O documento trata de um recurso especial interposto pelo INSS contra decisão do TRF da 4a Região que reconheceu eficácia executiva a uma sentença declaratória que certificou o direito de crédito de um contribuinte que recolheu indevidamente tributos, permitindo que a repetição do indébito seja feita por meio de precatório, e não apenas por compensação tributária. O STJ negou provimento ao recurso, entendendo que as sentenças declaratórias podem ter eficácia executiva e que o contribu
O documento trata de um recurso especial interposto pelo INSS contra decisão do TRF da 4a Região que reconheceu eficácia executiva a uma sentença declaratória que certificou o direito de crédito de um contribuinte que recolheu indevidamente tributos, permitindo que a repetição do indébito seja feita por meio de precatório, e não apenas por compensação tributária. O STJ negou provimento ao recurso, entendendo que as sentenças declaratórias podem ter eficácia executiva e que o contribu
O documento trata de um recurso especial interposto pelo INSS contra decisão do TRF da 4a Região que reconheceu eficácia executiva a uma sentença declaratória que certificou o direito de crédito de um contribuinte que recolheu indevidamente tributos, permitindo que a repetição do indébito seja feita por meio de precatório, e não apenas por compensação tributária. O STJ negou provimento ao recurso, entendendo que as sentenças declaratórias podem ter eficácia executiva e que o contribu
RELATOR : MINISTRO TEORI ALBINO ZAVASCKI RECORRENTE : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS PROCURADOR : MILTON DRUMOND CARVALHO E OUTROS RECORRIDO : VARASQUIM E CIA. LTDA. ADVOGADO : ANGLICA SANSON ANDRADE EMENTA PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTRIO. VALORES INDEVIDAMENTE PAGOS A TTULO DE CONTRIBUIO PREVIDENCIRIA. SENTENA DECLARATRIA DO DIREITO DE CRDITO CONTRA A FAZENDA PARA FINS DE COMPENSAO. SUPERVENIENTE IMPOSSIBILIDADE DE COMPENSAR. EFICCIA EXECUTIVA DA SENTENA DECLARATRIA, PARA HAVER A REPETIO DO INDBITO POR MEIO DE PRECATRIO. 1. No atual estgio do sistema do processo civil brasileiro no h como insistir no dogma de que as sentenas declaratrias jamais tm eficcia executiva. O art. 4, pargrafo nico, do CPC considera "admissvel a ao declaratria ainda que tenha ocorrido a violao do direito", modificando, assim, o padro clssico da tutela puramente declaratria, que a tinha como tipicamente preventiva. Atualmente, portanto, o Cdigo d ensejo a que a sentena declaratria possa fazer juzo completo a respeito da existncia e do modo de ser da relao jurdica concreta. 2. Tem eficcia executiva a sentena declaratria que traz definio integral da norma jurdica individualizada. No h razo alguma, lgica ou jurdica, para submet-la, antes da execuo, a um segundo juzo de certificao, at porque a nova sentena no poderia chegar a resultado diferente do da anterior, sob pena de comprometimento da garantia da coisa julgada, assegurada constitucionalmente. E instaurar um processo de cognio sem oferecer s partes e ao juiz outra alternativa de resultado que no um, j prefixado, representaria atividade meramente burocrtica e desnecessria, que poderia receber qualquer outro qualificativo, menos o de jurisdicional. 3. A sentena declaratria que, para fins de compensao tributria, certifica o direito de crdito do contribuinte que recolheu indevidamente o tributo, contm juzo de certeza e de definio exaustiva a respeito de todos os elementos da relao jurdica questionada e, como tal, ttulo executivo para a ao visando satisfao, em dinheiro, do valor devido. 4. Recurso especial a que se nega provimento. ACRDO Vistos e relatados estes autos em que so partes as acima indicadas, decide a Documento: 454698 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJ: 25/02/2004 Pgina 1 de 12
