1) O recurso trata da legitimidade de um condomínio para pleitear indenização por danos morais sofridos por seus condôminos em decorrência de defeitos na construção de um prédio.
2) Duas construtoras recorreram alegando que o condomínio não tem legitimidade para isso.
3) A ministra relatora vai analisar se o condomínio pode ou não representar os condôminos nesse tipo de ação.
1) O recurso trata da legitimidade de um condomínio para pleitear indenização por danos morais sofridos por seus condôminos em decorrência de defeitos na construção de um prédio.
2) Duas construtoras recorreram alegando que o condomínio não tem legitimidade para isso.
3) A ministra relatora vai analisar se o condomínio pode ou não representar os condôminos nesse tipo de ação.
1) O recurso trata da legitimidade de um condomínio para pleitear indenização por danos morais sofridos por seus condôminos em decorrência de defeitos na construção de um prédio.
2) Duas construtoras recorreram alegando que o condomínio não tem legitimidade para isso.
3) A ministra relatora vai analisar se o condomínio pode ou não representar os condôminos nesse tipo de ação.
RECURSO ESPECIAL N 1.177.862 - RJ (2010/0018198-0)
RECORRENTE : PLARCON ENGENHARIA S/A ADVOGADO : JAYME RODRIGO DO VALE CUNTIN PEREZ E OUTRO(S) RECORRENTE : CAIXA DE PREVIDNCIA DOS FUNCIONRIOS DO BANCO DO BRASIL PREVI ADVOGADO : DEIVIS MARCON ANTUNES E OUTRO(S) RECORRIDO : CONDOMNIO DO EDIFCIO VERDES MARES ADVOGADO : DAURO FRANCISCO VILLELA SCHETTINO E OUTRO(S) RELATRIO A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relatora): Cuida-se de recurso especial interposto por PLARCON ENGENHARIA S/A, primeira recorrente e CAIXA DE PREVIDNCIA DOS FUNCIONRIOS DO BANCO DO BRASIL PREVI, segunda recorrente, ambos com fundamento nas alneas a e c do permissivo constitucional, contra acrdo proferido pelo TJ/RJ. Ao (e-STJ fls. 03/13): cominatria de obrigao de fazer, com pedido de antecipao dos efeitos da tutela, cumulada com pedido de indenizao por danos materiais e compensao por danos morais, ajuizada por CONDOMNIO DO EDIFCIO VERDES MARES em face das recorrentes, alegando, em sntese, que o prdio construdo pela primeira r, contratada pela segunda r, vem apresentando problemas, tais como defeitos na fachada, com desprendimento dos revestimentos, bem como infiltraes nas reas comuns e nas unidades autnomas, razo pela qual busca a condenao das rs reparao dos danos materiais e morais sofridos por seus condminos. Deferimento da Tutela Antecipada (e-STJ fls.853/854): o Juzo da 5 Vara Cvel do Foro Regional da Barra da Tijuca deferiu a antecipao dos efeitos da tutela para o fim de determinar que as rs iniciem as obras necessrias recuperao dos planos das fachadas do Condomnio-Autor, em cinco (5) dias, Documento: 15282304 - RELATRIO E VOTO - Site certificado Pgina 1 de 15
Superior Tribunal de Justia bem como para que confeccione as juntas de alvio. Sentena (e-STJ fls. 1.657/1.671): julgou parcialmente procedente o pedido inicial para: a) confirmar a tutela antecipada anteriormente deferida, sob pena de multa diria de R$5.000,00 (cinco mil reais) e condenar as rs, solidariamente, a: b) REEMBOLSAR o Condomnio-Autor com o valor das despesas que este efetivara com a elaborao dos laudos prvios, com o entelamento do prdio e contratao de empresa gerenciadora, tudo conforme os recibos juntados, devendo estes valores serem acrescidos de juros de 1% a.m., e atualizados monetariamente, a partir do dispndio; c) INDENIZAR o Condomnio-Autor pelos danos morais experimentos, fixando-se para tanto o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais); d) ARCAR com as custas judiciais e os honorrios advocatcios, os quais arbitro em 10% (dez por cento) sobre o valor da causa. Acrdo (e-STJ 1.873/1.881): o TJ/RJ, por unanimidade, DEU PROVIMENTO