Este documento resume os principais pontos da literatura comparada desde seus primórdios no século XIX até as novas orientações do século XX. Apresenta como a literatura comparada surgiu como disciplina sistematizada na Europa do século XIX e como foi se desenvolvendo através das contribuições de diversos intelectuais. Também discute as críticas às definições clássicas da literatura comparada e como novos enfoques surgiram para superar suas limitações.
Este documento resume os principais pontos da literatura comparada desde seus primórdios no século XIX até as novas orientações do século XX. Apresenta como a literatura comparada surgiu como disciplina sistematizada na Europa do século XIX e como foi se desenvolvendo através das contribuições de diversos intelectuais. Também discute as críticas às definições clássicas da literatura comparada e como novos enfoques surgiram para superar suas limitações.
Este documento resume os principais pontos da literatura comparada desde seus primórdios no século XIX até as novas orientações do século XX. Apresenta como a literatura comparada surgiu como disciplina sistematizada na Europa do século XIX e como foi se desenvolvendo através das contribuições de diversos intelectuais. Também discute as críticas às definições clássicas da literatura comparada e como novos enfoques surgiram para superar suas limitações.
CARVALHAL, Tnia Franco. Literatura Comparada. 4. ed. revista e ampliada.
So Paulo: tica, 1999. 1. Literatura comparada: os primrdios Neste capitulo a autora apresenta sua tentativa de definir a lc e faz uma breve retrospectiva dos estudos de literatura comparada objetivando apresentar o processo de surgimento do conceito. A classificao de literatura comparada expressa uma gama de estudos que elegem metodologias diversas e objetos de anlise variados conferindo literatura comparada um amplo campo de atuao. A literatura comparada surge como disciplina e de uma maneira sistematizada no sculo XIX e num contexto europeu e vinculada corrente de pensamento cosmopolita que caracterizou o sculo XIX. Sem dvida neste sculo que a difuso do termo realmente acontecer, sob a inspirao das Lies de anatomia comparada, de Cuvier (1800), da Histria comparada dos sistemas de filosofia, de Degrand (1804), e da Fisiologia comparada (1833), de Blainville. Entretanto o adjetivo comparado derivado do latim comparativus, j era empregado na idade mdia (Carvalhal, 1999). O costume de comparar literaturas existe h muito tempo, no entanto foi a partir do sculo XIX, na Frana encontram-se os indcios de sistematizar a literatura comparada. Conforme Carvalhal (1999) em 1816 publicado o livro Curso de Literatura Comparada, escrito por Noel e Laplace, que trata de uma recopilao de antologias de diversas literaturas sem nenhuma preocupao em compar-las (Carvalhal, 1999). Mais tarde surge o professor Abel-franois Villemain com sua obra Panorama da Literatura Francesa do sculo XVIII, citando o termo. Mas foi em 1830 que aparece a figura de J.J. Ampre onde se refere a histria comparativa das artes e da literatura, em sua obra Discurso sobre a Histria da Poesia e dez anos depois torna utilizar o termo na sua obra Histria da Literatura Francesa Comparada s Literaturas estrangeiras. Vale ressaltar que
na Alemanha, Itlia e Gr Bretanha tambm surgem diversos intelectuais
preocupados com a organizao desta especialidade dentro dos currculos universitrios. Na Inglaterra, cabe a Hutcheson Macaulay Posnett a primazia do uso da expresso, em 1886, num livro terico intitulado Comparative Literature (CARVALHAL, 1999, p.11). 2. As contribuies didticas Em 1931, aparece a obra clssica Literatura Comparada escrita pelo francs Paul Van Tieghem, onde apresenta os primeiros indcios de fixao norteadora, apesar doo autor apresentar a LT como um apndice da literatura geral e da historiografia assim, a tarefa do comparatista ficaria restrita a pesquisa de "fatos comuns a duas literaturas parecidas". (Carvalhal, 1999, p.18). Contudo no foi na Frana que Van Tieghem teve seguidores tendo encontrado no Brasil Tasso da Silveira como seu fervoroso seguidor. Esse professor em seu livro Literatura comparada mostra total adeso aos preceitos de Van Tieguem que se concentram em pesquisar influncias, buscar identidades, ou diferenas, restringindo o alcance da literatura comparada ao terreno das aproximaes binrias e constituio de "famlias literrias (Carvalhal,1999, p.20) Mais ainda, Silveira no considerou as contribuies de intelectuais brasileiros com fortes inclinaes comparatistas. Se o fizemos j naquela poca teramos algo de novo na literatura comparada. Cabe destacar Joo Ribeiro a Augusto Meyer, autores que tiveram uma postura diversa da de Tasso da Silveira, pois neles se expressa a perspectiva crtica que impede a absoro passiva das noes estrangeiras fazendo passar pela peneira das restries (Carvalhal, 1999) Para compor a histria do comparativismo no Brasil, se faz necessrio buscar em estudos pontuais, dispersos em jornais e livros de crtica literria, pois a esto, sem dvida, as mais criativas contribuies (Carvalhal, 1999, p.27). A viso obtusa que se tem de literatura comparada se deve s propostas dos manuais que apresentam um modelo investigativo que no deixa espao para as abordagens crticas.