Superior Tribunal de Justia Egrgia Primeira Turma do Superior Tribunal de Justia, por unanimidade, negar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Denise Arruda, Jos Delgado, Francisco Falco e Luiz Fux votaram com o Sr. Ministro Relator. Braslia, 10 de fevereiro de 2004. MINISTRO TEORI ALBINO ZAVASCKI Relator Documento: 454698 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJ: 25/02/2004 Pgina 2 de 12
Superior Tribunal de Justia RECURSO ESPECIAL N 588.202 - PR (2003/0169447-1)
RELATRIO O EXMO. SR. MINISTRO TEORI ALBINO ZAVASCKI (Relator): Trata-se de recurso especial (fls. 27-35) interposto pelo INSS com base nas alneas a e c do permissivo constitucional contra acrdo do TRF da 4 Regio cuja ementa a seguinte: "TRIBUTRIO. COMPENSAO. OPO ENTRE RESTITUIO E COMPENSAO. Embora o julgado exeqendo tenha se limitado a declarar o direito compensao, no resta inviabilizada a execuo por meio de precatrio, porquanto o 2 do art. 66 da Lei 8.383/91 j prev a faculdade de o contribuinte optar pelo pedido de restituio. Consistindo a compensao e a restituio em modalidades de execuo do julgado, pode a parte, detentora de ttulo judicial que declare o direito oriundo de pagamento indevido ou a maior de tributo, escolher entre a compensao e a restituio por meio de precatrio." (fls. 25). O recorrente aponta, alm de divergncia jurisprudencial, ofensa aos arts. 467, 610 e 743, II, do CPC, alegando, em sntese, que (a) viola a coisa julgada o deferimento de pedido de execuo por meio de precatrio de sentena em que se declarou direito compensao de tributos pagos indevidamente; (b) apesar de o art. 66 da Lei 8.383/91 permitir que a repetio do indbito se faa por meio de compensao ou de restituio, o contribuinte deve optar por uma das duas formas, j que se trata de pedidos incompatveis entre si. Refere deciso do TRF da 1 Regio no sentido da tese esposada. A recorrida, em contra-razes (fls. 42), pede o improvimento do recurso, com base nas seguintes alegaes: (a) embora o pedido formulado na ao de conhecimento tenha sido de repetio pela via da compensao, tal procedimento tornou-se desfavorvel exeqente, poca da propositura da execuo, em funo da exigidade dos valores devidos mensalmente ao INSS, estendendo por muitos anos a compensao; (b) a jurisprudncia do STJ favorvel ao decidido pelo TRF; (c) a repetio pela via do precatrio facilitar a fiscalizao por parte do INSS. o relatrio.
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Superior Tribunal de Justia RECURSO ESPECIAL N 588.202 - PR (2003/0169447-1)
EMENTA PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTRIO. VALORES INDEVIDAMENTE PAGOS A TTULO DE CONTRIBUIO PREVIDENCIRIA. SENTENA DECLARATRIA DO DIREITO DE CRDITO CONTRA A FAZENDA PARA FINS DE COMPENSAO. SUPERVENIENTE IMPOSSIBILIDADE DE COMPENSAR. EFICCIA EXECUTIVA DA SENTENA DECLARATRIA, PARA HAVER A REPETIO DO INDBITO POR MEIO DE PRECATRIO. 1. No atual estgio do sistema do processo civil brasileiro no h como insistir no dogma de que as sentenas declaratrias jamais tm eficcia executiva. O art. 4, pargrafo nico, do CPC considera "admissvel a ao declaratria ainda que tenha ocorrido a violao do direito", modificando, assim, o padro clssico da tutela puramente declaratria, que a tinha como tipicamente preventiva. Atualmente, portanto, o Cdigo d ensejo a que a sentena declaratria possa fazer juzo completo a respeito da existncia e do modo de ser da relao jurdica concreta. 2. Tem eficcia executiva a sentena declaratria que traz definio integral da norma jurdica individualizada. No h razo alguma, lgica ou jurdica, para submet-la, antes da execuo, a um segundo juzo de certificao, at porque a nova sentena no poderia chegar a resultado diferente do da anterior, sob pena de comprometimento da garantia da coisa julgada, assegurada constitucionalmente. E instaurar um processo de cognio sem oferecer s partes e ao juiz outra alternativa de resultado que no um, j prefixado, representaria atividade meramente burocrtica e desnecessria, que poderia receber qualquer outro qualificativo, menos o de jurisdicional. 