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ANNA MARIA DE CASTRO EDMUNDO FERNANDES DiAS Profestores de Universidade Federal do Rio de Janeiro, COLEGAO LEITURAS SOCIOLOGIA | INTRODUGAO AO PENSAMENTO SOCIOLOGICO |__sor Edmundo Fornandes Die eldorado Dirvitos desta edigao reservados & Livrarig Eldorado Tijuca Ltda. Capa: Douné Impresso no Brasil Printed in Brazil 1975 LIVRARIA ELDORADO TIJUCA LTDA. Rua Conde de Bonfim, 422, loja K Rio de Janeiro, GB SUMARIO PREFACIO.. PARTE | INTRODUGAO... Contexto histérico do aparecimento da sociologia: A Revolugo. Industrial @ 2 nova ordem social. Os recanismos da Revolugso Industrial. As novas formas de pensar: Q tacionalismo, 0" positiisme. A ‘Sociologia: 0 aparecimento da Sociologia. A heranga cultural da sociologia. Pape inivial da Sociologia. A Sociologia como ciéncia: A tarefa da cigncia. O método como um produto histories, As ciéneias humanas enquanto ciéncia. .0 problema da subjeriidade: 0 sociGlogo enquanto pessoa. A lei do comprometimento, A transformagio do socislogo em téenico. Referéncis bibliograficas. PREFACIO A importincia do ensino da Sociologia na formagio de profis- sionais de diferentes Sreas € cada vez maior. Assim, cla constitui disciplina obrigatéria do ciclo bésico dos diversos cursos de nossas Universidade. E objetivo de toda ¢ qualquer ciéncia conhecer a realidade. A Sociologia, enquanto ciéncia humana, em virtude da complexidade de seu objeto de estudo, nfo pode apresentar uma tinica interpretagio dessa reelidade. Daf a impossibilidade da existéncia de um quadro te6rico unificado. Em fungao disso, uma andlise superficial dss teorias sociclogicas 44 margem a que aqueles que se iniciam no estudo da sociologia considerem-na confuse e, até mesmo, contraditoria. © material bibliogréfico de que o professor dlspoe para os cur- sos de introdugdo, de um mode geral, no contribui para criar no aluno uma outra visio, De um Indo, contamos com manuais cuja deficiéncia consiste em sintetizar, muitas vezes de maneira superficial, assuntos complexos. De outro, os “manuais-tese” que, parlindo de uma posigfo te6rica mareada, tenderfo a apresentar as outras de uma maneira critica e nem sempre objetiva, le em duas par da Sociologia, s, Paralelamente, @ partir do conceito de ciéncia, ten- ‘tamos caracterizar a sociologia como ciéncia humana e seu objeto. O problema da objetividade foi desenvolvido através da andlise do socié- Jogo como pessoa (ou seja, como membro de uma deterttinada socie- dade) € de sua transformagio, no mundo de hoje, em técnico. Para tanto utilizamos textos de diferentes autores, nacionais e estrangeiros. Na primeira procu- desenvolvimento ¢ 9 ‘A segunda é uma tentativa de apresentar, em linhas gerais, as teorias de Durkheim, Weber, Marx e Parsons, a nosso ver, tivas da histéria do’pensamento socilégico, Selecionamos, da. obra ‘os de forma @ apresontar, com as prOprias palavras de cade um dos autores, uma sintese de suas ideias, ‘Acreditamos que, trabalhando diretamente com os textos origi- nais, © aluno possi desenvolver seu espitito eritico, Por outro lado, acreditamos que nossa escolha permite a0 professor desenvolver seu curso em diferentes Queremos dei Eldorado, Maura R, Sardinha, Carmem Lucia R, de Mary P. da Cunha, esse liv jamais poderia ter sido Nao podemos, também, deixar de agradecer aos nossos colegas de mugistério Prof. Marie Antonieta Leopoldi, Prof. Nancy. Aléssio Magalhaes que leram 0s originais, apresentando valiosas contribuicoes. Aos membros do Departamento de Histéria da P.U.C., que nos auxi- Tiaram na elaboragfo de quadros bio-bibliograficos inseridos na intro- dugao de cada um dos autores abordados. A Prof. Ely Diniz, Cerquei ra, que participou da selegzo de textos e nos incentivon a realizar esse trabalho. Anna Maria de Castro Edmundo Fernandes Dias PARTEI INTRODUGAO ‘Traduaindo a rlagfo que existe entre o penss- ‘mento ® a organizagdo social, sofrondo as in- into ~ Sociologia ¢ Desenvolvimento. p. 38) CONTEXTO HISTORICO DO APARECIMENTO DA SOCIOLOGIA A revoluedo industrial @a nova ondem social a revolugo produtive: uma Revolugo na capa cidade de produgfoe de acum do homem, ta, apenas, do crescimento da ial € fendmeno muito mais amy Jue se manifesta por t tucional, cultural, politica e social. (...) (8.19703) ‘A excepcional expanso experimentada pelas economias ind ais préximos no perfodo de gestago ¢ Tndustrial que pode ser fixado, ar dos meados do século XVI G..) Um dos eles que possibilitaram a Revoluggo Industrial foi a acumulagfo de recur- 405 financsiros proporcionads pela intensficago do comrcio cional e pela politica mercantilisia inglesa de épocas. an ‘enriquecimento ¢ 0 fortalecimento dos grandes comeiciantes dis ‘empresas mercantis significou 0 advento de novo talento empresaral ¢ de importantes recursos de capital na atividade manufatureira e na agicultura. (...) (8. 1970,7-8) ...) 