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A PSICOLOGIA NO COTIDIANO DA TERCEIRA IDADE

Autores: Ana Claudia Garcia VENDRAMETTO, aninha.ivp@hotmail.com

Ana Paula FERRI, bac_aninha@yahoo.com.br

Andre Luiz RIBEIRO, andre_ribeiro08@yahoo.com.br

Débora Berger SCHMIDT, debergers@gmail.com

Nicelle MORAES, nicelle_moraes@hotmail.com

Acadêmicos do curso de Psicologia da UNICENTRO

Claudia Regina Magnabosco MARTINS, claudiamagnabosco@hotmail.com

Coordenadora da Oficina e Docente do curso de Psicologia da UNICENTRO

Resumo
A ‘Oficina de Psicologia no Cotidiano da Terceira Idade’ é um dos projetos extensionistas
que compõe o programa Universidade Aberta à Terceira Idade (UATI) da UNICENTRO –
campus Irati. Partindo da concepção de que envelhecer satisfatoriamente significa manter
um equilíbrio entre as limitações e potencialidades do indivíduo e considerando os idosos
como pessoas capazes e com potencial, a oficina de Psicologia se propõe a abertura de
um espaço em que o idoso possa construir uma visão positiva de si, enfrentando de
maneira mais eficaz as dificuldades inerentes ao envelhecimento. Desse modo, a partir de
atividades que buscam a compreensão do cotidiano do idoso, objetiva-se a elaboração de
sentimentos e a troca de vivências, o favorecimento do conhecimento de si e do outro e o
olhar das diferenças, inclusive as geracionais, por meio de dinâmicas, histórias orais,
figuras e objetos. Elaborar a oficina de psicologia foi uma atividade complexa, afinal
encontrou-se dificuldades recorrentes ao construir práticas que contemplem a concepção
de idoso mais reflexivo diante de um grupo que dificilmente se vê em tal situação. Embora
essa dificuldade exista, a oficina é um primeiro passo de um caminho que contribui para a
melhoria da qualidade de vida e saúde mental dos aproximadamente 15 idosos
participantes.

Palavras-chave: Universidade Aberta à Terceira Idade; Idoso; Psicologia do


Envelhecimento
Introdução

Desde a última década, o Brasil tem apresentado um rápido e intenso crescimento


do número de idosos, fator que instiga o estudo do processo de envelhecimento e dos
serviços criados para auxiliar os idosos a terem um envelhecimento saudável e uma
velhice plena. Muitos destes serviços são desenvolvidos como programas destinados
para idosos, oferecendo a oportunidade de elaborar novos conhecimentos e buscar
bem-estar físico e emocional. Destaca-se aqui as Universidades Abertas à Terceira
Idade (UATI’s), um espaço que oferece aos idosos a manutenção e/ou elevação dos
níveis de saúde mental, física e social, utilizando dos mesmos recursos e possibilidades
das Universidades, criando uma nova imagem e vivência da velhice integrada a
sociedade, distanciando-a da figura do velho isolado e dependente (SANTOS &
SANTOS SÁ, 2000; Caldas e Veras, 2004).

A Universidade Aberta à Terceira Idade (UATI) é um programa permanente de


extensão da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO campus Irati, que
objetiva a inclusão do idoso na sociedade e uma melhora na sua qualidade de vida a
partir de oficinas e diversas atividades culturais. A ‘Oficina de Psicologia no Cotidiano da
Terceira Idade’, um dos projetos extensionistas que compõe a UATI, se configura como
uma oportunidade para reflexão do cotidiano dos idosos e dos grupos de que participam
a partir das possíveis contribuições da Psicologia.