A conhecida obra de Marius-Franois Guyard, A literatura comparada,
traduzida em 1956 se vale dessa tendncia: a distino entre crtica e comparativismo, prejudicando a compreenso de ambas as atividades,, pois se primeira destina o paralelismo, segunda cabe apenas o levantamento de dados sobre o que um autor leu de outro (Carvalhal, 1999, p.28). Claude Pichois e Andre-Michel Rousseau precursores de Guyard, elaboram outro manual mais elaborado embora restrito, considerando a literatura comparada mais para estudos de trocas literrias internacionais. Em sua terceira edio com a colaborao de Pierre Brunel, ganha em interesse por seu carter mais dialtico e pela discusso em torno das contribuies tericas recentes (Carvalhal,1999, p.30) Contudo no h muita novidade em suas propostas que se restringem em querer acentuar a complementariedade entre a literatura comparada e a literatura geral insistindo em que as coincidncias, analogias e influncias so o interesse central do comparatista (Carvalhal, 1999). As definies por eles propostas: [...] privilegia o estudo de semelhanas (analogias e parentescos, na perspectiva at aqui rastreada), sem se ocupar com as eventuais diferenas. Isso no s limita a natureza da investigao como tambm cerceia o seu alcance. Ao aproximar elementos parecidos ou idnticos e s lidando com eles, o comparativista perde de vista a determinao da peculiaridade de cada autor ou texto e os procedimentos criativos que caracterizam a interao entre eles. Enfim, deixa de lado o que interessa. (Carvalhal, 1999, p. 31)
Importante autor, devido singularidade de suas abordagens, Etiemble,
sucessor de Carr na Sorbonne, em suas obras rebate a distino entre literatura comparada e literatura geral. Para ele no h distines entre as literaturas dos diversos pases. Considerado um humanista, suas afirmaes o aproximam mais da escola norte-americana do que da francesa. Carvalhal (1999) cita um trecho que define suas tendncias:
Ope-se Etiemble a qualquer postura chauvinista e a todo
provincialismo, prevendo para o comparativista a tarefa de reconhecer que a civilizao dos homens, onde os valores se trocam desde milnios, no pode ser compreendida, apreciada, sem referncia constante a essas trocas, cuja complexidade impede seja a
quem for de organizar nossa disciplina com relao a uma lngua ou a
um pas, privilegiados entre todos (Carvalhal, 1999, p.33).
A posio de Etiemble entende que h uma "interdependncia universal
das naes", expresso de Karl Marx para quem as obras de uma nao se tornam propriedade comum de todas as naes". Etiemble prope o estudo de obras parecidas sem considerar possveis contatos ou derivaes; seu interesse determinar o que denomina de "invariantes literrias", isto , a unidade de fundo da literatura como totalidade (Carvalhal, 1999). 3. Nova orientaes comparatistas At 1958, quando ocorreu o 2. Congresso da Associao Internacional de Literatura Comparada (AILC/IACL), a literatura comparada consistia em uma rea de atuao quase que exclusiva de pesquisadores franceses. Com a publicao do artigo "A crise da literatura comparada", no qual Ren Wellek critica as fragilidades tericas da disciplina, alguns manuais de literatura comparada sofrem seu primeiro grande abalo (Carvalhal,1999). Em seu texto, Wellek demonstra um posicionamento contrrio aos pronunciamentos de F. Baldensperger, P. Van Tieghem, J. -M. Carr e M.-F. Guyard. As limitaes impostas por tais autores, segundo ele,, fizeram com que a literatura comparada se reduzisse a apenas uma anlise de fragmentos, sem ter a possibilidade de integr-los em uma sntese mais global e significativa (Carvalhal,1999, p. 35), sem jamais chegar anlise da obra em sua totalidade e, assim, transformando-a em uma "subdisciplina". Wellek , tambm ope-se distino entre literatura comparada e literatura geral, julgando-a
insustentvel e
desnecessria,
pois para
ele a
literatura
"comparada" e "geral" se fundiriam inevitavelmente. Wellek critica os pontos
