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ISCTE

Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa

DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA

Mestrado em Administração e Políticas Públicas

TRABALHO FINAL DE SEMESTRE

UNIDADE CURRICULAR
Políticas Europeias e Administração Nacional

TÍTULO
UNIÃO EUROPEIA
Que passado e que futuro?

ALUNO
N.º 8589
António Manuel de Albuquerque Pereira

DOCENTE
Dr. Pedro Quartin Graça

ANO LECTIVO - 2008/09

1.º Ano/1.º Semestre


UNIÃO EUROPEIA Que passado e que futuro?

ÍNDICE

Abreviaturas e Siglas Usadas ................................................................................................................ 2


Introdução.............................................................................................................................................. 3
A Concepção Europeia - Fases Históricas............................................................................................. 4
Projectos Integracionistas Pós Primeira Guerra .................................................................................... 6
Fim da Segunda Guerra – Rumo à Integração Europeia ....................................................................... 7
União Europeia: Uma Confederação? ................................................................................................... 9
A Natureza Jurídica da CE e da UE .................................................................................................... 12

O Processo Van Gend & Loos ................................................................................................... 12

O Processo Costa/ENEL ............................................................................................................ 12

A Natureza Jurídica da UE ......................................................................................................... 14

Distinção em relação a outras Formas de Organização Política................................................. 14


Os Tratados e a sua Importância ......................................................................................................... 16

Tratado de Paris.......................................................................................................................... 16

Tratado de Roma ........................................................................................................................ 16

Tratado de Fusão ........................................................................................................................ 16

Acto Único Europeu (AUE) ....................................................................................................... 16

Tratado de Maastricht ou da União Europeia............................................................................. 16


As Grandes Inovações de Maastricht ..................................................................................... 17

Tratado de Amesterdão .............................................................................................................. 17

Tratado de Nice .......................................................................................................................... 17

Tratado de Lisboa ....................................................................................................................... 17


Conclusão ............................................................................................................................................ 19
Biografias ............................................................................................................................................ 22

Luís Manuel da Silva Viana de Sá ............................................................................................ 22

Jacques Lucien Jean Delors ....................................................................................................... 22


Bibliografia Geral ................................................................................................................................ 24

Referências Bibliográficas e Bibliografia Citada ....................................................................... 24

Outros Documentos Citados....................................................................................................... 24

Sítios de Apoio Online ............................................................................................................... 25

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UNIÃO EUROPEIA Que passado e que futuro?

ABREVIATURAS E SIGLAS USADAS

CE - Comunidade Europeia.
CECA - Comunidade Europeia do Carvão e do Aço.
CEE - Comunidade Económica Europeia.
Cf. - Confrontar.
EUA - Estados Unidos da América.
Euratom - Comunidade Europeia da Energia Atómica.
Ex. - Exemplo.
ob. cit. - Obra citada.
OECE - Organização Europeia de Cooperação Económica.
p. - Página.
PCPJMP - Politica de Cooperação Policial Judiciária em Matéria Penal.
PESC - Politica Externa de Segurança Comum.
PJAI - Politica de Justiça e Assuntos Internos.
PNB - Produto Nacional Bruto.
pp. - Páginas.
séc. - Século.
ss. - Seguintes.
TJCE - Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias.
TUE - Tratado da União Europeia.
UE - União Europeia.
UEM - União Económica Monetária.
UEO - União da Europa Ocidental.
UP - União Politica.
URSS - União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

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UNIÃO EUROPEIA Que passado e que futuro?

INTRODUÇÃO

A ideia de uma só Europa, de identidade europeia, que pressupõe os “Laços de Pertença”1,


próprios de uma comunidade e que conjugam um conjunto de pessoas que se perspectivam em
dimensões Culturais, Politicas, Económicas, não é dos nossos dias.
Estes foram os primeiros conceitos de unidade dos povos, de valores e espaço comum, e que hoje
pressupõem que se caminhe para “Laços de Pertença”, sempre seguidos pela ideia de Direitos de
Liberdade consentidos.
“Mais do que uma simples divisão geográfica do mundo, o continente europeu é uma realidade
humana, cultural e politica com uma identidade própria. Esta identidade resultou de um longo
percurso histórico, em que os factos de unidade nem sempre foram mais fortes que os factores de
desunião.”2

É uma ideia que vem desde o tempo da antiguidade clássica: Roma e Grécia antiga.
Tendo em conta o pensamento na antiguidade clássica, o conceito de união congrega já o espaço
geográfico. Unidade geográfica de um Estado a outro Estado. A identidade só é vista nesta época ao
nível geográfico (com várias raças, povos, línguas, etc.).
Neste trabalho a decisão passou por, primeiro, abordar a Europa em termos históricos, e depois
ressalvar alguns dos aspectos, factos, momentos mais relevantes até ao momento actual.
Durante este percurso, e antes de chegar ao modelo da integração, é importante perceber a inter-
relação dos Estados-membros, onde os Direitos Fundamentais, Económicos, Sociais e Culturais,
foram e continuam a ser factores de superior importância e relevância para a tomada de qualquer
decisão. São exemplos disso a Carta Social Europeia e a cooperação sobre os Direitos Fundamentais,
com a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia.
Falar da Europa não é propriamente uma tarefa difícil, particularmente quando temos ao nosso
dispor uma quantidade imensa de ferramentas que nos possibilitam abordar este tema de forma
tranquila e, acredite-se, que o podemos fazer sem medos.
No entanto, não será assim tão fácil quando se pretende fazê-lo de modo diferente daquele que
outros já o fizeram. Definitivamente, nessa perspectiva, não é fácil.

1
Para ver mais sobre este tema Cf. “2. O Estado, a nação, a comunidade: o poder e os «laços de pertença», in Sá, Luís
(1997), A Crise das Fronteiras, Lisboa, Cosmos, pp.86 a 113.
2
Almeida, Rui Lourenço Amaral de (2005), Portugal e a Europa – Ideias, Factos, Desafios, Lisboa, Sílabo, p. 21.

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A CONCEPÇÃO EUROPEIA - FASES HISTÓRICAS

“Reza” a história que foi Hesíodo3, no século VIII a.C., quem numa das suas obras, Teogonia, o
livro que narra o nascimento dos deuses gregos, empregou pela primeira vez o termo Europa.4 Foram
seus seguidores Hipócrates5, distinguindo a Europa da Ásia, Heródoto6, Sócrates7, Aristóteles8 e
Platão9.
Atentos aos nomes focados e tendo em conta as suas origens, facilmente se percebe que foram os
gregos na antiguidade que criaram um conceito geográfico da Europa. Relatando-o como sendo um
espaço extenso mas ainda insuficientemente delimitado nos seus contornos. No entanto, era
anunciado como indo do Atlântico aos Urais10 e abrangendo diferentes povos e raças, com
dissemelhantes línguas e culturas. Factos de diversa ordem, nomeadamente de essência climática,
acarretaram numerosos povos a mudar de local, e, inclusive, cedo levaram a permutações entre povos
distintos, até à Ásia. Logo, o original pressentimento de uniformidade à volta da Europa foi o dessa
unidade geográfica.
Segundo alguns autores, incluindo Fausto Quadros (2004), a Bíblia, nos capítulos 9 e 10 do livro
dos Génesis, tem possibilitado a alguns historiógrafos uma ideia distinta daquela que muitas vezes é
falada como tendo sido através da mitologia que foi difundida a palavra Europa. “De facto, segundo
a lenda, uma jovem e bonita fenícia, filha de Ajenor (Rei de Tiro e de Fenícia e descendente de
Neptuno e Teléfasa), foi raptada por Zeus, tendo-se transformado num grande touro branco e
conduzida a Creta, onde se converteu em Rainha e Mãe da Dinastia de Minos.” 11
No entanto, apenas no capítulo 10 do livro dos Géneses, de A Bíblia de Jerusalém (1985), se
encontrou, quanto aos descendentes dos três filhos de Noé (Sem, Cam e Jafé), uma referência que,

