1) O documento discute a importância das relações públicas no gerenciamento de crises corporativas, analisando o caso da Tam após o acidente do voo 402.
2) As relações públicas são definidas como a atividade de estabelecer compreensão mútua entre uma organização e seus públicos.
3) Gerenciar crises exige que as relações públicas planejem estrategicamente, identifiquem possíveis ameaças e definam um plano de ação para situações adversas.
1) O documento discute a importância das relações públicas no gerenciamento de crises corporativas, analisando o caso da Tam após o acidente do voo 402.
2) As relações públicas são definidas como a atividade de estabelecer compreensão mútua entre uma organização e seus públicos.
3) Gerenciar crises exige que as relações públicas planejem estrategicamente, identifiquem possíveis ameaças e definam um plano de ação para situações adversas.
1) O documento discute a importância das relações públicas no gerenciamento de crises corporativas, analisando o caso da Tam após o acidente do voo 402.
2) As relações públicas são definidas como a atividade de estabelecer compreensão mútua entre uma organização e seus públicos.
3) Gerenciar crises exige que as relações públicas planejem estrategicamente, identifiquem possíveis ameaças e definam um plano de ação para situações adversas.
A Importncia da Atividade de Relaes Pblicas no Gerenciamento de Crise Estudo
de Caso da Tam Vo 402
1
1 Trabalho apresentado ao Intercom Junior Jornada de Iniciao Cientfica em Comunicao no NP Comunicao Organizacional, Relaes Pblicas e Propaganda.
Aline da Silva Gil 2
Aluna da Universidade Luterana do Brasil Ulbra Campus Canoas
2 Estudante do 8 o semestre de Comunicao Social Habilitao em Relaes Pblicas. E-mail: aline.gil@uol.com.br
Resumo
O presente trabalho teve como objetivos a demonstrao da importncia da atividade de relaes pblicas no gerenciamento de crises e a anlise da atuao do profissional de marketing que comandou as aes da Tam aps o acidente do vo 402 em So Paulo. Visa tambm a diferenciao dos termos conflito e crise, e a definio dos processos de argumentao. Baseando-se que grande parte das crises comea com falhas de comunicao e falta de profissional qualificado, lembrando a falta de conhecimento organizacional sobre o tema, perceberemos que o relaes pblicas indispensvel em empresas modernas, pelo seu conhecimento em integrar interesses e opinies, e em manter uma viso global do meio em que atua. A anlise propiciou a confirmao de que os relaes pblicas esto diante de um novo e crescente mercado, o qual necessita de profissionais qualificados e atualizados.
Palavras-chave Conflitos X crise; negociao; relaes pblicas; relaes de poder. Relaes pblicas Relaes pblicas, apesar de no haver entendimento sobre as suas vrias frentes de atuao mesmo entre os diversos autores, definida como a atividade planejada e contnua que busca estabelecer e manter a compreenso mtua entre a instituio e os diversos pblicos com que ela se relaciona direta ou indiretamente, conforme a Associao Brasileira de Relaes Pblicas. Em suma, o profissional busca a transparncia e o entendimento das organizaes com os diversos segmentos da sociedade, podendo ser considerado o agente facilitador dos interesses. Sua funo defender, proteger e reconstruir a reputao da empresa ou de sua marca. Baseado nesses dados percebemos que a preveno e o gerenciamento de crises devem ser sempre voltados s necessidades e vontades dos pblicos. No mundo altamente interconectado da atualidade, onde tudo pode ser divulgado instantaneamente, a presena do profissional de relaes pblicas cada vez mais indispensvel, j que diariamente o comportamento individual ou organizacional afeta um maior nmero de pblicos e tambm afetado por eles. Kunsch (2002, p.100) divide as atividades em quatro funes bsicas: Funo administrativa integrao dos setores da organizao ; Funo Estratgica mostra quem a organizao, sua viso, misso ; Funo Mediadora precpua, uso de tcnicas para agir como o facilitador do dilogo entre interesses divergentes ; Funo Poltica preveno e gerenciamento de crises, lida com as relaes de poder. Para agir com eficcia na funo poltica, necessrio que o profissional reconhea e tenha acesso a todas as relaes de poder que ocorrem na empresa, para assim mensurar seus efeitos, positivos ou negativos, no ambiente macro. Alm disso, os problemas enfrentados nessa funo podem ser divididos em dez nveis, conforme Simes (1995, p. 73-79). O 1 o