As atividades desenvolvidas pela oficina guardam uma compreensão de que o


desenvolvimento e o envelhecimento humano são um processo multidirecional que se
dá ao longo do curso de vida do indivíduo. Assim, compreende-se que a velhice abrange
perdas e de ganhos, isto é, não se caracterizam isoladamente por declínio e/ou
crescimento, pois em um determinado momento as mudanças implicadas podem
assumir múltiplas direções, exigindo do indivíduo uma constante capacidade adaptativa
às mudanças do corpo, da mente e do ambiente. A velhice, portanto, é parte e resultado
desse processo caracterizado por momentos tanto de declínio como de crescimento,
afetados pelas condições histórico-culturais do contexto em que indivíduo e grupo etário
se encontram (MARTINS, 2002).
Partindo da concepção de que envelhecer satisfatoriamente significa manter um
equilíbrio entre as limitações e potencialidades do indivíduo (FREIRE, 2000), a oficina
de Psicologia se propõe a abertura de um espaço em que o idoso possa construir uma
visão positiva de si, enfrentando de maneira mais eficaz as dificuldades inerentes ao
envelhecimento. Dessa forma, a oficina se propôs favorecer o auto-conhecimento dos
idosos; auxiliar o desenvolvimento afetivo-emocional dos participantes; refletir sobre o
papel e as ações do indivíduo nas situações que vivenciam no cotidiano; debater a
velhice segundo a visão dos idosos; propiciar a troca de experiências entre os
participantes; fortalecer o relacionamento interpessoal entre os idosos do grupo; instigar
a convivência de diferentes gerações em um mesmo processo de interação;
desenvolver estratégias de trabalho com o público da terceira idade; e aprimorar as
habilidades intervencionistas dos acadêmicos.

Metodologia

Ao considerar os idosos como pessoas capazes e com potencial, a oficina se


propôs a elaborar atividades que demandassem dos idosos posturas comprometidas e
reflexivas, no sentido de fazer com que eles participassem ativamente das atividades e
não fossem passivos ao que lhes era ofertado. Sendo assim, cinco acadêmicos de
Psicologia participaram dos trabalhos realizados, o que permitiu uma maior aproximação
desses com o grupo de idosos, criando um espaço que permitia relações
intergeracionais. Em reuniões semanais aconteceram discussões teóricas a respeito das
temáticas envelhecimento e velhice, programação e avaliação dos encontros, e
reflexões sobre o desenvolvimento da própria UATI. Procurou-se que as atividades
elaboradas tivessem coerência entre as temáticas já abordadas, bem como fazer com
que elas estivessem relacionadas com o contexto da UATI, visando à continuidade dos
encontros com o grupo e a harmonia da oficina com o cronograma do programa.

Os encontros com os idosos foram semanais, ocorreram no período de 03 de abril


a 10 de novembro, com previsão de término em 27 de novembro de 2008, às quintas-
feiras, na Universidade Estadual do Centro-Oeste, campus Irati, com duração de uma
hora e quinze minutos e com participação de cerca de quinze idosos, sendo que apenas
um é do sexo masculino. As atividades são realizadas por meio de dinâmicas, histórias
orais, figuras e objetos que permitem a expressão dos idosos participantes.

A primeira atividade realizada no ano foi a construção do mural da oficina de


psicologia, de forma que todos que se sentiram a vontade puderam colocar objetos, os
quais depois eram discutidos sobre os significados a que remetiam. Na atividade
seguinte utilizou-se equipamentos de multimídia que projetavam figuras da Gestalt
(teoria da Psicologia), o que permitiu, através da técnica de história oral, a expressão de
pensamentos, sentimentos, vivências e experiências que foram discutidas sobre como
eles, assim como as figuras, poderiam ser vistos a partir de diferentes percepções.

No encontro que precedeu a festa junina da UATI foram apresentadas fotos antigas
e recentes de quadrilhas, roupas juninas, danças, entre outros, para que discutissem
sobre as festas juninas e os significados destas para cada um, permitindo que eles se
percebessem ativos nas transformações ocorridas e visualizadas através das fotos. A
oficina também esteve presente no encerramento das atividades do primeiro semestre,
no qual foi realizada uma avaliação do programa da UATI, uma gincana e uma dinâmica,
fatores que favoreceram a integração e o entretenimento do grupo. A avaliação permitiu
que os idosos colocassem os pontos que eles consideravam pertinentes ou não dentro
do programa. A partir disso foi possível constatar que os idosos estão aderindo ao
programa de forma diferente da proposta cultural da UATI, já que as atividades de maior
demanda estão relacionadas com o lazer.

Em dois encontros, procurando tratar a temática juventude e relacionamento com


jovens, algumas imagens que remetiam aos anos 60 e 70 foram apresentadas aos
idosos com o objetivo de resgatar lembranças de vivência juvenis naquele contexto.
Dando seqüência, o segundo encontro constituiu-se de dramatizações que os idosos
realizaram a partir de vários objetos que fazem parte do cotidiano dos adolescentes
contemporâneos. Em seguida houve uma nova discussão para compreender que a
juventude sofre transformações de acordo com diferentes momentos e contextos
sociais. Uma vez discutido a juventude, a temática abordada foi o relacionamento com
os netos. Realizou-se uma atividade de integração na qual os participantes
desempenhavam o papel de adulto e neto ao mesmo tempo com o intuito de refletir
sobre a relação entre ambos. Finalmente os idosos elaboraram uma carta para os
jovens e netos da Universidade apontando suas considerações em relação aos jovens.