3
Poeta grego nascido na Beócia por volta de 778 a.C., considerado o criador da poesia didáctica. Hesíodo, in Infopédia,
Porto, Porto Editora, 2003-2009. Fonte: http://www.infopedia.pt/$hesiodo.
4
Cf. Almeida, Rui Lourenço Amaral de (2005), in ob. cit., p. 25.
5
Sabe-se muito pouco sobre a verdadeira vida de Hipócrates. Segundo dados dispersos por algumas obras de Platão e de
outros autores, Hipócrates terá nascido na ilha grega de Cós em 460 a.C. e morrido em Larisa, Grécia, em 377 a.C.
Hipócrates, in Infopédia, Porto, Porto Editora, 2003-2009. Fonte: http://www.infopedia.pt/$hipocrates.
6
Hérodoto, denominado «o pai da História», nasceu em Halicarnasso de Acria em 484 a.C. e morreu em Túrias ou em
Atenas em 425 a.C. Na primeira parte da sua vida ocupou-se da política. A partir de 455 a.C. começou a viajar pela Ásia,
pela África e pela Europa. No decurso das suas viagens, conversações e leituras, não cessou de recolher materiais para toda
a grande obra que lhe ocupou toda a existência: Histórias. Cf. Heródito (2007), Histórias, Colecção «Clássicos gregos e
Latinos», Histórias - Livro IV, Lisboa, Edições 70.
7
Nasceu em Atenas cerca de 470 a.C. e foi considerado, segundo alguns historiadores, como o responsável pela
transição para um novo período da filosofia grega, que se caracteriza pelo abandono das preocupações cosmológicas em
favor de uma temática predominantemente antropológica. Sócrates, in Infopédia, Porto, Porto Editora, 2003-2009. Fonte:
http://www.infopedia.pt/$socrates.
8
Nasceu a 384 a.C. em Estagira. Aos 17 anos frequenta a Academia de Platão, em Atenas, cidade onde morreu em 347
a.C. na ilha Eugeia, aos 62 anos. Fonte: http://www.vidaslusofonas.pt/aristoteles.htm.
9
Nasceu em Atenas, ou na ilha de Egina, em Maio/Junho do primeiro ano da 88.ª Olimpíada, ou seja, cerca de 428/427
a.C. Fonte: http://afilosofia.no.sapo.pt/PLATAO.htm.
10
Os Montes Urais (em russo, Монтес Уpайс) politicamente denominados de Distrito Federal dos Urais são um vasto
complexo de montanhas, montes, vales, rios, picos e formações geológicas. A região recebeu esse nome em virtude do povo
que habitava a região, os uralians: Caçadores e assaltantes de desfiladeiros que em turco significam Desliza-Pedras. É uma
das cordilheiras mais antigas do mundo situada na Rússia que, convencionalmente, separa a Europa da Ásia. Fonte:
http://desciclo.pedia.ws/wiki/Montes_Urais.
11
Quadros, Fausto (2004), Direito da União Europeia, Coimbra, Almedina, p. 31.

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UNIÃO EUROPEIA Que passado e que futuro?

por exclusão de partes, pode levar à percepção de que geograficamente já era possível, nessa altura,
existir uma divisão territorial.12
De acordo com Fausto Quadros (2004), Carlos Magno13 foi o primeiro chefe político a interpretar
a unidade da Europa na perspectiva de que ela se identifica, na idade média, com a cristandade. Daí
que se haja associado a “Europa Cristã” como sendo a “Respublica Chistiana”, surgida como o
princípio do Direito Internacional. Para o autor “nesta construção” é determinante o contributo dos
Doutores da Igreja, destacando-se, nesse contexto, São Tomás de Aquino.
Na viragem dos períodos da idade média para o renascimento a Europa divide-se nos planos
político, religioso e económico. Registam-se, perante esse movimento, os insucessos do Projecto
para uma Paz perpétua de Jean Jacques Rousseau, de 1760, do Plano para uma “Paz perpétua” de
Emanuel Kant14, de 1795, assim como do Plano para uma “Paz Universal e Perpétua” de Jeremias
Bentham, de 1843. No sentido de prevenir os incómodos de tal conjuntura, a Inglaterra veio defender
as litigâncias que fossem acontecendo na Europa.
No rescaldo do Congresso de Viena15, as cincos potências da época - Inglaterra, França, Áustria,
Prússia e a Rússia - às quais se juntou a Turquia, criam o “concerto europeu”16, como herdeiro da
Santa Aliança17. Dele resultou a cisão, por um lado, da Inglaterra, França e Rússia e, por outro lado,
da Alemanha e do império Austro-Húngaro.
É no balanço final da Primeira Guerra (1914/1918) que os europeus adquirem percepção da sua
debilidade e dos riscos da sua divisão. Assim, pela primeira vez aparecem propostas de união dos
Estados da Europa. Variados documentos políticos sustentam a formação, como “condição para a
paz na Europa, de uma “Nação europeia” e do “federalismo europeu”, sem que, todavia, estas
nações apresentem grande rigor jurídico”.18

12
Cf. Livro dos Génesis, GN 10,1 (O povoamento da terra), in A Bíblia de Jerusalém (1985), 4ª impressão, São Paulo,
Paulinas, p. 44.
13
Carlos Magno (768-814) foi imperador romano desde 800, uma experiência que durou cerca de quarenta anos, até ao
Tratado de Verdun de 843. Fonte: http://www.vidaslusofonas.pt/carlos_magno.htm
14
Neste plano para uma “Paz perpétua”, Kant, “sustenta que a paz internacional requer a forma republicana de
governo, uma vez que em monarquia há uma separação entre o detentor do poder e o povo: o senhor do poder faz a
guerra, mas não sofre com ela”. Cf. Miranda, Jorge (2002), Curso de Direito Internacional Público, Cascais, Principia,
nota de rodapé n.º 6, p. 13.
15
Reunião ocorrida em Viena, de Setembro de 1814 a Junho de 1815, entre as potências europeias no rescaldo do fim do
império napoleónico (Cf. Congresso de Viena, in Infopédia, Porto, Porto Editora, 2003-2009. Fonte:
http://www.infopedia.pt/$congresso-de-viena, que determina o sucesso (breve) dos reis como a percepção da precisão de
fortificar a estabilidade, o concerto europeu, através de conferencias diplomáticas. Sobre esta última parte Cf. Miranda,
Jorge (2002), in ob. cit., p. 13.
16
Formulado em 1815 como um mecanismo para fazer cumprir as decisões do Congresso de Viena. As suas principais
prioridades foram estabelecer um equilíbrio de poder, assim como preservar o status quo territorial, e para proteger a
legitimidade dos governos. Chefiada pelo príncipe Metternich da Áustria, o Concerto da Europa, foi uma das primeiras
tentativas sérias nos tempos modernos, para criar uma sociedade internacional para a manutenção da paz. Isto transformou-
o num evento significativo na história da humanidade, mesmo tendo durado apenas algumas décadas. Fonte:
http://www.cusd.chico.k12.ca.us/~bsilva/projects/concert/concessy.html
17
Acaba por ser vista como a manifestação momentânea do sucesso do Congresso de Viena. No entanto, esse sucesso
não foi capaz de evitar na América as independências das colónias da Espanha e do Brasil e na Europa da Bélgica, nem
consecutivas revoluções liberais e os movimentos que levaram à unificação italiana e alemã. Cf. Miranda, Jorge (2002), in
ob. cit., p. 14.
18
Quadros, Fausto (2004), in ob. cit., p. 32.

