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Medicina, Ribeirão Preto, Simpósio: URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NEFROLÓGICAS

36: 325-337, abr./dez. 2003 Capítulo II

DISTÚRBIOS DO EQUILÍBRIO HIDROELETROLÍTICO

FLUID AND ELECTROLYTE DISORDERS

Osvaldo Merege Vieira Neto1 & Miguel Moysés Neto2

1
Médico Assistente e Pós-graduando. 2Doutor em Nefrologia e Médico Assistente. Divisão de Nefrologia. Departamento de Clínica
Medica. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto -USP.
CORRESPONDÊNCIA: Departamento de Clínica Médica. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – Campus
Universitário – CEP: 14048-900 Ribeirão Preto – SP

VIEIRA NETO OM & MOYSÉS NETO M. Distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico. Medicina, Ribeirão Preto
36: 325-337, abr./dez. 2003.

RESUMO - O sódio e o potássio são os principais íons dos meios extra e intracelular, respec-
tivamente. Os distúrbios relacionados a esses íons são freqüentes e podem ser causados por
inúmeras condições clínicas. A fisiopatologia e a gravidade das alterações indicam o tratamento
a ser instituído.

UNITERMOS - Sódio. Potássio. Hiponatremia. Hipernatremia. Hipopotassemia. Hiperpotas-


semia.

1- DISTÚRBIOS DO EQUILÍBRIO DO SÓDIO sultado de retenção hídrica. Na maioria das vezes, esse
problema é devido à secreção inapropriada do Hor-
O sódio é o íon mais importante do espaço ex- mônio Anti diurético (HAD), embora a excreção de
tracelular, e a manutenção do volume do líquido extra- água livre possa estar limitada em algumas situações,
celular depende do balanço de sódio. É mantido pelo como a insuficiência renal crônica, independente, e do
organismo em níveis estreitos (Na = 136 a 145 mEq/1), HAD. Enquanto a hipernatremia sempre denota hi-
sendo vários os mecanismos envolvidos no seu con- pertonicidade, a hiponatremia pode estar associada a
trole (osmorreceptores, barorreceptores, mecanismos tonicidades baixa, normal ou aumentada. A osmolali-
extra-renais e sistema justaglomerular). Pode haver dade efetiva ou tonicidade refere-se à contribuição da
alterações no equilíbrio de sódio plasmático, aumen- osmolalidade dos solutos, tais como sódio e glicose,
tando ou diminuindo sua concentração, ocorrendo hi- que não podem se deslocar livremente através das
pernatremia ou hiponatremia. membranas celulares, induzindo, portanto, deslocamen-
Existe uma estreita relação entre a água e o sódio, tos transcelulares de água. A hiponatremia dilucional,
de tal modo que os distúrbios desses dois elementos a causa mais comum desse distúrbio, é provocada por
não devem ser tratados de maneira independente. retenção de água. Se a capacidade renal de excretar
água é menor do que a ingestão, ocorre diluição dos
1.1- Hiponatremia solutos no organismo, provocando hiposmolalidade e
hipotonicidade.
Definição
A hiponatremia é definida como a concentra- Quadro clínico
ção de sódio, no soro, inferior a 136 mEq/1. É asso- Na grande maioria das vezes, é assintomática,
ciada com diferentes doenças, e quase sempre é re- só ocorrendo sinais e sintomas nos casos graves. Ge-

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ralmente, até a concentração de 125 mEq/l, não há ções, o tratamento da hiponatremia consiste na cor-
sintomas. Eles são inespecíficos, e podem ocorrer em reção do distúrbio subjacente e na restrição hídrica,
inúmeras condições clínicas. Os sintomas que podem freqüentemente em associação com diuréticos.
ser vistos na hipo ou hipernatremia, são, primariamen- 2) Volume extracelular normal: a hiponatremia,
te, neurológicos e relacionados à gravidade e, particu- associada com euvolemia, inclui situações clínicas
larmente, à rapidez na mudança da concentração plas- que descreveremos a seguir
mática de sódio (horas). A queda na osmolalidade plas- a) Hipotiroidismo: a ocorrência de hiponatremia em
mática cria um gradiente que favorece a entrada de hipotiroidismo, geralmente, sugere doença gra-
água para dentro das células, levando ao edema cere- ve, incluindo coma mixedematoso. O tratamen-
bral. Vários sintomas e sinais podem estar relaciona- to consiste na reposição hormonal e na restri-
dos à hiponatremia. ção hídrica.
Sintomas: letargia, apatia, desorientação, b) Deficiência de corticosteróide: as deficiências de
cãimbras musculares, anorexia, náuseas e agitação. glicocorticóide e/ou mineralocorticóide podem le-
Sinais: sensório anormal, reflexos profundos var à hiponatremia, devido as suas ações no me-
deprimidos, respiração de Cheyne Stokes, hipoter- tabolismo de sódio e da água. Deve-se pesquisá-
mia, reflexos patológicos, paralisia pseudobulbar e con- las, quando a causa de hiponatremia não é evi-
vulsões. dente, em pacientes euvolêmicos. O tratamento
consiste na reposição hormonal e restrição hí-
Classificação drica.
c) Estresse emocional, dor e drogas: dor aguda ou
Pseudo-hiponatremia: a causa de hiponatre- estresse emocional grave, como na psicose, as-
mia é a elevada concentração de grandes moléculas sociada com ingestão contínua, podem levar a
de lípides (triglicérides e colesterol) e as paraprotei- hiponatremia grave. Há drogas que estimulam a
nemias (mieloma múltiplo), que, ao deslocarem parte liberação do HAD, provocando hiponatremia. O
da água extracelular, reduzem, significantemente, a tratamento consiste na correção da causa bási-
fração plasmática de sódio. A importância clínica da ca ou suspensão da droga, se ela for a causa,
pseudo-hiponatremia e o seu tratamento são os mes- associada à restrição hídrica. As drogas que es-
mos da causa básica. timulam a liberação de hormônio antidiurético ou
Hiponatremia hipertônica: é devida à presen- que aumentam sua ação incluem: inibidores das
ça, no soro, de solutos osmoticamente ativos, como prostaglandinas, nicotina, clorpropamida, tolbu-
manitol e glicose. É comum na cetoacidose diabética, tamida, clofibrato, ciclofosfamida, morfina, bar-
na desobstrução do trato urinário, quando há diurese bitúricos, vincristina, carbamazepina (tegretol),
osmótica pela uréia, e em outras condições clínicas. O acetaminoafen, fluoxetina e sertralina. Pacien-
tratamento dessa condição é o mesmo da causa básica. tes acima de 65 anos são mais susceptíveis.
Hiponatremia hipotônica: na ausência de d) Síndrome da secreção inapropriada do HAD
pseudo-hiponatremia ou da presença de outros solutos (SIHAD): após a exclusão dos diagnósticos aci-
osmoticamente ativos, a hiponatremia evolui com hi- ma, em pacientes hiponatrêmicos, euvolêmicos,
potonicidade. É importante a avaliação do volume ex- tal diagnóstico deve se considerado. A retenção
tracelular, pois, estando aumentado, normal ou dimi- de água e a expansão de volume, nessa síndro-
nuído, poderemos ter hiponatremia com sódio corpo- me, leva a um achado freqüente, que é oposto
ral total alto, normal ou baixo, respectivamente. Sen- àquelas situações em que há hipovolemia: a
do assim, usaremos a classificação que vem a seguir: hipouricemia (concentração plasmática de áci-
1) Expansão do volume extracelular: resulta da do úrico < 4 mg/dl). As causas principais estão
diminuição da excreção renal de água, com conse- listadas a seguir.
qüente expansão da água corporal total, maior do • Carcinomas: pulmão, duodeno, pâncreas
que o sódio corporal total, e a diminuição do sódio • Distúrbios Pulmonares: pneumonia viral,
sérico. Freqüentemente, esses pacientes são ede- pneumonia bacteriana, abscesso pulmonar, tuberculo-
matosos, o que ocorre nas seguintes situações clíni- se, aspergilose
cas: insuficiência cardíaca, cirrose hepática, síndro- • Distúrbios do sistema nervoso central (SNC):
me nefrótica e insuficiência renal. Em tais condi- encefalite viral ou bacteriana, meningite viral, bacte-

