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Sucintamente, a influência representa uma das vias essenciais através das quais se
estabelecem relações e códigos próprios num sistema social.
Para Faucheux e Moscovici (1967) existem três modalidades de influência social – a norma
(ou normalização), o conformismo e a inovação.
1.1.1. Normalização
A normalização exprime a pressão que se exerce, no decurso de uma relação, com vista a
adoptar uma escala aceite por todos os indivíduos, ou a aceitar uma posição vizinha desta
escala.
Pode-se afirmar que o objectivo desta pressão é, por um lado, a convergência de opiniões e,
por outro, a adesão a um compromisso. As diferenças anteriores à interacção esbatem-se
devido a um nivelamento, e o consenso ou o compromisso constituem, ulteriormente, o
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Inicialmente traduzido para uso pessoal (1989) as referências bibliográficas citadas ao longo do texto não
foram alvo de trabalho, pelo que todas elas estão ausentes e em alguns pontos o texto foi encurtado por se
considerar que não haveria necessidade da íntegra do texto para o estudo da disciplina. Posteriormente, o
texto foi cedido aos alunos de Psicologia Social de diversas instituições de ensino superior (1999) por estes
apresentarem grande dificuldade em ler o original.
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contexto ou o quadro de referência a partir do qual serão estimados, todos os estímulos
inéditos, todas as figuras novas.
A condição necessária para que se exerça esta forma de influência é a equivalência dos
parceiros, do ponto de vista do estatuto ou dos recursos (poder, competência, etc.). A
condição suficiente é a ausência – por parte dos indivíduos ou dos subgrupos – de uma
preferência demasiado marcada por uma posição na escala de juízos ou de utilidade.
(...) o estudo clássico de Sherif (1935) inspirou a maioria das investigações sobre a norma.
Como se sabe Sherif utilizou o efeito autocinético enquanto fonte de estimulação. O
paradigma a ele subjacente apresenta os seguintes traços:
• A tarefa não permite a formulação de uma resposta correcta pois cada indivíduo responde em
função da ilusão a que está sujeito.
• Damos uma longa série de estimativas do “deslocamento” do ponto luminoso.
• A comunicação dos juízos é a única interacção permitida aos indivíduos.
• A imposição social surge como sendo intencional.
• Esta imposição nasce unicamente da diferença observada por cada indivíduo entre a sua
resposta e a dos outros, a propósito de um objecto comum.
Sherif e muitos outros depois dele, realizam experiências com o auxílio deste paradigma,
tendo encontrado sempre uma tendência constante: o juízo individual converge no sentido de
valores comuns (norma de grupo).
No decorrer de uma prova de estimativa de pesos, ele observa que um indivíduo, em presença
de outros, subestima os pesos mais pesados e sobrestima os pesos mais leves. À semelhança,
em condições análogas, um indivíduo julga os odores agradáveis como menos agradáveis e os
odores desagradáveis como menos desagradáveis, do que são na realidade. Deste modo, a
interferência de assistência tem como consequência a eliminação das respostas extremas e a
emissão de respostas que, subestimando as propriedades de um estímulo, podem servir de
ponto de encontro para todos, reduzindo o risco para cada um de se ver desmentido pelo juízo
dos outros. (...) chamaremos a este efeito característico da normalização, enquanto
modalidade de influência, de Efeito de Sherif. Foram numerosas as experiências que
demonstraram a sua generalidade.
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1.1.2. Conformismo
O conformismo define o comportamento de um indivíduo ou de um subgrupo que é
determinado, por um lado, pela regra de um grupo ou de uma autoridade, e que tem como
consequência o estreitamento da concordância de opiniões, de juízos entre o indivíduo ou o
subgrupo, e por outro, o grupo.
O conformismo pode surgir como uma submissão puramente exterior – instrumental (Beloff,
1958; Jones, 1965) – da resposta do indivíduo à resposta média ou modal do grupo, ou como
uma verdadeira adesão do indivíduo à norma colectiva.
A função desta modalidade de influência é reduzir os desvios possíveis, de fazer partilhar, por
cada um, os objectivos e os critérios de conduta do conjunto. Pela aplicação de sanções
apropriadas, em troca das desejadas satisfações, indivíduos ou subgrupos são levados a
renunciar a uma série de alternativas, existentes no campo psicossocial, conservando apenas
aquelas cujos termos são aceites ou aprovados pela maioria.
O efeito que mais interesse suscitou e que ilustrou de forma mais marcante a repercussão das
forças que tendem a estabelecer um conformismo é, sem qualquer dúvida, o Efeito de Asch.
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quando se diminui a dependência, seja colocando em questão as aptidões dos parceiros
maioritários do grupo, a correcção dos seus juízos ou a unanimidade que aí reina, seja
reforçando a confiança que o sujeito tem nas suas respostas. (Kelman, 1950; Kelley & Lamb,
1957). Nenhuma delas, apesar de termos desejado demonstrar o inverso, conseguiu contestar
a validade do efeito de Asch.
Pelo contrário, perseguindo a linha de investigação inaugurada por Asch, Milgram (1963)
pode fornecer um exemplo extremo de conformismo. Nomeadamente, ele demonstrou que
pessoas vulgares introduzidas num laboratório de psicologia, podem ser induzidas a infligir a
terceiros sofrimentos consideráveis.
1.1.3. Inovação
A inovação refere-se à proposição e adopção de um modelo de resposta que, tornando
caducas as regras ou os códigos sociais predominantes, inflecte na sua direcção a produção
das regras ou dos seus códigos sociais. Claro está, qualquer inovação, qualquer influência,
que conduza à sua generalização, supõe uma minoria que, à semelhança do que se passa a
propósito da norma ou do conformismo, induz e determina o comportamento da maioria.
Podemos constatar o que acabámos de afirmar na vida científica em que uma nova
experiência, uma nova teoria chama a atenção de um pequeno grupo de indivíduos, cristaliza-
se, assim, num determinado domínio, numa escola, antes de se transformar no saber comum
de toda uma ciência. O mesmo sucede com a política, a moda, a indústria ou a arte.