0 capitaista’ comercial, originado na fase mercantiista anterior, foi levado a introduzir modificagSes substanciais na atividade ‘manufaturcira, ainda de natureza artesanal, doméstica e marcadamen- te mural: o capitalists-comerciante reorganiza 0 trabalho individual ov a familiar que prevalecia nas oficinas (os Workshops), onde reine gru- po importante de artesdos a quem fomece matéria:prima, energia me- Anica, local de trabalho ¢ organizagdo de vendas. (S. 1970, 9). Do ponto de vista da estratura produtora, a Revolugdo Indus- trial acelerou a profunda transformago da atividade agricola, princi- palmente pela introdugao de novas téenicas que intensifiearam 0 uso do solo € incorporaram novos recursos naturais 20 cultivo. Como consequéncia, a produtividade inglesa aumentou substancialmente en- tre meaiios do século XVIL e fins do século XVII. A Revolugio Industrial traduz-se, também, em profunda trans- formagio da estrutura da sociedads. Por exemplo, na reordenagio da sociedade rutal, com a destruigg0 sistomitica da servidgo ¢ da organi- zagao rural, centralizada na vila © na aldeia camponesa, e a conse- giiente emigraczo da populagéo rural para os centros urbanos. A ‘ransmutagdo da atividade artesanal em manufatureira ¢, por dltimo, fem atividade fabril, deu margem, também, a profundas reformas conduziram & criagio do proletério urbano ¢ do empresirio capi ta: o primeiro, assalariado, e som acesso A propriedade pessoal dos rmeios de produgio; 0 segundo, com a funglo precipua de organizar a atividade produtiva na empresa, ‘A Revolugo Industrial implicou, por isso mesmo, o fortaleci- ‘mento ¢ a ampliagfo de uma nova classe social que vinha sendo configurada em perfodos anteriores sobre a base da atividade. comer: cial finanosira; clase esta que passou a exercer considerdvel influén- cia na criago das condigdes institucionais jur(dicas indispenséveis 40 seu proprio fortalecimento e expansio. ($.1970,11) ‘A Revoluglo Francesa € 0 fendmeno histérico que reflete com auls perfeigéo as aspiragdes ¢ exigéncias da nova classe burguesa em ‘consolidago, De fato, a Revolueko Francesa e a RevolugSo Industrial, que ocorre paralelamente na Inglaterra, constituem as duas faces de lum mesmo processo — a consolidagio do regime capitalista modemo. (S. 1970,12) Os Mecanismos da Revolugao Industriat Na verdade, os progressos da revolugfo industrial foram reali- zados através de uma série de desequilibrios, fonte de perturbagées na economia, mas ao mesmo tempo promotores de invengées fecundas. (A.1970, 24) * 4 ‘A revolueao técnica que se situa geralmente entre 1750 ¢ 1850, fe que leva # instaura¢Go do capitalismo liberal, nfo ¢ sendo um mo- mento de uma longa evolugGo que leva paralelamente a0 con! natureza, 4 tomads do poder pela burguesia e ao “aisserfare’ serpasser”, Esta mutacio aparece primeiro na Gra-Bretanha, depois ‘na Frana, antes de se generalizar no fim do perfodo na’ Europa cocidental ¢ nos Estados Unidos. (A. 1970, 13). A partir de meados do século XVIIL, as téenieas de producto foram profundamente modificadas; em menos de dois séculos os ho- controle da natureza a m. Essa Revolucio I industrials que desenvolvam e criem novas formas de produgio ¢ de enriquecer. Lutase contra os regulamentos, os costures, as tradigdes © as rotinas, a fim de submeter a organizagao da sociedade aos impe- rativos de uma classe social ~ a burguesia, progressivamente, no seu ppréprio seio, um grupo predomina: os empresdrios industriais. Mais que a liberdade, 0 capitalismo liberal estabelece o reino do capital, dos seus possuidores e dos imperativos de acumalagdo deste capital. (A. 1970, 11) As Crises sociais e condmicas do Capitalismo Liberal © nascimento do capitalismo marcado por graves crises econd- ‘micas ¢ sociais. Blas atingem, inicialmente, a Inglaterra, pais que co- nnheceu o primeiro capitalismo industrial, generalizando-se pela Eu- ropa. ‘As primeiras crises sociais do capitalismo colocam o mundo agricola inglés as voltas com o cercamento dos campos, em soguida aparece « Iuta, antecipadamente perdida, entre os artesios e a indiis- ‘ia; rapidamente, porém, a luta social op6e os operdrios aos capitalis- tas, A mioria d ‘operirios so camponeses ¢ artesios arrui- | nados; expulsos das terras ¢ das aldeias, vivem em ignGbeis condigdes, de alojamento e de promiscuidade, O artesto perde a sua antiga quali- ficaeto (.....) Estamos em presenga de uma verdadeira castragio de talento. Todos eles so desenraizados, considerados pela burguesia como seres titeis mas perigosos. Na Franca, o operdrio passa a ter 15 a, Praticamente a5 eriangas comegam a trabalhar desde a idade ‘anos. E preciso esperar pelos meados do século XIX para ver na Franga ena Inglaterra uma regulamentago quanto a0 da mulher e das eriangas. (A. 1970, 46-47). rente tura da indistria e das relagdes sociais, o volume de produgio © a ex mente anormal, a anormal a ponto sobre a sociedade, d ‘mundo onde, de uma dos a permanece ransformar radicalmente as idéi ima concepgé0 mais ou menos ipo para a outra, os homer de vida que thes fora dada a0 nascimen- a tradi ste como estado normal de qualquer sociedade sadia, 1971, 313-314) As novas formas de pensar (...) € resultado parcial da revolugio total do espitito europeu que, tendo se iniciado no Renascimento, transformou, por intimeras ‘agOes ¢ reagGes, nossa maneira de ver 0 mundo e a vida. Na Idade ‘Média, a terra € 2 obra que a atividade humana criou sobre vam de grande estabilidade. A Autoridade divina, ext na, era um firme ponto de referéncia. A cultura e a nat justifcavam e se explicavam sobre uma base transcendente. Porém, a razio calculadora de Copémico, Kepler, Galilew, Gassendi e outros fez Vitar a terra, 08 espagos se ampliaram ao infinito © a humanidade se ‘ansformou’em um mero epis6dio da Historia do Mundo, Este desco- brimento deu um impulso decisivo 4 evolugdo espiritual que, por caminhos complexes, trabalha até 0 presente na obra de sul visfo transcendente do mundo pela visio imanente (F. © sistema medieval de concepgfo do mundo foi atingido mais profundamente, inicialmente, no terreno religioso. Essa ruptura devia assim abalar as pretensdes te6ricas ¢ priticas de dominagio do supra- naturalismo da Igreja, No pensamento medieval, que tinha sua pedra 16 angular na tradigfo divina, no era possivel um conflito entre a Reve- serva ¢ apologista da Teologia. Porém, no momento em quo a Razdo sua condigso servil e proclamou sua autonomia, ‘inka que se desencadear a luta contra a Teologia, sociaimente domi nante. A insuffeiénoia da RazGo proclamada pela foi negada pela consciéncia dessa mesma Razao, fortal dados que the onaturais. J4 a lo XVI, so muitas @8 pessoas cultas que, renunciando a brenatural, ordenam seu pensamento ¢ sua vida pela autonomia da raza ( indo dessa autonomia e confiando ape- nas nela, chegou-se a uma explicagfo do mundo a partir de um prin- cefpio matemitico © mecinico, Essa explicagdo seguia em harmmonia ‘com ma supranaturalidade da Razdo mesma, admitindo um defsmo fem que Deus continuava sendo criador, ainda que nfo govemador da ‘méquina do mundo que constrain, pois este obedecia, em sew funcio- namento, a leis proprias. 