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UNIÃO EUROPEIA Que passado e que futuro?

PROJECTOS INTEGRACIONISTAS PÓS PRIMEIRA GUERRA

Muitos autores fazem referência a Aristide Briand como o responsável pelo segundo grande
impulso europeísta. Briand, Presidente do Conselho francês, apresenta uma proposta formal, em 7 de
Setembro de 1929, na Sociedade das Nações19, com a pretensão de estabelecer um género de união
federal entre os povos da Europa. Esta ideia tem uma manifesta influência norte-americana, mas
veio, segundo a crítica20, em má altura. De facto, em 1929, nos Estados Unidos teve inicio uma
depressão que acabou por “contaminar” a Europa e que durou cerca de três anos, terminando em
1932.
No entanto, os caminhos para os nacionalismos, nos piores aspectos, sobretudo na Alemanha e
Itália, permaneceram abertos, o que acabaria por levar à Segunda Grande Guerra. Daí que “os
esforços de grandes pensadores como Paul Valéry, Ortega Y Gasset e Miguel de Unamuno, no
sentido de injectarem uma componente humanista social nos esforços de união na Europa, não
tiveram seguimento.”21
O memorando de Briand, segundo Adelino Maltez (1998), “era modesto, visando apenas a
criação de uma agência federal da Sociedade das Nações com o objectivo de se estabelecer através
de uma série de acordos económicos, um mercado comum entre os diversos povos europeus. Mas,
contrariamente ao discurso de Setembro, já se encarava a questão de forma política, ou, melhor
dizendo, acentuando a vertente intergovernamental de cooperação política.”22
Vários momentos e factos se seguiram. A 11 de Setembro de 1930, aparece um livro branco que
agregava o memorando e as respostas dos vários governos europeus. Todas as respostas eram
superficialmente favoráveis, excepto a britânica. Briand apresentou uma moção à assembleia-geral da
Sociedade das Nações, porém, a situação internacional alterou-se bastante devido, particularmente, à
morte do Chefe do Governo alemão, Gustav Streseman, à vitória eleitoral dos nazis e à quebra da
Bolsa de Nova Iorque.
Embora muito tenha sido o esforço feito, apenas foi possível criar uma Comissão de Estudos para
a União Europeia, em 16 de Setembro, incumbida de organizar um relatório mais completo. Mas,
após a morte de Briand, em 1932, este grupo de trabalho dissolveu-se.
Mesmo apesar do fracasso, a ideia de Europa acabaria por entrar nos domínios da política.

19
Criada em anexo ao Tratado de Versalhes de 1919. Trata-se da primeira organização internacional de carácter político.
Cf. Miranda, Jorge (2002), in ob. cit., p. 14.
20
Para ver um dos exemplos críticos Cf. Quadros, Fausto (2004), in ob. cit., p. 33.
21
Quadros, Fausto (2004), in ob. cit., p. 34.
22
Maltez, José Adelino (1998), “Teoria das relações internacionais - Aristide Briand”, Lisboa, Instituto Superior de
Ciências Sociais e Políticas, in http://www.iscsp.utl.pt/cepp/teoria_das_relacoes_internacionais/aristide_briand.htm.

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FIM DA SEGUNDA GUERRA – RUMO À INTEGRAÇÃO EUROPEIA

O pós Segunda Guerra Mundial (1946-1950) é um momento importante para a preparação daquilo
que, após 1950, foi o modelo de integração comunitária.
A fragilidade vem ainda mais ao de cima. As necessidades básicas como a alimentação ou a
habitação ficam em causa e socialmente há uma devastação absoluta.
Politicamente a questão é ainda mais complicada, já que deu origem ao surgimento de duas
grandes potências mundiais (Estados Unidos da América (EUA) e a União Revolucionária dos
Socialistas Soviéticos (URSS)) restando, apenas, os pequenos países, ainda que aliados, e a
Alemanha vencida. Mesmo assim houve um poderio militar que tentou absorver os pequenos países.
Daí emerge a Guerra-fria e o Muro de Berlim. Os países europeus percebem que têm que fazer algo
em comum, surge então o conceito de Europa Unida.
O discurso do Primeiro-ministro inglês, Winston Churchill, 19 de Setembro de 1946, na
Universidade de Zurique, foi fundamental e passou pela reconciliação Franco-alemã, como única via
para ultrapassar as hostilidades do pós-guerra.23
A apresentação do Plano Marshall, conhecido oficialmente como Programa de Recuperação
Europeia, foi o principal plano dos EUA para a reconstrução da Europa nos anos seguintes à Segunda
Guerra Mundial, apresentado pelo Secretário de Estado dos EUA, George Marshall.
O principal objectivo do Plano Marshall era fortalecer a Europa Ocidental, do bloco capitalista,
de influência norte-americana, contra a influência comunista, da URSS, ou um possível ataque desta
na Europa Ocidental. Com este plano a Rússia e os países de Leste afastaram-se dando lugar à URSS.
Entre 1948 e 1951, os EUA haviam contribuído com mais de 13 biliões de dólares (cerca 100
biliões, em valores actuais) para a recuperação de 16 países diferentes, todos no plano de influência
americana.
Também, como consequência do pós-guerra, nasce o Muro de Berlim, dividindo a Alemanha
Federal da Alemanha de Leste, ou seja, metade ficou para a Europa e a outra para a União Soviética.
Isto quer dizer que toda a evolução que se deu, que culminou com a criação da CEE, foi apenas na
Europa Ocidental.
Em 1948 celebram-se os acordos de Benelux (Bélgica, França, Luxemburgo, Países Baixos
(Holanda) e Reino Unido) para a criação de uma Pauta Aduaneira Comum. Nasce a Organização
Europeia de Cooperação Económica (OECE) para gerir o Plano Marshall e uma outra organização
de cooperação político-militar, a União da Europa Ocidental (UEO), cujo Tratado que a instituiu
previu a intervenção mútua entre os Estados Benelux, mas só em casos de agressão.
Ainda em 1948 tem lugar o Congresso de Haia presidido por Winston Churchill e outros
dirigentes políticos, nomeadamente Jean Monnet, Ministro dos Negócios Estrangeiros Francês.

23
Cf. Quadros, Fausto (2004), in ob. cit., p. 34.

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Jean Monnet24 foi um político visto por muitos como o arquitecto da unidade europeia. Nunca foi
eleito para cargos públicos, tendo actuado nos bastidores de governos europeus e americanos como
um internacionalista pragmático bem relacionado, e criou o movimento europeu que consolidou a
proposta de criação dos Estados Unidos da Europa com forte influência do sistema federal norte-
americano. É este movimento europeu que é o motor de arranque do nascimento do modelo de
integração europeia.

24
Jean Omer Marie Gabriel Monnet, nasceu em Cognac a 9 de Novembro de 1888 e faleceu em Houjarray a 16 de
Março de 1979. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Monnet.

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UNIÃO EUROPEIA: UMA CONFEDERAÇÃO?

