You are on page 1of 5

Análise crítica ao Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares

TAREFA 2

Objectivos:

• Perceber a estrutura e os conceitos implicados na construção do Modelo


de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares.

• Entender os factores críticos de sucesso inerentes à sua aplicação.

A. O MODELO ENQUANTO INSTRUMENTO PEDAGÓGICO E DE MELHORIA.


CONCEITOS IMPLICADOS.

De acordo com o texto da sessão, parcialmente retirado no documento


“Bibliotecas Escolares: Modelo de Auto-Avaliação”, este pretende munir as
escolas de um “…instrumento pedagógico e de melhoria contínua (…) que
permita avaliar o trabalho da biblioteca escolar(….)o impacto desse trabalho
no funcionamento global da escola (…) nas aprendizagens dos alunos (…)
identificar as áreas de sucesso e (…) “uma inflexão das práticas”, entre
outras, “quando se apresentarem “resultados menores””.

Parece-me que o que se pretende atingir com este modelo é: uma biblioteca
que venha suprir os vários tipos de lacunas do nosso ensino, em sala de aula,
transferindo para a biblioteca/professor bibliotecário uma responsabilidade e
uma mudança de atitude face às novas funções da biblioteca que, neste
momento (ou nos próximos quatro anos) a Escola (Bibliote-
ca/Docentes/Discentes) não está preparada para receber.
É verdade que a mentalidade dos docentes face ao papel da biblioteca tem
vindo a mudar (já não a vêem como um espaço onde ninguém pode falar, mas
antes como um espaço de trabalho individual/em grupo). No entanto, a pesqui-
sa é, ainda, “muito livre”. Vê-se, então, a biblioteca, como um meio de acesso à
informação, onde os jovens são supervisionados pelos funcionários e, agora,
pelo professor bibliotecário que, neste momento, é simplesmente alguém que
impõe (?) ordem e leva os jovens a cumprir o pedido pelo professor da discipli-

1 Maria Manuela Torres Paredes


Análise crítica ao Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares
na que os enviou ali para fazer a referida pesquisa (praticamente sempre sem
se fazerem acompanhar de guiões, mas apenas de um tema).
A verdade é que, face a esta situação, o professor bibliotecário se encontra
a anos-luz, do que pretende o modelo e do preconizado, por exemplo, por
Eisenberg, que vê na BE e no professor bibliotecário, permitam-me a ironia, um
super professor, que possui uma super biblioteca, numa super escola onde os
professores trabalham colaborativamente (pois não estão preocupados com a
sua própria avaliação e buscam o Excelente com paixão…), onde os alunos
recebem abertamente sugestões de alguém que não o professor da sua disci-
plina…
Assusta-me o que pretende o modelo e o que defende Eisenberg. Não vejo
o professor bibliotecário a ter um grande sucesso numa mudança tão forte de
mentalidades. Constitui, sem dúvida, um desafio, mas não será com uma
biblioteca bem apetrechada que se conseguirá mudar os docentes e o modo
como estes a vêem.
Para além disso, a ideia de auto-avaliação vista como um processo peda-
gógico, avaliado pela mudança no “ensino e na aprendizagem” implica, a meu
ver, um estudo permanente dos resultados, ou seja, um trabalho burocrático,
também ele permanente. Não se perde, deste modo, o objectivo principal, que
me parece ser dar resposta aos quatro domínios constantes no modelo? Esta-
remos a ver a nossa realidade ou o modelo vai para “além do sonho”? A exi-
gência de “Evidências” não desvirtua o modelo? O papel do professor bibliote-
cário, segundo a minha leitura do Modelo de Auto-Avaliação, não é exequível
na sua plenitude e, mais do que “orientar as escolas, através da definição de
factores críticos de sucesso para áreas nucleares ao funcionamento e sucesso
da BE e sugerindo possíveis acções para melhoria” constitui mais uma forma
de avaliação a acrescentar a todas as outras. A Escola não é uma empresa de
produção, é um espaço de aprendizagem, de aceitação da diferença, da aqui-
sição/reforço dos valores,…e isso não é mensurável, não é analisável através
de belos gráficos e “evidências”. A Escola trabalha com seres humanos, que
chegam de espaços muito diversos, com vivências muito diferentes, com (ou
sem) objectivos de vida que nem sempre dependem da só da sua vontade.
Quando isto for mensurável, como numa fábrica onde se faz o controlo de qua-
lidade e isso determina o valor dos seus funcionários, então os nossos jovens

2 Maria Manuela Torres Paredes


Análise crítica ao Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares
serão apenas fruto de um trabalho em série. Caso não passem “no controlo de
qualidade” serão “dispensados”, pois as suas tarefas não são úteis à empresa.
O que fazer? Despedi-lo, claro!!
É óbvio (demasiado, talvez) que ninguém decide optar por determinada
estratégia e, no final, não vai avaliá-la, questioná-la, reavaliá-la e, aperfeiçoá-la.
Esse processo é inerente a qualquer actividade, independentemente de se rea-
lizar em sala de aula ou na biblioteca.

B. PERTINÊNCIA DA EXISTÊNCIA DE UM MODELO DE AVALIAÇÃO PARA AS BIBLIOTECAS


ESCOLARES.

