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Ainda quanto à “Competência do professor bibliotecário”, concordo
plenamente quando diz que “as exigências do papel do professor
bibliotecário” são uma “Ameaça”. Na verdade, sendo necessária e urgente
uma maior capacitação/formação do professor bibliotecário, não deixa de
ser também verdade que se está a pressionar em demasia a nossa
prestação. Não resisto a dar-lhe mais um exemplo: eu tenho actividade lectiva
(por opção, claro! Mas, acima de tudo, sou professor, preparei-me durante
muitos anos para ser professor, lecciono há vinte e cinco anos. Não consigo
deixar de ter, pelo menos, uma turma!), eu tenho actividade lectiva, dizia, sou
coordenador da biblioteca de um agrupamento com três BE’s e com as
inerências e afins que isso acarreta (CP, PTE, etc.) e estou ainda em fase de
“desligar” de outras actividades/cargos que desempenhei em anos anteriores.
Todos nós, que somos bibliotecários, sabemos que estamos assoberbados
de trabalho. Todos sabemos que damos à escola as horas da nossa família,
do nosso sono e do nosso fim-de-semana. Eu dou, irrito-me com isso, mas
continuo a dar. Dou um exemplo, inconveniente como os outros: como pode a
RBE marcar-nos trabalhos para realizarmos entre sábado e domingo, até
Dezembro, como é o caso destes “comentários” (que se sustentam em
leituras e análises realizadas no mesmo sábado, claro… - dezenas e dezenas
de páginas). Os professores (só nós é que sabemos isso, sobretudo os
professores de línguas!) estão habituados a trabalhar para os seus alunos aos
fins-de-semana, é certo. Mas fazem-no individualmente, no “segredo” das suas
rotinas, sendo esse trabalho domingueiro motivo de risos de profissionais de
outras áreas. A questão não está no trabalho ao fim-de-semana (cada um
faz o que quer do seu tempo de descanso e pode utilizá-lo, como eu o faço
muitíssimas vezes, a trabalhar), mas na institucionalização desse trabalho!
Relativamente à “Ameaça” da “ausência de colaboração dos restantes
docentes com o professor bibliotecário”, creio que é muito provável que o
contexto de avaliação do desempenho docente em vigor não ajude nada
ao trabalho colaborativo, mas antes estimulará o individualismo e a
competição.
Concordo plenamente quando afirma que “traçar um plano de acção a
desenvolver para os quatro anos” faz parte dos “Desafios. Acções a
implementar”. Na verdade, estamos demasiado habituados a “navegar à vista”,
a reagir em função das ocorrências, a tapar buracos conforme as
necessidades. Uma planificação para quatro anos possibilitará,
seguramente, um trabalho muito mais sustentado e mais frutífero.
No que concerne à “Organização e gestão da BE”, a suposta “falta de
formação para os funcionários” só pode ser culpa da sua escola, dado
que, provavelmente, o seu conselho pedagógico não tem dado instruções no
sentido de incluir nos planos de formação (designadamente no plano do Centro
de Formação a que pertence) a referida formação.
Por outro lado, dizer que “promover a avaliação dos serviços da BE”
é uma “Oportunidade” (claro que é!) parece-me uma constatação tardia –
então os serviços da BE não costumavam já ser avaliados? Não havia
relatórios trimestrais? Não havia relatórios para a RBE? Não havia actas? Etc.
Ainda bem que, no que diz respeito À “Gestão da colecção”, afirma que
“o apoio da RBE e do PNL na renovação do fundo documental” é um
ponto forte. Eu diria mais: sem esse esforço e esse desígnio
verdadeiramente nacional não seria minimamente possível chegarmos
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aos patamares de qualidade que estamos a atingir. Louvor a quem
impulsionou este esforço colectivo. Quanto à “falta de uma verba anual para
actualização da colecção” devo lembrar-lhe que, nos termos da legislação em
vigor, há receitas geradas pelas escolas (bares, papelarias…) que devem ser
aplicadas em recursos da área da biblioteca. Claro que sei bem que nem
sempre este princípio é aplicado… Eu iria mais longe e diria que é imperioso
criar um orçamento anual para a biblioteca.
Desculpe discordar redondamente quando refere a necessidade da
“criação de documentos a disponibilizar aos docentes”. Mais tarefas? Não,
obrigado! Nós temos é que disponibilizar à comunidade de leitores, em
suportes diversificados, os documentos que os docentes preparam, sob
as orientações dos respectivos departamentos curriculares. Ó colega (desculpe
tratá-la assim), ainda tem tempo para preparar documentos para os outros
docentes? De Língua Portuguesa? De Físico-Química? De Matemática?