Além disso, sabemos que para inovar não basta que haja uma diferença perceptível entre o
modelo – a norma proposta – da minoria e o modelo ou a norma da maioria; é preciso,
igualmente, que a minoria seja resoluta, isto é, manifeste uma vontade, uma certeza quanto às
opções tomadas. Paralelamente, ela provoca uma certa tensão, opondo-se à pressão para o
conformismo, que se vai exercer sobre ela, testemunhando a existência de outras
possibilidades que não as oferecidas pela acção ou pensamento habituais.
O problema que, desde logo, se coloca é saber porque é que este fenómeno foi praticamente
ignorado, ou, o que vai dar ao mesmo, porque é que os psicossociólogos se interessaram
exclusivamente pela norma e conformismo.
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Em primeiro lugar, tudo indica que os psicossociólogos se contentaram em observar uma
região relativamente limitada do campo social. As interacções sociais, os grupos aos quais
habitualmente se referem, são marcados pela sociedade de massa (anónimos, temporários) ou
pelo meio familiar, industrial escolar, etc.. Nestes grupos o consenso, a submissão às normas,
o abandono nítido das preferências, a necessidade de aprovação ou adesão, seriam as
condições de uma coexistência sem conflito.
A manutenção do status quo, é visto como pernicioso; a motivação principal não é a afiliação
aos outros, nem a partilha, a qualquer preço, das mesmas opiniões e dos mesmos códigos. A
modificação das regras e das relações sociais constitui-se numa força motriz incontestável.
Seguramente que, estes factos de inovação são menos frequentes que os factos de
conformismo, no entanto, na nossa sociedade, não são menos decisivos. Facilmente nos
apercebemos que é muito difícil de pretender aflorar as dimensões fundamentais do
comportamento ou da dinâmica dos grupos ignorando estes factos.
Preocupamo-nos, assim, em saber como é que os grupos são susceptíveis de conservar a sua
coesão, como a sociedade, através dos meios de persuasão, assegura os laços de submissão
das suas partes, a convergência destas no sentido das posições normativas comuns.
O canalizar das atitudes e dos comportamentos com vista a objectivos determinados pelos que
detêm o estatuto ou o poder, permitindo-lhes de o usar, mostra estar no centro de qualquer
acção de influência. Os indivíduos são percepcionados como sendo movidos pelo desejo de se
parecer com os outros, de receberem a aprovação dos outros. E, mais, não se observar uma
tendência deste género é um indício de perversidade, porque, como o fazem notar Secord e
Backmann (1964), “em certos casos, pessoas destas podem sentir alguma satisfação perversa
em não serem aceites pelos outros” (p. 348).
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O controlo social que o grupo exerce como meio de norma ou de conformismo tem como
objectivo colmatar essa necessidade de dependência, favorecendo o equilíbrio psicológico e a
possibilidade de libertação do conflito.
Mas: Quando é que o indivíduo está disponível? Quando procura ele este controlo?
Basicamente, quando ele não consegue alcançar por si só uma relação estável com o seu meio
envolvente.
Normalmente, uma opinião, um juízo, devem poder ser verificados para serem válidos e
sustentar o comportamento. Existem, no entanto, alguns casos em que não possuímos
qualquer possibilidade de verificar por nós se uma opinião ou juízo são verdadeiros. Um
indivíduo que vê um ponto luminoso fixo deslocar-se percepciona-o assim porque ele está
suficientemente afastado e porque foram retirados os outros indícios que, com efeito,
mostrariam que o ponto não se desloca. Diante desta impossibilidade e incerteza que daí
resulta, e à semelhança do que sucede em outras situações análogas, os indivíduos têm o
recurso ao juízo das testemunhas, às escalas do seu grupo, para formularem uma opinião ou
validar a opinião aproximativa que eles emitiram.
É, então, forçoso que, face à ocorrência de se descansar sobre as estimativas dos outros, se
partilhem os mesmos valores, se adoptem as mesmas posições. O processo de influência
exerce-se, por esta altura, quer ao nível da selecção das propriedades do estímulo (influência
informativa), quer ao nível da elaboração das respostas (influência normativa) (Deutsch &
Gerard, 1955).
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Mas podemos ir mais longe. Não somente a inovação não podia ser considerada como um
fenómeno importante neste contexto, ela era, além disso, considerada unicamente enquanto
que forma de controlo social. O que conduziu, seja a constatações banais, seja a estranhos
paradoxos. Podemos constatar isso mesmo nos raros estudos consagrados à inovação.
Nomeadamente, Ziller e Behringer (1960), mostraram que um indivíduo minoritário impondo
as suas soluções é considerado mais positivamente, num questionário, que os outros
indivíduos, se o grupo falha e se este indivíduo minoritário parece competente.
Hollander (1958) tentou sistematizar esta concepção. Para isso apresentou a seguinte hipótese:
cada indivíduo, dentro de um grupo, goza de um “crédito de particularismo” que representa
uma acumulação de disposições positivas dos outros em relação a si. E, quanto maior é este
crédito, maior é a confiança que os seus parceiros depositam nele, o que permite que ele se
possa desviar mais, se comporte (conduza) sem ter em conta a maioria. Esta metáfora,
simboliza o grau de dependência (ou de independência) que resulta do grau de confiança que
os membros do grupo se atribuem mutuamente.
Numa série de experiências, Hollander demonstrou que o indivíduo que, pela sua competência
e conformidade aos objectivos do grupo, adquiriu muito “crédito de particularismo”, pode
permitir-se de se conduzir de forma não-conformista ou inovadora. Hollander sustenta, ainda,
que para conservar o seu ascendente sobre os outros membros, um tal indivíduo é mesmo
obrigado a recorrer a um comportamento não-conformista. Deste modo, a inovação ou o não-
conformismo estão bem apreendidos no quadro do controlo social procurado pelos indivíduos
investidos de autoridade.
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Os resultados destas experiências, as hipóteses que os sustentam parecem estar em
contradição com outras experiências e com a opinião recebida, segundo a qual os líderes
devem, geralmente, estar mais próximos das normas do grupo do que os outros membros.