1930, 18-19) fomeciam © Racionalismo Até 0 séoulo XVIII 0 pensamento social caracterizavase muito mais pela preocuparo de formular regras de agio do que pelo estu- do, frio e objetivo, da realidade social, que gera e determina todas 35 regras. A luta contra o drama ¢ pelo livre-exame, expressbes de pro- funda revolugfo intelectual, vai , Porém, na obra de Descar- tes ¢ de Bacon, seu modelo mais auténtico € a duragfo de sua influ- ncia permaneceu séculos. © tacionalismo daqueles pensadores preconizava que a atitude ientifica diante dos fendmenos — embora nfo insistissem sobre a nnogdo fundamental de que a realidade ¢ exterior & consciéncia — deve ser despida da influéncia dos idola *e das praenotiones, com 0 ‘que langaram as bases do que havia de ser o método cientifico, bases ‘que podem ser resumidas nestes postulados fundamentais: 1. devese afistar, no estudo da realidade objetiva , toda © quel- quer idéia preconcebids, toda nogdo apriorstica sobre oF fatos que se estudem; * Segundo Bacon, dala sfo os exros mais goras ¢ inveterados, contra 08 ‘quats devemos nos precaver, a fim de realizar a obra de instausagio da Ciencia (nota do organizador). 0 2—0 expfrito deve ser conduzido & pesquisa pela divide, dévida rmetéaiea © construtiva, que analist e in nico meio de retirar 2 Yerdade dos fatos e nZo defommar os fat 4 uma verdade revelada, ‘Apesar da funcfo demolidora © construtiva que exercen na his- téria do pensamento humano ¢ do método cientifico, esse racionalis- mo nfo ultrapassou, nem podia ultrapassar, os limites de sua determi- nagdo histérica, e acabou por cometer muitos dos erros que pretendia combater, resvalando para a metafisica (...) (C.P. 1965,36) 0 Positivismo A crise do antigo regime ¢ a Revoluggo Industrial tomaram posst- vel o aparocimonto dessa nova forma da inteligéncia que ¢ 0 positivis ‘mo, cujo desenvolvimento estard vinculado a0 processo histérico desse mesmo sistema de contradig6es sociais que produzem sua génese. O desaparecimento do estado mondrquico implica a dissolugdo da “ordem ‘estamental”: 4 pressuposta harmonia do “corpo social unificado” orga nicamente como “corpo politico” se sueede a luta declarada de classes, ‘chave do desenvolvimento econémico capitalista ¢ determinante da de- mocracia como nova forma politica. (..) Com 2 destruigio revoluciondria de sua propria alienagio estatal, a Sociedade se toma autoconsciente de seu protagonismo histo- rico, de sua auténtica realidade: como tal sistema autSnome de determi- nagio sua realidade especifica entra no primeiro plano da consciéncia secularizada de seus membros: assim 2 sociedade se constitui como objetividade possivel para o conhecimento cientit nosso tempo comegou-se a observar uma série de fendmenos a que antes néo se podia destinar um lugar, quer na vida corrente, quer na ciéneia (. ..) Importan- ‘es acontecimentos demonstraram (...) nos novos tempos que aqueles fenémenos se apoiam numa forga que penetra a existéncia inteira dos 2 de cada individvo om particular, que se acham ima e necasséria, ¢ que © conhecimento humano, a0 ocuparse dees, chegou a uma,dessas descobertas que nos permitem reconhecer, por assim dizer, por trés do mundo conhecido até agora ¢ da ordem desiz mundo, outro organismo, ainda mais grandioso, de forsas ¢ elementos (...) Tratase da sociedade, seu conceito, seus ele- rmentos ¢ movisnentos.” (M. 1970, 31-32) Dianto da velha definigfo ontologica da sociedade ~ sem sentido nesse mundo efervescente ~ imp6e-se um “conhecimento positivo” que 18 torn pose mu eonanizago. A ciénci adqute umn sentido mes nico na hora de remediar a situagio social: 0 padrifo atual no é a deciso politic, ca on tculogeaments ndarientaa, ee apa ‘9f0 téenica das les ciontfficas que regem a sociedade humana, Dove-e, por conseguinte, construir “positivamente” a ciéncia social: como cién. Gia da vida coletva serd umn dos ramos fundamentals da sina dada ‘em_geral ou fisiologia, “uma fisiologia social, constitufda pelos fatos ‘materiais que derivam da observagio direta da sociedade, e uma higiene, «que contenha os preceitos apicivels a tas ftos, so, portanto, as tnicas bases positivas sobre as quais se pode ro sistema de organiza- (80 reclamado pelo estado atual da civilizagio” (Saint-Simon, 58), A “posit a metodoldgic: las ¢ preciso adotar o mesmo método das ciéncias naturais: a “fis ial” sides a Soe es a vas et ¢ discutidos” (Saint-Simon, loc. cit., 67)(. . .) (M. 1970, 33) ASOCIOLOGIA 0 Aparecimento da Sociologia (...) a8 transformagGes econdmicas ¢ sociais que assinalam a primeira metade do século XIX ¢ o desenvolvimento do método cien- .0 noutros setores do conhecimento humano, paralelos a sociologia, fam, a esse tempo, as condigbes priticas © tedricas, hist6ricas ¢ filos6ficas, para a organizacdo da sociologia como disciplina, ¢ 36 nesse quad wo evlugto intelectual is eondigbes soci d iquidagt0 do “ancien