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Distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico

riana ou tuberculosa, psicose aguda, acidente vascu- extra-renais. Porém, quando a concentração uri-
lar cerebral (isquêmico ou hemorrágico), tumor cere- nária de sódio estiver mais alta (> 20mEq/l), deve-
bral, abscesso cerebral, hematoma ou hemorragia se considerar que o rim não está respondendo apro-
subdural ou subaracnóide, Síndrome de Guillain-Barré, priadamente e/ou que essas perdas, provavelmen-
traumatismo craniano, outras causas, como pós-ope- te, são as causas da hiponatremia. As causas mais
ratórios, dor, náusea intensa e síndrome de imunodefi- freqüentes são as relatadas a seguir.
ciência adquirida. a) Perdas gastrointestinais ou para o terceiro es-
OBS: todas as alterações no balanço hidroeletrolítico, ob- paço: nos pacientes com hipovolemia, hiponatre-
servadas na SIHAD, têm sido, também, observadas na su- mia e sódio urinário menor que 10mEq/1, deve-
posta síndrome de perda de sal de origem cerebral. Essa sín- mos considerar perdas gastrointestinais. São mais
drome é caracterizada por elevada concentração de sódio na facilmente diagnosticadas em pacientes com his-
urina, causada pela alteração na reabsorção de sódio tubular tória de vômitos e/ou diarréia, porém, na ausên-
mediada pela liberação de um hormônio natriurético, talvez, cia destes, devem ser consideradas: perdas para
um peptídeo originado no sistema nervoso central, com con- o terceiro espaço, como nos casos de peritonite
seqüente hiponatremia e perda de volume. Os níveis séricos e pancreatite, em que há perdas para a cavidade
de ADH não são úteis na diferenciação entre as duas sín- abdominal; íleo ou colite pseudomembranosa, em
dromes. Os níveis séricos de ácido úrico, geralmente, estão que há perdas para a luz intestinal; queimaduras,
normais na síndrome de perda de sal, de origem cerebral. A em que há perdas pela pele; e traumatismos
hipovolemia, traduzida por hipotensão ou desidratação, se- musculares, em que há perdas para o músculo.
ria a única manifestação clínica, que distinguiria essa sín- Uso abusivo de catárticos deve ser investigado,
drome da SIHAD. O tratamento é diferente para cada situa- mesmo sem história de perdas gastrointestinais.
ção. A terapêutica consiste na hidratação com solu-
ção salina isotônica.
e) Ingestão diminuída de solutos: abuso de inges- b) Perdas renais: sódio urinário maior que 20 mEq/1
tão de cerveja ou de dietas com baixo teor de • Uso de diuréticos: a queda da natremia, em
proteínas e excesso de ingestão de água, levan- pacientes recebendo diuréticos, pode ser o primeiro
do a diminuição do metabolismo protéico e bai- sinal indicador da necessidade de reajustar suas do-
xa produção de uréia. A baixa excreção de ses. Freqüentemente, a depleção de volume não é evi-
solutos reduz a excreção máxima de água, em- dente ao exame clínico, e um dado importante é que
bora a capacidade de diluição do rim possa es- os pacientes hiponatrêmicos, em uso de diuréticos
tar preservada. tiazídicos ou de alça, apresentam alcalose metabólica
ou hipocalêmica, o que não ocorre, quando são utiliza-
O tratamento da SIADH consiste na restrição dos diuréticos poupadores de potássio. A melhor ma-
hídrica e no uso eventual de diuréticos de alça, com neira de confirmar esse diagnóstico é a suspensão do
reposição do sódio e do potássio perdidos na urina. uso do diurético.
Nos casos que não respondem à restrição hídrica, pode- • Uso abusivo de diuréticos: é comum em mu-
se usar drogas que induzam diabetes insípido nefrogê- lheres na pré-menopausa, que o fazem por razões es-
nico, como a demeclociclina (600-1200 mg/ dia) e Car- téticas e para perder peso, de maneira escondida.
bonato de Lítio. Foram desenvolvidos, também, anta- Evoluem com alcalose metabólica, hipocalêmica. O
gonistas específicos do HAD, em animais, e que de- tratamento consiste na orientação quanto ao uso ex-
verão estar disponíveis, no futuro, para uso clínico em cessivo de diuréticos.
pacientes. • Nefrite perdedora de sal: pacientes portado-
res de doença cística medular, nefrite intersticial crô-
3) Contração do volume extracelular: existem inú- nica, doença renal policística, obstrução parcial do trato
meras condições clínicas em que a hiponatremia urinário e, raramente, glomerulonefrite crônica, podem
evolui com contração do volume extracelular, po- apresentar hiponatremia hipovolêmica, o que aconte-
dendo ocorrer perda de sódio através da pele, tra- ce, geralmente, em pacientes com insuficiência renal
to gastrointestinal ou rim. A concentração de sódio moderada ou avançada, devido à perda da capacida-
urinário pode estar baixa (< 20mEq/l), devido à ávida de de concentração urinária. O tratamento consiste
reabsorção tubular de sódio pelo rim, nas perdas na hidratação com salina isotônica.