Salazar não se mostrou um admirador da edificação europeia, encarando a Europa como um


continente esgotado e sem margem de manobra face às duas superpotências, EUA e URSS. Para
Salazar “A nossa feição atlântica impõem-nos (...) limites à colaboração europeia, quando esta
colaboração revista formas de destruição daquilo que somos, e integração naquilo que não
queremos ser.”25
Salazar sustentava que a Europa só teria mestria de se afirmar enquanto se prosseguisse em
África, servindo-se aos seus territórios, neste continente, como que a reservatórios de riqueza. Esta
exegese funda a base do engano euro-africano que encerrará por comandar a totalidade da política
externa do Estado Novo, mesmo para além de Salazar.
“A África e a Europa estão naturalmente destinadas a ser continentes complementares. A África
milenarmente adormecida, precisou e precisa da iniciativa e da tecnologia europeias. A Europa
carece, como pão para a boca, das matérias primas e da energia natural existentes em África.
Simplesmente, se a Europa não for capaz de permanecer ligada a África, outros poderes se
apressarão a ocupar o lugar vago.”26

Oliveira Martins é referenciado como um maior defensor do iberismo do que de uma união da
Europa. Aliás, ele considera que seria uma forma dignificadora de o nosso país sair do isolamento em
relação à Europa, mantendo as soberanias e as independências, se passasse a existir o iberismo, isto é,
uma relação mais forte entre Portugal e a Espanha na agremiação destes dois países para uma mais
fraterna península ibérica.27
Luís Sá (1997) refere que Marcello Caetano entendeu que, a ter lugar, uma situação como agora
vivemos ela teria a natureza de uma confederação.28
As Confederações caracterizam-se por serem uma das formas de associação de Estados que
normalmente não dão origem a um novo Estado. É certo que a confederação implica a supressão das
barreiras aduaneiras.
O estatuto da confederação resulta de um tratado que não pode ser modificado sem o acordo
unânime das partes. Como exemplo temos a confederação que precedeu os EUA que nos mostra
quando há evolução de confederação para federação. Acresce que na confederação é livre o direito de
cessação (característica da guerra Norte/Sul nos EUA).
Na União Europeia a cooperação é mais profunda do que na confederação e não tende para a
desintegração. Também se levanta doutrina que afirma que a União Europeia é uma organização
supranacional ou supra estadual. Supranacional implica que nem é Estado nem organização

25
Além fronteiras (2003), “Thomaz e Caetano: Duas visões Da Política”, CIARI – Centro de Investigação e Análise em
Relações Internacionais, p. 10. Fonte: http://www.ciari.org/documentos/thomaz_e_caetano.pdf.
26
Além fronteiras (2003), Marcello Caetano, “Conferência anual da Acção Nacional Popular”, 16 de Fevereiro 1974, in
ob. cit., p. 18.
27
Cf. Almeida, Rui Lourenço Amaral de (2005), in ob. cit., pp. 220 a 221.
28
Cf. Sá, Luís (1997), in ob. cit., p. 208.

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internacional, logo, seria mais correcto falar em supra estadualidade, já que, as relações que a UE
estabelece são com os Estados. Todavia, também se afirma que as normas comunitárias prevalecem
sobre as normas estaduais, mesmo que posteriores, são directamente aplicáveis o que não implica
uma relação de hierarquia ou superintendência (aqui entramos no Direito Administrativo, delegação
de poderes).
A transferência de poderes, dos Estados para a UE também tem, segundo a doutrina, uma natureza
de delegação de poderes (e não de uma irreversível transmissão de poderes).
A UE é uma associação que exerce, essencialmente, poderes que os Estados lhe atribuem e não
está hierarquicamente acima dos Estados ou para além dos Estados.
Também a teoria dos poderes implícitos só significa que a UE está delimitada nos seus objectivos
por tudo o que lhe é fixado pelos Estados no uso dos seus poderes soberanos, assim como a teoria
funcionalista admite que a função da UE é estritamente administrativa, embora a nossa escola assim
não o entenda, na medida em que os propósitos políticos da integração europeia já são claros desde a
CECA.
Vítor Hugo já preconizou em 1851 a criação de uns Estados Unidos da Europa a que Churchill
acolheu em 1946.
Contudo, a proximidade de um conceito federalista é notório bastando para tanto pensar nalguns
artigos da debatida constituição europeia.
Importa falar das normas programáticas (artigos programáticos). E o que são normas
programáticas? São normas de qualquer constituição, de qualquer país, que carecem de outros
instrumentos jurídicos para lhes dar visibilidade. Não basta na constituição dizer que todos têm
direito ao trabalho para que possamos chegar a um lado qualquer e exigir trabalho porque na
constituição vem expresso. Portanto, são normas de direito ao trabalho que depois se transferem para
o direito social e a partir daí é que se vê a ideia da função social de emprego.
A UE depende das competências que lhe são atribuídas pelos Estados membros e não as pode
alargar contra a vontade desses Estados. Contudo, o Estado Federal absorve a soberania dos Estados
federados, os quais perdem para o Estado Federal os seus poderes, existindo um poder unificado, um
Chefe de Estado, uma politica externa – conduzida pelo Estado Federal.
Exemplo: Finanças Públicas

- Presidente Reagon com a política do Tax Cut (corte de impostos). O défice do Estado Federal é a
soma dos défices dos Estados federados.

Quando os americanos decidiram ir para o Vietname, é obvio que, nenhum Estado federado disse
não, pois o poder está no Estado Federal.
A violação das normas comunitárias, pelos Estados, dá origem à inaplicabilidade e à ineficácia
das normas em causa. Enquanto o primado do Direito Federal dá origem à nulidade das normas dos
Estados federados (Défice do Estado Federal).

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Não desligado do federalismo, mas antes, inteiramente conexo, anda o princípio da


subsidiariedade, que afirma que as atribuições devem ser exercidas pelo centro mais próximo das
populações e só devem ser transferidas para centros mais distantes caso aí não possam ser exercidas.
Para António Covas (2007), é no domínio das competências partilhadas, as mais abundantes, que
este considera como um resultado evidente, que, tanto o princípio da subsidiariedade, como o
princípio da proporcionalidade, se aplicam, pois os mesmos são princípios da regulação e divisão do
trabalho entre instituições e Estados-membros. Isto porque “Enquanto a delimitação de competências
é baseada no princípio da atribuição, o exercício de competências rege-se pelos princípios da
subsidiariedade e proporcionalidade.”29
O princípio da subsidiariedade assenta no pensamento aristotélico monista que, por sua vez,
assentou na doutrina social da igreja, sendo que tal como é concebido foi redigida pelo Papa João
Paulo II em Centesimus Annus30 e totalmente recolhido dentro da União Europeia.

29
Covas, António (2007), A Governança Europeia: a política europeia no limiar de uma nova revisão dos tratados,
Lisboa, Colibri, p. 147.
30
O texto latino da Centesimus Annus (CA) encontra-se na AAS 83 (1991), p. 793-867. In Caminhos da Justiça e da Paz
(1993), Doutrina Social da Igreja: documentos de 1891 a 1991, 3ª ed., Lisboa, Rei dos livros, pp. 653 e 654.

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UNIÃO EUROPEIA Que passado e que futuro?

A NATUREZA JURÍDICA DA CE E DA UE

Determinar a natureza jurídica significa classificar juridicamente, em termos gerais, uma


organização com base nas respectivas características.
A natureza jurídica da CE assenta em dois acórdãos fundamentais do Tribunal da Justiça das
Comunidades Europeias (TJCE) de 1963 e 1964.

