You are on page 1of 11

3

1 INTRODUÇÃO

Todos os mitos são histórias, mas num sentido particular. Não são contos
realistas, nem histórias de pessoas que fazem coisas normais num mundo normal.
Bem pelo contrário. Freqüentemente eles tratam de personagens extraordinários
num mundo diferente da nossa realidade, um mundo por vezes cheio de magia, de
deuses e deusas, onde a terra tem vida e os animais falam. A maior parte dos mitos
são histórias que decorrem do tempo que não pode ser medido pelo relógio, ou em
numa era anterior ao início dos tempos, quando o sofrimento profundo e o prazer
infinito podiam durar uma eternidade.
Os mitos são histórias importantes para as respectivas culturas e cujo
significado é muitas vezes transmitido ao longo dos séculos e para além da cultura
original. Os mitos atravessam todas as culturas, sendo cedidos, recontados e
revividos em novos imaginários. São histórias dos primórdios culturais, sobre a
forma como as pessoas viviam e os modos como os pensamentos eram adaptados,
e que ainda hoje contribuem para modelar a forma como as pessoas se vêem e
como vêem o mundo.
Diante do exposto, o estudo do mito de GAIA e sua influência no homem pós
moderno se faz importante para compreender a dinâmica existente entre estas.
Atualmente este homem vem buscando os caminhos da descartabilidade de tudo,
conforto exagerado e o “bem-estar”, mas ao contrário disto a sua essência psíquica
necessita na verdade de outras amplificações.
Partindo do pressuposto que tudo que há no exterior é para que o que está
dentro se amplifique e se manifeste pelo movimento da individuação, o estudo se
concentra em grande parte no mito de GAIA, suas ramificações, se estendendo até
os mais diversos caminhos da psicologia analítica de Jung, fazendo relações sobre o
contexto da realidade humana pós moderna.
4

2 PROBLEMA

O mito ocupa um lugar no psiquismo humano e de toda humanidade há


muitas gerações. Mesmo antes da fala ou escrita e provavelmente talvez o primeiro
mito, tivesse sido representado através da dança, ou seja, representado pela
manifestação anímica e espontânea do corpo. Mas hoje, na era pós moderna, a
humanidade vive o fenômeno essencialmente secular, ou seja, a sociedade vive um
tempo de descartabilidade de quase tudo que vivemos e consumimos, uma fluidez
emocional e afetiva, não afirmando que seus costumes tem inspiração divina.
Entende-se por GAIA como sendo o espírito da terra, uma entidade imensa e
antiga, sendo necessária para a experiência do psiquismo humano no que se refere
a sua adaptação no mundo. O homem pós-moderno nega o mito. O quanto o
homem está afastado de GAIA?
Em função do desequilíbrio que se apresenta nos dias atuais podemos
afirmar que o homem necessita do retorno à “mãe” terra para assim retomar sua
caminhada?
5

3 OBJETIVO

3.1 OBJETIVO GERAL

Compreender se o homem pós-moderno secularizado, está caminhando para


o sentido contrário à sua natureza, ou seja, da essência mítica de GAIA, tendo como
conseqüência o seu desequilíbrio.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Investigar o mito de GAIA e sua influência no psiquismo do homem pós


moderno.
 Relacionar mito e vida.
 Discutir sobre o homem pós moderno e seu desequilíbrio em relação ao seu
afastamento de GAIA, de sua essência humana ao espírito da “mãe terra”.
6

4 JUSTIFICATIVA

A mente humana tem sua própria história e a psique retém muitos traços dos
estágios anteriores da sua evolução. Mas ainda, os conteúdos do inconsciente
exercem sobre a psique uma influência formativa. E que o homem pode
conscientemente ignorar sua existência, inconscientemente reagindo a essa, assim
como nos mitos, arquétipos e as formas simbólicas, através das quais se
expressam.
O processo de individuação, que é teleológico, possui um objetivo , uma
finalidade. Quando nos referimos a um processo de transformação interna, este se
relaciona à consciência e ao agrupamento de determinadas características psíquicas
que, quando acontecem baseados na experiência, e também quando se reconhece
a responsabilidade decorrente desta consciência, "Resultará daí uma
complementação do indivíduo, que deste modo se aproximará da totalidade, mas
não da perfeição, que constitui um ideal..." (JUNG,1980).