nvel o de interesses satisfeitos, tudo est em ordem de acordo com a percepo dos pblicos, mas uma etapa traioeira, j que qualquer deslize pode mudar a realidade. Caso essa alterao ocorra, entramos na fase da insatisfao (2 o nvel). Mudanas dentro da organizao afetam os pblicos, logo necessrio que este seja preparado pelo departamento de relaes pblicas para toda alterao, vlido lembrar que difcil acostumar-se com o novo sem que haja aviso prvio. no 3 o nvel que aparecem os sintomas de que algo no est bem junto aos pblicos, comeam as fofocas, boatos, rumores e charges, levando etapa das coligaes (4 o nvel), j que a carga emocional transmitida faz com que as pessoas com pensamentos semelhantes se unam contra o mal comum. Essas unies pressionam a organizao de forma mais gil e eficaz 5 o nvel, presso junto ao poder organizacional , caso a empresa seja rgida em sua postura, h chance de que esses descontentamentos transformem-se em conflitos (6 o nvel), cuja principal conseqncia a perda de espao perante o pblico ou o concorrente. A forma de soluo para os conflitos a negociao (7 o nvel) que ocorre atravs da concesso das partes para chegar ao acordo. A falta de resultado aceitvel a todos, leva instalao da crise (8 o nvel), fase em que os canais de comunicao se fecham, e de onde a nica sada a Arbitragem (9 o nvel), na qual o departamento de relaes pblicas no tem mais amplo controle das aes, fortificando-se o poder jurdico. Todos os esforos devem ser na preveno de que esse nvel se instale, afinal mais provvel que terceiros, principalmente o Estado, tendem a defender o lado mais fraco, no caso, os pblicos. O 10 o nvel naturalmente evitado tanto pela organizao quanto pelos pblicos, a convulso social, quando o pblico parte para a violncia atravs de sabotagens, motins, etc. Os relaes pblicas, nesse caso, s atuam em aes externas ao fato. Esta classificao proposta por Simes demonstra o quo importante o planejamento do profissional de relaes pblicas para evitar adversidades. O planejamento estratgico organizacional uma das atividades mais abrangentes e complexas da rea, j que o responsvel deve ter uma viso global da organizao, cujos dados levantados para sua montagem resultaro em planos, programas e projetos. A funo de planejar estrategicamente a comunicao privativa dos profissionais de relaes pblicas, conforme a Resoluo Normativa n o 43, mas o responsvel deve lembrar que no possvel agir de forma isolada, necessrio que seja uma atividade integrada com as demais reas da comunicao, com o departamento jurdico e com a alta administrao. Alm disso, o planejamento deve levar em conta todos os constituintes da empresa, no somente consumidores, mas tambm colaboradores, acionistas, governo, imprensa, e outros com que se relaciona. A relao com a imprensa uma das que mais deve ser valorizada e centrada na tica e na veracidade de informaes, afinal, uma simples mentira, pode transformar-se em uma tragdia. No caso de uma situao adversa, de suma importncia que o profissional de relaes pblicas tenha conhecimento do fato antes mesmo que ele ocorra, ele precisa prever o conflito, diferente do que ocorre na realidade do mundo corporativo atual. Conforme Kunsch: Normalmente, a rea de relaes pblicas chamada para consertar o problema ou apagar o incndio, quando deveria fazer parte da gesto desenvolver um