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MARTA
o amor acaba.
como um castelo
de cartas, um viaduto
que desaba.
s se percebe
no sbado ao se acordar.
quando tudo silencia,
na praia ao fim
da tarde
ou durante o jantar
quando se repara
o brilho do anel
que j no brilha,
o vinco na memria
que falha, o canto
de morgana que anuncia:
todo ser que se move
uma ilha.
um dia
e mais outro dia.
a mesa posta,
os copos, talheres, o amor
de antes agora em algum
canto da casa escondido,
quem sabe talvez
em algum hotel
nas ltimas frias
esquecido.
um dia,
outro dia.
os filhos que crescem,
novas intrigas;
o mesmo canal,
uma outra novela;
o carro novo,
os mesmos caminhos.
um dia
e depois
outro dia.
a data esquecida,
novas dvidas,
os mesmos compromissos.
novos comprimidos
e os pratos
sobre a pia.
outro dia,
o relgio, de manh,
implacvel
em sua sentena:
somente um banheiro,
o caf, a manteiga fria,
o cigarro,
a porta que bate
e a gua que cai
do chuveiro.
um dia
e mais outro dia.
comprar presentes,
escolher verduras,
escolher um vestido.
visitar parentes
que h algum tempo
no se via.
em suas vidas
um espelho,
uma estranha simetria.
antigas mgoas
no movem,
emperram moinhos.
mudar os mveis de lugar,
mudar a cor do cabelo.
a menstruao que no vem,
a tabelinha
e as camisinhas
dos filhos.
e as roupas sujas
de mais um dia.
o amanh parecia to distante,
muito adiante
da prxima esquina.
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