ao recurso de apelao interposto pelo CONDMINIO DO EDIFCIO VERDES MARES para condenar a r ao pagamento de indenizao no valor de R$ 2.000.000,00 (dois milhes de reais), por danos morais e pela desvalorizao das unidades imobilirias que integram o Condomnio e NEGOU PROVIMENTO ao apelo da PLARCON ENGENHARIA S.A. e da PREVI, nos termos do acrdo assim ementado: Civil. Consumidor. Responsabilidade civil. Dano moral. Dano material. Incorporao imobiliria. Construo. Defeito na obra. Hiptese dos autos em que se revela a ocorrncia de defeitos em obras que apresentaram infiltraes e inconsistncias na fachada do prdio. Solidariedade entre a construtora e a incorporadora que se define por fora das normas consumeristas que preveem responsabilidade objetiva. O cotejo entre a prova documental e pericial aponta no sentido de que houve manifesta desdia dos rus em dar soluo aos problemas que derivaram da m-execuo da obra, o que causou enorme constrangimento e desconforto a todos os moradores da edificao que, depois de vrios anos, ainda se encontram com o prdio coberto por telas plsticas para evitar que a queda de reboco e pastilhas cause danos a transeuntes. Sentena parcialmente reformada. Embargos de Declarao (e-STJ fls. 1.894/1.901): interpostos pela PREVI, foram rejeitados (e-STJ fls. 1.903/1.906). Documento: 15282304 - RELATRIO E VOTO - Site certificado Pgina 2 de 15
Superior Tribunal de Justia Recurso Especial da PLARCON (e-STJ fls. 1.909/1.941): interposto com fundamento das alneas a e c do art. 105 da CF/88, sustentando, alm de divergncia jurisprudencial no tocante legitimidade do condomnio para postular compensao pelos danos morais sofridos pelos condminos, a necessidade de reforma do acrdo proferido pelo TJ/RJ, por violao dos seguintes dispositivos de lei: (i) arts. 402, 884 e 885 do CC, ao argumento de que a indenizao pela desvalorizao dos imveis do condomnio incompatvel com a condenao consistente na realizao de obras de reforma no prdio, que trar ao prdio ao status quo ante. Alegam ainda que essa circunstncia ocasionar evidente enriquecimento sem causa por parte do condomnio. (ii) art 20 do CDC, porquanto o autor deve escolher entre pleitear a reexecuo das obras e a indenizao por perdas e danos, jamais lhe sendo permitido cumular tais pedidos (e-STJ fl. 1.919); (iii) arts. 22, 1, a, da Lei 4.591/64, 1.348, II, do CC e 3 e 6 do CPC, haja vista que o condomnio no possui legitimidade para postular compensao pelos danos morais sofridos pelos condminos e reparao relativa desvalorizao das unidades que afeta o patrimnio de cada condmino individualmente, e no de todo o condomnio , pois sua representao se restringe defesa de interesses comuns, no lhe sendo permitido demandar em juzo por direito alheio; (iv) art. 944, pargrafo nico, do CC, porque o quantum fixado a ttulo de compensao por danos morais mostra-se exorbitante e em dissonncia com os princpios da razoabilidade e da proporcionalidade. Recurso especial da PREVI (e-STJ fls. 1.960/1.981): aponta, alm de divergncia jurisprudencial, ofensa aos seguintes dispositivos de lei: (i) arts. 535, II, 458, II e 515, 1, do CPC, por negativa de prestao jurisdicional; Documento: 15282304 - RELATRIO E VOTO - Site certificado Pgina 3 de 15
Superior Tribunal de Justia (ii) arts. 3 e 6 do CPC e 22, 1, a, da Lei 4.591/64, haja vista que no se vislumbra na legislao vigente dispositivo que preveja a legitimidade do Condomnio para representar condminos no que tange defesa dos direitos de personalidade (e-STJ fl. 1.972). Juzo de admissibilidade (e-STJ fls. 2.089/2.101): apresentada as contrarrazes (e-STJ fl. 365/370), ambos os recursos no foram admitidos na origem. Dei, no entanto, provimento aos agravos de instrumento (Ag 1.192.491/RJ e Ag 1.152.597/RJ), para melhor anlise da controvrsia. o relatrio.
