitos
que podem ser ingeridos através da água e causar patologias estão o Ascaris
lumbricoides que causa a ascaridíase, Tricuris trichiura que causa tricuríase
dentre outras verminoses (d’Aguila, 2000).
Entamoeba histolytica, Giárdia lamblia e Cryptosporidium paryum estão
entre os protozoários capazes de causar diarréias graves tanto em indivíduos
imunocompetentes quanto em imunodeprimidos (CETESB, 2008).
Na tabela 2 podem ser observadas as principais doenças relacionadas à
ingestão de água contaminada.
Tabela 2: Principais doenças de veiculação hídrica
Principais doenças relacionadas à ingestão de água contaminada e seus
agentes causadores

Doenças Agente causador

Cólera Vibrio chollerae


Disenteria bacilar Shiggella sp.
Febre tifóide Salmonella typhi
Hepatite infecciosa Vírus da Hepatite do tipo A
Febre paratifóide Salmonella paratyphi A e B
Gastroenterite Outros tipos de Salmonella, Shiggella, Proteus sp.
Diarréia infantil Tipos enteropatogênicos de Escherichia coli

2. Justificativa

Sabe-se que a falta de esgotamento sanitário, lixo e a atividade agrícola


são fatores que aumentam o risco de contaminação de águas subterrâneas e
que esta é um potencial veículo para transmissão de várias doenças, sendo
muito utilizada como fonte para obtenção de água em regiões não abastecidas
por sistema de rede de água tratada. A área escolhida para estudo apresenta
estas características, a população apresenta baixas condições
socioeconômicas e baixa condição de saneamento, desprovida da distribuição
de água tratada por rede de abastecimento, sendo utilizada para o consumo
oriunda de fontes subterrâneas captadas através de poços domésticos.
Dessa forma, conhecer os hábitos e a percepção dessa comunidade
sobre a questão da água, as associações que o conhecimento popular
identifica entre o consumo de água contaminada e problemas de saúde, e as
relações que a população identifica entre os seus hábitos, costumes e usos e a
contaminação de fontes de água de consumo e suas práticas de higienização é
fundamental para orientar ações de cunho educativo que visem a racionalizar o
uso da água, preservando esse recurso e melhorando a condição de saúde e
qualidade de vida dessas populações, a partir de práticas assimiláveis e de
baixo impacto nos hábitos da população.
3. Objetivos

3.1. Objetivos gerais

Realizar uma investigação sobre os conceitos e percepções do problema


água na comunidade do assentamento Oziel Alves com a finalidade de avaliar
os costumes da população com relação à água consumida por esta,
correlacionando assim com as condições de saneamento e de tratamento da
água utilizada pela comunidade, relacionando os seus hábitos e a
contaminação de fontes de água de consumo.

3.2. Objetivos específicos

1. Aplicar questionários na comunidade com a finalidade de conhecer os


hábitos e conceitos da população em relação à qualidade da água.
2. Identificar as possíveis fontes de contaminação presentes na região
estudada.
3. Relacionar as condições de vida e percepção da comunidade com a
qualidade da água consumida.
4. Relacionar a incidência de parasitoses intestinais na população com a
qualidade da água consumida.

4. Materiais e métodos

4.1. Levantamento de Campo


O assentamento Oziel alves está localizado no Município de Campos
dos Goytacazes – RJ, situado na região da Baixada Campista. Apresenta uma
área medida de 410,7336 hectares (figura 1). Localiza-se a margem da
Rodovia BR 356, sentido Campos dos Goytacazes – São João da Barra (PDA
– Plano de desenvolvimento do Assentamento, 2008, dados não publicados).
Figura 1 - Foto aérea do assentamento Oziel Alves mostrando sua área total
Fonte: Google Earth (Colaboração Leopoldo Coutinho)

Atualmente o Assentamento possui 34 famílias totalizando 151 pessoas,


entre crianças, jovens e adultos. A população apresenta um nível
socioeconômico e de condições de saneamento precárias, o abastecimento de
água é realizado por poços rasos e a região não apresenta rede de coleta de
lixo e esgoto, o que aumenta o risco de contaminação dessa fonte de
abastecimento, levando a comunidade às conseqüências do consumo de água
não tratada.
As casas apresentam aspecto precário e são distribuídas em ambiente
tipicamente rural. Algumas delas construídas utilizando-se madeiras
reaproveitadas e outras de alvenaria inacabada, todas sem condições
adequadas de luz (Figura 20, Anexo 2) e saneamento.