Para conciliar os dois pontos de vista, Hollander (1960) esforçou-se por provar que se trata,
aqui, de um fenómeno temporal. Um indivíduo deve começar por ser conformista, alcançar
um estatuto elevado, estabelecer uma posição de domínio ou tornar-se popular. E só, depois,
ele pode introduzir as mudanças, afastar-se da norma, proporcionalmente à dependência que
ele impôs ou da competência que lhe é reconhecida.
O conjunto destas investigações pressupõe que a minoria pode exercer uma influência sobre a
maioria, sob condição de possuir poder ou os recursos (uma competência, por exemplo). O
líder é não-conformista ou inovador unicamente porquanto facilita a adaptação do grupo e
salvaguarda, por assim dizer, o seu prestígio ou justifica a confiança que os outros
depositaram nele: ele nunca desonra a maioria. Mais, primeiro, ele segue-a, para poder vir a
ser seguido depois. Como escreve Homans (1961): “Deixar-se influenciar pelos outros é o
preço que pagamos para poder exercer uma influência sobre eles” (p. 286).
Assim, a análise do processo de influência social, na medida em que contribui para a mudança
social, é igualmente legítimo. Diariamente, os grupos, os partidos, os indivíduos tendem a
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modificar as condições nas quais vivemos, pensamos ou agimos. Em todos estes casos, por
um esforço isolado ou por uma organização adequada, agentes marginais ou minoritários da
sociedade fazem pressão sobre o sistema social, no seu conjunto, para o incitar a se
transformar, e sobre cada indivíduo para o convidar a se associar a um movimento intelectual,
político, ou muito simplesmente de indumentária (de vestuário).
Necessariamente que, com a renovação das normas e dos códigos sociais, se assiste a uma
reformulação, uma modificação dos relacionamentos inter-individuais, conjuntamente com a
aparição de novas estruturas de acção ou de comunicação, ou, ainda, de novos líderes. Ficou
largamente demonstrado que: a mudança social é uma função da influência tão real como o
controlo social, e é apenas neste quadro específico que a inovação surge de forma particular e
predominante. De qualquer forma, faz-nos ver o quanto a maioria das teorias elaboradas em
psicologia social, são inadequadas para se aplicarem a tais fenómenos, na medida em que
dizem sobretudo respeito à normalização, ao conformismo, ao domínio da minoria pela
maioria, à assimilação do indivíduo pelo grupo. Devemos, então, poder recorrer a outras
noções, a outros modelos conceptuais, para o estudo que nos propusemos aqui, de um aspecto
negligenciado nas investigações relativas à influência social.
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“Se o termo consistência é sobretudo usual no seu sentido físico, o dicionário, nomeadamente Robert apresenta
numeroso exemplos no sentido figurado, sinónimo de firmeza, de fixação e, no sentido lógico, onde podemos falar
da consistência de um pensamento, de um argumento. Razão pela qual nós preferimos este termo ao de constância,
que tem mais conotações morais. É evidente que com isto sugerimos que se perceba um equivalente do inglês
consistency, quer dizer comportamento consequente. Afastando o termo da coerência, que pressupõe qualquer
coisa de premeditado, resta-nos o de consistência, bem francês como o atesta esta frase de Rousseau: « É durante
este precioso intervalo que a minha educação confusa e sem continuação, que tendo adquirido consistência, me
transformou naquilo que não pude deixar de ser (etc.)” (Confessions).
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demonstrou-se, inúmeras vezes, que a competência ou a qualidade de especialista é um factor
essencial do conformismo. Na grande maioria dos casos, cada indivíduo, nomeadamente, o
que participa numa experiência, apresenta a hipótese de uma competência igualmente
distribuída (dada a natureza das provas às quais são submetidos os indivíduos).
O mesmo sucede com os indivíduos que receiam a censura do grupo, sentindo uma fraca
necessidade de auto-realização (need of achievement) ou, ao contrário, manifestando uma
necessidade imperiosa de ser aceites ou de se afiliar. Numerosas investigações estabeleceram
estes factos (Dittes & Kelley, 1956; Mc Clelland et al., 1953; Hardy, 1957; Berkowitz, 1957;
Kiesler, 1936; Miller & Tiffany, 1963).
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inova verdadeiramente, que transforma a realidade social, não tem, pelo menos no início, e
durante muito tempo, regalias do ponto de vista do estatuto ou do poder, em relação à maioria
ou às estruturas sociais existentes.
Podemos, ainda, chamar a atenção para o facto de os indivíduos ou dos subgrupos que mudam
as regras, os valores, os conhecimentos, não estarem melhor apetrechados que os outros do
ponto de vista dos recursos (meios), logo da competência. Ainda que venhamos a reconhecer
a justeza do seu ponto de vista, no momento em que o enunciam, a sua autoridade não é
apoiada por qualquer indício exterior de superioridade relativamente à competência.
Por exemplo, quando, imediatamente a seguir à Segunda Guerra Mundial, um grupo restrito
louva activamente o método experimental em psicologia social, ninguém, no campo,
reconheceu a estes membros um melhor conhecimento ou prevalência enquanto
psicossociólogos. Já para não falar de Freud ou de Marx, o primeiro apenas conseguiu obter
uma cadeira de psiquiatria depois de longos esforços, e o segundo vendo-se rotulado pelos
seus contemporâneos de padre economista ou sociólogo.
Assim, como facilmente podemos ver, a dependência, não é, em relação ao fenómeno que nos
interessa, nem uma variável independente, nem um factor diferencial que possa explicar a
influência que se exerce.
É, justo, que nos interroguemos: Porque é que a consistência tem efeitos ao nível da
influência?
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Em primeiro lugar, ela provoca uma estabilização das propriedades do meio circundante, uma
invariância entre os relacionamentos que o constituem. Como o observou Heider (1958), o
homem capta a realidade, pode predizer e controlar a sua evolução, apenas quando, relaciona
os comportamentos ou os acontecimentos efémeros e variáveis a um enviesamento
relativamente invariante e recorrente. E, apenas chega a esta impressão de que estas reacções
reflectem a disposição dos objectos, dos seres, quando:
Sempre que surgem estes acontecimentos ou estes objectos, ele responde da mesma forma;
Qualquer que seja o modo de interacção com o objecto, ou de encontro com o acontecimento,
o seu comportamento é quase o mesmo.