planejamento pr- ativo, para contornar maiores problemas e minimizar danos incontrolveis (2003, p. 115). O fato de que 90% das crises podem ser previstas (NEVES, 1998, p. 55), ressalta a importncia do planejamento do profissional habilitado estar continuamente na empresa, identificando possveis ameaas, formas de evit- las e de det- las. Quando a crise se instala, a organizao necessita de um posicionamento imediato e verdadeiro perante os pblicos, e seguir oito dicas bsicas (NEVES, 2002, p. 195-198): 1. A empresa deve continuar trabalhando normalmente; 2. Aliderana deve ter visibilidade, demonstrar que a organizao tem comando; 3. Respeitar as expectativas e os sentimentos dos pblicos; 4. Dizer sempre a verdade; 5. Ser coerente no posicionamento; 6. Poupar energia; 7. Ter cuidado e pacincia com possveis especialistas que surgiro para dar sua opinio; 8. Vislumbrar sempre o pior cenrio possvel. Mesmo passado o ponto crtico do conflito, a empresa ainda inspira cuidados, como um perodo de quarentena, logo a funo do relaes pblicas contnua desde o planejamento e preveno, at a administrao do caso e desse perodo de ateno, colocando em prtica um plano de reconstruo de imagem. Fatos negativos no so apagados da mente dos pblicos, mas possvel que a adversidade enfrentada seja colocada em segundo plano frente boa conduta e qualidade que a organizao volta a transmitir. evidente que a mdia sempre relembrar o fato caso ocorra um novo episdio, assim a notcia ter mais destaque e sensacionalismo, portanto importante estar preparado para essa ocasio. O profissional de relaes pblicas deve demonstrar sempre sua importncia para a organizao e as formas como ele pode contribuir para a produtividade funcional, para que tenha mais chances de ser ouvido e ter seus pareceres analisados e aceitos. Gerenciamento de Crises As organizaes modernas esto cada vez mais propensas a enfrentar problemas com seus pblicos, s vezes devido a falhas, em outras sem nenhuma culpa aparente, como um boato, por exemplo. Esses defeitos que geram o descontentamento dos constituintes podem ser apenas conflitos sem maiores conseqncias ou possuem grandes chances de transformar- se em crises, se no forem contornados de forma correta e no tempo hbil. A principal diferena entre conflito e crise pode ser notada pela gravidade e intensidade do fato, porm ambos so formas de protesto que demonstram as divergncias de interesses que afetam a imagem organizacional. nessa incompatibilidade de opinies que o profissional de relaes pblicas deve interferir a fim de evitar a evoluo a uma crise, no somente atravs de formas de dominar a situao, mas principalmente estipulando medidas preventivas. Esse crescimento da probabilidade de instalao de crise se deu graas s novas necessidades e vontades dos pblicos, os quais ampliaram suas formas de manifestao graas democracia crescente, determinando inmeras mudanas no modo de comunicao e no comportamento das organizaes. Somado a isso, est o fato de vivermos em um ambiente altamente conectado e interligado, onde a comunicao quase instantnea, exigindo respostas rpidas aos questionamentos. Esta possibilidade de interao imediata trouxe inmeras facilidades ao homem, mas trouxe pelo menos uma questo negativa ao mundo dos negcios: A possibilidade de um problema simples transformar-se em uma crise de propores mundiais em questo de algumas horas. Logo, toda a empresa deveria pensar na forma de proteger-se de adversidades, sempre lembrando que o sucesso no um antdoto para os conflitos, muitas vezes como um m. Crises atingem aqueles que tm muito a perder e que antes delas ostentavam uma imagem pblica inatacvel (ROSA, 2001, p. 34-36). Para evitar que estes eventos negativos atinjam uma gravidade incontrolvel, necessrio que um profissional competente adote atitudes corretas, anteriormente planejadas, j que quando se est no centro do problema, fica- se