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Vieira Neto OM & Moysés Neto M

• Doença de Addison: pacientes com tal pato- Terapêutica


logia apresentam menores níveis de aldosterona e, con-
seqüentemente, reabsorvem menos sódio e excretam As causas mais comuns de hiponatremia gra-
mais potássio pelos rins. As concentrações urinárias ve, em adultos, são a terapia com tiazídicos, pós-ope-
de sódio são maiores do que 20mEq/1 e as de potássio ratórios, SIHAD, polidipsia em pacientes psiquiátri-
menores do que 20mEq/1, e podem ser uma pista para cos e prostatectomia por ressecção transuretral.
esse diagnóstico. A terapêutica consiste na reposição O tratamento pode variar desde restrição hídri-
hormonal e hidratação com salina isotônica. ca até reposição de salina isotônica ou hipertônica.
• Diurese osmótica e excreção de amônia: na Porém, em casos de hiponatremia sintomática, o que,
presença de concentração de sódio urinário maior do geralmente, pode ocorrer com sódio entre 120 mEq/1
que 20mEq/1, deve-se considerar, também, a diurese e 125 mEq/l, deve-se fazer a reposição salina, inde-
osmótica, levando à depleção de água e eletrólitos. pendente da causa, especialmente se a hiponatremia
Podem-se citar algumas situações em que isso ocorre ocorreu de maneira muito rápida.
- Infusão crônica de manitol, sem reposição Embora rara, a desmielinização osmótica é sé-
eletrolítica. ria e pode ocorrer de um a vários dias após o trata-
- Desobstrução do trato urinário, com diurese mento mais agressivo de hiponatremia por qualquer
osmótica pela uréia. método, mesmo em resposta à restrição hídrica, como
- Diabetes não controlada, com glicosúria tratamento único. A contração das células cerebrais
importante, causando diurese osmótica e conseqüen- desencadeia a desmielinização dos neurônios da pon-
te espoliação hidroeletrolítica. te e extrapontinos e causa disfunção neurológica, in-
- Cetonúria, em que a excreção de cetoáci- cluindo quadriplegia, paralisia pseudobulbar, convulsões,
dos pode levar à perda renal de água e eletrólitos, como coma e até óbito. A desnutrição, hepatopatias e déficit
na cetoacidose diabética e alcoólica ou na inanição. de potássio aumentam o risco dessa complicação.
- Bicarbonatúria, em que a perda renal do O aumento da concentração de sódio não
bicarbonato leva à perda de água e cátions, para man- deve exceder de 8 a 10 mEq/l nas 24 h até atingir os
ter a eletroneutralidade. É mais freqüentemente en- níveis entre 125 mEq/l a 130 mEq/l. Se a concen-
contrada na alcalose metabólica com bicarbonatúria, tração inicial estiver abaixo de 100 mEq/l, por exem-
comum nos pós-operatórios com sucção nasogástrica plo, a correção poderá aumentar sua velocidade para
ou vômitos. A acidose tubular renal proximal pode, tam- 1 a 2 mEq/l por hora até atingir níveis satisfatórios ou
bém, levar a bicarbonatúria, com conseqüente hipo- melhora da sintomatologia. A correção pode ser feita
natremia. pela fórmula:

4) Excesso de ingestão de água: existem algumas Na infundido - Na sérico


Mudança no sódio sérico (mEq/l) =
situações em que existe hiponatremia com supres- Água corporal + 1
são da excreção de HAD: insuficiência renal avan-
çada e polidipsia primária. No primeiro caso, rim
excreta água livre pela incapacidade do néfron em Água corporal = calculada como fração do peso. O
diluir a urina. A osmolalidade urinária pode se ele- índice para adultos e crianças é 0,6, para mulheres e idosos,
var para 200 a 250mOs/kg, pelo aumento da ex- 0,45 a 0,5. A fórmula estima o efeito de um litro de qualquer
creção de solutos por néfron. No caso da polidip- solução infundida no sódio sérico
sia primária ,o sódio plasmático pode estar normal
ou discretamente rebaixado pelo excesso de inges- • Hiponatremia hipotônica sintomática
tão de água, devido ao estímulo patológico da sede. Pacientes que têm hiponatremia com urina con-
Podem ocorrer por lesões hipotalâmicas como, centrada, osmolalidade > 200 mOsm/kg de água,
sarcoidose, ou em pacientes com distúrbios psiquiá- euvolêmicos ou hipervolêmicos necessitam de infu-
tricos. Ingestões acidentais de água, durante aulas são de salina hipertônica. A solução hipertônica deve
de natação, excesso de enemas ou soluções de ir- ser acompanhada de furosemide para evitar a expan-
rigação, utilizadas em cirurgias de próstata são do volume extracelular. Como a diurese por furo-
transuretrais (RTU) podem, também, levar a qua- semide equivale a solução salina a 0,45% (77 mEq/l),
dro de hiponatremia hipotônica. ajuda na correção da hiponatremia, porém, deve-se

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Distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico

Tabe la I - Soluçõe s que pode rão s e r utilizadas para re pos ição para hipo e hipe rnatre mia

Sol ução a ser i nfundi da Quant i dade de Na (mEq/l ) Di st ri bui ção p/l í qui do ext racel ul ar (%)

Salina a 5% 855 100*

Salina a 3% 513 100*

Salina a 0,9% 154 100

Solução de Ringer lactato 130 97

Salina a 0,45% 77 73

Salina a 0,2% em glicose a 5% 34 55

Glicose a 5% 0 40
* Além de distribuição total no compartimento extracelular, essas soluções induzem remoção por osmose de água do compartimento
intracelular

evitar a infusão de água livre de solutos ao mesmo em todos os casos. A hiponatremia associada com a
tempo. Pacientes com urina diluída (osmolaridade < perda de volume e líquido extracelular, como, por exem-
200 mOsm/kg de água), sem sintomas graves, usual- plo, nas diarréias e perdas gastrointestinais, necessita
mente, só necessitam de restrição de água. Sintomas também de correção da perda de sódio concomitante.
mais graves, como convulsão e coma, podem indicar A hiponatremia adquirida dentro do hospital pode
a necessidade do uso de soluções hipertônicas. ser prevenida, detectando-se situações que possam
diminuir a excreção de água; drogas; insuficiência de
• Hiponatremia hipotônica assintomática órgãos, como insuficiência renal e cardíaca; pós-ope-
O grande risco do tratamento, nesses casos, ratórios. Nesses casos, deve-se evitar a infusão de
ocorre durante a fase de correção, quando os pacien- líquidos hipotônicos, que excedam a capacidade de
tes param de ingerir grandes quantidades de água ou excreção de água dos pacientes de risco.
quando há correção repentina da dificuldade de ex-
creção de água, como aquelas provocadas por dro- 1.2- Hipernatremia
gas. Se há uma diurese excessiva, em alguns casos,
há necessidade da administração de líquidos hipotôni-
cos, para evitar que a correção se processe acima da Definição
meta estipulada de 10 mEq/l/24 h, por exemplo. Por A hipernatremia é definida, quando o sódio plas-
outro lado, não há risco semelhante associado com a mático ultrapassa 145 mEq/I. A concentração sérica
hiponatremia assintomática, que acompanha os esta- de sódio e, conseqüentemente, a osmolalidade sérica
dos edematosos ou a persistência da SIHAD pela al- são controladas pela homeostase da água, a qual é me-
teração na excreção de água. Na ICC grave, a mu- diada pela sede, pela vasopressina e pelos rins. Qual-
dança das condições hemodinâmicas pode melhorar a quer desequilíbrio, no balanço de água, manifesta-se
excreção de água livre. Nesses casos, o uso de furo- como uma anormalidade da concentração sérica de
semide e não o de tiazídico, reduz a concentração uri- sódio: hipernatremia ou hiponatremia. É menos fre-
nária e aumenta a excreção de água livre. Na SIHAD, qüente do que a hiponatremia, e mais comum em paci-
deve-se utilizar diuréticos de alça, associados com so- entes muito jovens, muito velhos, e doentes, que não
lução salina hipertônica o que vai aumentar a perda de têm condição de ingerir líquido em resposta ao aumento
água. A administração de sódio, em solução hipertôni- de osmolalidade, o que provoca sede, devido a sua in-
ca, não deve ser dada aos pacientes portadores de capacidade física. Como o sódio funciona como soluto
estados edematosos. impermeável, do ponto de vista funcional, ele contribui
Embora a restrição de água vá melhorar todas as para a tonicidade, e induz o movimento de água atra-
formas de hiponatremia, essa não é a melhor terapia vés das membranas celulares. A hipernatremia, inva-

