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Análise crítica ao Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares – Tarefa 2

Jacinta Cordeiro

Numa sociedade que se afasta cada vez mais do livro e da leitura, a Biblioteca Escolar
desempenha um papel primordial, no desenvolvimento das competências leitoras dos
seus utilizadores. Mas o papel da Biblioteca Escolar não se esgota na promoção da
leitura pois, num mundo em que a informação e o conhecimento científico e tecnológico
se reproduzem a um ritmo acelerado, a escola e a sua Biblioteca têm como função
primordial a desenvolver, nos alunos, as competências da informação, ferramentas
essenciais de aprendizagem, para tornar os nossos jovens utilizadores competentes na
utilização efectiva e crítica da informação em diferentes suportes.

Para tal, torna-se necessário envolver os jovens em acções facilitadoras da aquisição


de competências que passam pelo saber, o saber fazer e o saber ser, tendo em vista a
sua autonomia, a inclusão social, individual e de cidadania.

Deste modo, numa sociedade onde se constrói cada vez mais conhecimento, a
Biblioteca Escolar não pode descurar as suas funções e deve abrir as portas para o
mundo e deixar de ter o conceito, traduzido nas palavras de Marguerite Yourcenar ( in,
Memórias de Adriano) - Fundar bibliotecas era ainda construir celeiros públicos,
acumular reservas contra um inverno de espírito.

Neste contexto, o Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares, construído


com base nos princípios definidos nos documentos fundadores - IFLA/UNESCO e
IASL - e na investigação que tem sido feita nesta área, é um instrumento pedagógico,
que desempenha um papel primordial , uma vez que se torna necessário objectivar o
trabalho a implementar na BE, tendo consciência de que esta é essencial para a
construção do conhecimento e consequente sucesso educativo do aluno como actor
activo, construtor do seu próprio conhecimento (construtivismo).Como tal, é
fundamental que a escola conheça o impacto das actividades realizadas, com os
professores e pela BE , nas aprendizagens e na qualidade dos serviços prestados aos
utilizadores.

Para além disso, a aplicação do Modelo em análise vai contribuir para a afirmação da
BE na escola, permitir determinar se a missão e os objectivos estabelecidos por esta
estão ou não a ser alcançados, se as práticas estão a ser bem sucedidas e medir pontos
fracos e pontos fortes, na persecução da melhoria, numa perspectiva formativa. O

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Análise crítica ao Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares – Tarefa 2
Jacinta Cordeiro

referido documento deve integrar o processo de auto-avaliação da escola e articular-se


com o Projecto Educativo e demais documentos orientadores / reguladores da escola,
uma vez que os mesmos são o quadro de referência para a instituição.

O Modelo, que indica caminhos, metodologias e formas de operacionalização, é


composto por domínios que estão identificados em diferentes estudos internacionais
como cruciais ao desenvolvimento e qualidade das bibliotecas escolares. Existe, nestes
estudos, o reconhecimento de que a biblioteca escolar é usada enquanto espaço
equipado com um conjunto significativo de recursos e de equipamentos (as condições
externas, as condições físicas e a qualidade da colecção são fundamentais) e como
espaço formativo e de aprendizagem, intrinsecamente relacionado com a escola, com o
processo de ensino/ aprendizagem, com a leitura e com as diferentes Literacias.

Esses domínios podem ser agrupados em três, a saber:

• Integração na escola e no processo de ensino/aprendizagem;

• Acesso. Qualidade da colecção;

• Gestão da Biblioteca Escolar.

Como é óbvio, o sucesso da implementação deste documento, passa pelas


competências do Professor Bibliotecário. Estas competências, que estão elencadas na
Portaria 756/2009, podem ser enriquecidas pelas enumeradas por Tilke, na sua obraThe
role of the school librarian in providing conditions for discovery and personal growth
in the school library. How will the school library fulfill this purpose in the next
century?”

No entanto, penso que o prof. Bibliotecário deve ser detentor de “espírito de


liderança”, de uma boa capacidade de gestão, que seja “estratégico” e aberto à mudança,
pois o trabalho que lhe é pedido é exigente e plural e, se não conseguir mobilizar a
comunidade educativa e envolvê-la, dificilmente conseguirá os resultados que
certamente traçou no seu Plano da Acção. Para além disso, o mesmo deve olhar para o
seu trabalho em termos de processos e resultados pelo que é necessário que centre o seu
trabalho nos outputs e não nos inputs.

Como marcar o papel do prof Bibliotecário na escola?

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Análise crítica ao Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares – Tarefa 2
Jacinta Cordeiro

Segundo Mike Eisenberg, este deve consciencializar a comunidade educativa da


eficácia da Biblioteca escolar nos resultados do aluno e desenvolver um trabalho
cooperativo com os professores, depois de identificadas as necessidades, ao nível das
aprendizagens e do currículo.

Mas, a qualidade do seu trabalho passa também pela promoção de uma “ cultura de
Avaliação” e, numa escola ainda algo enraizada no conceito de que a BE é mais um
centro de recursos do que um local onde se transforma a informação em conhecimento,
torna-se difícil abrir as mentalidades ao novo paradigma de escola.

Portanto, para que a BE seja valorizada na escola e seja reconhecida como


imprescindível às aprendizagens do aluno, torna-se necessário que o prof Bibliotecário
ponha em prática o conceito de Evidence-Based practice .

Na minha opinião, a aplicação do Modelo enferma de alguns constrangimentos que


passo a citar:

• Carácter burocrático, na recolha de evidências;

• Reduzida carga horária atribuída aos outros elementos da equipa;

• Fraca colaboração, por parte da comunidade educativa, no preenchimento dos


instrumentos para recolha de evidências;

• Difícil envolvimento da comunidade educativa ( professores dispersos numa


multiplicidade de tarefas);

• Dificuldade em consciencializar a escola para a importância do desenvolvimento


de uma “ cultura de avaliação”;

• Facilitismo que caracteriza a maioria dos nossos alunos.

A implementação deste Modelo constitui um desafio, para os Prof Bibliotecários,


não só pelo trabalho abrangente que têm que desenvolver, mas também pelas barreiras
que têm que derrubar, para que a Biblioteca Escolar assuma o lugar que lhe é devido, no
processo de ensino - aprendizagem do aluno. No entanto, a prática de uma boa
disseminação, em suportes diversificados, do trabalho desenvolvido, na e pela
Biblioteca Escolar e do impacto desta última nas aprendizagens do aluno, vai ,
certamente, dar lugar a uma politica de engagement da comunidade educativa.

Maria Jacinta Cordeiro

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