régime” e da inauguragao da era industrial, & poss der © momento historico em que a sociologis comegou a dest como setor especializado de conhecimento, sistematizandose como cine Interpretada por um prisma idealista, a evolugio materia, naquela época, parecia 108 contempordneos um produto do desenvolvimento intelectual do homem, cujo pensamento iliminava 05 passos da civiliza- 0, quando, em verdade, 0 progress0 orescente dos modos de pensar Sobre fendmenas cada vez mais complexos ~ ¢ disso a sociologia € uma prova — era produto direto das novas maneiras de viver e produzit, Nessa época, como se v6, 6 que a sociologia surgiu; surgiu, portanto com a sociedade ind esbogos. Surgin quando do seu ventre 1: jado, e essa circunstancia, quase sempre ‘esquecida, ¢ de importancia decisiva para 2 compreensao de sua historia, de seu método e de seus problemas de hoje. (C.P. 196537) A heranga intelectual da Sociologia [A Sociologia nffo se limita ao estudo das condigdes de existéncia social dos seres humanos, Todavia, essa constitu a porgio mais fasci- ante ou importante de seu objeto ¢ aquela que alimentou a propria 20 preocupagio de aplicar o ponto de vista cientifico observagdo © a explicagio dos fenémenos sociais. Ora, a0 se falar do homem, como objeto de indagagdes espectficas do penstmento, & impossivel fixar, ‘com exatidao, onde tals indagagdes se iniciam e qu tes. Pode-se, no maximo, dizer que essas indagagdes comegam a adqui consisténcia cientifica no mundo modemo, gragas a extenséo dos prin cfpios ¢ do método da ciéneia & investigagao das condigdes de exis social dos seres humanos. Sob outros aspectos, jd se disse que o homem. sempre foi o principal objeto da curiosidade humana, Atrés do Mito da Religido ou da Filosofia sempre se acha um agente humano, que s¢ preocupa, fundamental e primariamente, com quest6es relatives a ori- ‘gem, 2 vida ¢ 20 destino de seus semelhantes. Por isso, seria vio e improficuo separar a Sociologia das condigbes hist6rico-sociais de existéncia, nas quais ela se tomou intelectualmente ‘possivel e necesséria, A Sociologia ndo se afirme primeizo como explice- fo cientifica e, somente depois, como forma cultural de concepeso do mundo, Foi 0 inverso o que se deu na realidade, Bla nase e se desenvol- ‘ve como um dos Horescimentos intelectuais mais complicados dss situs- ‘gGes de existéncia nas modernas sociedades industriais ¢ de classes. E seu progresso, lento mas continuo, no sentido do saber cientifico-posi- tivo, também se faz sob a pressfo das exigencias dessas situagdes de fexisténcia, que impuseram tanto a0 pensamento pritico, quanto a0 ‘pensamento te6rico, tarefas demasiado complexas para as formas pré- cientificas de conhecimento, Dai a posicdo peculiar da Sociologia na formaggo intelectual do ‘mundo moderno. Os pioneiros e fundadores dessa disciplina se caracte- rizam menos pelo exereicio de atividades intelectusis socislmente dife- ronciadas, quo pola participagto mais ou menos ativa das grandes cor- rentes de’opiniao dominantes na época, seja no terreno da reflexo ou da propagagao de idéias, seja no terreno da agfo. As ambigdes inte- lectuais de autores como Saint-Simon, Comte, Proudhon e Le Play, ou de Howard, Malthus ¢ Owen, ou de Von Stein, Marx e Riehl iam aléma do conhecimento positivo da realidade social. Consorvadores,reformis- tas ou revolucionarios, aspiravam fazet do conhecimento sociol6gico ‘um instrumento da ago, E 0 que pretendiam modificar nfo era a natureza humana em geral, mas a prdpria sociedade em que viviarn Existe, portanto, fundamento razoével para a interpretagto segun- do a qual a Sociologia constitui um produto cultural das fermentagdes intelectuais provocadss pelas revolugdes industrisis e politicosociais, ue abalaram 0 mundo ocidental moderno ( . a A explicacdo socioldgica exige, como requisito essen: esta irito que permita entender a vida em sociedades como estando 4 uma ordem, produzida pelo préprio concurso das condi- ¢0es, fatores produtos da vida social. Por isso, tal estado de espirito nfo $6 € anterior 20 aparecimento da Sociologia como representa uma ctapa necesséria 4 sua elaboragé0. No munde modemno, pelo que se sabe, ele se constituiu gragas & desagregacio de sociedade feudal c & evolueao do sistema capitalistn de produgdo, com sua economia de mercado © a correspondente expansio das atividades urbanas, E que ‘estes dois processos historicossociais se desenrolaram de modo a am- pliar, continuamente, as esferas da existéncia nas quais o ajustamento dinamico as situaydes socials exigin o recurso erescente a atitudes se- cularizadas de apreciagio dos méveis das agbes husmanas, do significado dos valores e da eficiéneia das instituigoes, No plano puramente intelectual, a secularizagao dos modos de conceber e de explicar 0 mundo esté relacionada com transformagées radicais da mentalidade média, O efeito mais notével e caracteristico dessas transformagdes consiste no alargamento do ambito da percepeao além dos limites do que era sancionado pela tradigfo, pela Re- fo ou pela Metafisica ‘Todo sujeito percebe o mundo exterior e as proprias tendéncias igiosas ou de explicagées metafisicas de ial acaba sendo condicionada de for: 0 que restringe as potencialidades erfticas € Ihumanos em face de suas situagbes de exis. . Qualquer andlise da conduta, da sociedade ou do destino huma- barra com 0 cardter “absoluto”, “intangivel” e “sagrado” das nomas dos valores e das instituigbes sociais reconhevidos culturalmen- tc, Nem mesmo uma disposieZo objetiva ou neutra de reconhecimento das situagdes de existéncia se toma facilmente acessivel. Nas condigdes de inquietagto e de instabilidade, ligadas