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HISTÓRICAS
DO
DESENVOLVIMENTO
DO
0
De Eudoxo à Dedekind
Em rápidas linhas
1
Günter M. Ziegler com o título: Proofs from the Book (que no Brasil foi editado com o
título: As provas estão n’O LIVRO).
Elementos de Euclides
Desta obra será realçado alguns pontos, que dizem diretamente respeito, ao
desenvolvimento do Cálculo para se traçar um vínculo estreito entre os conceitos deste
com a tradição geométrica da Grécia antiga.
Cabe ressaltar uma célebre frase atribuída à escola pitagórica: “Tudo é número”.
Neste tocante os gregos antigos classificavam seus estudos e trabalhos com números em
dois grupos: um, a logística, esta dizia respeito a tarefa computacional envolvendo
números, mais voltada à aplicação cotidiana dos números; outro, a aritmética, esta se
dedicava as relações abstratas envolvendo números, o que poderíamos dizer ser esta aquela
que dava um tratamento teórico àquilo que se pode denominar número.
De início depara-se com uma situação que se tornaria, por longo tempo, o que se
poderia chamar de calcanhar de Aquiles, no tocante a teoria dos números, os ditos – hoje –
números irracionais.
Mas é justamente na secção áurea que a matemática grega antiga vai se deparar com
o então inefável para o seu paradigma numérico: aquele que originou o termo
incomensurável.
2
Construindo a secção áurea.
Marca-se, entre AB0 um ponto B1, seja AB1 > B1B0 . Se nesta divisão verificar a
proporcionalidade: AB0 : AB1 :: AB1 : B1B0 , diz-se que o segmento AB0 fica dividido por
B1 em média e extrema razão, sendo o segmento AB1 o segmento áureo e a medida AB1, a
medida áurea.
E pode-se
se continuar o processo marcando entre A e B1 um ponto B2 na condição:
AB1 : AB2 :: AB2 : B2 B1 ; bem como entre A e B2 um ponto B3 na condição:
AB2 : AB3 :: AB3 : B3 B2 . No enésimo ponto marcado teremos: ABn−1 : ABn :: ABn : Bn Bn −1 .
Obtendo assim uma seqüencia de segmentos áureos que vai gerar uma seqüência
( ABn )n∈N de “medidas áureas”. E indefinidamente pode-se
pode se prolongar o processo, pelos
r x
AB0 : AB1 :: AB1 : B1B0 , o que conduz a: = , que inexoravelmente nos dá:
x r−x
5 −1
x 2 = r 2 − rx . E isolando x , tem-se: x = r , com x > 0 . E, nestas notações
2
se revelado a irracionalidade de x para r racional. O que se pode
modernas, tem-se
3
demonstrar por absurdo: Seja a = b ⋅ c . Se b é irracional e c é racional (não nulo) então a
a
é irracional. Demonstração por absurdo : Seja a racional. Como a = b ⋅ c , então b = o
c
que nos leva a dizer que b é racional - Absurdo! Logo a é irracional. c.q.d. Claro, que se
está aqui considerando resultados conhecidos na Álgebra, como o do corpo racional.
Nas duas situações, de cara, os gregos antigos se depararam com a insuficiência dos
números racionais para se medir segmentos de modo geral.
“Na maior parte das ciências uma geração põe abaixo o que outra
construiu, e o que uma estabeleceu a outra desfaz. Somente na
4
matemática é que cada geração constrói um novo andar sobre a antiga
estrutura.”(Hermann Hankel – 1839-1873) [Boyer (1987), p.404]
No Livro V dos Elementos, lê-se nas seis primeiras definições (segundo Aníbal
Faro, da Edições Cultura – SP, 1944, p.119):
I
Uma grandeza se diz parte de outra grandeza, a menor da
maior, quando a menor mede a maior.
II
A grandeza maior se diz múltipla, ou multíplice da menor,
quando a menor mede a maior.
III
A razão entre duas grandezas, que são do mesmo gênero, é um
respeito recíproco de uma para outra, enquanto uma é maior, ou
menor do que a outra, ou igual a ela.
IV
As grandezas têm entre si razão, quando a grandeza menor,
tomada certo número de vezes, pode vencer a grandeza maior.
5
V
As grandezas têm entre si a mesma razão, a primeira para a
segunda, e a terceira para a quarta, quando umas grandezas,
quaisquer que sejam, eqüimultíplices da primeira e da terceira a
respeito de outras, quaisquer que sejam, eqüimultíplices da segunda e
da quarta, são ou juntamente maiores, ou juntamente iguais, ou
juntamente menores.
VI
As grandezas, que têm entre si a mesma razão, se chamam
proporcionais.
Este é o caminho tomado por Eudoxo e seguido por Euclides para se construir, o
que se poderia chamar de, uma álgebra para os comensuráveis e para os incomensuráveis.
No primeiro caso: dadas duas grandezas a e b (dois segmentos de reta), com a > b
, é possível fazermos: b + b + ... + b ( n parcelas) de modo que b + b + ... + b = nb > a . No
segundo caso: é possível encontrarmos: b + b + ... + b ( m parcelas) de modo que
a − ( b + b + ... + b ) = a − mb < b .
6
“Na verdade a definição não esta longe das definições de número real
dadas no século dezenove, pois divide a coleção dos números racionais
m n em duas classes, conforme ma ≤ nb ou ma > nb . Porque existem
infinitos números racionais, os gregos, por implicação, se defrontavam
com o conceito que desejavam evitar, o de conjunto infinito; mas pelo
menos era possível agora dar demonstrações satisfatórias dos teoremas
sobre proporções.” [Boyer (1987), p.66-7]
Como veremos adiante, Dedekind vai construir seus cortes, à semelhança do que
foi dito acima, bem como uma aritmética dos seus “novos” entes matemáticos.
Zenon de Eléia
A escola pitagórica havia admitido que o espaço e o tempo são constituídos por
pontos e instantes. Intuitivamente pode-se dizer que o tempo e o espaço possuem uma
propriedade que é a continuidade. Zenon de Eléia (c. 450a.C.) criou quatro histórias, que
conduziram o raciocínio vigente na matemática (à sua época) a uma cilada aos referenciais
pitagóricos. Os ditos Paradoxos de Zenon, que são: (1) a Dicotomia, (2) o Aquiles, (3) a
Flecha e (4) o Estádio.
7
Já se deram muitas explicações para os paradoxos de Zeno.