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Superior Tribunal de Justia
RECURSO ESPECIAL N 1.177.862 - RJ (2010/0018198-0)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI RECORRENTE : PLARCON ENGENHARIA S/A ADVOGADO : JAYME RODRIGO DO VALE CUNTIN PEREZ E OUTRO(S) RECORRENTE : CAIXA DE PREVIDNCIA DOS FUNCIONRIOS DO BANCO DO BRASIL PREVI ADVOGADO : DEIVIS MARCON ANTUNES E OUTRO(S) RECORRIDO : CONDOMNIO DO EDIFCIO VERDES MARES ADVOGADO : DAURO FRANCISCO VILLELA SCHETTINO E OUTRO(S) VOTO A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relatora): I Da delimitao da controvrsia Cinge-se a controvrsia a determinar se o condomnio possui legitimidade para postular em juzo reparao por danos morais sofridos pelos condminos. O TJ/RJ reformou a sentena para condenar as rs ao pagamento de R$ 2.000.000,00 (dois milhes de reais), valor a compensar os danos morais sofridos pelos condminos e indeniz-los pela desvalorizao das unidades imobilirias que integram o Condomnio (e-STJ fl. 1.880). Ambos os recursos pleiteiam o reconhecimento da ilegitimidade do condomnio recorrido para pleitear, em nome dos condminos, compensao por dano moral.
II Da admissibilidade do recurso No recurso especial da PREVI, a recorrente alega que foram violados, pela deciso atacada, os arts. 3, 6, 458, II, 515, 1, 535, II, do CPC, art. 1.348 do CC e art. 22 da Lei 4.591/64. A recorrente PLARCON, por sua vez, traz seu recurso especial amparado na alegao de ofensa aos arts. 402, 884, 885, Documento: 15282304 - RELATRIO E VOTO - Site certificado Pgina 5 de 15
Superior Tribunal de Justia 944, pargrafo nico, 1.348, II, do CC, art. 20 do CDC, art. 22, 1, a, da Lei 4.591/64 e arts. 3 e 6 do CPC. Contudo, todos esses dispositivos de lei, com exceo do art. 3 do CPC, podem ser, de plano, excludos da discusso, pois no foram abordados de maneira expressa pelo Tribunal de origem, a despeito da oposio de embargos declaratrios pela PREVI. Assim, ausente o requisitos do prequestionamento, incide quanto a eles o bice da Smula 211/STJ. As recorrentes apontam ainda divergncia jurisprudencial no tocante questo da legitimidade do condomnio para pleitear reparao pelos danos morais sofridos pelos seus condminos. H a meno, por ambas, de um paradigma semelhante, qual seja, a Apelao Cvel n 1.0024.06.995391-7/001(1) (TJ/MG, 4 Cmara Cvel, Rel. Des. Moreira Diniz, j. em 18/10/2007). Em hiptese de contornos fticos extremamente semelhantes ao presente, o TJ/MG entendeu que o Condomnio no tem legitimidade para pleitear indenizao por danos sofridos pelos moradores de cada uma das unidades autnomas do Edifcio. O dissdio est bem demonstrado, pois ambos os recursos preocuparam-se em aproximar as hipteses fticas, fazendo o cotejo entre referidas decises. Assim, nesse ponto, o recurso especial rene os requisitos de admissibilidade. Admite-se, portanto, os dois recursos especiais amparados na alegao de divergncia jurisprudencial e de ofensa ao art. 3 do CPC. III A soluo da controvrsia.