desagrogagio da sociedade medieval e & formago do mundo moderno, as inconsisténcias d categorias absohutas e estiticas do pensamento se fizeram sentir com rapidez, Contudo, como se estava em uma era de revolugdo social (e no apenas de transigao de um perfodo a outro de uma mesma civlizagéo), clas ngo foram simplesmente impugnadas e rejeitadas: as formas de saber de que elas derivavam e que pareciam viiar, de diversas maneiras © sob diferentes fundamentos, 0 uso da razio, é que foram condenadas 2 ‘A essa transformagio bésica do horizonte intelectual médio, & preciso acrescentar outras duas conseqiéncias, a ela relacionadas. De tum lado, as modificagSes que se produziram na natureza e nos alvos do ‘conhecimento do senso comum; de outro, as inovagtes que se manifes- taram no seio do pensamento racional sistemdtico, As modificagdes por gue passou o conhecimento do senso comum tém sido subestimadas, ‘om particular devido as inclinagbes intelectualistas dos autores que estu- dam a historia do pensamento no mundo moderno. Mas, elas possuem uma significagao excepcional, pois fol por meio delas que se projetaram na vide pratica as diversas nogOes que fizeram da atividade humana, individual ou coletiva, © proprio ceme de todo progresso economico, pol Na verdade, foi o conhecimento do senso comum {que se expés e teve de enfrentar as exigéncias mais profundas e imedia- |. Por iss0, ele acabou servindo toricamente adequadas Aquelas situagdes (.. .) 105 do proceso de secularizagao da cultura na do conhecimento do senso comum modificsgio da « formagdo do ponto do pensamento racional sis sujeita a uma ordem social, © ta dos fendmenos de convivé Papel inicial da Sociologia (...) Cabia, (. passado, demoligo que a filosofia enciclope da ordem social do tomnara racional, ra- 2B cionalizar a construgéo de uma ordem nova, ¢ com esta missfo naseeu a (CP. 1965, 37-38) com seu carter equivoco, ora enquanto relagdo celementar entre os individu, calmente nova mas original por seu radicalismo, a de um conhecimento propriamente cientifica, basesdo ‘no modelo das ciéncias da natureza, tendo em vista o mesmo objetivo: 0 conhecimento clentifico deveria dar a0s homens o controle de sua s0- ciedade e de sua hist6ria assim como taram 0 controle das Creio 5 lo XIX como partici. pantes de um debate que eta sempre o mesmo, sobre a possiblidade de por em prética os principios anteriormente proclamados pele Revolugto Francesa, Para sermos mais precisos, eles discutiam a viabilidade da criago de uma sociedade racional nas condigses de progresso industrial © com 03 materiais humanos existentes aquele tempo. Para ‘mens, 0 terme “racional” possufa um conteido social definido e immpli- cava, ainda que imprecisamente, a espécie de sociedade que permiticia 20 homem tirar 0 maximo de proveito des suas eapacidades criativas (M. 1972, 97-98) ASOCIOLOGIA COMO CIENCIA A tarefa da Cléncia © objetivo da ciéncia 6 tomar fvel 0 real. Sendo o real rentes pontos de vista, 0 ue por sua vez precisa ser lum aspecto do real, Este ¢ 0 papel da epistemologia, finir como a explicagio dos diversos sistemas de expli- ide. Tratase de um problema que sempre ocupou a Filosofia ¢ que o desenvolvimento atval das ciéncias humanas coloca em termos novos: a discordancia entre a unidade da ciéncia como conceito i é ‘mesmo divergentes. Em resumo, o problema consiste em conciliar a tunidade da ciéncia com a pluralidade das cigncias.(F. 1973-75) O método como um produto histérico Um dos quimicos contemporineos que desenvolveu os métodos cientificos mais minuciosos ¢ mais sisteméticas, Urbain, nfo hesitou em negar a perenidade dos melhores métodos. Para ele, ndo iid método de {que nilo acabe por perder sua fecundidade inicial. Chega sem- pre uma hora em que nfo se tem mais interesse em procurar 0 novo sobre 05 tragas do antigo, em que o espirito cientifico nfo pode progte- dir sendo eriando novos métodos. Os préprios conceitos cientificos po: dom perder sua universalidade. Como diz Jean acaba por perder sua utilidade, sua propria significagto, quan afastamos pouco a pouco das condigées experimentais em que formulado”. Os conceitos ¢ os métodos, tudo 6 fungfo do dominio da experitncia; todo o pensamento cientifico deve mudar ante uma expe- 28 eo serd sempre um discurso de (0 descrevers uma constituigdo definitiva do espitito 0. (B. 1968, 121) As Ciénctas Humanas enquanta Ciencias \do sobre 0 qual reeai sua rio & andlse dessa prépria agdo, de sua estratura, das ‘mam e das alteragBes que softe (. ..)(G. 1970, 27) ibemos hoje que a diferenga entre as condigoes de . quimicos € fisi6logicos” © a dos socibiogos e dos vs nfo é de grau mas de natureza; no ponto de partida da go Fisica ou quimica hi um acordo real e implicito entre todas as classes que constituem a sociedade atual a espeito do valor da natu- im da pesquisa, O conhecimento mais adequado e mais eficaz jca € um ideal que hoje no choca nem os Lasse social. Neste caso, 2 falta de s6 pode ser causada por defei , falta de penetragio, cardter apaixona- de probidade intelectual) (....)