You are on page 1of 7

Análise Crítica ao Modelo de Auto-avaliação das Bibliotecas Escolares

SESSÃO 3 – TAREFA 1

“Avaliar é uma acção corriqueira e espontânea, realizada por


qualquer indivíduo acerca de qualquer actividade humana. É um instrumento
fundamental para conhecer, compreender, aperfeiçoar e orientar as acções do
indivíduo ou grupo.” (BELLONI, Isaura)

“De que forma podemos ter a certeza de que os Professores Bibliotecários


constituem peças fundamentais nas nossas escolas?” Esta é uma das questões
reflexivas que introduzem o artigo de Mike Eisenberg, “This man wants to change your
Job”. A resposta, quanto a ela, aparece com naturalidade: avaliando o trabalho que
realizam e o impacto que as BEs que dirigem têm nas aprendizagens dos alunos.
É, hoje em dia, consensual a visão da Biblioteca Escolar como um lugar, não
onde se arrumam livros e se procura informação diversa, mas como um espaço onde
se constroem conhecimentos – que definem o verdadeiro poder – e se desenvolvem
literacias indispensáveis na construção do sucesso educativo dos alunos. Como afirma
Eisenberg, “Reading proficiency is widely recognized as the number-one predictor of
student success.” Os professores bibliotecários, que devem trabalhar em continua
colaboração com os membros da comunidade educativa em que desenvolvem as suas
actividades, têm, assim, de ter a capacidade de planificar, executar e avaliar, numa
dinâmica constante e circular. É, neste contexto, que aparece o conceito de Auto-
Avaliação.

O Modelo de Autoavaliação enquanto instrumento pedagógico e de


melhoria. Conceitos implicados.

Segundo o Gabinete RBE, “A auto-avaliação da biblioteca escolar é um


conjunto de processos internos que permite aferir a qualidade e o impacto da
biblioteca na escola. No caso das bibliotecas escolares portuguesas, o documento que
orienta esse processo e disponibiliza os instrumentos a aplicar é o Modelo de Auto-
Avaliação da Biblioteca Escolar.”
De facto, tendo em conta alguns desafios e fraquezas que verificámos
existirem nas BEs que dirigimos, e para os quais a literatura lida aponta, assim como a
missão que aferimos ser fundamental para as Bibliotecas do século XXI – formar
leitores, construir aprendizagens, desenvolver literacias -, a necessidade que as BEs
têm, hoje em dia, de marcar a diferença nas escolas que servem e de provar o

Formanda: Maria Celeste Nunes 1


Análise Crítica ao Modelo de Auto-avaliação das Bibliotecas Escolares
SESSÃO 3 – TAREFA 1

impacto que têm nas aprendizagens afigura-se, também, como uma prioridade. O
modelo de Auto-Avaliação, ao apontar para áreas mais fracas em que o trabalho se
deverá processar com maior afinco, surge, dessa forma, como um processo
pedagógico regulador, que não só permite uma melhoria contínua da BE como
também valoriza o impacto que tem na comunidade escolar em que se realiza. 2

Como refere o Modelo da Auto-Avaliação apresentado, “Neste sentido, é


importante que cada escola conheça o impacto que as actividades realizadas pela e
com a BE vão tendo no processo de ensino e na aprendizagem, bem como o grau de
eficiência e de eficácia dos serviços prestados e de satisfação dos utilizadores da BE.
Esta análise, sendo igualmente um princípio de boa gestão e um instrumento
indispensável num plano de desenvolvimento, permite contribuir para a afirmação e
reconhecimento do papel da BE, permite determinar até que ponto a missão e os
objectivos estabelecidos para a BE estão ou não a ser alcançados, permite identificar
práticas que têm sucesso e que deverão continuar e permite identificar pontos fracos
que importa melhorar.”
De facto, ao permitir detectar as áreas problemáticas do trabalho realizado pela
BE, com a clara e objectiva identificação dos seus pontos fracos e fortes, o Modelo de
Auto-avaliação afigura-se como um excelente instrumento pedagógico e de melhoria
de orientação do trabalho central que o PB e a sua equipa terão de desenvolver no
contexto escolar em que se inserem. Como refere Cram, em “Six possible things
before breakfast”, “(…) libraries have no inherent objective value. Value is (subjectively)
assigned and is related to perception of actual or potential benefit.” A aplicação de um
Modelo de Auto-Avaliação – este ou outro – permitir-nos-á não só orientar de forma
mais dirigida o trabalho que desenvolvemos nas nossas BEs, estabelecer objectivos
realistas e a prazo, mas, e acima de tudo, instituir um processo que origina reflexão
sobre o valor do trabalho que estamos a desenvolver e nos permitirá, a partir daí,
originar mudanças, definir metas, estabelecer e coordenar políticas, analisar rumos a
seguir, identificar oportunidades e constrangimentos, diagnosticar áreas competitivas;
e proceder a uma vasta recolha de informação que validará o nosso papel e as acções
que desenvolvemos nas BEs das nossas escolas.