Por outro lado, não é difícil mostrar que eles desafiam as seguintes
crenças da intuição comum: de que a soma de um número infinito de
quantidades positivas é infinitamente grande, mesmo que cada uma
∞
delas seja extremamente pequena
∑ i =1
ε i = ∞ e de que a soma de
um número finito ou infinito de quantidade de dimensão zero é zero
(n× 0 = 0 e ∞ × 0 = 0 ) . Qualquer que tenha sido a motivação dos
Arquimedes1
“Se de uma grandeza qualquer subtrairmos uma parte não menor que
sua metade e do resto novamente subtrai-se não menos que a metade e
se esse processo de subtração é continuado, finalmente restará uma
1
Deste ponto até Leibniz a referência bibliográfica principal será Baron (1985).
8
grandeza menor que qualquer grandeza de mesma espécie.” [Boyer
(1987), p. 67]
9
[Se dividirmos o polígono em triângulo isósceles cujas bases são congruentes a AE
e cada um deles com altura ON (conforme descrito), fazendo t o perímetro do polígono,
ON ⋅ t
então Ap = . Dado que K = r ⋅ c ( r , raio da circunferência, e c , o perímetro da
2
mesma), e como (por construção) ON < r e t < c , então Ap < K (4). De (3) e (4), tem-se
um absurdo].
10
circunferência do círculo, segue-se que a área do polígono é maior do
que o triângulo K, o que é impossível.
O que resta saber é como foi que Arquimedes chegou na comparação da área do
círculo com a área de um triângulo retângulo com catetos medindo conforme condições
mencionadas no teorema demonstrado. Ao que parece foi através de um forte senso
intuitivo aliado a algum método empírico. Assim pode-se dizer que não é de todo razoável
banir da matemática a intuição e o empirismo. O que não é possível, segundo o rigor em
vigor, é se bastar somente neles. Mas, a história da matemática aponta, com grande
freqüência, que a junção da estrutura axiomática, e o seu rigor demonstrativo, com a
intuição, bem como com certos empirismos, é extremamente frutífero para a construção de
uma linguagem que exprime um pensamento sustentado numa suficiência lógica.
11
Nos trabalhos de Arquimedes, com quadratura e cubatura, freqüentemente ele
recorre às séries. E as obtém por um método puramente geométrico. O exemplo que segue,
é mostrado por Baron (1985), I, p.41.
em progressão geométrica.
decorre que:
a1 + a2 + a3 + ... +an =
( n + 1) a e a1 + a2 + a3 + ... +an −1 =
( n − 1) a
n n.
2 2
n
Logo: a1 + a2 + a3 + ... +an −1 < an < a1 + a2 + a3 + ... +an
2
12
n n n
∑ i =0
i=
n ( n + 1)
2
,
∑
i =0
r =
i r n +1 − 1
r −1
e
∑
i =0
i2 =
n ( n + 1)( 2n + 1)
6
.
Neste ponto da história da matemática, creio que se deva ter uma maior atenção aos
trabalhos dos pensadores e sábios do mundo árabe. Mas isto não será aqui objeto de
análise, somente faço uma observação. Uma tensão mais forte entre a cultura árabe e a
cultura européia se com o advento das Cruzadas.
13
viajou pelo Egito, Síria e Grécia.” Assim, não é de se estranhar que “Fibonacci conhecesse
a fundo os métodos algébricos árabes”. [Boyer (1987), p. 185].
Este registro, sobre o Liber abaci e da inserção dos trabalhos árabes na Europa2,
considero relevante, pois é um passo importante para o processo de algebrização, com uma
forma própria, juntando-se a geometria que esta se construindo no Ocidente. Nesta direção
as idéias de Nicolau Oresme é um marco importante, bem como é relevante o pensamento
de Thomas Bradwardine, conforme se mostrará.
Segundo Boyer (1987), Thomas Brawardine, 1290(?) – 1349, foi “um filósofo,
teólogo e matemático que subiu à posição de Arcebispo de Canterbury” (p.191), e Nicole
Oresme, 1323(?) – 1382, um “sábio parisiense que se tornou Bispo de Lisieux” (p.191).
Os registros alinhados até o momento traz razão, em linhas gerais, aos dizeres de
Hankel , citado anteriormente. Os matemáticos, de modo geral, constroem uma ciência
sempre com o olho firme no passado. No entanto, há pontos que eles discordam, como se
perceberá na obra de referência de Cavalieri – para citar um. Mas, antes de se chegar à
Cavalieri é importante fazer referência à obra: O Tractatus de latitudinibus formarum, cujo
registro deve-se a Nicole Oresme ou a algum estudante seu. Esta obra reimpressa pelo
menos quatro vezes entre 1482 e 1515, constituía-se de um resumo da obra maior:
Tractatus de figuratione potentiarum et mensurarum, segundo Boyer (1987, p.193).
2
Gilli Martins em sua tese (UNESP-Rio Claro) aprofunda nesta questão.
14
plano de referência. Encontramos até uma insinuação de uma
geometria de quatro dimensões quando Oresme fala em representar a
intensidade de uma forma para cada ponto de um corpo ou volume de
referência. O que ele realmente precisava ter era, naturalmente, uma
geometria algébrica em vez da representação pictorial que tinha em
mente; mas a fraqueza técnica prejudicou a Europa durante todo o
período medieval.[Boyer (1987), p.193-4]
15
com área de uma região limitada por uma curva e o eixo horizontal, caminho para uma
possível algebrização da geometria.
François Viète
O ponto de vista que será levantado aqui estará alicerçada no trabalho de Jacob
Klein, Greek Mathematical Thought and the Origin of Algebra, que defende a tese de que a
Arithmetic de Diofanto (aprox. 250) esta por trás da influencia do desenvolvimento de uma
teoria algébrica realizada na Europa Ocidental, passando pela matemática árabe, que se
transferiu, através das obras escritas ou traduzidas pelos muçulmanos, para o continente
europeu. E, segundo Jacob Klein, François Viète é autor de trabalhos que fazem estas
conexões – no sentido de uma álgebra estruturada3. Em sua obra Canon mathematicus, seu
ad triangula, Viète trabalha na formulação de equações como tratada algebricamente pelos
seus contemporâneos Cardano, Tartaglia, Nonius e Bombelli, por exemplo. Viète deve ter
estudado a Arithmetic de Diofanto, tanto utilizando uma tradução da época como o original.
Este estudo influenciou-o em sua álgebra simbólica, cujas características fundamentais
estão esboçadas em In artem analyticen Isagoge (Introdução à arte analítica).
Viète havia recebido uma educação humanística nos moldes dos antigos pensadores
gregos, mas isso não o impediu de procurar conciliar as novas idéias, daquilo que viria a
ser a ciência moderna – que estava nascendo. Na matemática procurou conservar termos da
terminologia dos antigos na medida do possível. Para ele, e para muitos do seu tempo, a
inovação tratava-se de uma renovação.