Após discutir a juventude dos idosos e a juventude da atualidade trabalhamos a


dinâmica familiar, com questões intergeracionais. E assim, ao som de uma música
propomos aos idosos que se sentassem em círculo para que passassem de mão em
mão uma caixa com números correspondentes à frases que estavam com os
organizadores da atividade. Assim, quando a música parava o idoso que estava com a
caixa na mão abria-a, retirava uma frase e relacionando ao conteúdo desta, comentava
o tema referente, o que era feito também por aqueles que se identificassem com a
temática. A cada parada da música a “tarefa” se repetia. No encontro seguinte, com o
intuito de que os participantes expressassem o que a palavra família representava a
cada um, foi proposto que modelassem massinhas caseiras, sem outra recomendação.
Dessa forma, cada um explicou o significado do seu trabalho gerando discussões no
grupo a respeito do tema.

Compreendendo a família como um sistema no qual se estabelece diversos tipos


de relações, optou-se refletir sobre as diferentes formas que as pessoas conduzem seus
relacionamentos. Para isso, pediu-se para que cada participante confeccionasse uma
máscara com vários materiais que lhes foram dispostos. Ao terminarem, cada idoso foi
solicitado a eleger uma máscara de sua preferência de outro participante qualquer e
justificasse a sua escolha. Tal atividade propiciou a discussão sobre como a
identificação dos participantes com as máscaras é semelhante a maneira das pessoas
se relacionarem, pois elas tendem a buscar proximidade com pessoas que lhe sejam
semelhantes e familiares, evitando o desconforto e o estranhamento do desconhecido.
Continuando a temática de relacionamentos pessoais, buscou-se apresentar aos
participantes alguns conceitos da Psicologia que se fazem presente no cotidiano das
pessoas e conduzem suas diversas formas de configurar um relacionamento. Tratavam-
se de alguns mecanismos de defesa, tais como identificação, projeção, negação,
repressão e sublimação, que mesmo sem serem percebidos, constituem a
personalidade das pessoas.
Dando continuidade à mesma temática, buscou-se compreender como a percepção
das pessoas também é construída no contato e na relação com outras que fazem parte
de seus cotidianos. Para tanto, solicitou-se que um voluntário escolhesse alguém do
círculo para entregar um novelo de barbante e apresentar algo a respeito do escolhido,
como por exemplo, algo sobre o convívio com essa pessoa ou uma situação específica
que vivenciou com ela e que lhe possibilitou algum tipo de conhecimento, aprendizado
ou uma troca de experiências. O mesmo procedimento foi realizado sucessivamente
pelos demais participantes que compunham um círculo, formando assim, uma teia de
barbante. Terminada essa atividade, foi possível discutir questões sobre a coletividade e
a dinâmica dos grupos.

Em algumas quintas-feiras não foi possível que a oficina ocorresse, devido ao


próprio cronograma das atividades da UATI que reservou esses dias para outras
atividades (Dia do Idoso, Olimpíadas, Festa Junina, Encerramento das atividades do
primeiro semestre, etc.) ou mesmo porque houveram alguns empecilhos que impediram
a execução das atividades programadas. Entretanto os organizadores da oficina se
fizeram presentes nesses dias, ajudando, observando, interagindo e propondo
atividades que nem sempre eram reflexivas. Esses dias foram incluídos nas discussões
dos organizadores da oficina, visto que eram meios interessantes para compreender
melhor a dinâmica do grupo participante.

Estão programadas ainda atividades que visam à discussão sobre o trabalho em


grupo, as competências a desenvolver para trabalhar no coletivo e a comunicação.
Pretende-se encerrar o ano com a construção de uma árvore genealógica dos idosos e
de suas famílias, permitindo a discussão a respeito da importância desses idosos na
vida familiar e municipal, enquanto atores e autores da História.