III.a. Da questo veiculada somente no recurso especial da PREVI: Da negativa de prestao jurisdicional (Violao do art. 535 do CPC) Documento: 15282304 - RELATRIO E VOTO - Site certificado Pgina 6 de 15
Superior Tribunal de Justia Segundo alega a recorrente, o TJ/RJ, ao rejeitar os embargos de declarao, teria deixado de sanar omisso existente no acrdo que julgou a apelao, consistente na ausncia de manifestao acerca de dois pontos: (i) ausncia de nexo causal entre a conduta e o dano; e (ii) a ilegitimidade do condomnio para pleitear compensao por danos morais. Entretanto, da anlise do acrdo recorrido, do qual se extraem os seguintes excertos, verifica-se ter o TJ/RJ se manifestado expressamente acerca dessas duas questes: Os condminos, em assembleia geral extraordinria, decidiram que deveriam buscar as vias judiciais para pleitear as respectivas indenizaes e, no caso concreto, seria temerrio concluir pela ilegitimidade ativa do condomnio porque o prdio tem aproximadamente 200 unidades residenciais. Reconhecer a ilegitimidade do condomnio seria o mesmo que decretar a perda do direito indenizatrio dos condminos, ds seria praticamente invivel a propositura de uma ao com cerca de 200 autores. Por outro lado, se cada um dos condminos tivesse proposto aes indenizatrias individuais, com toda certeza haveria por parte do Judicirio decises discrepantes, no apenas quanto aos valores de indenizao por dano moral e pelo dano material derivado da desvalorizao, mas, tambm, possivelmente quanto ao mrito das pretenses, e esta uma situao que deve ser evitada a todo custo porque causa enorme desprestgio Justia. (e-STJ fl. 187) O Perito elaborou laudo minucioso, abordando todos os pontos relevantes para o desfecho da lide naquilo que concerne aos seus aspectos tcnicos. Asseverou, de forma categrica, que houve defeito na prestao de servio por parte da construtora que, a par de sua responsabilidade objetiva, pode ser considerada culpada pela ocorrncia de defeitos apresentados na fachada no prdio e, bem assim, quanto s infiltraes da garagem. No mais, o louvado trouxe adicionais esclarecimentos em depoimento prestado s fls. 1.563/1.566, resultando clara no apenas a ocorrncia dos danos fsicos apontados na petio inicial como tambm as provveis causas dos danos (fls. 1.832/1.833). (e-STJ fls. 1.875/1.876) O no acolhimento das teses contidas no recurso no implica obscuridade, contradio ou omisso, pois ao julgador cabe apreciar a questo conforme o que ele entender relevante lide. O Tribunal no est obrigado a Documento: 15282304 - RELATRIO E VOTO - Site certificado Pgina 7 de 15
Superior Tribunal de Justia julgar a questo posta a seu exame nos termos pleiteados pelas partes, mas sim com o seu livre convencimento, consoante dispe o art. 131 do CPC. Por outro lado, pacfico o entendimento no STJ de que os embargos declaratrios, mesmo quando manejados com o propsito de prequestionamento, so inadmissveis se a deciso embargada no ostentar qualquer dos vcios que autorizariam a sua interposio. Confiram-se, nesse sentido, os seguintes precedentes: AgRg no Ag 680.045/MG, 5 Turma, Rel. Min. Flix Fischer, DJ de 03.10.2005; EDcl no AgRg no REsp 647.747/RS, 4 Turma, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, DJ de 09.05.2005; EDcl no MS 11.038/DF, 1 Seo, Rel. Min. Joo Otvio de Noronha, DJ de 12.02.2007. Constata-se, em verdade, o inconformismo da recorrente e a tentativa de emprestar aos embargos de declarao efeitos infringentes, o que no se mostra vivel no contexto do art. 535 do CPC. Dessa forma, correta a rejeio dos embargos de