3. A sentena declaratria que, para fins de compensao tributria, certifica o direito de crdito do contribuinte que recolheu indevidamente o tributo, contm juzo de certeza e de definio exaustiva a respeito de todos os elementos da relao jurdica questionada e, como tal, ttulo executivo para a ao visando satisfao, em dinheiro, do valor devido. 4. Recurso especial a que se nega provimento. VOTO O EXMO. SR. MINISTRO TEORI ALBINO ZAVASCKI (Relator): 1. Sobre a questo da eficcia executiva das sentenas declaratrias, assim me manifestei em voto-vista nos autos do RESP 544.189/MG, 1 Turma, Min. Luiz Fux, unnime, julgado em 02.12.2003: "(...) 2. A orientao adotada pelo Ministro Relator contrria a precedentes de ambas as Turmas da 1 Seo, entre os quais podem ser referidos os seguintes: 'PROCESSUAL - EXECUO - SENTENA QUE OUTORGA A Documento: 454698 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJ: 25/02/2004 Pgina 4 de 12
Superior Tribunal de Justia FACULDADE DE COMPENSAR CRDITO TRIBUTRIO - OPO DO CONTRIBUINTE PELO PROCESSO EXECUTIVO - CPC, ART. 743, III - FALTA DE INTERESSE DO DEVEDOR. I - Deciso judicial que permite ao contribuinte recuperar indbito tributrio, mediante compensao. Tal deciso, longe de estabelecer forma de execuo, outorgou uma faculdade ao credor: compensao no modo de executar sentena, mas simples fenmeno pelo qual extinguem-se as dvidas simtricas. II - No h ofensa ao 743, III do Cdigo de Processo Civil, se o contribuinte, em lugar de levar compensao seu crdito por exao indevida, prefere recuper-lo em processo de execuo contra o Estado. III - A compensao o modo mais eficaz de repetir-se tributo pago indevidamente. Em contrapartida, o processo de execuo constitui mtodo lento e doloroso de recuperar exaes indevidas. IV - Em sendo o processo de execuo mais cmodo para o Estado que a compensao, carece este de interesse para recorrer contra deciso que permitiu ao contribuinte optar pela execuo' (RESP 207.998/RS, 1 Turma, Min. Humberto Gomes de Barros, DJ de 21.02.2000). 'PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTRIO. DIREITO REPETIO DO INDBITO VIA COMPENSAO ASSEGURADO POR DECISO TRANSITADA EM JULGADO. EXECUO. OPO POR RESTITUIO EM ESPCIE DOS CRDITOS VIA PRECATRIO. POSSIBILIDADE. VIOLAO COISA JULGADA. AUSNCIA. 1. Operado o trnsito em julgado da deciso que determinou a repetio do indbito, facultado ao contribuinte manifestar a opo de receber o respectivo crdito por meio de precatrio regular ou compensao, eis que constituem, ambas as modalidades, formas de execuo do julgado colocadas disposio da parte quando procedente a ao. 2. No h na hiptese dos autos violao coisa julgada, pois a deciso que reconheceu o direito do autor compensao das parcelas pagas indevidamente fez surgir para o contribuinte um crdito que pode ser quitado por uma das formas de execuo do julgado autorizadas em lei, quais sejam, a restituio via precatrio ou a prpria compensao tributria. 3. Por derradeiro, registre-se que todo procedimento executivo se instaura no interesse do credor (CPC, art. 612) e nada impede que em seu curso o dbito seja extinto por formas diversas como o pagamento propriamente dito - restituio em espcie via precatrio, ou pela compensao. 4. Recurso Especial improvido' (RESP 551.184/PR, 2 Turma, Min. Castro Meira, julgado em 21.10.2003). 3. A orientao desses precedentes deve prevalecer. Eles so mais um exemplo de que, no atual estgio do sistema do processo civil brasileiro, no h como insistir no dogma de que as sentenas declaratrias jamais tm eficcia executiva. H sentenas, como a de que trata a espcie, em que a atividade cognitiva est completa, j que houve juzo de certeza a respeito de todos os elementos da norma jurdica individualizada. Nenhum resduo persiste a ensejar nova ao de conhecimento. Esto definidos os sujeitos ativo e passivo, a prestao, a exigibilidade, enfim, todos os elementos prprios do ttulo Documento: 454698 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJ: 25/02/2004 Pgina 5 de 12