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riavelmente, evolui com hiperosmolalidade hipertônica e Ganho de sódio hipertônico


sempre provoca desidratação celular. A hipernatre-
mia ocorre com freqüência em pacientes hospitaliza- Infusão de bicarbonato de sódio, ingestão de
dos, como uma condição ligada a fatores iatrogênicos, cloreto de sódio, ingestão da água do mar, enemas de
e algumas das complicações mais sérias ocorrem não salina hipertônica, infusão de soluções hipertônicas de
da própria alteração, mas de tratamento inadequado. sódio, diálise hipertônica, hiperaldosteronismo primá-
rio e síndrome de Cushing (reabsorção intensa de sódio
Quadro clínico pelos túbulos).

A hipernatremia pode ser sintomática e levar Terapêutica


a sinais e sintomas clínicos.
Disfunção do SNC: É conseqüente à desidra- O tratamento se inicia com o diagnóstico da
tação celular, com contração das células cerebrais, o causa do processo e corrigindo a hipertonicidade. O
que pode levar à laceração, hemorragia subaracnóide tratamento das causas pode, por exemplo, controlar a
e subcortical, e trombose dos seios venosos. As pri- perda de líquidos gastrointestinais, controlar o aumen-
meiras manifestações da hipernatremia são: agitação, to de temperatura, hiperglicemia, corrigir a poliúria pelo
letargia e irritação. Esses sintomas podem ser seguidos lítio, etc. Nos pacientes com hipernatremia, que se
de espasmos musculares, hiperreflexia, tremores, ata- desenvolve após algumas horas, a correção rápida
xia. A hipernatremia aguda é mais grave do que a crô- melhora o prognóstico, sem risco de provocar edema
nica, e a evolução mais benigna, nos casos crônicos, cerebral. Nesses pacientes, a redução de 1 mEqL/l/h
deve-se à formação de osmóis ideogênicos, osmotica- é adequada. Uma correção mais prudente torna-se
mente ativos para restauração de água intracelular. A necessária nos pacientes com hipernatremia de longa
gravidade dos sintomas cabíveis depende da idade, e é duração ou de duração desconhecida, devido ao fato
maior em pacientes muito jovens ou muito velhos. que a dissipação do acúmulo dos solutos cerebrais pode
levar vários dias. Nesses casos, deve-se reduzir a di-
Classificação minuição da concentração de sódio sérico a 0,5 mEq/
h o que evita o aparecimento de edema e convulsões.
Recomenda-se que a queda do sódio plasmático não
Perda de água exceda a 10 mEq/l nas 24 h. O objetivo do tratamento
1) Perdas insensíveis: pela pele e pela respiração. é levar os níveis do sódio sérico a 145 mEq/l.
2) Diabetes insipidus: após trauma, provocado por A fórmula a ser utilizada é a mesma utilizada
tumores, cistos, histiocitose, tuberculose, sarcoidose, para correção da hiponatremia, como visto anterior-
idiopático, provocado por aneurismas, meningite, mente.
encefalite, síndrome de Guillain-Barré, e transitó-
rio, provocado por ingestão de etanol. Na infundido - Na sérico
3) Diabetes insipidus nefrogênico Mudança no sódio sérico (mEq/l) =
Água corporal + 1
• Doença renal (doença cística medular, por exem-
plo)
• Hipercalcemia ou hipocalemia. Água corporal = calculada como fração do peso. O
• Drogas: lítio, demeclociclina, foscarnet, metoxi- índice, para adultos e crianças, é 0,6, para mulheres e ido-
flurano, anfotericina B. sos, 0,45 a 0,5. A fórmula estima o efeito de um litro de
qualquer solução infundida no sódio sérico
Perda de líquidos hipotônicos
1) Causas renais: diuréticos de alça, diurese osmótica A via preferencial para correção, quando pos-
(glicose, uréia, manitol), diurese pós desobstrução, sível, é a oral através de sondas nasogástricas ou
fase diurética da necrose tubular aguda. enterais. Se não for possível, administrar, por via en-
2) Causas gastrointestinais: vômitos, drenagem na- dovenosa, soluções hipotônicas, como glicose a 5%,
sogástrica, fístulas enterocutâneas, diarréia, uso de salina a 0,2% (diluir o sódio em solução glicosada a
agentes catárticos, como, por exemplo, a lactulose 5%) e salina a 0,45%. Quanto mais hipotônico o líqui-
3) Causas cutâneas: queimaduras, sudorese excessiva do de infusão, mais lenta deve ser a administração.

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Distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico

Tabe la II - Soluçõe s que pode rão s e r utilizadas para re pos ição para hipe rnatre mia

Sol ução a ser i nfundi da Quant i dade de Na mEq/l ) Di st ri bui ção p/l í qui do ext racel ul ar(%)