fracos das propostas clssicas: o exagerado determinismo causai das relaes, a nfase em fatores no literrios, a anlise dos contatos sem atentar para os textos em si mesmos, o binarismo reducionista (Carvalhal,1999, p. 38). Sua proposta conclui pelo abandono dos estudos de fontes e influncias em favor de uma anlise centrada no texto e no em dados exteriores. (Carvalhal, 1999, p37)
Para Wellek as obras literria eram: conjuntos em que a matria-prima
provinda de qualquer parte deixa de ser matria inerte e assimilada numa nova estrutura (Carvalhal, 1999, p.36). Portanto, a crtica de Wellek contribuiu para que o comparativismo tradicional fosse repensado e reformulado, porm muitas vezes suas observaes no apresentaram propostas especficas a ele. Contudo a formulao de uma metodologia foi proposta por Dionyz uriin e foi considerada por muitos como um "modelo" inovador. uriin preocupa-se em estabelecer classificaes tipolgicas atravs dos estudos comparados. (Carvalhal, 1999, p.40). Com a finalidade de sistematizar as relaes literrias, uriin distingue entre contatos genticos (anlise de contatos externos e contatos internos) e relaes de solidariedade tipolgica as quais so diferenciadas de acordo com o pano de fundo social literrio ou psicolgico. O maior mrito da tipologia de uriin a diferenciao entre estratgias integradoras que seriam a imitao, a adaptao, o emprstimo ou decalque e estratgias diferenciadoras (a pardia, a stira, a caricatura). (Carvalhal, 1999 p. 41) Isso o possibilitou investigar as relaes entre autores e obras, sistemas e subsistemas literrios, regidos por certas normas e tendncias estticas, sociais e polticas. Assim, as relaes entre os textos tornam-se o objeto de sua investigao. 4. O reforo terico Os estudos comparados mais recentes reformulam de alguns conceitos bsicos da literatura comparada tradicional. Tynianov contribuiu com a noo de evoluo literria e junto com outros autores
foi
rotulado
como
"formalista
russo".
Os
formalistas
russos
consideravam o texto um sistema fechado, no qual se realizaria uma anlise
interna. Foram eles que estabeleceram a noo geral da linguagem potica como um conjunto de relaes entre o todo e suas partes. Porm, os formalistas acabaram realizando uma anlise esttica e limitada, que deixava
de examinar as relaes existentes com elementos extratextuais. Porm,
Tynianov rompe com essa ideia no limitando o estudo da obra literria s relaes internas dos elementos de sua estrutura, mas integrando essa estrutura a outras e estudando suas relaes recprocas. (Carvalhal, 1999, p.48) Assim como Tynianov, M. Bakhtin foge s concepes "fechadas no texto" dos formalistas mais ortodoxos e resgata suas ligaes com a histria (Carvalhal, 1999, p.48). Bakhtin estimulou a reflexo sobre a produo do texto proporcionando novas formas de leitura de um texto literrio. Tais contribuies alteram os pressupostos bsicos dos estudos comparados em sua formulao mais convencional (Carvalhal, 1999p. 50). Sob a influncia de Tynianov e Bakhtin Julia Kristeva chegou noo de "intertextualidade", termo por ela cunhado para designar o processo de produtividade do texto literrio (Carvalhal, 1999, p.50).
Para a pesquisadora
todo texto absoro e transformao de outro texto (Carvalhal, 1999p. 50).
Essa ideia se funde a de outros autores e o que era entendido como uma relao de dependncia, a dvida que um texto adquiria com seu antecessor, passa a ser compreendido como um procedimento natural e contnuo de reescrita dos textos (Carvalhal, 1999, p.52) e essa ideia passa ser incorporada pelos comparatistas. Dessa forma, possvel compreender que o "dilogo" entre os textos no um processo tranquilo nem pacfico, pois, sendo os textos um espao onde se inserem dialeticamente estruturas textuais e extratextuais, eles so um local de conflito, que cabe aos estudos comparados investigar numa perspectiva sistemtica de leitura intertextual. (Carvalhal, 1999, p.53). A noo de intertextualidade abre um campo novo e sugere modos de atuao diferentes ao comparatista.