Superior Tribunal de Justia executivo. Em casos tais, no teria sentido algum mas, ao contrrio, afrontaria princpios constitucionais e processuais bsicos submeter as partes a um novo, desnecessrio e intil processo de conhecimento. o que tivemos oportunidade de sustentar em sede doutrinria (Comentrios ao Cdigo de Processo Civil , vol. 8, 2 ed., RT, 2003, p. 194-199; Ttulo Executivo e Liquidao, RT, 1999, p. 101-106), bem como em estudo especfico (Sentenas declaratrias, sentenas condenatrias e eficcia executiva dos julgados , Revista de Processo Repro 109:45), cujos fundamentos principais tomamos a liberdade de reproduzir: "A tese segundo a qual apenas sentena condenatria ttulo executivo, verdadeiro dogma para a maioria da doutrina, de difcil demonstrao. A dificuldade reside, desde logo, na identificao da natureza dessa espcie de sentena. Para Liebman, 'a sentena condenatria tem duplo contedo e dupla funo: em primeiro lugar, declara o direito existente e nisto ela no difere de todas as outras sentenas (funo declaratria); e, em segundo lugar faz vigorar para o caso concreto as foras coativas latentes na ordem jurdica, mediante aplicao da sano adequada ao caso examinado e nisto reside a sua funo especfica, que a diferencia das outras sentenas' (Enrico Tullio Liebman, Processo de Execuo , 3 a
ed., So Paulo, Saraiva, 1968, p. 16). Fazer vigorar a fora coativa da sano no constitui, propriamente, funo da sentena condenatria, mas sim da ao executiva que a ela posteriormente segue. Pois bem, conforme observou Barbosa Moreira, 'se no de efetivar a sano que se trata na sentena condenatria, ento s uma coisa concebvel que se trate: de declarar a sano a que se sujeita o vencido' (Jos Carlos Barbosa Moreira, Reflexes ..., cit., p. 76). assim, alis, que Carnelutti via a sentena condenatria: uma sentena de dupla declarao, a declarao de certeza do que foi e do que devia ser (Francesco Carnelutti, Derecho y Proceso , traduo de Santiago Sentis Melendo, Buenos Aires, Ediciones Jurdicas Europa-Amrica, 1971, vol. I, p. 66). Calamandrei, a sua vez, descreveu a sentena condenatria como a deciso 'mediante la cual la autoridad judicial individualizar el concreto precepto jurdico nacido de la norma, establecer la certeza acerca de cul ha sido y cul habra debido ser el comportamento del obligado y determinar, como consecuencia, los mdios prcticos aptos para restablecer en concreto la observancia del derecho violado' (Piero Calamandrei, Instituciones de Derecho Procesal Civil , traduo de Santiago Sentis Melendo, Buenos Aires, Ediciones Jurdicas Europa-Amrica, 1986, vol. I, p. 142). Todavia, conforme anotou o prprio Calamandrei, 'nem todas as sentenas condenatrias pressupem ato ilcito', assim como 'nem todas as sentenas que certificam o ilcito so sentenas condenatrias' (Piero Calamandrei, 'La condana', apud Opere Giurideche , Npoli, Morano Editore, 1972, 5 vol., p. 486). Ratificando tal objeo, Barbosa Moreira cita como exemplo de sentena condenatria, mas 'sem correspondncia com atos ou comportamentos antijurdicos', a da 'condenao do litigante vencido ao pagamento das custas processuais e dos honorrios de advogado do vencedor, nos sistemas que prevem como corolrio do mero fato do sucumbimento' (Jos Carlos Barbosa Moreira, Reflexes ..., cit., p. 74). Cita outrossim as 'hipteses em que se permite ao juiz proferir, antes de vencida a obrigao, sentena idnea para constituir, se Documento: 454698 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJ: 25/02/2004 Pgina 6 de 12