declarao, posto inexistir omisso a ser sanada e, por conseguinte, ausncia de ofensa ao art. 535 do CPC. III.b. Da matria comum a ambos os recursos: compensao por danos morais sofridos pelos condminos. Da ilegitimidade do condomnio para postular em juzo (Violao do art. 3 do CPC e dissdio jurisprudencial) As recorrentes sustentam, em sntese, que, em razo da ausncia de previso legal e da natureza personalssima do dano moral, o condomnio seria parte ilegtima para pleitear compensao pelos danos extrapatrimoniais sofridos pelos condminos, decorrentes do desgaste psicolgico que os prolongados defeitos de construo do prdio em que residem lhes causaram. O acrdo recorrido, por sua vez, no que concerne questo da Documento: 15282304 - RELATRIO E VOTO - Site certificado Pgina 8 de 15
Superior Tribunal de Justia legitimidade, assim consignou (e-STJ fls. 187): Os condminos, em assembleia geral extraordinria, decidiram que deveriam buscar as vias judiciais para pleitear as respectivas indenizaes e, no caso concreto, seria temerrio concluir pela ilegitimidade ativa do condomnio porque o prdio tem aproximadamente 200 unidades residenciais. Reconhecer a ilegitimidade do condomnio seria o mesmo que decretar a perda do direito indenizatrio dos condminos, ds (sic) seria praticamente invivel a propositura de uma ao com cerca de 200 autores. Por outro lado, se cada um dos condminos tivesse proposto aes indenizatrias individuais, com toda certeza haveria por parte do Judicirio decises discrepantes, no apenas quanto aos valores de indenizao por dano moral e pelo dano material derivado da desvalorizao, mas, tambm, possivelmente quanto ao mrito das pretenses, e esta uma situao que deve ser evitada a todo custo porque causa enorme desprestgio Justia. O cerne da controvrsia trazida pelo presente recurso especial , portanto, saber se o condomnio possui legitimidade ativa ad causam para pleitear em nome prprio compensao pelos danos morais sofridos pelos moradores de cada uma das unidades autnomas. Como cedio, para se obter o direito a uma sentena de mrito necessria a presena das condies da ao, quais sejam: legitimidade ad causam, interesse de agir e possibilidade jurdica do pedido. A falta de uma delas poder resultar na extino do processo sem resoluo do mrito por carncia de ao, com fundamento no art. 267, VI, do CPC. No que diz respeito legitimidade ad causam, esse instituto conceitua-se como a aptido atribuda a um sujeito para conduzir um processo em que se discute uma determinada relao jurdica. Para Arruda Alvim (Manual de Direito Processual Civil. Vol. I. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 423) a legitimatio ad causam seria, in verbis : A atribuio, pela lei ou pelo sistema, do direito de ao ao autor, possvel titular ativo de uma dada relao ou situao jurdica, bem como a sujeio do ru aos efeitos jurdico-processuais e materiais da sentena. Normalmente, no sistema do Cdigo, a legitimao para a causa do possvel titular do direito material. Pode-se dizer que as condies da ao tm a posio de um direito, mas no podem ser havidas propriamente como integrantes da categoria dos direitos; vale dizer, so consideradas como se Documento: 15282304 - RELATRIO E VOTO - Site certificado Pgina 9 de 15