Visando melhor entendimento, a investigação sobre a questão do mito de GAIA e


sua experiência no homem pós moderno, é de fato , o quanto o homem em seus
afazeres diários (individuais e coletivas) e suas manifestações humanas naturais e
espontâneas, a de se adpatarem e sobreviverem na cultura dominante e realizar
benefícios pessoais, está de forma desequilibrada fruto da distância (da não
constelação) do arquétipo, do mito de GAIA.
7

5 REVISÃO DA LITERATURA

Jung (1974) apresenta a questão „alma e terra‟, onde se evoca imediatamente


uma espécie de alma „celestial‟, seguindo a teoria chinesa sobre a alma que
diferencia uma alma shen e uma alma kwien, a primeira representando o céu e a
segunda a terra. De acordo com seus pressupostos a última hipótese parece mais
adequada, onde a psique seria compreendida como “um sistema de adaptação
determinado pelas condições ambientais da terra” Diante disso podemos aceitar a
possibilidade de que os seres humanos possuem a alma, uma ferramenta que
auxilia a adaptação no mundo, na terra e esta é de fundamental importância no
psiquismo humano.
Ainda com relação a esta relação mítica, entre homem e GAIA, Neumann
(2006), afirma que o homem faz mais parte do grupo, do que o individual
propriamente dito. Da mesma forma, ele não vivencia o mundo inicialmente a partir
do que é percebido pela consciência, mas através do inconsciente. O homem
percebe o mundo, não através das funções da consciência, o qual pressupõe a
separação entre sujeito e objeto de forma objetiva, mas sim mitologicamente, em
imagens arquetípicas, em símbolos que são uma expressão espontânea do
inconsciente. E que ajudarão a psique a se orientar no mundo e que, ainda, na
qualidade de motivos mitológicos, irão configurar as mitologias de todos os povos.
Isto significa que os símbolos não se relacionam com o ego individual como o fazem
as funções de consciência, mas sim com a totalidade do sistema psíquico que
abrange a consciência e o inconsciente.
E mais ainda, considerando-se que o processo de formação dos símbolos no
inconsciente é a origem do espírito humano, a língua, cujo nascimento e
desenvolvimento histórico é quase idêntico à gênese e a evolução da consciência
humana, também é a princípio uma linguagem simbólica.”
E ainda segundo o próprio C.G.Jung (1974)

Os arquétipos são sistemas de prontidão que são ao mesmo


tempo imagens e emoções. São hereditários como a estrutura
8

do cérebro. Na verdade são o aspecto psíquico do cérebro.


Constituem, por um lado, um preconceito instintivo muito forte
e, por outro lado, são os mais eficientes auxiliares das
adaptações instinitivas. Proporiamente falando, são a parte
1
ctônica da psique – se assim podemos falar – aquela parte
através da qual a psique está vinculada à natureza, ou pelo
menos em que seus vínculos com a terra e o mundo aparecem
claramente. É nestes arquétipos ou imagens primordiais que a
influenciada terra e de suas leis sobre a psique se manifesta
com maior nitidez.

