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||-- UMBANDA - RELIGIÃO BRASILEIRA --||

“A palavra Umbanda, inteiramente desconhecida do vernáculo português, foi pronunciada pela


primeira vez em 16 de novembro de 1908, por um jovem de 17 anos, mediunizado por uma
entidade astral que a si própria deu o nome de Caboclo das Sete Encruzilhadas.”
O referido moço padecia de uma prolongada paralisia que o mantinha preso ao leito, o que
significava enorme sofrimento não só para si mas também para os seus familiares, amigos e
conhecidos. Pertencia a tradicional família da região, formação católica, com dois sacerdotes que
aflitos oravam pelo sobrinho, embora nada pudessem explicar acerca da grave enfermidade.
Residia na Estrada da Covanca, hoje Rua Floriano Peixoto, 30, no bairro de Neves, distrito de São
Gonçalo - RJ. Era Presidente da República o Dr. Afonso Pena. Esgotados os recursos da medicina,
recorreram então, às mezinhas, xaropes, rezas, passes, emplastos, simpatias, etc. Tudo era válido
para a cura do adolescente vitimado pela inexplicável cessação dos movimentos musculares. No dia
13, para espanto de todos que estavam à cabeceira do inválido, viram-no resoluto, sentar-se e dizer
na terceira pessoa: “Amanhã ele estará curado”. Deitou-se novamente prostrado.
No dia seguinte, o insólito aviso foi cumprido. Zélio Fernandino de Morais estava de pé,
movimentando-se normalmente. O milagre acontecera através de estranha intervenção
sobrenatural. Sem explicações plausíveis, a família atendeu à sugestão de um amigo que se ofereceu
para acompanhar o jovem Zélio à Federação Espírita de Niterói, cujo presidente, na época, era o
Sr. José de Souza. O raro acontecimento ganhara as ruas e, no dizer popular, “era coisa de espírito
de outro mundo”. Realizou-se, então uma sessão inédita para os anais do espiritismo e seguidores
de Kardec no Brasil. À volta de uma extensa mesa retangular, os médiuns - todos espíritas - foram
tomados por almas desencarnadas que diziam ser de índios e de negros escravos. O rude linguajar e
posturas corporais não os desmentiam. O dirigente da reunião logo os advertiu para que se
retirassem do recinto.
Zélio de Morais que, antes, impulsionado por força estranha, tinha colhido no jardim da Federação
flores para o centro da mesa (na época não era admitido nenhum adorno) mais uma vez, sem
domínio consciente da própria voz, indagou em tom decidido o porquê da não aceitação das
mensagens da gente negra e indígena e o porquê de serem eles considerados atrasados apenas pela
cor e pela classe social que declinavam...
A observação de Zélio de Morais, já completamente mediunizado suscitou breve tumulto na
Instituição Espírita. Um médium solicitou, com todo o respeito, que a entidade manifestada no
moço se identificasse:
-“Se querem um nome, que seja este: Sou o Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá
caminhos fechados para mim”.
Indagado por um vidente da Casa sobre o que desejava, declarou que trazia a missão do Plano
Astral de estabelecer um culto que simbolizasse a verdadeira igualdade que deve existir entre
encarnados e desencarnados. Sendo almas de origem humilde, não letradas, estavam
emocionalmente prontas para ajudar, na via prática, com severidade, paciência e bondade todos os
encarnados que a eles recorressem.
Sentindo a insensibilidade, o preconceito, a inflexibilidade dos praticantes de uma doutrina
codificada, intelectualizada, européia (hoje bastante modificada), a Entidade declarou que na noite
seguinte, estaria na residência do médium para fundar o 1º templo. Asseverou:
-“Levarei daqui uma semente para plantá-la no bairro de Neves, onde ela se transformará em
árvore frondosa”.
Na noite de 16 de novembro, em Neves, a Entidade se manifestou pontualmente. Ante a pergunta
sobre o nome do culto, respondeu: -“UMBANDA”.
Instado a dizer o que significava aquela palavra, afirmou sem titubeio:
-“Umbanda é a manifestação do Espírito para a Caridade”.
O novo culto não permitia sacrifício de animais. Apenas, cânticos, oferendas com flores, folhas,
frutos, raízes, etc. Era preciso, mais do que nunca, dissociar, separar terminantemente o novo culto
das famosas “macumbas” do Rio de Janeiro, que eram uma mistura de catolicismo, fetichismo
negro, crenças místicas, sem nenhuma base religiosa, que se multiplicavam assustadoramente. O
“trabalho feito” havia passado à ordem do dia, dando motivo a outro trabalho de desmanche para
destruir os efeitos maléficos. Generalizam-se os “despachos”, visando a obter favores para
prejudicar terceiros. Aves e animais eram mortos com as mais diversas finalidades; exigiam-se
objetos de valor para homenagear pseudas- entidades ou satisfazer almas do baixo astral. O
objetivo primordial era aumentar a renda do feiticeiro ou “derrubar” - termo muito em voga na
época - os que não se curvassem ante seus poderes ou pretendessem fazer-lhes concorrência...
Enquanto isso, ocorriam milhares e milhares de curas através da mediunidade extraordinária de
Zélio de Morais com o Caboclo das Sete Encruzilhadas e de outras entidades manifestadas também
em médiuns, todos vestidos de branco, atraídos pelo novo movimento religioso.
Zélio de Morais desencarnou em outubro de 1975, aos 83 anos de idade. Dedicara 66 anos de sua
existência ao culto da Umbanda...”
SÉRGIO SANTOS D’OXÓSSI
SALVE NOSSO PAI OXALÁ

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