transtornado, no percebendo as oportunidades que chegam junto ao caos. Os estudos sobre crise e suas formas de preveno e gerenciamento iniciaram h pouco tempo, restando muito a ser descoberto, mas j se sabe que as crises seguem um certo padro, podendo-se prever, com maior ou menor grau de preciso, o seu surgimento e seus desdobramentos. Segundo Mitroff apud Rosa (2001, p. 21), a diferena entre os tipos de crise baseada em seu agente provocador, sendo ele humano, o fato ganha maior ateno e perigo. Em princpio, falhas podem ser previstas e, exatamente por esse motivo, o pblico se sente escandalizado quando elas ocorrem. Quando a falha humana, as reaes so muito mais adversas, j que so situaes facilmente evitadas e causam sentimentos negativos maiores do que em desastres naturais. As crises de imagem so as mais difceis de serem resolvidas, j que a imagem pode ser considerada um dos maiores valores de uma organizao, ela que muitas vezes determina a deciso de um impasse, seja para o bem ou para o mal. Segundo Neves (2002, p. 23): Se tiver credibilidade, mesmo que a empresa seja culpada, vai encontrar mais tolerncia por parte da mdia e dos outros pblicos. Mesmo com toda a ateno voltada imagem, ainda h uma forte subestimao da sua amplitude e das conseqncias de sua m gesto. De uma forma generalizada, a imagem empresarial no Brasil ainda muito ruim, os pblicos sempre pensam que as organizaes tm algo a esconder. Graas a este esteretipo, raro quando a opinio pblica julga uma organizao pelos seus atos, normalmente segue a sua emoo. Opinio pblica um tema ainda complexo e amplo, mas desde os antigos filsofos j havia preocupao com a opinio das massas. As possibilidades de manipulao e de apoio das idias populares sempre interessaram a muita gente. Neves (2002) dividiu a opinio pblica em dois grupos: Grande opinio pblica coleo de indivduos desorganizados sem uma identidade de interesses, logo a empresa no precisa preocupar-se com a sua segmentao ; Pequena opinio pblica so os constituintes da empresa, internos e externos, e suas opinies so de extrema importncia rotina empresarial. Baseado nessas idias, notamos que a imagem perante a opinio pblica algo poderoso e de grande valor empresa. Imagem tanto pode enriquecer, como levar falncia (NEVES, 1998, p. 63). Ligada imagem e credibilidade est a reputao, e so consideradas as principais formas de sobrevivncia de uma organizao, alm disso, extremamente difcil de ser construda, mas necessrio apenas alguns dias para ser destruda. Crises de imagem tm como forte caracterstica o clima de comoo e a ampla difuso na mdia, cada episdio diferente do outro, portanto no h uma frmula mgica para extingui- las. Afinal, a administrao de crises antes de mais nada, uma forma de pensar e no uma simples frmula de agir (ROSA, 2001, p. 164). Um plano de gerenciamento de crises deve ser elaborado em momentos de calmaria quando a organizao no est sendo ameaada, economizando no apenas tempo e dinheiro, mas deixando de perder posicionamento de mercado e ganhando credibilidade perante seus pblicos. Numa situao de crise, uma das primeiras atitudes que a organizao deve tomar reconhecer a sua responsabilidade pelos prejuzos causados, mesmo desconhecendo a causa do fato. Toda providncia a ser tomada deve ser centrada na verdade, sanando o maior nmero de dvidas de forma correta, eficiente e gil. O porta-voz ideal o prprio representante da organizao, mas caso este no preencha os requisitos possvel que se nomeie um terceiro. Concentrar o fluxo de informaes para evitar que eventuais diferenas de tom no produzam a percepo de discrdia, incerteza ou insegurana perante a opinio pblica (ROSA, 2001, p. 139). importante ressaltar que existe mais de uma viso em um ambiente de crise, fazendo com que o acontecimento ganhe destaque constante e exagerado, permitindo que cada veculo de informao torne-se nico, de forma a prolongar o fato e