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inquirendae via quaedam) which, so it is claimed, was first discovered
by Plato. Theon of Alexandria gave this procedure the name of
‘analysis’ and defined it precisely, namely as a process beginning
with ‘the assumption of what is sought as though it were granted,
and by means of the consequences [proceeding to] a truth [which
was in fact already] granted’ (adsumptio quaesiti tanquam concessi
per consequentia ad verum concessum), just ‘as in converse’ (ut
contra) he defined ‘synthesis’ as a process beginning with ‘the
assumption of what is granted and by means of the consequences
[proceeding to] the conclusion and comprehension of what is
sought’ (adsumptio concessi per consequentia ad quaesiti finem et
comprehensionem). [destaque em negrito meu] These definitions,
which are here ascribed to Theon, also occur in Pappus in a modified
and clarified form, namely at the beginning of his seventh book
(Hultsch, II, P. 634, II ff.). In a scholium to Euclid it is shown with
reference to the first five theorems of the thirteenth book how the
‘synthesis’ results in each case from the preceding ‘anlysis’ by means
of conversion (analysis and synthesis both proceeding ‘without
Assim, segundo Viète, é Teon de Alexandria (aprox. 390) quem alcunha o termo
Análise bem como define o que se deve compreender no emprego da mesma. É nesta trilha
apontada que chegaremos a Weierstrass e Dedekind.
Viète desta forma cumpre, nesta dissertação, dois pontos relevantes: primeiro, vai
formalizar através de algumas obras gregas, representados pelo menos por Diofanto,
Pappus e Euclides, uma estruturação e uma simbologia algébrica (que será burilada e
sofisticada pelos séculos vindouros); segundo, traz uma definição, de Teon de Alexandria,
do que á a análise (aquela que se inicia com uma suposição do que é procurado, na forma
que o mesmo fora concebido, e por meio de encadeamentos lógicos chega-se a uma
verdade, (então já admitida); e do que é a síntese (a conclusão e a compreensão do que se
procurava).
17
Esta será a busca perseverada por matemáticos como Bolzano, Cauchy, Weierstrass
e Dedekind, entre outros. Sendo assim, a Análise Matemática se faz herdeira de um
método grego (Grécia antiga) de se desenvolver teorias matemáticas. Aqui fazem eco os
dizeres de Hankel, com as observações que fiz anteriormente.
Bonaventura Cavalieri
Recorrerei a Howard Eves (1997) para obter uma descrição das idéias de
Bonaventura Cavalieri:
18
uma vez que ambas são formadas das mesmas cordas. Um
procedimento análogo com os elementos do conjunto das secções
planas paralelas de um sólido dado fornecerá um outro sólido com o
mesmo volume do original. [...] Estes resultados, ligeiramente
generalizados, fornecem os chamados princípios de Cavalieri: 1. Se
duas porções planas são tais que toda reta secante a elas e paralelas a
uma reta dada determina nas porções segmentos de reta cuja razão é
constante, então a razão entre as áreas dessas porções é a mesma
constante. 2. Se dois sólidos são tais que todo plano secante a eles e
paralelo a um plano dado determina nos sólidos secções cuja razão é
constante, então a razão entre os volumes desses sólidos é a mesma
constante. Os princípios de Cavalieri representam ferramentas
poderosas para o cálculo de áreas e volumes, ademais, sua base
intuitiva [grifo meu] pode facilmente tornar-se rigorosa com o cálculo
integral moderno.” [Eves (1997), p.425-6]
Os grifos, acima anotados, marcam alguns pontos que serão temas de longos
debates que virão, entre os matemáticos desta época, século XVI, até século XX, com o
trabalho, de Abraham Robinson (1918 – 1974), Non-Standard Analysis (1966), que
recupera, em bases modernas de fundamentação, a noção de infinitésimos.
19
vezes o primeiro, três vezes o segundo, quatro vezes o terceiro, cinco
vez o quarto espaço, etc.” [Baron (1985),II,p.14]
Não se sabe como Cavalieri obteve estes resultados. Supõe-se que ele tenha
empregado muita inventividade e algum conhecimento de expansão binomial em potências
inteiras, que será bastante empregada por outros matemáticos.
DA EF
1) De = , que conforme a figura, considerando a medida anotada no
AF FG
b a
segmento EF como ordenada e CE como abscissa, podemos escrever: = , o que nos
x y
a
leva a y = x , no primeiro caso;
b
DA2 EF a
2) De = , tem-se: y = 2 x 2 , no segundo caso;
AF 2 FH b
DA3 EF a
3) De = , tem-se: y = 3 x3 , no terceiro caso.
3 FI
AF b
∫
a ab
De 1) AGCD = xdx = , (BD é duas vezes o primeiro – AGCD);
b 2
0
20
b
∫
a ab
De 2) AHCD = 2
x 2 dx = , (BD é três vezes o primeiro – AHCD).
b 3
0
∫
a ab
De 2) AICD = 3
x3dx = , (BD é três vezes o primeiro – AICD).
b 4
0
A partir deste ponto será introduzido o conceito de reta tangente num ponto de uma
dada curva. Segundo Eves (1997, p.428-9), a diferenciação se originou, da resolução do
problema da determinação da reta tangente, tendo como foco a determinação de mínimos e
de máximos de funções, com Fermat em 1629; salientando (ele Eves) que este tipo de
problema já havia sido abordado pelos gregos.
Apesar da indicação de Fermat por Eves, iniciarei a exposição da reta tangente pelo
trabalho de Descartes, deixando Fermat, e o seu método para se determinar o mínimo ou o
máximo de uma dada função, para a próxima descrição.
Para evitar um longo texto apresentado por Descartes, para em seguida apresentar
uma versão em notação mais recente, vou transcrever a leitura apresentada por Baron,
depois da exposição geral dada por Descartes em La Geometrie (1705).
Descartes, diz:
21
Como PMC é uma triângulo retângulo, vemos que s 2 , o quadrado da
Considerando a figura:
FIGURA
( )
y 2 + y ( k − 2v ) + v 2 − s 2 = 0 . [Baron (1985),II, p.33]
Em geral esta equação tem duas raízes distintas, isto é, existem dois
valores de y para s escolhido arbitrariamente. Se CP é a normal,
então o círculo, centrado em P, toca a curva em C, logo a equação tem
x
2x ⋅ x ' = k , ou seja x ' = (2). Isolando k em (1) e substituindo em (2), tem-se: ,
2x
x AM
x' = = tgα = (Seja α a medida do ângulo CFM
ˆ ). De onde segue que FM = 2 y ,
2y FM
conforme apontado por Descartes.