Salina a 0,9% 154 100

Solução de Ringer lactato 130 97

Salina a 0,45% 77 73

Salina a 0,2% em glicose a 5% 34 55

Glicose a 5% 0 40

A não ser em casos de comprometimento he- 2.1- Distribuição do potássio


modinâmico, a solução salina a 0,9% não é adequada
para o manuseio da hipernatremia. Como exemplo, um O potássio é um íon predominantemente intra-
paciente que tem concentração de sódio de 162 mEq/ celular. O conteúdo corporal de potássio é de cerca
l, pesando 70 kg, ao receber um litro de salina a 0,9%, de 50mEq/kg ou seja, cerca de 3.500 mEq para um
diminuirá em somente 0,2 mEq/l a concentração sérica adulto de aproximadamente 70 kg. A concentração
de sódio, não alterando substancialmente essa concen- intracelular de potássio varia de 140 a 150mEq/1, sen-
tração. Além disso, se persistirem as perdas de líqui- do o tecido muscular o maior depósito de potássio.
dos hipotônicos, a natremia poderá aumentar ao invés Apenas 2% do potássio corporal total encontra-se no
de diminuir. A única indicação de salina a um paciente espaço extracelular, variando sua concentração de
com hipernatremia é quando houver perda de volume 3,5 a 5,0 mEq/1. Devido à grande diferença entre as
extracelular suficiente para provocar alterações hemo- concentrações intra e extracelular de potássio, os fa-
dinâmicas. Mesmo nesses casos, assim que as condi- tores que controlam sua distribuição transcelular são
ções hemodinâmicas se estabilizarem, deve-se admi- críticos para a manutenção de níveis séricos normais.
nistrar soluções hipotônicas, como salina a 0,2% e Os principais fatores são:
0,45%, para corrigir a hipernatremia. A– pH: a acidose provoca a saída de potássio do
Nos casos em que há hipernatremia por ganho intra para o extracelular, aumentando sua concen-
de soluções hipertônicas de sódio, a administração de tração sérica . Isto ocorre porque, quando exces-
furosemide somente agravará a hipernatremia, já que so de íons H+ são adicionados ao plasma, a maior
a diurese induzida equivale a, aproximadamente, solu- parte é tamponada no compartimento intracelular,
ção salina a 0,45%. A administração concomitante de e, para que esses íons entrem para dentro das cé-
diurético e solução com água livre será mais adequa- lulas, eles são trocados por íons Na+, através do
da. Há necessidade de monitoração contínua, pois há trocador Na+-H+, o que diminui a concentração
risco de retenção de volume extracelular nesses ca- de Na+ intracelular, e, conseqüentemente, sua dis-
sos. A hipernatremia, na vigência de insuficiência re- ponibilidade para ser trocado pelo K+ através da
nal e sobrecarga de volume, é um capítulo a parte, bomba Na+-K+ ATPase. Dessa maneira, menor
mas, geralmente, a diálise pode ser necessária. quantidade de K+ entra nas células. O fenômeno
oposto ocorre na alcalose. Alterações do bicarbo-
2– DISTÚRBIOS DO EQUILÍBRIO DO PO- nato sérico, mesmo sem alterações do pH, levam
TÁSSIO a alterações da distribuição transcelular. De for-
ma prática, para cada 0,1U de alteração do pH
Dentre os distúrbios encontrados na prática clí- sanguíneo haverá uma alteração concomitante do
nica, os relacionados ao potássio são muito freqüentes potássio sérico de 0,6 mEq/1.
e, muitas vezes, constituem-se em emergência clínica. B – Insulina: exerce um papel importante na manu-
Procuramos dar uma rápida noção da distribuição do tenção da distribuição sérica normal,/ do potássio.
potássio corporal, das possíveis etiologias dos distúrbi- Indivíduos com baixa secreção basal de insulina
os relacionados ao potássio e seu enfoque terapêutico. (ex: diabéticos do tipo 1 ) possuem menor tolerân-

331
Vieira Neto OM & Moysés Neto M

cia à infusão de potássio, por apresentarem meca- Etiologia


nismos de defesa debilitados frente a situações de
hiperpotassemia). A insulina exerce seu efeito pro- Na Tabela III, as causas possíveis de hiperpo-
tetor na hiperpotassemia através do aumento da tassemia
captação de potássio pelas célu-
las hepáticas e musculares. Seu
Tabe la III - Caus as pos s íve is de hipe rpotas s e mia
efeito ocorre através da estimula-
ção do trocador Na+-H+, com en- P o r re d i st ri b u i ç ã o P o r re t e n ç ã o d e p o t á ssi o
trada de Na+ e saída de H+. Des-
sa maneira, ocorre um aumento da Acidose metabólica ou respiratória Insuficiência renal
extrusão de Na intracelular atra- ß- bloqueadores C arga de potássio exógena
vés da bomba Na+-K + ATPase,
com conseqüente entrada de K+ Hipoinsulinemia (Diabetes do tipo 1) C arga de potássio endógena
para dentro das células. - Esmagamento
Infusão de arginina
C– Aldosterona: o principal efeito - Hemólise
da aldosterona ocorre através da Intoxicação digitálica - Hipercatabolismo
modificação da excreção renal de Succinilcolina
potássio. Sua ação ocorre no duc- Diuréticos poupadores de potássio
+
to coletor, abrindo canais de Na , o - Espironolactona
que aumenta a reabsorção desse - Triantereno, Amilorida
cátion, com conseqüente secreção
Hipoaldosteronismo
de K+. É provável que a aldoste-
rona também atue, promovendo a Hipocortisolismo
captação celular de potássio, en-
Doenças tubulares renais
tretanto tal dado ainda não se en-
contra estabelecido no homem. Ureterojejunostomia
D– Agentes β2-Adrenérgicos: atu-
am diretamente na bomba Na+-K+
ATPase estimulando-a, com conseqüente entrada • Diagnóstico/Manifestações Clínicas
+ e saída de Na+. Esse efeito é mediado pelos
de K
receptores ß2-adrenérgicos e é mais evidente com O diagnóstico é feito, quando encontramos con-
o uso de adrenalina. centração sérica acima de 5mEq/l. Do ponto de vista
clínico, a hiperpotassemia pode manifestar-se desde a
Além dos fatores mencionados, que controlam ausência de qualquer sintoma até parada cardíaca. As
a distribuição transcelular do potássio, têm papel rele- células excitáveis são as mais sensíveis aos altos va-
vante as alterações da reserva corporal total, seja por lores de potássio, entre elas as células miocárdicas e
depleção (aumento das perdas ou redução da ingesta) as neuromusculares, o que se traduz em fraqueza,
ou retenção de potássio (sobrecarga de potássio ou arreflexia, paralisia muscular (inclusive respiratória),
diminuição das perdas renais. parestesias e alterações cardíacas, conforme delinea-
do na Figura 1.
Do ponto de vista prático, cabe ainda ressaltar:
2.2. Hiperpotassemia
a) hipocalcemia, hiponatremia e acidose metabólica
Definição intensificam a hiperpotassemia;
b) acidose metabólica produz uma hiperpotassemia
Concentração plasmática do íon potássio aci-
“menos tolerável e mais grave” do que a acidose
ma de 5,0 mEq/1. Deve-se excluir a pseudo-hiperpo-
respiratória;
tassemia, que ocorre nas seguintes situações:
c) a hiperpotassemia vista na insuficiência renal crô-
• Leucocitose: acima de 100.000/mm3
nica é mais tolerada que a da insuficiência renal
• Plaquetose: acima de 1.000.000/mm3 aguda, o que se deve à adaptação dos mecanis-
• Hemólise mos de defesa extra-renais;

332
Distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico

Figura 1 - Alterações eletrocardiográficas na hiperpotassemia.

