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MINISTÉRIO PÚBLICO

DEPARTAMENTO DE INVESTIGAÇÃO E ACÇÃO PENAL 9'


DISTRITO JUDICIAL DE COIMBRA ,;.

consequêncianormal, típica, previsível22da conduta adoptada, sendo certo que a arguida

seguramenteque disso esteve ciente, dada a sua elevada qualificação profissional, tendo

todas as condições para adoptar uma outra conduta alternativa que poderia, pelo menos,

diminuir o risco de produção dessesresultadosindesejáveisi

Ora, verifica-se que, pelo contrário, a arguida ao violar o dever de cuidado que lhe

era imposto, decorrente em primeira linha das "Ieges-artis"médicas - não dar alta a pessoa

gravementedoente e mantê-Ia nos HUC para se poder optimizar o seu tratamento23- se é

que não produziu o risco (na verdade, a pneumonia já estava "instalada" e as alterações

analíticaseram compatíveis com enfarte), aumentou e potenciou o risco do verificação do

resultado que a lei procura evitar com a incriminação (maxime, a protecção da vida

humana), de um modo socialmente insustentável24,


pois enviou a pessoagravementedoente

22 Cfr. o quesito n° 2 e a respectiva resposta que consta na consulta complementar feita ao


ConselhoMédico-Legaldo INML:
"Q: Pretende-seainda saber, se o/a médico/a, ao ordenar o regresso do doente ao Hospital de
Seia, tinha a obrigação de prever como possível e provãvel o agravamento do seu estado de saúde,
e até mesmo a ocorrência do desfecho fatal, tendo em conta as condicionantes do caso concreto
(doente de 72 anos de idade, diagnóstico de pneumonia, vómitos, enfarte sem supra ST,
instabilidade dos parâmetros vitais, transporte em ambulância de Coimbra até Seia, sendo este
um hospital distrital, com meios de tratamento e de diagnóstico escassos)"
"R- O conhecimento da situação clínica do doente, expressa na pág. 85 do processo:
"Padrãoenzimãtico compatível com enfarte em evolução. No entanto o ECO não tem alterações e o
doente apresenta comorbilidade importante (Infecção Pneumonia - Vómitos
abundantes).Não tolera nada no est6mago. Sob o ponto de vista cardiológico não vamosproceder o
nenhuma terapêutica de revascularização (não tem indicação)" permite supor que o Médico/a que
fez esta observaçãodeveria admitir como possível o agravamento do estado do doente e até mesmo
a ocorrênciado desfecho fatal".
É ou não normal e previsível que o processo de transferência de um doente, que já está "mal", a
quem foram diagnosticados pneumonia e alterações analíticas compatíveis com um enfarte, para
. um hospitalmenosqualificadoe de menoresrecursos,venhaa terminar a commortedeste?
, 23Sendo esta a acção adequada e esperada por ser ela ~ apta a diminuir o risco de verificação do
~ resultado típico (cfr. infra).
~
l 24Sendo,pois, por isso, um risco proibido
~ 12

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