22
Agora Pierre de Fermat (1601(?) – 1665) com a questão de máximo e mínimo de
uma função dada pelo método da tangente:
23
A maneira, de Fermat, de encerrar algum comentário, ao que parece, costuma dar
trabalho por alguns séculos.
dadas por lei do tipo: y = x n (n inteiro positivo), segundo apresentação feita por Eli Maor
em seu livro: e : A História de um Número.
24
assim ad infinitum (notar que 0 < r < 1 ). Assim, as alturas (ordenadas) em cada ponto são:
( ) , ( ar 3 )
n n
a n , ( ar ) , ar 2
n
, ad infinitum. Seja S r a soma das áreas dos retângulos para
um dado r, então:
( ) ( ) (
Sr = ( a − ar ) a n + ar − ar 2 a n r n + ar 2 − ar 3 a n r 2n + ar 3 − ar 4 a n r 3n + ... ou )
S r = a n +1 (1 − r ) + a n+1 (1 − r ) r n +1 + a n+1 (1 − r ) r 2 n+ 2 + a n +1 (1 − r ) r 3n +3 + ... ou
( ) ( )
2 3 1
S r = a n+1 (1 − r ) r n+1 + r n +1 + r n+1 + ... = a n +1 (1 − r ) , ou seja:
1 − r n+1
a n+1 (1 − r )
Sr =
1 − r n+1
(
Fermat percebeu que: 1 − r n+1 = (1 − r ) 1 + r + r 2 + r 3 + ... + r n , obtendo desta )
forma:
a n +1
Sr = . O próximo passo foi considerar r adaequabitur 1 , o
1 + r + r 2 + r 3 + ... + r n
que, pode-se supor, levou Fermat a substituir o denominador por n + 1 , concluindo que:
a
a n+1 a n+1
Sr =
n +1
. O que está em concordância com o que hoje se sabe ser: S =
∫ 0
x dx =
n
n +1
.
O emprego de séries com infinitos termos para quadratura vai se tornar uma rotina
nos trabalhos de vários matemáticos deste período. Bolzano e Cauchy vão se manifestar
contra o emprego indiscriminado de séries infinitas e fixarão um critério conforme se verá.
Roberval (1602 – 1675), matemático francês, reforça a idéia de uma curva como
sendo formada pelo movimento de um ponto, no plano, que se compõe de dois
movimentos conhecidos, cuja resultante dos vetores dos dois movimentos fornece a reta
tangente a curva no ponto.
25
Quanto a quadratura, em seu Traité des indivisibles, Roberval trabalhou com os
conceitos de indivisíveis, empregado por Cavalieri, se relacionando com o conceito de
infinitesimais, ao modo de Fermat.
26
á
los puntos de división E, F,..., y estabelece: â
, [...] donde ‘todas las lineas’ significa la suma de
las ordenadas. [Urbaneja (1992), p.122-3]
Considerando as figuras planas F1 e F2 como tendo uma base AD, limtadas pelos
gráficos de duas funções bem como pelas linhas AB e DC, conforme figura que segue.
F1 : F2 = lim
∑ i =1
f1 ([i n ] AD )
AD
n
n→∞ n
∑i =1
f 2 ([i n ] AD )
AD
n
27
n
F1 : F2 = lim
∑
i =1
i2
n2
= lim
(1 3) n3 + (1 2 ) n 2 + (1 6 ) n
n
n→∞ n→∞ n3
∑ i =1
1
Para calcular este limite Roberval faz apelo à intuição geométrica, considerando
F1 1 1 1
com n3, o que leva a = , logo: F1 = F2 . Em outras palavras, F1 = ab .
F2 3 3 3
∫
a3
Seja f1 ( x ) = x ,
2
integrando de zero a a: F1 = x dx =
2
, logo
3
0
a3 a ⋅ a 2 a ⋅ f1 ( a ) a ⋅ b F2 1
F1 = = = = = ou seja F1 = F2 .
3 3 3 3 3 3
28
geómetras, mediante polígonos inscritos y circunscritos, reconciliando
así ambos métodos a base de utilizar un lema general que enuncia así:
‘Si tenemos una razón R/S y dos cantidades A y B, tales que para
una cantidad añadida a A la suma tiene con B una razón mayor
que R/S y para una pequeña cantidad sustraída a A la diferencia
tiene con B una razón menor que R/S; entonces digo que A/B =
R/S.’ [grifo meu] Mediante la aplicación de este lema, Roberval
resuelve nuevamente la cuadratura de la parábola, a base de encajarla
en dos series de pequeños rectángulos, unos interiores y otros
exteriores, siendo la diferencia entre las dos series inferior a una
cantidad dada Z, lo cual es siempre posible dividiendo el lado AD en
partes suficientemente pequeñas. La consideración de los diversos
pequeños rectángulos muestra, según el lema general, que el área
limitada por la parábola es la del rectángulo circunscrito como 1 es a
3.” [Urbaneja (1992), p.128-9]
O destaque que fiz acima é para frisar a semelhança de tal lema com o método
desenvolvido por Arquimedes, bem como perceber o quanto as idéias se direcionam para
uma definição de limite.
O que segue, foi obtido de Boyer (1987): Wallis (1616 – 1703), um respeitável
matemático inglês que antecede Newton, deu importante contribuição à análise
∫
n−1
uma situação particular da função beta de Euler – B ( m, n ) = x m−1 (1 − x ) dx – para
0
m=n=3 2.
4
Isaac Newton recorrerá a estes expedientes.
29
É assaz curioso o que Thomas Hobbes (1588 – 1679), registra, segundo Boyer,
sobre a “aritmetização da geometria de Wallis, reprovando fortemente a ‘todo o rebanho
daqueles que aplicam sua álgebra à geometria’, e referindo-se à Arithmetica infinitorum
como ‘uma sarna de símbolos’.” [Boyer (1987), p.282].
Com relação Gregory (1638 – 1675), seguirei o que diz Baron: Matemático de
origem escocesa que estudou na Itália, convivendo com o método dos indivisíveis. Em sua
obra Vera circuli et hyperbolae quadratura ele procurou generalizar a aplicação do método
de exaustão de Arquimedes, no qual uma quantidade procurada se inseria entre duas
seqüências de figuras, inscritas I e circunscrita C , de modo que as áreas formadas por
estas possibilitam as desigualdades: I1 < I 2 < I3 < ... < I n < L < Cn < ... < C3 < C2 < C1 .
Imbuído da mentalidade clássica, Gregory traçou o que seria o início de uma teoria da
convergência para as referidas seqüências5. Ele tentou definir o que hoje se escreve como:
L = lim ( I n ) = lim ( Cn ) .
n→∞ n→∞
“Com base nestas idéias ele tentou provar a impossibilidade de, racionalmente ou
algebricamente, ‘quadrar’ o círculo, a elipse e a hipérbole (isto é, expressar o que hoje
conhecemos como o número racional π, ou obtê-lo por operações algébricas). Embora sua
demonstração estivesse incorreta, ele foi o primeiro a tentar demonstrar uma proposição
deste gênero.” [Baron (1985), II, p.43].