Superior Tribunal de Justia o ru no a cumprir sponte sua, ttulo executivo para o autor vitorioso' (Jos Carlos Barbosa Moreira, Reflexes ..., cit., p. 75). Poder-se-ia referir outros exemplos, como o das sentenas homologatrias de conciliao ou de transao, que, em nosso sistema, constituem ttulo executivo, inclusive, se for o caso, em favor do ru, e que tm por contedo, s vezes, direitos que sequer foram objeto da demanda. Em tais situaes certamente no h juzo sobre ilcito ou sua sano. No a aplicao da sano a um ilcito, portanto, a nota caracterstica da executividade dessa espcie de sentena. Calamandrei busca superar tais objees sustentando que a caracterstica da sentena condenatria no est na aplicao ou na declarao da sano. 'Somente h condenao', diz ele, 'quando, por fora da sentena, o vnculo obrigacional substitudo por um vnculo de sujeio. A transformao da obrigao em sujeio, esta me parece ser verdadeiramente a funo especfica da condenao'. E acrescenta: 'pode-se dizer que a funo da sentena de condenao a de constituir aquele estado de sujeio, por fora do qual o condenado posto a merc dos rgos executivos e submetido a suportar passivamente a execuo forada como um mal inevitvel' (Piero Calamandrei, 'La condana', cit., p. 492). Ocorre que o estado de sujeio a que se refere Calamandrei prprio de qualquer ttulo executivo, inclusive dos extrajudiciais, e no apenas da sentena condenatria. Ele no , portanto, 'constitudo' pelo ato sentencial. , antes, conseqncia natural da norma jurdica consubstanciada no ttulo executivo, mais especificamente do enunciado da perinorma, que estabelece a sano jurdica para a hiptese de descumprimento. Alis, esta mesma objeo pode ser colocada doutrina de Liebman, quando sustenta que a sano violao do direito constituda pela sentena condenatria, e da a razo de ser ela, no seu entender, pr-requisito indispensvel execuo forada. Tambm a sano jurdica decorre da norma, e no da sentena. Esta, no mximo, a identifica e declara. Com efeito, a sano jurdica, assim considerada como a reao do direito inobservncia ou violao das suas normas, no s est prevista no preceito normativo, como tambm constitui um dos seus elementos essenciais, o da perinorma (ou norma secundria), cujo destinatrio o rgo estatal encarregado de prestar jurisdio. 'O que se chama de sano', diz Bobbio, 'outra coisa no seno o comportamento que o juiz deve ter em uma determinada circunstncia' (Norberto Bobbio, Teoria General de Derecho , traduo de Jorge Guerrero R., 2 a ed., Santa Fe de Bogota, Colombia, Temis, 1992, p. 125). Atribuir ao lesado a faculdade de exigir a prestao jurisdicional , portanto, qualidade inerente prpria norma jurdica. justamente essa atributividade ou, como preferem alguns, esse autorizamento (Goffredo Telles Jnior, Direito Quntico , So Paulo, Ed. Max Limound, p. 263), a mais marcante diferena entre a norma jurdica e as outras normas de conduta: 'a essncia especfica da norma jurdica o autorizamento, porque o que compete a ela autorizar ou no o uso dessa faculdade de reao do lesado. A norma jurdica autoriza que o lesado pela violao exija o seu Documento: 454698 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJ: 25/02/2004 Pgina 7 de 12