Quanto à questão da “BE como espaço de conhecimento e
aprendizagem. Trabalho colaborativo e articulado com departamentos e
docentes”, penso que não devemos considerar uma “Ameaça” a possibilidade
de a biblioteca, como diz, deixar de ser, “também, um espaço lúdico e
agradável”. Eu SEI que, nas escolas, não há espaço mais agradável do que
o da biblioteca. Disse ainda, nos “Desafios. Acções a implementar” que vai
“continuar a desafiar a comunidade educativa, principalmente os encarregados
de educação, a participar e usar mais a BE”. Eu também tento fazer isso. No
final do mês de Outubro, Mês Internacional das Bibliotecas Escolares,
simbolicamente, entre muitas outras iniciativas, enderecei um e-mail à Sr.ª
Presidente da Associação de Pais da minha escola, onde solicitava a
divulgação, aos seus representados, da publicação de centenas de livros
digitais no blogue da biblioteca, particularmente destinados a leitores adultos.
Não tive qualquer feed-back. Mas continuo, tal como a colega. É para isso que
nos pagam!
Relativamente à “Formação para a leitura e para as literacias”, não
compreendi o motivo de ter afirmado que é uma “Fraqueza” a “elevada
percentagem de requisições domiciliárias” (deve ter sido algum lapso).
Perdoe-me a insistência, mas, como diz nos “Desafios. Acções a implementar”,
pretende “definir perfis de competências por níveis de escolaridade”?
Isso não é uma tarefa sua! Quando muito, pode colaborar para a definição
desses perfis, em sede de comissão do conselho pedagógico, por exemplo.
Quanto à “BE e os novos ambientes digitais”, queixa-se da “falta de
tempo para gerir a parte digital da BE, que necessita de actualização
diária” (blogue e equipamentos novos, deduz-se pela leitura), mas,
mesmo assim, pretende criar “uma página Web da BE”, como diz nos
“Desafios. Acções a implementar”? Não será demasiado?
No que diz respeito À “Gestão de evidências/avaliação”, estou
plenamente de acordo quando afirma serem uma “Ameaça” as “dificuldades na
implementação do modelo de auto-avaliação”. Andamos todos como baratas
tontas! Das suas palavras conclui-se que já se apercebeu da
complexidade desta auto-avaliação. Realmente só com formação (76
horas oficiais, mas muitas mais de facto) é que poderemos perceber com
rigor a complexidade do “Quadro referencial para avaliação” (49+29
páginas). Não seria possível produzir um documento mais simples?
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“Quanto mais simples, mais verdadeiro”, dizia Eça de Queirós. Mas isso eram
coisas do Eça…
E já que diz, nos “Desafios. Acções a implementar”, que pretende
“implementar um sistema de avaliação continuado e participado”, não resisto a
interrogá-la se não se sente já suficientemente vigiada e avaliada. Neste
momento, as escolas estão a viver a paranóia da avaliação. Não há mais
espaço para cartazes (o meu director - honra lhe seja feita! - proibiu a afixação
de papéis nas portas de entrada do bloco principal), toda a gente carrega
dossiês e papeladas sem fim (ou seja: somos todos doutores, carregados de
livros, como os tais…), em cada esquina pode surgir um flache para registar
mais uma evidência (não vá ela perder-se!...), há visitas, festas e celebrações
até à exaustão. Então o sujeito da avaliação deixou de ser o aluno? Pelos
vistos, parece que sim… Mas não devia parecer, digo eu. Há já escolas,
como a minha, a travar os ânimos, obviamente.
Quanto à “Gestão da mudança – Síntese”, discordo que considere que
a biblioteca “deve tornar-se parte fundamental da escola, colaborando
com os docentes e contribuindo para o sucesso educativo dos seus
alunos”. Deve tornar-se? Deus nos livre se ainda não é!!!
Relativamente aos “Factores de sucesso”, creio que será demasiado
ambicioso (porventura impossível) pretender que a biblioteca seja “o centro das
aprendizagens”. A biblioteca deve ser uma espécie de estrela, sim senhor,
que ilumina o percurso dos alunos, que abre portas à pluralidade de
saberes e de linguagens, que dessacraliza o discurso monolítico de cada
disciplina, que estimula o conhecimento global, transdisciplinar. Mas não
é nem tem recursos humanos e físicos para ser “o centro das aprendizagens”.