O pesquisador Harold Bloom sob a perspectiva da intertextualidade
procura estabelecer uma teoria da poesia atravs da descrio das influncias poticas sob novos parmetros: tradio e de originalidade. Para ele, as interferncias de um texto em outro so entendidas como males benficos j que dinamizam o processo de evoluo literria. Ele entende que os grandes poetas fizeram essa histria deslendo outros, de maneira a criar espao imaginativo para si prprios. (Carvalhal, 1999p. 59 grifos do autor). Porm, sua proposio limitada porque se refere somente a grandes poetas, no examina a possibilidade de coexistncia de influncias de outra natureza que no a potica e relega os aspectos formais dos poemas. A reflexo proposta por Bloom foi inicialmente levantada por T. S. Eliot e em seguida por Jorge Luis Borges. Eliot em sua obra "A tradio e o talento individual" sustentou noes consideradas essenciais renovao dos estudos literrios comparados. Para Eliot a tradio no seria apenas pautada na semelhana com o passado e sim numa percepo histrica da interao entre passado e presente obtida com muito esforo. Nessa perspectiva, cada obra l a tradio literria, prolonga-a ou rompe com ela de acordo com seu prprio alcance. (Carvalhal, 1999p. 63). Portanto, a noo de originalidade, vista como sinnimo de "gerao espontnea", criao desligada de qualquer vnculo com obras anteriores, cai por terra (Carvalhal, 1999 p.63). Borges em seu ensaio intitulado "Kafka e seus precursores" questionam noes clssicas como os conceitos de originalidade, filiao e hierarquia cronolgica na produo literria. Borges permite que a interao entre os textos seja entendida sob outro prisma ao declarar que o texto de Kafka que faz realar os textos anteriores e lhes do sentido. Assim, Borges desloca o ngulo de observao, reverte a cronologia e quebra o sistema hierrquico. Para Borges: o fato que cada
escritor cria seus precursores. Seu trabalho modifica nossa concepo de
passado como h de modificar o futuro. (Carvalhal, 1999, p.66). Esse famoso escritor tambm questiona noes firmadas como a de autoria e originalidade. No conto "Pierre Menard, autor do Quixote Borges, conta a histria de Pierre Menard que teria em mos a tarefa de reescrever o Dom Quixote. Porm o texto escrito por Menard, apesar de aparentemente igual ao original considerada pelo narrador totalmente diferente. A face invisvel deles, a que se revela pelo deslocamento temporal efetuado modifica integralmente o seu significado ao copiar o Dom Quixote, Menard o reconstri.
(Carvalhal,1999,p.68).O
novo
texto
passa
apresentar
ambiguidades que o enriquecem.
Nesse conto, portanto, Borges no s coloca em questo o conceito de originalidade na sua acepo convencional como tambm aspectos da vinculao de uma obra com seu autor. A chamada "teoria da recepo", que surge no final dos anos 60 desloca o foco de interesse da crtica moderna para a figura do leitor. Hans Robert Jauss, um dos representantes desse movimento, defende as reaes do pblico e as opinies da crtica como um critrio de anlise histrica. Para ele, a tradio no se constri sozinha e depende da recepo que o pblico d s obras. Desse modo, a obra no pode mais ser vista como algo acabado a deslocar-se intocvel no tempo e no espao, mas como um objeto mutvel por efeito das leituras que a transformam (Carvalhal, 1999, p70). Os estudos de recepo literria repercutiram na atuao comparatista e nela ganharam sentido. Assim, tornam-se objeto da investigao comparatista a traduo da obra, o aparato crtico que a acompanha, os dados da edio (Carvalhal, 1999, p71). Os estudos de recepo literria contriburam ainda para um entendimento diferente do conceito de influncia. Na formulao tradicional, o processo era apenas interpretado numa nica direo: do emissor para o receptor, tendo este um papel passivo de quem "sofre" a influncia. Os estudos de literatura comparada mais recentes consideram o receptor como
determinante no processo interliterrio e ressaltam, portanto, a dupla direo
dos influxos. (Carvalhal, 1999, p.72). A articulao entre teoria literria e literatura comparada, e estudos interdisciplinares foram essenciais ao novo impulso que receberam os estudos comparatistas mostrando-se rentveis e benficos. 5. Literatura comparada e dependncia cultural Como foi abordado nos captulos anteriores, foram diversas as contribuies para os estudos da literatura comparada, principalmente em relao ao ponto forte da mesma que so os estudos de fontes e de influncias. Os comparativistas clssicos se fixaram numa nica ideia que seria a de pesquisar as analogias e natureza entres as obras. Mas, havia um propsito oculto que seria a demarcao da dependncia cultural (Carvalhal, 1999, p.75), ou seja: a dominao de uma cultura sobre outra. Na verdade, buscar uma influncia era constatar a superioridade de uma cultura e, portanto beneficiava apenas culturas sedimentadas. Assim, um autor s era considerado no meio literrio se estivesse filiado a uma fonte de nome, sendo a fonte o que contava. Esta forma de estabelecer as comparaes s corroborava para solidificar o discurso neocolonialista. A maneira de superar esse ideologia seria estabelecer a diferena como o nico valor crtico. Articulando a diferena com a dependncia, a primeira deixa de ser simplesmente mais um objeto a ser perseguido: [...] a diferena que permite nossa insero no universal (Carvalhal, 1999, p.77). Estabelecendo que comparar tambm contrastar. Contrastes esses que auxiliam na compreenso de uma obra ou escritor. Surge ento em 1928, uma proposta de ruptura com o projeto antropofgico de Oswald de Andrade: uma desvinculao do passado histrico
e se volta para a devorao do estrangeiro para a construo de uma sntese
nacional (Carvalhal, 1999).