Superior Tribunal de Justia cumprimento ou a reparao pelo mal causado' (Maria Helena Diniz, Compndio de Introduo Cincia do Direito , 8 ed., So Paulo, Saraiva, 1995, p. 341). 'A norma jurdica permite que o lesado pela violao dela exija o cumprimento dela', escreveu Goffredo Telles Jnior, acrescentando: 'em virtude do autorizamento, o lesado pode, com fundamento jurdico, completar sua interao com quem o prejudicou. Aps a ao violadora da norma jurdica, a prpria norma violada autoriza e permite a reao competente' (Goffredo Telles Jnior, Direito Quntico , cit., p. 263). Esse , alis, o elemento distintivo por excelncia entre a norma jurdica e as demais normas de conduta: a aptido para atribuir ao lesado a faculdade de exigir o seu cumprimento forado. Segundo a lio clssica de Luis Recasens Siches, 'en el Derecho, cabalmente la posibilidad predeterminada de esa ejecucin forzada, de la imposicin inexorable de lo determinado en el precepto jurdico, incluso por medio de poder fsico, constituye un ingrediente esencial de ste. La sancin jurdica, como ejecucin forzada de la conducta mandada en el precepto (...), o como ejecucin forzada de una conduta sucednea de reparacin o compensacin, o como retribucin de una infraccin consumada ya irremediable pena constituye un elemento esencial de la norma jurdica' (Luis Recasens Siches, Estudios de Filosofa del Derecho , Barcelona, Bosch Casa Editorial, 1936, p. 128. No mesmo sentido: Maria Helena Diniz, Compndio , cit., p. 341). equvoco, portanto, afirmar que a sentena condenatria, ou outra sentena qualquer, constitutiva da sano ou do estado de sujeio aos atos de execuo forada. No esta, conseqentemente, a justificao para a fora executiva dessa espcie de sentena. Sua executividade decorre, isto sim, da circunstncia de se tratar de sentena que traz identificao completa de uma norma jurdica individualizada, que, por sua vez, tem em si, conforme se viu, a fora de autorizar a pretenso tutela jurisdicional. Se h 'identificao completa' da norma individualizada porque a fase cognitiva est integralmente atendida, de modo que a tutela jurisdicional autorizada para a situao a executiva. Ocorre que tais virtudes e caractersticas no so exclusivas da sentena condenatria, podendo ser encontradas em outros provimentos jurisdicionais, inclusive em certas sentenas declaratrias. Veja-se. (...) A ao puramente declaratria, e, portanto, a sentena que nela vier a ser proferida, tem por objeto, segundo o artigo 4 do CPC, a declarao 'da existncia ou inexistncia de relao jurdica' ou 'da autenticidade ou falsidade de documento'. Segundo os padres tradicionais, no compe seu objeto o juzo a respeito da violao da norma individualizada ou da sano correspondente. A declarao de certeza, nestas aes, refere-se, como ensinava Calamandrei, ao preceito primrio ('no transgredido todava, pero incierto') e no ao mandado sancionatrio (Piero Calamandrei, Instituciones... , cit., p. 152 e 168). Nesse pressuposto, identificada a relao entre o objeto da ao puramente declaratria e a norma primria (enunciado endonormativo), conclui-se que nela no se faz juzo sobre a sano (enunciado da perinorma), do que somente se poderia cogitar caso j tivesse havido Documento: 454698 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJ: 25/02/2004 Pgina 8 de 12
Superior Tribunal de Justia violao. Por isso mesmo, alis, a doutrina clssica a respeito das lides que fazem surgir interesse de mera declarao assinala o carter preventivo da correspondente tutela jurisdicional. No so lides de dano, mas de probabilidade de dano, dizia Carnelutti, e tm origem, no no descumprimento da obrigao, mas sim na dvida a respeito da existncia da relao jurdica, ou do seu modo de ser ou, quem sabe, do contedo da prestao ou da sano que, no futuro, poder ser exigida. Evidencia-se, assim, que, em regra, na sentena puramente declaratria h enunciados de certeza sobre um ou mais de um dos elementos da norma jurdica concreta , mas no sobre o seu todo (endonorma e perinorma), nem, especialmente, sobre a existncia de uma prestao exigvel . Assim entendida tal espcie de sentena, faz sentido afirmar, na linha do pensamento clssico, que elas no constituem ttulos executivos, e se acrescenta tambm sob influncia desses mesmos padres , que apenas as sentenas condenatrias, que trazem identificao completa da norma