(G. 1970, manas, 20 contré adequado no funda ‘a, em tudo 0 que respeita aos principais problemas que se cias humanas, 0 interesses ¢ 0s valores 30% ir da unanimidade impl isa, permanecendo muitas vezes imy 1970, 32} todo pensamento histérico ou sovials, no mais das vezes, nfo e lusneias que ele tomar conscientes pest ier integré-las na investigagZo eientifica para evitar ou 6 iéneias sociais e, em termos mais precisos, de um estudo n dialético do materialismo dialético. (...) (G. 1970, 36) HG sem duivida muitas ocasi6es pata o pensam ser influenciado pelo meio com qual entra em cont influéncia pode entretanto ser multi de recusa ou de revolta, ou ainda sintese das idéias encontradas no meio ‘com outras vindas do exterior etc...) (G. 1970, 48) Os grandes escritores representativos sto aqueles que exprimem, de uma maneita mais ou menos coerente, uma visio do mundo que corresponde a0 maximo de conseiéncia possivel duma classe; é o caso sobretudo dos filésofos, escritorese artistes, Para o homem de ciéncia a situagGo as vezes se apresenta diferente, Sua tarefa essencial & chegar a0 conhecimento mais vasto e mais adequado da realidade. Ore, precise- nada independéncia relativa do individuo em relagio a0 grupo permitethe, em certos casos, corrigir 8 duma visto por conhecimentos adequados, contraios a esta mas perfeltamente compa- com outra visio real duma classe diferente, ou ainda ampliar os limites da consciéncia real da classe, muma dada época, pelas posibilida- des gerais dessa classe no conjunto do perfoda histérico, (...) (G. 1970.48.49) 0 fato de no termos ainda, na ciéncia social, leis compardveis as das cigneias naturais néo prava, por si mesmo, que tas leis nunca serdo descobertas, Sem embargo, justifica que se pergunte, mais uma vez, se a iéncia social estd no eaminho certo ao fazer da busca dessas leis «sua principal raison d'etre. As diferengas entre a ciéncia natural e a ciéncia social talvez pesom mais do que a relativa imaturidade da cigneta social. A estrutura légiea dos géneros de conhecimento que procuramos 1a ciéneia social pode niio ser idéntica 4 das ciéncias naturais avangadss. (M.1972, 109) (....) Achamos que a finalidade da Sociologia nao ¢ elaborar um sistema fechado de leis definidas, mas permitir, pelo estudo cientifico, ‘que as tornem ednscias de algumas das razdes sociais para os problemas sociais que experimenter e para serem capazes de dirigit sua atengio 420s tipos de remédios a eles adequados. Ela também pode ajud compreenderem melhor. (C, 1972, 252, 256) do individuo 27 O PROBLEMA DA SUBJETIVIDADE O Sociélogo enquanto pessoa Em primeito lugar, as proposigBes que (os soci6logos) fazem s0- bre as pessoas — como elas sao afetadas por perteneerem a ipos de grupos; na verdade, mais do que isso, a de que ¢ inconcebivel pessoas sem grupos. Mannheim, 0 fam0so socidlogo, assim 0 expe: Pertence- 4 um grupo nao s6 porque nascemos noe, nfo apenas por contes- timo, nao porque Ihe prestamos nossa porque veraos © mundo € por conseguint to quanto é vilida a afirmaggo acima, também ndo da maneira que o fazem as grupos a que ccm. Logo, deverfamos esperar aprender algo sobre 0 q) ‘logos, como tais, dizem, estudando a natureza dos diferen de grupos aos quais pertencem, (Aqui, estamos usando a palavra grupo ‘num sentido muito geral e no apenas pensando em pessoas que se encontram face a face.) (C. 1972, 17) © segundo problema para’os sociblogos € que seu assunto est modo on de outro, interessa a todo sex humano; sobre os vastas discordéncias de Ambito continental; pelos quais morrido — problemas como guerra e paz, socialismo, pobreza, desem- prego, as relagdes entre homens e mulheres ete. Sua investigagdo envol- ‘ve 06 socidlogos em grandes argumentos hist6ricos e Ihes torna muito dificil divorciar seus préprios pontos de vista, como cidadios, do seu trabalho como socioiogos. Alguns socidlogos tém tentado fugir a esse problema recusandose resolutamente a estudar qualquer coisa que pos- sa, concebivelmente, ter importancia social (ef. Moore, 1963). Mas na verdade nfo hai como escapar, f que mesmo a decisio quanto a0 que 28 estudar ou 0 que nao e ‘em termos morais: “Pelo i € uma decisao social e pode sor julgadae ‘As questées colocadas pelo sosislogo diante da realidade social nfo so necessariamente as mesmas que as colocadas pelo homem de mento e da explicagao: € ‘que ela € enquanto disc ‘engao social serd valida. principais dominam (...} a pes ia geral, Potlem ser enunciadas nas soguintes ter — como se organizam ou se estruturam os quadios sociais da vida humana? — como se produz e se explica a mudanga, a evoluco das socie- dades humanas? (R, 1968, 10) A lei do comprometimento © socislogo, como qualquer especialista em ciéncias socias, est sempre condicionado, em sua especulagdo, por um a prion’ de cardter existencial, tenha ou nao conscitncia disso. Decorse 0 fato de que sua conscigneia se elabora invariavelmente a partir do trato com os obje- fos ¢ as pessous do mundo particular em que vive, Nao existe um eu aedsmico ow shistérico capaz de postarse diante do mundo, livre de condicionamentos, O eu © a consciéncia do eu brotam do “nés” que os antecede logics e historicamente. A consciéneia ingénua no perce bbe a implicagio 1eeiproca do ser humano © do mundo. Residuo de ingenuidede se encontra na atitude do cientista que acredita numa ciencia imune de condicionamentos, Ao refletir sobre os supostos da fica, verse-d que est4 implicada numa teia de relagbes como aparece a0 cientista 29 de influéncia, fato este que nfo foi visto pelas antigas teorias gnosco- logicas. No plano hist6rico-social essa reciprocidade de influéncia per- mite compreender a idéia de mundo, que toma inteligivets as relagoes entre o sujeito © 0 objeto, O mundo ndo é uma colegio de objetos ‘que possamos contemplar do lado de fora. Estamos necessariamente no mundo e por ele somos constituidos. O homem ¢ sez-no-mundo, ‘do, porém, como um par de sapatos est numa caixa, mas enquanto ido, ou uma visio prévia do mundo (Welt anschauurg). (| 118) iC ia filos6fica do mundo ¢ tributéris das inda- gagdes “de pensadores alemaes a respeito do que sto as visées do ‘mundo. E comum a esses pensadores 0 ponto de vista de que a visto do