4.1.1 Aplicação dos questionários

Esta etapa do trabalho é fundamentada na metodologia de pesquisa-


ação, os questionários em forma de entrevista (figura 2) são utilizados como
instrumento de investigação e avaliação de dados, onde se procura
diagnosticar a realidade da comunidade (Thiollente, 1986).
Embora a comunidade apresente um total de trinta e quatro famílias
assentadas, nem todas vivem no local e por este motivo foram aplicados vinte
e seis (26) questionários (Anexo 1 ), sendo um por residência, abrangendo um
total de setenta e sete (77) habitantes, distribuídos entre crianças,
adolescentes e adultos. O questionário apresenta perguntas relacionadas a
condições de moradia e saneamento, tipo de água e tratamento utilizados pela
família, presença de animais domésticos e relação com problemas de saúde.

Figura 2 - Aplicação dos questionários

A partir dos dados obtidos com a aplicação dos questionários e


observações de campo, foi feita a identificação das possíveis fontes de
contaminação nessa comunidade.

4.2. Inquérito parasitológico


Em conjunto com o Programa Parasitoses do Norte Fluminense que
também utiliza esta área para estudo em parceria com o Laboratório de
análises clínicas Plínio Bacelar, foi possível realizar inquérito parasitológico da
comunidade, onde se avaliou através de exames de fezes com amostras da
comunidade a incidências de parasitoses intestinais.

4.2.1 Exames parasitológicos de fezes


Foram coletadas trinta amostras na comunidade, os recipientes
etiquetados para coleta de fezes foram entregues aos participantes da
pesquisa (figura 3) após orientação de como proceder a coleta. As amostras
foram recolhidas no dia seguinte, acondicionadas em depósito resfriado e
encaminhadas para o laboratório de análises clínicas Plínio Bacelar, situado no
centro de Campos dos Goytacazes - RJ, para análise imediata de helmintos e
protozoários (Hoffman, Pons & Janer).

Figura 3 - Coleta de fezes no Assentamento (Colaboração Antônio Henrique)

Figura 4 - Laboratório Plínio Bacelar (Colaboração Antônio


Henrique)
5. Resultados

5.1 – Questionário: análise dos conceitos e hábitos da comunidade.

5.1.1 – Sintomas relacionados ao consumo/contato com água de má


qualidade
Quando questionados se desde o início do ano alguém teve/tem tido
algum problema de saúde, as respostas foram relacionadas a sintomas como
diarréia, dor de barriga, problema de pele (cobreiro e frieira) e febre. O
resultado está apresentado na figura 5.

Problemas de saúde relatados na comunidade

Diarréia 38%

Dor na barriga 42%

Doenças de pele (cobreiro e frieira) 34%

Febre 19%

N= 26

Figura 5 - Distribuição percentual de casos de problemas de saúde relatados


pela comunidade

5.1.2 – Tipo de água utilizada


Verificou-se através dos dados fornecidos pelos questionários que a
fonte de água utilizada na comunidade em todas as residências é oriunda de
poços rasos, construídos pelos moradores, sendo que destes 34% utiliza
somente água de poço e 66% das famílias utilizam outra fonte além do poço,
como apresentado na figura 6. A figura 7 mostra um exemplo de poço
construído pelo morador. Em algumas residências a água proveniente da
chuva é aproveitada para atividades e para o consumo, os moradores utilizam
caixa d’água para captar e armazenar esta água (figura 21, Anexo 2)
Fonte de água utilizada na comunidade