∫
x 2 dy x3 d 2 y
ydx = yx − + − ... .
2! dx 3! dx 2
5
Um prenúncio do que viria fazer Cauchy.
30
x
tangente de uma outra curva (isto é, ku =
∫ 0
zdx ⇒ k du dx = z .
Baron, destaca que Isaac Barrow (1630 – 1677), em seu Lectiones geometricae
desenvolveu idéias bastante próximas a de Gregory, que só percebeu após já ter escrito a
sua própria obra. Esta observação é relevante dado que Isaac Newton será orientado por
Barrow em seus estudos de matemática.
Isaac Newton
Segue alguns trechos da carta (de 24 de outubro de 1676) que Oldenburg (secretário
da Sociedade Real de Londres) enviou a Leibniz, reproduzindo a história escrita pelo
próprio Newton.
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
02 12 22 32 42
são 1 − x2 , 1 − x2 , 1 − x2 , 1 − x2 , 1 − x2 ,
(1 − x2 )
52
, etc. se as áreas dos fatores intercalados, nominalmente x ,
1 2 1 3 3 1
x − x3 , x − x3 + x 5 , x − x 3 + x 5 − x 7 , etc., pudessem ser
3 3 5 3 5 7
interpolados, deveríamos obter as áreas dos fatores intermediários das
31
( )
quais o primeiro 1 − x 2 é o círculo: de modo a interpolar essa série,
( ) ( ) ( )
12 32 m
intercalada, a saber, 1 − x 2 , ou 1 − x 2 , ou em geral 1 − x 2 ,
( )
12 1 2 1 4 1 6
1 − x2 é o valor de 1 − x − x − x , etc.,
2 8 16
(1 − x2 )
32 3 2 3 4 1 6
é o valor de 1 − x + x + x , etc.,
2 8 16
(1 − x2 )
32 1 1 5
é o valor de 1 − x 2 − x 4 − x 6 , etc.,
3 9 51
Após mais alguns esclarecimento sobre o seu processo de descoberta, ele conclui:
Em posse das séries infinitas Newton pode calcular a área sob uma curva (dada por
expressões que envolviam raízes), integrando termo a termo. Da mesma forma ele
32
executava a retificação da mesma. Nota-se que ele não trabalha a questão da convergência
das séries. Mas, é de se supor que ele tinha conhecimento do trabalho feito por Gregory,
considerando que recebera orientações de estudo de Barrow, bem como este havia deixado
a disposição de Newton sua biblioteca. Então Newton começa a quadrar curvas, como
segue, do livro De Analysi:
2 32 4
Tome x = z ou x3 = z 2 . Então, se x + o ( Aβ ) for substituído
3 9
em lugar de x e z + ov ( Aδβ ) em lugar de z surgirá (pela natureza da
curva)
9
(
4 3
)
x + 3 x 2 o + 3 xo 2 + o3 = z 2 + 2 zov + o 2 v 2 .
4
Eliminando-se as quantidades ( x3 e z 2 ) e dividindo-se o resto por
9
o sobra
4
9
( )
3 x 2 o + 3 xo 2 + o3 = 2 zov + o 2v 2 . Se supusermos que B β é
33
e os termos multiplicados por o desaparecerão e conseqüentemente
4 2 2 2 2
restará 3 x = 2 zv ou x ( = zy ) = x 3 2 y , quer dizer,
9 3 3
( )
x1 2 = x 2 x3 2 = y . Reciprocamente, portanto, se x1 2 = y , teremos
2 32
x = z.
3
Demonstração:
Ou em geral, se n ( m + n ) ax (
m+ n ) n
= z , quer dizer, ao colocar
na ( m + n ) = c e m + n = p , se cx p n = z ou c n x p = z n , então, se
( )
em lugar de z, surgirá cn x p + pox p −1... = z n + noyz n−1... , omitindo-
( )
resto por o , vai sobrar c n px p−1 = nyz n−1 = nyz n z = nyc n x p cx p n .
n ( m + n ) ax (
m+ n ) n
= z . Como queríamos demonstrar.
34
Eis, assinalado, no final deste trecho, uma indicação para o teorema fundamental do
cálculo.
Acima tem-se uma exposição de Newton sobre as séries finitas e em seguida uma sobre
quadratura. Agora um registro sobre os fluxões e os fluentes, já empregando uma notação
específica.
35
em seguida a palavra ‘tempo’ (como a tenho tratado no meu texto a
fim de obter mais clareza e distinção) esse nome não deve ser
entendido como tempo formalmente considerado, mas como sendo
aquela outra quantidade cujo aumento ou fluxo uniforme interpreta e
mede o tempo.
Neste caso, está se considerando que o Cálculo Diferencial e Integral foi criado por
Newton (ou por Leibniz, conforme citaremos mais adiante). Isto é razoável, caso o ponto
de partida para tal análise seja associar a criação do Cálculo no momento em que se dá
existência ao Teorema Fundamental do Cálculo. Assim, definindo-se a discussão sobre
quem criou o Cálculo, fica restrito, até onde se sabe, entre Newton e Leibniz e quiçá pode-
se incluir neste pequeno rol o nome de James Gregory, conforme descrito acima. No caso
de Gregory, Baron realça que o seu desenvolvimento fora na forma geométrica, e levanta ,
de certa maneira, dúvidas se ele considerava tal relação como fundamental. Ainda em se
levando tais questões em conta, conceitualmente Gregory trabalhou no sentido que hoje
36
compreendemos o Teorema Fundamental do Cálculo. E, ainda no quesito publicar, ele
antecede Newton e Leibniz. O que diferencia estes dois últimos do primeiro é a notação
algébrica empregada, que acabou por se mostrar, contrário do que afirmou Hobbes, útil ao
desenvolvimento matemático, abrindo novas fronteiras para se pensar a matemática, sem
abandono da geometria dos antigos, conforme fica claro ao lermos os trabalhos e as
preocupações dos pensadores matemáticos ou não da idade média na Europa. Nesta
observação pode-se querer fazer coro com Hankel.
“DEMONSTRAÇÃO
& e yo
Agora, como os momentos (digamos xo & ) das quantidades fluentes
(digamos x e y) são os incrementos infinitamente pequenos [grifo meu],
pelos quais aquelas quantidades aumentam durante cada intervalo de tempo
infinitamente pequeno, segue que aquelas quantidades x e y, depois de
qualquer intervalo infinitamente pequeno, tornar-se-ão x + xo
& e y + yo
& .