Mais, se há um consenso com outros indivíduos, então, estes atributos, estas dimensões
invariantes parecem plenamente asseguradas. A consistência é, então, um factor de
estabilização perceptiva, que permite seleccionar, entre as informações mais incertas e as mais
variadas, as que constituem o fundamento sobre o qual nós nos devemos apoiar. Se tal é o
mecanismo perceptivo, então, uma pessoa ou um subgrupo que se mantém firme a uma certa
organização das suas respostas, confrontado com outras pessoas e outros subgrupos, na
medida em que o seu comportamento é previsível ou bem na medida em que ele se exprime
como tendo afastado as propriedades invariantes dos objectos ou dos acontecimentos que têm
que julgar em comum, terá um efeito estabilizador sobre o conjunto dos processos de
interacção com o meio circundante. Isto é, tanto mais verdade, quanto um dos parceiros sente
sempre alguma dificuldade em estabelecer relações invariantes. Poderíamos mesmo dizer que
o objecto ou o acontecimento aparecerão como previsíveis ou estabilizados do ponto de vista
do indivíduo ou do subgrupo que emite as opiniões, as estimativas coerentes, pois são as
dimensões subjacentes que adquirem maior relevo.
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Por um lado, a acção de cada um encontra-se facilitada e o indivíduo ou o subgrupo que
permitem esta facilitação tornam-se mais atraentes. Shaw (1963) demonstrou que as sugestões
de uma pessoa que apresenta duas soluções são mais facilmente aceites que as de uma pessoa
que antevê quatro ou seis soluções para o problema, que deve resolver em grupo. Observa-se,
igualmente, que o indivíduo que apenas apresenta duas soluções é visto (julgado) de forma
mais positiva.
Habitualmente, como o escreve Asch (1959): “Cada ordem social coloca os seus membros
frente a uma posição escolhida de dados físicos e sociais. O traço mais distintivo desta
selectividade é que esta apresenta condições às quais falta o outro termo da alternativa
perceptiva. Não há soluções alternativas na linguagem do grupo, nas relações de parentesco
que ele pratica, no seu regime alimentar, na arte que ele louva. O campo do indivíduo é, em
particular, numa sociedade relativamente fechada, circunscrita num quadro de medida por
aquilo que é induzido dentro do quadro cultural específico” (p. 380). Concerteza, que não se
espera, nestas condições, que qualquer coisa se transforme ou que uma parte do corpo social
inove. O processo psicológico major, tantas vezes descrito, que conduz a uma profunda
mudança, pressupõe que no horizonte do próprio grupo ou seu meio social surjam modelos,
regras, pontos de vista diferentes e mesmo opostos.
Mas para que estes modelos, estas regras, estes pontos de vista diferentes se tornem em
soluções alternativas que cada um possa apreender como tal, é preciso que sejam propostas de
forma constante e coerente. A experiência de Asch, em certo sentido, prova o que acabamos
de dizer.
Nesta experiência os sujeitos ingénuos foram educados numa cultura que adoptou uma
determinada geometria e, como tal, uma noção particular do que representam “duas linhas
iguais”. Se agora estes sujeitos são colocados num outro meio distinto, que é o de laboratório,
eles encontram aí uma segunda cultura, um grupo que possui uma nova geometria e que
propõe uma nova definição da noção “duas linhas iguais”. Nomeadamente, as linhas desiguais
na primeira geometria são iguais na segunda. Na sequência do que acabámos de dizer, o
contraste entre as duas “culturas”, a existência de uma geometria alternativa à que os sujeitos
ingénuos apresentam, torná-los-á sensíveis quando os cúmplices responderem de forma mais
consistente, logo, cometerão mais erros que quando os cúmplices responderem de forma
menos consistente, errarão menos. A influência é, necessariamente, mais forte no primeiro, do
que no segundo caso em que os sujeitos ingénuos estão mais desorientados e agarram-se à
regra, à norma que foi mais vezes reforçada no passado.
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Veremos que os resultados experimentais confirmam a importância da consistência. Aqui,
pretendemos, sobretudo, ilustrar o papel eventual que a influência joga num mecanismo de
modificação das relações e das normas sociais.
Por exemplo, suponhamos que submetemos, a um psicólogo, uma série de problemas e que
ele nos responde em termos de recompensas ou de punições. Estamos no direito de pensar que
estes juízos reflectem não apenas as propriedades da realidade, mas, também, uma preferência
pelo behaviorismo. Sucede o mesmo, no que diz respeito às opiniões sobre o que é permitido
ou defendido por um grupo. Se um sujeito considera que não se devem vestir saias curtas,
cabelos compridos, etc., deduzimos, obrigatoriamente, que estas respostas exprimem, ao
mesmo tempo, juízos sobre o que é mais ou menos útil para a vida de uma colectividade e
uma escolha de valores. Neste sentido, qualquer juízo de atributo ou qualquer juízo de
utilidade têm as suas raízes num juízo de preferência ou surge, inicialmente, como um juízo
de preferência.
Deste modo, como bem o demonstrou Kuhn (1962), a escolha, pelos cientistas, de um
domínio de investigação nem sempre se impõe a priori graças a um determinado critério. Só
depois que os cientistas tenham convencido outros cientistas é que os trabalhos se
desenvolvem, e, a par disso, é preciso que o paradigma elaborado num domínio se transforme,
ao mesmo tempo, na norma do que é desejável estudar para ser reconhecido pela comunidade
científica, e no mapa das dimensões e dos fenómenos que caracterizam a realidade física num
determinado momento. Assim, se, a par da sua consistência, qualquer juízo se apresenta como
uma tomada de partido, um juízo de preferência, então aquele que o formula no seio de uma
interacção, pretende, ao mesmo tempo, dizer a verdade e levar à adesão daqueles a quem se
dirige. Deste modo, todos os seus actos, os seus pensamentos são percepcionados como tendo
uma intenção persuasiva e, é neste contexto, que o interlocutor reage.
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seguindo a evidência recém criada, seja seguindo a atitude de afastamento dos princípios e da
escola no seu conjunto. Estas considerações gerais são relativa, mas não inteiramente,
especulativas, tornam evidente o estatuto da consistência do comportamento como fonte de
influência. Iremos, agora, da experiência que temos com esta forma de ver e de deduzir,
mostrar algumas consequências importantes.