Água de poço e outro


34%
(chuva, caminhão-pipa)

Só água de poço 66%

N=26

Figura 6 - Distribuição percentual do tipo de água utilizada nas


residências da comunidade

Figura 7 - Exemplo de poço mal construído (assentamento Oziel Alves)

5.1.3 – Tratamento da água


Foi questionado aos moradores se rotineiramente fazem algum tipo de
tratamento na água antes de beber e antes de utilizar em outras atividades
como cozinhar, tomar banho, lavar roupas e na limpeza de casa. Em mais da
metade das residências visitadas (73%) existe algum tipo de tratamento na
água antes de seu consumo, 27% da população não utiliza nenhum tipo de
tratamento na água de consumo. Dentre os tipos de tratamento utilizados a
filtração está em primeiro lugar, seguidos da fervura e cloração, como
apresenta a figura 8. A justificativa para o uso de tal tratamento na maioria dos
casos (filtração) está relacionada à praticidade, dentre as outras justificativas
relatadas pelos entrevistados estão “a água fica mais clarinha depois de
filtrada”, “a água fica mais sadia” ou então “é melhor”.
Método de tratamento da água

Fervura 23%

Cloração 16%

Filtração 53%

Filtração e cloração 8%

N=26

Figura 8 - Método de purificação da água utilizado pela comunidade antes do


consumo

Segundo os moradores a água que é captada pelos poços é de má


qualidade, apresentando-se ferruginosa e salobra. Para tanto utilizam da
construção artesanal de “filtros de areia” para modificar as características
organolépticas da água, tornando-a mais apropriada ao consumo segundo as
concepções dos moradores. A figura 9 mostra um filtro construído pelo
morador.

Figura 9 - Filtro de areia artesanal construído com camadas de areia,


brita e carvão
5.1.4 – Tratamento de esgoto
A comunidade do assentamento Oziel Alves vive numa área rural e não
apresenta um sistema de coleta de esgoto. Uma parte da população utiliza o
sistema de “fossas” (sumidouro) e outra parte utiliza vala para a eliminação do
esgoto, que em muitos casos fica próximo aos poços, podendo ser fonte
contaminação para os mesmos, como demonstrado na figura 10.
Tratamento de esgoto realizado na comunidade

23%

Fossa (sumidouro)
77%
Vala

Figura 10 - Distribuição percentual de casas que apresentam fossa


(sumidouro) ou vala

Dentre as casas que foram visitadas a maioria tem banheiro e vaso


sanitário, ainda que em condições precárias, como apresentado na figura 11.

8%
Não
8%

Vaso sanitário
Banheiro

92%
Sim
92%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Figura 11 - Número de casas com banheiro e vaso sanitário

5.1.5 – Tratamento do Lixo


A comunidade não conta com o serviço de coleta pública. Quando
questionados sobre o tratamento do lixo, a maioria dos entrevistados
responderam que queimam seu lixo. Algumas famílias utilizam o lixo orgânico
para compostagem e algumas fazem seleção do lixo que pode ser reciclado e
vende para reciclagem. Uma parcela da comunidade descarta seu lixo em
valas presente no quintal das residências e próximas ao poço. A figura 12
apresenta o tipo de tratamento do lixo utilizado na comunidade. A figura 13
mostra uma vala aberta no quintal da residência próxima ao poço, onde o lixo é
queimado.

Tratamento do lixo utilizado na comunidade

Queima 65%

Vala 11%

Compostagem e reciclagem 8%

Queima e reciclagem 8%

Coleta 4%

N= 26

Figura 12 - Distribuição percentual do tipo de tratamento do lixo utilizado pela


comunidade

Figura 13 - Vala criada para queima do lixo no quintal da residência próxima ao


poço

5.1.6 – Presença de animais


Em todas as residências existe a presença de animais domésticos e de
criação, como aves, cachorro, gato, porcos, gado entre outros, que em muitos
casos são criados próximos ao poço (figura 14) e até mesmo dentro de casa, e
ainda animais vetores de doença como moscas, ratos e mosquitos.
Figura 14 - Presença de animais próximo ao poço

5.1.7 – Utilização de adubo


Toda a população que vive no assentamento tem em seus lotes
plantação e/ou horta, onde 92% dos moradores utilizam adubo. As informações
sobre o uso de adubo e o tipo utilizado pelos moradores está apresentado na
figura 15.