o clima de emoo. Tragdia e comoo geram lucros s editorias, logo o objetivo da organizao em relao mdia no demonstrar que ela est agindo errado com a empresa, mas sim que esta quem age corretamente. Para tentar minimizar as inmeras verses que surgiro, e assim diminuir os efeitos dos boatos, a nica soluo estabelecer uma relao de colaborao com os jornalistas, determinando coletivas peridicas, falando o que sabe e dizendo que no dispe de alguma informao solicitada. No trato com a mdia, dois aspectos so importantes neste convvio: 1. A imprensa no investiga, o que o jornalista faz levar opinio pblica algo que a fonte lhe forneceu; 2. Levar em conta o modo particular com que eles pensam e expressam seus sentimentos (ROSA, 2001, p. 160). Nessas situaes importante que a empresa disponha de um profissional com habilidades para realizar a mediao entre a organizao e os pblicos afetados. Argumentao: Negociao, mediao e arbitragem Com a enorme quantidade de opinies e divergncias presentes em um momento de crise, o profissional de relaes pblicas deve ter estabelecidas as formas mais eficazes para equilibrar essas diferenas com os pblicos, buscando localizar pontos de interesses em comum nos quais pode propor um acordo. A negociao no s previne a incidncia de uma crise, mas tambm pretende manter a calmaria organizacional, atravs de, no mnimo, duas partes que negociaro a busca de solues, cedendo em alguns pontos para chegar ao vantajoso para ambos. inquestionvel que nesse pensamento do ganho mtuo algum dos lados ter de ceder mais para obter xito, e muitas vezes a empresa que ter que arcar com o nus maior. Caso a negociao no obtenha sucesso, necessrio que uma terceira pessoa entre em cena para facilitar o dilogo e encerrar o impasse. Este mediador deve ser uma pessoa neutra, com conhecimento de todas as divergncias e razes de cada um dos litigantes, lembrando que ele no decide o fato, apenas mobiliza as partes para um acordo. Quando a mediao est comprometida, um processo de arbitragem assume a frente da situao decidindo o impasse e determinando aes que se seguem ao conflito. Em todas essas situaes, o profissional de relaes pblicas deve ter habilidades de argumentao, pois necessrio demonstrar seus argumentos e opinies, para assim justificar seu plano. Argumentar nada mais do que apresentar os motivos e os pensamentos que levaram o negociador a decidir de determinada forma, no esquecendo das questes ticas e da presena de um receptor da mensagem com suas opinies e razes. Portanto, a argumentao jamais deve ser feita de improviso, argumentos emitidos sem um bom planejamento prvio pode comprometer a reputao organizacional. Este plano deve ser traado imediatamente aps o fato, pois certamente os pblicos lembraro do que foi dito pela empresa nos primeiros instantes. Setor aeronutico O setor aeronutico sempre despertou ateno e permanece bastante glamouroso, apesar das mudanas ocorridas ao longo dos anos. Em conseqncia a todos estes holofotes, quando h alguma falha em aeronaves ou aeroportos, esta largamente publicada e criticada, gerando nas companhias areas a necessidade de estarem sempre prontas para o pior. Por isso, esta uma das reas precursoras e mais disciplinadas em relao aos planejamentos e s formas de administrao de crises, mesmo sendo uma das mais seguras. Tam Anlise do caso Na manh de 31 de outubro de 1996 ocorreu o acidente com o jato F-100 da Tam que caiu 25 segundos aps a decolagem sobre residncias prximas ao aeroporto, matando 89 passageiros, seis tripulantes e quatro pessoas em terra. O caos instalou-se e, nem a empresa, nem a Infraero Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroporturia , estavam preparadas para um desastre de tais propores em uma rea urbana. A empresa foi uma das primeiras a chegar ao local do acidente, atravs do seu vice- presidente de marketing Luis Eduardo Falco e de um funcionrio, a fim de atestar