O Processo Van Gend & Loos


Neste processo, a empresa de transporte neerlandesa Van Gend & Loos intentara uma acção num
tribunal dos Países Baixos contra a administração aduaneira neerlandesa, por esta ter cobrado direitos
aduaneiros majorados à importação de um produto químico proveniente da República Federal da
Alemanha. A empresa considerava haver uma violação do artigo 12.º do Tratado CEE (actual artigo
25.º do Tratado CE) que proíbe os direitos aduaneiros de importação e de exportação entre os
Estados-membros. O tribunal neerlandês suspendeu o procedimento e apresentou um pedido de
decisão prejudicial ao TJCE para que este esclarecesse o alcance e a interpretação jurídica do artigo
invocado do Tratado CE.
O TJCE aproveitou a ocasião para fixar certos aspectos fundamentais da natureza jurídica da CE.
No acórdão proferido a propósito, pode ler-se:
“O objectivo do Tratado CEE, que é o de instituir um mercado comum cujo funcionamento diz respeito
directamente aos cidadãos da Comunidade, implica que este tratado institui mais do que um acordo que
apenas tenha criado obrigações mútuas entre Estados contratantes”. Nesta conformidade, declarou o
Tribunal que “a Comunidade constitui uma nova ordem jurídica de direito internacional, em benefício do
qual os Estados limitaram, ainda que em domínios restritos, os seus direitos soberanos, e cujos sujeitos são
não apenas os Estados membros, mas igualmente os seus nacionais.31 (...) Daqui deve concluir-se que a
Comunidade constitui uma nova ordem jurídica de direito internacional, a favor da qual os Estados
limitaram, ainda que em domínios restritos, os seus direitos soberanos, e cujos sujeitos são não só os
Estados-Membros, mas também os seus nacionais (....).”32

O Processo Costa/ENEL
Um ano mais tarde, o processo Costa/ENEL deu ao TJCE a possibilidade de aprofundar a sua
análise. Este caso assentava nos seguintes factos: em 1962, a Itália nacionalizara a produção e a
distribuição de electricidade, tendo transferido o património das empresas do sector para a sociedade
ENEL. Enquanto accionista da sociedade atingida pela nacionalização, a Edison Volta, Flaminio
Costa viu-se privado de dividendos a que tinha direito e recusou-se a pagar uma factura de
electricidade de 1 926 liras. Perante o Giudice Conciliatore de Milão, Flaminio Costa justificou a sua

31
Vilaça, José Luís da Cruz (1993), “O Tratado de Maastricht e depois”, texto escrito para servir de suporte à
exposição oral feita pelo autor, na sessão de debate organizada, no Grémio Literário, em Lisboa, pelo Instituto de Estudos
Estratégicos e Internacionais, 3 de Maio de 1993.
32
Acórdão do Tribunal de 5 de Fevereiro de 1963, NV Algemene Transport- en Expeditie Onderneming Van Gend &
Loos contra Administração Fiscal neerlandesa. Pedido de decisão prejudicial: Tariefcommissie - Países Baixos. Processo
26/62, Edição italiana, p. 3.
Fonte: http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=CELEX:61962J0026:IT:HTML.

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UNIÃO EUROPEIA Que passado e que futuro?

conduta fazendo valer, designadamente, o facto de que a lei da nacionalização violava uma série de
disposições do Tratado CEE. O tribunal de Milão apresentou então ao TJCE um pedido de decisão
prejudicial relativamente à interpretação de algumas disposições do Tratado CEE. No seu acórdão, o
TJCE estabeleceu, a propósito da natureza jurídica da CE: 33
“Diversamente dos tratados internacionais ordinários, o Tratado CEE institui uma ordem jurídica
própria que é integrada no sistema jurídico dos Estados-Membros a partir da entrada em vigor do
Tratado e que se impõe aos seus órgãos jurisdicionais nacionais. Efectivamente, ao instituírem uma
Comunidade de duração ilimitada, dotada de instituições próprias, de capacidade jurídica, de
capacidade de representação internacional e, mais especialmente, de poderes reais resultantes de
uma limitação de competências ou de uma transferência de atribuições dos Estados para a
Comunidade, estes limitaram, ainda que em domínios restritos, os seus direitos soberanos e criaram,
assim, um corpo de normas aplicável aos seus nacionais e a si próprios.”

Com base nestas observações, o Tribunal concluiu que:


“Resulta do conjunto destes elementos que ao direito emergente do Tratado, emanado de uma fonte
autónoma, em virtude da sua natureza originária específica, não pode ser oposto em juízo um texto
interno, qualquer que seja, sem que perca a sua natureza comunitária e sem que sejam postos em
causa os fundamentos jurídicos da própria Comunidade. A transferência efectuada pelos Estados, da
sua ordem jurídica interna em benefício da ordem jurídica comunitária, dos direitos e obrigações
correspondentes às disposições do Tratado, implica, pois, uma limitação definitiva dos seus direitos
soberanos, sobre a qual não pode prevalecer um acto unilateral ulterior incompatível com o conceito
de Comunidade. (...).”

À luz destes dois acórdãos fundamentais do TJCE, os elementos que conjuntamente conferem
características específicas à natureza jurídica da CE são: a) A estrutura institucional, que garante
que o processo de elaboração das decisões na CE é também influenciado pelo interesse geral da
Europa, isto é, os interesses comunitários que emergem dos objectivos; b) A transferência de
competências para as instituições comunitárias num grau mais importante do que para as outras
organizações internacionais e que abrange domínios nos quais os Estados-membros geralmente
conservam a respectiva soberania; c) A criação de uma ordem jurídica própria, independente da dos
Estados-membros; d) A aplicabilidade directa do direito comunitário, que garante que as regras do
direito comunitário devem desenvolver a plenitude do seu efeito de uma forma completa e uniforme
em todos os Estados-membros e que tais disposições são fonte de direitos e de obrigações quer para
os Estados-membros quer para os respectivos cidadãos; e e) O primado do direito comunitário, que
impede qualquer revogação ou alteração da legislação comunitária pelo direito nacional e garante o
primado do direito comunitário em caso de conflito com o direito nacional.

33
Decisão do tribunal de 3 de Junho de 1964. Pedido de decisão prejudicial nos termos do artigo 177 º do Tratado,
contido na decisão do tribunal de paz de Milão, 20 de Fevereiro de 1964, na causa de disputa pendente entre Flaminio Costa
contra ENEL - Processo 6-64. Versão especial inglesa, p. 614. Fonte: http://eur-
lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=CELEX:61964O0006:EN:HTML

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UNIÃO EUROPEIA Que passado e que futuro?

A CE constitui pois uma entidade autónoma, dotada de direitos soberanos e de uma ordem
jurídica independente dos Estados-membros que se impõe quer aos Estados-membros quer aos
respectivos cidadãos nos domínios da competência da CE.

A Natureza Jurídica da UE
Mais do que um objectivo programático do processo de integração, a UE é hoje uma organização
internacional sui generis, instituída pelo Tratado de Amesterdão.
O carácter específico desta organização internacional reside na sua concepção enquanto arquitrave
jurídica das três Comunidades Europeias, das suas políticas complementares e das modalidades de
cooperação com os Estados-membros.
No entanto, a ordem jurídica da União está longe de igualar a da CE. Assim, os princípios da
autonomia, da aplicabilidade directa e do primado do direito comunitário, indispensáveis à ordem
jurídica da CE, não se aplicam aos outros dois pilares da UE. Estes últimos revestem mais o carácter
de programas e declarações de intenções que se concretizam na cooperação intergovernamental e só
constituem uma primeira etapa rumo a uma União “institucionalizada”. O facto de a UE utilizar os
órgãos da CE para cumprir a sua missão não altera esta situação, uma vez que estas “instituições da
União” devem funcionar em conformidade com o Tratado UE, a saber, exclusivamente no âmbito da
cooperação entre Estados-membros no contexto dos segundo e terceiro pilares. O Tratado UE ainda
não é uma “Constituição” da UE que rege a globalidade do sistema político desta União.