E fazendo um apanhado na mitologia elaborada e passada de gerações em


gerações, temos vastos sinais de quanto GAIA está presente no psiquismo não só
de toda a humanidade (coletivo) mais também em cada um de nós (individual). “Os
antigos Gregos consideravam a deusa Gaia, mãe da Terra, como a que deu vida e
alimentos aos seus filhos. (MITOLOGIA ..., 2006)
O cosmo Celta, “os papéis femininos relacionavam-se com a terra e a
fertilidade e incluíam a mãe terra, assim como as deusas da Primavera, das terras e
das árvores de fruto. Estas divindades existiam lado a lado com as pessoas e eram
muito reais.” (MITOLOGIA ..., 2006, p.214).Na mitologia germânica, “temos Midgard,
concebida como uma massa de terra central rodeada por mar, era onde viviam os
deuses e os humanos.” (MITOLOGIA ..., 2006, p.235).Os eslavos também
veneravam a Terra que pisavam e que acreditavam estar possuída por “Mati Syra
Zemlya ou Terra Mãe Húmida, a quem era concedido um grande respeito.”
(MITOLOGIA ..., 2006, p.258). “Os egípicios entendiam o seu cosmos como sendo
duas Terras idênticas. A Terra tinha sido criada como um monte que emergia das
águas do Caos original.” (MITOLOGIA ..., 2006, p.285). Num outro mito, “Mawu e
Lisa teriam nascido de uma mãe primordial, Nana Buluka, que fora a criadora do
mundo. Neste conto, narra-se a divisão entre dia e noite, visto que Mawu vivia no
ocidente e era a Lua, e Lisa a este que era o Sol”. (MITOLOGIA ..., 2006, p.214).
Num outro mito de origem na China, “Nu Gua é responsável pela criação dos seres
humanos e é conhecida através de referências pré-budistas que lhe são feitas como
acontece com os seres femininos de outras sociedades, o criador original dos

1
aquela pela qual a psique se liga à natureza; irrepresentáveis em si mesmos, se apresentam como idéias e imagens.
9

chineses. (MITOLOGIA ..., 2006, p.354,354). E também nos povos da polinésia,


muitas versões da genealogia cosmológica culminavam em dois nomes: “Rangi (pai
do céu) e Papa (mãe da Terra).” (MITOLOGIA ..., 2006, p.404). Por aqui nas
Américas, “os mitos tribais que revelam como mundo natural surgiu, podem ser
encontrados em todas as comunidades nativas americanas nos EUA. São algumas
das mais antigas histórias e explicam as origens do Sol, estrelas e Lua, assim como
a Terra, a água e os povos indígenas.” (MITOLOGIA ..., 2006, p.426). Como diz um
provérbio dos Nativos Americanos: “ Trata bem da Terra: ela não te foi dada pelos
teus pais, ela foi te emprestada pelos teus filhos. Nós não herdamos a Terra dos
nossos antepassados, nós pedimo-la emprestada aos nossos filhos.
Dando um passo a mais, em direção ao homem pós moderno e sua relação
com GAIA, podemos comungar com Boff (2004), onde relata que a Terra em sua
biografia experimentou catástrofes inimagináveis, mas sempre sobreviveu. Que ela,
a Terra, sempre preservou o princípio da vida e de sua diversidade. Onde a
degradação crescente de nosso lar comum, a Terra, expõe segundo ele, a nossa
crise de adolescência. Cujo sintoma mais doloroso, já constatado há décadas por
sérios analistas e pensadores , é o mal estar da civilização. Que se apresenta sob o
fenômeno do descuido, do descaso e do abandono, numa palavra,da falta de
cuidado Terra. Um princípio de autodestruição está em ação, capaz de liquidar o
sutil equilíbrio físico-químico e ecológico do planeta e devastar a biosfera, pondo
assim um risco a continuidade do experimento da espécie homo sapiens e demens.”
Segundo Loverlock (2006) diz que o conhecimento de GAIA envolve a
necessidade de vê-la e de senti-la como a imensa e antiga entidade que ela é, uma
visão de cima para baixo obtida a qualquer lugar de onde se olhe. Relata que a
teoria de Gaia, a qual considera que a evolução dos organismos se encontra
articulada com a evolução do seu ambiente físico e químico que juntas, constituem
um único processo evolutivo, que é auto-regulador. Alerta ainda que o clima, a
composição das rochas, o ar e os oceanos não são exclusivamente resultantes da
geologia; são também as conseqüências da presença da vida.
E ainda, Leff (2001) nos dizendo que no processo de transição da
modernidade para a pós-modernidade, as tendências da unidade do conhecimento e
da homogeneização cultural, com a valorização da diversidade da diferença. E que
tais tendências se refletem nas posições subjetivas diante do saber e no campo da
interdisciplinaridade.Relata ainda que o sujeito, dividido em e por seu desejo,
10