individualizada, podem servir de base execuo. O Cdigo de Processo Civil de 1939 refletia justamente essa doutrina, quando dispunha, no seu artigo 290, que 'na ao declaratria, a sentena que passar em julgado valer como preceito, mas a execuo do que houver sido declarado somente poder promover-se em virtude de sentena condenatria'. Ocorre que o Cdigo de 1973, no pargrafo nico do artigo 4, trouxe dispositivo inovador: ' admissvel a ao declaratria ainda que tenha ocorrido a violao do direito'. Ao assim estabelecer, d ensejo a que a sentena, agora, possa fazer juzo, no apenas sobre o preceito da endonorma (mandado primrio no transgredido), mas tambm sobre o da perinorma (mandado sancionatrio), permitindo, nesse ltimo caso, juzo de definio inclusive a respeito da exigibilidade da prestao devida. Sentena de tal contedo representa, sem dvida, um comprometimento do padro clssico de tutela puramente declaratria (como tutela tipicamente preventiva ), circunstncia que no pode ser desconsiderada pelo intrprete. Ora, se tal sentena traz definio de certeza a respeito, no apenas da existncia da relao jurdica, mas tambm da exigibilidade da prestao devida, no h como negar-lhe, categoricamente, eficcia executiva. Conforme assinalado anteriormente, ao legislador ordinrio no dado negar executividade a norma jurdica concreta, certificada por sentena, se nela estiverem presentes todos os elementos identificadores da obrigao (sujeitos, prestao, liquidez, exigibilidade), pois isso representaria atentado ao direito constitucional tutela executiva, que inerente e complemento necessrio do direito de ao. Tutela jurisdicional que se limitasse cognio, sem as medidas complementares necessrias para ajustar os fatos ao direito declarado na sentena, seria tutela incompleta. E, se a norma jurdica individualizada est definida, de modo completo, por sentena , no h razo alguma, lgica ou jurdica, para submet-la, antes da execuo, a um segundo juzo de certificao, at porque a nova sentena no poderia chegar a resultado diferente do da anterior, sob pena de comprometimento da garantia da coisa julgada, assegurada constitucionalmente. Instaurar a Documento: 454698 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJ: 25/02/2004 Pgina 9 de 12
Superior Tribunal de Justia cognio sem oferecer s partes e principalmente ao juiz outra alternativa de resultado que no um j prefixado representaria atividade meramente burocrtica e desnecessria, que poderia receber qualquer outro qualificativo, menos o de jurisdicional. Portanto, repetimos: no h como negar executividade sentena que contenha definio completa de norma jurdica individualizada, com as caractersticas acima assinaladas. Talvez tenha sido esta a razo pela qual o legislador de 1973, que incluiu o pargrafo nico do artigo 4 o do CPC, no tenha reproduzido no novo Cdigo a norma do art. 290 do CPC de 1939. Interpretao sistemtica do Cdigo, especialmente depois das reformas que lhe foram impostas a partir de 1994, permite que se v mais longe. Imagine-se sentena que, em ao declaratria, defina, com fora de coisa julgada, que a entrega de certa quantia de Pedro para Paulo foi a ttulo de mtuo, e no de doao, e que o prazo para devolv-la deve ocorrer (ou j ocorreu) em determinada data; ou que a ocupao do imvel de Joana por Maria no a ttulo de comodato, mas de locao, e que o valor mensal do aluguel de R$ 300,00, pagveis no dia 30 de cada ms. H, em tal sentena, como se percebe, definio de norma jurdica individualizada, contendo obrigao da pagar quantia certa. Se a definio dessa mesma norma estivesse representada em documento particular assinado pelas partes e por duas testemunhas, ela constituiria ttulo executivo, nos termos do inciso II, do art. 585 do CPC. Igualmente, se a definio decorresse de documento firmado perante tabelio. Tambm teria fora executiva