Conseqüentemente, uma expressão que expressar uma relação uniforme
entre as quantidades fluentes em todos os instantes expressará aquela
relação uniforme entre x + xo
& e y + yo
& da mesma maneira como entre x e y.
37
Portanto, x + xo
& e y + yo
& podem ser distribuídos pelas últimas quantidades
( x3 + 3xox
& 2 + 3x& 2o 2 x + x& 3o3 ) − ( ax 2 + 2axox
& + ax& 2o2 ) +
+ ( axy + axoy
& + ayox& + axyo && 2 ) − ( y 3 + 3 yoy
& 2 + 3 y& 2o 2 y + y& 3o3 ) = 0
− y& 3o 2 = 0 .
& 2 − 2axx
[grifo meu]. Portanto, restará 3xx & + axy
& + ayx
& − 3 yy
& 2 = 0 , como no
exemplo acima. Deve-se observar que os termos não multiplicados por o em
mais de uma dimensão. Da mesma forma, os termos restantes depois da
divisão por o sempre aceitarão a forma que devem ter de acordo com esta
regra. É isso que queria mostrar,” [Baron (1985), III, p.28-9]
38
daquele tempo aproximam-se mais uma da outra do que por qualquer
diferença dada, tornando-se finalmente iguais.
39
sua velocidade, na qual aumentam e são geradas, seja maior ou menor;
esforcei-me para encontrar um método que determinasse as
quantidades das velocidades, dos movimentos ou incrementos, que as
geraram. Chamando de fluxões às velocidades dos movimentos ou dos
aumentos e de fluentes às quantidades geradas, esclareci aos poucos
(nos anos 1665 e 1666) o método das fluxões, que aproveito aqui na
Quadratura das curvas.
40
a linha reta CK coincidir com a tangente CH, e quando as últimas
razões das linhas CE, Ec e Cd forem encontradas, os pontos C e c
deverão se aproximar e coincidir exatamente. Erros, por menores que
sejam, não devem ser negligenciados na matemática. [Baron (1985),
III, p.31-3]
41
“As diferenças são ‘infinitamente pequenas’. Isto significa que podem
ser comparadas entre si (a razão dy : dx é finita). Mas com respeito às
quantidades finitas ordinárias[6] as diferenciais podem ser
desprezadas: x + dx = x . Produtos de diferenciais podem ser
desprezados com respeito às próprias diferenciais: adx + dydx = adx ,
Leibniz não traz uma construção que fundamente suas idéias que possui uma forte
conotação intuitiva. Sousa Pinto diz:
6
Ver comentários de Sousa Pinto mais adiante [destaque meu].
42
“A idéia de infinitésimo (e de número infinito) não pode ser realizada
num universo construído com base no conjunto IR dos números reais.
Leibniz, no entanto, preconizava para o estudo do Cálculo
infinitesimal a adoção de um sistema numérico mais amplo que os dos
números reais que incluísse, para além desses, números ‘ideais’
infinitos e infinitesimais e no qual continuassem a verificar-se as leis
usuais dos números ordinários. Estes dois objetivos, assim
formulados, são contraditórios!” [Pinto (2000), p.22]
)
“A diferença da área OCB (a diferença de dois valores consecutivos
daquela área) é o retângulo ydx à extrema direita: d ∫ ydx = ydx o que
∫ ∫ dy = y [ ],
7
mostra a relação inversa entre d e . Reciprocamente
7
No início Leibniz havia adotado outra forma de notação para a quadratura. [destaque meu]
43
Interessante perceber a versatilidade do pensamento de Leibniz com o que ele
chamou de transmutação. Bem que esta idéia não se originou8 com Leibniz, mas ele,
desconhecendo que já a haviam utilizada, muito se impressionou com tal descoberta, dado
o seu poder no auxílio de algumas quadraturas.
Assim, por meio da transmutação a quadratura de uma dada curva é trocada por
outra, construída a partir das tangentes da primeira. Isso, é claro, passa a ser interessante se
a quadratura da segunda for mais fácil do que da primeira. A engenhosidade de tal
procedimento é marcante, e mostra o quanto Leibniz foi um pensador virtuoso que buscava
novas formas de abordagens, e de soluções de problemas.
8
Elas estavam também presente nos trabalhos de Barrow e Gregory.
44
Leonhard Euler
de Newton, tem-se:
kx v ( v − 1) kx v ( v − 1) ... ( v − n + 1) kx
v 2 n
kx
a = 1 + = 1 + v +
x
+ ... + + ...
v v 2! v n! v
k
ax = 1+ x +
( v − 1) k 2 x 2 + ... + ( v − 1) ⋅ ( v − 2 ) ⋅ ... ⋅ ( v − n + 1) k n x n + ...
1! v 2! v v v n!
1=
( v − 1) = ( v − 2 ) = ... = ( v − j ) = ...
v v v
x x2 xn
ax = 1+ k + k 2 + ... + k n + ...
1! 2! n!
9
Em linhas gerais segue a apresentação dada por Sousa Pinto (2000).
45
1 1 1
e = 1+ + + ... + + ...
1! 2! n!
v
x x x2 xn
Decorrendo então: e = 1 + = 1 + + + ... + + ... Lembrando que para
x
v 1! 2! n!
Euler v é um número infinito.
Se conduzindo por uma regra levantada por Leibniz, que dizia respeito a relação
entre diferenciais de ordem superiores do produto de duas variáveis e as potências de
mesma ordem do desenvolvimento binomial destas variáveis. Assim, considerou a função
1
f ( x) = , que ao ser expandida por divisão fornece a série finita 1 + x + x 2 + ... + x n + ... ,
1− x
já conhecida por muitos. Em posse desta expansão Lagrange por suposições, tais como
toda função pode assim ser expandida, o que não é um factível. Sem ter-se percebido deste
lapso, ele considerou que se, em tal expansão, multiplicarmos cada termo x n por n! ,
tínhamos a derivada n-ésima da função f ( x ) . Lagrange então criou, para estas derivadas,
a notação: f ′ ( x ) , f ′′ ( x ) , ..., f ( ) ( x ) , e assim por diante. Pensou, Lagrange que com este
n
De Bolzano a Dedekind11
10
Palavra cunhada por Lagrange.
11
A partir de Bolzano a referência bibliográfica principal será Bottazzini (1986).
46
A falta de consistência das formas ditas indivisíveis e dos infinitesimais, que
Lagrange procurou evitar, será a partir deste ponto abordada por Bolzano, Cauchy,
Weierstrass, entre outros.