diferenciado por sua sociedade, aspira cobrir sua falta de saber com uma imagem
de corpo inteiro, total, irrepreensível, ocultando seu desconhecimento sob o manto
unitário de A ciência, integrado pelos retalhos dos saberes disciplinares.
Bem, para consolidar mais ainda este caminho, é necessário nos atermos a
Santos (2008) Pois ele conceitua a noção de totalidade como sendo uma das mais
fecundas que a filosofia clássica nos deixou, constituindo em elemento importante
para o conhecimento e análise da realidade. E que segundo essa idéia, todas as
coisas presentes no universo formam uma unidade. Cada coisa nada mais é que
parte da unidade, do todo, mas a totalidade não é uma simples soma das partes. As
partes que formam a totalidade não bastam para explicá-la. Ao contrário, é a
totalidade que explica as partes.
E reforçando a função mitológica de GAIA no desenvolvimento do psiquismo
humano, segundo Jung (1974), “Assim como no processo evolutivo a psique foi
moldada por condições terrestres, o mesmo processo pode repetir-se, por assim
dizer, diante dos nossos olhos.”
E para melhor concluir, podemos refletir com esta contribuição de Campbell
(2008), p.38.

Pensem num indivíduo em formação, seja ele um Sioux nas


planícies da América do norte do século XVIII, seja um
congolês nas antigas florestas da África, seja um urbanóide
neste ambiente selvagem e mecânico em que nós, o povo
moderno, nos encontramos hoje. Todos seguimos um caminho
muito parecido do berço até o túmulo no que diz respeito ao
desenvolvimento psicológico.

GAIA se faz presente no homem, não importando a época ou seu contexto.


Pois é algo da espécie humana, está animicamente e psiquicamente presente em
nós. Existe este espaço a ser preenchido, simbolizado pelas vivências e
consciências das experiências realizadas neste planeta.
11

METODOLOGIA

A pesquisa será de natureza bibliográfica em livros e artigos já existentes


sobre o tema, expondo uma visão geral a respeito do mito de GAIA e aspectos dos
comportamentos do homem pós moderno, sua relação e consequência desta
separação de GAIA. Está pesquisa será embasada nos seguintes autores: JUNG,
1974; CAMPBELL, 2008; NEUMANN, 2006; LOVERLOCK, 2006; LEFF, 2001;
SANTOS, 2008; BOFF, 2004, e outros que também abordam o tema do mito de
GAIA e efeitos no comportamento do homem pós moderno.
12

CRONOGRAMA

Ano 2009 2010


Mês Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul

Escolha do Tema x x
Revisão Bibliográfica x x
Redação do Projeto x
Apresentação do Projeto x
Elaboração do TCC x x x x x x x
Apresentação do TCC x
13

REFERÊNCIAS

BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra.


Petrópolis, RJ : Vozes, 2008, 199p.

CAMPBELL, Joseph. Mito e transformação. São Paulo: Ágora, 2008, 102p.

JUNG, Carl Gustav. Civilização em transição - Coleção: Obras completas de Carl


Gustav Jung - vol. X / 3 Petrópolis, RJ : Vozes, 2008, 244p.

LEFF, Enrique. Saber ambiental, sustentabilidade, racionalidade, complexidade,


poder. Petrópolis, RJ : Vozes, 2001, 494p.

LOVERLOCK, James. GAIA: cura para um planeta doente. São Paulo : Cultrix,
2006, 192p.

MITOLOGIA mitos e lendas de todo o mundo. Lisboa, Portugal, ed. Lisma, 2006,
528p.

NEUMANN, Erich. A Grande mãe : um estudo fenomelógico da constituição


feminina do inconsciente. São Paulo, Cultrix, 2006, 536p.

SANTOS, Milton. A Natureza do espaço – Técnica e Tempo, Razão e Emoção.


São Paulo: Universidade de São Paulo, 2008, 384p.

You might also like