a gravidade da situao. Assim que os bombeiros e a defesa civil chegaram ao local, Falco tratou de estabelecer contato na esperana de encontrar sobreviventes. Como a resposta das autoridades foi negativa, determinou que as buscas deveriam ser direcionadas s caixas pretas, para assim elucidar as causas da fatalidade o mais rpido possvel. Como responsvel pelo marketing, ele determinou as primeiras medidas, seguindo seu instinto e bom senso, conforme declarao do prprio. Levando em conta que o presidente da organizao no estava no Brasil, ordenou as primeiras providncias: 1. A empresa no poderia parar; 2. Ligou aos chefes dos pilotos e dos comissrios pedindo calma e ordenando a dispensa de quem no estava em condies de voar, para evitar o aumento do clima de emoo nos aeroportos; 3. Organizou um centro de atendimento s famlias com a equipe de ps-venda; 4. Abrigou os parentes das vtimas em um hotel e encaminhou funcionrios do atendimento para dar algum suporte; 5. O setor de cargas utilizou seus caminhes para transportar os corpos ao Instituto Mdico Legal (IML); 6. Marcou a primeira entrevista coletiva para as 12h, e determinou que receberiam a imprensa a cada 12h; 7. Informou primeiramente as famlias sobre as mortes, e somente depois divulgou a lista de passageiros imprensa. Com a chegada do presidente no dia seguinte, este assumiu a funo de porta- voz, aumentando a emoo nos pronunciamentos, j que este personificava a companhia. Sem um planejamento traado, solicitou auxlio American Airlines, parceira da Tam at os dias atuais, que mandou o manual por fax e disponibilizou um funcionrio especialista no tema para ajudar. Checado o manual americano, perceberam que esqueceram de determinar apoio religioso no IML e no hotel. Aproveitaram a oportunidade, e acrescentaram auxlio psicolgico, atravs do Laboratrio do Luto da Puc-Sp. Nestas situaes, necessrio levar em conta as diferenas culturais dos povos. O Comandante Rolim presidente e fundador da companhia decidiu visitar pessoalmente as famlias, e cumpriu 80% da sua meta, pois com o passar do tempo ao chegar nas casas l j se encontrava o advogado querendo negociar indenizaes. Neste ponto que a empresa percebeu o surgimento de uma nova crise as indenizaes. A quantia paga s famlias era determinada por acordos internacionais, porm a Tam solicitou seguradora que aumentasse o valor em dez vezes, ressaltando que seria o mesmo para todas as vtimas. O descontentamento de algumas famlias fugiu ao controle da empresa e surgiram as vivas da Tam Associao Brasileira dos Parentes e Amigos de Vtimas de Acidentes Areos (Abrapavaa) que ainda mantm 65 processos na justia americana. Em torno de 30 dias aps o acidente, saiu o relatrio preliminar elaborado pelo DAC (Departamento de Aviao Civil) que demonstrou uma falha tcnica da aeronave que seria de responsabilidade da Fokker (fabricante da aeronave). Assim foi ordenada uma checagem em toda a frota para evitar que outra soma de pequenos defeitos na fabricao gerassem outro desastre. Com o balano do acidente, a empresa obteve sucesso nas aes decididas imediatamente ao acidente. Um exemplo disso, foi a queda em 22% das aes na Bolsa de Valores de So Paulo (Bovespa) no dia do acidente, e sua conseqente valorizao em 100% apenas dois meses aps o fato. Mesmo com a tragdia, a empresa no parou de crescer nestes quase dez anos. Em 1996, realizava uma mdia de 400 vos por dia, subindo para 700 em 2000. A participao no mercado de vos domstico em abril de 2006 de 44%, seguida pela Gol com 31%, de acordo com dados encontrados no site do DAC. Apesar disso, toda crise leva a custos muito altos. A primeira conseqncia grave foi a queda de 10% (1000 funcionrios) no nmero de profissionais de vo que pediram demisso, fato que exigiu contratao e treinamento urgentes. Financeiramente, estimativas internacionais determinam perdas de um bilho de dlares em imagem. No h