Assim feito, retomo com Bernhard Bolzano (1781 – 1848 ). Pode-se dizer que o
rigor analítico na Análise começa a se consolidar, em um artigo de 1826, com as idéias de
47
uma monge boêmio12 chamado Bernhard Bolzano. Este monge viveu em Praga, e que lá
permaneceu, em seu tempo, distante dos focos mais efervescentes das idéias matemáticas,
que foram: França, Inglaterra, Alemanha e Suíça, contudo ele era conhecedor do que por
essas bandas estavam fazendo. Mas, por este distanciamento, que se diz, que o seu trabalho
não teve rápida influência na Europa.
deixando de lado os casos em que x e n são números imaginários, bem como o caso em que
n é irracional numa potência de número negativo, alegando que o conhecimento que se
tinha até aquele ponto não permitia analisá-los.
has the character that the difference between its nth member Fn ( x )
and very later Fn+ r ( x ) , no matter how far distant it may be, remains
smaller than every given quantity when n is taken large enough, then
there is always a certain constant quantity, and only one, which the
12
Segundo Boyer (1987).
48
terms of this sequence always approach and can come as near to it as
one wishes when the sequence is extended far enough.” [Bottazzini
(1986), p.99]
Este teorema, que passou a ser conhecido como sendo de Cauchy, aponta para uma
nova formalização na Análise, os famosos ε - δ . Abaixo segue outro teorema, que passou
a ser um marco também, enunciado por Bolzano e um roteiro de demonstração empregado
por ele.
Desde que M é válido para todo x menor do que u , mas não para todo x , então
existe uma quantidade V = u + D ( D > 0 ) para o qual pode-se dizer que M não pertence a
todo x < V . Considere-se a quantidade: u + D / 2m , com m ∈ N .
Se U é a soma desta série, então M é verdadeira para todo x < U . Em seguida ele
mostra, sem dificuldade, que M não é verdadeiro para x < U + ε .
Aqui, notamos a diferença entre muitas demonstrações vistas até então. Bolzano
emprega fundamentações puramente analíticas, não recorrendo a chamada intuição
geométrica.
Bolzano comenta que o referido teorema será de grande importância para todos os
ramos da matemática. Ao que parece ele estava certo. Este teorema vem ao encontro do
que hoje constitui um conjunto de conceitos que embarcam: Ponto de Aderência, Ponto de
Acumulação, Vizinhança, Supremo e Ínfimo, conceitos iniciais na Análise Moderna.
49
Foi com o trabalho e Lagrange13 que Cauchy notou que uma atenção maior deveria
ser dada ao emprego de séries. Ele, então, afirmou que uma série se divergente, não possui
soma. Completando: argumentos tirados exclusivamente da álgebra não podiam servir de
base de uma análise precisa.
As idéias de Cauchy foram imprimidas em seu livro Cours d’analyse, que mais
tarde ele o resume, para uso de seus alunos na École Polytechnique, num livro cujo título é:
Le Calcul Infinitésimal.
O Cours d’analyse passou a ser uma manifestada referência na lida com a Análise.
Nas palavras de Abel: "deve ser lido por todos os analistas que gostam de rigor em
pesquisas matemáticas" [Bottazzini (1986), p.102]
“As for methods, I have sought to give them all the rigor that one demains in
geometry, in such a way as never to revert to reasoning drawn from the generality of
algebra. Reasoning of this kind, although commonly admitted, particularly in the passage
from convergent to divergent series and from real quantities to imaginary expressions, can,
it seems to me, only occasionally be considered as inductions suitable for presenting the
truth, since they accord so little with the precision so esteemed in the mathematical
science. We must at the same time observe that they tend to attribute an indefinite
extension to algebric formulas, whereas in reality the larger part of these formulas exist
only under certain conditions and for certain values of the quantities that they contain. In
determining these conditions and these values. I have abolished all uncertainty. … It is true
that, in order to remain continually faithful to these principles, I was forced to admit many
propositions that perhaps seem a bit severe at first sight.” [Bottazzini (1986), p.102]
O intento de Cauchy foi obtido ao definir precisamente limite e isso lhe permitiu
dar significado preciso aos infinitesimais, bem como das infinidades positivas e negativas.
Bem que, intuitivamente, esta maneira de tratar os infinitesimais, já estivesse presente na
mentes de muitos matemático da época. Mas, o que está em questão aqui também é a
formalização da mesma, sem apelo geométrico, e sem suposições vagas.
Com sua forma de tratar as séries, ficou claro que a partir deste trabalho não se
poderia mais ignorar se uma dada série era convergente ou divergente.
13
Teoria das Funções Analíticas, da qual expus um trecho.
50
A definição se Cauchy, tornou-se clássica:
every value of x between two given limits, this function always has a
unique and finite value. If, beginning from one value of x lying
between these limits, we assign to the variable x an infinitely small
increment α , the function itself increases by the difference
f ( x + α ) − f ( x ) , which depends simultaneously on the new variable
will remain continuous with respect to x within the givens limits if,
within these limits, an infinitely small increase of the variable always
produces an infinitely small increase of the function itself.” [Bottazzini
(1986), p.104-5]
14
Até aqui ainda não se possui uma definição bem delimitada para função, bem como de números reais.
51
mais delicadas questões de análises"15 , que é o estudo dos limites de funções quando
∞ − ∞ , 0⋅∞ , 00 , ∞0 , 1∞ .
f ( x)
will converge towards the same limit at the same time.
x
Theorem II. If, the function f ( x ) being positive for very large
f ( x + 1)
values of x , the ratio converge towards the limit k as
f ( x)
1
x increase indefinitely, the expression f ( x ) x will converge
towards the same limit at the same time.” [Bottazzini (1986), p.109]
Neste ponto ele critica abertamente a forma definida por Lagrange, dado que ele,
Cauchy, tinha em vista todo um estudo de séries, mas um interessante é que ele emprega a
notação de derivada de seu professor Lagrange. Ao mesmo tempo diz-se grato pelas idéias
de Ampère, que também fora seu professor.
15
Bottazzini – 1986 – p. 108.
52
determinate value for every particular value of x , but it varies with x .
… The form of the new function that will serve as the limit of the ratio
f ( x + i) − f ( x)
, will depend on the form of the proposed function
i
y = f ( x ) . To indicate this dependence, we give the new function the
name of derived function, and designate it, with the aid of an accent,
by the notation y ' or f ' ( x ) .” [Bottazzini (1986), p.119-20]
f ( x + α h) − f ( x) f ( x + i) − f ( x)
o primeiro membro da equação: = h , [sendo i = α h ],
α i
converge quando a variável α se aproxima indefinidamente à zero, enquanto a quantidade
h permanece constante. No caso particular de f ( x ) = x , a equação df ( x ) = hf ' ( x ) reduz-
Cauchy: permite-nos escrever a primeira derivada como dy dx , isto é, como razão entre o
diferencial da função e aquele da variável.”16
O trabalho de Cauchy segue adiante, mas neste ponto deixo de descrever suas
idéias, pois o objetivo é apresentar suas idéias iniciais que historicamente marcaram o
ensino e o desenvolvimento do Cálculo/Análise, bem como dar uma amostra do quando ele
vai se aprofundando na formalização analítica do Cálculo/ Análise, sem recorrer as
chamadas intuições geométricas. O termo que estará sempre presente em seu trabalho é o
infinitesimal, tanto que dá título ao seu resumo do Cours d’analyse, pois ele entende que,
com os conceitos introduzidos por ele, isto já esteja esclarecido.