8%
Não usam adudo

Adubo orgânico e 19%


químico

73%
Adubo orgânico

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%

Figura 15 - Utilização de adubo na plantação

5.1.8 – Contaminação da água de poço


Os entrevistados foram questionados também com relação à
contaminação do poço, foi perguntado se o uso de adubos pode contaminar
água de poço, onde 61% acreditam que o uso de adubo possa contaminar e
39% acreditam que não contamina. A figura 16 mostra a opinião dos
entrevistados em relação à contaminação do poço por esgoto, lixo e cemitério.
96% 96%
92%

Sim
Não

8%
4% 4%

Esgoto lixo Cemitério

Figura 16 - Opinião sobre contaminação do poço pela falta de cuidados com


esgoto e lixo, e cemitério

5.1.9 – Tratamento da água de poço para beber


Através da análise das respostas dos entrevistados verificou-se a
opinião sobre a eficiência dos métodos de tratamento da água, quando
utilizados isoladamente, os resultados estão apresentados na figura 17.

66%
Só clorar
34%

85% Não
Só filtrar
15% Sim

58%
Só ferver
42%

Figura 17 - Opinião sobre o uso isolado dos tipos de tratamento da água

5.2 Análise das possíveis fontes de contaminação da água


A área de estudo apresenta precárias condições de saneamento, não
existe coleta de lixo e a obtenção de água é oriunda de fonte subterrânea, além
de ser uma área utilizada para agricultura. Sendo assim a fonte de água
subterrânea que é maciçamente utilizada pela comunidade está sujeita a
contaminação do tipo permanente, a partir das infiltrações oriundas de esgoto e
aterro sanitário e também pela contaminação do tipo sazonal oriunda da
lixiviação do solo.

5.3 Análise da prevalência de parasitoses intestinais


Trinta moradores da comunidade disponibilizaram-se para a realização
do inquérito parasitológico, dos quais 33% estavam positivos para protozoários,
destes 90% estavam parasitados com Giárdia lamblia e 10% estavam com
Entamoeba coli, ambos parasitos de veiculação hídrica. Os resultados estão
apresentados nas figuras 18 e 19.