A existência de um Modelo de avaliação para as bibliotecas escolares é


pertinente, visto fornecer um quadro de referência e constituir um instrumen-
to orientador dessa busca do sucesso, da inovação. Considero, como já
referi no tópico anterior, que este deverá não só adequar-se “às especifici-
dades das bibliotecas escolares e do sistema de ensino Português” como às
escolas/regiões onde estas estão integradas.
É provável que se pretenda “induzir a transformação das bibliotecas
escolares em organizações capazes de aprender e de crescer através da
recolha sistemática de evidências de uma auto-avaliação sistemática.” e que
esse seja o caminho mais eficaz para se conseguir o sucesso que todos pre-
tendemos. No entanto, só tendo bem presente o espaço geográfico/social
em que a biblioteca se encontra, se conseguirá fazer um trabalho realmente
sério, sem pôr em causa o empenho e profissionalismo da equipa responsá-
vel pela sua gestão.

C. ORGANIZAÇÃO ESTRUTURAL E FUNCIONAL. ADEQUAÇÃO E CONSTRANGIMENTOS.


A organização em quatro domínios (apoio ao desenvolvimento curricular;
leitura e literacias; projectos, parcerias e actividades livres e de abertura à
comunidade; gestão da biblioteca escolar) permite proceder a um estudo quan-
to ao modo como está a funcionar a biblioteca e quais as mudanças a imple-
mentar, tendo em conta cada um dos referidos domínios/subdomínios. Sem
dúvida, permite traçar objectivos concretos e delinear estratégias de actuação
em função dos pontos fortes/fracos.

3 Maria Manuela Torres Paredes


Análise crítica ao Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares
Tendo como base o texto da sessão (que se reporta já a alguns textos
que constituem a leitura obrigatória) os diferentes estudos internacionais salien-
tam estes domínios como fundamentais para que a biblioteca se desenvolva
com a qualidade exigida. Mas, como diz Ross Todd o desafio é grande (diria,
ambicioso); as funções do professor bibliotecário constituem um desafio ao
próprio e à sua equipa, que tem, também, um papel fundamental para que pos-
sam ser postos em prática os quatro domínios. Alguns deles estão já iniciados,
porém, no ensino secundário há domínios que serão mais do que um desa-
fio…serão uma batalha a vencer com perseverança, sobretudo aquele que res-
peita o seu reconhecimento, pela comunidade escolar, da sua integração activa
no processo ensino/aprendizagem. E é este ponto o que me parece mais difícil,
já que poderá ser visto, na conjuntura actual, como uma forma da equipa se
querer salientar, ganhar “poder”, de se querer “intrometer” no domínio de per-
tença de cada professor (mais uma vez, o sistema de avaliação dos docentes
veio fragilizar o espírito de equipa existente entre docentes do mesmo depar-
tamento e mesmo entre os dos outros departamentos, o que torna esta nova
função da biblioteca uma missão “quase” impossível).
O facto do Modelo de Auto-Avaliação da BE poder interferir na avaliação
da própria escola, poderá ser visto como um aspecto positivo, ainda que muito
frágil, na medida em que poderá ter um maior apoio da Direcção. Mas poderá,
certamente, constituir mais um elemento de pressão por parte da mesma.

D. INTEGRAÇÃO/ APLICAÇÃO À REALIDADE DA ESCOLA


A aplicação do Modelo de Auto-Avaliação da BE é concretizada de modo
faseado. E, nesta área, não me parece complexa a sua aplicação, pois conhe-
cendo a realidade da sua biblioteca, o seu coordenador, juntamente com a sua
equipa, seleccionará o domínio que será objecto de aplicação dos instrumen-
tos. A recolha de evidências, a procura de soluções para suprir eventuais
falhas; a possível necessidade de formação contínua da equipa e respectivo
coordenador constituem aspectos que não sendo de fácil solução, poderão ser
ultrapassados com um trabalho cuidadoso e intenso com a Direcção (penso,
sobretudo no domínio D, que é uma fraqueza da minha biblioteca e que depen-
de, mais fortemente, de mim e da minha equipa). É evidente que todos os

4 Maria Manuela Torres Paredes


Análise crítica ao Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares
constrangimentos referidos nos tópicos anteriores serão mais difíceis de ultra-
passar e exigirá um trabalho muito diferente e muito mais inglório.

E. COMPETÊNCIAS DO PROFESSOR BIBLIOTECÁRIO E ESTRATÉGIAS IMPLICADAS NA SUA


APLICAÇÃO.

Neste modelo, e segundo Ross Todd, o professor bibliotecário tem um


papel fundamental no sucesso da BE. Teoricamente as suas ideias são
belas e levam ao sucesso escolar. Mas, ainda que o perfil do professor
bibliotecário tenha mudado radicalmente quando comparado há poucos anos
atrás, a realidade mostra-nos que as estruturas e as mentalidades não con-
seguiram ser tão radicais (é fácil mudar um modelo – difícil é querer mudar
mentalidades, pois o sucesso não passará nunca pela imposição).
A motivação da equipa e a liderança forte do professor coordenador nem
sempre gera frutos. Todavia, é incontestável que os aspectos a seguir, refe-
ridos no texto da sessão, constituem um caminho a seguir (mobilização da
equipa para a necessidade de fazer diagnósticos/ avaliar o impacto e o valor
da BE na escola que serve; promoção de jornadas formativas para a equipa
e para outros na escola; a definição precisa de conceitos e processos; a rea-
lização de um processo de formação/ acção; uma comunicação constante
com o órgão directivo, justificando a necessidade e o valor da implementa-
ção do processo de avaliação; a apresentação e discussão do processo no
Conselho Pedagógico – mais difícil, visto o professor coordenador nem
sempre fazer parte desse Conselho; a aproximação/ diálogo com departa-
mentos e professores. A criação e difusão de informação/ calendarização
sobre o processo e sobre o contributo de cada um no processo – como refe-
ri, processo mais árduo nesta fase de descontentamento e contestação).
Este ponto é, indubitavelmente, o maior desafio de todos.

5 Maria Manuela Torres Paredes

You might also like