preocupaes com os custos da aeronave e das indenizaes, j que a seguradora arca com esses prejuzos. No h como questionar que a empresa tenha tirado algum proveito desta terrvel lio, pois certamente aprendeu, de forma dolorosa, que indispensvel, no mundo corporativo atual, um profissional de relaes pblicas acompanhando suas aes e planejando alternativas quando algo negativo ocorre. Indiscutivelmente, o instinto seguido pelo vice-presidente de Marketing e sua experincia em organizaes, somado ao carisma do presidente e ao amplo apoio recebido dos funcionrios fizeram com que a empresa no parasse de crescer e expandir os seus mercados. Porm, todos os esforos poderiam ter um resultado mais rpido e positivo se a organizao, no momento da queda, j contasse com um planejamento estratgico elaborado por um profissional de relaes pblicas. Vale ressaltar que este um caso extraordinrio e totalmente isolado de xito que dificilmente tende a se repetir. O profissional de marketing atuou como gestor na crise, e seguiu declaradamente seu instinto, mas depois apoiou-se num manual de crises rigorosamente traado por uma companhia area estrangeira a fim de checar suas aes, mas reconheceu na obra A era do escndalo que deveria ter tido e seguido um plano emergencial, pois teria sido mais fcil contornar a situao. A Tam atualmente conta com o setor de Flight Safety para atuar em situaes de crise. Este departamento conta com profissionais de vrias reas do conhecimento para monitorar possveis focos de conflitos e para entrar em ao caso algo saia da normalidade. Dentre as recomendaes analisadas em diversos livros sobre a imagem em momentos de crise, a Tam seguiu quase todas, seguindo a postura: Erramos, somos culpados, vamos tentar minimizar as conseqncias e isso no acontecer novamente. A empresa tirou sua marca da mdia, retornando somente aps quatro anos, com a chegada das novas aeronaves da marca Airbus e a campanha Mais nova e moderna frota do Brasil e do mundo, transmitindo a idia de segurana. Em relao ao pblico interno, mesmo com os pedidos de demisso em massa, a organizao tentou manter uma comunicao aberta, levando ao conhecimento os fatos dentro da empresa, transformando os funcionrios em transmissores da sua mensagem. As demisses na equipe de vo devem ser salientadas, pois a empresa deveria ter percebido o conflito instalado no setor e, assim, determinado ateno especial ao mesmo, com treinamentos, palestras motivacionais, acompanhamento psicolgico, dentre outras tcnicas que poderiam ter evitado a sada de tantos profissionais que, certamente, gerou um custo elevado organizao com novas selees e treinamentos. Outra falha importante se deu em relao s indenizaes oferecidas s famlias. Houve falhas graves na comunicao dos direitos de cada familiar, o que fez com que manifestaes ocorressem e as coligaes iniciassem. Apesar de todo este desenvolvimento citado, a empresa ainda enfrenta dificuldades com alguns passageiros que rejeitam voar nos seus jatos, fato que est sendo contornado com campanhas publicitrias focando as novas aeronaves. Porm, h um relacionamento que est ainda pior: as famlias das vtimas que no aceitaram a postura da empresa com as indenizaes, estas se organizaram estando sempre prontas a atacar a empresa com protestos, faixas em aeroportos uma verdadeira pedra no sapato que a Tam ainda no conseguiu tirar. A relao com essas famlias passou do nvel da comunicao para as mos do setor jurdico da empresa, em que o profissional de relaes pblicas dificilmente ter sucesso com suas aes. Porm, se for do desejo da companhia em tentar restabelecer a comunicao, necessrio planejar campanhas diretamente focadas a cada um dos familiares, baseando-se em suas vontades e opinies individuais. Dentre as recomendaes imediatas que no foram postas em prtica, as duas iniciais foram a convocao do comit de crise que a definio do fato. Ambas era impossveis de