Resultado dos Exames de Fezes -


Assentamento Oziel Alves - 2008

33%

Positivos

Negativos

n= 30
67%

Figura 18 - Resultados dos exames parasitológicos

Prevalência de Protozoários

90%
Giardia lamblia

10%
Entamoeba coli

0% 20% 40% 60% 80% 100% n= 10

Figura 19 - Prevalência de Protozoários nos resultados positivos


6. Discussão
Este trabalho foi iniciado com a aplicação dos questionários nas
residências, que visava a partir das respostas fazer uma análise sobre as
condições de saneamento e moradia da comunidade, bem como analisar os
hábitos da população com relação à água (fonte e tratamento utilizado) e às
possíveis fontes de contaminação da mesma.
Com os resultados obtidos foi possível verificar que toda a comunidade
do assentamento utiliza como fonte de abastecimento de água a construção de
poços superficiais, estes são construídos de qualquer forma, sem que haja uma
preocupação com os riscos de contaminação. A água proveniente destes
poços muitas vezes não é de boa qualidade para o consumo humano, devido
às características intrínsecas da composição do solo apresentando-se
ferruginosa e salobra. Além disso, a presença de animais domésticos, o uso
de implementos agrícolas, e a disposição incorreta de dejetos e resíduos da
atividade humana são fatores que certamente colocam em risco a potabilidade
da água para consumo humano.
Como esta é praticamente a única fonte de água que é usada para todas
as atividades domésticas, inclusive para o consumo, os moradores utilizam
comumente filtros de areia, onde a água passa por camadas de areia, brita e
carvão (figura 9), sendo assim filtrada, havendo a retenção de sedimentos e
partículas em suspensão. Em algumas residências a filtração é feita em duas
etapas, onde primeiro a água captada do poço é colocada no filtro de areia e
depois no filtro de barro. Isso é feito quando esta água é usada para consumo.
A filtração é uma das formas mais antigas de tratamento da água para
consumo humano (PROSAB, 2001), embora não seja adequada sua utilização
isoladamente, já que este tratamento consiste apenas na retenção de
partículas. No entanto, trabalhos anteriores de nosso grupo (Fonseca, 2005)
comprovaram que a utilização da filtração em velas de porcelana comum não
barra a passagem de bactérias, uma das principais fontes de contaminação da
água, embora seja eficientes na retenção de ovos de vermes e cistos de alguns
protozoários. A utilização corriqueira de filtros de areia e de velas de porcelana
pode ser em parte responsável pelo índice relativamente baixo de verminoses,
em comparação com aqueles encontrados em outras comunidades
investigadas pelo nosso grupo que não utlizavam o sistema de filtração. Além
disso, o uso de medicação a base de derivados imidazólicos (Mebendazol), nos
quais os entrevistados declararam utilizar para “prevenir as verminoses a cada
6 meses” (Moraes Neto et al. 2008, dados não publicados). Tal fato pode ter de
certa forma dado a falsa idéia de que os indivíduos não eram parasitados por
helmintoses, mascarando os resultados, dadas às condições de saneamento
básico precário na área e a falta de informações por parte da comunidade
sobre o tema. Outro fato relevante é que estes indivíduos podem ser
portadores de infecções helmínticas ainda em período pré-patente ou mesmo
estas infecções podem ser unissexuais ou antigas, já que não foram
encontrados ovos de helmintos nas fezes dos indivíduos. Isto poderia ser
esclarecido se tivéssemos a oportunidade de realizarmos hemogramas em
todos estes sujeitos da pesquisa a fim de verificar a presença de eosinofilia e
leucocitose.
Em comunidades que não contam com o serviço de abastecimento de
água, a utilização de métodos alternativos de desinfecção é de suma
importância. Este método consiste na inativação dos microrganismos
patogênicos, realizada por meio de agentes físicos ou químicos, como o cloro
(PROSAB, 2001), que mata bactérias e, desde que usado adequadamente, e
em conjunto com o processo de filtração, garante uma proteção eficaz na
prevenção de doenças de veiculação hídrica. Na comunidade em questão
verificamos uma pequena utilização dessa metodologia, que deveria ser
estimulada, com a orientação correta, a fim de minorar os problemas de
contaminação da água para consumo de maneira eficaz, melhorando assim a
qualidade de vida e saúde dessa população.