Em conclusão, o Modelo de Auto-Avaliação pode ser considerado um


instrumento pedagógico dado que: é através da sua aplicação que se torna possível
avaliar o trabalho da biblioteca escolar e o impacto desse trabalho no funcionamento
global da escola e nas aprendizagens dos alunos; permite identificar as áreas de
sucesso e as de menores resultados e proceder à consequente formulação de planos

Formanda: Maria Celeste Nunes 2


Análise Crítica ao Modelo de Auto-avaliação das Bibliotecas Escolares
SESSÃO 3 – TAREFA 1

de acção por forma a melhorar, de forma gradual e contínua, as áreas de actuação


com maiores fraquezas.
Por outro lado, o Modelo permite a melhoria das práticas ao apontar caminhos
e possibilitar o seu permanente ajustamento frente ao contexto escolar em que a
escola se insere. 3

Os conceitos implícitos neste modelo são:


- a noção de valor, relacionada com a produção de resultados;
- a melhoria contínua e as mudanças a originar;
- o quadro referencial que institui; as pistas que se apontam.

Pertinência da existência de um Modelo de Avaliação para Bibliotecas


Escolares.

Tal como referenciado, a missão central das BEs, no contexto da


Escola/Agrupamento em que se inserem, consiste em fazer a diferença ao permitir
uma melhoria contínua das aprendizagens dos alunos. Para que o seu papel seja
reconhecido e valorizado, há necessidade de procurar evidências relacionadas com o
impacto que as BEs têm nas escolas em que se inserem e os factores que se
assumem como críticos no seu desenvolvimento.
Dessa forma, a existência de um Modelo de Avaliação para Bibliotecas
Escolares afigura-se pertinente porque:
permite validar a actuação do PB, cujo papel nem sempre é reconhecido, e
o da BE que coordena;
dota as escolas e BEs de um quadro de referência e de um instrumento
que faculta a melhoria contínua da qualidade e a procura da inovação.
Assim, as BEs irão crescer e aperfeiçoar a sua actuação;
indica caminhos e metodologias a aplicar;
demonstra que as BEs são serviços centrais nas escolas e não periféricos;
aproxima em timing, objectivos, propriedades e estratégias as metas das
BEs das definidas pela Escola/Agrupamento.

É certo que as estatísticas, que o Modelo permite construir, e a avaliação que é


feita do desempenho e dos produtos que resultam das actividades desenvolvidas nas
várias áreas são dados extremamente úteis para uma gestão e organização da BE e
contribuem para acrescentar qualidade a esses espaços assim como auxiliam no

Formanda: Maria Celeste Nunes 3


Análise Crítica ao Modelo de Auto-avaliação das Bibliotecas Escolares
SESSÃO 3 – TAREFA 1

processo de decisão e fornecem dados para a realização de técnicas de


benchmarking que proporcionam a identificação e concretização de boas práticas. No
entanto, questiono-me se desligar a BE da escola, ao situá-la como um espaço central
na sua importância porém periférico na sua forma de funcionamento e de avaliação,
será, de facto, pertinente. 4

Poll descreve a avaliação do desempenho das BEs como sendo a colecção e


análise de dados que descreve o desempenho da biblioteca, isto é: “comparando o
que a biblioteca está a realizar (desempenho) com o que para ela significa realizar
(missão) e que quer alcançar (objectivos).” Com refere também Eisenberg, “When
describing their programs librarians frequently focus on the inputs when they should de
promoting the outputs.” Mas não será pedir demais ao PB? Frequentemente isolado na
sua BE, com equipas de reduzidas dimensões e tempo disponível para o trabalho na
BE, poderá o PB ter competência e, acima de tudo, tempo para planificar, executar,
avaliar e alterar práticas avaliadas como fracas, num processo contínuo e circular?