Cada díade é constituída por um sujeito ingénuo e um cúmplice, este último, tanto fala
primeiro que o sujeito ingénuo (situação de interacção), como fala depois (situação de
testemunha). Quando o cúmplice fala primeiro, dá sempre a mesma interpretação para todos
os desenhos, seja “garrafa”, o que por consequência, vai fazer com que esta resposta surja
mais cedo na série de respostas do sujeito crítico, seja “rosto humano”, o que faz com que a
emissão das respostas “garrafa” se torne mais tardia, na série de interpretação do sujeito
crítico. O cúmplice não exerce qualquer influência relativamente aos desenhos ambíguos do
início e do fim da série.
Numa outra experiência (Luchins & Luchins, 1961), o sujeito ingénuo deve dar a sua opinião
sobre uma pessoa a partir de uma série de onze descrições, apresentando-se inicialmente essa
pessoa como extremamente introvertida e no final como extremamente extrovertida. O
cúmplice dá o seu parecer antes do sujeito ingénuo, e este parecer tende a qualificar a pessoa,
no decorrer de toda a experiência seja como introvertida, seja como extrovertida. Observam-
se, nos dois casos, uma influência do cúmplice.
Deste modo, a expressão de um ponto de vista coerente leva à adesão, inflecte a percepção de
um sujeito ou juízo respeitante a uma pessoa.
Iremos agora ver que esta possibilidade de apresentar uma opinião de forma consequente
explica o facto de um indivíduo poder exercer uma maior influência do que uma minoria
mesmo que importante. Concerteza que o testemunho ao qual tivemos acesso é indirecto mas
não deixa de ser pertinente.
Torrance (1959) propôs-se a estudar o impacto de um indivíduo sobre um grupo, pelo facto de
este ter tido uma experiência prévia com um objecto, com a qual o resto do grupo contacta
pela primeira vez.
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Os grupos são constituídos por seis a doze indivíduos que consumiram um produto chamado
“pemmican”. Bem entendido, os grupos estão compostos de sujeitos que admitem terem tido
uma experiência favorável ou desfavorável e de sujeitos que não fizeram esta experiência.
Dito de outro modo, o indivíduo sozinho tem um maior impacto sobre a opinião da maioria
porque ele organiza de forma mais sistemática os seus argumentos e por isso não somente dá
uma ideia mais precisa do objecto da atitude, mas torna-se igualmente numa “vedeta” e, como
tal, um pólo de persuasão. Seguramente, se vários indivíduos que constituem a minoria
pudessem atingir um grau de coerência intra-individual igual ao grau de coerência inter-
individual, o efeito seria semelhante. De qualquer maneira, esta experiência não demonstra
apenas que a consistência de um sujeito influencia os juízos da maioria, mas também, que esta
consistência tem uma importância ainda mais decisiva que o número de indivíduos que
constituem a minoria.
Alguns resultados experimentais levam-nos a duvidar que assim seja. Primeiro porque ainda
não encontrámos uma relação directa entre a grandeza da maioria e a grandeza da pressão
para se conformar (Goldberg, 1954). A seguir, um exame das investigações feitas desde à
vinte anos obriga a observar, como o faz Graham (1962) que a causa do efeito do
conformismo reside menos na maioria que na unanimidade do grupo que emite as normas.
Mais precisamente, uma parte da influência pode ser atribuída à presença de uma maioria e a
outra parte à forma como ela se manifesta, isto é, à sua unanimidade.
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Para compreender o sentido desta unanimidade, torna-se necessário distinguir a consistência
sincrónica, quer dizer, a consistência que resulta das respostas idênticas de vários indivíduos
a um mesmo estímulo, da consistência diacrónica, que caracteriza as respostas idênticas ao
longo de uma série de estímulos. A maioria unânime, geralmente, concretiza a consistência
sincrónica, dado que todos os membros do grupo dão a mesma resposta a um determinado
estímulo. Basta que um só membro do grupo, pertencendo a este grupo, forneça uma resposta
diferente para que a consistência desapareça, mesmo que a maioria subsista.
Asch (1956) demonstrou que uma maioria unânime (de três a nove sujeitos ingénuos)
provocava a aceitação do seu juízo por mais de um terço dos sujeitos ingénuos, mesmo que
este juízo seja objectivamente “erróneo”. No entanto, num grupo de oito ou nove cúmplices,
apenas um destes dá uma resposta “correcta”, como sucede com o sujeito ingénuo, o número
de pessoas influenciadas caía de 32% para 10,4%. Globalmente, observamos que a maioria
que não é constante nas suas opiniões, que não é unânime, mesmo se é mais numerosa, exerce
menos influência que uma maioria unânime. Isto equivale a dizer que a consistência dos
sujeitos tem mais peso que o seu número, e que não há qualquer relação entre o tamanho da
maioria e a eficácia da sua pressão ao conformismo. Apenas a sua unanimidade está em jogo.
A consistência sincrónica, como acabámos de ver, é uma fonte de influência cuja importância
excede aquela que a dependência tem relação a uma maioria. A consistência diacrónica parece
desempenhar um papel análogo. O efeito de Asch repousa sobre dois tipos de tentativas
(ensaios): as tentativas “neutras”, isto é, as tentativas em que os cúmplices respondem
“correctamente”, e as tentativas “críticas”, quer dizer, as tentativas em que os cúmplices
respondem de forma “errada”. É claro que a influência é exercida aquando das tentativas
críticas, pois que nestas últimas, esperamos que os sujeitos ingénuos respondam em
desacordo com a evidência perceptiva, mas em acordo com opinião do grupo. Este grupo
parecerá diacrónico tanto mais quanto mais consistente, mais sistemático, que ele tenha mais
tentativas “críticas” em relação às tentativas “neutras”.