Foi possível verificar com os questionários que a maioria dos
entrevistados relacionam qualidade da água com ausência de “gosto, cheiro e
cor”, conceito errôneo difundido na população de forma geral, e reforçado
muitas vezes pelos próprios livros didáticos (Silva, 2006), que necessita ser
modificado através de práticas educativas, mudando a atitude da população a
fim de que haja um resguardo maior quanto à utilização de água de fontes não-
confiáveis, baseada apenas em suas características organolépticas.
Sobre as condições de saneamento e tratamento do lixo verificou-se que
estas são possíveis fontes de contaminação direta da água de poço na
comunidade, já que não existe um tratamento adequado com os mesmos. Em
77% das residências foram construídas fossas (sumidouro) e em 23% o esgoto
é jogado na vala. O tratamento do lixo é feito de diversas formas, o lixo
orgânico é aproveitado por algumas famílias para compostagem, o lixo que
pode ser reciclado também é aproveitado por alguns moradores, e mais da
metade das famílias (73%) utiliza a incineração como tratamento de lixo,
embora este seja acumulado em valas para depois serem incinerados o que
produz o chorume que contamina o lençol freático, diminuindo a qualidade da
água usada pela comunidade.
Como se sabe o lixo e o esgoto são fontes de contaminação
permanentes, com a produção do chorume, resíduo líquido formado com o lixo
e umidade do solo ou água de chuva, que infiltra pelo solo e contamina o poço
e com o esgoto que sem tratamento é uma fonte de contaminação direta (Silva,
2008).
Com a observação de campo foi possível verificar que não existe a
preocupação com relação ao tratamento tanto do lixo, quanto da água, sendo
estes mais susceptíveis a contaminação.
Com os resultados obtidos nos questionários foi possível observar que a
área de estudo apresenta-se vulnerável a vários tipos de contaminação, além
da atividade agrícola, a falta de tratamento de esgoto e lixo, existe deficiência
no tratamento da água para consumo, deixando claro que são necessárias
medidas que visem minimizar os riscos de contaminação, desde a construção
do poço até o gerenciamento das práticas e usos rotineiros e da utilização do
solo. Algumas medidas que podem ser tomadas para minimizar o risco de
contaminação, como no momento da construção do poço é a proteção da
borda do poço por meio de revestimento das paredes em alvenaria ou
concreto, esta medida impede o carreamento das águas pluviais para o interior
do mesmo. Utilizar parede em volta e instalar tampa de concreto são outras
medidas que asseguram a qualidade da água subterrânea, além do uso de
bombas elétricas ou bombas manuais, pois a utilização de baldes e recipientes
para coleta da água pode ser fonte de contaminação (PROSAB, 2001). Embora
existam estas alternativas para diminuição do risco de contaminação, foi
possível observar na comunidade que nenhum destes cuidados são tomados
(figura 7 e figura 22, Anexo 2), mas uma vez deixando claro que a região se
apresenta vulnerável e necessita de informações relativas aos cuidados com
contaminação.
Com os resultados dos exames parasitológicos de fezes realizados com
uma parcela de moradores da comunidade (30 amostras), pode-se constatar
que 1/3 destes estão infectados e que 90% dos casos mostraram-se positivo
para Giárdia lamblia, deixando claro que existe uma relação direta entre casos
de doenças parasitárias com a qualidade as água consumida pela comunidade,
já que este é um parasita transmitido por veiculação hídrica.
7. Conclusão
Esta pesquisa mostrou que existe uma grande necessidade de um
programa de educação que vise informar a comunidade sobre os riscos de
contaminação através da água, já que esta é utilizada sem que seja feito um
tratamento prévio ou quando é feito este tratamento é inadequado, e sua fonte
está sujeita a permanente contaminação. O que ficou comprovado através do
inquérito parasitológico, onde se tem contaminação por agentes patogênicos
veiculados pela água.
Orientações podem ser transmitidas à população e a prevenção pode
ser realizada, no sentido de se melhorar a qualidade de vida das pessoas, já
que muitos problemas são relacionados ao hábito de consumo e tratamento da
água, além da racionalização da relação do homem com o seu ambiente.
8. Perspectivas futuras