Organização estrutural e funcional. Adequação e constrangimentos.

O Modelo de Auto-Avaliação apresentado encontra as suas raízes num modelo


inglês e organiza-se em quatro domínios, considerados críticos numa BE efectiva e de
qualidade, e num conjunto de indicadores diferenciados. Os quatro domínios
compendiam a área de acção da biblioteca escolar:
 Domínio A – Apoio ao Desenvolvimento Curricular;
 Domínio B – Leitura e Literacia;
 Domínio C – Projectos, Parcerias e Actividades Livres e de Abertura à
Comunidade;
 Domínio D – Gestão da Biblioteca Escolar.
e dividem-se ainda em vários subdomínios, para os quais são apontados, de forma
clara e facilmente perceptível quer para as Direcções escolares quer para a
comunidade educativa no seu todo, indicadores, factores críticos de sucesso,
evidências e acções para a melhoria/exemplos.
Os quatro domínios assinalados podem-se finalmente agrupar em três áreas
chave:

 Integração na escola e no processo de ensino/ aprendizagem;

 Acesso. Qualidade da Colecção;

 Gestão da BE.

Formanda: Maria Celeste Nunes 4


Análise Crítica ao Modelo de Auto-avaliação das Bibliotecas Escolares
SESSÃO 3 – TAREFA 1

A metodologia utilizada será a “Evidence-Based Practice”, ou seja, a prática de


recolha sistemática de evidências, associada ao trabalho quotidiano da BE. Como
declara Ross Todd, “(…) school libraries need to systematically collect evidence (…).”

O Modelo apresentado parece-me adequado e pertinente, tendo a escola em 5

que lecciono e a BE de cuja equipa faço parte avaliado o domínio A no ano lectivo
passado sem que daí adviessem grandes constrangimentos, a não ser os que
decorrem da natural aplicação de um modelo com o qual ainda não se está
inteiramente familiarizado.

Integração/Aplicação à realidade da escola.

Ross Todd, no artigo “School Librarian as Teachers: Learning Outcomes and


Evidence-Based Practice”, afirma “This is suggesting that school librarians need to
engage actively in more carefully planned strategies that gather evidence about the
impact of their instructional role.”
Tendo a avaliação das BEs um valor estratégico para a escola, uma vez que
permite prestar contas e valorizar o trabalho que se desenvolve nas bibliotecas, a
integração/aplicação à realidade escolar far-se-á por etapas, com selecção de um
domínio a ser avaliado por ano. O ciclo completar-se-á ao fim de quatro anos, o que
corresponde aos quatro domínios estruturais. Para aplicar o modelo, será ainda
necessário conhecê-lo, percebê-lo e publicitá-lo no contexto escolar também. Assim,
tem de haver um período de leitura, formação e divulgação do Modelo na comunidade
escolar, com envolvimento de todas as partes. « As librarians, it's our job to ensure
that administrators, teachers, parents, and decision makers fully comprehend that
effective library programs are critical to boosting student learning and achievement. »
afirma Mike Eisenberg.
O processo de aplicação baseia-se nas seguintes fases, que perfazem um ciclo:
 identificação dos problemas ou desafios;
 recolha de evidências;
 interpretação das evidências recolhidas;
 realização das mudanças necessárias;
 recolha de novas evidências acerca do impacto dessas mudanças.
Os resultados obtidos devem ser divulgados na comunidade escolar e
discutidos em Conselho Pedagógico, caso contrário serão o apanágio de um reduzido

Formanda: Maria Celeste Nunes 5


Análise Crítica ao Modelo de Auto-avaliação das Bibliotecas Escolares
SESSÃO 3 – TAREFA 1

grupo de professores, e deverão servir para que novos rumos sejam delineados e
planos de acção sejam formulados e concretizados.