Distinção em relação a outras Formas de Organização Política


As características da CE e da UE deixam claro os seus pontos comuns e as suas diferenças em
relação às organizações internacionais tradicionais e às estruturas federais.
A UE não é uma estrutura acabada, mas antes um sistema em construção cujos contornos finais
não estão ainda definidos.
O único ponto comum entre as organizações internacionais tradicionais e a UE reside no facto de
que também a UE nasceu de um tratado internacional. Todavia, a integração da CE na estrutura
organizativa da UE, afastou consideravelmente esta última das suas raízes internacionais. Com efeito,
os actos fundadores da CE, que assentam também em tratados internacionais, levaram à criação de
comunidades autónomas dotadas de direitos soberanos e competências próprias. Os Estados-
membros renunciaram a uma parte da respectiva soberania, em favor das Comunidades. Acresce que
as tarefas confiadas à CE distinguem-se claramente das que incumbem às outras organizações
internacionais. Ao passo que estas últimas assumem essencialmente missões de carácter técnico bem
determinadas, o campo de acção da CE incide, na sua globalidade, em aspectos essenciais dos
Estados.
Estas diferenças, entre a CE e as organizações internacionais tradicionais, aproximam-na - à
semelhança do que acontece com a UE - de uma estrutura estadual. A renúncia por parte dos Estados-
membros a uma parte da respectiva soberania em favor da CE constitui um dos elementos que

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UNIÃO EUROPEIA Que passado e que futuro?

permitiram concluir que a estrutura da UE se identificava com a de um Estado Federal. Todavia, esta
concepção não atende ao facto de as competências das instituições da UE estarem circunscritas à
realização dos objectivos consagrados pelos tratados e a certos domínios. Estas instituições não
podem fixar livremente os respectivos objectivos, nem responder a todos os desafios que a um Estado
moderno hoje se colocam. À UE falta a plenitude de competências que caracteriza um Estado e a
faculdade de instituir novas competências (a chamada competência das competências).
Em consequência, a UE não é nem uma organização internacional clássica nem uma associação
de Estados, mas uma entidade que se situa a meio caminho entre estas formas tradicionais de
associação entre Estados. Em termos jurídicos, consagrou-se o conceito de “organização
supranacional”.

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UNIÃO EUROPEIA Que passado e que futuro?

OS TRATADOS E A SUA IMPORTÂNCIA

A União Europeia assenta no primado do direito. Isto significa que todas as suas acções são
fundadas nos Tratados, os quais são voluntária e democraticamente aprovados por todos os Estados-
membros. Os Tratados já assinados foram alterados e actualizados para acompanhar a evolução da
sociedade. De forma simples e até quase ipsis verbis do conteúdo disponível no sítio da UE34, aqui
ficam todos os Tratados e o que nestes mais se evidência, isto é, aquilo que assume uma maior
importância e/ou relevância.

Tratado de Paris
O Tratado de Paris instituiu a CECA. Foi assinado em 18 de Abril de 1951 em Paris, entrou em
vigor em 23 de Julho de 1952 e chegou ao seu termo em 23 de Julho de 2002.

Tratado de Roma
O Tratado de Roma, que instituiu a CEE e Euratom, embora esta última tenha decorrido de um
Tratado próprio, ambos acabaram por ser assinados em Roma em 25 de Março de 1957 e entraram
em vigor em 1 de Janeiro de 1958. Pelo facto de o Tratado Euratom ter sido assinado na mesma
altura que o Tratado de Roma, estes dois tratados passaram a ser conjuntamente designados por
Tratados de Roma.

Tratado de Fusão
O Tratado de Fusão foi assinado em Bruxelas em 8 de Abril de 1965 e está em vigor desde 1 de
Julho de 1967. Instituiu uma Comissão e um Conselho únicos para as três Comunidades Europeias
então existentes.

Acto Único Europeu (AUE)


O AUE foi assinado no Luxemburgo e em Haia e entrou em vigor em 1 de Julho de 1987.
Estabeleceu as adaptações necessárias para realizar o Mercado Interno.

Tratado de Maastricht ou da União Europeia


O Conselho Europeu decide dar sequência, na sua reunião extraordinária de 28 de Abril de 1990,
à iniciativa de Helmut Kohl, Chanceler alemão, e de François Miterrand, Presidente francês, proposta
a 19 desse mês, convocando duas Conferências Intergovernamentais. Pode afirmar-se ser este o
momento que assinala o início de uma nova fase no processo de integração europeia, nomeadamente,
para a introdução de dois grandes objectivos incindíveis: a criação, de facto, de uma União
Económica Monetária (UEM) - Moeda Única e a criação de uma União Politica (UP) - CE em vez de
CEE.
O facto de se considerarem incindíveis é porque a UEM só é sustentável com uma UP. A UEM
foi arquitectada antes do objectivo de UP, mas só é concretizada com a criação da UP.35
34
http://europa.eu/abc/treaties/index_pt.htm.
35
Cf. Quadros, Fausto (2004), in ob. cit., pp. 44 a 45.

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As Grandes Inovações de Maastricht


Dentro das grandes inovações de Maastricht encontramos a alteração da designação da CEE para
CE, isto com base nos três pilares: Económico, Monetário e Político, todos fundamentados na
supranacionalidade; o alargamento das atribuições do próprio processo de integração que deixam de
ser essencial e exclusivamente económicas para serem extensivas aos domínios do político, do social
e do cultural; o estabelecimento de um período temporal para a preparação e conclusão do processo
de UEM (criar e introduzir a moeda única nos Estados-membros, em todo o espaço europeu) entre
1999 e 2002; o conceito de Cidadania Europeia, pela primeira vez criado, extremamente importante
(relaciona-se com pessoas e com um conceito jurídico vinculativo, conceito político, neste conceito
de um espaço Federal: “direitos, liberdades fundamentais”); novas formas de cooperação entre os
governos dos Estados-membros, num sistema intergovernamental, em que a regra da unanimidade
prevalece e a regra da maioria tem dificuldade em impor-se. Como é o caso da criação da Política
Externa de Segurança Comum (PESC), Política de Justiça e Assuntos Internos (PJAI) e Política de
Cooperação Policial Judiciária em Matéria Penal (PCPJMP); a reforma institucional, profunda –
surge ao nível do procedimento legislativo um novo processo, chamado de Co-Decisão, que vem
estabelecer que tanto o Parlamento Europeu como o Conselho de Ministros têm em pé de igualdade
os mesmos poderes ao nível decisório; a composição e designação da UE; e, ainda, se verifica um
alargamento da regra da maioria qualificada nas votações do Conselho em detrimento da regra da
unanimidade.

Tratado de Amesterdão
O Tratado de Amesterdão foi assinado em 2 de Outubro de 1997 e entrou em vigor em 1 de Maio
de 1999. Alterou o Tratado da União Europeia (TUE) e o Tratado que institui a CE e atribuiu uma
nova numeração às suas disposições, incluindo, em anexo, as respectivas versões consolidadas. O
Tratado de Amesterdão alterou os artigos do TUE, que, em vez de serem identificados pelas letras A
a S, passaram a ser numerados.