A partir dos resultados desta pesquisa ficou clara a necessidade de um


programa de educação sanitária na comunidade, tendo em vista que a
condição de vulnerabilidade em que se encontra à comunidade se deve em
grande parte à desinformação. Para que esse objetivo venha a ser alcançado,
é necessária a criação de material didático que seja relevante, estimulante e
significativo, além de ações de educação em saúde nessa comunidade, a fim
de que se possa prevenir e corrigir práticas nocivas que possam causar danos
à saúde do indivíduo e ao meio ambiente, promovendo a mudança de hábitos
nos indivíduos, além de fornecer conhecimentos à comunidade para que ela
possa reconhecer os seus próprios problemas e reivindicar melhores condições
sanitárias.
9. Referências bibliográficas

BRAGA, R.C.C, Valencia. L.I.O, Medronho, R. de A., Escosteguy.C.C.


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CETESB. Companhia Estadual de tecnologia e Saneamento Ambiental.


Disponível em: http://www.cetesb.sp.gov.br/Solo/agua_sub/importancia.asp
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FONSECA, G. J. (2005) Novos Conceitos sobre água.


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http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_notic
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Acessado em 24/11/2008

ROCHA, S.F. (2004) Análise de Vulnerabilidade de


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THIOLLENTE, M. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo:Cortez: autores


associados, 1986. 108p.
10. Anexo 1

Projeto Água

•Nome:_________________________________________________________
__
•Endereço:______________________________________________________
__
•Data de nascimento:____________•Idade:________________
•Sexo: ( )M ( )F
•Estado civil: ( )Solteiro ( )Casado ( )Viúvo ( ) Mora com
companheiro(a)
( )Separado(a)( )outro________________________
•Escolaridade: ( ) Fundamental Incompleto ( )Fundamental ( )Médio (
)Superior
•Profissão:______________________
•Com quem mora: ( )Marido/Esposa/Companheiro(a) ( )Pais ( )Filhos (
)Colegas
( )Outros Parentes______________________________
1- Quantas pessoas moram na casa?(0 a 7 anos)______, (8 a 14
anos)______, (15 a 21 anos)______, (21 a 65 anos)_____, (acima de 65
anos)______.
2- Desde o início do ano, alguém teve/tem problema de:
( ) diarréia / Número de pessoas na casa com o problema
______________
( ) dor na barriga/ Número de pessoas na casa com o problema
______________
( ) doença de pele (frieira, cobreiro etc) / Número de pessoas com o problema
___________
( ) febre / Número de pessoas na casa com o problema ______________

3- Qual tipo de água utilizada na sua casa? (marque mais de uma


alternativa, se necessário)
( ) rede / tratada ( ) poço ( ) rio ( ) chuva ( )
outros_________________________________
4- Você faz algum tratamento na água antes de beber?
Qual?__________________________
_______________________________________________________________
_______________
5- Você trata a água que utiliza em outras atividades (banho, cozinhar,
lavar roupa)? De que
forma?_________________________________________________________
_______________________________________________________________
________________________________

6- Para onde vai o esgoto de sua casa?


_____________________________________________

7- O que você faz com o lixo da sua


casa?___________________________________________

8- Você tem animais domésticos ou de criação em casa?


Quais?________________________
_______________________________________________________________
________________

9- Se você tivesse que escolher um método de purificar a água de beber,


qual você preferiria
para usar no seu dia a dia e por
quê?_______________________________________________
_______________________________________________________________
________________
10- Você tem horta/plantação em casa? Utiliza algum adubo ou produto
químico nela? Quais?________
_______________________________________________________________
________________
Perguntas Sim Não
1) Você trata a água que usa para beber?

2) Você trata a água que usa para tomar banho?

3)Você trata a água que usa para cozinhar?

4) Você acha que a água pode transmitir alguma doença?

5) Jogar lixo no terreno baldio pode contaminar a água do


poço?

6) Jogar esgoto na rua, na vala ou no rio pode contaminar a


água do poço?
9) Você acha que o cemitério pode contaminar a água do
poço de alguma forma?
7) Sua casa possui banheiro?

8) Sua casa possui vaso sanitário?

10) Você acha que se você filtrar a água de poço ela estaria
pronta para beber?

11) Você acha que se você ferver a água de poço ela estaria
pronta para beber?

12) Você acha que se você colocar cloro ou água sanitária


na água de poço ela estaria pronta para beber?

13) Você tem alguma plantação de alimentos na sua casa


(horta, canteiro)?

14) Você acha que utilizar adubo na horta pode contaminar a


água do poço?

15) Na sua casa você utiliza água mineral para beber


(comprada em garrafas ou garrafões)?
11. Anexo 2

Imagens Assentamento Oziel Alves

Figura 20 - Vista panorâmica e aspectos das residências Assentamento Oziel


Alves

Figura 21 - Caixas para armazenamento de água de chuva


Figura 22 - Poço com bomba manual

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