16
Segundo Bottazzini – 1986 – p. 120.
53
As idéias de Weierstrass acabaram por difundir através de seus alunos, e entre eles
Heine (1821 – 1881), que, de 1872, em seu Elemente, seguindo o pensamento do mestre,
definiu o limite de uma função f ( x ) em x0 , da seguinte forma:
Nesta definição, que por vezes se chamou de “teoria estática da variável”, nota-se
uma mudança se comparada com a definição proposta por Cauchy, que recorria às frases:
“valores sucessivos”, “aproximar-se indefinidamente” e “tão pequeno quanto se queira”.
Weierstrass ainda considerava estas frases carentes de precisão, daí corroborar para com a
definição elaborada por Heine. O interessante de salientar é que, ainda hoje, nas aulas de
Cálculo há muito apelo para frases semelhantes às colocadas por Cauchy, bem como a
intuição geométrica. Matematicamente está se distanciando do rigor e da precisão, mas
como recurso didático para um primeiro momento de introdução ao assunto é
sugestivamente atraente.
54
todas as que podem ser obtidas dela por prolongamento analítico.”
[Boyer (1987), p. 412]
Interessante notar que Dedekind foi aluno de nada mais nada menos: Gauss; e
assistiu as penetrantes e profundas (segundo ele próprio) conferências e seminários de
Dirichlet, sobre Integração e teoria das potências, bem como a teoria dos números.
55
Sobre o emprego do argumento geométrico, Dedekind diz: “realmente é
indispensável se a pessoa não deseja perder muito tempo", e continua: "Ninguém que
queira manter esta forma de introduzir o cálculo diferencial pode fazer qualquer
reivindicação quanto a ser este científico."17
II. Se a e c são dois números distintos, então há infinitos números distintos entre
a e c.
III. Se A é algum número finito, então todo número do sistema R pode ser
dividido em duas classe, A1 e A2 , cada uma contendo infinitamente muitos
O caminho seguido por Dedekind teve por base a propriedade ordenada da linha
reta, por meio da qual se é capaz de formular “uma precisa caracterização de continuidade,
que pode ser usada como base para validar deduções”. (Dedekind) [Bottazzini (1986),
p.267]
Assim, considerando que cada ponto p desta linha divide-a em duas partes – dado
que a reta esta orientada – cada ponto de uma parte estará a esquerda de cada ponto da
outra parte.
Com isso, Dedekind considera que resolve a questão com o seguinte princípio:
17
[Bottazzini (1986), p.266]
18
Idem.
56
“If all the points of the straight line fall into two classes in such a way that every
point of the first class lies to the left of every point of the second class, then there exists
one and only one point which produces this division of all points into two classes, thus
cutting the straight line into two parts.” [Bottazzini (1986), p.267]
“Este princípio evidente que muitas pessoas tomarão por banal, ficarão
desapontados ao ver que o segredo de continuidade fora revelado por esta trivialidade.”19
seguintes propriedades: 1) que todo número da classe A1 é menor do que todo número da
Em seguida, Dedekind diz que facilmente pode se perceber que existe infinitos
cortes que não podem ser produzidos por números racionais. O exemplo imediato é o 2.
E segue:
say that the number α corresponds to this cut, or that it produces this
cut” [Bottazzini (1986), p.268]
Desta forma Dedekind constrói um novo domínio numérico, o dos reais, em bases
axiomáticas, onde cada corte ( A1; A2 ) determina um único número real e cada número real
19
[Bottazzini (1986), p.267]
57
established only in the form of the expression and not in the content. I
can only say that I hold the definition given in Euclid V, 5, which I
quote in Latin: rationem habere inter se magnitudines dicuntur, quae
possunt multiplicae sese mutuo superare [magnitudes are said to have
a ratio to one another which are capable, when multiplied, of
exceeding one another] and what follows, to be entirely as satisfying
as yours.” [Bottazzini (1986), p. 268]
Lipschitz, continua:
“I know very well that you will object that it is not enough for you to
derive the existence of a ratio from a geometrical construction. I
answer this as follows. The human spirit has in large part drawn the
strength that it now has from its occupation with geometry. The rigor
goemetricus has served the highest requirements for thousands of
years. If we now set up other requirements, then we owe this in larger
part to the occupation with geometry, and these requirements are also
not yet substantially different.” [Bottazzini (1986), p. 269]
58
Um resumo deste período pode ser lido em:
“At the end of the century the German word Funktionenlehre became
virtually synonymous with the theory of functions of a complex
variable according to Weierstrass’ principles. However, there was no
lack of opposition. Lie, for example, did not hesitate to write to
Darboux that it was entirely because of Weierstrass and his school that
there was no serious research in geometry in Germany. He even spoke
of the ‘great stupidities’ being uttered on this topic, which, apart from
the polemics, reveals a profound difference in his understanding of
mathematics. This difference was also shared (although in another
way), by men like Poincaré and Klein. The latter, in a talk delivered to
the Göttingen Society of Science on the occasion of Weierstrass’
eightieth birthday, recalled the ‘impulse’ that had given to
contemporary mathematics by Weierstrass’ rigor and Kronecker’s
extreme tendency ‘to ban irrational numbers and reduce mathematical
knowledge to relations between whole numbers alone.’ He then
continued,
‘I would like to include all of these development under one word: the
arithmetization of mathematics. … In this there lies, as you well
know, both a complete understanding of the extraordinary importance
of the development connected with this, and a rejection of the view
that the true contents of mathematics should already be completely
contained in a sort of extract of arithmetic. I must accordingly divide
my views into two parts, those positive and concurring and those
negative and dissenting. Since I do not see the arithmetical form of the
evolution of thought as the essence of the subject, but rather as a
logical sharpening achieved by this means, there follows the challenge
– and this is the positive side of my lecture – of subjeting the usual
disciplines of mathematics to a reworking with reference to the
arithmetical foundations of analysis. But on the other hand – and this
is the negative side – I have to maintain and firmly stress that
mathematics will never be completed by logical deduction, that in
relation to this intuition also retains its full specific importance.’
[Bottazzini (1986), p. 290].
59
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