Tratado de Nice
O Tratado de Nice foi assinado em 26 de Fevereiro de 2001 e entrou em vigor em 1 de Fevereiro
de 2003. Incidiu principalmente na reforma das Instituições a fim de assegurar o funcionamento
eficaz da UE na sequência do seu alargamento em 2004 para 25 Estados-membros e em 2007 para 27
Estados-membros. O Tratado de Nice, o anterior TUE e o Tratado que institui a CE foram reunidos
numa versão única consolidada.

Tratado de Lisboa
O Tratado de Lisboa foi assinado em 13 de Dezembro de 2007. Antes de entrar em vigor deverá
ser ratificado pelos 27 Estados-membros, o que se espera que aconteça antes de Junho de 2009, data
das próximas eleições para o Parlamento Europeu. Os seus principais objectivos são aumentar a
democracia na UE - em resposta às grandes expectativas dos cidadãos europeus em matéria de

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UNIÃO EUROPEIA Que passado e que futuro?

responsabilidade, de abertura, de transparência e de participação - e aumentar a eficácia da actuação


da UE e a sua capacidade para enfrentar os actuais desafios globais, tais como as alterações
climáticas, a segurança e o desenvolvimento sustentável.
O acordo sobre o Tratado de Lisboa veio na sequência das discussões sobre a elaboração de uma
Constituição. O “Tratado que estabelece uma Constituição para a Europa” foi adoptado pelos
Chefes de Estado e de Governo no Conselho Europeu de Bruxelas de 17 e de 18 de Junho de 2004 e
foi assinado em Roma, em 29 de Outubro de 2004, mas nunca chegou a ser ratificado.
Os Tratados constitutivos foram alterados várias vezes, em especial por ocasião da adesão de
novos Estados-membros, respectivamente, em 1973 (Dinamarca, Irlanda e Reino Unido), em 1981
(Grécia), em 1986 (Espanha e Portugal), em 1995 (Áustria, Finlândia e Suécia), em 2004 (Chipre,
Eslováquia, Eslovénia, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Malta, Polónia e República Checa) e em
2007 (Bulgária e Roménia).

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UNIÃO EUROPEIA Que passado e que futuro?

CONCLUSÃO

O processo de construção europeia tem sofrido muitos recuos, que têm colocado entraves ao
fortalecimento e avanço da UE. Contudo, o seu avanço deve-se à determinação de homens políticos
que partilhavam ideais democráticos e defendiam a união económica e política da Europa. Esta tarefa
foi facilitada pelo trabalho desenvolvido pelos movimentos que pretendiam uma Europa unida e pela
conjuntura internacional que se seguiu à Segunda Guerra Mundial. Acima de tudo ela constitui a
garantia possível para um futuro em liberdade e em paz, promovendo a unidade na diversidade.36
É quase impossível resistir à tentação de incluir nesta conclusão dois factos consideravelmente de
superior relevância para quem se preocupa com estas coisas da Europa.
O primeiro é o chamado “Objecto Politico Não Identificado (OPNI) ”37.
A expressão OPNI foi utilizada por Jacques Delors ao considerar que a UE evolui entre
confederação e federação. Há quem refira elementos federais no mercado interno e confederais na
política externa.
Exemplo - Cimeira das Lajes

Durão Barroso recebeu Bush, Blair e Aznar nos Açores - Se a Europa fosse uma federação, não
poderia, jamais, ser Portugal quem decidia se o encontro se se poderia realizar ou não, dado que
pertence ao Estado Federal decidir sobre os Estados federados.

Todavia, consoante as questões, pode-se verificar que a UE se ocupa de questões que vão para
além do que é usual num Estado Federal. Aqui, faz-se o apelo a Kelsen, ou seja, fazer as várias
formas de interpretação das normas jurídicas (interpretação histórico-evolutiva, analógica,
teleológica, etc.), vai-se buscar esse tipo de interpretação e aplica-se à interpretação do Direito
Europeu.
A questão do Condomínio:38 ou a questão da Comitologia e da Ordem Pós-Obesiana. Neste caso
Condomínio quer dizer conjunto de Estados Nacionais anteriormente independentes que concordam
em eliminar barreiras à troca de bens, serviços, pessoas, capitais e instituir autoridades específicas
que regulem essas trocas. Esta hipótese merece consideração em face do alargamento da UE e da
chamada Europa à la Carte. Como se estivéssemos a defender um Condomínio e cada país tivesse
um menu. União39 quer dizer unanimidade ou máximo denominador comum de bem-estar, logo, não
se pode escolher como se fosse uma ementa, deixando para os outros aquilo que não nos interessa, ou
não nos serve. Este princípio, à la carte, é derrubado pelo princípio do Condomínio. O próprio
Direito Privado também implica que não se possam ter relações que ofendam a legitimidade da

36
Cf. Ribeiro, Rosa e Benevides, Mónica (2005), “A génese da ideia da Europa”, Ponta Delgada, Universidade dos
Açores, Departamento de Economia e Gestão.
37
Cf. Sá, Luís (1997), in ob. cit., pp. 251 a 254
38
Cf. Sá, Luís (1997), in ob. cit., pp. 254 a 256.
39
União do Latim unione, s. f., acto ou efeito de unir; junção; união de duas ou mais coisas ou pessoas; adesão;
contacto; acordo; pacto, aliança; casamento; concórdia; confederação.

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UNIÃO EUROPEIA Que passado e que futuro?

propriedade do nosso vizinho e obrigam a respeitar as partes comuns do prédio (A União é a tal parte
comum, mas aqui, num conceito de UE, é mais ampla).
Por outro lado, o Condomínio implica que o modo de decisão atribuído ao Condomínio implicaria
um forte papel das comissões de peritos (havia necessidade de criar uma série de comissões de
peritos a que se chamaria a Comitologia e que Maurice Duverger chamou de Comitocracia, embora
haja quem lhe chame de Eurocracia ou Tecnocracia).
Assim, o Condomínio deve ser interpretado, na UE, como uma etapa transitória e a ser debatida,
pelas instituições da UE, e não apenas por um super administrador de todos os Estados pertencentes à
UE.
O segundo facto para o qual se apela nesta conclusão é que, já em 2004, Jacques Delors, em tom
de alerta geral, dizia: “É urgente voltar a explicar o alargamento aos europeus”.40
Delors afirmava-se contra aquilo que apelidava de Europa a duas velocidades e a favor das
cooperações reforçadas. Tinha dúvidas sobre o presidente do Conselho Europeu. E considerava
urgente que se voltasse a explicar aos cidadãos a oportunidade do alargamento.
Não estava muito de acordo com duas propostas da Convenção. Uma para o presidente do
Conselho Europeu e a outra para o futuro Ministro Europeu dos Negócios Estrangeiros.
O que Delors dizia é que “é preciso praticar a linguagem da Verdade perante os cidadãos. Dizer-
lhes o que pensamos é respeitá-los, mas é também fazer apelo à sua inteligência e à sua razão.”
Perguntava, nesta sua reflexão, “Como quer que um ministro dos Negócios Estrangeiros apague
como que por milagre as divergências profundas entre os Estados em matéria de política externa e
de segurança comum? O “Sr. PESC” fez um óptimo trabalho, mas Javier Solana teve a inteligência
de apagar-se de cada vez que a sua tarefa era impossível.”
Delors foi a primeira pessoa a falar da necessidade de uma “vanguarda” europeia, em 2000.
Para ele, o que importa não é a Europa a duas velocidades, o que importa é permitir que os que
querem ir mais longe possam fazê-lo, sem a oposição dos que não querem segui-los. Isto, segundo
Delors, chama-se uma “cooperação reforçada”. “Qual deve ser a sua característica?” – pergunta.
“Que se organize no interior dos tratados e que mantenha aberta a todos os que querem e que podem
entrar” - responde. Dá o exemplo do Euro, referindo que “Se tivéssemos esperado que os quinze
estivessem de acordo ainda hoje não teríamos o euro. É tão simples como isto. Não é a Europa a
duas velocidades. Mas hoje o clima é de tal ordem que não deixa passar nenhuma ideia positiva. É
preciso esperar que os espíritos se acalmem.”
Neste texto, Delors, reforça a ideia da existência, na altura, de “um problema de adesão dos
europeus à Europa. Verifica-se um recuo do europeísmo.”
Para ele há duas razões que designa de maiores. A primeira: “Como sempre que a conjuntura
económica não é boa, os cidadãos europeus pensam que isso é da responsabilidade da Europa.” A