se tivesse sido definida por autocomposio (transao) referendada pelo Ministrio Pblico, ou pela Defensria Pblica ou, ainda, pelos advogados dos transatores. Ora, nos exemplos dados, a norma individualizada e a relao jurdica correspondente tm grau de certeza muito mais elevado: elas foram definidas em processo de que participaram no apenas as partes, mas tambm os seus advogados, e, sobretudo, o prprio Estado-juiz, dando ao ato certeza oficial. Nessas circunstncias, negar fora de ttulo executivo a esta espcie de sentena seria atentar contra o sistema processual, sua lgica e os valores nele consagrados. No parece procedente, portanto, a afirmao de que as sentenas declaratrias jamais podem servir de base execuo forada. (...) Pode-se afirmar, em concluso, que: a) o ttulo executivo a representao documental de uma norma jurdica individualizada, contendo obrigao lquida, certa e exigvel, de entregar coisa, ou de fazer, ou de no fazer, ou de pagar quantia em dinheiro, entre sujeitos determinados; b) a sentena civil condenatria ttulo executivo porque contm definio completa de norma jurdica individualizada com aquele contedo; c) no se pode afirmar, contudo, que apenas essa sentena tem eficcia executiva, j que o sistema processual confere executividade a outros provimentos jurisdicionais sem natureza condenatria; d) no procede a afirmao de que a sentena meramente declaratria jamais ttulo executivo; ela ter fora executiva quando contiver certificao de todos os elementos de uma norma jurdica concreta, relativa a obrigao com as caractersticas acima referidas." Documento: 454698 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJ: 25/02/2004 Pgina 10 de 12
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4. No caso dos autos, conforme reconhecido, a sentena declaratria contm juzo de certeza e de definio exaustiva a respeito de todos os elementos da relao jurdica questionada, reconhecendo em favor do contribuinte o direito de haver a repetio (e, portanto, o dever da Fazenda de pagar) de valor indevidamente recolhido, prestao essa que atende at mesmo as condies para ser compensada com outra dvida fiscal. Submeter o contribuinte a nova ao cognitiva como condio para receber o pagamento significaria, conforme sustentado, atividade jurisdicional desnecessria e intil, incompatvel com o princpio constitucional da coisa julgada e com a prpria razo de ser da funo jurisdicional. Por tais razes, voto pelo provimento do recurso. o voto. 3. Sendo o caso dos autos anlogo ao do precedente mencionado, pelas razes expostas, adotando a orientao firmada pela Turma, nego provimento ao recurso especial. o voto.
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Superior Tribunal de Justia CERTIDO DE JULGAMENTO PRIMEIRA TURMA
Nmero Registro: 2003/0169447-1 RESP 588202 / PR Nmero Origem: 200304010172556 PAUTA: 10/02/2004 JULGADO: 10/02/2004 Relator Exmo. Sr. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI Presidente da Sesso Exmo. Sr. Ministro LUIZ FUX Subprocurador-Geral da Repblica Exmo. Sr. Dr. PAULO EVALDO COSTA Secretria Bela. MARIA DO SOCORRO MELO AUTUAO RECORRENTE : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS PROCURADOR : MILTON DRUMOND CARVALHO E OUTROS RECORRIDO : VARASQUIM E CIA. LTDA. ADVOGADO : ANGLICA SANSON ANDRADE ASSUNTO: Tributrio - Crdito - Compensao CERTIDO Certifico que a egrgia PRIMEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epgrafe na sesso realizada nesta data, proferiu a seguinte deciso: A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Denise Arruda, Jos Delgado, Francisco Falco e Luiz Fux votaram com o Sr. Ministro Relator. O referido verdade. Dou f. Braslia, 10 de fevereiro de 2004 MARIA DO SOCORRO MELO Secretria Documento: 454698 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJ: 25/02/2004 Pgina 12 de 12