d) deve ser sempre indagado, na história clínica, o efeito é de até l h. Nos pacientes digitalizados, deve-
uso de medicamentos, principalmente digitálicos; se infundir o cálcio com extremo cuidado, e a dose
e) quando a causa da hiperpotassemia for devida à descrita deve ser diluída em 100ml de SG 5% e
carga de potássio aumentada (síndrome do esma- infundida em 20 a 30min, levando-se em conta que
gamento, hipercatabolismo ou hemólise maciça), o cálcio pode induzir toxicidade digitálica. Deve-se
associada a um déficit de excreção (insuficiência ressaltar que o cálcio não diminui a concentração
renal), poderá haver rápida elevação dos níveis de sérica de potássio, apenas antagoniza sua ação “tó-
potássio, com riscos de parada cardiorrespiratória, xica” sobre o miocárdio.
nestas condições em que o tratamento dialítico deve
ser considerado. 2) Redistribuição do potássio: há três maneiras
para se atingir tal objetivo: bicarbonato de sódio,
Tratamento clínico solução polarizante (insulina + glicose) e agentes
ß2-adrenérgicos.
Há três maneiras de se abordar a hiperpotas- a) Bicarbonato de sódio: quando há acidose, deve-
semia: antagonismo direto aos efeitos do potássio so- mos calcular o déficit de bicarbonato através de
bre a membrana, redistribuição do potássio do extra seu volume de distribuição (Fórmula de Ash: Peso
para o intracelular, e aumento da excreção do potás- x BE x 0.3). É indicada a correção de metade
sio. do déficit, e a infusão deve ser feita via EV em
1) Antagonismo direto sobre os efeitos do po- 15 a 20 min. Quando não há acidose, doses meno-
tássio na membrana celular: é o efeito observa- res de bicarbonato de sódio (cerca de 50 mEq)
do durante a infusão endovenosa em bolus de podem ser infundidas em aproximadamente 5
gluconato de cálcio. Cloreto de cálcio também pode min, e podem ser repetidas após 30 min. São
ser usado. O cálcio é a droga de escolha, quando contra-indicações ao uso do bicarbonato: edema
existem alterações eletrocardiográficas ou na pa- pulmonar, devido à expansão de volume; e hipo-
rada cardíaca por hiperpotassemia. A dose utilizada calcemia, devido ao aumento da ligação do cál-
é de 10 ml EV de gluconato de cálcio 10% em infu- cio à albumina, quando ocorre aumento de pH, o
são lenta em 2 a 3 min, que pode ser repetida após que pode precipitar convulsões e tetania. O iní-
5 min, se as alterações eletrocardiográficas persis- cio da ação ocorre em 5 a 10 min e a duração do
tirem. A ação é imediata (1-3 min) e a duração do efeito é de aproximadamente 2 h.

333
Vieira Neto OM & Moysés Neto M

b) Solução polarizante: a infusão de insulina aumenta sentam resposta satisfatória. Em casos de hi-
a captação do potássio pelas células muscula- perpotassemia grave devem ser usados desde o
res através de mecanismo descrito anteriormen- início, apesar do efeito ser lento, pois nestes ca-
te. Para evitar hipoglicemia, deve-se usar 1 UI sos, pequenas perdas de K+ podem provocar
de insulina regular para 4-5g de glicose. Habitu- quedas consideráveis nos níveis plasmáticos. Por
almente, prepara-se solução com 100ml de gli- exemplo, para reduzir o potássio sérico de 7 para
cose 50% + 10 UI de insulina regular, que deve 6 mEq/l, é necessário excretar muito menos K+
ser administrada em infusão EV em 5-10 min. do que para reduzi-lo de 6 para 5 mEq/l.
Pacientes com hiperglicemia intensa devem ser c) Mineralocorticóides: provocam aumento da
medicados apenas com insulina. O início da ação secreção tubular de K+, e da reabsorção de Na+,
ocorre em 30 min, com o pico em 60 min e o o que limita seu uso. A droga mais usada é a
efeito se prolonga por 4 a 6 h. fludrocortisona (FlorinefR) na dose de 0,1mg/dia,
c) Agentes ß2-adrenérgicos: seu uso aumenta a podendo chegar a 0,2mg/dia em casos excepcio-
captação celular de K+ através de mecanismo nais.
descrito anteriormente. Podem ser usados por d) Diálise: é muito efetiva em retirar o potássio,
via inalatória (10 a 20mg de albuterol diluídos principalmente a hemodiálise, e pode normalizar
em 5 ml de SF 0,9%), ou por infusão EV (0,5mg os níveis de K+ em 15 a 30 min. Está indicada
de albuterol diluído em 100 ml SG5%). O pico na insuficiência renal (aguda ou crônica). A prin-
de ação ocorre em 30 min, em infusão endove- cipal desvantagem do tratamento dialítico é o
nosa, e em 90 min por via inalatória. Deve-se tempo necessário para se preparar o material e
evitar o uso desdas drogas para o tratamento da para se conseguir o acesso (peritoneal ou atra-
hiperpotassemia devido a seu potencial arritmo- vés da punção venosa, para implante de cateter
gênico. de duplo lúmen). Antes de preparar a diálise,
deve-se utilizar as medidas terapêuticas apre-
3) Eliminação do potássio: há três maneiras para sentadas acima.
se atingir tal objetivo: resinas de troca iônica,
diuréticos de alça, e procedimentos dialíticos. 2.3- Hipopotassemia
a) Resinas de troca iônica: adsorvem K+ no tubo
digestivo, trocando-o por Ca++ ou Na+. Em nos- Os termos hipocalemia ou hipopotassemia são
so meio, a resina mais usada é o poliestirenos- utilizados quando a concentração do potássio no soro
sulfonato de cálcio (SorcalR) que troca K+ por é inferior a 3,5 mEq/l, não distinguem o déficit total de
Ca++, sendo o primeiro eliminado nas fezes. Seu potássio no organismo das alterações de distribuição
efeito se inicia após 1-2 h, com duração de até 6 do mesmo. Contudo, a hipopotassemia avaliada em
h. É apresentada na forma de pó para uso oral, conjunto com dados clínicos e laboratoriais oferece
diluído em água. A prescrição habitual é de 15- orientação quanto a etiologia, o prognóstico e a tera-
30 g VO a cada 6 ou 8 h. Pacientes que não pêutica não só do próprio distúrbio, como, também, de
possam usar a medicação por via oral podem outros problemas que o paciente apresenta. Perdas
ser tratados por enema de retenção. O efeito de 200 a 400 mEq são necessárias para promover a
colateral mais freqüente é a constipação intesti- queda do K+ sérico de 4,0 para 3,0 mEq/l, e perdas
nal, que deve ser tratada com catárticos (Manitol subseqüentes de 200 a 400 mEq são necessárias para
ou Sorbitol). levar a potassemia a níveis abaixo de 2,0 mEq/l.
b) Diuréticos de alça: o uso de diuréticos de alça A hipopotassemia ocorre em conseqüência de:
(furosemida: 40 a 80 mg EV ou bumetanida: 1 a fatores que influenciam a distribuição transcelular do
2mg EV) aumenta a excreção renal de potás- potássio; depleção do potássio corporal total; ou uma
sio. Pacientes com insuficiência renal modera- combinação desses fenômenos. A causa mais comum
da a grave (clearance de creatinina entre 10- da distribuição transcelular é a alcalose, seja ela respi-
50 ml/min), podem ser medicados com essas ratória ou metabólica, embora ocorra, também, com a
drogas, entretanto a resposta não é tão boa quan- administração exógena de glicose, insulina ou betaa-
to em pacientes com função renal normal. Paci- gonistas. Os verdadeiros déficits de potássio resultam
entes com insuficiência renal terminal não apre- de perdas gastrointestinais ou renais, raramente de per-

