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Acção de Formação: Bibliotecas Escolares – Modelo de Auto-Avaliação

3ª Sessão - Tarefa 2 (1ª parte):

Análise crítica ao Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares

O programa Rede de Bibliotecas Escolares (RBE) desenvolveu um modelo de avaliação para as bibliotecas escolares que pretende
proporcionar às escolas/bibliotecas um instrumento que, por um lado, identifique as áreas de sucesso e, por outro lado, permita
assinalar resultados menos conseguidos que requeiram maior investimento, ou até uma mudança das práticas instituídas
(Gabinete da Rede de Bibliotecas Escolares).

O Modelo de Auto-Avaliação da BE enquadra-se numa política prospectiva generalizada de desenvolvimento das


BEs, que permita ao Programa RBE tomadas de decisões perante o poder político.
Foi inspirado no modelo de auto-avaliação utilizado pelas escolas inglesas, e resultou também do registo e do
confronto de práticas existentes noutros sistemas de ensino e da análise da realidade educativa portuguesa.

O grande objectivo da sua implementação é a garantia de que o investimento feito pela RBE nos últimos anos dê
frutos, com a consolidação da noção do valor das bibliotecas escolares no sucesso educativo dos alunos.

O Modelo enquanto instrumento pedagógico e de melhoria. Conceitos implicados.

Os principais conceitos subjacentes ao modelo são:


 Noção de Valor – a auto-avaliação da BE deve enfatizar o valor acrescido que traz aos seus utilizadores, a
nível geral das aprendizagens e das competências que estes devem possuir para garantir o seu sucesso, não
só como alunos, mas como cidadãos inseridos numa sociedade democrática. A BE, como qualquer
organização, só poderá ter valor, e vê-lo reconhecido por toda a comunidade escolar, pelo impacto que tem
nos seus utilizadores.
 Auto-avaliação: o conceito de auto-avaliação não deve ser entendido como um fim, mas como um processo
pedagógico e regulador, com alguma flexibilidade, inerente à gestão e à procura de melhorias contínuas. Um
processo que tem de facultar informação de qualidade, capaz de apoiar decisões num processo contínuo de
busca das melhores práticas. School librarianship derives its mandate from a diverse body of theoretical and
empirical knowledge, and active engagement with this knowledge is what enables the profession to
continuously transform and improve. (TODD:2008)
 Auto-avaliação de resultados: este processo centra-se nos resultados que a BE alcança, e não nos processos
que inicia, ou seja, no impacto qualitativo que as suas actividades têm nas aprendizagens e no sucesso
educativo. Ao contrário do que tem sido feito, importa avaliar o efeito qualitativo e não o quantitativo da BE.

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It asks school librarians to take action, to engage in local initiatives, rather than simply keeping track of the
number of books that are checked out. (TODD:2008)
 Prática baseada em evidências (EBP): conceito transversal a todo o modelo, tem por base a contínua e
sistemática recolha de evidências (de tipologia diversa), que fornecerão informação consistente sobre a
qualidade do trabalho realizado pela e na BE. No Modelo de Auto-Avaliação de Bibliotecas Escolares
encontram-se, em todos os domínios e indicadores, sugestões de evidências, para que o PB possa, logo em
fase de iniciação do projecto prever o tipo de metodologia a seguir para cada uma das actividades
preconizadas.
 Práticas de pesquisa-acção (Inquiry-based practices): metodologia, baseada na pesquisa, que assenta no
seguinte processo: identificação do problema, recolha de evidências, avaliação e interpretação das
evidências recolhidas, preconização e implementação de acções/estratégias futuras. Este é a metodologia
preconizada pelo modelo: de forma contínua e sistemática, por um período de quatro anos, o PB irá avaliar
cada um dos domínios presentes, para estabelecer relações entre os processos que implementa e o impacto
ou valor que estes originam.

Pertinência da existência de um Modelo de Avaliação para as bibliotecas escolares.

How can we ensure that students learn essential information skills? How can we partner with teachers to provide
meaningful learning opportunities? How can we ensure that school librarians are central players in our schools?
(EISENBERG & MILLER:2002)
A existência de um documento como o Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares assenta em duas
dimensões:

 Nacional: regulação das práticas de todas as BEs, documento padrão que permite à RBE, ME e ao país em
geral aferir objectiva e globalmente a qualidade dos serviços prestados e, ao mesmo tempo, adquirir uma
visão panorâmica da realidade.
 Local: aferição pedagógica do impacto das práticas da BE, que permite aos DE, CPs e PBs identificar as áreas
de sucesso e as problemáticas do trabalho desenvolvido pela BE, e orientar a preconização de estratégias e
acções futuras, numa procura de melhoria e qualidade dos serviços prestados aos alunos.

Por outro lado, só através da informação factual do impacto da BE na aprendizagem dos alunos será possível validar
o trabalho desenvolvido pelo PB, a própria existência do cargo recentemente criado pela Portaria 756/2009 de 14 de
Julho e todo o investimento efectuado pela RBE nos últimos anos; If we do not show value, we will not have a future.
(TODD:2008)

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Organização estrutural e funcional. Adequação e constrangimentos .