Conclusões e apontamentos

A partir das discussões das atividades realizadas pôde-se avaliar as metodologias


utilizadas durante o ano na Oficina, percebendo que as atividades que exigiam muita
reflexão e postura ativa por parte dos idosos, não tiveram uma aceitação tão intensa
quanto as atividades menos implicadas, como por exemplo, a gincana e as de
conteúdos expositivas. Além disso, notou-se que quando sucessivamente se repetiam a
mesma metodologia, as atividades se tornavam cansativas e menos produtivas. Assim,
ao entender a configuração do grupo, procurou-se alternar metodologias que ora eram
expositivas, ora interativas.

Nas propostas em que eles puderam falar de si e dos outros, os participantes


demonstraram interesse e grande aderência a atividade, como por exemplo, na
dinâmica da massa de modelar e das máscaras, entretanto, esses idosos cederam
pouco espaço ao discurso do outro, demonstrando momentos de impaciência, o que
evidenciou o desejo de falar de si e de seus conflitos. Entretanto mesmo havendo esse
desejo, foi possível perceber que os idosos se expressavam esperando uma
transformação exterior que cessasse seus conflitos, ou seja, não percebiam a
importância de uma mudança de si, de seus olhares e modos de perceber a realidade
como um dos meios de transformá-la.

Nesse mesmo sentido, no decorrer das atividades da oficina e da própria UATI, foi
possível perceber que os idosos demandam bastante atenção e afeto, assim como têm
dificuldade de expressar suas expectativas e demonstrarem poucos esforços para
buscá-las, esperando que os organizadores, mesmo sem saber quais eram,
respondessem a elas. Isso dificultou a aderência do grupo às atividades da oficina,
afinal ele exigia atividades instigantes, entretanto sem o seu empenho.

Devido a permuta dos participantes nas diferentes oficinas oferecidas ao mesmo


tempo pelo programa, encontrou-se dificuldade em manter a continuidade dos temas,
pois havia a preocupação com aqueles que poderiam estar deslocados por não
acompanharem a trajetória da oficina.

Elaborar a oficina de psicologia foi uma atividade complexa, afinal encontrou-se


dificuldades recorrentes ao elaborar práticas que contemplem a concepção de idoso
mais reflexivo. Isso porque foram propostas atividades que exigiam desses idosos uma
postura mais ativa dentro da oficina, o que nem sempre foi possível, já que o contexto
social, não necessariamente, favoreceu ou permitiu essa inserção mais comprometida
por parte do idoso.

Dentre os resultados esperados, aparenta-se ter alcançado o auto-conhecimento


através da expressão de pensamentos, sentimentos, vivências e experiências; interação
grupal por meio das atividades da oficina, mas principalmente dos eventos maiores da
UATI, como na Festa Junina e no Dia do Idoso; e interação geracional, já que a oficina
permitiu o contato com estagiários e outros universitários. A idéia de que o projeto fosse
um espaço em que os idosos e a equipe de psicologia pudessem construir novas formas
de pensar e viver o cotidiano do envelhecimento e da velhice foi iniciado, embora
dificuldades tenham sido encontradas. Esse movimento pode ser compreendido também
como expressão do próprio momento histórico de construção e reconhecimento de
novas formas de envelhecer, que estão sendo testadas e vivenciadas na UNICENTRO e
em Irati. Apesar de todas as dificuldades encontradas, a oficina é considerada o primeiro
passo de um caminho que contribui para a melhoria da qualidade de vida e saúde
mental dos participantes.

Referências
FREIRE, Sueli Aparecida. Envelhecimento bem-sucedido e bem-estar psicológico. In:
FREIRE, Sueli Aparecida; NERI, Anita Liberalesso. (Orgs.) E por falar em boa velhice.
São Paulo: Papirus: 2000, p. 21-32.

MARTINS, Claudia Regina Magnabosco. O envelhecer segundo adolescentes,


adultos e idosos usuários do SESC Maringá: um estudo de representações
sociais. 2002. 169 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 2002.

SANTOS, A. T.; SANTOS SÁ, M. A. A. De volta as aulas: ensino e aprendizagem na


terceira idade. In: FREIRE, Sueli Aparecida; NERI, Anita Liberalesso. (Orgs.) E por falar
em boa velhice. São Paulo: Papirus: 2000, p. 91-100.

VERAS, Renato Peixoto; CALDAS, Célia Pereira. Promovendo a saúde e a cidadania do


idoso: o movimento das universidades da terceira idade. Ciênc. saúde coletiva , Rio de
Janeiro, v. 9, n. 2, 2004 . Disponível em: <http://www.scielosp.org/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S1413-81232004000200018&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 15
Set 2008. doi: 10.1590/S1413-81232004000200018

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