334
Distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico

das pelo suor. Pode-se prever o desenvolvimento de Renais


hipopotassemia na presença de perdas através de se- A hipopotassemia grave pode resultar em de-
creções do trato gastrointestinal. As causas renais mais clínio funcional do fluxo sanguíneo renal e da taxa de
comuns incluem terapêutica com diuréticos ou esta- filtração glomerular, que costuma ser reversível com a
dos de secreção excessiva de mineralocorticóide. reposição do potássio. Outra complicação grave da hipo-
Sinais sintomas potassemia é a mioglobinúria, que pode induzir à insufi-
ciência renal aguda. O defeito mais comum é a inca-
Como o potássio é o cátion mais abundante no pacidade de concentrar a urina ao máximo, ocorrendo
intracelular, é de se esperar que a hipopotassemia pro- poliúria. Ocorre, também, uma produção aumentada
duza distúrbios em múltiplos órgãos e sistemas Os prin- de amônia, o que explica porque pacientes hepatopa-
cipais sintomas decorrem de aberrações na polariza- tas, com cirrose, evoluem para coma hepático. Hipo-
ção das membranas que afetam a função dos tecidos potassemia também potencializa insuficiência renal
neural e muscular. Os sinais e sintomas não apare- aguda nefrotóxica (aminoglicosídeos, anfotericina B).
cem habitualmente, até que a deficiência seja signifi-
cativa. Endócrinas
Quando há hipopotassemia grave, a liberação
Cardíacos
da insulina pelo pâncreas é inibida, o que provoca uma
Alterações de condução cardíaca constituem tolerância anormal aos carboidratos nos pacientes
as anormalidades mais importantes. A alteração do hipopotassêmicos. Isso complica o tratamento do pa-
ECG, visualizada, é o achatamento das ondas “T” e ciente diabético e, em certas situações, estabelece-se
desenvolvimento de ondas “U” proeminentes, que um falso diagnóstico de diabetes mellitus.
podem dar a impressão de um intervalo QT prolonga-
do. Predispõem a batimentos ectópicos atriais e ven- Diagnóstico diferencial
triculares e o aspecto mais crítico é o aumento da sen- Pode ser útil, no diagnóstico diferencial, o qua-
sibilidade ao digital, levando a arritmias, potencialmente dro clínico, parâmetros laboratoriais, como valores
fatais, da intoxicação digitálica. A hipopotassemia re- gasométricos, determinações urinárias do potássio e
duz a eliminação da digoxina, aumentando seu nível cloreto, e, em alguns casos, a avaliação do sistema
sérico e aumentando a ligação da droga ao coração. renina–angiotensina–aldosterona, assim como a pre-
sença ou ausência de hipertensão arterial.
Hemodinâmicos
Foi constatado que a depleção de potássio au- Pseudo-hipopotassemia
menta a pressão arterial em voluntários humanos; por As amostras de sangue com alta contagem de
outro lado, a sobrecarga de potássio diminui a pressão leucócitos (> 105 /ml), conservadas à temperatura
arterial devido à natriurese. ambiente, sofrem uma redução na concentração de
potássio, devido a sua captação pelos leucócitos, que
Neuromusculares
pode ser evitada, se houver separação imediata do soro
Nos indivíduos com função cardiovascular nor- ou do plasma, ou armazenamento do sangue a 4º C.
mal, os sintomas de depleção de potássio não costu-
mam ser evidentes, até que o déficit ultrapasse 5% Hipopotassemia secundária a redistribuição
das reservas corporais totais (200 mEq), com níveis A questão que se impõe conhecer é se a alte-
séricos de potássio inferiores a 3,0 mEq/l. As disfun- ração é na distribuição ou um verdadeiro déficit. As
ções do trato gastrointestinal com hipopotassemia causas de redistribuição são as seguintes:
manifestam-se sob a forma de constipação ou íleo a) Alcalose: é a causa mais comum da redistribuição
paralítico. Nos músculos estriados, pode-se notar desde do íon. Está associada a grandes déficits, em torno
leve fraqueza até a paralisia franca, com paralisia res- de 200-500 mEq do íon, na alcalose metabólica,
piratória, ameaçando a vida do indivíduo, o que pode enquanto a alcalose respiratória induz pouco ou
ocorrer, quando concentrações séricas de potássio são nenhum déficit.
inferiores a 2,0 mEq/l. Ocorre, também, predisposi- b) Excesso de insulina: a elevação da insulina sérica
ção à rabdomiólise e à mioglobinúria, as quais podem estimula a captação do potássio pelas células mus-
levar à necrose tubular aguda. culares e hepáticas.