O modelo de auto-avaliação da BE está organizado em quatro domínios fundamentais e respectivos


subdomínios, que elencam áreas que servem ao cumprimento da missão da BE, a saber:
A. Apoio ao Desenvolvimento Curricular
A.1 Articulação curricular da BE com as estruturas pedagógicas e os docentes
A.2 Desenvolvimento da literacia da informação
B. Leitura e Literacias
C. Projectos, Parcerias e actividades livres e de abertura à comunidade
C.1 Apoio a actividades livres, extra-curriculares e de enriquecimento curricular
C.2 Projectos e parcerias
D. Gestão da Biblioteca Escolar
D.1 Articulação da BE com a Escola/Agrupamento. Acesso e serviços prestados pela BE
D.2 Condições humanas e materiais para a prestação dos serviços
D.3 Gestão da colecção
Os domínios e subdomínios são apresentados num quadro juntamente com um conjunto de indicadores temáticos
que se concretizam em diversos factores críticos de sucesso. Os indicadores apontam para as zonas nucleares de
intervenção em cada domínio e permitem a aplicação de elementos de medição – evidências - que irão possibilitar
uma apreciação sobre a qualidade da BE.
O modelo apresenta, ainda, um conjunto de exemplos de factores críticos de sucesso para tornar os modos de
concretização do indicador mais claros. Para cada indicador são ainda apontados possíveis instrumentos de recolha
de evidências.
Além disso, para cada indicador são sugeridas acções a implementar caso a BE necessite de reajustamentos no seu
desempenho nesse campo específico – aqui é realçada a dimensão formativa do documento.
Assim, o documento está organizado de forma clara, orientando, de forma consistente, a acção do PB na sua
implementação. Trata-se ainda de um documento flexível que prevê adequação às realidades específicas de cada
escola.

Apesar das qualidades inerentes ao documento, ele aparenta criar alguns constrangimentos na sua aplicação que, no
meu entender, se prenderão principalmente com o nível de excelência para o qual este aponta. O PB pode cair em
risco de centrar toda a sua atenção na implementação do modelo e no alcance do nível de excelência do(s)
domínio(s) que se propôs avaliar, relegando os restantes para segundo plano; a recolha de evidências e respectivo
tratamento poderão tornar-se uma tarefa exaustiva., e levarão a um consequente gasto de tempo excessivo, algo
com que todos os PB já têm que lidar, mesmo sem a aplicação do referido modelo. Para ultrapassar este
constrangimento, Ross Todd sublinha a necessidade de o PB possuir visão estratégica na sua liderança da BE.

EBP (…) is about establishing priorities and making choices based on your beliefs about the importance of school
libraries and learning. (TODD:2008)
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Integração/ Aplicação à realidade da escola.

A integração do modelo de auto-avaliação da BE na Escola apresenta-se ao PB e respectiva equipa como um dos


maiores desafios, já que será necessária a delineação de uma estratégia de intervenção conducente à mobilização da
Escola para a pertinência do processo e respectiva implementação. Sem os diferentes órgãos escolares - Direcção,
Conselho Pedagógico, Departamentos e professores – mobilizados e motivados para a importância da auto-avaliação
da BE, esta iniciativa estará votada ao fracasso.
A aplicação do modelo tem de estar integrada no Plano Anual de Actividades da BE, e deverá estar também em
comunhão com o planeamento de toda a actividade escolar e lectiva, todos os elementos da escola trabalham para a
concretização do mesmo objectivo - alcançar o sucesso educativo dos alunos. Para que tal aconteça, o envolvimento
de todos os elementos da comunidade é essencial. A participação do PB nas várias estruturas pedagógicas da escola
oferece a oportunidade de informar e envolver todos os elementos referidos no processo de planeamento e
avaliação da BE; só assim será possível integrar factores variáveis - ambiente interno e externo, prioridades e
estratégias de ensino/ aprendizagem da escola – neste processo.
Deve ser claro para toda a escola que a auto-avaliação da BE deverá estar ligada ao processo de auto-
avaliação da escola, dado que se trata de uma estrutura da própria escola. Consequentemente, a implementação do
modelo de auto-avaliação da BE não poderá ser da responsabilidade única do PB, mas deve tratar-se sim de uma co-
responsabilização de todos e em todas as fases do processo.

Competências do professor bibliotecário e estratégias implicadas na sua aplicação.

Para uma implementação bem sucedida do Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares, o PB terá de possuir
competências diversificadas e socorrer-se de estratégias de mobilização e de planificação estratégica de todo o
processo. O conhecimento antecipado do modelo e a formação na sua concretização poderão ser mais-valias
evidentes aquando da implementação do mesmo. Será também essencial a motivação do PB pois, tal como foi
referido anteriormente, este será o pólo unificador e mobilizador de todo este processo.
Entre outras já referidas anteriormente, as competências abaixo mencionadas podem revelar-se essenciais a uma
implementação bem sucedida do modelo em questão:

 Visão clara e objectiva do processo que pretende implementar, para que tarefas paralelas não o desviem do
objectivo principal;
 Liderança estratégica (purposeful leadership) para que se antecipem problemas/resistências ao processo e
respectivas estratégias de superação;
 Comunicação sendo o pólo dinamizador deste processo é essencial que leve toda a escola a empenhar-se na
aplicação do modelo;
 Flexibilidade e capacidade de resposta para proceder a mudanças/ reajustamentos imperativos à
concretização do modelo.

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Bibliografia

Bibliotecas Escolares: Modelo de Auto-avaliação. Gabinete da Rede de Bibliotecas.Escolares.Lisboa: Ministério da


Educação, 2008.

Todd, Ross (2002). “School librarian as teachers: learning outcomes and evidence-based practice”. 68th IFLA
Council and General Conference August. http://www.ifla.org/IV/ifla68/papers/084-119e.pdf [6/11/2009].

Todd, Ross (2008). “The Evidence-Based Manifesto for School Librarians”. School Library Journal.
http://www.schoollibraryjournal.com/article/CA6545434.html [6/11/2009].

Eisenberg, Michael & Miller, Danielle (2002) “This man wants to change your job”, School Library Journal. 9/1/2002
http:www.schoollibraryjournal.com/article/CA240047.html> [6/10/2009].

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