serem cumpridas j que a empresa no dispunha de um manual de gerenciamento de crises e muito menos de uma equipe destinada adversidade, mas so etapas de suma importncia. Saber o que aconteceu, a natureza da crise, quem afetou, sua extenso, sempre imaginando o pior cenrio, so aes indispensveis para saber como agir. E, com um comit organizado, mais fcil saber quem dever fazer o que e quando; Sem ele as aes so decididas a esmo. Numa viso macro, em relao ao acidente com o vo 402, pode-se considerar a Tam uma empresa vitoriosa e competente, pois, mesmo na contrariedade, manteve seu crescimento no setor. Alm da boa gesto administrativa que fez com que a empresa mantivesse seu crescimento, no podemos esquecer do fator sorte. O setor de aviao civil enfrenta uma forte turbulncia na ltima dcada, o que fez com que a agenda se deslocasse da questo segurana para a econmica. Com a quebra de duas grandes e conceituadas empresas Transbrasil e Vasp e a grave situao de outra gigante Varig a Tam consolidou-se como a maior companhia area brasileira. O surgimento de novas companhias low fare, como a Gol, Web Jet e Bra, no afetou seu principal pblico-alvo, os executivos, que prezam pela qualidade dos servios oferecidos desde a compra da passagem at o desembarque no destino final. Notamos que a falta de credibilidade enfrentada pela Tam atualmente mnima. Essa mudana no foco das notcias sobre o setor fez com que a Tam ficasse de fora da mdia negativa, transmitindo a mensagem de empresa competente e slida. A necessrio que a organizao mantenha sua ateno focada nos pblicos, com aes de relaes pblicas como sempre organizou exemplo das campanhas feitas em aeroportos em datas festivas, como o dia de So Joo em Congonhas e com campanhas publicitrias que transmitam a idia de segurana. Baseado em tudo o que foi citado, podemos afirmar que a atividade de relaes pblicas uma fora a impulsionar o desenvolvimento e o progresso de toda organizao, assim indispensvel fazer-se notar, conscientizando os empresrios da sua necessidade. Atualmente, difcil para uma organizao diferenciar-se dos concorrentes simplesmente pelos seus produtos, j que a maioria os fornece com a mesma qualidade e custo. Ento, o que pode ser o diferencial o servio prestado aos seus pblicos, a sua comunicao com eles. Neste ponto que o profissional de relaes pblicas atua, legitimando as decises internas e gerando a boa vontade, o que leva colaborao mtua e a um fortalecimento das transaes, atravs de um amplo rol de tcnicas especializadas para administrar os processos organizacionais. No caso do vo 402, a Tam saiu muito bem mesmo voando s cegas, mas ficou ntida a necessidade de organizar-se para casos futuros. Alm disso, contou com a experincia de um de seus profissionais e com o carisma do seu presidente, o que certamente facilitou o acesso aos canais de comunicao e aos seus pblicos. Pelo que foi exposto neste trabalho, fundamental que a Tam tente manter uma comunicao positiva com a mdia, visando minimizar as chances de que esta lembre constantement e dos acidentes e incidentes que ocorreram com a empresa. Alm disso, acredito que a organizao j esteja preparada para outras situaes que possam trazer danos sua imagem, mas recomendado que todos os setores sejam monitorados periodicamente a fim de minimizar repercusses negativas dessas situaes negativas, e tambm para evitar que esqueletos guardados saiam do armrio (Neves, 2002, p. 55). Os profissionais de relaes pblicas necessitam estar qualificados e constantemente atualizados em suas tcnicas e instrumentos para que possa auxiliar positivamente as organizaes brasileiras, alm de saber reconhecer a importncia do trabalho integrado com os outros profissionais administradores, advogados, publicitrios, entre outros indispensveis para o crescimento e sucesso empresarial. Referncias Bibliogrficas
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