Asch variou a proporção das tentativas neutras, em relação às tentativas críticas, da seguinte
forma: 1/6, 1/2, 1/1, 4/1. Ainda que as diferenças não sejam significativas, observa-se uma
tendência clara: quanto menos a maioria é coerente consigo mesma, de uma ponta à outra da
série, menos os sujeitos ingénuos se conformam às suas respostas. Resultados análogos foram
encontrados por Iscoe e Williams (1963) numa outra experiência. Jacobs e Campbell (1961)
realizaram uma experiência que, também, poderia apoiar este fenómeno. Podemos dizer que
uma tradição se transmite porque a colectividade à qual ela pertence a impõe de forma
perseverante aos seus membros numa geração e ao longo das gerações. Podemos, então,
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afirmar que a conservação das normas culturais solicita um comportamento consistente tanto
sincrónica como diacronicamente. Se este último aspecto temporal falha, então, as normas
desintegram-se progressivamente e a sua influência desvanece-se.
Os grupos eram inicialmente constituídos por um sujeito ingénuo e vários cúmplices que
apresentavam em voz alta uma série de juízos antes que o sujeito ingénuo emitisse o seu. Nas
tentativas subsequentes, os cúmplices eram substituídos (um de cada vez) por sujeitos
ingénuos. Quando os cúmplices do experimentador tinham sido todos substituídos, através do
mesmo método, eliminavam-se os outros membros do grupo por ordem de antiguidade no
grupo.
Encontramo-nos face à presença de duas forças, uma representa a “norma” do grupo que, em
laboratório, é maioritária e a outra que é a evidência perceptiva do indivíduo isolado. Segue-
se que uma parte dos indivíduos começam a vacilar na sua opinião quanto à informação
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fornecida pela realidade física. Então, aos poucos, começam a aproximar-se do grupo, da sua
convenção, para escapar à incerteza e participar na realidade social constituída, onde linhas
apreendidas, em qualquer lado, como sendo iguais são desiguais. Apesar de tudo, coisas
destas acontecem. (...) Voltando à experiência de Asch o contraste entre a opinião dos seis a
oito cúmplices e a percepção do sujeito ingénuo provoca uma dúvida de opinião deste quanto
à sua capacidade de percepcionar as linhas rectas; deste modo, a pressão ao conformismo age
em favor do grupo que exerce o controlo sobre o indivíduo isolado.
Todos estes argumentos conduziram a uma conclusão evidente: “a maioria pode influenciar a
minoria, mesmo quando ela exprime opiniões contrárias à evidência física objectiva”.
Formulemos agora a hipótese de que o efeito de Asch a) não é devido à pressão da maioria
mas à consistência das suas respostas e b) que a influência que aí se manifesta tem por
objectivo a mudança duma norma dominante, provocando a necessidade de escolher entre os
termos de uma alternativa ou entre vários grupos. Nesta perspectiva, é necessário reposicionar
a situação, o conflito que surge em laboratório num contexto mais alargado.
O sujeito ingénuo que vem a este laboratório é, certamente, um indivíduo isolado, mas é
também o representante de uma colectividade mais alargada no seio da qual reina um certo
consenso quanto à apreciação de duas linhas rectas. O juízo perceptivo torna-se aqui duplo, de
uma convenção estabelecida, ele faz parte dos truísmos da cultura que milhares de pessoas
partilham e que, durante anos, foram reforçados pela acção dos pais; o grupo psicológico ao
qual ele está ligado, que determina a sua perspectiva, está igualmente presente entre os muros
da sala onde decorre a experiência. Nesta sala, o sujeito dito ingénuo encontra uma série de
outros indivíduos que, de forma coerente parecem propor uma regra diferente, um modo
diferente de apreciação, e para falar verdade, o inverso daquele que é habitualmente proposto.
Constituem eles, aos olhos do sujeito, uma amostra representativa da colectividade à qual
pertence o sujeito, ou da maioria dos homens, tal como o defende Asch (1956)? “O indivíduo
minoritário não tinha qualquer motivo para supor que outros, não incluídos no grupo, seriam
mais susceptíveis de se aliar ao seu parecer. Esta maioria simbolizava o que qualquer
fracção da humanidade percepciona” (p. 67)
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Tomando em conta tudo, o sujeito ingénuo da experiência de Asch encontra-se numa situação
análoga à dos prisioneiros de guerra (Schein, 1957) que são, por um lado, afastados da sua
colectividade de origem e, por outro, continuamente endoutrinados, até perderem a sua
identidade inicial e a serem tentados de procurar a identidade que lhes é oferecida. Schein
(1960) observa:
“Uma prática frequente nas prisões, nos hospitais psiquiátricos, nos ateliers educativos, nas
casas de correcção, nos lugares de aposentadoria religiosa, nos centros de formação, nos
mosteiros, nos conventos, nos pensionatos, etc., é a de afastar os internados das suas relações
sociais anteriores. Os funcionários esforçam-se, também por, sistematicamente, destruir a
organização interna do grupo de ‘internados’... ao mesmo tempo que a alienação social é
favorecida pela atribuição de favores especiais, de recompensas ou de privilégios, aos que
cooperam com as autoridades” (p. 169).
De acordo com o que sabemos (Walters & Parke, 1964; Walters & Quinn, 1960) o isolamento
social provoca uma ansiedade que se torna mais sensível à influência. Como já vimos, basta
que um só cúmplice que esteja de acordo com o sujeito ingénuo para que este se sinta apoiado
pela sua colectividade de origem, menos isolado e parar de se conformar ao juízo da minoria
formada no laboratório e para a qual duas linhas apreendidas como desiguais são iguais.
Mas mesmo quando o sujeito está só, esta minoria deve mostrar que o seu ponto de vista lhe é
caro, que ela adere sistematicamente para que nasça um conflito entre dois quadros de
referência, entre o grupo ao qual o sujeito pertence momentaneamente e o grupo ao qual ele
pertence em permanência, para que uma parte dos sujeitos (um terço) resolvam este conflito a
favor do grupo em que eles são membros forçados, enquanto que um outra parte (dois terços)
permanecem fiéis ao grupo habitual.
Podemos ainda referir que, na experiência de Asch, a percepção de igualdade das linhas é
comandada, como grande número das nossas percepções, por um truísmo cultural. Nestas
experiências sobre a imunidade à persuasão, Mc Guire (1964) demonstrou que estes truísmos
são vulneráveis à propaganda.
