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Por que uma Campanha Nacional pela Livre Orientação e Expressão Sexual no
âmbito do Serviço Social?
Nas últimas décadas do século XX, a partir das reivindicações, dentre outros, dos
movimentos feministas e GLBT (Gay, lésbico, Bissexual e Transgênero), a sexualidade humana
assume visibilidade na agenda política ao ser pensada além da sua dimensão estritamente biológica.
Movimentos sociais e vários analistas trouxeram, para o debate, questões que transitavam em torno
do reconhecimento das identidades sexuais, dos direitos reprodutivos e, mais recentemente, dos
direitos sexuais. Essas formulações confrontaram o modo dominante de pensar a sexualidade
humana fundado na definição e imposição da heterossexualidade como norma
(Heteronormatividade). Por essa via dominante de pensar a sexualidade houve a naturalização da
heterossexualidade como única expressão da orientação sexual, jogando a bissexualidade e a
homossexualidade para o terreno da doença e/ou de práticas nefastas ao desenvolvimento da
individualidade. Das piadas preconceituosas aos crimes de ódio que se caracterizam pela violência
física contra homossexuais, gays, lésbicas e bissexuais são diariamente submetidos a violação de
direitos. São crimes motivados pelo simples fato das pessoas serem homossexuais; são praticados
com requintes de crueldade, chegando muitas vezes a morte das vítimas. Diante disso, podemos
afirmar que na sociabilidade do capital, a diversidade humana tem sido uma arena fértil à opressão.
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Conselheira do CFESS (gestão 2005-2008); Coordenadora da Comissão de Ética e Direitos Humanos do
CFESS e Profª Drª do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
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Raça, etnia, gênero, orientação sexual e muita outras questões ao invés de serem reconhecidas como
expressão da diversidade, são brutalmente submetidas a padrões homogeneizadores. A negação da
diversidade humana se objetiva também através dos preconceitos e da discriminação. Segundo
Heller (1989, p.47), os preconceitos são “juízos provisórios refutados pela ciência e por uma
experiência cuidadosamente analisada, mas que se conservam inabalados contra todos os
argumentos da razão”2. Nesse sentido, “os preconceitos têm sua sustentação em bases afetivas e
irracionais amparadas na desinformação, na ignorância, no moralismo, no conservadorismo e no
conformismo. Numa palavra, na naturalização dos processos sociais. Tais determinações por
estarem inscritas numa dada formação sócio-cultural poderão, no nosso entendimento, até explicar
atitudes de discriminação, mas nunca justificá-las”3.
Pensar essa campanha no âmbito do projeto ético-político-profissional nos remete ao
entendimento de que as profissões não atualizam suas agendas de forma linear, como mera
evolução no tempo. Ao contrário disso, as mudanças no âmbito do Serviço Social são produto das
determinações sócio-históricas e de um processo coletivo, revelado no esforço teórico-ético-político
para sintonizar nossa profissão com demandas e questões que possibilitem o exercício profissional
antenado com um projeto de sociedade e de profissão radicalmente crítico à sociabilidade do capital
em seu movimento permanente de reprodução da desigualdade e de naturalização de múltiplas
formas de opressão.
2
HELLER, Agnes. O cotidiano e a História. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989, p.47.
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MESQUITA, Marylucia. RAMOS, Sâmya Rodrigues e SANTOS, Silvana Mara Morais dos. Contribuições
à critica do preconceito no debate do Serviço Social” IN Presença Ética. MUSTAFÁ, Alexandra Monteiro
(Org.). Recife, PE: UNIPRESS Gráfica e Editora do NE Ltda., 2001, p. 67 e p..81.
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