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Ismail Xavier O cinema brasileiro moderno © fama Kavier iors responses Maria Hla Cera © Katia Butolo Predagto gfe Kati Halbe Capa babel Carb (C1P-Brasil.Catalogagi na Fonte Sindicato Nacional dos Eitoes de Livros. RJ Xavier, fal (© cinema beaieino moderne Te Pe e Tera, 2001. (Coleg Xavier. Sie Pauls 0 Leura) ISBN 85-219.0595-2 1. Cinema ~ Brail~ Hina erica ‘Titolo, I, Série orton pp 791430981 DU 791.4381) EDIORA PAZ E TERRA S/A Rus do Tian, 177 Santa figinia, Sho Paulo, SP — CEP: 01212010 Tel: (LL) 3337-8399 E-mails vendasparetereacom be Home Page: ww panctera.com be 2001 Inpro Bras SUMARIO © cinema brasileiro. modetno.. 9 Do golpe militar & abertura: a resposta do cinema de autor. : 51 Glauber Rocha: 0 desejo da hist6ria noun 27 APRESENTAGAO Este livro retine trés textos que desenham visées de conjunto do cinema brasil pautado pela experiencia do cinema modemo, em didlogo com 0 nco-tealismo € a Nouvelle Vague, experiéncia que ganhou forma no Cinema Novo dos anos 60 e teve desdobramentos fundamentais no tuopicaismo, no Cinema Marginal ¢ nos debates que smarearam as décadas seguines, até 1984, Foram escrtos em Gpocas diferentes, guardando suas inflexées proprias, mas ‘compéem imagens do cinema moderno que se interpenetram: © primeiro dé énfise & nosio do “moderns” no Brasil: 0 segundo é mais descitivo e delineia 2 produgéo do periodo ue, em boa parte, lhe corresponde; 0 terceio faz uma apresentagio concisa de sew principal cineasa © texto “O cinema brasileiro moderno” teve sua primeira versio por ocasiio do Festival do Cinema Jovem de Turim, em 1995, que reuniu cineastas ¢ criticos brasileiros para um debate em torno dos anos polémicos gue envolveram Cinema Novo e Cinema Marginal. No meu capitulo do livro-catélogo, preferi explorar a nogéo do Moderno ¢ acentuar sua vigéncia no periodo que 7 abrange do Final dos anos 50 a meados dos anos 80, 0 dual, denero mesmo de suas rupcuras, mostra sua unidade, ‘em tezmos da problemitiea esttiea eda formacio correlaca cde um campo de debate politico. A versio aqui incluida € a publicada na revisea Archivos de la Filmoteca de Valencia no ano 2000. “Do golpe militar 4 abercura: a resposta do cinema cde autor” apareceu, em 1985, no volume O desafio do cinema: a politica do E:nado ¢ a politica dos autores, fazendo parte do balango entio proposto na colegio “Brasil: 0s anos de autoritarismo; andlise, balango, perspectivas” da Jorge Zahar Editor. & uma introdugio. abrangente 20 percurso do cinema brasileiro mo periodo militar, desta- cando as tendéncias do “cinema de autor” que definiram a dinimica de uma cultura de oposigao entre 1964 ¢ 1984. “Glauber Rocha e 0 desejo da histiria” interpreta 0 percurso do cineasta entre O patio (1959) e a A idade dda terra (1980). Define a relagio entre seus temas € suas formas, ¢ caracceriza as macrizes de um estilo que s teansformou no debate com as diferentes conjunturas politica, dos momentos de esperanga as diferentes expres- ses da crise da historia do tereeiromundismo. Este artigo foi publicado em Le cinéma bréiien, organizado por Paulo Paranagud, cm 1987, ligado 4 Retrospectiva do Cinema Brasileiro no Centro Georges Pompidou, Ismail Xavier Agosto 2001. O cinema brasileiro moderno' Em Revisao critica do cinema brasileiro, livto.pu- blicado em 1963, Glauber Rocha fz uma avaliagio do passado para legitimar 0 Cinema Novo no presente, «sclatecer seus prineipios. Como acontece com os lideres de rupruras, cle age como um inventor de tradigées. © novo movimento ceria seus antecedentes, responde uma histéria. Hi