40
Titulo e citações do texto in Secção Mundo, Jornal Público, 4 de Fevereiro de 2004, p. 19.

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UNIÃO EUROPEIA Que passado e que futuro?

segunda: “A alguns países não se explicou a extraordinária oportunidade histórica que é o


alargamento. O alargamento é uma espécie de “homem das neves” que nos mete medo, uma espécie
de angústia.” Por esta última razão considera urgente voltar a explicar o alargamento aos europeus.
Este trabalho que se intitula “União Europeia: Que passado e que futuro?” aproveitou-se, na sua
feitura, de muitas fontes para ir em busca do passado e com algumas outras fontes para provocar a
reflexão quanto ao futuro e ao que dele se pode esperar, valendo-se, inclusive, do pensamento de
gente que bem conhece/conheceu a UE, particularmente, Luís Sá e Jacques Delors.
Espera-se que com tudo quanto foi exposto seja possível contribuir, humildemente, para mostrar o
passado e para a inquietar as mentes que se questionam quanto ao futuro da UE.

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UNIÃO EUROPEIA Que passado e que futuro?

BIOGRAFIAS

Luís Manuel da Silva Viana de Sá 41


Nasceu em 1952 - Faleceu a 15 de Outubro de 1999, no seu gabinete de trabalho.
Licenciou-se em Direito na Faculdade de Direito de Lisboa, tornou-se mestre em Ciência Política
e doutorado em Ciências Sociais no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, fazendo parte
do júri Adriano Moreira, Narana Coissoró e António Sousa Lara, obtendo a classificação de muito
bom.
Foi membro da UEC (União de Estudantes Comunistas) e entrou para o Partido Comunista
Português em 1974.
Foi adjunto do gabinete do Ministro dos Transportes e Comunicações no IV e V governos
provisórios e do Ministro das Obras Públicas no IV Governo provisório; membro da Comissão
Nacional de Eleições de 1977 a 1997; deputado ao Parlamento Europeu em 1994; deputado na
Assembleia da Republica de 1991 a 1999, onde as suas intervenções revelavam grande capacidade
intelectual e politica na defesa das posições do seu partido.
Foi director da revista Poder Local desde 1977. Fazia parte do Comité Central desde 1983 e era
membro da Comissão Politica do PCP.
Foi autor de uma bibliografia extensa que inclui temas como a soberania e a integração europeia,
o poder local e as regiões administrativas, o poder central e suas relações e equilíbrios, o sistema
eleitoral português, manuais de ciência política e de direito administrativo.
Leccionou na Universidade Internacional, na Universidade Aberta e na Universidade Lusófona,
onde dirigiu o Departamento de Ciência Política e foi coordenador do mestrado em Ciências
Políticas.

Jacques Lucien Jean Delors 42


Nasceu em Paris, em 1925.
Foi Presidente da Comissão Europeia de 1985 a 1995, durante três mandatos. Aprovou o Acto
Único Europeu, em 1986, o qual levou à criação do Mercado Único Europeu, em 1993. Foi
protagonista na transformação da Comunidade Europeia em União Europeia, encaminhando as
nações da Comunidade para a moeda única e para uma maior cooperação ao nível da defesa.
Após uma carreira no Banco de França, de 1945 a 1962, tornou-se membro do Conselho
Económico e Social e chefe de serviço dos Assuntos sociais no Comissariado Geral do Planeamento
até 1969, onde foi nomeado Secretário-geral para a Formação permanente e para a promoção social.
Foi membro do gabinete do Primeiro Ministro Jacques Chaban-Delmas, de 1969 a 1972, encarregado
dos assuntos sociais e culturais, bem como das questões económicas, financeiras e sociais.

41
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_S%C3%A1
42
Fonte: http://www.eurocid.pt/pls/wsd/wsdwcot0.detalhe?p_cot_id=43&p_est_id=666.

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UNIÃO EUROPEIA Que passado e que futuro?

Foi professor associado da Universidade de Paris-Dauphine, de 1974 a 1979, e dirigiu o Centro de


Pesquisa Trabalho e Sociedade. Foi membro do Conselho Geral da banca francesa, de 1973 a 1979.
Ensinou também na Escola Nacional de Administração.
Enquanto membro do partido socialista, em 1974, e do seu comité director, em 1979, foi eleito
parlamentar europeu em 1979 e presidiu a Comissão Económica e Monetária até Maio de 1981.
De Maio de 1981 a Julho de 1984, Jacques Delors foi Ministro da Economia e das Finanças e foi
também eleito Presidente da Câmara de Clichy, de 1983 a 1984.
Foi nomeado Presidente da Comissão Europeia em Janeiro de 1985 e assegurou três mandatos até
Janeiro de 1995.
De 1992 a 1996, presidiu a Comissão Internacional sobre a educação para o século XXI na
UNESCO.
Foi Presidente do conselho de administração do Colégio Europe de Bruges, de 1995 a 1999, e
dirige, desde Outubro de 1996, o Grupo de Estudos e Pesquisa Notre Europe.
Desde Maio de 2000, é também Presidente do Conselho de Emprego, de Receitas e da Coesão Social
(CERC).
Recebeu o título de Doutor Honoris Causa de 24 Universidades, bem como diversos prémios e
distinções: prémio Jean Monnet (1998); prémio Louis Weiss (1989); prémio Prince des Asturies
(1989); prémio Charlemagne (1992); prémio Carlos V (1995); prémio Erasme (1997).

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UNIÃO EUROPEIA Que passado e que futuro?

BIBLIOGRAFIA GERAL

Referências Bibliográficas e Bibliografia Citada


A Bíblia de Jerusalém (1985), 4ª impressão, São Paulo, Paulinas.
Almeida, Rui Lourenço Amaral de (2005), Portugal e a Europa – Ideias, Factos, Desafios,
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Outros Documentos Citados


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Investigação e Análise em Relações Internacionais.
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177 º do Tratado, contido na decisão do tribunal de paz de Milão, 20 de Fevereiro de 1964, na causa
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2ª edição, Luxemburgo, Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Europeias.
Maltez, José Adelino (1998), “Teoria das relações internacionais - Aristide Briand”, Lisboa,
Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas.
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Vilaça, José Luís da Cruz (1993), “O Tratado de Maastricht e depois”, texto escrito para servir
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UNIÃO EUROPEIA Que passado e que futuro?

Sítios de Apoio Online

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