mindo no € adquirida por esforgo intelectual, nem pode ser ‘exposta como se explica uma doutrina ov um sistema de visto do mundo, apesar disso, ¢ sistema porque € configurad: aos e de idéias, tem organicidade. Mas ngo ¢ puramente intel Pot isso, no se pode neutralizar seu efeito condicionador sobre atividade cientifica, Porque nos integramos na totalidade do mundo “de modo nfo intelectual” & que nossa existéncia supSe um a priori hist6rico social. Nao aceitamos uma visio de mundo como esposamos, uma douttina ou nos convertemos a uma religido, Vivemos necessaria- mente a visio de mundo de nossa época ¢ de nossa nao. (R. 1965, 115) (...) Supor que © homem teoriza primeiro ¢ age depois é incorrer em erro, © homem ndo se esgota no pensar, é também sentir © querer. O pensar é apenas um aspecto particular da vida, que consis- te em converter em objeto determinado conteddo do agir humano. A nova teorla, resultante do esforco de pensar, era, no agit humano, uma vitualidade. E precisamente a reflex4o que toma explicita 6 exprime, de modo elaborado, a virtualidade implicita no agir humano, A-porgunta famose: “quem educa o educador? ” s6 tem uma resposta ~ a sociedade, ¢ nao outro educador. B assim se desfaz a polaridade entre teoria e prética. Por que a sociedade? Porque & um fendmeno total. EB pressuposto essencial da categoria de totalidade, a idéia de implicago. O verdadeiro educador sabe que s6 conseguird levar a feito a pedagogia que Ihe possibilitem as condigées sociais determina. das_em que vive. Tem a conscigncia da implicagio do homem no mundo. (R. 1965, 116) Hié ainda um vicio europocéntrico om tais estudes, expresso no academicismo que os afeta. Aqui se verifica um limite imposto a0 estudioso europeu. A sua prética social entra em conflito com 2 priti- 30 ca do estudioso de regides subdesenvolvidas, O estudioso europen 36 poderd ultrapussar esse limite se, por um esforgo de “desideologiza- gio”, adotar, em cardter sistemético, © ponto de vista universal da Comunidade humana. S6 assim transcenderé 0 seu contexto hist6rico- social particular. (R. 1965, 118) Nos paises petiféricos, € a adogdo sist vista universal orientado para o futuro que Jégica. Eo imperativo de acelerar, de modo historicamente positivo, a transformagdo de contextos subdesenvolvidos que impOe so cientista ises periféricos a exigtncla de assimilar nfo mecanicamente o fico estrangeiro. Esta exigéncia se toma particular- aqueles paises, se deflagram impulsos conere- ipria ou de articulagGo intema. Enquanto perma- de um ponte de a redugdo socio- tas de ordenagio rnecem ordenados ou. articulados para fora, referidos a um centro dominante que Ihes é exterior, carecem da condigo mesma que os habilitaria 4 prética da redugGo global de um pais situado no Ambito de dominagao de outro mais poderoso, no sentido de obter capacida- de autodeterminativa. Nesses paises petiféricos, a sociedade ndo esti funduda segundo critérios proprios, é algo 2 fundar (....)(R., 1965, 119) A transformagdo do socidtogo em técnico (...) © falso dilema te6rico da sociologia na América Latina info se esclarece de modo completo sendo quando deslindamos a me- tamorfose do socidlogo em técnico. H que se diferenciam ¢ se reno- vam os papéis do cientista, explicitandosse assim novos significados da propria ciéncia, Nao hé diividas de que a socidlogia — conto a economia p «a, a ciéncia politica, a historia, a antropologia — esté continua submetida a duas ordens de solicitagdes. Existe mesmo certa dupl dade nos alvos da atividade cientifica do socidlogo. Por um lado, 0 efrculo dos especialistas estabelece objetivos e padrdes de trabalho cientifico, em conformidade com o carter cumulativo da eiéncia. Em sua historia ¢ em seus desenvolvimentos tebricos, as diferentes corren- tes vo selecionando conceitos € problemas, técnicas © concepgdes que implicam na constituicgo de um corpo tedrico, a0 qual os sovi6- logos precisam ater-se. E dbvio que o problema da objetividade e da neuttalidade se colocam neste ponto (...) 31 ‘A imaginagio sociol6gica habilita-nos a apanhar 2 historia ¢ a eas relagdes de ambas no interior da socieda estiver voltado para os problemas da biografia, da historia e das suas ‘conextes reciprocas na sociedade” (C. Wright Mills, The Sociological Imagination) Todavia, hé outra ordem de solicitagbes, (...), a sociedade ‘como um todo, ou certos cfteulos de influéncia, solicitam & sociologia ais, voltados para determi jal se impde a0 socidlogo, cclares ou gerais, conforme a situagio, © trabalho do ciemtista para “validar” ou uraglo social presente, pelo estudo do préprio presente ou do passe- do. A UNESCO quando estimulou e subsidiou estudos sobre as rela- (Ges raciais no Brasil, estava interessada em conhecer para difundir tras nagdes 0s caracteristicos modelares de uma “ racial”, Foram também “necessidades priticas”, isto é, a gravidade ¢ a profundidade das tensbes socials na sociedade rural brsileira que levae ram 0 Centro Latino Americano de Pesquisas em Ciéncias Sociais (..) a programar e orientar a realizago de estudos sobre o regime ‘de posse e uso da terra pss sto as nndéncias” sempre tives no trabalho do socidlogo. Inevitavelmente, elas afetam tanto a selegfo dos temas como 0 seu tratamento mais ou menos amplo. A realizagi0 apenas descritiva ou a0 modo interpretativo, analitica ou sintetizadore, mo- nogrdfica ou de interpretacdo global, depende da intemsidade © das direcbes dessas influéncias, Nao hé divides, contudo, de que a socio logia progrediu geralmente em em solicitagies imediatas ou in- diretas das condigses de existéncia social presentes, (...) (I, 1971, 20-21) Esse € 0 contexto