Superior Tribunal de Justia direito fosse. A legitimidade ideia transitiva, isto , algum legtimo em funo de outrem; vale dizer, o perfil final da legitimidade exige a considerao do outro, ambos esses polos ligados a uma situao legitimante. A legitimidade para atuar como parte no processo, por possuir, em regra, vinculao com o direito material, conferida, na maioria das vezes, somente aos titulares da relao de direito material. O CPC contm, entretanto, raras excees nas quais a legitimidade decorre de situao exclusivamente processual (legitimidade extraordinria). Para esses casos o art. 6 do CPC exige autorizao expressa em lei. Nesse contexto, salutar o ensinamento de Humberto Theodoro Jnior (Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2008, p. 71/72), que, em favor da clareza, deve ser invocado quando comenta o dispositivo legal a que ora se alude, assim preleciona: (...) legitimados ao processo so os sujeitos da lide, isto , os titulares dos interesses em conflito. A legitimao ativa caber ao titular do interesse afirmado na pretenso, e a passiva ao titular do interesse que se ope ou resiste pretenso. De par com a legitimao ordinria , ou seja, a que decorre da posio ocupada pela parte como sujeito da lide, prev o direito processual, em casos excepcionais, a legitimao extraordinria , que consiste em permitir-se, em determinadas circunstncias, que a parte demande em nome prprio, mas na defesa de interesse alheio. Ressalte-se, porm, a excepcionalidade desses casos que, doutrinariamente, se denominam 'substituio processual', e que podem ocorrer, por exemplo, com o marido na defesa dos bens dotais da mulher, com o Ministrio Pblico na ao de acidente do trabalho, ou na ao civil de indenizao do dano ex delicto, quando a vtima pobre etc. A no ser, portanto, nas excees expressamente autorizadas, em lei, e ningum dado pleitear, em nome prprio, direito alheio (art. 6). Autorizao nesse sentido encontra-se, por exemplo, no art. 1.348, II, do CC, o qual prev que o condomnio, representado pelo sndico (art. 12, IX do CPC), deve promover, em juzo ou fora dele, a defesa dos interesses comuns. Igual previso pode se achar na Lei 4.591/64, ao estabelecer em seu art. 22, 1, a que compete ao sndico representar ativa e passivamente, o condomnio, em Documento: 15282304 - RELATRIO E VOTO - Site certificado Pgina 10 de 15
Superior Tribunal de Justia juzo ou fora dele, e praticar os atos de defesa dos interesses comuns, nos limites das atribuies conferidas por esta Lei ou pela Conveno. Acerca da natureza jurdica do condomnio, h de se consignar, para melhor anlise da controvrsia, que se trata de mera massa patrimonial, carente de personalidade jurdica de direito material. A legislao atribuiu ao condomnio, assim como a outros entes despersonalizados, como o esplio e a massa falida, capacidade para, em determinadas hipteses, ser parte no sentido processual. Por conseguinte, nos termos da Lei 4.591/64, o que se reconhece uma personalidade atpica do condomnio para, representado pelo sndico, propor demandas de interesse comum, como a ao de cobrana de encargos no pagos por determinado condmino ou a ao visando a reparao de danos materiais decorrentes de problemas constatados nas reas comuns. Nesses casos, patente sua legitimidade. Esta Corte, ademais, conferindo ao art. 6 do CPC interpretao extensiva, j decidiu, em mais de uma oportunidade, que o condomnio possui legitimidade ativa para pleitear, para alm da reparao de danos materiais por defeitos de construo ocorridos na rea comum dos prdios, tambm aqueles decorrentes de defeitos ocorridos na rea individual de cada unidade habitacional. Por oportuno, transcreve-se excerto do voto condutor proferido no julgamento do REsp 10.417/SP (3 Turma, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, DJ de 24/02/1992): Creio recomendar-se, entretanto, outra interpretao, que tenha em vista o estgio atual do pensamento jurdico