O consenso geral, em muitas áreas da vida corrente, pode ser colocado em questão por
comunicações insistentes, comunicações que não poderiam ser, nesta sociedade e a este nível,
senão obra de uma minoria resoluta. Para reduzir esta vulnerabilidade, basta imunizar estas
opiniões estereotipadas, de lhes injectar, em pequenas doses, argumentos que vão contra a
propaganda. A comunidade maioritária se reafirma, deste modo, volta a ter controlados os
seus membros, reanima a sua adesão, e encontra a certeza quanto à validade das suas normas.
Algumas experiências demonstraram que basta aumentar a confiança em si, sustentando pela
autoridade do experimentador o sujeito ingénuo, para que este, confrontado com a situação
concebida por Asch, seja muito menos conformista (Luchins, 1945; Di Veste, 1959). De
algum modo, ele está imune a qualquer ataque contra os truísmos geométricos.
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Se todos estes raciocínios estão correctos, se é de facto a firmeza com a qual os cúmplices
mantêm a sua opinião que acaba por modificar o juízo dos sujeitos ingénuos, então, as
experiências de Asch mostram em substância que uma minoria coerente transforma, em
determinadas circunstâncias, uma norma da maioria. Esta conclusão é, como vemos, contrária
à anterior e o efeito de Asch toma um significado diferente se a considerarmos em relação à
mudança social e não mais em relação ao controlo social. De seguida iremos validar esta
inferência de forma experimental.
Demonstrámos, através de uma análise teórica, e à luz de uma reunião de dados convergentes,
que esta variável tem realmente uma existência autónoma, que os seus efeitos correspondem a
certos mecanismos psicológicos gerais. No entanto, a evidência sobre a qual nos apoiámos é
indirecta; resta-nos completá-la com provas mais directas. Para o fazer, vamos verificar as
duas hipóteses seguintes:
Um sujeito “minoritário” exprime uma preferência consistente numa situação de juízo que
induzirá os outros sujeitos “maioritários” a adoptar a sua resposta.
A tarefa comporta a escolha entre várias dimensões ou valores que são todos sentidos como
verdadeiros. E compreendemos a razão. Para que a validação seja indiscutível, e que o efeito
tenha como única fonte a consistência do sujeito é preciso que a resposta não seja
relativamente a um estímulo cuja veracidade pudesse ser colocada em causa (efeito de Asch),
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nem o resultado seja uma ilusão (efeito de Sherif). Se esse não fosse o caso, que pudéssemos
interpretar a resposta da minoria como sendo verdadeira ou falsa, seriamos obrigados a
atribuir a sua influência à sua competência e não ao seu estilo de comportamento. É preciso
também que, diante de uma alternativa de resposta, nenhuma das possibilidades possa ser
considerada como a melhor.
Resumindo, a minoria não deve ser depositária ou representativa de uma escolha que lhe daria
algum ascendente sobre a maioria. Caso contrário, qualquer influência seria uma
consequência pura e simples da dependência. E, claro que, na sequência dos estudos de
Crutchfield (1955), aceita-se como um dado o facto não haver qualquer acção influente ao
nível dos juízos de preferência. Acreditamos que este postulado pode ser colocado em
questão, a partir do momento em que reconhecemos o papel da consistência enquanto fonte de
influência.
• Os sujeitos dão uma série sucessiva de juízos acerca dos termos apresentados.
• O indivíduo minoritário emite sempre uma determinada classe de juízos ao longo de toda a
série; trata-se de uma consistência diacrónica.
• As diferenças entre os indivíduos são perceptíveis e elas são igualmente possíveis tanto do
ponto de vista do conteúdo como do estilo de comportamento.
• A imposição social não é intencional: ela deve resultar unicamente das diferenças manifestadas
ao longo da emissão dos juízos.
• Qualquer comunicação que não esteja relacionada com a tarefa é interdita.
Este paradigma foi empregue em duas experiências. Na primeira experiência não está
nenhuma norma social em jogo ao passo que, na segunda, uma norma implícita intervinha, à
volta da qual se organiza material experimental.
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Explicamos, depois, aos sujeitos que eles participam numa experiência que realiza, de forma
simplificada, uma tal situação de escolha e de tomada de decisão perceptivas. Para isso, eles
vão observar uma série de desenhos variando segundo quatro dimensões: tamanho (os
desenhos podem ser grandes ou pequenos), a cor (os desenhos podem ser vermelhos ou
verdes), a forma (que pode ser ou arredondada ou angulosa) e, por fim, o contorno (que pode
ser ou uma linha pontilhada ou uma linha contínua). Uma amostra destes desenhos é
apresentada aos sujeitos.
Informamos, então, os sujeitos que lhes apresentaremos uma longa série de desenhos e que,
como tal, para cada desenho haverá sempre quatro possibilidades de resposta correcta.
Apesar disso, pedimos-lhes que apresentem só uma resposta: aquela que, por qualquer
motivo, lhes pareça a mais apropriada num determinado momento, para um desenho
particular. Cada indivíduo deve dar a sua resposta em voz alta e anotá-la numa folha de papel
que lhe é fornecida pelo experimentador. A ordem da resposta está sistematicamente a variar
de: o sujeito que deu a resposta em primeiro lugar, no ensaio anterior, fala por último, no
ensaio seguinte.
A série de estímulos é formada por sessenta e quatro desenhos que se sucedem de tal forma
que, de um desenho ao outro, uma só das quatro dimensões se mantém inalterada, as outras
três foram permutadas (exemplo: grande/verde/arredondado/pontilhado; grande/vermelho/
/anguloso/contínuo, depois pequeno/vermelho/arredondado/pontilhado, etc.).
Os sujeitos reunidos em grupos de quatro ou cinco ocupam três lados de uma mesa
rectangular, sendo o quarto lado ocupado pelo experimentador que apresenta os desenhos um
após outro. Nos grupos experimentais, um cúmplice do experimentador escolhe
constantemente a resposta cor, desde o primeiro até ao último desenho (ou ensaio). Os grupos
“controlo” apenas são formados com os sujeitos ingénuos.
Os sujeitos são estudantes americanos de dezanove a vinte e dois anos que estão a tirar, em
Paris, um curso de aperfeiçoamento dos seus conhecimentos de língua francesa.