mis geval das transformagdes dos papéis do soci6logo € das possibilidades de utilizagéo pritica do pensamento cientifico nas cléncias socials, Nesse movimento, dase 2 genese do lécnico, A ciéncia guarda sempre a stua conotacio de téenica de auto- consciéneia da realidade social. O cardter “instrumental” do conheci- 32 ‘mento sociolégico € algo de que a sociedade nfo quer nem pode prescindir, E essa necessidade surge tanto no plano mais amplo, de permuta © correspondéncia entre as condigées de existéncia social com a estrutura do pensamento como no plano particular a utilizacdo pritica, imediata, izada do conhecimento cien- tifico, Neste caso, estamos em face do téenico, £ ele que trabalhard diretamente na formulaeao de programas governamentais e privados, bem como na execugdo ¢ controle da sua execugio. A relagto entre 0 sujeito € 0 objeto, no provesso do conhesimento soci nOmeno que esti na base dessa questo. Em tiltima ia, 0 que ‘corre 6 que hé vétios modos de integrago entre 0 sujeito ¢ 0 objeto. Devide a complexidade ¢ diferenciagso intema crescentes dos sistemas s6cio-econdmicos latinoamericanos, ¢ em decorténcia des cexigénelas cada vez mais numerosos das masies que irrompem conti- ‘nuamente nos centros urbanos ¢ industrais em transformagzo acelera- dda; e, ainda, devido &s mudangas sociais aceleradas que estio ocorten- do em certas zonas agricolas ¢ mineiras, multiplicam se 03 “problemas sociais”, com os quals se defrontam empresérios e assalariados, admi- nistradores @ politicos, cientistas sociais e educadores, A necessidade de elaborar planos setorias, regionsis e também nacionais, bem como a emergéncia ¢ multiplicaggo de tensdes e problemas sociais, no ambi- to das relagdes entre grupos e classes, levaram as_autoridades, os ‘grupos empresarias, os sindicatos etc. a estimular a formagio de téc- rnicos em assuntos sociais. A transformago do socidlogo em téenico ‘corre nesse contexto, Poco a pouco, a socviologia desenvolve a sua conotacko de técnica de resoluedo de’ tenses ou canalizaglo destas ‘em diregees no “destrutivas”. ([. 1971, 22-23) (...) A experiéneia dos grandes paises industrializados colocou em evidéncia a importincia crescente do papel que as cigncias sociais tém na resolugdo destes problemas, bem como no conhecimento do Process de desenvolvimento econdmico ¢ social. Ja se demonstrou que no hd invers®es de capital que possam ser produtivas, a longo prazo, sem investimentos humanos pardlelos, se possivel anteriores. Como em outras esferas, o fator humano ‘continua a sero fator decisive do desenvolvimento dos pafses da América Latina. Uma tarefas prioritdrias nesta parte do mundo, pois, € consttuir rapi mente um contingente de especialistas em citncias sociais, qualifica- dos e aptos para realizar pesquisas cientificas, que sf0 as tinicas qh podem fundamentar a ag@0 sobre o conhecimento, * SELACSO, “EI Pepet de le FLACSO en los Estudios Sobre el Desarolio Feo- 33 Nesse texto estan reunidos os elementos fundamentals das refle- x®es que estamos desenval cam-se temas {is como os seguintes: 2 vi ima entre © pensamento cien- © as condigses de ex |, principalmente quando estas ‘no plano puramen € do. sovidlogo mesmo processo est em curso nas diferentes nagdes ‘mericanas, No Brasil, ele esti em franco progresso. Apr ‘ Jamentagio da profissfo de socidlogo, em fase de debate, prevé a ess0 da ido, em agBes & ‘adigao por . Os alos hu idio do método cie ormagées envolvem problemas sétios no A medida que 0 soci6logo se obvio que eras campo do conhesimento fnanceiros & humano: mairias. Muitas vezes ig com resul smo tempo era tides em estudos paralelos, re nmunidades ow nagdes. Tudk eleigo de varéveis quantificdveis, como focos de observacio ¢ inter- protagdo. (I. 1971, 24-25) re “Resistencia & 1959, pig. 2. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS: ARON, Raymond — Les étapes de la pensée sociologique, Paris, Edi- tions Gallimard, 1967 ALBERTINE, JM. ~ Capitalismes et socialismes a Véprewve, Paris Editions Economie et Humanisme, 1970 BACHELARD, Bis O novo espirito cientifico. cae de Juvenal Ae RIDDEL, David 8. — Introdugdo critica @ sociologia, Tradugfo de Edmond Torge. Rio, Zahar Editores, 1972 DOBB, Maurice — A evolugdo do cepitalismo — Tradugao de Affonso Blacheyre. Rio, Zahar Editores, 1971. FERNANDES, Florestan — Ensaios de soctologia geral e aplicada. $0 Paulo, Livraria Pioneira Editora, 1960. FREUND, Julien — Les theories des sciences humaines. Paris, Presses Universitaires de France, 1973 GOLDMANN, Ciéncias hurmanas e fllosofia. Traduca de Lupe Cotrim Garaude e José Arthur Giannotti, Sa0 Paulo, Difu- so Buropéia do Livro, 1970. HELLER, Hermann — Las ideas politicas contemporineas, Barcelona, Editorial Labor, 1930 TANNI, Octavio = Sociologia da sociologia latino-americana. Rio, Ci- vilizagdo Brasileira, 1971 MOORE JR., Barrigton — Poder politico ¢ teoria soclal. Tradueao de Octavio Mendes Cajado. Sto Paulo, Cultrx, 1972 35 Editions HMH, 1968 SUNKEL, Osvaldo — 0 rmrco historice do processo de desenvol- vimento ~ subdesenvobimento. Tradagdo de Regina Maia. Rio, PARTE Il Forum Editora, 1971 TRADUGAO DE: ‘Anna Matia de Castro Maura Ribeiro Serdinha REVISAO TECNICA DB: ‘Anna Maria de Castro DURKHEIM, WEBER, MARX, PARSONS | | | Augusto Comte, Marx e Tocqueville formarsm sou pensimento na primeirs mstade jaeHo das sociedades europ depois do drama da Revelugio © do Impéiio, Se esforcaram em aprecnder 0 sig sige que acabara de se relizar ¢ & © ngulo sab 0 qual cada um doles via ralidade de seu ‘tempo. aymond Aron, Les Btapes de a Ponste Sociologigue.p. 307} 36

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