Os principais constrangimentos que verifico no processo prendem-se, por um


lado, com a adesão da comunidade escolar à implementação do Modelo e, por outro, 6
com a sua aplicabilidade. Sabemos que nem sempre é fácil o trabalho colaborativo e,
quando se trata da BE, cujo papel é, por vezes, marginalizado, as coisas pioram. A
situação agrava-se quando o vocábulo “Auto-Avaliação” remete para áreas delicadas
da nossa vida profissional – muitos serão os docentes que, ao preencher o
questionário fornecido, se sentirão, de alguma forma, também “avaliados”. Será
portanto tarefa árdua o reconhecimento do Modelo proposto por parte dos nossos
colegas assim como sua a participação na sua aplicação.
Por outro lado, o Modelo parece-me muito extensivo e tenho algumas reservas
quando à pertinência da sua aplicação faseada.
A literatura apresentada ainda menciona como ponto crítico a ocorrência de
pontos de intersecção com o modelo de avaliação geral da escola e a avaliação
externa.

Competências do Professor Bibliotecário e estratégias implicadas na sua


aplicação.

Segundo os textos sugeridos, o PB deverá apresentar as seguintes competências:


 ser um comunicador efectivo no seio da instituição;
 ser proactivo;
 saber exercer influência junto de professores e do órgão directivo;
 ser útil, relevante e considerado pelos outros membros da comunidade
educativa;
 ser observador e investigativo;
 ser capaz de ver o todo - “the big picture”;
 saber estabelecer prioridades;
 realizar uma abordagem construtiva aos problemas e à realidade;
 ser gestor de serviços de aprendizagem no seio da escola;
 saber gerir recursos no sentido lato do termo;
 ser promotor dos serviços e dos recursos;

Formanda: Maria Celeste Nunes 6


Análise Crítica ao Modelo de Auto-avaliação das Bibliotecas Escolares
SESSÃO 3 – TAREFA 1

 ser tutor, professor e um avaliador de recursos, com o objectivo de


apoiar e contribuir para as aprendizagens;
 saber gerir e avaliar de acordo com a missão e objectivos da escola;
 saber trabalhar com departamentos e colegas.
7

Roos Todd, assinala a forte capacidade de liderança que o PB deverá ter. Essa
liderança incluirá as seguintes dimensões: informed leadership – liderança ao nível da
informação (pessoal e transmitida) / purposeful leadership – liderança ao nível da
visão dos resultados e da missão da BE / strategic leadership – liderança ao nível das
acções a desenvolver no contexto escolar / collaborative leadership – liderança ao
nível da colaboração com a sua comunidade / creative leadership – liderança ao nível
da criação, da documentação / renewable leadership – liderança ao nível da
flexibilidade e adaptabilidade / sustainable leadership – liderança ao nível da
identificação do impacto da BE.
Mike eisenberg ainda reconhece que o PB só poderá mudar mentalidades e
formas de actuação se usar as seguintes estratégias:
 articular a sua visão e agenda com toda a comunidade educativa;
 for um bom estratega, optimista e flexível:
 comunicar continuamente e com todos, usando os mais diversos meios
e recursos ao seu alcance: relatórios, blogues, web sites, entre outros.

A visão tradicional da biblioteca como um local onde se guardam grandes


quantidades de livros e outros documentos já não é sinónima de qualidade. Hoje em
dia, as bibliotecas são “serviços de informação” e de “construção de conhecimentos” e
são por isso avaliadas em função dos serviços que prestam e não da dimensão das
suas colecções, ou seja, avalia-se o que a biblioteca faz e não o que a biblioteca tem.
É importante que os professores bibliotecários tenham/adquiram competências de
gestão de conhecimento e de informação mas também é fundamental que sejam
líderes na sua comunidade e visto como valorosos colaboradores – prefiro o termo
inglês, partner – na estruturação das aprendizagens dos alunos.
Apenas deixo aqui uma questão final, que me angustia: conseguiremos nós ser
tudo isso?

Formanda: Maria Celeste Nunes 7

You might also like