A inteno modificadora da proposta oswaldiana muito
clara; por isso o crtico aplica o termo "transculturao", para acentuar o processo de transformao cultural caracterizado pela influncia de elementos de outra cultura, acarretando a perda ou a alterao dos j existentes (Carvalhal, 1999, p.79).
Portanto, o projeto antropofgico passa a representao das culturas
perifricas e dependentes, assimilando do dominador s o lhe importa (Carvalhal, 1999) O exemplo seria o mtodo devorador das relaes operadas entre textos, cabendo a intertextualidade dar conta. O risco est em que apenas se inverta a direo do estudo comparatista, trocando uma posio de passividade em relao cultura europeia para uma posio voltada apenas para o nacional. Na verdade o que se mostra como um caminho para a literatura comparada a assimilao crtica, selecionado do alheio o que interessa (Carvalhal, 1999): [...] Evitando o paralelismo binrio de oposies, investiga os nexos das relaes estabelecidas. Tais anlises podem nos levar a um conhecimento mais preciso das relaes estticas e estas nos levaro a situar melhor, histrica e criticamente, os fenmenos literrios (Carvalhal, 1999, p.81).
Repensando ento o comparativismo tradicional que se baseava numa
relao de dependncia cultural dos pases colonizados e a novo panorama que se apresenta com a cultura das diferenas, pode-se perceber que os pases perifricos continuaram ilhados e com o olhar voltado para a cultura europeia especificamente para a matriz parisiense (Carvalhal, 1999). Para a autora o pensamento de Antonio Candido retrata a realidade da literatura nacional, mostrando que o escritor brasileiro oscila entre a identificao com o universal e a afirmao do particular, vivendo um processo
de dilaceramento (Carvalhal, 1999, p.83) A originalidade da obra estaria na "
diferena que o texto dependente consegue inaugurar. (Carvalhal, 1999, p.84). Certamente que a autonomia da cultura no dar as costas para o que de fora e sim, ser capaz de ter um olhar crtico das outras culturas. ( Carvalhal,1999) Portanto os estudos comparatistas [...] podem colaborar para a avaliao do processo de descolonizao que se desenvolve ao longo da literatura brasileira, analisando seus avanos e retrocessos [...] Ainda que as marcas de nacionalidade j no sejam situadas inicialmente (para que a anlise comparativa no se reduza a uma afirmao de nacionalidades e, muito menos, ao exame do predomnio de uma sobre outra) elas se constituem em inevitvel ponto de chegada (Carvalhal, 1999, p.85).
Concluindo, foram apresentadas as questes mais relevantes para os
estudos comparatistas e para a definio de seu campo de atuao. A literatura comparada deve contribuir para situar na histria e criticamente o os fenmenos literrios. Comparar com inteno de interpretar questes mais amplas que criao literria manifesta. Sendo assim se faz necessria a articulao do a literatura comparada com o social, o poltico, o cultural, em suma, com a Histria num sentido abrangente (Carvalhal, 1999, p86). -----O que se espera que o comparativismo deixe de ser visto apenas como o confronto entre obras ou autores, como tambm no se restringa perseguio de uma imagem, de um tema, de um verso, de um fragmento, ou anlise da imagem/miragem que uma literatura faz de outras (Carvalhal, 1999, p.86). Para, alm disso, a literatura comparada pretende ainda contribuir para a elucidao de questes literrias que exijam perspectivas amplas. Desta forma, a investigao de um mesmo problema em diferentes contextos literrios permite que se ampliem os horizontes do conhecimento esttico e concomitantemente que pela anlise dos contrastes se alcance uma viso crtica das literaturas nacionais (Carvalhal, 1999).
Portanto, a literatura comparada com a sua atuao especfica se
integra s demais disciplinas que estudam o literrio.