e de nosso ordenamento positivo. (...) Nada de heterodoxo em reconhecer que a Lei 4.591/64 autoriza que o condomnio, representado pelo sndico, defenda o direito de todos, quando resultante de relaes comuns, entre si vinculadas, guardando a indispensvel homogeneidade. (...) No caos, o vnculo entre os direitos dos condminos particularmente intenso. Trata-se de demanda fundada em vcios na construo do edifcio de que resultaram danos, tanto para as partes comuns, quanto para as unidades autnomas. Nesse sentido, traz-se ainda colao os seguintes precedentes: Documento: 15282304 - RELATRIO E VOTO - Site certificado Pgina 11 de 15
Superior Tribunal de Justia DIREITOS CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. CONDOMINIO. DEFEITOS DE CONSTRUO. AREA COMUM. LEGITIMIDADE ATIVA. INTERESSES DOS CONDOMINIOS. IRRELEVANCIA. PRESCRIO. PRAZO. ENUNCIADO N. 194 DA SUMULA/STJ. INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGENEOS. SOLIDEZ E SEGURANA DO PREDIO. INTERPRETAO EXTENSIVA. LEIS 4.591/64 E 8.078/90 (CODIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR). PRECEDENTES. RECURSO DESACOLHIDO. I- O CONDOMINIO TEM LEGITIMIDADE ATIVA PARA PLEITEAR REPARAO DE DANOS POR DEFEITOS DE CONSTRUO OCORRIDOS NA AREA COMUM DO EDIFICIO, BEM COMO NA AREA INDIVIDUAL DE CADA UNIDADE HABITACIONAL, PODENDO DEFENDER TANTO OS INTERESSES COLETIVOS QUANTO INDIVIDUAIS HOMOGENEOS DOS MORADORES. II- VERIFICADO O DEFEITO DE CONSTRUO NO PRAZO DE GARANTIA A QUE ALUDE O ART. 1.245 DO CODIGO CIVIL, TEM A PARTE INTERESSADA VINTE ANOS PARA AFORAR A DEMANDA DE REPARAO DE DANOS (ENUNCIADO N. 194 DA SUMULA/STJ). III- A "SOLIDEZ" E A "SEGURANA" A QUE SE REFERE O ART. 1.245 DO CODIGO CIVIL NO RETRATAM SIMPLESMENTE O PERIGO DE DESMORONAMENTO DO PREDIO, CABENDO A RESPONSABILIDADE DO CONSTRUTOR NOS CASOS EM QUE OS DEFEITOS POSSAM COMPROMETER A CONSTRUO E TORNA-LA, AINDA QUE NUM FUTURO MEDIATO, PERIGOSA, COMO OCORRE COM RACHADURAS E INFILTRAES. (REsp 66.565/MG, 4 Turma, Rel. Min. Slvio de Figueiredo Teixeira, DJ de 24/11/1997) 1 - Condminos - Representao pelo condomnio, por meio do sndico. Demanda visando a reparao de vcios na construo de que resultaram danos nas partes comuns e nas unidades autnomas. Legitimidade do condomnio para pleitear indenizao por uns e outros. Interpretao da expresso "interesses comuns" contida no artigo 22 1, "a" da Lei 4.591/64. (REsp 178.817/MG, 3 Turma, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, DJ de 03/04/2000). CONDOMNIO. DANOS HAVIDOS EM PARTES COMUNS E NAS UNIDADES AUTNOMIAS. LEGITIMIDADE DO SNDICO. - O Condomnio, representado pelo Sndico, parte legtima para pleitear a reparao dos danos havidos nas partes comuns e nas unidades autnomas do edifcio. Inteligncia do art. 22, 1, "a", da Lei n 4.591, de 16.12.64. Precedentes. Recurso especial no conhecido. (REsp 198.511/RJ, 4 Turma, Rel. Min. Barros Monteiro, DJ de 11/12/2000). Na hiptese dos autos, contudo, o condomnio objetiva firmar sua Documento: 15282304 - RELATRIO E VOTO - Site certificado Pgina 12 de 15
Superior Tribunal de Justia legitimidade para postular em juzo reparao, em nome dos condminos, por alegadas ofensas morais que esses teriam sofrido. Trata-se, assim, de parte postulando, em nome prprio, direito alheio, o que, na letra da lei processual civil e da doutrina, necessita de expressa autorizao legal. Todavia, o diploma civil e a Lei 4.591/64, que dispe sobre o condomnio em edificaes e as incorporaes imobilirias, no preveem a legitimao extraordinria do condomnio para, representado pelo sndico, atuar como parte processual em demanda