Humberto Mauro, & distancia, com seu cinema de poucos recursos feito em Cataguazes nos anos 20; ha Nelson Pereira dos Santos que inicia, nos anos 50, 0 cinema moderno no Brasil a partir do didlogo com 0 neo-realisma italiano ¢ com escritores brasileiro. ‘Ao lado de tais experiéncias positivas, hi a falencia da ‘Vera Cruz em meados dos anos 50, sinal de esgotamento das tentativas industriais. Ha mitos a destronar, baralhas a travar em defesa do “cinema de autor’, que Glauber qualifica de revolucionério, contra 0 dos “artesios”, funciondrios do comércio. O texto & de combate e deve abrir caminho entre os contemporaneos a machadadas, discriminar, Em 1973, Paulo Emilio Salles Gomes escreve 0 clissico ensaio, “Cinema: trajetéria no subdesenvolvimen- tc", onde far 0 balango do cinema brasileiro na histéria, disposto a revelar uma dinimica cultural de grande in- teresse porém sempre marcada pela mesma reposigio: a do subdesenvolvimento téenico-econémico. Acentuando os entraves criados pela condigio do pais, ele delineia os rovimentos mais expressvos, iniciativas de diferentes ge- 1agGes tanto mais bem-sucedidas quanto mais entenderam ‘© mecanismo da “situagio colonial”, esta que ele préprio descrevera em 1960 num artigo devastador que inspirara, entre outros, 0 jovem Glauber Rocha. Paulo Emilio, em 1973, destaca 0 Cinema Novo ¢ o Cinema Marginal como dois bons exemplos de criagéo na adversidade, mas lembra © quanto a comédia popular — a chanchada de 40 © 50 — também soube, a seu modo, lidar com 0 atraso econémico, encontrando uma férmula comunicativa do filme de baixo orgamento em conexio com 0 mercado. Se hi, portanto, na histéria do cinema brasileito, ssa reposigio dos impasses na_produgio, hé também um cesforco de continuidade que ele resalta, convocando todas as tendéncias a ter um lugar no proceso, de modo 2 desenhar as linhas mestras do que poderia se observar, liminarmente, como um sistema em movimento. Tal siscema, entendido como uma dinamica feita da relagio auror-obra-publico, nio estava em bom estado em 1973, 10 mas os exemplos de vitalidade, incluido 0 dos jovens ‘modernos, entio recente, alimentavam esperangas, embora a pritica dependesse de_providéncias vindas da esfera politica e do maior empenho dos formadores de opinizo, a quem afinal 0 texto se dirigia’ Dez. anos separam o texto de Glauber Rocha do de Paulo Emilio; entre um € outro, tivemos 0 apogeu do Cinema Novo ¢ suas corregSes de rumo em resposta a0 golpe militar de 1964, a produgéo dos filmes que pen- saram a ctise dos projetos politicos da esquerda, 0 desdobramento do debate cultural com a emergéncia, em 1968, do Tropicalismo e, em seguida, do Cinema Mar- ginal, eta proposta radical do final da década que explodiu no momento mais duro do regime militar ¢ se eclipsou, ‘como movimento de grupo, por asfxia econdr sura policial logo antes do balango histérico de Paulo Enilio. A diferenga de énfase entre os dois textos, 0 de 1963 ¢ o de 1973, diz bem da atmosfera que marca cada conjuntura. No inicio dos anos 60, Glauber podia ser polémico-revolucionsrio ¢ nao soar delirante, pois estava cfetivamente a encamar a forsa produrora de uma nova «ra no cinema brasileiro; em 1973, € 0 tom antiépico da reflexio do crtico em nome da continuidade da cinema- tografia que alcanga, como nenhum outro texto do inicio dos anos 70, um enorme impacto na cultura’. No Glauber ‘Rocha de 1963, a tOnica era a vontade de ruptura, @ par u do balango histérico: em Paulo Emilio, o que vale € um principio de continuidade englobante, a par do reconhe-

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