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Quadro 1
Primeira experiência: comparação das médias de escolha em cada dimensão, dos grupos
experimentais e dos grupos de controlo
Um segundo índice desta influência sobre o sujeito ingénuo é a seguinte: quando uma
resposta representa uma escolha de preferência dos indivíduos, é normal que este não a emita
de forma isolada mas sim, numa série de duas ou mais respostas sucessivas. Observamos que,
nos grupos experimentais, os juízos “cor” são muito mais emitidos em séries de duas ou mais
respostas (!2 = 17.84, " < .001). Em relação às outras dimensões, ou não se encontram
diferenças significativas (tamanho) ou, então, o número de respostas “isoladas” aumenta
(forma: !2 = 5.45, .05 < " < .02; contorno: !2 = 22.39, " < .0001). Deste modo, o
comportamento consistente de uma minoria não determina apenas as taxas (níveis) de
respostas da maioria mas, também, a sua organização.
Extraímos oitenta e nove associações, duma lista estabelecida por Nunnally que mediu a
frequência das escolhas associativas, numa população de estudantes americanos.
A cada “palavra estímulo” (por exemplo, laranja) correspondem duas “palavras resposta”,
sendo uma, um qualificativo (por exemplo, redonda), a outra, um supra-ordenado (por
exemplo, fruto).
O sujeito tem diante dele um fascículo de cinco páginas no qual estão impressas oitenta e
nove associações.
O experimentador lê a “palavra estímulo” e os sujeitos devem dizer, em voz alta, qual das
duas palavras, que se encontram na mesma linha, lhes parece ser a mais próxima, aquilo que
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eles associariam voluntariamente à “palavra estímulo”. Depois, cada indivíduo escreve a sua
resposta (assinala a sua escolha) na folha que tem diante de si. A ordem de resposta varia
sistematicamente, o sujeito que respondeu em primeiro lugar, na tentativa anterior, fala em
último lugar no ensaio seguinte.
Os grupos compostos por quatro sujeitos, estão sentados da mesma forma, que na experiência
descrita mais acima. Nos grupos experimentais, um cúmplice escolhe sempre a resposta
supra-ordenada. Os grupos de controlo, são compostos unicamente de sujeitos ingénuos.
As associações foram ordenadas por nós, em duas listas diferentes, de acordo com uma
probabilidade, crescente ou decrescente, de escolha da palavra supra-ordenada, na população
geral.
Na primeira lista (Lista A), a probabilidade de associação ao estímulo das respostas supra-
ordenadas é maior no início: acontece que a associação escolhida pelo cúmplice corresponde
à norma. À medida que esta probabilidade diminui, a sua conduta parece ser mais
“conservadora” e de natureza a travar a adaptação à mudança dos hábitos verbais.
Os resultados obtidos foram, por vezes, contraditórios. Pensamos que isso se deve à
complexidade do estímulo e ao facto de a consistência do comportamento não ter sido
manipulada com o rigor desejável (e necessário).
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apresentação da lista de associações. Que o cúmplice se comporte como um desviante ou
como um conservador, a sua influência sobre a resposta da minoria é certa (ver Quadro 2).
Face a estes resultados, torna-se lícito tentar saber se o efeito de escolha do indivíduo
minoritário sobre o indivíduo maioritário se exerce ao longo de toda a lista ou somente na
parte da lista onde ele está mais próximo da norma. Este efeito traduz uma modificação da
norma de cada um, do seu modo de categorização, unicamente se diz respeito aos conjunto
das associações.
De facto, observa-se uma tal modificação porque a proporção das associações “supra-
ordenadas” dos sujeitos pertencentes aos grupos experimentais é significativamente mais
elevada que a proporção das associações supra-ordenadas dos sujeitos nos grupos de controlo,
na segunda metade da lista A (t = 3.41, # = 34, .01 > " > .001), e na primeira metade da lista
B (t = 2.38, # = 34, .01 > " > .001).
Quadro 2
Segunda experiência: comparação das médias de respostas “supra-ordenadas” dos grupos
experimentais e dos grupos de controlo
Lista A Lista B
Médias dos grupos experimentais (k = 8) 74.01 63.67
Médias dos grupos testemunha (k = 8) 57.61 53.89
t de student 2.24 1.91
Graus de liberdade 10 10
Nível de significação < .05 .10 > p >.05
A proporção das respostas “supra-ordenadas” nos grupos de controlo é a mesma, quer se trate
da lista A ou da lista B. Uma diferença entre as duas listas será, necessariamente, devida à
posição do cúmplice. Efectivamente a frequência de emissão das associações supra-ordenadas
é mais elevada (t = 1.91, # = 10, 10 > " > .05) nos grupos experimentais onde ele é
conservador (Lista A) do que nos grupos onde ele é desviante (Lista B). Deste modo, o
conformismo inicial permite à minoria de ser mais influente, mas não é, em caso algum, a
condição necessária dessa influência.
4. CONCLUSÃO
Os resultados obtidos são, portanto, conformes às nossas hipóteses. Eles provam que a
consistência do comportamento de um indivíduo minoritário determina a resposta da maioria.
Esta influência não poderia ser atribuída a nenhuma outra variável, entre aquelas que foram
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por nós controladas. Nem o sexo dos sujeitos, nem a personalidade do cúmplice, nem a
distância ecológica, em relação a ele, produziram, em nenhuma das duas experiências, efeitos
significativos.
Estas experiências, como bem se pode ver, estão apenas no início, no que concerne ao estudo
da inovação, das pressões que nascem dentro de um grupo para mudar as normas, os seus
juízos, e dos processos, através dos quais, o indivíduo ou um subgrupo conseguem modificar
os seus valores, as opiniões, as regras dos membros de um grupo.
Ainda nos faltam conceitos e os problemas que se levantaram nesta ocasião são
contracorrente, em relação aos problemas que retêm a atenção dos psicossociólogos,
sobretudo quando eles analisam os fenómenos da influência. Pensamos que, no entanto, não
somente demonstrámos que uma minoria resoluta pode orientar os juízos da maioria, como,
também, trouxemos luz para as causas desse efeito e tornámo-lo operatório, no interior de um
paradigma experimental.
© Celeste Duque
2008-04-04
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