335
Vieira Neto OM & Moysés Neto M

c) Agonistas ß2-adrenérgicos: durante o uso desses 1) Síndromes hipertensivas


agentes ou no estresse, em que ocorre liberação • Síndromes de hiperreninemia: hipertensão re-
de catecolaminas, que é fenômeno agudo e transi- novascular, hipertensão maligna ou acelerada,
tório, pode ocorrer hipopotassemia, com duração tumores produtores de renina (hemangioperici-
de 60 a 90 min. Em pacientes susceptíveis, pode tomas pequenos, tumor de Wilms, adenocarni-
ocorrer predisposição a arritmias. noma renal). Dados clínicos laboratoriais e an-
d) Paralisia periódica hipocalêmica: distúrbio raro com giográficos estabelecem o diagnóstico.
transmissão autossômica dominante. Caracteriza- • Síndromes de hiporreninemia: essas síndromes
se por ataques recorrentes de paralisia flácida em ocorrem pela secreção autônoma de aldostero-
tronco e membros, com duração de 6 a 24 h. Os pa- na (adenomas), ou na hiperplasia da supra-re-
cientes com tireotoxicose parecem ser propen- nal. As síndromes podem, também, manifestar-
sos ao desenvolvimento dessa síndrome reversível. se devido a outros mineralocorticóides exógenos,
e) Intoxicação por bário: a ingestão de sais de bário, como o alcaçuz, que contém o ácido glicirrizínico,
solúveis em ácido, pode causar paralisia flácida que sensibiliza os rins aos efeitos deles, ou por es-
hipocalêmica, por impedir o fluxo normal de potás- teróides endógenos, como na Síndrome de
sio para fora das células,causando fraqueza mus- Cushing, na produção ectópica de hormônio adre-
cular. Essa paralisia é caracterizada por vômitos, nocorticotrópico, e, ainda, na secreção de deoxi-
diarréia e precipitação de sais de bário (radiopaco) corticosterona ou de corticosterona, nas síndro-
nos rins. mes de hiperplasia supra-renal congênita. Outros
f) Intoxicação por tolueno: causada pela inalação de distúrbios relacionados com a produção endóge-
cola e tintas em aerossóis. A hipopotassemia ocorre na de mineralocorticóides podem, também, levar a
pela acidose tubular renal distal e pela redistribui- hiporreninemia (ex: Síndrome de Liddle, que é
ção inadequada. uma patologia conseqüente à expressão aumen-
tada dos canais de sódio amiloridessensíveis).
Depleção de Potássio
a) Perdas extra-renais: as causas mais comuns con- 2)Distúrbios normotensivos
sistem na perda pelo trato gastrointestinal inferior, • Síndromes com hipobicarbonatemia: a acidose
tais como diarréia de grande volume, drenagem co- tubular renal distal e proximal, a cetoacidose di-
piosa de uma fístula, presença de adenoma viloso e abética, a terapêutica com acetazolamida, e a
abuso crônico de laxativos. A ingestão inadequada ureterossigmoidostomia são patologias nas quais
de potássio, isolada, representa causa pouco habi- ocorre perda renal do potássio, associada, tam-
tual de hipopotassemia, mas pode ser encontrada bém, com baixas concentrações séricas de bi-
na anorexia nervosa e no idoso com dieta restrita carbonato. A acidose tubular renal proximal apre-
de chá e torradas. A excreção urinária de potássio, senta acidose hiperclorêmica, urina ácida e per-
nessas duas situações, deve ser inferior a 20mEq/ da de outras substâncias, como ácido úrico, fos-
dia, mas a concentração urinária de potássio pode fato, glicose, aminoácidos, enquanto, na acidose
fornecer um valor falso devido à poliúria. Pode-se tubular distal, há acidose hiperclorêmica, inca-
utilizar a fração de excreção de potássio, fornecen- pacidade de acidificar a urina e cálculos.
do valores abaixo de 6% ou ainda a relação K • Síndromes com hiperbicarbonatemia: essas sín-
(mEq)/ Creatinina (g) menor do que 20, para uma dromes são estudadas de acordo com a excre-
avaliação rápida. Para uma boa avaliação, o paci- ção urinária de cloreto. A hiperbicarbonatemia
ente necessita estar euvolêmico e excretando mais e a excreção urinária aumentada de cloreto
de 100 mEq de sódio por dia, pois a queda da taxa (10mEq/dia) estão associados à exposição ex-
de filtração glomerular e o aumento da reabsorção cessiva a diuréticos espoliadores de K+, síndro-
proximal de sódio e água, em pacientes hipovolêmi- me de Bartter, síndrome de Gitelman e hipomag-
cos, reduzem a caliurese. nesemia. A exposição a diuréticos leva à caliurese
b) Perdas renais: excreção de mais de 20mEq/dia de sem alcalose, contudo, a excreção urinária de
potássio, acompanhada de hipopotassemia. A abor- cloreto é alta, apesar da contração de volume,
dagem é feita, subdividindo os distúrbios em síndro- que estimularia a conservação de cloreto de
mes hipertensivas e normotensivas. sódio. As síndromes de Bartter e de Gitelman

336
Distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico

são patologias raras, caracterizadas por normo- As preparações orais de cloreto de potássio podem
tensão, hiperaldosteronismo hiper-reninêmico, causar irritação gástrica e os comprimidos entéricos
resistência a agentes pressores e alcalose hipo- podem produzir ulcerações no intestino delgado.
calêmica, que resultam de defeito no cotrans- A via de administração pode ser tanto oral quan-
portador Na+/K+/2 Cl-, na alça de Henle e no to parenteral. Quando houver comprometimento da
cotransportador Na+/Cl- no túbulo distal, respec- função gastrointestinal, nível sérico de K+ abaixo de
tivamente. A hipomagnesemia causa perda re- 3,0 mEq/l, ou sinais e sintomas, a terapia parenteral
nal de potássio e de cloreto, que resiste à tera- deve ser preferida. A preparação mais usada é KCl
pêutica até haver reposição das reservas corpo- 19,1%, na qual, cada ml possui 2,5 mEq. A administra-
rais de magnésio. Além disso, a hipomagnese- ção endovenosa deve ser preparada em uma solução
mia leva à diminuição da secreção de PTH, o de soro fisiológico 0,9%, com concentração final de
que gera hipocalcemia. Por isso, a concomitância 40 a 60 mEq/l e infundida em 6 h, se for usada veia
de hipocalcemia sugere a pesquisa dos níveis periférica, pois concentrações maiores causam irrita-
séricos de magnésio. ção e esclerose da veia. Soluções mais concentradas
devem ser infundidas em veia central, e a velocidade
Tratamento de infusão não deve exceder 20 mEq/h, com dose diá-
ria máxima de 200 mEq. Em casos extremos, com hi-
O tratamento é voltado para correção do défi- popotassemia grave e risco iminente de parada cardía-
cit de potássio e da doença de base. Se a concentra- ca, podem ser infundidos até 100 mEq/h, com monito-
ção sérica cair abaixo de 3,0 mEq/l ou se aparecerem rização eletrocardiográfica. É descrita, também, infu-
os sintomas, a terapêutica é recomendada. Aos paci- são endovenosa, em 1 a 2 min de quantidades de KCl,
entes em uso de glicosídeos cardíacos ou pacientes suficientes para elevar a potassemia até o nível dese-
idosos, sem cardiopatia manifesta, recomenda-se man- jado, em casos gravíssimos. Por exemplo, em pacien-
ter a normopotassemia. Em pacientes que fazem uso te adulto de 70 Kg, com K+=1,0mEq/l, levando-se em
de diuréticos para tratamento de edema (ICC, síndro- conta que possui volemia em torno de 5000ml e volu-
me nefrótica e hepatopatias) é aconselhável a suple- me plasmático de 3000ml, se o desejado é elevar a
mentação oral, ou o uso de diuréticos poupadores de potassemia para 3,0 mEq/l, infunde-se 6,0 mEq de KCl
potássio (espironolactoma, amilorida ou triantereno). em 1 a 2 min, com monitorização eletrocardiográfica.

VIEIRA NETO OM & MOYSÉS NETO M. Fluid and electrolyte disorders. Medicina, Ribeirão Preto 36:
325-337, apr./dec. 2003.

ABSTRACT - Sodium and potassium are the main extracellular and intracellular space
electrolytes respectively. The disorders related to these electrolytes are frequent and may be
caused by several clinical conditions. The physiopathology and severity of the changes determine
the treatment to be instituted.

UNITERMS - Sodium. Potassium. Hyponatremia. Hypernatremia. Hypokalemia. Hyperkalemia.

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