que postule a compensao dos danos extrapatrimoniais sofridos pelos condminos, proprietrios de cada frao ideal. A ausncia de previso legal nesse sentido coaduna com a prpria natureza personalssima do dano extrapatrimonial, que diz respeito ao foro ntimo do ofendido, o qual, em regra, o nico legitimado para buscar em juzo a reparao. Por se caracterizar como ofensa honra subjetiva do ser humano, o dano moral sofrido por cada condmino desse edifcio de 200 apartamentos pode possuir dimenso distinta, no se justificando um tratamento homogneo. Assim, a ttulo exemplificativo, no h como se negar que integrantes de ncleos familiares que no possuam crianas no iro sofrer qualquer dissabor ante a impossibilidade de se utilizar o playground ou que algum condmino que resida nesse imvel somente nas frias o que no raro tratando-se de imvel em cidade litornea no ter o mesmo desgaste psicolgico daquele morador que tem nele sua residncia permanente. E mais, no se olvide que podem existir apartamentos os quais, durante o perodo em que ocorreu o evento, estavam desocupados, no se podendo, nesses casos, vislumbrar-se dano moral ao seu proprietrio. Dessa forma, considerando-se a ausncia de previso legal e a natureza personalssima do dano extrapatrimonial, no h como se reconhecer ao condomnio legitimidade ativa ad causam para buscar a compensao pela ofensa moral sofrida pelos condminos, sendo, por essa mesma razo, irrelevante o fato Documento: 15282304 - RELATRIO E VOTO - Site certificado Pgina 13 de 15
Superior Tribunal de Justia de a assembleia ter conferido autorizao nesse sentido. Esta colenda Turma, no julgamento do AgRg no REsp 783.360/SP (Rel. Min. Massami Uyeda, DJe de 12/11/2009) j teve a oportunidade de enfrentar caso semelhante, quando consignou no haver pertinncia temtica entre os direitos ora pleiteados em juzo pelo condomnio eventuais danos morais sofridos pelos condminos que presenciaram o crime ocorrido no condomnio e os limites e atribuies a ele conferidos pela Lei 4.591. Eis o teor da ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL - CONDOMNIO - ROUBO OCORRIDO EM EDIFCIO RESIDENCIAL - PEDIDO DE REPARAO DE DANOS MORAIS SOFRIDOS PELOS CONDMINOS - PROSSEGUIMENTO DA AO EM RELAO AOS DEMAIS AUTORES - INTERESSE RECURSAL DO CONDOMNIO - INEXISTNCIA, NA ESPCIE - ILEGITIMIDADE ATIVA CONCORRENTE DO CONDOMNIO PARA A PROPOSITURA DA AO - AUSNCIA DE PERTINNCIA TEMTICA, NECESSRIA CONFIGURAO DA POSSVEL LEGITIMIDADE CONCORRENTE AGRAVO IMPROVIDO. Assim, tendo o Tribunal de origem fixado o montante de R$ 2.000.000,00 (dois milhes de reais) a ttulo tanto de danos materiais pela desvalorizao do imvel, quanto dos danos morais, devem os autos retornarem ao TJ/RJ para que remova do quantum arbitrado a verba reparatria dos danos extrapatrimoniais. Forte nessas razes, CONHEO EM PARTE do recurso especial da PLARCON ENGENHARIA S/A e do recurso especial da CAIXA DE PREVIDNCIA DOS FUNCIONRIOS DO BANCO DO BRASIL - PREVI, e nessa parte DOU-LHES PROVIMENTO para: (i) reconhecer a ilegitimidade ativa ad causam do condomnio recorrido para postular a reparao pelos danos extrapatrimoniais sofridos pelos condminos; e (ii) determinar que a liquidao da condenao pelos danos patrimoniais, para a fixao do quantum relativo Documento: 15282304 - RELATRIO E VOTO - Site certificado Pgina 14 de 15
Superior Tribunal de Justia desvalorizao das unidades habitacionais, seja realizada por arbitramento. Mantida a sucumbncia na forma como disposta pelas instncias ordinrias. como voto. Documento: 15282304 - RELATRIO E VOTO - Site certificado Pgina 15 de 15